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Logo, determinados grupos de pessoas de classes sociais e econômicas mais favorecidas têm
acesso a boas escolas, boas faculdades e, consequentemente, a bons empregos. Ou seja, vivem,
convivem e crescem num meio social que lhe está disponível.
É um ciclo vicioso: esses grupos se mantêm com seus privilégios e num círculo restrito,
relacionando-se social e economicamente por gerações a fio.
Vários teóricos e pensadores buscam entender esse fenômeno, que assola boa parte dos países
do mundo até hoje. Segundo Milton Santos, o principal motivo da desigualdade é globalização.
Milton Santos era um dos críticos mais ferrenhos da globalização. Em uma de suas mais célebres
frases, ele afirmava que “Essa globalização não vai durar. Primeiro, ela não é a única possível.
Segundo, não vai durar como está porque como está é monstruosa, perversa. Não vai durar
porque não tem finalidade”.
Em uma das suas obras mais difundidas pelo mundo – Por uma outra globalização –, muito lida
por “não geógrafos”, Milton Santos dividiu o mundo em “globalização como fábula” (como ela nos
é contada), “globalização como perversidade” (como ela realmente acontece) e “globalização
como possibilidade”, explorando a ideia de uma outra globalização.
“O mundo é formado não apenas pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir”. Ao
dizer esta frase, na década de 1980, o geógrafo e cientista brasileiro Milton Santos (1926-2001)
não poderia prever as profundas consequências provocadas pela pandemia do coronavírus, mas
já alertava sobre a necessidade de novos modelos e soluções na construção de sociedades
sustentáveis.
“A globalização devolve ao homem a condição primitiva de cada um por si e, como se
voltássemos a ser animais da selva, reduz as noções de moralidade pública e particular a um
quase nada”
A partir da Geografia, Milton Santos faz uma leitura do mundo contemporâneo que revela as
diversas faces do fenômeno da globalização: suas fábulas, seus malefícios e suas possibilidades.
Ele considera a existência de pelo menos três mundos num só. O entendimento de como seriam
esses mundos passa pela compreensão do que é a globalização, e, por isso o autor identifica os
mundos de acordo com a percepção, com a realidade e com a possibilidade.
Esse mundo globalizado, visto com fábula, exige um certo número de fantasias. A máquina
ideológica faz crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. Um
mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta através
da disposição, cada vez maior, de mercadoria para o consumo quando, na verdade, as diferenças
locais são aprofundadas. Podemos indagar se não estamos diante de uma ideologização maciça,
segundo a qual a realização do mundo atual exige como condição essencial o exercício de
fabulações.
Para a maior parte da humanidade a globalização está se impondo como uma fábrica de
perversidades. o desemprego se torna crônico, a pobreza aumenta, novas enfermidades se
instalam, a mortalidade infantil permanece, a educação de qualidade é cada vez mais inacessível
e o consumo é cada vez mais representado como fonte de felicidade. A perversidade sistêmica
está relacionada a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente
caracterizam as ações hegemônicas.
As bases materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos
momentos e o conhecimento do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia
para construir a globalização perversa. No entanto, essas mesmas bases poderão servir a outros
objetivos, se forem postas ao serviço de outros objetivos, se forem postas ao serviço de outros
fundamentos sociais e políticos.
Por conta dessa realidade, existem muitos movimentos antiglobalização que, apesar do nome,
não lutam necessariamente pelo fim da Globalização, mas sim para que ela ocorra de uma forma
diferente, em que haja a inclusão das classes sociais menos favorecidas e que o conhecimento e
os bens de consumo não sejam privilégio de poucos.