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Política de assistência

social e cidadania no Brasil


hoje: alguns elementos para
discussão
Políties of social assista/ice and eitizenship In
Etazil today: gome elements for digeuggion

X7 estono bstract
O tema deste artigo reveste-se de The subject of this article has special
especial importância se for considerada a importance considering the situation of
atual situação de pobreza e indigência em poverty and need in which significant
que se encontram parcelas expressivas da portions of the Brazilian population now
população brasileira. É evidende que o país live. It is evident that the country needs to
necessita efetivas políticas sociais sérias enact social policies to combat poverty, or
de combate à pobreza, sob o risco de deixar it risks becoming a population weakened
a população completamente fragilizada ante by any international reality. The current
qualquer realidade internacional. A atual hegemony of neoliberal thinking has
hegemonia do pensamento neoliberal aggravated this situation and reinforced
contribui para agudizar este quadro e ainda the progressive withdrawal of the state
reforça a progressiva retirada do Estado no from the enactment of social policies,
que tange à efetivação de políticas sociais. seeking Brazil's conformation to these
É intenção deste artigo introduzir breve- ideas. This paper conducts a basic
mente o processo histórico de constituição overview of the current social situation,
das políticas sociais, procurando vislumbrar specifically concerning social assistance
sua conformação no quadro brasileiro. No policies which are based on social security, Cláudia 1-lochheim Oliveira*
prosseguimento, busca-se subsidiar com health care and retirement support. The
alguns elementos iniciais a discussão acerca municipalization of assistance is analyzed Maira Moira Pinto
do atual momento das políticas sociais in the light of some of the central questions
brasileiras, especificamente no que tange à in this process.
política de assistência social, que se
Mestres em Serviço Social.
inscreve no tripé da seguridade social,
juntamente com a saúde e a previdência. A Professoras do Curso de Serviço Social
municipalização da assistência é problema- da Universidade de Santa Cruz do Sul —
tizada e refletida à luz de algumas de suas UNISC.
questões centrais.
Palavras-chave: política social, assis- Key words: social politics, social assis- * Assessora Técnica da Pró-Reitoria de
tência social, cidadania. tance, citizenship. Extensão da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul — UFRGS.

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Introdução que deve dar conta das situações de impedimento do sus-


tento de seus participantes. As situações de morte, invalidez,
ou mesmo viuvez, eram vistas como tragédias sociais, onde
tema deste artigo reveste-se de especial im-

10,
a caridade e a filantropia deveriam agir e abarcar esta
portância se for considerada a atual situa-
problemática.
ção de pobreza e indigência em que se en-
Entretanto, o pensamento liberal, a partir da Revo-
contram parcelas expressivas da população brasileira. A
lução Industrial, não encarava a assistência com bons
partir do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi- olhos, pois que a considerava como um incentivo à men-
mento — PNUD (2000), compreende-se a população indi- dicância ou à falta de vontade de trabalhar. A Teoria
gente como aquela que sobrevive com até US$ 1 por dia e Liberal tem em Adam Smith seu principal representan-
a população na linha de pobreza como aquela que recebe te, sendo ele o fundador do liberalismo econômico
até US$ 2 por dia: "Segundo o PNUD (2000), em 1998, um (CORAllA, 1985).
entre cada três brasileiros (50 milhões) estava em situação No pensamento de Smith (1983), o aumento da rique-
de pobreza" (SILVA, 2001, p. 36). za nacional depende de fatores que não somente a inter-
Esta situação limite em que vive a extensa massa venção do Estado. Estes fatores são a divisão do trabalho
populacional do Brasil é problemática, senão pelo sofri- e a acumulação do capital. Para Smith, a "mão invisível"'
mento humano contínuo que acarreta, também pelo opera a harmonização do interesse individual com o inte-
despreparo destas populações frente a uma série de rea- resse social. O papel do Estado refere-se, então, a não
lidades cotidianas em um mundo globalizado. obstaculização do livre desenvolvimento de forças que
Desta forma, parece clara a necessidade do país de operam para promover o crescimento econômico de uma
efetivar políticas sociais sérias de combate à pobreza, sob nação (SMITH, 1983)2.
o risco de deixa a população completamente fragilizada Com relação a isso, Smith (1983, p. 20) apresenta que
para qualquer realidade internacional.
Pouco se requer para levar um Estado da
Pobreza é destituição, marginalidade e despro- barbárie mais baixa para o mais alto grau de
teção. Destituição dos meios de sobrevivência opulência além da paz, impostos baixos e uma
física; marginalização no usufruto dos benefí- administração aceitável da justiça; todo o resto
cios do progresso e no acesso às oportunida- é feito pelo curso natural das coisas. Todos os
des de emprego e consumo; desproteção por governos que interferem neste curso natural [...],
falta de amparo público adequado e inoperância não são naturais e para subsistirem têm de ser
dos direitos básicos de cidadania, que incluem opressivos e tirânicos.
garantias à vida e ao bem-estar (ABRANCHES;
SANTOS; COIMBRA, 1987, p. 16). Ainda sobre o papel do Estado, Smith (1983) refere
que este tem três deveres básicos, que seriam segurança,
Abranches coloca que no Brasil hoje existem duas justiça e obras públicas; e que estes deveres bastam para
formas de pobreza: a estrutural, oriunda do modelo de de- que a sociedade seja harmoniosa e liberal. Neste sentido,
senvolvimento que se processou através da história; e a o Estado smithiano desempenha fundamental papel em
cíclica, que tem seu ponto alto nos períodos de recessão e relação à acumulação capitalista nascente, que se toma
desemprego, agravada pela crescente concentração de ren- claro na medida em que serve para preservar a proprie-
da do país. Diante desse quadro, o papel do Estado, como dade contra ataques internos e externos. Além disso, o
suporte básico e determinante para o enfrentamento da compromisso estatal está intimamente ligado ao interesse
pobreza, reveste as políticas sociais, e em especial a assis- capitalista, na medida em que defende o livre comércio,
tência social, em elemento significativo deste enfrentamento. bem como a tributação "liberal" (CORAllA, 1985).
É intenção deste artigo introduzir brevemente o processo Assim sendo, considera-se que o Estado smithiano
histórico de constituição das políticas sociais, procurando vis- servia, basicamente, aos interesses capitalistas de acu-
lumbrar sua conformação no quadro brasileiro. No prossegui- mulação, em detrimento ao bem comum, da mesma for-
mento, busca-se subsidiar, com alguns elementos iniciais, a discus- ma que preserva os interesses individuais. Como bem
são acerca do atual momento das políticas sociais brasileiras, apresenta Smith (1983, p. 379-80),
especificamente no que tange à política de assistência social.
[...] já que cada indivíduo procura, na medida
do possível, empregar seu capital em fomentar
1 Político social — urna rápida visão histórica a atividade nacional e dirigir de tal maneira essa
atividade que seu produto tenha o máximo va-
A história da política social, ou mais apropriadamente lor possível, cada indivíduo, necessariamente,
da assistência, principia como tarefa da sociedade civil, se esforça por aumentar o máximo possível a

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renda anual da sociedade. [...] Ao perseguir seus salário-educação, por exemplo) para chegar,
próprios interesses, o indivíduo, muitas vezes, finalmente, ao seguro-desemprego.
promove o interesse da sociedade muito mais
eficazmente do que quando tenciona realmente O processo histórico no Brasil segue o mesmo movi-
promovê-lo. mento mundial'

Desta forma, dentro da concepção liberal, o reconhe- Durante todo o período do Brasil-Colônia até
cimento dos direitos sociais, através de uma política social a República Velha, inclusive, a forma básica de
séria percorreu um longo caminho de luta, onde os traba- proteção social foi a assistência social priva-
lhadores protagonizaram a cena. O Estado de Bem-Estar da, mesclada com a saúde, configurando uma
Social, tal como o temos hoje nos países avançados, onde espécie de ajuda médico-social (OLIVEIRA,
a seguridade social enquanto uma política de Estado as- 1989, p. 80).
segura a cidadania plena, é fruto de uma longa evolução,
de uma luta constante para obtenção destes direitos. Aliado a este aspecto da assistência como benevolên-
cia da sociedade civil, outro traço marcante na incipiência
As primeiras medidas de proteção social tive- das políticas sociais no Brasil, neste período histórico, foi
ram origem em um contexto rigidamente liberal, seu caráter repressivo. Até a década de 1930, a questão
no qual se negava a necessidade da interven- social era vista como um "caso de polícia".
ção estatal nas questões de natureza social, sob Belfiore et al. (1985, p. 79) complementam esta afir-
a alegação da eficácia do mercado no trato dos mação colocando que esta repressão era condizente com
problemas emergentes (SPOSATI; FALCÃO; a mentalidade da classe dominante à época, pois os fenô-
menos sociais relativos à pobreza eram considerados como
FLEURY, 1989, p. 43).
"[...] fatos esporádicos, excepcionais."
Porém, com a evolução do capitalismo, fica demarca- No momento histórico em questão, não se tinha a com-
do que a pobreza não era fruto de incapacidade individual, preensão mais abrangente de que, sendo o Brasil um país
mas da estrutura da sociedade com o modo de produção essencialmente rural e latifundiário, o problema social era
capitalista, que gera a destituição — pobreza e as desigual- uma extensão das questões agrárias, uma extensão da
dades sociais. pobreza rural gerada pelo sistema de latifúndios.
Porém, a década de 1930 foi o marco revelador da
Para enfrentamento desta pobreza estrutural, já incipiência das políticas sociais: a partir de então, o Brasil
não bastavam as iniciativas assistenciais espon- mudou a base de sua economia, reformulando seu modelo
tâneas da sociedade civil ou do Estado. É assim econômico, passando de agro-exportador para urbano-in-
que a seguridade social contemporânea decor- dustrial, progressivamente.
re de avanços históricos, introduzindo o Estado Esta mudança deveu-se, principalmente, à queda da
Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, e aos anos de
como seu pilar fundamental (SPOSATI; FAL-
depressão e crise que a economia mundial experenciou a
CÃO; FLEURY, 1989, p. 112).
partir de então. A cultura cafeeira, que era a economia
Este processo contraditório, de avanços e retrocessos, dominante, de latifúndios e essencialmente voltada para a
desaguou em sociedades mais eqüitativas, ao nível dos exportação (modelo agro-exportador), não tinha mais como
países mais desenvolvidos. E, sem dúvida, a seguridade comercializar toda sua produção. O mercado internacio-
social, como política do Estado de Bem-Estar Social con- nal retraiu-se de forma decisiva.
tribui de forma decisiva para esta distribuição mais iguali- Por outro lado, as importações que sustentavam o con-
tária dos bens e serviços proporcionados hoje pela evolu- sumo interno tornaram-se inviáveis, devido à queda da
ção da humanidade. moeda (cruzeiro) no mercado internacional. Assim, pau-
Segundo Santos (1979. p.17), o desenvolvimento da latinamente, o mercado interno começou a se constituir
idéia de seguridade social parece seguir uma tendência em uma fonte mais lucrativa que as exportações, que es-
universal: tavam acumulando largos prejuízos. Era uma a situação
extremamente propícia para a criação, o desenvolvimen-
Aparentemente, a tendência universal da políti- to e o fomento da indústria nacional.
ca de bem-estar é iniciar-se com programas re- O crescimento das indústrias, como também o da ur-
lativos a acidentes de trabalho, expandindo-se banização, foram dois dos fatores decisivos na pressão
para a cobertura da velhice, invalidez e depen- exercida junto à sociedade e ao Estado para melhorias
na qualidade de vida, através de benefícios e/ou conces-
dentes, depois, doença e maternidade, alargan-
sões. Nesta correlação de forças a protagonista desta
do-se para abonos familiares (salário famíliae

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luta foi a emergente classe trabalhadora do incipiente Carl Menger, Eugen Bawerk e Ludwig von Mises — fun-
setor industrial que começava a se formar no país, princi- dou a Mont Pelerin Society (Sociedade Monte-Pelerin), com
palmente em São Paulo. o objetivo de restabelecer
É claro que a ques- o liberalismo clássico, e
tão social, no sentido eu- com ele a sociedade livre
ropeu de concentração
Com a abertura política adentra-se e o livre mercado
urbana, não é formulada. (PETERS, 1999).
Porém, é importante
no período denominado Nova Hayek escreveu di-
lembrar que as primeiras versos livros sobre a Te-
medidas de política so-
República, que teve um de seus oria Liberal, entre eles
cial são uma resposta à The constitution of
nascente organização e
pontos altos na mobilização da liberty, em 1960. Além
fortalecimento desta disso, ainda desenvolveu
classe trabalhadora.
sociedade civil pelas eleições a Teoria da Ordem Es-
Neste período, o Es- pontânea (1962), na qual
tado começa a perceber diretas para presidente. argumentava que o mer-
que deverá ter outras for- cado era uma instituição
mas de respostas, que ordenada de forma es-
não só a repressiva, para as necessidades da grande mas- pontânea, que tinha evoluído culturalmente, como as ins-
sa de trabalhadores que se consolida. Começa-se a con- tituições da linguagem e da moralidade. A partir desta
siderar a força que esta classe possui na sociedade, prin- mesma teoria, Hayek enfatizou questões como o indivi-
cipalmente no tocante a seu caráter numérico e massivo. dualismo metodológico; as concepções de individualida-
Conforme colocam Costa e Costa (1983, p. 80), é no de, racionalidade e egoísmo; bem como a doutrina da
período compreendido entre 1930 e 1945 que as medidas ordem espontânea. Era o renascimento do liberalismo,
relativas a ganhos trabalhistas e outros obtêm maior volume. dois séculos depois (PETERS, 1999) — agora
Como todo processo, a formação destas medidas, "[...] neoliberalismo — , que será abordado logo a seguir.
lei de férias, de menores, jornada de trabalho, repouso
remunerado, trabalho feminino" (BELFIORE et al., 1985,
p. 80) que podemos considerar como os primórdios de 1.1 Brasil e os anos de ditadura militar
uma política social, teve variações, avanços e retrocessos
durante suas conquistas. Desta forma, algumas categori- Retomando o movimento brasileiro, o período histórico
as funcionais conseguem benefícios e/ou medidas favo- que precedeu o golpe militar foi de grande efervescência
ráveis antes de outras, ou de forma mais completa que política. Vários setores da sociedade civil estavam articu-
outras. A isto, a esta estratificação e divisão de direitos lados e mobilizados, parecendo inexorável a caminhada
trabalhistas e sociais, foi que Santos (1979, p.75) chamou do país para uma mudança radical, nas reformas de base
de "cidadania regulada": do então presidente João Goulart.
O receio da implantação de um regime comunista, ali-
Por cidadania regulada entendo o conceito de ado a vários outros interesses, levou ao golpe que possibi-
cidadania cujas raízes encontram-se, não em litou aos militares a tomada do poder. É importante aqui
um código de valores políticos, mas em um sis- perceber em que tipo de ideologia se inscrevia a política
tema de estratificação ocupacional, e que, ade- social do país à época. Belfiore et al. (1985, p. 83), colo-
mais, tal sistema de estratificação ocupacional, cam a questão de forma genérica:
é definido por norma legal.
A partir de 1964, substituiu-se a ideologia
Segundo Santos, este sistema permanece até o movi- desenvolvimentista pela ideologia de moderni-
mento golpista de 1964, regulamentando as relações tra- zação, criando-se desta forma condições pro-
balhistas e de cidadania da classe trabalhadora. pícias à ação do capital estrangeiro. A concep-
Concomitantemente, nos países mais desenvolvidos, é no ção de desenvolvimento ligava-se à concepção
período histórico do pós-guerra que o Estado de Bem-Estar de crescimento econômico acelerado, no senti-
Social começa a se conformar. Ao mesmo tempo, um movi-
do da criação de infra-estrutura econômica
mento contra essa hegemonia também se configura.
como base de desenvolvimento.
Este movimento contrário inicia-se depois da II Guer-
ra Mundial, em 1947, quando Friedrich von Hayek — de Ou seja, era necessário efetivar primeiro o crescimen-
orientação teórica da Escola Austríaca representada por to econômico, pois o desenvolvimento social viria como

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conseqüência: "deixar o bolo crescer para depois dividi- ter legitimador, a política social pós 64
lo". Este pensamento tecnocrata dissocia crescimento estruturou-se basicamente: em um padrão
econômico de desenvolvimento social. distorcido de financiamento e gasto, com ênfa-
Desta forma, toda a área de políticas sociais, ou de se no objetivo do autofinanciamento ou
assistência, era vista como passível de modernização, den- privatização [...]. Em uma estruturação exces-
tro dos marcos do pensamento da época.
sivamente centralizada entre os três níveis de
A -visão do profissional deveria ser estritamente técni-
governo, tanto ao nível dos recursos e das ações
ca e neutra. Política era uma palavra mal vista, sendo que
quanto ao nível das decisões [...]. Assentada em
a vertente tecnicista foi a tônica deste período. Como sa-
bemos, a visão tecnicista e neutra de envolvimentos desá- uma administração setorializada, de modo que
gua, invariavelmente, em uma ação desvinculada da po- os programas sociais terminaram sendo geridos
pulação, de suas proposições e de seus anseios: por agências segmentadas que acabaram por
incidir em dupla justaposição: objetivos e cli-
Como forma de enfrentamento da questão soci- entelas superpostas [-J.
al, que se agudiza neste período, predominou a
tendência modernizadora e técnico-burocráti- Com a abertura política já mencionada, adentra-se no
ca na elaboração da política assistencial, sem período denominado Nova República, que teve um de seus
nenhuma participação dos representantes da
pontos altos na mobilização da sociedade civil pelas elei-
ções diretas para presidente em 1984. Este movimento
população (BELFIORE et al., 1985, p. 85).
foi seguido pela luta para que o candidato mais progres-
O período citado também foi de grande violência, e sista, Tancredo Neves, ganhasse a presidência do país no
violência esta utilizada para sufocar os problemas sociais: Colégio Eleitoral. Entretanto, apesar de sua vitória, quem
realmente assumiu a presidência do país foi José Sarney,
A questão social passou a ser tratada como com seu discurso "Tudo pelo Social". Este momento his-
tórico brasileiro inscreve-se no movimento mundial, que
caso do polícia' e o Estado utilizava, para sua
retoma e operacionaliza o neoliberalismo nascido no pós-
intervenção, o binômio repressão-assistência. A
II Mundial
política assistencial foi ampliada, burocratiza-
da e modernizada pela máquina estatal, aumen-
tando seu poder de regulação sobre a socieda- 1.2 O pensamento neoliberal e as décadas de
de com a intencionalidade de suavizar as ten- 1980 e 90
sões sociais e alcançar legitimidade para o re-
gime (BELFIORE et al., 1985, p. 84). Na década de 1980, a teoria econômica e política de
Hayek foi utilizada por Margareth Teatcher (Inglaterra) e
Lentamente, começou-se a proceder no país a abertura Ronald Reagan (EUA) para legitimar a implantação da
política. Obviamente que este fenômeno não foi uma con- teoria neoliberal frente às ações do Estado de Bem-Estar
cessão, mas sim uma conquista. Já era impossível aos go- Social, numa combinação de políticas baseadas no livre
vernos militares o abafamento da sociedade, seja via con- comércio com o estabelecimento de uma economia aber-
senso (mídia), seja via repressão. Os movimentos sociais, ta. Os objetivos destas medidas eram a liberalização eco-
adormecidos por tanto tempo, começam a ressurgir, princi- nômica, a flutuação da taxa de câmbio e o
palmente o movimento dos trabalhadores do chamado "ABC desmantelamento do Estado de Bem-Estar, entre outros.
paulista". Torna-se assim inviável o prosseguimento do re- Buscava-se a comercialização (privatizada) de todos os
gime sem alguma concessão por parte dos governos milita- setores, inclusive da saúde, do bem-estar e da educação,
res - o que para a sociedade constitui-se em conquista. o que foi concretamente atingido.
Desta forma, o país principia a sair destes anos de exceção Tais medidas foram operacionalizadas no sentido de
com um discurso inflamado sobre democracia e seus valores, proporcionar a desestabilização, para um futuro término
porém sem saber exatamente o que isto significa em termos do Estado de Bem-Estar Social. Além disso, estas políti-
de prática quotidiana ou de vivência, sinalizando as marcas do cas comentadas tinham o intuito de "enxugar" ou reduzir
atraso político deixadas pelo regime da ditadura militar. o setor público, diminuindo a representação político-eco-
Também nas políticas sociais o saldo não foi positivo. nômica e social do Estado (PETERS, 1999).
Oliveira (198, p. 86) caracteriza muito bem as conseqü- Dessa forma, cabe destacar, como uma das medidas
ências no período pós 64: mais representativas das economias apoiadas na Teoria
Neoliberal, o fenômeno da privatização. Diz-se isso na
Coerente com o padrão excludente e autoritá- medida em que é a privatização que propicia, justamente,
rio de desenvolvimento e imbuída de um cará- a base para a redução do tamanho e das responsabilida-

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des do Estado, através de três atividades principais: redu- mente nulos (com exceção do Chile), como já foi de-
ção no subsídio estatal; redução na provisão estatal; e re- monstrado anteriormente.
dução na regulação estatal. Assim, a privatização não toma A hegemonia teórica e ideológica do neoliberalismo e sua
apenas a forma da venda dos recursos e empresas esta- expressão política, o neoconservadorismo, adquiriram gran-
tais; pois outras formas paralelas incluem liberação de de intensidade na América Latina. Um resultado desta
compromissos, desregulamentação, terceirização, sistemas hegemonia traduz-se pelo radical enfraquecimento do Esta-
de arrendamento e redução de serviços prestados do, que se torna cada vez mais mínimo em termos de
(PETERS, 1999). regulação do mercado. Paralelo a isso, o discurso ideológico
Esta última consideração, em torno de uma face espe- dominante vincula a figura do Estado a tudo aquilo que se
cífica das políticas econômicas fundamentadas no mostra ineficiente, corrupto ou que apresenta desperdício. A
neoliberalismo, faz com que se apresente uma outra ques- iniciativa privada, diferentemente, é relacionada com a efici-
tão vinculada ao neoliberalismo, relacionada com a reali- ência e a austeridade ( BORÓN, 1995).
dade dos países latino-americanos que adotaram a Teoria No que se refere, ainda, ao enfraquecimento do Esta-
Neoliberal para sustentar sua economia. do, Borón (1995) diz que este carece dos recursos neces-
A crítica que se fazia, conforme já apresentado, à vali- sários para financiar uma agressiva política social que,
dade do Estado em países como os EUA, adquiriu forças pelo menos, neutralize a massa de pauperizados que gera
na América Latina também na década de 80; na medida a aplicação das políticas neoliberais. Explicita que a de-
em que os países capitalistas latino-americanos deram iní- plorável situação das contas públicas não se origina no
cio a uma nova etapa democratizadora (BORÓN, 1995). excesso do gasto público, mas na incapacidade dos gover-
Esta etapa democra- nantes de expandir seu
tizadora está intimamen- ingresso pela via tribu-
te vinculada à entrada e tária.Ou seja, os Estados
ao estabelecimento da pa
A rticipação envolve, latino-americanos não
Teoria Neoliberal nos pa- ampliam os gastos públi-
íses latino-americanos. É necessariamente, a idéia de cos, mas, pelo contrário,
neste marco democra- os reduzem, no intuito de
tizador que se inscreve a cidadania, e torna-se fácil canalizar os recursos
Constituição Federal, para o pagamento da dí-
aprovada em 1988, cha- depreender que a noção de política vida e para o controle da
mada "Constituição Cida- inflação.
dã", tendo em vista os social está intimamente relacionada Ainda sobre a redu-
avanços sociais ocorridos ção de gastos públicos,
em seu texto constitucio- com a de cidadania. o autor aponta que "Pre-
nal, demarcando a cons- tender [...] 'ajustar' as
tituição do tripé da seguri- contas públicas reduzin-
dade social e a municipali- do ainda mais o gasto
zação da assistência. público é uma política
Porém, conforme demonstram dados (BORÓN, 1995, profundamente equivocada, irrealista e condenada inexora-
p.77), na década de 1960 as economias latino-americanas velmente ao fracasso" (BORÓN, 1995, p. 87).Ele
cresceram a uma taxa de 5,7% ao ano, e, na década se- exemplifica esta afirmação com a realidade da Argentina,
guinte, fizeram-no a 5,6% ao ano. Nos anos 80, esta mes- onde não há mais como fazer ajustes, uma vez que os salá-
ma taxa de crescimento foi de apenas 1,3% ao ano. Com rios do setor público são de 150 ou 200 dólares mensais,
isso, Borón (1995, p. 77) afirma que "O caminho neoliberal sendo que os gastos de uma "família-tipo" se fixam em
para o Primeiro Mundo, portanto, não é senão um mito, torno de mil dólares mensais.
habilmente manejado pelas classes e frações que atual- Como forma de complementar as idéias de Borón so-
mente detêm a hegemonia no sistema capitalista". bre o neoliberalismo na América Latina, vale ressaltar tam-
Da mesma forma que Borón (1995), Bresser Perei- bém aspectos apontados por Bresser Pereira (1996), no
ra (1996) também apresenta que desde o início da dé- que se refere às estratégias para o crescimento dos paí-
cada de 1980 os países da América Latina se envolve- ses latino-americanos. Este autor considera que as refor-
ram em estratégias de ajuste e de reformas de acordo mas econômicas nos países citados não têm de ser exclu-
com a abordagem teórica neoliberal, em função da cri- sivamente neoliberais, coordenadas pelo mercado, mas ori-
se pela qual estavam passando4 . Este autor refere que entadas para o mercado, principalmente para o mercado
os resultados em termos de estabilização econômica externo. Ele aponta, ainda, que a coordenação das econo-
são modestos e em termos de crescimento são pratica- mias deve ser mista, para que os Estados consigam nova-

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mente intervir, planejar e implementar políticas. Assim sociais existentes em cada conjuntura específica em dada
como Borón (1995), ele destaca que o Estado não pode sociedade, como coloca Oliveira (1989, p. 77):
prosseguir "enfraquecido". Este enfraquecimento do Es-
tado, que se vem comentando, ocasionou uma desproteção Sinteticamente, as políticas sociais são fruto
do setor social nos países latino-americanos. Como con- das articulações entre pressões e movimentos da
seqüência, os problemas sociais se agravaram e as res- classe trabalhadora com as formas de reprodu-
postas a eles diminuíram consideravelmente. No que se ção exigidas pela valorização do capital e pela
refere a esta questão, Iamamotos (2000, p.121) é bastan- manutenção da ordem social; portanto, só po-
te elucidativa quando afirma que dem ser entendidas no contexto da estrutura
capitalista e no movimento histórico das trans-
Cabe destaque, no âmbito da seguridade soci- formações dessa mesma estrutura.
al, o fato de estarem previstas como atividades
exclusivas do Estado, apenas a fiscalização das Em que pese a classe trabalhadora ter sido a facção
normas sanitárias, a 'compra' de serviços de social com maior peso político na luta por políticas soci-
saúde [...], a previdência reduzida à previdên- ais, há que se lembrar que, em tempos mais recentes,
cia social básica. E a responsabilidade exclusi- vários movimentos sociais fizeram-se sentir na socieda-
va do Estado com a educação fica restrita à de com seus posicionamentos e reivindicações. Dentre
educação básica. estes, são passíveis de serem citados os movimentos
comunitários, que lado a lado com as instituições gover-
Acompanhando esta desproteção social, encontra-se namentais (e muitas vezes contra estas instituições),
o fenômeno do desemprego estrutural, mundialmente di- buscaram uma maior visibilidade em todos os sentidos
fundido, e especialmente agravado na América Latina. para a área social.
Sobre tal fenômeno, Iamamoto novamente apresenta um Outro aspecto a realçar é que as configurações da polí-
ponto de vista interessante: tica social são conjunturais. O movimento de expansão, de
conquista ou de retração destas políticas respeita a conjun-
As raízes do crescimento do desemprego estão as- tura de forças existentes em determinado momento históri-
sociadas a um processo de globalização financei- co. Sendo a política social fruto deste processo contraditó-
ra, fazendo com que a lógica da valorização fi- rio de embates sociais, os vários atores envolvidos prosse-
nanceira predomine nas decisões do empresariado guem numa contínua inter-relação, onde dado o momento
[...]. O predomínio do capital financeiro sobre o
específico, cabe a um ou a outro grupo a supremacia.
capital produtivo faz com que o compromisso es-
Nos momentos em que as forças populares se
tabelecido pelas elites dominantes seja com as
mobilizam e chegam a pôr em jogo a hegemonia
baixas taxas de inflação e não com o emprego e a
do Estado, há expansão das políticas
produção (IAMAMOTO, 2000, p. 115-16). assistenciais e nos momentos em que as forças
dominadas estão desmobilizadas, desorganiza-
A partir das questões apresentadas, percebe-se que as
economias latino-americanas capitalistas, onde situa-se o das, enfraquecidas, as políticas assistenciais
Brasil, têm suas ações econômicas fundamentadas na Te- são reduzidas (BELFIORE et al., 1985, p. 87).
oria Neoliberal, e preocupam-se, basicamente, com a evo-
lução e o desenvolvimento do mercado. Aspectos referen- Como se pode depreender, os conceitos de participa-
tes ao bem-estar das populações, bem como medidas ção política, com vistas ao controle da coisa pública, cons-
protetivas de saúde e educação, por exemplo, não são con- tituem-se em elementos indispensáveispara que os
sideradas fundamentais. Esta realidade vem reforçar fenô- gestores públicos sejam obrigados a administrar com lisu-
menos como o desemprego estrutural, e a própria exclusão ra o que é patrimônio da população.
social, gerando um número cada vez maior de "massa Desta forma, dois aspectos profundamente inter-rela-
sobrante" e excluídos sociais, políticos e econômicos. cionados são necessários para que o controle se efetive.
Ou seja, a via da participação precisa ser de "mão dupla":
as instituições devem ter seus canais de acesso da popu-
2 Política social enquanto correlação de lação à gestão institucional e, principalmente, transparên-
cia na sua administração; e a população precisa estar cons-
forças — o aspecto participativo e a cidadania
ciente e mobilizada para ocupar este espaço, ou para exi-
gir esta ocupação.
Como é possível perceber, através do breve histórico No Brasil ainda há um longo caminho a ser percorrido
anterior, a política social é fruto da correlação de forças para que se chegue a um patamar razoável de controle

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Política de assistência social e cidadania no Brasil hoje: alguns elementos para ...

das instituições por parte da sociedade civil. Nossa Histó- Seria mais correto, talvez, imaginar um contí-
ria é permeada por todos os tipos de autoritarismos e de nuo cujos limites inferior e superior são muitas
formas indevidas de uso de poder, fatores que contribuem vezes mutáveis e definem ampla gama de possi-
para coibir o real exercício de participação e controle da bilidades de 'situações de cidadania ; cabendo
sociedade sobre as políticas públicas, especificamente as pensar segmentos da sociedade que só perten-
de corte social. cem a esse espaço pelas mais tênues ligações,
Desta forma, a luta por canais de participação é de outros onde apenas o mínimo acesso a uma pau-
vital importância para todos os setores da sociedade, en-
ta de direitos existe, e outros ainda onde o esto-
volvidos nesta permanente correlação de forças, que são
que de bens de cidadania é mais substancial e
as políticas sociais. Assim, a participação envolve, neces-
constante (VASCONCELOS, 1989, p. 91).
sariamente, a idéia de cidadania, e torna-se fácil depreender
que a noção de política social está intimamente relaciona-
Vasconcelos (1989) prossegue colocando que as várias
da com a de cidadania. Seguindo a trajetória peculiar a situações de cidadania é que formam o referido sistema,
todas as conquistas humanas, a idéia de cidadania, tal qual que, por sua vez, constitui-se em probabilidades, onde os
a concebemos hoje, é fruto de um longo processo históri- vários grupos interagem com chance (probabilidades) dife-
co de construção permanente. renciadas. Como podemos depreender, ocorre aí a correla-
Fleury (SPOSATI; FALCÃO; FLEURY, 1989) faz uma ção de forças que discutimos, onde se origina a política
rápida evolução histórica, onde relaciona o tipo de Estado, social e, conseqüentemente, seu conceito de cidadania
a política social e o conceito de cidadania vigente. Utili- correlativo; que, na atualidade, corresponde a Cidadania do
zando-se dos conceitos trabalhados pela autora, elaborou- Desmonte.
se o quadro abaixo (Quadro 1). A partir do quadro expos-
to, pode-se, hoje, conceituar a cidadania como a busca de
"[...] um conjunto de direitos [...I" (ABRANCHES; SAN- 2 Política social no Brasil hoje: os desdo-
TOS; COIMBRA, 1987, p. 81). bramentos da assistência social
Estes direitos são divididos em três tipos: civis, políti-
cos e sociais. O direito civil compreende a liberdade de ir Demo (1988, p. 6) conceitua política social da seguinte
e vir, de imprensa, de expressão e pensamento, entre ou- forma:
tros. Os direitos políticos referem-se principalmente à par-
ticipação do cidadão na vida política/pública com direito Política social significa o esforço planejado de
de votar e ser votado. Por fim, o direito social diz respeito reduzir as desigualdades sociais, quando en-
ao mínimo necessário que o cidadão tem direito para vi- tendida como proposta do Estado. Olhada do
ver com dignidade. ponto de vista dos interessados é a conquista
da autopromoção.
Quadro 1 — Estado, política social e cidadania

Tipo de Estado Política Social Cidadania

Assistência social de natureza compensa- Invertida: o indivíduo passa a ser beneficiário


Liberal tória e preventiva das medidas, atendendo do sistema pelo motivo do reconhecimento
o necessitado. de sua capacidade de exercer plenamente
a condição de cidadão.

Assistencial Seguro social: cobertura da população Regulada (visto anteriormente na p. 49).


assalariada.
.
De Bem-Estar
Seguridade social: cobertura total, segundo Plena: o Estado está obrigado a fornecer um
Social
a noção de cidadania plena. mínimo vital a todos os cidadãos.

Cobertura mínima dos riscos sociais, Cidadania do desmonte: baseada nos valo-
efetivada a partir da redução do papel e res preconizados pelo Estado neoliberal,
Neoliberal
de um Estado que se desresponsabiliza como individualismo e competitividade6.
frente à questão social.

Fonte: Sposati; Falcão; Fleury (1989, p. 43-45).

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Cláudia Hochheim Oliveira e Maira Moira Finto

Ou poderíamos dizer, conquista da cidadania. A idéia e gencial, ou, ainda, não cabe reduzir as ações a
a prática de uma política social no Brasil é tardia se com- paliativos, visto seu caráter superficial e de ur-
parada com outros países da América Latina, os quais gência (SPOSATI et al., 1986, p. 58).
têm semelhanças com o nosso: "O resultado histórico dessa
relativa desatenção foi a geração deste quadro de A assistência social deve ser global, capaz de repro-
desequilíbrios sociais [...]" (SANTOS, 1979, p. 100). duzir os direitos inerentes aos cidadãos, possuindo uma
Assim, resgatando um direito que há muito deveria visão mais abrangente, conjuntural e estrutural da pobre-
ter sido reconhecido, a Constituição de 1988 caracteriza- za, e não vê-la de forma refletida em casos individuais,
se por ser um avanço considerável nas questões relativas considerados emergenciais e singulares. A assistência
à área social. Instaura-se a seguridade social, formada social precisa assumir seu caráter macro e eminentemen-
pelo tripé da saúde, previdência e assistência social. Esta te necessário para a resolução dos problemas brasileiros.
é, hoje, a configuração brasileira da política social, ou seja, A demanda exige a cidadania plena, sem o caráter
a forma como o Estado se articula (ou pretende se articu- criterioso e elegível de classificação da pobreza, que em
lar) para enfrentar a questão social. geral se processa na assistência.
O direito a um patamar mínimo de recursos para a
Todo brasileiro, à exceção do trabalhador ati- sobrevivência está preconizado na LOAS, e deve ser cum-
vo, isto é, dos 18 aos 50/55 anos, estaria sob a prido. Na busca desta efetividade um dos principais pa-
proteção da assistência social e até mesmo nes- péis da assistência (se não o principal) é constituir-se em
sa faixa etária, aqueles que não pertencerem política processadora das demais políticas públicas para
ao mercado formal. Relembremos que no Brasil as classes menos favorecidas, tornando as políticas aces-
a condição de não segurado se refere a 53% síveis à população excluída.
da população e que a população de zero a 19
A instauração e consolidação da concepção da assis-
tência social como um direito, dissociando-a da caridade
anos e com mais de 60 anos é também de mais
e da benesse, constitui-se em um avanço em termos
de 50%. Portanto, os serviços de assistência
conceituais.
social não têm o caráter de excepcionalidade, É o momento histórico da "virada da mesa". Esta nova
mas dizem respeito à quase maioria da popula- perspectiva de enfoque da assistência social enquanto direito
ção. A pensar no disposto constitucional e na do cidadão traz, em seu bojo, a contradição inerente de que a
composição da população, a maioria dos bra- assistência busca incluir na sociedade as classes e/ou os gru-
sileiros se compõe de necessitados sociais pos sociais que até então permaneceram excluídos do de-
(SPOSATI; FALCÃO; FLEURY, 1989, p. 12-13). senvolvimento social (pelo menos daquele desenvolvimento
que o Brasil intentou alcançar até o presente).
O disposto constitucional referido na citação é o pri- Processa-se hoje a tentativa de resgatar a assistência
meiro artigo da Lei Orgânica de Assistência Social social no país procurando retirar de seu conceito aquelas
(LOAS), Projeto de Lei n° 8742 de 7 de dezembro de percepções caritativas e filantrópicas e colocando a as-
1993, e é o que segue: sistência como direito do cidadão, de modo universal, com
vistas a garantir o acesso ao mínimo de renda para uma
A assistência social, enquanto direito da cida- sobrevivência digna.
dania é dever do Estado; é a política social que A distinção que se procede é entre os conceitos de
prevê a quem necessitar, benefícios e serviços assistencialismo e assistência. O primeiro é visto como
para acesso à renda mínima e ao atendimento uma postura tutelar do trabalhador social para como usu-
às necessidades humanas básicas, historicamen- ário das políticas sociais, de forma a subalternizá-lo. A
te determinadas (SPOSATI, 1990, p. 20). assistência, por sua vez, é a compreensão total de que o
bem ou o serviço repassado ou executado é um direito, e
Esta questão relativa ao tamanho da demanda brasi- não uma benesse. O assistencialismo encara estes direi-
leira requer uma visão séria e competente da assistência tos inerentes à cidadania como favores.
social, para que o enfrentamento da pobreza seja real. A superação deste enfoque assistencialista pressu-
Sendo toda (ou quase toda) população brasileira põe sua substituição pelo enfoque proposto, de perceber
demandatária de assistência social há que se pensar em o assistencial como um direito que se constitui no acesso
estratégias mais globalizantes e efetivas para o desenro- da população menos favorecida a serviços e/ou bens que
lar da mesma. de outra forma lhes seriam negados. Esta contradição
aparece como peça chave na busca destas modifica-
Conseqüentemente, não cabe reduzir a assistên- ções nos conceitos usuais. Conforme as autoras colo-
cia a um mecanismo voltado para o emergencial, cam, "Em outras palavras: o assistencial é a ótica do
desconhecendo o corte estrutural desse emer- Estado. O direito e a extensão da cidadania, em

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Política de assistência social e cidadania no Brasil hoje: alguns elementos para ...

contrapartida, são as garantias buscadas pela popula- no que tange ao reordenamento institucional, a
ção" (SPOSATI et. al., 1986, p. 35). LOAS apresenta algumas indefinições quanto à
Desta forma, o fato de assumir a ótica da população demarcação de competência das três esferas de
usuária da assistência é o caminho apontado para a supe-
poder (União, estados e municípios) com vistas
ração do assistencialismo. Colocando de outra forma: não
ao estabelecimento do comando único em cada
se faz mais possível negar o assistencial, mas é absoluta-
mente necessário incorporá-lo de forma massiva, mudan- esfera, bem como as relações de parceria entre
do de forma radical sua conotação intrínseca. Estado e sociedade.
E é neste momento que se faz a distinção: as ações
assistenciais devem continuar e devem ser ampliadas fren- Ou seja, a municipalização da assistência, ainda que
te à realidade do país, porém precisam ser encaradas como prevista em sua Lei Orgânica, estabelece seus primeiros
direito da população, como forma de acesso da parcela passos. Ainda há muitos programas que são elaborados
do povo brasileiro que utiliza a assistência social. em nível nacional, que apenas são repassados aos municí-
A visão estratégica que perpassa esta percepção de pios para sua operacionalização.
assistência é a de que a compreensão do direito e o pró- O sistema descentralizado, ou a municipalização, é
prio espaço assistencial, ambos encerram em seu interior constituído por instâncias deliberativas da assistência so-
a possibilidade de conquistas e lutas por parte da popula- cial, de caráter permanente e com uma composição
ção usuária. Neste processo é que se vai constituindo a paritária entre o governo e a sociedade civil — Conselho
cidadania possível, ou mais apropriadamente, a cidadania Nacional, Conselhos Estaduais, Conselho do Distrito Fe-
conquistada. deral e Conselhos Municipais.
Dentro dessa perspectiva, as diretrizes apresentadas Paralelo a essa organização, existem os órgãos gestores
na LOAS, em seu artigo 5°, refletem claramente a con- em cada esfera de governo — nacional, estaduais, do Dis-
cepção de partilha de poder, para a construção de um trito Federal e municipais —, os instrumentos de gestão e
espaço público de decisão e de definições de ações a par- as estruturas financeiras.
tir do confronto dos interesses em presença. As competências dessas esferas governamentais na área
Lobo (1989) enumera quatro princípios para que se- da assistência social estão descriminadas, prevalecendo a
jam pontuados e encarados os limites do processo de lógica da municipalização. Conforme define Falcão (1991,
descentralização. O primeiro deles diz respeito à flexibili- p. 8), baseado na LOAS, à esfera federal caberia:
dade, no que se refere aos recursos financeiros, políticos
e técnicos dos governos estaduais e municipais, dos quais [...] estabelecimento da Política Nacional de As-
dependem as respostas às demandas apresentadas, e suas sistência Social; coordenação geral da política de
diferenças. O segundo, refere-se ao gradualismo, que deve Assistência Social; estabelecimento dos padrões
assegurar a consolidação do movimento e não um risco de qualidade da rede de serviços e dos benefi'ci-
de estancamento ou diminuição no ritmo das mudanças. os; produção de índice de qualidade e quantida-
O terceiro, relaciona-se com a transparência dos proces- de de cobertura das ações; supervisão da aplica-
sos decisórios, no sentido do redirecionamento dos núcle- ção das normas gerais; coordenação e execução
os de poder. dos Benefícios Continuados, por seu caráter de
O último princípio diz respeito ao controle social, conside- universalização, como por exemplo, a renda míni-
rado como premissa básica do processo de descentralização ma para a pessoa idosa e para a pessoa portado-
da assistência. Conforme Lobo (1989, p. 492), o controle ra de deficiência; assessoramento e financiamen-
social deve "criar mecanismos político-institucionais de arti-
to de macro-projetos, ou de amplo alcance social,
culação, canais orgânicos de comunicação constante [...]".
em ação conjunta com diferentes áreas do Gover-
Este processo "só ganha eficácia com a garantia efetiva da
no Federal, Estadual e Municipal.
participação da população organizada".
É importante ressaltar que os princípios apresentados Na continuação das atribuições das esferas, preconiza-
não devem obscurecer a difícil realidade enfrentada ao se da pela LOAS, ao Estado caberia o apoio às ações dos
propor a municipalização, mas que o conhecimento des- municípios. Devem permanecer ou serem geridas no e pelo
sas premissas possibilite, ainda que de maneira generali- Estado aquelas ações que não possuam demanda em gran-
zada, uma relativa previsão das dificuldades que podem de escala, e que são mais onerosas aos cofres públicos.
ser encontradas ao longo do processo. Pode-se citar o exemplo da descentralização da área da
Para Stein (1999, p. 25), saúde. Prevê-se que cada bairro tenha seu Posto de Saúde
com atendimentos simplificados. Quando se tratar de aten-
Apesar de ser considerada avançada em seus dimento ambulatorial, a área de jurisdição aumenta, diminu-
conceitos, diretrizes e princípios, e inovadora indo a quantidade de serviços ambulatoriais, e com hospi-

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Cláudia Hochheim Oliveira e Maira Meira Pinto

tais, segue-se o mesmo raciocínio. A idéia é que o Posto de Uma hipótese possível de ser aventada é que esta vi-
Saúde periférico seja capaz de responder às demandas ini- são conservadora da realidade, que tende a trancar seu
ciais de forma eficaz, para que não se tornem demandas movimento natural, está diretamente relacionada com a
por serviços mais sofisticados, ou seja, faça trabalho pre- referida passividade da sociedade civil, discutida anteri-
ventivo. Na área assistencial pode-se mencionar o trabalho ormente e refletida na ausência de um pensamento coleti-
com idosos, por exemplo. vo introjetado nacional-
O trabalho direto com mente de cidadania. Ali-
o idoso na busca de lazer ada ao fenômeno brasilei-
ou mesmo de algum tra- Uma opinião pública e' aquela ro da "banalização da po-
balho como fonte de dis- breza", há uma socieda-
tração ou de renda adici- que pressiona quando fatos que de que não possui uma
onal fica por conta da opinião pública conscien-
execução direta do muni- ameaçam os direitos — sejam civis, te e atuante. Retoma-se
cípio. O asilamento, que assim o binômio passivi-
demanda um custo mai- pOlítiCOS ou sociais — vêm à tona. dade-falta de sentimento
or, e que deve ser reali- de cidadania.
zado somente em última Uma opinião pública
instância, ficaria por con- é aquela que pressiona
ta do Estado. O benefício continuado da renda mínima, quando fatos que ameaçam os direitos — sejam civis, polí-
pertence à esfera federal. ticos ou sociais — vêm à tona. Esta pressão é fruto de
Assim, fica patente que ao município caberia a execu- consciência e mobilização que aliadas transformam-se na
ção direta de todos programas assistenciais. As esferas força poderosa que chamamos de opinião pública.
federal e estadual deverão servir de suporte para a auto- Há que se considerar que sempre é possível a manipu-
nomia e autogerenciamento do município nesta área. lação da opinião pública. Entretanto, pode-se pensar este
A partir destas constituições é que é possível começar a fenômeno social, hipoteticamente, de forma pura e em
pensar na operacionalização da municipalização da assis- seu sentido original ou até mesmo utópico. Porque, de
tência. Estas idéias devem estas conjugadas de forma in- qualquer forma, assim como não existe opinião pública
trínseca com a previsão da LOAS, de formar fóruns de isenta de manipulação, a manipulação é parte da opinião
gestão e controle da assistência nas três esferas: Conselho pública, inerente a esta, e, no jogo político, uma de suas
Nacional de Assistência Social; Conselho Estadual de As- forças constitutivas. De uma certa forma, quando denun-
sistência Social; Conselho Municipal de Assistência Social. ciada, pode contribuir de forma definitiva para que a ver-
Uma das principais dificuldades neste processo de dadeira (e utópica) opinião pública ressurja.
municipalização diz respeito à chamada "prefeiturização",
que significa que a descentralização, algumas vezes, não é
mais do que um repasse para as prefeituras de responsabi- Perspectivas
lidades que eram dos estados e da União, sendo cobradas
novas responsabilidades dos municípios, sem a contrapartida Para que as políticas sociais sejam efetivas, partindo-se
financeira e sem a devida resolução de problemas, como a do pressuposto de que buscam a erradicação da pobreza e,
fragilidade dos quadros técnicos municipais, por exemplo. conseqüentemente, a redução das igualdades sociais, não
Outra questão, já referenciada anteriormente de for- podem estar dissociadas de outras políticas, em especial da
ma breve, é a realidade que se apresenta para os técnicos ecônomica, a qual devem estar profundamente articuladas.
que trabalham nas prefeituras. Não raras vezes, os proje- Aliada à variável da participação política dos usuários nas
tos e programas que são enviados para as secretarias mu- gestões dos serviços de que irão se utilizar, a questão da
nicipais estão prontos, já apresentando e prevendo metas produção e do emprego é que vem à tona neste momento.
e resultados a serem alcançados, sem salvaguardar as Demo e Cornely (1980, p. 25) relacionam a faceta
características peculiares de cada município. política com a econômica:
A par dessas questões, na construção da assistência so-
cial, enquanto uma política de direito, vários atores sociais Mas o político, sozinho, é também letra morta,
atuam na busca da supremacia de seus pontos de vista sobre porque não há o que distribuir, sem produzir.
o todo. Desta forma, como todas as conquistas humanas, Pobreza participada não é menos pobreza. E tão
existem avanços e retrocessos. Forças resistentes a mudan- errôneo afirmar que a pobreza se soluciona ape-
ças procuram segurar e evitar o desenrolar dos aconteci- nas com o crescimento econômico (ele pode
mentos que possam se encaminhar para modificações quan- agravá-la), como é errôneo garantir que a po-
titativas e/ou qualitativas das conjunturas institucionais. breza se supera através da consciência política.

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F'olítica de assistência social e cidadania no Brasil hoje: alguns elementos para ...

Assim, o binômio ocupação-renda deve vir aliado a CORAllA, G. Teoria econômica e Estado: de Quesnay
outras medidas concernentes à política social. A mesma a Keynes. Porto Alegre: FEE, 1985.
deve ser global, procurando enfrentar a pobreza por todos COSTA, A. M. S. N.; COSTA, M. J. P. Contextualização da
os ângulos. assistência social no Estado brasileiro. Serviço Social & Socie-
O já referido Relatório do Desenvolvimento Mundial de dade. São Paulo: Cortez, v. 4, n. 12, p. 77-85, ago. 1983.
1990 — Pobreza — também assinala a necessidade de medi-
das interligadas a esta visão global dos problemas sociais: DEMO, P. Participação é conquista. São Paulo: Cortez
Ed., Ed. Autores Associados, 1988.
Combater a pobreza não é primordialmente uma DEMO, P.; CORNELY, S. A. Subsídios ao planejamento
tarefa focalizada estritamente em projetos con- participativo: textos selecionados. Brasília: Ministério da
tra a pobreza, por mais vital que isso possa ser. Educação e Cultura, 1980.
Isto é tarefa para uma política econômica em
FALCÃO, M. do C. A política de assistência social e o
larga escala' (WORLD DEVELOPMENT papel da LBA, 1991, 8 p. Polígrafo digitado.
REPORT, 1990, p. 4).
IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na contem-
Ou seja, os analistas concluem que somente progra- poraneidade: trabalho e formação profissional. 3. ed. São
mas voltados para os problemas sociais não são suficien- Paulo: Cortez, 2000.
tes, mas devem vir acompanhados de uma política econô- LOBO, T. Política social e descentralização. In: A política
mica de linhas mais abrangentes. social em tempo de crise. Articulação institucional e descen-
tralização. Brasília, v.3, MPAS/CEPAL, 1989, p. 483-485.
Uma conclusão emerge disto tudo: os países que
OLIVEIRA, V. R. de. Política de assistência no Brasil.
têm sido bem sucedidos em combater a pobreza
Serviço Social & Sociedade. São Paulo: Cortez, v. 10,
têm encorajado um padrão de crescimento base-
n. 31, p. 98-118, dez. 1989.
ado no trabalho e têm investido no capital hu-
mano. Estas duas questões parecem básicas nas . Reflexões sobre a política de assistência no Brasil.
estratégias de redução dos níveis de pobreza, Revista de Administração Pública. F. G. V., v. 24, n. 1,
conforme propostas neste Relatório s (WORLD p. 74-87, nov. 1989.
DEVELOPMENT REPORT, 1990, p. 51). PETERS, M. Neoliberalismo. Traduzido por de Amélia
Siller. 1999. Disponível em: <http://www.educação.pro.br.>
Desta forma, embora o discurso não seja inovador Acesso em 24 maio 2003.
nem a idéia original, faz-se necessária a busca de formas
ROBBINS, Lionel. Teoria da política econômica. São
de operacionalização desta política global; sob o risco do
Paulo: Ibrasa, 1972.
Brasil transformar-se, no futuro, em um país de pessoas
incapazes porque embrutecidas na miséria. SANTOS, W. G. dos. Cidadania e justiça: a política social
Recebido em 13.09.2004. na ordem brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 1979.
Aprovado em 20.12.2004. SILVA, M.O. da S. e. (Coord.). O comunidade solidária:
o não-enfrentamento da pobreza no Brasil. São Paulo:
Cortez, 2001.
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Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1987. social no Brasil: 1983-1990. São Paulo: PUC-SP, ABESS,
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17, p. 73-89, abr. 1985. políticas sociais brasileiras: uma questão em análise. 2.
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em democracias novas: uma proposta social-democrata. na assistência social. Serviço Social & Sociedade. São
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Cláudia Hochheim Oliveira e Maira Meira Pinto

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WORLD DEVELOPMENT REPORT 1990. Poverty.
World development indicators. New York: Oxford Univ.
Press, 1990.

Notas

1 A mão invisível que guia os homens a promoverem


fins que não faziam parte de sua intenção [...] é a
mão do legislador, a mão que retira da esfera do
atendimento ao interesse próprio aquelas
possibilidades que não se harmonizam com o bem
comum (ROBBINS, 1972, p. 67).
2 Esta idéia está relacionada com a da liberdade natural,
defendida por Smith.
3 Para uma história completa da Política social no Brasil,
ver Santos (1979).
4 Sobre a crise da dívida externa, indica-se Bresser
Pereira (1996).
5 As explicações de Iamamoto fazem referência,
especificamente, à situação brasileira.
6 Este último item do quadro foi elaborado pelas autoras
do artigo.
7 Tradução livre das autoras deste artigo.
8 Tradução livre das autoras deste artigo.

Cláudia Hochheim Oliveira


oliveira@prorext.ufrgs.br

Maira Meira Pinto


mmmeira@portoweb.com.br
Universidade de Santa Cruz do Sul— UNISC
Curso de Serviço Social
Rua Independência, 2293
Santa Cruz do Sul — RS
CEP: 96815-000

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