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CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS

Apostila de Introdução a Sociologia – Módulo I

Salvador / Bahia - Brasil, 28 de Junho de 2021


CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 2

Direitos desta edição reservados ao

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ESTABELECIMENTO CEL PM JOSÉ IZIDRO DE SOUZA NETO
Criado em 06/03/1922, com missão de formar exclusivamente Graduados instituída
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Apostila Revisada e atualizada pelo Cap PM José Barbosa dos Santos e a Subten PM
Karina da Hora Farias - Colaboradores CFAP.

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parte desta obra poderá ser reproduzida, copiada, transcrita ou mesmo transmitida por meios eletrônicos ou
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9.610/98.

Impresso no Brasil / Printed in Brazil


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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 04
2. CONCEITO DE SOCIOLOGIA .................................................................................................. 04
2.1 OUTROS CONCEITOS DE SOCIOLOGIA .............................................................................. 04
2.2 OBJETIVO DA SOCIOLOGIA ................................................................................................... 05
2.3 PAPEL DO SOCIÓLOGO ............................................................................................................ 05
3. HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA ................................................................................................ 05
3.1 RENASCIMENTO ..............................................................................................................................06
3.2 ILUMINISMO OU ÉPOCA DAS LUZES ......................................................................................10
4. OS AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA ...................................................................... 11
5. CONCEITOS UTILIZADOS PELA SOCIOLOGIA. ................................................................ 14
6. OS AGRUPAMENTOS SOCIAIS. .............................................................................................. 15
6.1. GRUPO SOCIAL E NATUREZA HUMANA ............................................................................ 15
6.2. TIPOS DE AGRUPAMENTOS. .................................................................................................. 15
6.3. MULTIDÃO.................................................................................................................................. 15
6.4. PÚBLICO ...................................................................................................................................... 16
7. INSTITUIÇÕES SOCIAIS. .......................................................................................................... 17
7.1 INSTITUIÇÃO FAMILIAR .......................................................................................................... 18
7.2 INSTITUIÇÃO RELIGIOSA. ....................................................................................................... 19
8. ESTRATIFICACÃO SOCIAL ...................................................................................................... 20
9. CLASSE SOCIAL .......................................................................................................................... 22
10. MOBILIDADE SOCIAL............................................................................................................... 22
11. MUDANÇA SOCIAL ................................................................................................................... 22
12. ELITES............................................................................................................................................ 22
12.1. TIPOS DE ELITES ....................................................................................................................... 23
13. PROCESSOS SOCIAIS. ............................................................................................................... 24
14. COMPORTAMENTO SOCIAL................................................................................................... 24
15. ISOLAMENTO SOCIAL .............................................................................................................. 25
15.1 ISOLAMENTO ESPACIAL ......................................................................................................... 26
15.2 ISOLAMENTO ESTRUTURAL .................................................................................................. 26
15.3 ISOLAMENTO HABITUDINAL ................................................................................................ 26
15.4 ISOLAMENTO PSÍQUICO ........................................................................................................ 27
15.5 MECANISMOS QUE REFORÇAM O ISOLAMENTO SOCIAL ............................................ 27
16. INTEGRAÇÃO SOCIAL .............................................................................................................. 28
17. CONTROLE SOCIAL ................................................................................................................... 28
17.1 A IMPORTÂNCIA DOS CONTROLES INFORMAIS................................................................30
17.2 CONTROLE DE POLÍCIA NO BRASIL.......................................................................................31
18. CAPITALISMO ............................................................................................................................. 37
19. GLOBALIZAÇÃO E MISÉRIA SOCIAL ................................................................................... 37
20. O NEOLIBERALISMO ................................................................................................................. 38
20.1 O DESEMPREGO ......................................................................................................................... 39
21. PROBLEMAS SOCIAIS ............................................................................................................... 40
21.1 A FOME......................................................................................................................................... 40
21.2 O DESEMPREGO. ........................................................................................................................ 41
21.3 DISCRIMINAÇÃO.............................................................................................................................42
21.4 DELINQÜÊNCIA JUVENIL..............................................................................................................44
21.5 CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA.................................................................................................45
21.6 ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA ..................................................................................................... 47
21.7 ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ................................................................................................. 48
21.8 O PROBLEMA E A ILEGALIDADE DAS MÍLICIAS .............................................................. 49
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................... 52
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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho como objetivo trazer para ao Aluno do Curso de


Formação de Soldado os conceitos básicos da Sociologia para operacionalizar a teoria
com a realidade social.
Na primeira parte deste trabalho, iniciaremos o estudo da sociologia a partir
do seu conceito, sua história e objetivo, tomando como ponto de partida da
contribuição de diferentes estudiosos no campo das ciências sociais. Em seguida,
teremos uma visão dos principais cientistas sociais, em especial os chamados
“clássicos” da sociologia como: Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber, com uma
breve análise de suas principais obras.
Em segundo momento, abordaremos diversos conceitos utilizados na
sociologia como isolamento, classe social, instituições e agrupamentos sociais, dentre
outros, possibilitando ao aluno a partir destes compreender diferentes fenômenos da
realidade social.
Ao final debateremos diferentes fatos sociais como a globalização,
desemprego, fome e violência e a nocividade da ação das milícias, procurando
desconstruir os determinismos que são trazidos pelo senso comum que distorcem a
realidade social.

2. CONCEITO DE SOCIOLOGIA

A Sociologia tem por função estudar as relações sociais e a forma de


associação entre as pessoas no âmbito de convivência. É uma disciplina que
considera as interações em sociedade, envolvendo grupos de pessoas e fatos do
cotidiano, analise das divisões de classes e camadas sociais, sendo uma ciência que
estuda as situações da sociedade por meio da observação do comportamento
humano.
Trata-se a Sociologia de ser uma Ciência Social, portanto, seus métodos são
diferentes dos métodos utilizados nas ciências naturais; enquanto a ciência social
emprega processos e análises predominantemente qualitativas de observação dos
fenômenos, de modo o mais objetivo possível, as ciências naturais estão voltadas ao
emprego de métodos precisos, quantitativos, cálculos, previsibilidade, e das
demonstrações empíricas para comprovação dos fenômenos.
Assim, a sociologia se baseia em estudos objetivos que melhor podem revelar a
verdadeira natureza dos fenômenos sociais. Ela é desta forma, o estudo e o
conhecimento objetivo da realidade social. Como exemplos, podemos citar a
formação e desintegração de grupos, a divisão da sociedade em camadas, a
mobilidade de indivíduos e grupos nas camadas sociais, processos de competição e
cooperação.
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Não obstante, o conceito acima, para Lakatos (1999,p.25), sociologia “É o


estudo científico das relações sociais, das formas de associação, destacando-se os
caracteres gerais comuns a todas as classes de fenômenos que se produzem nas
relações de grupo entre seres humanos”.
Enquanto Demo, entende que “(...) que sociologia é o tratamento teórico e
prático da desigualdade social. Por Tratamento teórico entendemos a produção de
teorias explicativas do fenômeno fundamental que formam um corpo sistematizado
de enunciados. (LAKATOS, 1985,p.13)
Ademais, Mauss constata que é “tudo o que a sociologia postula é simplesmente
que os fatos chamados sociais na natureza, isto é, acham-se submetidos ao princípio da ordem
e do determinismo universais, sendo por conseqüência inteligíveis”. (MAUSS, 2001,p. 4).

2.2 OBJETIVO DA SOCIOLOGIA

Apresentar a vida social dos homens em sua totalidade e as interações que realiza,
revelando no plano real, como as situações sociais ocorrem de fato e não como
deveria ser, visando contribuir com a sociedade na tomada de decisões que
melhorem a vida dos que fazem parte dela, a partir deste conhecimento.

2.3 PAPEL DO SOCIÓLOGO

O sociólogo é o estudioso desse ramo do conhecimento humano, que se Poe a


observar os fenômenos sociais para descrevê-lo, objetivando explicar cientificamente
tais fenômenos, sem perder de vista que o imprevisível é um dos dados mais
constantes no mundo do ser humano, que o sociólogo deve sempre ter em vista
quando planifica, planeja ou faz previsões.

3. HISTÓRICO DA SOCIOLOGIA

A Sociologia propriamente dita é fruto da Revolução Industrial, e nesse sentido é


chamada de "ciência da crise" - crise que essa revolução gerou em toda a sociedade
européia. Ela é fruto de toda uma forma de conhecer e pensar a natureza e a
sociedade, que se desenvolveu a partir do século XV, quando ocorreram
transformações significativas como a expansão marítima, reformas protestantes, a
formação dos Estados nacionais, as grandes navegações e o comércio ultramarino,
bem como o desenvolvimento científico e tecnológico que desagregaram a sociedade
feudal, dando origem à sociedade capitalista.
No séc. XVI desenvolve-se um outro movimento, o da Reforma Protestante, que
propicia uma tendência que contribuiu de modo significativo para a valorização do
conhecimento racional. Com essa nova maneira de se relacionar com as coisas
sagradas, há também um outro movimento no sentido de analisar o universo de
outra forma. A razão passa a ser soberana e é colocada como elemento essencial para
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se conhecer o mundo. Essa nova forma de conhecimento da natureza e da sociedade,


na qual a experimentação e a observação são fundamentais, aparece nesse momento,
representada pelo pensamento e pelas obras de diversos pensadores, entre os quais
Nicolau Maquiavel, Galileu Galilei, Thomas Hobbes, Francis Bacon, René Descartes.
Outros dois fariam a ponte entre esses novos conhecimentos e os que se
desenvolverão no século seguinte: John Locke e Isaac Newton.
No séc. XVIII, a burguesia comercial, torna-se uma classe com muito poder,
devido, na maior parte das vezes, às ligações que mantinha com os monarcas, em
questões econômicas.
O capital mercantil vai se expandindo em diversos ramos de atividade. Ao se
desenvolver a manufatura, torna-se necessário o desenvolvimento de novas técnicas
de produção. Surgem máquinas de tecer, descaroçar algodão, bem como a aplicação
industrial da máquina a vapor. O trabalho antes realizado com as mãos ou com
ferramentas passa agora a ser feito por meio de máquinas, elevando o volume de
produção. A máquina a vapor incentivou o surgimento da indústria construtora de
máquinas.
Essas alterações no processo produtivo, somadas a herança cultural e intelectual
do séc. XVII irão definir o séc. XVIII como um século explosivo, servindo de exemplo
e parâmetro para as revoluções políticas posteriores. Pensadores como Montesquieu,
David Hume, Jean-Jacque Rousseau, Adam Smith e Emmanuel Kant entre outros,
procurarão refletir sobre a realidade, na tentativa de explicá-la.
No séc. XIX, a consolidação do sistema capitalista na Europa contribuirá para o
surgimento da sociologia como ciência particular. O pensamento de Saint-Simon,
Hengel, David Ricardo, Auguste Comte e Karl Marx desenvolveram reflexões sobre a
sociedade de maneiras radicalmente divergentes.

3.1. FASE DO RENASCIMENTO

Renascimento ou Renascença é o nome dado ao movimento de reforma


artística, literária e científica que teve origem no século XIV na Itália e se espalhou
para o resto da Europa, estando em vigor até o século XVI. Esta palavra
também significa o ato de renascer e pode ser sinônimo de reformulação.
Período também conhecido como “Renascença ou Renascentismo”, ocorrido no
final do século XIII e meio do século XVII, cujas transformações em diversas áreas da
vida humana, desencadearam o fim da Idade Média e conseqüentemente o início da
Idade Moderna, aniquilando assim o feudalismo e surgindo com todo vigor o
capitalismo. Primeiramente manifestou-se na Itália, nas cidades de Florença e Siena,
indo para toda península italiana, posteriormente se desenvolveu para todos os
países da Europa Ocidental.
De acordo com alguns autores, o Renascimento foi um movimento de ruptura,
que surgiu em oposição à "escuridão cultural e intelectual" verificada na Idade
Média. Enquanto alguns autores defendiam que o Renascimento foi um movimento
de separação de muitas filosofias da época medieval, outros indicam que foi um
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movimento de continuidade e que por isso está inevitavelmente relacionado com a


Idade Média.
Durante o Renascimento surgiu o Humanismo, que substituiu o teocentrismo
(uma das características da Idade Média) pelo antropocentrismo, que colocou o
Homem no centro do universo.
O Renascimento abriu caminho para o desenvolvimento de vários estilos
artísticos e correntes filosóficas. Alguns se desenvolveram em concordância com o
Renascimento, enquanto outros se definiram pela distanciação. Este é o exemplo do
Barroco, um estilo oposto ao Renascimento (valorizava a simplicidade), caracterizado
pelo exagero de enfeites e grandiosidade.
A redescoberta e a revalorização das referências culturais da antiguidade
clássica serviram como parâmetros de mudanças para os princípios de ideais
humanistas e naturalistas. A partir do livro “A Cultura do Renascimento na Itália”,
escrito pelo intelectual Jacob Burckhardt, em 1867, no qual descrevia o renascimento
como a “descoberta do mundo e do homem”. O Ser homem desperta e descobre que
existe um mundo e que ele como homem também existe e está inserido neste próprio
mundo. Surgem aí, então, as percepções do entendimento racional com maior
evidência.

3.1.1 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

a) HUMANISMO – É entendido como um conjunto de valores filosóficos,


morais e estéticos que focam no ser humano, daí o seu nome. Do latim, o termo
humanus significa “humano”. Trata-se de uma ciência que permitiu ao homem
compreender melhor o mundo e o próprio ser.
O movimento humanista surge como mote para a valorização do ser humano e
da natureza humana, donde o antropocentrismo (homem no centro do mundo) foi
sua principal característica. O humanismo foi uma corrente intelectual que se
destacou na filosofia e nas artes, e que desenvolveu o espírito crítico do ser humano.

b) RACIONALISMO – Tratava-se de uma corrente filosófica que atribui


particular confiança à razão humana, ao passo que acredita que é dela que se obtém
os conhecimentos.
Saber de onde vinha o conhecimento era uma preocupação da Filosofia. A tentativa
de responder a essa questão resulta no aparecimento de pelo menos duas correntes
filosóficas: a) Racionalismo, que do latim ratio significa "razão"; e b) Empirismo, que
do grego empeiria significa “experiência”.
Ao defender a razão humana, essa corrente filosófica foi importante para
desenvolver diversos aspectos do pensamento renascentista em detrimento da fé
medieval. Com ele, o empirismo ou a valorização da experiência, foram essenciais
para a mudança de mentalidade no período do renascimento. Note que o
racionalismo está intimamente relacionado com a expansão científica de forma que
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busca uma explicação para os fatos, baseada na ciência. Em outras palavras, a razão é
o único caminho para se chegar ao conhecimento.

c) INDIVIDUALISMO – Era a idéia de que cada um seria responsável pela


condução de sua própria vida, com a possibilidade de fazer opções e manifestar-se
sobre diversos assuntos, e acentuar-se gradualmente o individual. É importante
entender, que essa característica não implicava no isolamento do homem, que
continuava a viver em sociedade com relação direta entre outros homens, porem,
tinha a possibilidade de tomar suas próprias decisões.

d) ANTROPOCENTRISMO – Vem do grego, anthropos "humano" e kentron


"centro" que significa homem no centro. É um conceito, oposto ao Teocentrismo, que
ressalta a importância do homem como um ser dotado de inteligência e, portanto,
livre para realizar suas ações no mundo.

e) CIENTIFICISMO – Também chamado de cientismo, é uma doutrina dos


que consideram o conhecimento científico como definitivos. Nesta concepção, se tem
a razão como base, onde a doutrina pode ser considerada semelhante ao
racionalismo. O Cientificismo ou Cientismo pode ser resumido na seguinte
afirmação: “Tudo é explicável pela Ciência”.

f) UNIVERSALISMO – É a doutrina filosófica que afirma a existência de certos


princípios, os quais seriam universalmente incontestáveis. Portanto, tais princípios,
deveriam ser admitidos por todas as pessoas e grupos culturais, como um guia para
suas condutas, de forma que venha distinguir as boas das más obras.
Desenvolvido, sobretudo, na educação renascentista e corroborada pelo
desenvolvimento do conhecimento humano em diversas áreas do saber. Vale
ressaltar que no período renascentista, houve uma expansão de escolas, faculdades e
universidades, bem como, a inclusão de disciplinas relacionadas às humanidades
(línguas, literatura, filosofia, dentre outras.)

g) ANTIGUIDADE CLÁSSICA – Foi a época que legou um riquíssimo


repertório de informações ao mundo civilizado de modo que a cultura clássica,
continua ainda considerada fundamental para a construção de toda a cultura
ocidental contemporânea.
A retomada dos valores clássicos foi essencial para o estudo dos humanistas.
Segundo os estudiosos da época, a filosofia e as artes desenvolvidas durante a Grécia
e a Roma antiga possuíam grande valor estético e cultural, em detrimento da Idade
das Trevas (Idade Média) em que foram relegadas. Entretanto, as maiores
características do renascimento se pautavam em quatro pontos principais:
a) No Racionalismo, onde os renascentistas eram convictos de que a razão era o
único caminho para se chegar ao conhecimento, e que tudo podia ser explicado pela
razão e pela ciência;
b) No Experimentalismo, onde para eles todo conhecimento deveria ser
demonstrado através da experiência científica;
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c) No Individualismo, que parte do princípio do homem conhecer a si próprio,


buscando afirmar sua própria personalidade, talentos e satisfazer suas ambições. Esta
concepção se baseia no princípio que o direito individual estaria acima do direito
coletivo;
d) No Antropocentrismo, que colocava o homem como a suprema criação de
Deus e como o centro do universo.

3.1.2. PRINCIPAIS NOMES DO RENASCIMENTO CIENTÍFICO

Nicolau Copérnico (1437-1534) – Astrônomo polonês, na sua obra Da Revolução


das Esferas Celestes combateu a teoria geocêntrica, propondo a teoria heliocêntrica – o
Sol como o centro do nosso sistema planetário.
Leonardo da Vinci (1452-1519) – Empreendeu diversas realizações, entre as
quais se destaca o desenho do primeiro mapa-múndi focalizando a América, e
projetos de engenhos voadores. Estudou profundamente a anatomia humana, a fim
de expressar com maior rigor as formas humanas na pintura e na escultura.
Francis Bacon (1561-1626) – É considerado o fundador da ciência moderna,
pois, foi o primeiro a expor em seu livro “Novum Organum”, que o estudo da indução
e do método experimental, ensina que se deve descobrir os fenômenos da natureza
pela observação, e reproduzi-los pela experiência. Saber é poder, afirmava ele.
Galileu Galilei (1564-1642) – Natural de Pisa, na Itália, foi matemático, físico e
astrônomo. Aperfeiçoou o telescópio a fim de se aprofundar nos estudos
astronômicos. Confirmou a Teoria Heliocêntrica de Copérnico. Descobriu as leis da
queda dos corpos e anunciou o princípio da inércia e o da composição dos
movimentos. Inventou o termômetro e a balança hidrostática e estabeleceu os
princípios da dinâmica moderna.
Johannes Kepler (1571-1630) – Astrônomo alemão que apresentou as leis
referentes ao movimento dos planetas em torno do Sol (leis de Kepler). Além disso,
dedicou-se a estudos de óptica.
René Descartes (1596-1650) – Filósofo francês, autor do Discurso sobre o método,
onde expõe o critério científico de verificação e conclusão. Sugeriu a fusão da álgebra
com a geometria, o que deu origem à geometria analítica.
Isaac Newton (1643-1727) – Matemático, físico e astrônomo inglês, que
descobriu as leis da gravitação universal e da decomposição da luz.
Leibniz (1646-1716) – Filósofo, cientista e matemático alemão, é creditado a ele
e a Newton o desenvolvimento do cálculo moderno.
Neste contexto renascentista, é importante lembrar que, a reação da Igreja
Católica ao pensamento e às descobertas dos cientistas renascentistas, nem sempre
foram pacíficas.

Apesar de todo o avanço intelectual e científico registrado no Renascimento,


não devemos esquecer que somente as elites tinham acesso a ele. Contraditoriamente,
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persistiam — sobretudo nas camadas populares — crenças no sobrenatural e na


magia, herdadas dos alquimistas e feiticeiros da Idade Média.

3.2 FASE DO ILUMINISMO OU ÉPOCA DAS LUZES

A Revolução Inglesa do século XVII e a Revolução Industrial do século XVIII


foram conduzidas pela burguesia inglesa, o objetivo desses movimentos
revolucionários era destruir as estruturas econômicas, sociais e políticas que
sustentavam o Antigo Regime, tais como o direito divino dos reis, a política
econômica mercantilista e o poder político da Igreja Católica.
A crise do Antigo Regime foi acompanhada por um conjunto de novas idéias
filosóficas e econômicas que defendiam a liberdade de pensamento e a igualdade de
todos os homens perante as leis. As idéias econômicas defendiam a prática da livre
iniciativa. Esse movimento cultural, político e filosófico que aconteceu entre 1680 e
1780, em toda a Europa, sobretudo na França, no século XVIII, ficou conhecido como
Iluminismo, Ilustração ou Século das Luzes.
Os iluministas caracterizavam-se pela importância que davam à razão.
Somente por meio da razão, afirmavam ser possível compreender perfeitamente os
fenômenos naturais e sociais. Essas idéias baseavam-se no racionalismo. Defendiam
a democracia, o liberalismo econômico e a liberdade de culto e pensamento. Na
verdade, o Iluminismo foi um processo longo do qual as transformações culturais
iniciadas no Renascimento prosseguiram e se estenderam pelo século XVII e século
XVIII.
As idéias iluministas influenciaram movimentos como a Independência dos
Estados Unidos, a Inconfidência Mineira e a Revolução Francesa. O Iluminismo
iniciou-se na Inglaterra, mais foi na França, que atingiu seu maior desenvolvimento.
Foi na França que viveram os maiores pensadores iluministas, Voltaire,
Montesquieu, Rousseau, Diderot e D´Alembert.

3.2.1. CARACTERÍSTICAS DO ILUMINISMO

Como eu já disse, o Iluminismo valoriza a razão (ao contrário da fé,


predominante na Idade Média). A razão deve substituir a crença religiosa e o
misticismo (pois isso prejudicava o progresso do homem), ou seja: a razão ilumina a
sociedade que vive nas trevas (daí vem o termo "Iluminismo").
Os iluministas defendiam a liberdade econômica (pois o Estado interferia muito
na economia com o Mercantilismo) e eram contra o Absolutismo dos reis (defendiam
uma sociedade livre). Ou seja: eles eram a favor da liberdade econômica, política e
também religiosa. Essas idéias influenciaram a Revolução Francesa (liberdade,
igualdade e fraternidade) e se espalharam rapidamente pelo mundo.
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Os filósofos iluministas reuniram suas idéias num livro chamado


"Enciclopédia" (para facilitar a disseminação do conhecimento). Alguns reis
absolutistas ficaram intimidados com essas ideias liberais (já que essas idéias
entravam em conflito com o Absolutismo e tinham a simpatia do povo) e passaram a
aceitar algumas idéias do Iluminismo. Esses reis passaram a ser conhecidos como
Déspotas Esclarecidos.

3.2.2. PRINCIPAIS FILÓSOFOS ILUMINISTAS

a) John Locke: é considerado o "Pai do Iluminismo". Dizia que o homem


adquire conhecimento com o passar do tempo por meio da experiência (empirismo).
b) Montesquieu: afirmava que o poder político deveria ser dividido em três
(Legislativo, Executivo e Judiciário). Principal obra: "O Espírito das Leis".
c) Russeau: defendia a democracia e um Estado que pudesse garantir a
igualdade para todos. Principal obra: "Do Contrato Social".
d) Voltaire: foi um polêmico crítico do clero (Igreja) e da prepotência dos reis,
além de defender a liberdade de pensamento. Principal obra: "Cartas Inglesas".
e) Adam Smith: defendeu o liberalismo econômico.

4. AUTORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA

AUGUSTE COMTE: (1798 -1857) Filosofo Francês – Considerado o pai da


Sociologia como ciência. Criador da doutrina positivista. Segundo Comte existia na
historia três estados: um teológico, outro metafísico e finalmente o positivo - crença
no poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la
sob a forma de leis naturais. Essas leis seriam à base de regulamentação da vida do
homem - Este último representava o coroamento do progresso da humanidade.

Obras: a) Curso de filosofia positiva – em seis volumes – publicada entre 1830 e 1842;
b) Discurso sobre o espírito positivo; e c) Discurso sobre o conjunto do positivismo.

KARL HEINRICH MARX: (1818-1883) Filósofo Alemão – Fundador do


movimento comunista internacional alemão. Teve como companheiro de idéias
Friedrich Engels e juntos escreveram O Manifesto do Partido Comunista, obra
fundadora do “marxismo” enquanto movimento político e social a favor do
proletariado.
Marx desenvolveu vários conceitos importantes, tais como: alienação –
separação do trabalhador dos seus meios de produção, que se tornaram propriedade
privada do capitalista. O trabalhador perdeu o controle do produto do seu trabalho.
Na noção de classes sociais – as desigualdades sociais provocadas pelas relações de
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produção do sistema capitalista, as quais dividem os homens em proprietário e não-


proprietários dos meios de produção são a base da formação das classes sociais.
Em seu trabalho ele considera a política ou o Estado como fenômeno secundário
em relação aos fenômenos essenciais, econômicos ou sociais, como era próprio dos
pensadores do começo do século XIX. Nesse sentido verifica o poder político como a
expressão dos conflitos sociais. O poder político neste sentido será o meio pelo qual a
classe dominante (classe exploradora), mantém sua hegemonia e sua forma de
exploração. Portanto, neste raciocínio, a supressão das contradições de classe deve
levar logicamente ao desaparecimento da política e do Estado, visto que, política e
Estado são, em conseqüência, o subproduto ou a expressão dos conflitos sociais.
Ele divide a história da civilização a partir dos regimes econômicos, como
sejam: o modo de produção asiático, o antigo, o feudal e o burguês. O modo de
produção antigo é caracterizado pela escravidão; o modo de produção feudal pela
servidão; o modo de produção burguês pelo trabalho assalariado que é constituído
da última formação social antagônica pois quando da associação dos produtores
(modo de produção socialista) não implicará mais na exploração do homem pelo
homem, neste instante a propriedade dos meios de produção e do poder político
ficará com o proletário.
O Capital – a principal obra, traz uma análise do desenvolvimento e da história
do capitalismo através de uma visão econômica, sociológica e mesmo filosófica numa
tentativa do autor de mostrar o devanir (sonho ou imaginação) da sociedade ocidental.
Obras: a) O Manifesto do Partido Comunista; b) A ideologia alemã; c) O capital;
d) Contribuição à crítica da economia política; e, e) Miséria da filosofia.

ÉMILE DURKHEIM (1858-1917) Filósofo Francês – Fundador da escola


sociológica francesa. Durkheim formulou com clareza o tipo de acontecimentos sobre
os quais o sociólogo deveria se debruçar: os fatos sociais. Na obra Da divisão do
trabalho social (1893), o autor distingue na sociedade duas formas de solidariedade.
Uma é a solidariedade mecânica, que segundo sua expressão seria a partir das
semelhanças, e significa que os indivíduos diferem poucos uns com os outros – em
sentimentos, valores, reconhecem os mesmo objetos como sagrados. A sociedade tem
uma coerência em decorrência da não individualização, são inerentes as sociedades
primitivas, arcaicas, formadas por clãs.
Enquanto na solidariedade orgânica está baseada na diferenciação dos
indivíduos, por analogia aos órgãos humanos, cada um exerce uma função própria,
entretanto, todos são indispensáveis à vida. É o resultado da diversidade e
complexidade das atividades que historicamente as sociedades segmentárias vão
apresentando.
Nas sociedades mecânicas a consciência coletiva é mais presente, os valores
estão presente na média de seus indivíduos exercendo uma coerção nas suas
individualidades (imperativos e proibições); enquanto nas sociedade orgânicas na
medida que se especializa menor será o número de pessoas que têm uma consciência
comum, no caso de violação das regras sociais a sanção universal será restitutiva da
ordem violada pois o modo de agir e as preferências estão diferenciadas. No caso das
atividades produtivas, o trabalho social é mais dividido, temos deste modo uma
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maior especialização criando uma dependência entre as pessoas. Obras: a) As regras


do método sociológico; b) O suicídio; e, c) Da divisão do trabalho social.

MAX WEBER: (1864-1920) Sociólogo Alemão – figura dominante na sociologia


alemã.
Weber tem como objeto de investigação a ação social, a conduta humana dotada
de sentido. O homem dá sentido à sua ação social: estabelece conexão entre o motivo
da ação propriamente dita e seus efeitos. Ao contrário de Durkheim, para Weber a
ordem social não difere nem se opõe aos indivíduos como força exterior a eles,ou
seja, as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada
indivíduo sob a forma de motivação.
Em seus estudos Weber parte da distinção entre quatro tipos de ação: a ação
racional com relação a um objetivo (zweckrational), a ação racional com relação a um
valor (wertrational), a ação afetiva ou emocional e, por fim, a ação tradicional.
A ação racional com relação a um objetivo (zweckrational) é definida pelo fato de
que o ator (pessoa) concebe claramente seu objetivo e combina os meios dispensáveis
para atingi-lo. A ação racional com relação a um valor (wertrational) pode ser
ilustrado quanto ao ato de um capitão, que vendo a inevitabilidade do navio afundar
não o abandona. Esta ação é racional não porque tende a alcançar um objetivo
definido e exterior, mas decorre do comportamento que caso assim não procedesse
seria desonroso, o ato aceita todos os risos, sabe da proximidade da morte, mas
mantém-se fiel a noção de honra.
A ação afetiva ou emocional, é resultado do estado de consciência ou do humor
do ator, resulta, pois de uma reação emocional, de circunstâncias e não como um
objetivo ou de um sistema de valores. A ação tradicional é ditada pelos hábitos,
costumes, crenças, pois agir segundo a tradição não precisa uma racionalização
quanto ao fim nem por uma emoção, não existe uma racionalização quanto ao
objetivo.
Um exemplo quanto à investigação de Weber é quanto à investigação científica.
Nela há uma relação a um objetivo – a verdade científica, todavia nela está contido
um juízo de valor (um julgamento sobre o valor da verdade) este valor baseia-se em
fatos ou argumentos válidos e reconhecidos universalmente.
Em sua sociologia, Weber (1999, p.447-491) procura compreender as regras que
levam o homem de ação a obedece, o que move as leis da vida política,com que
sentido o homem pode dar a sua existência neste mundo.Quanto a análise científica,
ele entende que a conduta racional, se orienta pelo valor da verdade universalmente
válida.
Para Weber (2003, p.111-113), o capitalismo, só se realizou plenamente nas
sociedades ocidentais modernas. Os tipos ideais dos elementos característicos da
sociedade se situam em diferentes níveis de abstração. Num nível inferior, aparecem
conceitos tais como burocracia ou feudalismo. Em nível elevado de abstração,
figuram três tipos de dominação: racional, o tradicional e o carismático.
Obras: a) A ética protestante e o espírito do capitalismo e, b) Economia e
sociedade.
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5. CONCEITOS UTILIZADOS PELA SOCIOLOGIA

PESSOA: Criatura de Deus, constituída de corpo e alma, dispondo de


faculdades que lhe são próprias (razão, vontade, amor), titular de direitos e sujeita a
deveres. Note-se direitos e deveres.

INDIVÍDUO: Pessoa livre, autônoma, consciente do seu "status" e do seu


"papel", integra-se naturalmente no corpo social, onde busca realizar-se, cônscia dos
seus direitos e também de seus deveres.

POVO: Conjunto de pessoas conscientizadas de seus direitos e


responsabilidades, integradas em seus grupos sociais.

POPULAÇÃO: O conjunto de habitantes de um território, de um país, de uma


região, de uma cidade, etc.

GRUPO SOCIAL: É o conjunto de pessoas, unidas por idéias, sentimentos e


fins em comum.

SOCIEDADE: Corpo orgânico estruturado em todos os níveis da vida social,


com base na reunião de indivíduos que vivem sob determinado sistema econômico
de produção, distribuição e consumo, sob um dado regime político, e obedientes a
normas, leis e instituições necessárias à reprodução da sociedade como um todo;
coletividade.

COMUNIDADE: Agrupamento que se caracteriza por forte coesão baseada no


consenso espontâneo dos indivíduos.

ACOMODAÇÃO: Forma de convivência social cessadora de conflitos sociais,


capaz de reajustar indivíduos e grupos sociais.

ACULTURAÇÃO: Processo de modificação das culturas de grupos sociais


provocado pelo contato, direto e indireto, prolongado entre culturas diferentes, pela
assimilação da cultura destes últimos.

ACUMULAÇÃO: Processo de desenvolvimento das culturas por acumulação


de experiências do passado e do presente.

ADAPTAÇÃO: Processo pelo qual os indivíduos ou grupos se acomodam ao


meio físico em que se encontram ou ao novo espaço social em que se acham.
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ASSIMILAÇÃO: Absorção por parte de grupos e de indivíduos, de elementos


culturais da sociedade na qual aderiram, com perda parcial dos de origem. Assim,
nesse processo, há substituição de elementos culturais ou enriquecimento dos de
origem, isto é, substituição dos originários pelos da sociedade da qual se integram.

ASSOCIAÇÃO: Processo social de identificação de interesses de indivíduos ou


grupos, que podem ou não ter sido anteriormente antagônicos. Pessoa coletiva. Em
Direito, pessoa jurídica, ou, melhor, sociedade, resultante da união de vontades e
esforços de várias pessoas para atingir uma finalidade comum, não-lucrativa.

6. AGRUPAMENTOS SOCIAIS.

6.1. GRUPO SOCIAL E NATUREZA HUMANA

A vida humana é uma vida coletiva. Sejam selvagens ou civilizados, caçadores,


pescadores, fazendeiros ou habitantes do deserto ou das coxilhas, os homens vivem
juntos com outros homens. Compreender os grupos em que vivem é, portanto de
crucial importância para a compreensão do seu comportamento. (CHINOY, 1971).
O conceito de grupo social é um dos conceitos fundamentais em sociologia. Nas
sociedades há dois tipos de forças: umas que aproximam os indivíduos uns dos
outros (são as forças de integração) e outras que joguem os indivíduos uns contra os
outros (são as forças de repulsão). Á mercê destes dois tipos de forças os indivíduos
se agrupam ou ficam separados.
Em todo grupo há sempre um “cimento” que estabelece uma ligação dos
indivíduos dele participantes. Uma família, um clube social, uma associação de
amigos ou de parentescos, um sindicato, uma nação, tudo isto, pode ser identificado
como grupo social. Os apreciadores da música de determinado cantor (fã-clube)
formam um clube. Os leitores de um escritor em moda podem constituir-se num
grupo que durará tanto quanto o interesse pelos livros do romancista persistir. Em
todos estes exemplos, vamos encontrar forças de integração que ligam os indivíduos
num grupo.

6.2. TIPOS DE AGRUPAMENTOS

Se passarmos por uma grande avenida de uma metrópole moderna, veremos


uma imensa quantidade de pessoas indo e vindo.
Não formam nenhum agrupamento em si. Apresentam-se como uma massa. A
massa se caracteriza por ser um aglomerado de pessoas sem nenhuma interação ou
com o mínimo de interação.
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6.3. MULTIDÃO

Pode ser definida como agregado compacto de pessoas em contato direto e


temporário e não organizado, reagindo todos de um mesmo modo, a um estímulo.
Seu tipo de ligação é “aberto”. Para que haja multidão é necessário que concorram
três fatores: certo número de pessoas, que não pode ser determinado, mas que
indiscutivelmente influi; interestímulo e resposta a certo nível de excitação e
emotividade.
Há uma profunda diferença, por exemplo, entre uma multidão e um público
que também é do tipo “aberto“. Na multidão é importante o efeito da presença dos
outros sobre cada um. No público a atenção se concentra num fato exterior e os
indivíduos não têm consciência senão remota da presença dos outros. Os sociólogos
classificam quatro tipos de multidão: as multidões casuais em que o comportamento
coletivo tem organização frouxa e momentânea; por exemplo, um grupo de pessoas
diante de uma vitrine; as multidões convencionais em que o comportamento coletivo
se exprime de modo habitual de acordo com regras preestabelecidas, mas tem
duração limitada.
Temos como exemplo: os espectadores de um jogo de futebol; as multidões
agressivas ou mobs, onde o objetivo da interação é a agressão, agindo subitamente
em direção a algum objetivo. A psicologia social estuda muito esse tipo de multidão
para aplicações práticas. Um orador que se apresenta diante de um mob dificilmente
terá êxito para dispersar seus componentes. O problema é dispersar o centro de
interesse, como única maneira de fazê-la perder a força. Exemplo: multidão
linchadora ou criminosa.
Além dessa, temos as multidões ‘expressivas’. Os jovens norte-americanos se
reúnem em certos lugares com roupas exóticas. Gritam slogans, pulam, se congraçam
etc., são os ‘bein’. Formam assim uma multidão expressiva que tem por finalidade
descarregar tensões. As bancantes gregas e as multidões dançantes medievais faziam
parte deste tipo de multidão. Em todas as multidões ocorrem dois fatores principais:
desaparecimento da personalidade individual ou da consciência individual;
orientação de emoções, idéias e atos num mesmo sentido.

6.4. PÚBLICO

É uma forma de agrupamento. O público é uma interação de muitas pessoas


que não está baseada na interação pessoal, mas apenas unida pela reação comum aos
mesmos estímulos. Então integrados pelo fato de serem afetados por estímulos
idênticos. Há certo tipo de indivíduos que vibram com determinadas telenovelas,
que lêem e absorvem certos editoriais de jornal, que ouvem música de certos cantores
(o fã-clube) etc. Esses não formam uma multidão, formam um público. Vivem
dispersos, mas convergem e integram num ponto, e isto é, o essencial para haver um
público.
Observa-se que a diferença entre multidão e público se refere que na multidão,
os indivíduos estão uns agindo sobre os outros, em contato direto. No público não há
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esse tipo de contrato. Enquanto a multidão tem por função primordial a ação
conjugada, o público está preso pela discussão, ou pelo interesse em algo, intelectual
ou emocional. A multidão se baseia em formas elementares de comportamento que
exprimem emoção e ação.
O público se baseia em emoção controlada bem como em reflexão e critica. A
multidão não tem história, costume nem tradições. O público tem mais duração. A
multidão é limitada em número, o público pode incluir um sem – número de
pessoas, até um país inteiro, ou o mundo todo. A área da multidão é delimitada pelo
alcance das notícias. Á constituição do público depende do grau de desenvolvimento
dos meios de comunicação e da liberdade de discussão.

7. INSTITUIÇÕES SOCIAIS

Segundo Ogburn e Nimkoff, (apud LAKATOS,1999, p. 168) as instituições


sociais são um dos diversos tipos de organização social. Como todas as organizações,
constituem sistemas sociais. Outro tipo de organização são as associações.
As associações são organizações sociais cuja característica é ser mais
especializada e menos universal do que as instituições; em conseqüência,
apresentam, em geral, determinada adaptação às classes sociais. Clubes, e outras
associações especificas, limitam, geralmente, a participação de seus membros de
acordo com sua posição social. Por exemplo: clubes recreativos, sociedades secretas,
sociedades beneficentes e filantrópicas, irmandades.
Outras organizações baseiam-se em igualdade de profissão ou interesse
específico como: sindicatos, associações comerciais, associações de proprietários de
imóveis, sociedades científicas, artísticas e literárias, clubes de jardinagem, clube
filatélico.
A limitação também pode ser causada por sexo e idade como as sociedades
masculinas, organizações femininas, grupos juvenis. Algumas associações não têm
limitação de classe social, mas não deixam de fazer certas restrições, por sua própria
natureza, como no caso das organizações de veteranos de guerra.
Enquanto que para Fichter, (apud LAKATOS, 1999,168), o conceito de
instituição é “‘uma estrutura relativamente permanente de padrões, papéis e relações
que os indivíduos realizam segundo determinadas formas sancionadas e unificadas,
com o objetivo de satisfazer necessidades sociais básicas”. Estas instituições têm
como características:

►Finalidade – Satisfação das necessidades sociedade.


►Conteúdo Relativamente Permanente – Padrões, papéis e relações entre
indivíduos da mesma cultura.
►Serem Estruturadas – Há coesão entre os componentes, em virtude de
combinações estruturais de padrões de comportamento.
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►Estrutura Unificada – Cada instituição, apesar de não poder ser


completamente separada das demais, funciona como uma unidade.
►Possuem Valores – Código de conduta.
►Função – Todas devem ter esta característica.
►Estrutura – Função é a meta ou o propósito do grupo, cujo objetivo seria
regular suas necessidades. A estrutura é composta de pessoal (elementos
humanos); equipamentos (aparelhamento material ou imaterial); organização
(disposição do pessoal e do equipamento, observando-se uma hierarquia –
autoridade e subordinação); comportamento (normas que regulam a conduta e
as atitudes dos indivíduos).

Exemplo: empresa industrial. Possui função, produção de bens; e estrutura, que


se subdividem em pessoal – direção, funcionários e operários, equipamento – imóvel,
máquinas e equipamentos (materiais) organização – democrática, ou autocrática
centralizada ou descentralizada, comportamento – normas para a constituição e
funcionamento, direitos e deveres regulados por leis vigentes e estatutos.
As instituições podem ser espontâneas (família) e criadas (Igrejas). Além disso,
apresenta-se como regulativas (Estado) e operativas (Departamento Estadual de
Trânsito).

QUADRO 1 – ESTRUTURA DAS PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES SOCIAIS

Fatores da Família Igreja Estado Empresa


estrutura
Afeto Reverência Subordinação Trabalho
Amor Lealdade Cooperação Economia
Modelos de Lealdade Temor Temor Cooperação
Atitudes e Respeito Devoção Obediência Lealdade
Comportamentos

Aliança Cruz Bandeira Marca


Brasão Imagens Selo Comercial
Traços Culturais Escudo de armas Relicários Emblema Patente
Simbólicos Bens móveis herdados Altar Hino Emblema
(Símbolos)

Lar Igreja Edifícios Loja


Habitação Catedral Públicos Armazém
Traços culturais Propriedades Templo Obras Públicas Fabrica
Utilitários (Bens Oficina
Imóveis)

Certidão de casamento Credo Constituição Contratos


Testamento Genealogia Doutrina Tratados Licença
Códigos Orais ou Bíblia Leis Franquia
Escritos Hinos Estatutos Estatutos
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Fonte: F.S. Chapin (apud OGBURN E NIMKOFF, 1971: 480)

7.1 INSTITUIÇÃO FAMILIAR

Partiremos do conceito de instituição que se refere exclusivamente a modelos


de comportamento aprovados ou sancionados no aspecto organizacional de um
grupo de pessoas. No caso específico da família que traz de forma imutável o
fenômeno biológico de conservação para em seguida a relevância do fenômeno
social, sofreu considerável modificação nas suas bases desde os aspectos conjugais,
de crenças religiosas e morais.
A família tem diferentes funções que se conjugam como a sexual, reprodutiva,
econômica e educacional. De forma resumida, a família institucionalizou a coabitação
a fim de dar vazão aos impulsos sexuais com o estabelecimento de um pai legal para
a prole e uma espécie de “monopólio sexual entre os parceiros”.
Outro aspecto se refere na enculturação das crianças a partir da noção de staus
em estas passam se preparar para ser herdeira legal de sues pais. Podemos também
verificar que a parti da organização familiar existe a divisão dos trabalhos entre os
membros a partir do casal em que se define certo direito, o acesso aos bens e herança
da propriedade.
Pode-se verificar que as sociedades apresentam diferentes maneiras em que
organizam seus grupos familiares, os quais variam com o tempo e no espaço. Temos
a família elementar ou natal-conjugal cuja união inicia com um par casado e
termina com a dispersão dos filhos, para tanto existe um reconhecimento pelos
outros membros de sua sociedade. A família extensa é uma unidade composta de
duas ou mais famílias nucleares, ligadas por laços consangüíneos, que abrangem aos
avós, tios, sobrinhos, afilhados.
Outra forma de organização é a família composta, que se refere a um núcleo de
famílias separadas, porém, estão ligadas pela sua relação com um pai comum. Estes
tipos são encontrados em sociedades poligâmicas, onde duas ou três famílias
conjugadas têm como centro um homem ou uma mulher. Por exemplo, em Bagandas
na África. E as sociedades monogâmicas em que é permitido um casamento como entre
os índios pueblos orientais do sudoeste do Novo México.
Temos ainda a família conjugada-fraterna, que se refere a uma unidade
composta de dois ou mais irmãos, suas respectivas esposas e filhos. Enquanto que a
família fantasma consiste em uma unidade familiar formada por uma mulher casada e
seus filhos e o fantasma, pois ele não desempenha o papel de pai, mas apenas de
genitor (pai biológico) cabendo ao irmão mais velho da mulher o fantasma o
exercício do pai social.
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7.2 .INSTITUIÇÃO RELIGIOSA

Alguns autores verificam que as instituições religiosas surgem como o desejo


do homem em atender as suas inquietações espirituais. Sabemos que na sociedade
existem níveis de organizar a vida no ambiente como o natural, o social e o
sobrenatural.
CHINOY (1971,p.492), personagem citando Durkheim a partir de As formas
elementares da vida religiosa em que diz que a religião é “sistema unificado de crenças e
práticas relativas a coisas sagradas, isto é, a coisas colocadas à parte e proibidas –
crenças e práticas que unem numa comunidade moral única todos os que as
adotam.”
Percebemos a partir deste conceito que a partir das praticas e crenças sagradas
que os homens se organizaram a fim de arrostar o próprio destino e o destino de
outros fundados na fé e, posteriormente a partir do racionalismo buscam explicar
justificativas para fenômenos da vida social como a morte.
É partir das teorias do medo: temer das forças naturais que levou o homem a
crer em divindades, forças misteriosas e sobrenaturais para justificar certos
acontecimentos do mundo físico e dado a fragilidade e efemeridade deste mundo na
visão de Durkheim (Chinoy (1971,p.492) se dá a solidariedade social e a crença
coletiva.
Neste sentido a religião e a magia fundamentam-se ma crença no sobrenatural e
são fundamentalmente questões de ideologia e de diferentes formas de sensações que
os homens trazem e partilham.

8. ESTRATIFICACÃO SOCIAL

Esta é uma das manifestações sociais de grande interesse da sociologia, pois se


verifica como um dos princípios básicos da organização social. Ela traz a noção de
distribuição hierárquica, de diferenciação social dentro de diferentes sistemas.
Um sistema de castas compõe-se de um número muito grande de grupos
hereditários, geralmente locais, rigidamente endogâmicos, dispostos numa
hierarquia de inferioridade e superioridade; correspondem geralmente a
profissionais, são impermeáveis a movimentos de mobilidade social, são
reconhecidos por lei e possuem quase sempre um fundo religioso.
Características: participação hereditária na casta; participação atribuída por
toda vida; casamento endogâmico; contato limitado com outras castas; identificação
do indivíduo com a casta; profissão ou ocupação que caracterizam a casta; cada casta
possui um grau de prestígio próprio.
Os indivíduos e grupos de uma sociedade diferenciam-se entre si em
decorrência de vários fatores, formando uma hierarquia de posições, estratos ou
camadas mais ou menos duradouros. Este fato real, observado em todas as
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sociedades, significa que nelas os indivíduos e grupos não possuem a mesma posição
e os mesmos privilégios, mas, sob esses aspectos, diferem entre si. Portanto,
inexistem sociedades igualitárias puras. A esta diferenciação de indivíduos e grupos
em camadas hierarquicamente sobrepostas é que denominamos de estratificação.
Karl Marx (1975) um dos primeiros autores a tratar do problema de
estratificação, considerava o fator econômico como determinante da estratificação.
Fazia uma estreita correlação com o conceito de classe social.
Já Max Weber (apud LAKATOS, 1999,p. 269-270) fez uma distinção entre as três
dimensões da sociedade: a ordem econômica, representada pela classe, a ordem
social, pelo status ou “estado”, e a ordem política, pelo partido. Possuindo cada uma
delas estratificação própria: o interesse econômico é fator que cria uma classe,
podendo-se até considerar que as classes estão estratificadas segundo suas relações
com a produção e a aquisição de bens e serviços que o indivíduo possui ou de que
dispõe.
Os grupos de status estratificam-se em função do princípio de consumo de
bens, representados por estilos de vida específicos; a estratificação social é, portanto,
evidenciada pelo prestígio e honra desfrutados. A dimensão política manifesta-se
através do poder; a estratificação política é, assim, observada através da distribuição
do poder entre grupos e partidos políticos, entre indivíduos no interior dos grupos e
partidos, assim como entre os indivíduos na esfera da ação política.
Outro sociólogo que abordou a questão foi Sorokin (1969), para ele as formas
concretas de estratificação apresentam-se interdependentes e, por este motivo,
podem ser reduzidas a três tipos fundamentais:

→ ESTRATIFICAÇÃO ECONÔMICA – a desigualdade da situação


econômica ou financeira dos indivíduos dá origem a uma divisão em ricos e pobres,
significando a existência da estratificação econômica. Onde há desigualdade
econômica, esta estratificação real, concreta, se manifesta no nível de vida, na posse
de bens, pode surgir, portanto, nos diferentes tipos de sociedade, capitalista ou
socialista, independente do tipo de organização política e forma de governo.

→ ESTRATIFICAÇÃO POLÍTICA – da mesma forma que há a


desigualdade econômica entre os indivíduos, há a diversidade política em uma
mesma sociedade, decorrente da distribuição não uniforme de poder, de autoridade
(dirigentes e dirigidos), de prestígio, de honras e de títulos. Essa estratificação ocorre
independentemente da constituição particular da sociedade ou da inexistência dela.

→ ESTRATIFICAÇÃO PROFISSIONAL – se as diferentes ocupações dos


indivíduos na sociedade se apresentam hierarquizadas no que diz respeito à
valorização social, ao grau de prestígio, significa que a sociedade possui
estratificação profissional. Esta diferenciação em profissões mais ou menos
apreciadas independe do fato de seus titulares ocuparem tal posição por nomeação
ou eleição, por herança social ou por capacidade pessoal.
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O valor que se confere às diferentes ocupações varia no tempo e no


espaço: atualmente na maioria das sociedades ocidentais, determinadas profissões,
ganham mais prestígios em detrimento de outras, em conseqüência da
industrialização e das novas tecnologias que criam uma série de funções novas que
vão adquirindo importância.
9. CLASSE SOCIAL

Este conceito é de grande importância nos estudos sobre a dominação e poder.


Será a partir da noção de Castas e de Estado, que a posição será geralmente atribuída
por ambos aos atores sociais e que resulta em pressões que tendem a fomentar o
valor do mérito individual e sua recompensa à mobilidade.
Segundo Aron (2000,p.165-167), Marx define as classes de acordo com a sua
relação com os instrumentos de produção e a distribuição de riqueza.
Nesse sentido uma característica da sociedade ocidental a partir do século XVIII
é ter classe social multivinculado, unidos por dois liames, o ocupacional e o
econômico e por um vínculo da estratificação social no sentido da totalidade dos seus
direitos e deveres essenciais, em contraste com os direitos e deveres basicamente
diferentes das outras classes.
As classes sociais são conjuntos de agente sociais determinados principalmente,
mas não exclusivamente, por seu lugar no processo de produção, isto é na esfera
econômica.
Marx vem revolucionar com sua análise as ciências sociais a partir da noção de
Luta de Classes, em que reconhece no capitalismo duas classes a burguesia (os
donos dos meios de produção) e os proletários (trabalhadores), sendo um esforço de
uma classe para conseguir uma posição ou condição de maio bem-estar na
comunidade, com respeito aos direitos, privilégios e oportunidades de seus membros
(ARON,2000).

10 . MOBILIDADE SOCIAL

Toda passagem de um indivíduo ou de um grupo de uma posição para outra,


dentro de uma constelação de grupos e de estratos sociais.

11 . MUDANÇA SOCIAL

Para Lakatos (apud Rocher,1971IV 92 e 95), mudança social é toda


transformação, observável no tempo, que afeta, de maneira que não seja provisória
ou efêmera a estrutura ou o funcionamento da organização social de dada
coletividade e modifica o curso da história. É a mudança de estrutura resultante da
ação histórica de certos fatores ou de certos grupos no seio de dada coletividade.
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12. ELITES

Pessoas ou grupos que graças ao poder que detêm ou à influencia que exercem,
contribuem para a ação histórica de uma coletividade, seja pelas decisões tomadas,
seja pelas idéias, sentimentos ou emoções que exprimem ou simbolizam.

12.1. TIPOS DE ELITES

♦ ELITES TRADICIONAIS: possuem autoridade ou influencia decorrente


de idéias, crenças ou estruturas sociais, baseadas no passado e reforçadas
pela tradição. São tradicionais as elites aristocráticas, cuja nobreza tem
tanto mais prestígio, quanto mais antiga for a sua linhagem. Ex. o chefe de
uma tribo considerado descendente direto de um deus mitológico;

♦ ELITES TECNOCRÁTICAS: detém autoridade racional, legal ou


burocrática. Sua escolha, nomeação ou eleição baseia-se em competência,
determinada através de provas, concursos, experiência ou resultados
escolares. Ocupam sua posição de acordo com leis ou normas, conhecidas
e aceitas, possuem importância determinada segundo critérios
reconhecidos. Ex. altos funcionários do governo e de empresas;

♦ ELITES CARISMÁTICAS: para o sociólogo Max Weber, os lideres


carismáticos são portadores de dons específicos (do corpo ou do espírito)
considerados sobrenaturais, não acessíveis a todos, e cujo exercício
corresponde às necessidades do grupo. Encontramos muito mais
comumente o carisma ligado a uma pessoa do que ao grupo; entretanto, o
poder de um líder carismático pode, até certo ponto, se estendido à sua
equipe. Ex. religiosos famosos;

♦ ELITES DE PROPRIEDADES: sua autoridade ou poder decorre da


posse de capitais ou de bens, em virtude dos quais podem exercer
pressões sobre as elites tecnocráticas ou tradicionais. Ex. industriais,
banqueiros, grandes proprietários de terra;

♦ ELITES IDEOLÓGICAS: são formadas pelas pessoas que concebem


uma ideologia, que a difundem ou representam. Constituem a elite do
poder, se a ideologia que representam é a oficial; por outro lado, quando
se opõem à elite do poder, formam as elites de influencia, ou “contra-
elites”;

♦ ELITES SIMBÓLICAS: quase todas as elites possuem um caráter


simbólico à medida que representam uma causa, valores, idéias, modos de
viver, qualidades ou virtudes. Entretanto existem indivíduos ou grupos
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cuja função é, mais do que tudo, simbólica. Ex. artistas, mulheres de


políticos famosos.

Entre todos os tipos de elites, as ideológicas e as carismáticas são geralmente as mais


dinâmicas e inovadoras.

13. PROCESSOS SOCIAIS

São diversas maneiras pelas quais os indivíduos e os grupos atuam, uns sobre os
outros, estabelecendo relações sociais. Os Processos Sociais estão classificados em:
Associativos (cooperação, acomodação e assimilação) e Dissociativos (competição e
conflito).

13.1. ASSOCIATIVOS

 Cooperação: é a forma de interação na qual diferentes pessoas, grupos ou


comunidades trabalham juntos para um mesmo fim. Ex. um grupo de pessoas
que se organiza para fazer uma festa. Ela pode ser direta ou indireta.
 Direta – são atividades que as pessoas realizam juntas
 Indireta – É aquela em que ás pessoas mesmo realizando trabalhos diferentes,
necessitam indiretamente umas das outras, por não serem auto-suficientes.
 Acomodação: é o Processo social em que o indivíduo ou o grupo se ajustam a
uma situação de conflito sem que tenham sofrido transformações internas.
 Assimilação: É a solução definitiva e tranqüila do conflito social. O aspecto
importante da assimilação é que ela implica uma modificação sensível da
personalidade, isto é, atinge áreas profundas e extensas da personalidade,
envolvendo valores e atitudes fundamentais, onde ocorrem modificações na
maneira de pensar, sentir e agir.

13.2 .DISSSOCIATIVOS

Competição é uma força que leva os indivíduos a agirem uns contra os outros,
em busca de um melhor lugar na sociedade, enquanto que Conflito é um processo
social básico que provoca mudanças sociais.
Nota-se que a competição pode se transformar em um conflito, ou seja, a
competição toma forma de luta pela existência e o conflito toma formas de
rivalidade, discussão e até mesmo a guerra.
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14. COMPORTAMENTO SOCIAL

Os seres humanos por viverem em sociedade, são induzidos a uma certa


padronização da conduta, gerando comportamentos sociais.

▪ OS MODAIS – os mais comuns em um grupo.


▪ MULTIMODAIS – Quando há mais de um comportamento frequente, como
ocorre nas complexas sociedades atuais.
▪ COLETIVOS – São condutas massificadas, pouco diferenciadas entre os
indivíduos.

15. ISOLAMENTO SOCIAL

A distância social pode ser definida como o maior ou menor afastamento, ou


ainda aproximação dos indivíduos ou grupos no espaço social. O patrão e o emprego
de uma empresa podem estar próximos fisicamente, mas entre eles há grande
distância social, porque ocupam posições diferentes e estas determinam relações
sociais – no caso, de mando (patrão) e subordinação (empregado).
Sendo o homem um ser social, que só sobrevive em sociedade, o isolamento
absoluto de indivíduos ou mesmo grupos não ocorre comumente. Vamos estudar
aqui apenas os isolamentos não absolutos, e estes variam em graus. Por isso,
podemos nos referir ao maior ou menor isolamento social.
Vários fatores ocasionam a baixa comunicação entre grupos e indivíduos,
contribuindo, portanto, para certo isolamento social:

▪ FATORES GEOGRÁFICOS
Barreiras naturais (montanhas, florestas, oceano, distância e ausência de meios
de transportes etc.)
▪ FATORES BIOLÓGICOS
Sexo, idade, cor da pele (em sociedades onde existe preconceito, a exemplo da
nossa), incapacidades fisiológicas.
▪ FATORES HABITUDINAIS
Hábitos diversos, costumes, crenças, língua, educação diferentes.
▪ FATORES PSICOLÓGICOS
Interesses, sentimentos, atitudes e gostos diversos. Tomando por base esses
fatores, foi possível estudar quatro tipos fundamentais de isolamento social. Embora
se tratem de tipos exclusivos, um pode determinar os outros.
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15.1. ISOLAMENTO ESPACIAL

É o impedimento de comunicação ou baixa comunicação devido a fatores


geográficos. Estes fatores separam grupos de indivíduos de outros, impedindo
contatos e comunicação. Os grupos isolados muito tempo vão assumindo forma
própria, caracterizada pelas suas condições naturais e , ao mesmo tempo pela ação do
meio que os obriga a determinadas atividades.
O homem do campo, no Brasil, vive num semi-isolamento junto com sua
família, pois as fazendas são, em geral, afastadas umas das outras, com poucas
estradas, distantes dos centros urbanos e sem meios de comunicação. O isolamento
espacial também pode consistir numa privação de contatos que acontece quando
alguém é aprisionado ou expulso de sua comunidade. O isolamento espacial, quando
prolongado, leva aos isolamentos estruturais e habitudinais (costumes culturas
diversas). O isolamento espacial determina, pois, diversidades entre indivíduos e
grupos.

15.2 . ISOLAMENTO ESTRUTURAL

É o impedimento de comunicação ou a baixa comunicação devido a diferença


na estrutura biológica, proporcionando às pessoas experiências diferentes. Entre os
indivíduos de idade e sexo diferentes existe certo isolamento estrutural. O homem e a
mulher, por exemplo, não participam das mesmas experiências, pois nem todas elas
são comuns a ambos os sexos.
O mesmo acontecendo com os grupos de idades diversas: crianças, jovens,
adultos e velhos.Onde, porém, mais se observa o isolamento estrutural é nos casos de
algumas incapacidades biológicas. Os deficientes físicos e mentais (cegos, os surdos,
os mudos) não podem compartilhar das experiências dos indivíduos comuns. O
mundo mental dos pigmeus é diverso do dos homens de maior estatura.
As diferenças de cor da pele, quando significam status social, são meios de
isolamento: há povos que se isolam por preconceito.

15.3. ISOLAMENTO HABITUDINAL

As diferenças de costumes, línguas, credo, religião, levam os indivíduos ao


impedimento ou à baixa comunicação, determinando o isolamento habitudinal.
Pessoas que não falam a mesma língua ficam impossibilitadas de se comunicarem, a
não ser por gestos ou por intérpretes, por isso as pessoas se isolam.
Também é difícil para as pessoas criadas na cultura ocidental considerar o
mundo do mesmo ponto de vista dos povos que praticam costumeiramente o
infanticídio, eliminam os membros mais velhos das tribos, comem minhocas,
gafanhotos ou praticam o canibalismo.
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O isolamento habitudinal existe entre o primitivo e o “civilizado”, entre


ocidental e o oriental, entre o cristão e o budista etc.

15.4. ISOLAMENTO PSÍQUICO

É o sutil impedimento de comunicação devido à participação nas experiências


de grupos diversos dentro da mesma cultura. É um isolamento produzido pelas
diferenças de atitudes, sentimentos, pontos de vista, interesses dos indivíduos
pertencentes a uma mesma cultura. É o isolamento que ocorre entre pessoas de
classes e grupos sociais diversos.

15.5 . MECANISMOS QUE REFORÇAM O ISOLAMENTO SOCIAL

Atitudes sociais e particulares, bem como arranjos grupais, funcionam como


mecanismos que reforçam o isolamento social:
Entre as atitudes sociais e particulares podemos citar o egoísmo, o
etnocentrismo, preconceitos, timidez, pedantismo, retraimento, aversão suspeita.
Podem produzir isolamentos parciais semelhantes ao ocasionado pelos defeitos
orgânicos.
Entre os arranjos grupais enumeram-se os sistemas de castas, classes,
sociedades secretas, partidos, seitas e as organizações profissionais.
As conseqüências do isolamento social é que os indivíduos ou grupos, uma vez
isolados da convivência dos demais por muito tempo, tendem a individualizar-se.

16 . INTEGRAÇÃO SOCIAL

Interação social é a ação social mutuamente orientada de dois ou mais


indivíduos em contato. Distingue-se da mera interestimulação em virtude de
envolver significados e expectativas em relação às ações de outras pessoas. Podemos
dizer que a interação é a reciprocidade de ações sociais.
Existe um sistema criado por Robert Bales, que pode ser registrada e medir a
interação de um grupo. Inicialmente determina-se qual dos indivíduos envolvidos dá
origem á ação e, depois ela é dirigida. Esse autor apresenta ainda uma classificação
das ações em doze categorias:
a) Socialização – valoriza o status dos outros, ajuda, recompensa.
b) Relaxamento da tensão – brinca, ri, demonstra satisfação.
c) Aceitação – demonstra aceitação passiva, entende, coopera, obedece.
d) Dá sugestões – dirige, dá autonomia a outros.
e) Dá opiniões – avalia, analisa, expressa sentimentos, deseja.
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f) Dá orientação – informação, repetição, confirmação.


g) Pede orientação – informação, repetição, confirmação.
h) Pede opiniões – avaliações, análise, expressão de sentimentos.
i) Pede sugestões – orientação, possíveis modos de ação.
j) Rejeição – demonstra resistência passiva, cerimônia, recusa ajuda.
l) Atenção – pede ajuda, retrai-se.
m) Antagonismo – diminui o status dos outros, defende-se ou afirma-se a
si próprio.

Esta classificação permite verificar o significado das ações que vivem à solução
de um problema enfrentado pelo grupo ou que se realizam para aumentar a
solidariedade do mesmo. Deste ponto de vista, as três primeiras ações de apoio,
positivas e, em conseqüência, integradoras, ao passo, que as três ultimas são ações
negativas.
A interação pode ser simbólica, quando ocorre intencionalmente entre pessoas,
através de estímulos significativos, isto é, símbolos. Exemplos: acenos de mão,
sorrisos, trocas de palavras, e não simbólica que se dá sem o uso de estímulos
significativos, não sendo intencional. Por exemplo: a presença de outra pessoa altera
o nosso comportamento, modificando a postura e atitudes.

17. CONTROLE SOCIAL

A regulação do comportamento na sociedade, quer por indivíduos ou por


grupos, é empreendida de duas formas: pelo uso da força e pelo estabelecimento de
valores e normas que podem ser aceitos mais ou menos integralmente pelos
membros da sociedade como “normas de conduta” obrigatórias.
A expressão “controle social” é geralmente usada pelos sociólogos para
denominar esse segundo tipo de controle, onde o recurso a valores e normas resolve
ou minoria as tensões e conflitos entre os indivíduos e grupos, a fim de manter a
solidariedade de algum grupo mais inclusivo. A expressão é também utilizada para
se referir às disposições pelas quais os valores e normas são comunicados e
instilados. Podemos, portanto, distinguir entre os tipos de controle social
(LAKATOS, 1999,p.227-241).
Os principais tipos controle são o costume e a opinião, a lei, a religião, a moral
e a educação (conhecimento, ciência). O sistema educacional também figura como
agencia de controle social, juntamente com o sistema político, igrejas e outros órgãos
religiosos, a família (onde a socialização inicial tem lugar), e muitas outras
organizações especializadas. Todo grupo social, na realidade, pode ser estudado do
ponto de vista do controle social que exerce sobre seus membros, e a contribuição
que se faz à regularização do comportamento na sociedade em geral (CHINOY,
1967).
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O controle social, nesse sentido, deve ser contrastado com a regulamentação


pela força. Essas duas formas, não são, de certo, totalmente separáveis na vida social
prática. A sanção final da lei é a coação física, e a força física pode entrar de forma
mais ou menos destacada em todos os tipos controle social; a opinião publica pode
transformar-se em violência da multidão, o sentimento religioso pode transformar-se
na perseguição religiosa e na queima de hereges.
Por outro lado, a coação física em si é mais efetiva a quando pode ser justificada
em termos de valores aceitos por todos e, mesmo no caso mais extremo, do governo
pela força (por exemplo, numa ditadura militar), o grupo dominante deve estar
unido por outro meio qualquer. Mas a distinção é valiosa e importante.
Na filosofia política, há muito foi representada pela oposição entre os
pensadores que o consideram como baseado no consentimento. A análise social está,
aqui, ligada às concepções do que deveria ser a base da obrigação política.
As pesquisas sociológicas lançaram nova luz sobre os processos reais pelos
quais a ordem é mantida, e talvez por terem sido feitas sobre sociedades primitivas,
de um lado, ou sobre sociedades democráticas modernas, do outro, houve uma forte
ênfase sobre os aspectos normativos do controle social. Em algumas teorias
sociológicas modernas, o elemento de coação física nas relações sociais é quase
totalmente desprezado.
Não obstante, é contrário, até a nossa experiência das sociedades
contemporâneas, subestimar o papel da força; no mundo moderno, há Estados
policiais e regimes coloniais (sob várias formas), bem como democracias. E na
história das sociedades humanas, a significação da violência, da conquista e da
opressão é demasiado evidente.
As teorias sociológicas que acentuam a regulação do comportamento por
valores e normas, também tendem a se preocupar com essa regulamentação ao nível
de uma sociedade mais ampla, e a pintar o controle social como um sistema
relativamente harmonioso, unificado e estável, ao passo em que tratam os conflitos
entre valores como fenômenos secundários, sob a denominação de “desvios.
Essa moldura só é aplicável à sociedade muito pequenas e simples. Sabe-se que
todo grupo social regula o comportamento de seus membros, e em sociedades
complexas os diferentes grupos sociais podem estar em conflito entre si, buscando
cada qual ampliar seus próprios valores e normas sobre a totalidade da sociedade. Os
exemplos dessas situações encontram-se nos conflitos entre classes sociais, entre
diferentes grupos religiosos e entre grupos étnicos ou nacionalidades.

Os conflitos violentos entre grupos sociais tem tido grande influência sobre a
forma das sociedades humanas, estendendo-as, destruindo-as, ou modificando-
lhes modos de vidas particulares.

Temos como principais exemplos de conflitos: Conflito violento entre


sociedades inteiras (guerras); conflito violento dentro de uma sociedade
(revolução, contra-revolução, guerra civil).
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17.1. A IMPORTÂNCIA DOS CONTROLES INFORMAIS

Muito se discute hoje sobre o que pode ser feito em face da onda de
criminalidade que vem assolando o Brasil. O crime é um fenômeno complexo e
plurifatorial. A Criminologia moderna estendeu o foco inicial do estudo do
fenômeno criminal (centrado inicialmente no crime e no delinqüente) e hoje trabalha
com quatro pilares básicos: crime, delinqüente, vítima e o controle social.
Chegou-se a conclusão que para conhecer melhor o fenômeno criminal seria
necessário, além de estudar o crime e a figura do delinqüente, trazer para as
investigações científicas a pessoa da vítima e os mecanismos que a sociedade utiliza
para controlar a criminalidade.
Para García-Pablos de Molina o controle social é entendido como o conjunto de
instituições, estratégias e sanções sociais, que pretendem promover e garantir
referido submetimento do indivíduo aos modelos e normas comunitários (RT, 2002,
p.133). Segundo a Criminologia, o controle dos crimes ocorre também pela integração
da atuação social de dois tipos de controles: o informal e o formal.
O controle informal é o do dia-a-dia das pessoas dentro de suas famílias,
escola, profissão, opinião pública etc. A imensa maioria da população não delinqüe,
pois sucumbe ás barreiras desse primeiro controle. O sistema informal vai
socializando a pessoa desde a sua infância (ex: âmbito familiar), e ele é, em geral,
sutil e não possui uma pena, além de ser mais ágil na resolução dos conflitos que os
mecanismos públicos.
O desprezo social (ex: a punição informal com o afastamento das amizades ou
de alguns membros da própria família) são sanções que para a grande maioria são
mais que suficientes para inibir a prática de um crime.
Como segundo obstáculo para a prática do delito temos os controles formais;
são assim designados em virtude de serem elaborados com a “intenção expressa de
produzir a conformidade social”; exercidos pelos diversos órgãos públicos que
atuam na esfera criminal, como as polícias, Ministério Público, sistema
penitenciário etc.
Aquelas pessoas que não respeitam as regras sociais e cometem uma infração
criminal passam a serem controladas pôr essas instâncias, bem mais agressivas e
repressoras que as instâncias informais. Notem que atualmente com o advento da
tecnologia, os recursos de informática, inteligência artificial e recursos de
identificação digital começam a realizar esse controle social por parte do Estado que
trabalha para prevenir o aumento da criminalidade.
O aumento da repressão do sistema formal não significa que automaticamente
irá ocorrer a redução dos índices de criminalidade. O sistema só funciona
corretamente com uma melhor distribuição de funções entre os mecanismos
informais e formais no controle da criminalidade, portanto, os controles informais a
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partir da própria conscientização, da educação pessoal (que reflete os valores da


ética, família, religião etc), já atua como enorme auxílio e limitador de condutas
ilegais, e quando estes falham o mecanismo formal é obrigado a atuar, através dos
órgãos de controle.
O que existe hoje é um excesso de atribuições para demover as pessoas à não
cometerem delitos sobrecarregando o sistema de controle formal. Isso fica patente
quando se aprova uma lei penal desproporcionalmente severa e o resultado prático é
nulo, continuando a espécie de delito tratado pela nova lei penal a ser praticado na
mesma velocidade pelos infratores, inclusive, pela demora em que as normas são
criadas e seus tramites burocráticos.
Daí a importância de se fortalecer os chamados porquanto o sistema de controle
formal acaba sobrecarregado de uma missão que, em tese, deveria ser mais bem
compartilhada com o sistema informal, porém, que deve ser exercido com
parcimônia, dentro das regras democráticas consolidadas do atual estado de direito,
cujo agente deve conhecer e aplicar.
A família é uma peça fundamental nesse intricado problema e auxiliar a
enfrentar a complexidade da convivência social, em especial diante de jovens que
estão em contato com as drogas e o alcoolismo, fato que possibilita o aparecimento
de oportunidades para a prática de delitos ou ainda, que facilitam sua cooptação pelo
trafico de drogas, normalmente consubstanciado em organizações criminosas
poderosas e com poder financeiro para tal intento, vitimando facilmente jovens de
todas as classes sociais.
Nesse contexto, a aplicação efetiva das normas de proteção de crianças e
adolescentes da Lei Federal 8069/90, com o acompanhamento de psicólogos,
assistentes sociais, e outros profissionais, impediria que muitos adolescentes
optassem posteriormente pelo caminho do crime, contudo, na prática a efetividade
dessa norma ainda deixa a desejar.
Portanto, deve haver um esforço de todos para que haja a integração dos
controles sociais, informal (prévio) e formal (posterior-estatal), com uma equilibrada
divisão dessas missões, para que resulte na redução dos índices de criminalidade de
forma mais eficiente.

17. 2. CONTROLE DE POLÍCIA NO BRASIL

Todas as agências públicas precisam de controle social para garantir o


cumprimento de suas funções de forma satisfatória. No caso da polícia, depositária
do monopólio estatal da violência legítima, esta necessidade é ainda mais
peremptória, pois um desvio de conduta pode ter conseqüências dramáticas.
Podemos entender o controle da polícia de duas formas: controle sobre a
instituição policial e controle sobre a conduta dos seus agentes individuais. Ambos os
tipos são interdependentes e complementares.
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Uma força policial não submetida ao controle da sociedade pode perseguir


objetivos próprios, nem sempre coincidentes com os dos cidadãos. Nesse sentido, há
uma polaridade estratégica entre autonomia e controle político, na qual é preciso
atingir um ponto de equilíbrio. Entretanto, toda instituição policial aspira
legitimamente a se ver livre da interferência política, de forma que ela possa servir
aos interesses da sociedade e não aos do governo, nessa concepção, o controle interno
existe justamente para isso.
Em dada medida o controle interno realizado pela própria polícia possibilita
analisar os fatos do cotidiano envolvendo seus agentes, a partir do olhar da realidade
da sua função, conhecendo pormenorizadamente suas peculiaridades e suas nuances,
inclusive, especificidades legislativas. Note que um controle externo realizado por
outro órgão ou instituição não pode precisar, por exemplo, as características do
trabalho policial.
No entanto, um cenário de autonomia policial ampla demais não existe, todos
os governos controlam suas polícias, assim, a polícia deve estar inequivocamente
submetida ao controle do executivo, mas, ao mesmo tempo, deve ter a capacidade de
resistir a pressões para agir em função dos interesses do governante pois tem um
fundamento voltado ao interesse público, esse paradoxo só pode ser resolvido com a
participação ativa da sociedade, de forma que ela possa controlar simultaneamente o
governo e a polícia.
No Brasil, a noção de controle da atividade policial costuma ser entendida como
a capacidade de coibir abusos cometidos pela polícia, seja através da prevenção ou
da repressão desses desvios. No entanto, a idéia de controle não deve ser limitada à
punição de irregularidades, mas deve incluir, entre outros elementos, o
conhecimento, por parte do público, do funcionamento das polícias e a capacidade
de propor medidas e de influenciar as decisões tomadas pelas corporações policiais,
em parceria que a perspectiva comunitária.
O controle depende em boa medida da transparência institucional, pois não é
possível que a sociedade controle uma organização que desconhece. Assim, a
transparência é condição necessária para o controle. O controle é dividido entre
interno, desenvolvido pela própria corporação policial, e externo, quando exercido
por qualquer outro agente. A modalidade do controle pode ser formal ou informal,
sendo importante conhecê-los.

a) CONTROLE INTERNO

O controle interno formal dos agentes é exercido, em primeiro lugar, pela


própria LINHA DE COMANDO, com as limitações decorrentes da
discricionariedade anteriormente mencionada e da dispersão espacial com que a
polícia realiza o seu trabalho. Na verdade, não é fácil para o comando ter uma noção
exata do que acontece no trabalho policial nas ruas, a pesar dos mecanismos
rotineiros de prestação de contas (relatórios, supervisão direta pelos superiores, etc.),
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 33

a medida do limite precisa ser de cada agente policial sob uma consciência de
correção própria, em primeiro momento.
Em segundo lugar, instituições policiais de certos tamanhos, possuem órgãos
específicos para fiscalizar a atividade policial e para coibir os desvios de conduta. No
Brasil, esses órgãos recebem o nome de CORREGEDORIAS.
Elas possuem simultaneamente competências para corrigir e orientar as práticas
policiais, de forma a torná-las mais eficientes, e competências para investigar e punir
condutas irregulares. A investigação abrange tanto as esferas administrativa, quanto
judicial, enquanto a punição está restringida, naturalmente, à área administrativa,
sendo a legal exclusiva do judiciário.
Em conseqüência, a Corregedoria tem o duplo mandato de fiscalizar a
qualidade do trabalho e ao mesmo de encarnar o papel do que poderíamos chamar
de “polícia da polícia”.
Na prática, as Corregedorias brasileiras mal conseguem dar conta de missão tão
abrangente. A sua atuação tende a ser reativa, mais do que pró-ativa, e costuma estar
mais centrada na investigação e castigo dos abusos cometidos pelos policiais, do que
na implementação de um controle de qualidade, que seria a ação proativa ideal.
O controle interno informal, exercido pelos próprios colegas, é muito
importante para inibir desvios. Uma cultura profissional rigorosa com os abusos é
provavelmente o controle mais efetivo que possa existir sobre a atividade policial. No
entanto, ainda se verifica atitudes tolerantes ou, inclusive, incentivadoras dos desvios
de conduta.
Em geral, o tratamento outorgado pelos sistemas de controle interno no Brasil é
focalizado quase exclusivamente na punição dos policiais que cometem crimes, ao
invés de privilegiar a prevenção.
Inclusive, há setores sociais que demandam uma abordagem preventiva e
abrangente da criminalidade em geral, mas voltam para o paradigma meramente
punitivo quando se trata de abusos policiais. Na verdade, para diminuir o crime
cometido por policiais, como qualquer tipo de crime, é mais barato e eficiente pensar
em termos de prevenção.
Dada a frequência com que acontecem casos de desvio de conduta policial no
país, é preciso reagir com uma abordagem sistêmica, repensando os critérios de
formação, seleção e fiscalização, bem como a cultura profissional no qual o policial
precisar sair do espaço de formação conhecendo a lei e sabendo exatamente todas as
suas limitações legais na atividade policial, sob pena de pagar com a própria perda
da liberdade pessoal.
Não basta se limitar à punição ou expulsão daqueles indivíduos
comprovadamente desviados, considerado-os como ‘maças podres’ que poderiam
‘contaminar’ o conjunto, contudo, é exatamente isso que ocorre no âmbito
profissional e o agente policial precisa aprender suas limitações para não ser
alcançado pelas vias da ilegalidade da sua conduta profissional.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 34

b) CONTROLE EXTERNO

O controle externo formal da atividade policial compete, por imperativo


constitucional, ao MINISTÉRIO PÚBLICO, entretanto, existe certo paradoxo em
relação ao controle que se reclama dessa instituição em relação ao trabalho da Polícia
Civil, pois, exige-se também que os promotores colaborem efetivamente com os
delegados no trabalho de investigação para evitar a morosidade no infindável
percurso dos inquéritos entre uma e outra instituição.
No tocante a Polícia Militar o Ministério Público tem sido cada vez mais atuante
no tocante às intervenções policiais em favelas e comunidades populosas, bem como,
na morte de civis por intervenção estatal (agentes de segurança), inclusive tendo em
2015 estabelecido uma resolução interna que reforça as ações de controle envolvendo
as Polícias Militares.
Com base nos artigos 3º e 9º da Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993
(norma subsidiária) e, por força do disposto no artigo 80 da Lei nº 8.625, de 12 de
fevereiro de 1993, cabe ao Ministério público COIBIR A LETALIDADE POLICIAL,
devendo atuar proativamente no caso de morte decorrente de intervenção policial e
adotar medidas garantidoras, com fulcro na Resolução n° 129, de 22 de setembro de
2015, do Conselho Nacional do Ministério Público.

Art. 1º Compete ao Ministério Público, no âmbito institucional e


interinstitucional, no caso de morte decorrente de intervenção
policial, adotar medidas para garantir:

I- que a autoridade policial compareça pessoalmente ao local dos


fatos tão logo seja comunicada da ocorrência, providenciando o seu
pronto isolamento, a requisição da respectiva perícia e o exame
necroscópico (CPP, art. 6º, I);
II- que seja realizada perícia do local do suposto confronto, com ou
sem a presença física do cadáver (CPP, art. 6º, VII);
[...]
V- que seja instaurado inquérito policial específico, sem prejuízo de
eventual prisão em flagrante;
VI– que o inquérito policial contenha informações sobre os registros
de comunicação, imagens e movimentação das viaturas envolvidas
na ocorrência;
VII- que as armas de todos os agentes de segurança pública
envolvidos na ocorrência RESOLUÇÃO Nº 129, DE 22 DE
SETEMBRO DE 2015 2/3 CONSELHO NACIONAL DO
MINISTÉRIO PÚBLICO sejam apreendidas e submetidas à perícia
específica;
VIII- que haja uma denominação específica nos boletins de
ocorrência policial para o registro de tais fatos;
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 35

[...]
X- que seja designado um órgão ou setor no âmbito do Ministério
Público capaz de concentrar os dados relativos a tais ocorrências,
visando alimentar o “Sistema de Registro de Mortes Decorrentes de
Intervenção Policial”, criado pelo Conselho Nacional do Ministério
Público; (BRASIL, 2015)
Art. 4º É recomendável que o órgão de execução do Ministério
Público:
I- atente-se para eventual ocorrência de Fraude Processual (CP, art.
347) decorrente da remoção indevida do cadáver e de outras formas
de inovação artificiosa do local do crime;
II- requisite a reprodução simulada dos fatos (CPP, art. 7º),
sobretudo na ausência de perícia do local;
III- observe a necessidade de se postular, administrativa e
judicialmente, a suspensão do exercício da função pública do
agente (CPP, art. 319, VI);
IV- diligencie no sentido de ouvir familiares da vítima e
testemunhas eventualmente não arroladas nos autos;
V- adote procedimentos investigativos próprios, caso necessário. grifo
nosso (BRASIL, 2015)

Assim, a polícia está submetida, como qualquer outra instituição pública, ao


Ministério Público, bem como, ao controle externo formal do legislativo e do
judiciário, que atua a partir da Comissão Parlamentar de Inquérito ou audiência
pública, em casos de escândalos públicos.
Obviamente, o judiciário representa um controle imprescindível no caso
extremo de ilícito penal. No entanto, diversas pesquisas mostram que os abusos
policiais, em relação ao abuso da força, costumam ficar impunes na justiça. Seria
desejável esclarecer até que ponto isso é fruto das baixas taxas de esclarecimento
reinantes no país, e até que ponto é resultado do corporativismo ou da capacidade
das corporações policiais.
Um tipo particular de controle externo formal é o exercido por uma corporação
policial sobre as outras, às vezes, em função do antagonismo entre elas. Assim, há
registros de casos em que a intervenção de uma polícia conseguiu limitar os abusos
cometidos pela outra.
A Polícia Civil, como polícia judiciária, deve investigar as denúncias contra
todos os cidadãos, incluindo os membros de outras forças policiais. No entanto, a
existência de jurisdição militar para os crimes cometidos por policiais militares —
com exceção dos crimes contra a vida — limita essa possibilidade.
As deficiências tradicionais dos controles internos levaram vários estados
brasileiros a criarem Ouvidorias de Polícia, órgãos de controle externo que recebem
denúncias e as encaminham às Corregedorias para a sua investigação,
acompanhando o andamento das mesmas. As Ouvidorias apresentam relatórios
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 36

periódicos à sociedade e têm servido como elementos de mobilização do debate e da


conscientização pública em relação ao tema.
Os CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA PÚBLICA são órgãos
que se situam entre o controle formal e o informal. A sua função é justamente
representar a comunidade na sua interlocução com o poder público e com as
instituições de segurança pública, permitindo que as últimas incorporem as
prioridades e preocupações da sociedade.
Nesse sentido, eles permitem um controle mais propositivo e participativo da
sociedade, que não se limite à inibição dos abusos, mas podem com o poder da mídia
ter um alcance grande, logo, esses conselhos são ótimos em alguns em que a parceria
pode produzir bons frutos,m as também há casos problemáticos, que dificultam a
implementação de projetos sérios e que visam a coletividade.
Entre os problemas relatados estão: a) a interferência de interesses partidários;
b) o monopólio de determinados setores sociais, com mais recursos materiais ou
simbólicos, no funcionamento dos conselhos; c) a falta de participação dos grupos
que têm justamente uma relação mais conflituosa — como jovens de baixa renda —
com a polícia; d) a utilização do conselho por alguns membros como trampolim para
candidaturas políticas; e) a predominância de conselheiros que são sempre
favoráveis às posições da polícia; f) tentativas de abuso de autoridade cometidas por
membros dos conselhos em função do seu cargo; g) a sua utilização, por parte da
polícia, como uma forma de obter recursos da comunidade. Apesar dos riscos e dos
descaminhos ocasionais, trata-se de um mecanismo de participação social de extrema
importância.
O CONTROLE EXTERNO INFORMAL é mais difuso, mas não por isso menos
eficiente. Entre os diversos atores que desempenham essa função, a imprensa possui
um papel central. Até os anos 60, a cobertura da imprensa brasileira sobre segurança
pública limitava-se a relatar os crimes acontecidos, sempre de acordo com a versão
da polícia. Havia casos, inclusive, de jornalistas que eram ao mesmo tempo policiais.
Essa abordagem pontual, descontextualizada e parcial começou a mudar a partir da
redemocratização nos anos 80.
No entanto, pesquisas recentes mostram que, ainda hoje, a maioria das matérias
é relativa a fatos de violência concretos, enquanto que os artigos reflexivos,
propositivos ou, simplesmente, dedicados à questão de forma mais abrangente, são
ainda minoria. A maioria dos órgãos de imprensa brasileiros dá destaque à
criminalidade no Rio de Janeiro e, em ocasiões, há uma tendência a tratar a violência
carioca como um espetáculo. Por outro lado, ataques recentes a jornalistas em favelas
têm aumentado o temor a entrar nessas áreas e, dessa forma, recrudescido a
dependência das fontes policiais. A despeito de todos os problemas, a imprensa
desempenha uma função essencial de denúncia de desvios cometidos por policiais.
Nos casos em que há uma pressão da imprensa, as chances de impunidade são muito
mais reduzidas.
Em última instância, há um controle espontâneo exercido pelos cidadãos de
forma individual no seu contato com a polícia. Entretanto, a capacidade de controle
efetivo depende da posição do indivíduo na estrutura social. A população de classe
baixa, particularmente os moradores de áreas carentes, não recebe o mesmo
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 37

tratamento dispensado pela polícia as classes mais favorecidas, ficando claro a


necessidade de se criar mecanismos para reverter esse quadro.

18. CAPITALISMO

É um sistema em que os meios de produção são de propriedade privada,


pertence a uma pessoa ou grupo de pessoas, que investe; o proprietário dos meios de
produção (capitalista) contrata o trabalho de terceiros que vendem a sua força de
trabalho para produção de bens, este, depois de vendidas permitem ao capitalista
não apenas a recuperação do capital investido, mais a obtenção do excedente – lucro.
Tanto a compra dos meios e fatores de produção quanto a venda dos produtos,
resultantes da atividade empresarial, se realizam no mercado de oferta e procura de
bens e serviços existente na sociedade capitalista.
A concepção de uma sociedade em que o sistema abarca a totalidade das
atividades econômicas do país é teórica: ao lado desse tipo de atividade geralmente
encontra-se artesões, pequenos comerciantes e agricultores, que exercem uma
atividade econômica, ou produzem bens ao se utilizar do trabalho de terceiros
fazendo ao contrário, ou seja, uso exclusivo do seu próprio trabalho.
Dessa forma nos países considerados capitalistas, o meio de produção é
predominante, mas de forma alguma o único. Principalmente nos países
subdesenvolvidos, coexistem formas pré-capitalistas de exploração econômica, ao
lado do sistema capitalista de produção.
O modelo capitalista mostra que o mercado da oferta e da procura não se
estabiliza por si só, mas forças estranhas a ele interferem na ficção dos preços dos
produtos.
Desta forma o surgimento do capitalismo industrial tem as seguintes
características: a) Produção de bens e manufaturas em larga escala; b) Grandes
desenvolvimentos científicos e tecnológicos, com a decorrente utilização maciça de
maquinário na produção industrial; c) Introdução da economia do mercado; d)
Divisão social do trabalho; e, e) O surgimento da economia de mercado.
Para os trabalhadores o capitalismo trouxe conseqüências negativas visto que o
assalariado não possuía mais os meios de produção, portanto, não domina as técnicas
usadas na indústria; a criação de duas novas classes sociais (a burguesia industrial e
o operariado);
No início da industrialização os trabalhadores foram submetidos a duras
condições de vida e trabalho como: longas jornadas, salários muitos baixos, fábricas e
condições insalubres, exploração do trabalho de mulheres e crianças e ameaça
constante de dispensa sem nenhum amparo ou direito.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 38

19. GLOBALIZAÇÃO E MISÉRIA SOCIAL

A Globalização permeada por tensões corresponde a uma nova fase de


expansão do capital, não sendo processo homogêneo e sequer inexorável, como se
quer fazer crer. Nesse processo, a hegemonia do capital financeiro influencia o
comportamento de empresas e governos, favorecendo o curto prazo e o combate à
inflação em detrimento do progresso econômico-social e das políticas de longo prazo.
Nesse contexto, o mercado único do dinheiro é operado não somente por bancos e
empresas, mas, sobretudo, por investidores institucionais (fundos de pensão e
investimentos). O trabalho, não acompanha esse ritmo sofre as dramáticas
conseqüências da mobilidade dos investimentos e da internacionalização do capital.
A não homogeneidade desse processo importa, para os Estado - nação, amplos
espaços de escolhas e possibilita sejam construídas formas de inserção não passiva no
mundo globalizado. Isso, porém passa, necessariamente, pela reconstrução de um
projeto de Estado nacional, cujos objetivos estratégicos devem ser construídos
coletiva e democraticamente,com base numa lógica cooperada e cidadã.
Uma nova agenda mundial é necessária para os países, quando consideramos
aos níveis internacional, nacional e regional, através dos quais serão definidas
prioridades e especificadas as características básicas dos mecanismos a serem
utilizados para um projeto de crescimento econômico.
Tal projeto deve ser sustentável e apto a equalizar as condições sociais, tendo
por base a cooperação e coordenação de políticas econômicas de crescimento de
longo prazo possibilitando o resgate de milhões de pessoas da miséria.

20. O NEOLIBERALISMO

É o ideário que fragmenta, flexibiliza, desregulamenta e precariza o mundo do


trabalho, não é a única forma de inserção dos Estados – nação no mundo globalizado.
Wallerstein (2002) vai buscar as raízes do liberalismo na forma aglutinadora da
ideologia capitalista internacional em 1889 (Revolução Francesa) e em 1989 (Queda
do Muro de Berlim), momentos históricos que marcam o cenário internacional.
Verifica que o liberalismo como ideologia traz consigo um projeto de longo prazo
que busca mobilizar grande quantidade de pessoas.
O termo liberal como substantivo, só veio a surgir na primeira década do
século XIX, quando um grupo impreciso de pessoas apoiavam os ideais da
Revolução Francesa, como republicanos, jacobinos, reformistas sociais, socialista e
liberais. Somente depois de 1848 o socialismo surgiu como ideologia verdadeira
diferenciada e oposta ao liberalismo.
O que diferenciaria estas duas correntes era na forma e não na essência. Os
liberais desejavam que o processo de melhoramento social, deveria ser conduzido
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 39

por especialista e de forma constante, já os socialistas queriam avançar com a pressão


popular, pois sem eles o processo não traria o progresso.
Wallerstein (2002, p.101-115) entende que estas correntes estavam convergindo
para a concepção liberal de mudança continua, dirigida e racional. Teríamos assim
três vertentes ideológicas - conservadora, liberal e socialista, as quais visando à
autodeterminação (libertação nacional) e o desenvolvimento econômico. No caso
bloco socialista, suas ações serviram apenas para mascarar o capitalismo mundial e
reforçando o triunfo da ideologia liberal.

20.1. O DESEMPREGO NO NEOLIBERALISMO

Não é gerado exclusivamente pela implementação de novas tecnologias, mas


sobretudo, pela não implementação de políticas estratégicas de incentivo ao
crescimento econômico voltado a socialização das riquezas produzidas.
Geradas em nome de uma suposta modernidade (inseguranças na contratação,
aumento do desemprego, redução dos postos de trabalho formal, subcontratação,
insegurança na renda e representação do trabalho), representam retorno à barbárie,
com produção de um conhecimento que busca incorporar o velho ao moderno e,
assim, a flexibilidade e a precarização do mundo do trabalho passa a ser apresentada
como “modernidade”.
No plano neoliberal, a resistência a este é condição necessária, mas não
suficiente para (re) construção de novas identidades sociais, passando também por
uma crítica construtiva no sentido da formulação de projetos alternativos que
possam dar conta das necessidades hoje colocadas no sentido da construção de uma
nova sociedade e de um Estado nacional que possa ingressar soberanamente no
mundo globalizado.
Num contexto de aumento do trabalho informal e de exclusão, pensar um
Direito do Trabalho que de conta dessa realidade é pensar na formulação de pautas
que ampliem a tutela para incorporar novas categorias não mais protegidas pelo
Direito Tradicional em face das profundas alterações que se operam no processo
produtivo de uma sociedade cujas relações de trabalho de flexibilizam.
Todas as proposições anteriores passam pela formulação do conceito de Estado,
articulando-se democracia participativa e democracia representativa, para que o
Estado permeado pelas pressões da sociedade civil se democratize.

21. PROBLEMAS SOCIAIS

21.1. A FOME
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 40

Este é um dos problemas mais graves que as nações enfrentam no planeta. Na


realidade a fome não é um fenômeno social e econômico novo. Este problema não
pode ser analisado sob a ótica da escassez dos produtos, do mercado de consumo, do
crescimento da população, isto é, de conseqüência macro ou micro-econômica.
Um dos economistas que alegava que com o crescimento geométrico da
população haveria retração na produção, segundo Malthus, surgindo a lei dos
rendimentos decrescentes. Contudo, tais teorias como a de Malthus falhou pela
imprevisibilidade do aperfeiçoamento da tecnologia (SAMUELSON, 1975,p.780-787).
Assim, observamos que mesmo com toda tecnologia nos implementos, insumos
agrícolas, grande parte da população brasileira não tem direito a três refeições
diárias.
Surge, em conseqüência da desnutrição, um novo tipo de brasileiro, que é
resultado da degradação alimentar. As análises antropométricas mostram que a cada
geração que surge nas regiões norte e nordeste, as crianças nos três primeiros anos
estão muito abaixo da média nacional, pois, segundo Batista Filho ( 1987), nas
últimas décadas, na região nordeste, foram registrados de 50 a 55% de todos os
desnutridos do país.
A fome já representa no Brasil uma endemia, segundo a FAO (Food and
Agriculture Organization), organismo das Nações Unidas responsável pelo exame dos
problemas concernentes à nutrição, alimentação e agricultura; o Brasil teria um
déficit de 421 calorias para a população urbana, e 350 calorias para população rural.
Esta realidade é vista no progressivo emagrecimento do trabalhador nordestino na
sua fase economicamente mais produtiva. Se esta realidade é extensiva a toda
família, mulheres desnutridas passam a gerar crianças que morrem nos primeiros
meses de vida aumentando assim a mortalidade infantil.
No Brasil são 22 milhões de pessoas indigentes (pessoa com renda mensal que
não ultrapassa R$ 60,00, esta triste realidade está demonstrada que nas últimas
décadas e especificamente em 1999, cerca de 14% da população brasileira cujas
famílias viviam com renda inferior à linha de indigência enquanto 34% sobreviviam
abaixo da indigência.
O tema da fome (desnutrição) requer das autoridades e do povo brasileiro um
debate urgente, visto que, o ser humano em condições normais precisa em média de
3.000 calorias diárias, no entanto, em alguns países dado a mecanização do trabalho
alguns estudiosos apontam que 2.200 calorias/dia seriam suficientes para
sobrevivência do trabalhador, todavia, no Brasil, esta realidade está longe de
acontecer.
A questão da renda está associada à fome, pois sem uma forma de comprar seus
alimentos a população deixa de consumir os nutrientes necessários para sua
sobrevivência e reprodução.
Em 2001, o último PNAD - Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar - na
Região Metropolitana do Salvador (RMS), vivem 1.010.782 pessoas, acima de 10 anos,
que sobrevivem sem qualquer rendimento mensal; outras 139.353 vivem com renda
de até meio salário mínimo, enquanto 379.854 detêm uma renda entre meio e um
salário mínimo.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 41

As conseqüências da fome são demonstradas nos índices de mortalidade


infantil. Muito embora, no ano 2000, se teve uma significativa melhora, onde 29,6
crianças mortas para cada mil nascidas vivas, que faleceram antes de completar um
ano de idade.
O quadro desnutricional é retratado no surgimento de doenças que a mais de
uma década foram controladas, a exemplo da tuberculose, onde o Brasil ocupa a 13ª
posição entre as 22 nações, com 37.957 caso no ano de 2000. Na Bahia foram 170 mil
casos.

21.2. O DESEMPREGO

Não buscaremos aqui analisar apenas aspectos econômicos, sabemos que a


maneira como a economia do país esta estrutura podemos perceber qual a ênfase que
é dada a setores produtivos ou não de uma economia.
Na visão de Marx, (ARON, 2000,p.174-180), o modo de produção determinará a
forma de organização econômica e social de uma dada sociedade. No Brasil, nos
últimos anos, a partir do modelo econômico-político e social imposto pela Inglaterra
e EUA organizado em blocos de interesses econômicos, passaram a adoção de um
motor único, ou seja uma mais-valia universal, isto é, um padrão de lucro feroz,
principalmente pela volatilidade do capital especulativo financeiro aplicado nos
países emergentes, cujas economias, passaram a sofrer sistemáticos abalos em
decorrência dos “mercados de capitais” (SANTOS, 2000).
Esta nova forma de atuar do capitalismo resultou na obrigação do Estado em
reformular o modelo e o seu tamanho. Desregulamentação (relação capital/trabalho),
abertura de barreiras restritivas às importações, ampliação do programa de
privatização, foram alguns dos pressupostos para que o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Banco Mundial, impuseram para cessão de empréstimos aos
países com dificuldades financeiras.
Foi a partir do governo Collor em 1991, que tais modificações se processaram
culminado com o governo de Fernando Henrique Cardoso, com a privatização de
empresas controladas pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento social) e
Banco do Brasil, como a Companhia Vale do Rio Doce, Eletrobrás e Telebrás,
salvando apenas a Petrobrás deste programa ( SANTOS,1997,p.11).
A argumentação da ineficiência do Estado nos setores de produção, serviram de
motivo para se redesenhar a estrutura estatal, trazendo a visão “moderna” do núcleo
estratégico e atividades exclusivas a ser exercida por agências incumbidas da
previdência básica, cobrança e fiscalização de impostos, saúde, educação, segurança
pública, possibilitando uma administração com redução de custos, aumento da
produtividade e melhoria na qualidade dos serviços prestados, o chamado de
“Estado Mínimo”, (SANTOS,1997,p.11-12).
Atualmente, entretanto, o maior impacto que se está sofrendo e tende a
aumentar foi o advento da pandemia, uma questão sanitária (de saúde) foi a grande
responsável pelo maior índice de desemprego em caráter global.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 42

Em razão do distanciamento social para a prevenção do Sars Covid-19, doença


viral responsável pela morte de milhões de pessoas no mundo e, não diferente no
Brasil, provocou o fechamento dos estabelecimentos comerciais em Março de 2020
até 2021, desencadeando questões sociais preocupantes, grande vulnerabilidade
social e alimentar e, também, o desemprego em massa, potencializando esse
problema social que já era um grande desafio. Apesar das ações governamentais e
auxílios para enfrentar essa fase que impactou a vida de todos socialmente e
economicamente, será um grande desafio para a história futura.

21.3. DISCRIMINAÇÃO SOCIAL, PRECONCEITO, RACISMO

“Ninguém nasce odiando o outro pela cor de sua pele, ou por sua
origem, ou sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender, e se
elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar”.
(Nelson Mandela, 1994).

O Estado brasileiro foi constituído a partir de diferentes matrizes étnicas e


culturais, formando, assim, uma sociedade multicultural. As desigualdades sociais,
construídas historicamente com base na exploração econômica, na violência e na
escravidão, geraram-se um modo de pensar e de agir desiguais. Várias são as
incompreensões existentes entre os termos Preconceito, Racismo e Discriminação. O
documento Brasil, Gênero e Raça, lançado pelo Ministério do Trabalho, define:

Racismo – "a ideologia que postula a existência de hierarquia entre grupos


humanos";
Preconceito – “é uma indisposição a um julgamento prévio negativo que se faz
de pessoas estigmatizadas por estereótipos";
Estereótipo - "atributos dirigidos a pessoas e grupos, formando um julgamento
a priori, um carimbo. Uma vez ‘carimbados’ os membros de determinado grupo
como possuidores deste ou daquele ‘atributo’, as pessoas deixaram de avaliar
os membros desses grupos pelas suas reais qualidades e passam a julgá-las pelo
carimbou";
Discriminação – "é o nome que se dá para a conduta (ação ou omissão) que
viola direitos das pessoas com base em critérios injustificados e injustos, tais
como: a raça, o sexo, a idade, a opção religiosa e outros".

Racismo é crime inafiançável e imprescritível. (Art. 5.º, XLII, CF)


CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 43

Segundo a Constituição Federal, todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza.

A Carta diz, também, que constituem princípios fundamentais da Republica


Federativa do Brasil o de promover o bem comum, sem preconceitos de origem,
raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação.

(Balize suas ações nos Estatutos da Igualdade Racial Federal, Estadual e


Municipal)

Dentre os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor, punidos pela lei (Leis
n.º 7.716/89 e 9.459/97), estão os seguintes:

1 – Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer


cargo da Administração Pública, bem como negar ou impedir emprego em
empresa privada.
2 – Recusar, negar ou impedir a inscrição de aluno em estabelecimento de
ensino público de qualquer grau;
3 – Impedir o acesso ou recusar o atendimento nos seguintes locais: a)
Restaurantes, Bares e Confeitarias; e, b) Estabelecimentos esportivos, casas de
diversões e clubes sociais abertos ao público; c) Hotéis, pensões e estalagens;
4 – Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e
respectivos elevadores ou escadas de acesso.

Não esqueça!

Quando se ofende a raça de modo COLETIVO – é CRIME de racismo;

Quando se ofende a raça de modo INDIVIDUAL - é INJÚRIA racial.

Nesse sentido, a importância da sociologia pode ser observada como no contexto que
envolveu uma decisão relativamente nova exarada pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) nº
26, que privilegiou a análise e dimensão social dos fatos, estendendo o conceito de
racismo e o interpretando para a proteção e prevenção da vitimização do público
homossexual no Brasil, público LGBTI+, passando a considerar a homofobia e a
transfobia como crime de racismo, como se observa:
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 44

Segundo o STF – ADO 26

Práticas HOMOFÓBICAS E TRANSFÓBICAS configuram atos delituosos


passíveis de repressão penal [...] por traduzirem EXPRESSÕES DE RACISMO em
sua DIMENSÃO SOCIAL.

“É dever estatal de reprimir práticas ilícitas contra membros integrantes do grupo


LGBTI+ [...] A busca da felicidade como derivação constitucional implícita do
princípio fundamental da dignidade da pessoa humana”.

http://portal.stf.jus.br/processos/downloadPeca.asp?id=15344606459&ext=.pdf

21.4. DELINQÜÊNCIA JUVENIL

A delinqüência juvenil refere-se aos atos criminosos cometidos pôr menores de


idade. Muitos países possuem procedimentos legais e punições diferentes (no geral
mais atenuados) em relação aos delinqüentes juvenis, em relação a criminosos
maiores de idade.
A delinqüência juvenil tem-se tornado num problema muito grave e com
conseqüências preocupantes na sociedade brasileira nos últimos anos. Talvez pôr
existir cada vez mais informação sobre as práticas destes jovens, na sua grande
maioria inadaptados ou simplesmente necessitados, aparecem agora vozes que
tentam sensibilizar a opinião pública para a solução desta questão, tarefa tremenda
quando não existe vontade nem sensibilidade pôr parte do Governo e das outras
instituições competentes.
Os tribunais registram cada vez mais casos de furto, posse de armas e de
drogas, agressão e abuso sexual praticados pôr jovens que ainda não atingiram a
idade adulta.
Na sua grande maioria provenientes de bairros degradados e de famílias não
acompanhantes, os jovens delinqüentes vão formando idéias e adquirindo
comportamentos agressivos e condenáveis do ponto de vista ético-social.
A escola poderia suprir, em parte, a deficiência da família, desempenhando um
papel importante, não só na formação cultural dos alunos, como também na
formação do seu próprio comportamento moral e social. Entretanto, o que se percebe
é uma carência, em todos os sentidos, nas instituições de ensino público, atingindo
também o ensino particular.
Esta é uma realidade preocupante, que em vez de estar a ser combatida e
prevenida, está, pelo contrário, a ser desvalorizada pelos responsáveis institucionais,
com o objetivo de não quererem admitir o que já se tornou óbvio. A delinqüência
juvenil no Brasil tem de ser combatida, não apenas através de meios de repressão,
mas também, e acima de tudo, com medidas preventivas eficazes no combate à
pobreza, à exclusão social e ao analfabetismo.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 45

Não é reduzindo cada vez mais a idade em que um jovem pode ser responsável
criminalmente pelos seus atos que se vai solucionar este problema. Veja-se o exemplo
dos Estados Unidos da América em que, apesar de crianças com 14 anos serem
julgadas como adultos, assistimos a casos de assassínios perpetrados por jovens
adolescentes, muitas vezes nas escolas onde estudam.
È indiscutível que precisamos de leis mais eficazes e de tribunais mais duros, no
entanto a repressão não é o caminho ideal. O que precisamos é de políticas públicas
eficientes, que contemplem os jovens e lhes dê oportunidades para uma vida digna,
com um futuro em que se possa acreditar.

21.5. CRIMINALIDADE E VIOLÊNCIA

Este é um tema de fundamental importância nos debates diários das pessoas.


As ações criminosas tomam novas configurações na sociedade mundial. A
internacionalização do crime reflete na vida e no comportamento das pessoas
principalmente na desenvoltura do segmento do narcotráfico, segundo o DEA
(Agência Antidroga Americana), o dinheiro do tráfico empregado nas Bolsas de
Valores significa mais de 400 bilhões que foram “lavados” e transformados em
dinheiro legal.
O desafio atual das polícias está centrado no combate a venda de drogas
(maconha, cocaína e seus derivados, anfetaminas). A sociologia toma como critério
de crime a “conduta desviada” (deviant behavoir) baseado no critério de que a
sociedade estabelece modelos e padrões de conduta que surgem das expectativas
sociais, isto é, de condutas sociais “esperadas” (CARNEIRO,2001,p. 197-235)
Segundo Durkheim o crime é uma condição humana quando analisou este
fenômeno com o suicídio (1984,p.123-143), significa que nunca teremos uma
sociedade sem crime, todavia, as taxas das condutas socialmente desviantes quando
ultrapassam taxas consideradas como tolerantes ou aceitas podem transforma-se
numa patologia (doença).
Nesse sentido, o impacto da violência com ênfase nos crimes ocupam um
grande espaço na mídia conjugando produtos comercializáveis e traz uma exposição
midiática de ocorrências policiais principalmente pela publicidade dos faits divers
como “Cidade Alerta”, da Rede Record, “Aqui Agora” do SBT, “Linha Direta” da
Rede Globo, de modo que afetado as relações inter pessoais tornando a vida urbana
e, nos últimos anos, as comunidades rurais mais intolerantes ao estranho
(MARTUCELLI,1999,p.157-175).
Os estudos sobre violência e criminalidade demonstram algumas contradições
quanto a percepção do cotidiano. Algumas correntes de pensamento tentam mostrar
que a pobreza seria um fator de correlação com a violência, na prática, pesquisadores
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 46

como Zaluar (1985;1992;1994), que conseguiu demonstrar onde o narcotráfico atua


com grande força, a taxa de participação de pessoas da comunidade não chega a 1%.
Minayo (1993;1994), mostrou que a violência privada é resultado da ineficiência
do Estado em criar as condições de inserção social dos segmentos mais carentes, este
quadro se agrava principalmente nas regiões metropolitanas.
Enquanto que Caldeira (2000), em “Cidade de Muros: crime, segregação e
cidadania”, explícita que em decorrência da violência e do modelo arquitetônico
globalizado, a cidade de São Paulo e outras capitais passam a tomar novas formas de
organização espacial como largas avenidas, edifícios de serviços, shoping,
condomínios, fechados; que por sua vez mudou o comportamento e a visão das
pessoas frente as outras, prejudicando as relações inter pessoais e por conseqüência a
sociabilidade.
Quanto a violência, os indicadores demonstram que medidas urgentes e sérias
por parte das autoridades políticas devem ser tomadas a fim de fazer frente a esta
moléstia social; nos últimos 20 anos (1980 a 2000), 598.367 brasileiros foram
assassinados (BRASIL,2004). Muito embora a população tenha crescido a uma taxa
de 43%, de 119 milhões para 170 milhões, este fenômeno da natalidade não explica
tais números de mortes por homicídio, outros fatores contribuem para este
expressivo dado tais como: inquéritos policiais inconsistentes; sistema de justiça
oneroso e lento; estratégias de segurança pública cuja aplicação dos recursos
humanos são desviados.
O perfil das taxas de mortes externas modificou na última década. Nos anos
oitenta as mortes tinham um registro maior nas mortes em acidentes de trânsito,
agora, na década de noventa o perfil passou para as mortes por homicídios.
Verificamos que 600 mil brasileiros foram assassinados (62%) na década de 90, destes
a maioria eram homens na faixa etária de 15 a 24 anos.
O resultado é a baixa expectativa de vida que afetam os jovens do sexo
masculino. No caso do Rio de Janeiro as mortes violentas reduzem em 4,1 anos a
expectativa dos homens segundo o IBGE, enquanto as mulheres vivem 7 (sete) anos a
mais no Brasil.
Em pesquisa do Atlas da violência 2020, por sua vez, houve redução de 12%,
das taxas de homicídio no país, entre 2017 e 2018, “que passou de 31,6 para 27,8 por
100 mil habitantes, levando ao questionamento: quais fatores poderiam explicar essa
notável diminuição?
Trata-se de alguma mudança institucional súbita ocorrida a partir de 2017? Ou
a redução das mortes violentas, nesse ano, pode ser explicada pela própria dinâmica
da criminalidade que já vinha se desenrolando nos anos anteriores?
Do ponto de vista institucional, elementos importantes surgiram, em 2018, no
tema das políticas públicas de segurança pública: a criação do Ministério da
Segurança Pública, a aprovação da legislação criando o Sistema Único de Segurança
Pública2 (Susp), e a instituição do Plano Decenal de Segurança Pública3 (PDSP).
Ainda que a Lei no 13.675/2018( Lei de criação do sistema Único de Segurança
Pública ( SUSP) , não fosse a solução para o problema da integração e governança
federativa no setor, uma vez que não teria como equacionar as várias restrições
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 47

constitucionais sobre o tema, foi um passo importante na direção correta para a


imposição de maior racionalidade à política de segurança pública. [...]
De outro modo, no Atlas da Violência 2019, já havíamos chamado a atenção
para a tendência de queda de homicídios que abrangia gradualmente cada vez mais
Unidades da Federação (UFs), nos dez anos anteriores a 2017. Naquele documento,
apontamos as principais razões que estariam influenciando a queda dos homicídios
pelo país afora até 2017, a saber: i) a mudança no regime demográfico, que fez
diminuir substancialmente, na última década, a proporção de jovens na população;
ii) o Estatuto do Desarmamento, que freou a escalada de mortes no Brasil e que
serviu de mecanismo importante para a redução de homicídios em alguns estados,
como”
Note-se que nesse modelo de enfrentamento da violência o Estado utiliza o
monopólio legítimo da força, mas a carência de recursos financeiros e tecnologias de
prevenção e repressão não permitem maiores investimentos a contento em segurança
pública.
O sucesso do “Tolerância Zero” implementado em Nova York pelo prefeito
republicano Rudolf Giuliani, que tomou como base as conclusões de James Wilson,
George Kelling e Catherine M. Colles, publicado sob o título Fixing broken Windows
(Consertando janelas quebradas), (SOARES, 2002) com base neste trabalho buscou-se
evitar o cometimento de pequenos delitos criando uma percepção social de resgate a
insegurança coletiva, porém, muito criticado pela sociedade brasileira.
Esta atitude permitiu resgatar espaços públicos e serviços oferecidos que
tinham sido degradados, simbolicamente, impediam a freqüência da população
como o “metrô 9”, (SOARES,2002 p. 227-237). Não podemos deixar de destacar, que
naquela oportunidade, o governo Clinton conseguiu baixar as taxas de desemprego,
aumentar a renda e principalmente reduzir a participação dos jovens do sexo
masculino na criminalidade, algumas modificações estruturais serviram de
precursores na nova estratégia policial , um foi a fusão do Departamento de Polícia
da cidade de Nova York com o Departamento de Trânsito e o Transit e Housing Police
Department.
Outra novidade foi introdução da Compstat (computorized statistics), esta
metodologia tecnológica através de um software geo-referenciado permite a
visualização das ocorrências criminais (com ênfase em sete crimes), quando eram
debatidos semanalmente e a forma de seu enfrentamento (padrões de ação criminal,
migrações, etc).
Desta maneira, pontos importantes na estrutura da polícia foram
fundamentais como: inteligência acurada, tática flexível e adequada; deslocamentos
rápidos de recursos e pessoal; acompanhamento, avaliação e monitoramento
serviram dentro outros aspectos para melhoria da segurança na cidade, um conjunto
de ações de levou a queda dos índices de criminalidade e tornou a qualidade de vida
melhor naquela cidade.
Na contramão, entretanto, o Brasil apesar da redução considerável e importante
nos anos de 2019 e 2020 e principalmente, é necessário estabelecer novas ações e
mentalidade para redução dos homicídios e da violência que infelizmente ainda
atinge um alto nível, também relativa a letalidade policial nas ocorrências, fato que
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 48

ainda deve ser objeto de atenção da corporação e dos policiais militares para que se
possa alcançar índices mais adequados e coerentes com as premissas constitucionais
dos direitos humanos e fundamentais estabelecidos no país.

21.6. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

É a capacidade que os agentes possuem de se associar para praticarem


atividades ilícitas, logo, eles se unem com vistas ao auxílio mútuo para produzir um
resultado que fere o ordenamento jurídico, uma ação que vai de encontro ao
interesse da coletividade, por isso não é uma associação legítima, lícita e permitida.
A característica marcante é a natureza associativa, permanente e estável dos
agentes do grupo para o fato delituoso, logo, é um crime em abstrato e não pode ser
tentado (ou há associação ou não há), deste modo, como consta no artigo 288 do
Código Penal Brasileiro, é a conduta de “associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para
o fim específico de cometer crimes, com pena que está em torno de um a três anos.
A associação criminosa é nociva a sociedade, pois permite a união de esforços
para cometer ações que vulnerabilizam a segurança pública de modo amplo, logo,
atinge a todos passando ao largo do interesse público, não obstante, se o agente é
funcionário público esta associação se torna ainda mais perigosa devido ao
conhecimento de peculiaridades da sua função, fragilizando ainda mais o sistema de
controle do sistema de segurança do país.
Assim, qualquer ação de agentes nesse sentido deve ser debelada e
responsabilizada de imediato para coibir tais práticas nocivas, nessa esfera, é
importante que cada policial tenha uma conduta ilibada e tenha uma observação
apurada para não se deixar levar pelos artifícios de criminosos disfarçados de
amigos, solicitando tarefas ou pedindo auxílios diversos que lhes trarão prejuízos
irreparáveis do ponto de vista social e funcional.

21.7 ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

Organizações Criminosas constituem a união de pessoas com condutas


voltadas a promover, constituir, financiar ou integrar, diretamente ou através de
outras pessoas uma organização voltada ao cometimento de crime.
A lei nº 12.850, de 2 de agosto de 2013, é a norma que define
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de
obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal.

De modo formal para o artigo 1º da lei, em seu primeiro parágrafo, considera-se


organização criminosa a associação DE 4 (QUATRO) OU MAIS pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, para obter vantagens, mediante a prática de infrações penais que
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 49

tenham PENAS SUPERIORES A 4 (QUATRO) ANOS, podendo ou não ser de


caráter transnacional, inclusive, ou que se configurem como organizações terroristas.

No caso de haver indícios de que o funcionário público integra organização


criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou
função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à
investigação ou instrução processual (§5º) e em caso de condenação, com trânsito em
julgado, acarretará ao funcionário público a perda do cargo, mandato eletivo,
interdição para o exercício de função ou cargo público por 8 (oito) anos
subsequentes ao cumprimento da pena.(§6)
Assim, notem que a organização criminosa se diferencia da associação pelo
fato de exigir quatro pessoas ou mais e ainda ser relativo a condutas que ocasionam
crimes mais graves, com penas superiores a quatro anos, logo sua pena também é
maior, enquanto que a associação tem menos participantes e é voltada a qualquer
ação ilícita mais simples.
No Brasil a atuação das organizações criminosas tem ocorrido de modo maciço
nas áreas consideradas de risco para a vulnerabilidade social, como as favelas e
comunidade na qual a população honesta possui baixo poder aquisitivo, muitas
carências e está submetida ao julgo do domínio de criminosos e seu poderio
econômico e de fogo, sendo este um dos grandes desafios da segurança pública.
Notadamente, a Polícia Militar e os demais órgãos de segurança, possuem
enorme dificuldade de atuação nesses espaços comunitários, visto que nas
comunidades não existem apenas criminosos, mas também, pessoas inocentes que já
vivem sob o jugo da criminalidade diuturnamente e deve ser objeto também, de
proteção estatal e dos agentes policiais que devem prezar nas operações policiais,
pela vida e incolumidade dessa população vulnerável.

21.8. O PROBLEMA E A ILEGALIDADE DAS MÍLICIAS

A expressão milícias se incorporou ao vocabulário da segurança pública no


Estado do Rio e começou a ser usada freqüentemente por órgãos de imprensa
quando as mesmas tiveram vertiginoso aumento, a partir de 2004, entretanto, sendo
necessário distinguir que Milícias não se confunde com a instituição das Polícias.
O termo milícia foi utilizado durante uma seção jornalística de “O Dia”, durante
a produção de uma matéria sobre o tema da criminalidade nas comunidades
carentes, na qual populares haviam sido barbaramente torturados por milicianos,
fato que gerou comoção pública e repercutiu em toda a mídia nacional e
internacional, reacendendo o interesse pelo tema e levando a Assembléia Legislativa
do Estado do Rio de Janeiro a aprovar a criação da comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI das Milícias), traçando um perfil sobre essa atuação ilegal no Brasil.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 50

Para o delegado Marcus Neves - da 35ª DP, milícias são grupos armados
compostos por agentes do Poder Público e pessoas cooptadas nas comunidades
carentes, inclusive ex-traficantes, que usam a força e o terror para dominar uma
determinada região e explorar de maneira ilegal as atividades de transporte
alternativo, gás e tevê acabo. Seu mote é a questão financeira, o lucro farto e fácil.
O estudioso Domício, por sua vez, informa que o conceito de milícia é o arranjo
de gente armada querendo prover segurança fora da lei todo e qualquer grupo que
age de forma ilegal; logo, não importando se é agente público ou não.
Enquadrando as milícias como organização criminosa, o delegado Cláudio
Ferraz - da Delegacia Regional de Ações Criminosas Organizadas (Draco), informa
que estas se enquadram no conceito internacional de crime organizado, sendo
caracterizada por: padrão organizativo; atuação empresarial; métodos violentos;
corrupção das forças de segurança e do poder judiciário; relação direta com o poder
público e intimidação, ameaças e homicídios para alcance de objetivos.
Não obstante, a participação de policiais atuando de modo corrupto nessas
organizações não é verdade que ela reflete a atuação maciça de policiais, sendo
composta em sua maioria por pessoas civis, normalmente traficantes e criminosos
que já atuavam no âmbito do crime, sendo necessário distinguir que essa não é uma
atividade que está diretamente relacionada à ação de policiais como se tenta travar
no âmbito midiático.
O que há de fato é a similitude do termo, em razão desses criminosos utilizarem
do uso ILEGÍTIMO da força sobre a população na qual atua, cuja autorização legal é
exclusiva das Polícias, fundamentadas na Constituição Federal (art144), devidamente
instituída pelos órgãos estatais.
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As milícias possuem como modus operandi o exercício da vigilância da


comunidade, através de guardas armados que se revezam em turnos, com grupos
maiores durante a noite, revelando um tipo de dominação moderna que para manter
o domínio, expulsa pessoas ligadas ao crime, às facções
criminosas e familiares de traficantes que não aderiram à causa da criminalidade.

Denúncias mais recorrentes sobre ação das Milícias – RJ

No tocante ao envolvimento de policiais militares em práticas ilegais das


milícias, muitos se corrompem deixando de lado as premissas constitucionais e os
valores de sua Corporação e se envolvem nesta prática delituosa. De modo ilegal,
policiais oferecem serviços de segurança à população, aumentando as práticas de
justiçamento nos moldes das milícias já em atuação.
Reconhece-se, nesta dimensão, que a cúpula da Segurança Pública tem
empenhado esforços e atuado fortemente para coibir a ação dos grupos criminosos e
seus integrantes. No âmbito interno as Corregedorias estão, também, aptas a atuar de
modo contundente contra o envolvimento de policiais em tais práticas ilegais que por
fim vulnerabilizam seus próprios pares, que com honestidade e altruísmo, vão às
ruas expondo suas vidas em risco em prol da sociedade.
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Sendo esta prática ilegal, os órgãos de controle interno e externo das Polícias
Militares e Civis, vêem utilizando instrumentos para responsabilizar servidores que
agem para extorquir, intimidar e subjugar milhares de cidadãos de comunidades
populares, com pena prevista de exclusão na Corporação e restrição da liberdade na
Justiça Penal, com todos os agravantes que a lei impõe, haja vista, que a função
primordial dos policiais é justamente repelir tais crimes, sob o critério da ética e da
postura de legalidade, que é o norte condutor de cada policial militar no Brasil.

REFERÊNCIAS

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EDIÇÃO E ATUALIZAÇÃO
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS - PMBA - JUNHO/ 2021 54

Apostila confeccionada pelos Professores: Tenente Coronel PM JAIME PINTO


RAMALHO NETO - Graduado em Ciências Sociais – Antropologia, pela UFBA: 2003; Pós-
graduando em Direitos Humanos FESMIP/BA & FDJ; Subtenente PM ALEX GOMES
FREITAS- Graduado em Filosofia (Licenciatura) pela UCSAL em 2001; Funcionária Civil
SANDRA MUNFORD – ASSISTENTE SOCIAL- Graduada em Serviço Social pela UCSAL
em 1980; e 1º Sargento PM EDILENO GUILHERME SANTOS- Bacharel em Teologia pela
FBB – Batista Brasileira (1996 – 2000); Pós-Graduado em Gestão da Segurança Pública (2005-
2007) UNIME - União Metropolitana de Educação; Bacharel em Direito pela FBB – Faculdade
Batista Brasileira (2013 – 2017).

Revisada e atualizada em 28/06/2021, pelos Professores: Capitão PM JOSE BARBOSA DOS


SANTOS - Graduado em Filosofia pela FBB – Faculdade Batista Brasileira (2005 – 2008).
Subtenente PM KARINA DA HORA FARIAS - Graduada em Direito (UESC), Especialista
em Gestão da Segurança Pública (UFBA), Mestranda em Direito pela UFBA (2021).

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