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• Divisão de Ensino
Direção do CFAP
Diretor – Cel PM Alfredo José Souza Nascimento
Diretor Adjunto e Revisor - Ten Cel PM Lucas Miguez Palma
Equipe Pedagógica
Coordenador de Cursos: Maj PM Jailton Carvalho de Santana
Chefe da Divisão de Ensino: Maj PM Helena Carolina Jones da Cunha
Coordenadora dos Batalhões-Escola: Maj PM Karina Silva Seixas
Instrutor–Chefe: 1º Ten PM Dival Lima Neves
Edição e Revisão: Subten PM Karina da Hora Farias
SUMÁRIO
1 – COMPORTAMENTO HUMANO.....................................................................................................3
2 – COMPORTAMENTO NO AMBIENTE DE TRABALHO............................................................4
3 - AMBIENTE DE TRABALHO E AS RELAÇOES INTERPESSOAIS..........................................6
4 - PRINCIPAIS ATITUDES E COMPORTAMENTOS DOS BONS
PROFISSIONIAS....................................................................................................................................8
5 - QUALIDADE DE VIDA.....................................................................................................................13
6 - QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO.................................................................................... 13
7 - PROGRAMAS DE QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO..................................................22
8 - DOENÇAS OCUPACIONAIS: ESTRESSE OCUPACIONAL E SÍNDROME
DE BURNOUT...........................................................................................................................................30
8.1 - 1ª parte: Artigo – Saúde Mental e Trabalho: reflexões sobre a profissão Polical
Militar.....................................................................................................................................................30
8.2 - 2º parte: Reflexões sobre Estresse Ocupacional.......................................................................37
8.3 - 3ª parte: Reflexões sobre Síndrome de Burnout......................................................................38
8.3.1 - Síndrome de Burnout na Polícia Militar Brasileira......................................................40
REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................42
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – NOVEMBRO – PMBA 3
1. COMPORTAMENTO HUMANO
e fim, por esse motivo o autor traz que comportamento não é apenas operante e
respondente, existem diversos tipos.
Del Prette & Del Prette (2018) expõe que a aprendizagem das habilidades
sociais e dos comportamentos sociais indesejáveis é aprendida, através da instrução,
consequenciação e imitação. E os elementos culturais são bastante influentes no
repertório de condutas do indivíduo, que também pode ser modificado pela
competência social.
“Na vida social, desde a tenra idade, esses processos podem ser simultâneos
ou isolados, em sequência planejada ou aleatória. Cada um desses processos,
extensivamente investigados, permitiram a derivação de técnicas educativas
e de atendimento clínico em diferentes modalidades de terapia. Por exemplo,
a consequenciação está presente em técnicas como modelagem, reforçamento
diferencial, modelagem, a instrução está associada a processos de
aprendizagem por regras, que não são independentes de processos operantes.
O acesso a modelos é importante tanto para a aquisição de comportamentos
novos como para o aperfeiçoamento de comportamentos sociais específicos”.
(DEL PRETTE & DEL PRETTE ,2018, p.45).
inviabilizar modificações nas formas como as pessoas agem”. Estas autoras esclarecem
que nada irá adiantar preocupar-se nas soluções para mudanças no comportamento
de determinada pessoa, caso não haja também uma preocupação com as modificações
no ambiente organizacional, ou seja, o clima organizacional sofre influências de vários
contextos, sejam eles sociais, econômicos, culturais ou políticos. Sendo assim o sucesso
organizacional se dará com uma análise sistêmica do comportamento.
Outro fator importante trazido por Kienen & Wolff (2002), é o fato que a
incompreensão do comportamento humano de maneira sistêmica, analisando assim
valores, crenças, leis regras, aspectos culturais, pode interferir diretamente na maneira
dos administradores organizacionais gerenciar as atuações dos seus trabalhadores
diante do alcance dos objetivos esperado pela organização. Vale salientar também que
as autoras citam que é primordial formular objetivos claros para que sejam
identificados quais metas as pessoas devem apresentar para que se chegue aos
resultados esperados.
Pode ser percebido nas reflexões trazidas pelas autoras Kienen & Wolff
(2002), que administrar comportamento nas organizações de maneira sistêmica, é algo
complexo, que necessita analisar sobre um ótica multifatorial, em seus domínios
sociais, históricos, culturais, econômicos e políticos, aliados ao desenvolvimento
pessoal de cada indíviduo, a história que cada sujeito traz de sua vivência e ao seu
desenvolvimento. E principalmente entender que quando se propõe gerenciar
comportamento não é para controlar pessoas, mas sim controlar as situações e
contextos onde estes comportamentos acontecem, por esse motivo os autores propõe
que se tenham pesquisas para identificar quais os fatores que interferem nas ações dos
trabalhadores, para que assim sejam criadas estratégias de intervenções
organizacionais, afinal: “as pessoas são o principal meio de atingir os objetivos
organizacionais. Nesse sentido sua preparação é essencial, assim como é essencial,
também, a clara definição dos objetivos”. ((KIENEN & WOLFF , 2002, p.35)
Dantas & Henriques (2020, p.3), cita que “os relacionamentos interpessoais
podem ser vistos como processo de interação social, entre duas ou mais pessoas e que
provocam mudanças no comportamento dos indivíduos envolvidos”. Esta interação
acontece entre duas pessoas ou mais pessoas, em organizações formais ou informais.
As autoras destacam a relevância de estudar estas relações, porque permite um maior
conhecimento intrapessoal e interpessoal. Entretanto, as transformações atuais na
maneira de comunicar-se, com o advento da tecnologia, contribuíram para um maior
distanciamento presencial, mas também permitiu inovações no processo de
comunicação e de relações, tanto na vida pessoal, como na vida ocupacional.
outros aspectos biopsicossociais e também aceitar os conflitos nas relações, pois eles
contribuem para que as mudanças pessoais, grupais e sociais ocorram. Outro aspecto
relevante que é trazido pelas autoras é a preocupação com a saúde mental, que as
empresas devem ter, já que o adoecimento mental pode prejudicar também os
resultados esperados pela organização. E foi percebido que a motivação através do
reconhecimento, permitem que estes profissionais sintam que seu trabalho está sendo
válido e importante, ajudando-o a evitar a fadiga mental.
profissional do policial na maioria das vezes ele atua diante do elemento surpresa, ou
seja, não há uma confirmação que determinada ocorrência irá acontecer. Pode até
haver uma previsão, mas não uma certeza absoluta. Sendo assim, muitas vezes o
policial agirá com proatividade.
Em seguida Marques (2021) traz o RESPEITO como uma atitude positiva que
visa aceitar o outro com suas qualidades e defeitos, sem ultrapassar os limites
atribuídos na relação construída dentro da organização. Numa instituição militar tal
atitude precisa ser aplicada de forma contínua, praticando o respeito a função exercida,
o respeito a hierarquia e disciplina, o respeito a sociedade, o respeito aos subordinados,
o respeito aos superiores, o respeito entre pares, o respeito a instituição, mas acima de
tudo, o respeito a quem veste a farda, pois se não for respeitada cada pessoa em sua
singularidade, será difícil o respeito na coletividade.
uma pessoa tivesse uma verdade única. No exercício profissional do policial militar
também se faz necessário ficar atento as colocações dos colegas e/ou comandantes,
mesmo que seja divergente da sua forma de pensar, salientando que ficar atento não
quer dizer mudar de opinião, mas sim, primeiramente analisar, se concorda ou
discorda, porém respeita.
policial militar também exige adequação na comunicação verbal e não verbal, pois o
público alvo direcionado as atividades policiais, é bastante diversificado.
5. QUALIDADE DE VIDA
como direito, retrata através da Constituição Federal em seu Art.7º, que: “são direitos
dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:
... XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança;” (p.50). Por esse motivo a autora traz que “a proteção da saúde, a promoção
da saúde e da qualidade de vida no trabalho, além de dever do empregador, se coloca
como um imperativo de natureza ética àqueles que gerenciam a força de trabalho”
(SILVEIRA,2016, p.50).
garantam este bem estar, precisam estar cientes que tais ações necessitará de políticas
de setores diversificados.
Neste relatório final, exposto por Silveira (2016), foi analisado a qualidade de
vida e saúde dos trabalhadores da Segurança Pública no Brasil e observou-se pela
autora pouco dados sobre esta temática, não sendo priorizado orçamentos públicos
destinados a estes serviços e quando há iniciativas sobre qualidade de vida, há uma
ausência de integração entre as seções. O interessante é que segundo a autora há até
um destaque sobre estes trabalhadores nas políticas públicas, porém os temas são:
dados sobre homícidos, violência policial, corrupção, roubos, entretanto, quando o
assunto é qualidade de vida no trabalho, pouco aparece estudos ou ações que avaliem
o impacto de variáveis, como satisfação do trabalho, presenteísmo, absenteísmo, auto
percepção, dentre outras.
Silveira (2016), acredita que estas poucas ações protetivas, que promovam à
saúde e qualidade de vida no trabalho na Segurança Pública, pode ser explicada por
causa da reduzida representação na defesa dos seus interesses. A autora destaca que
os trabalhadores de saúde, possui muito mais representatividade e por esse motivo
conseguem alcançar mais melhorias para sua categoria , além de mais estudos e
pesquisas dessa temática.
Martel e Dupuis A QVT deve ser vista como a condição do indivíduo em sua
(2006) buscados objetivos idealizados em relação com o trabalho. A
redução, para os trabalhadores, da distância entre a realidade
e o que se pretende atingir favorece o bom funcionamento da
empresa e da sociedade. Deve haver equilíbrio entre os objetivos
pessoais e os objetivos da organização, para que haja
favorecimento tanto do desempenho organizacional quanto
da qualidade de vida geral das pessoas. Assim a QVT, “num
determinado momento, corresponde a uma condição vivenciada pelo
indivíduo na busca de seus objetivos hierarquicamente organizados
no domínio do trabalho onde a redução do gap que separa o
indivíduo de seus objetivos se reflete num impacto positivo da
qualidade de vida geral do individuo, o desempenho
organizacional e consequentemente para o funcionamento de toda a
sociedade.
Bhanugopan e Fish Os autores sugerem que os indicadores de QVT são:
(2008) ausência de stress no trabalho, ausência de burnout1,
ausência de desejo de trocar de emprego e satisfação no
trabalho.
Connel e Hannif Sugerem quatro dimensões para a QVT: conteúdo do
(2009) trabalho, equilíbrio vida profissional e
extraprofissional, estilo e estratégia de supervisão e
gestão.
Zare et. al (2012) Atribuem a QVT a quatro dimensões:1-equilíbrio entre
trabalho e vida extra trabalho (horário de trabalho justo,
ambiente trabalho salubre, oportunidade para o
exercício da vida religiosa, ergonomia, ausência de
danos físicos e mentais decorrentes do trabalho,
distância entre local de trabalho e casa); 2- importância
do trabalho na sociedade (integração social na
organização, redes sociais no trabalho, respeito aos
empregados, sentimento de auto- estima, ter bons
colegas); 3- fatores econômicos (salário, acesso a serviço
de saúde, seguros, previdência, segurança no
trabalho);4- conteúdo do trabalho (trabalho da equipe,
independência, trabalho significativo, trabalho rico e
desafiador, sentimento de propriedade no trabalho,
criatividade no trabalho, oportunidade de crescimento).
Dimensão Fator
Processo de Trabalho Conteúdo do trabalho, desafio do
trabalho, riqueza do trabalho, trabalho
significativo, autonomia no trabalho,e
autonomia e clareza de papeis no
trabalho.
Meio ambiente e instalações de Condições do meio ambiente de
trabalho trabalho e disponibilidade de serviços
de bem estar social.
Segurança no trabalho Proteção contra a demissão imotivada.
Saúde, Stress e Segurança Saúde e segurança no trabalho,
proteçãocontra doenças e lesões dentro
e fora do local de trabalho; programas
de saúde no trabalho, estresse no
trabalho, e ausência de burnout no
trabalho.
Salários e Prêmios Remuneração justa e adequada, para o
bom desempenho, sistemas de
recompensas inovadores, políticas de
promoção, consideração da
antiguidade e do merecimento na
promoção e nas ofertas de
desenvolvimento.
Equilibrio na vida profissional e extra Jornada de trabalho não excessiva e
profissional possibilidade de horários alternativos
Estética e criatividade Estética geral, tempo livre no local de
trabalho, possibilidade de exercício da
criatividade no local de trabalho.
Conflito Trabalho cooperativo entre colegas,
adequação de recursos, equilíbrio
organizacional e existência de
instâncias para manifestar insatisfação.
Aprendizado e desenvolvimento Enfase no desenvolvimento de
habilidades dos trabalhadores,
possibilidade de aprender e usar novas
habilidades, treinamento para
melhorar as habilidades de trabalho,
criação de oportunidades de
aprendizado, possibilidades de
progressão para o
profissionalismo, progressão no
emprego e na carreira.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – NOVEMBRO – PMBA 22
Percorrendo pelo Brasil, através dos estudos trazidos por Silveira (2016),
observou-se na região metropolitana de Florianóplis um índice alto de transtornos
mentais entre oficiais, que pode ser atribuído a alta responsabilidade diante da sua
função de liderança, responsáveis por tomada de decisões, onde possui um número
grande de subordinados que dependem de suas deliberações assertivas, que não
impactem na integridade física, na segurança e na vida dos subordinados. Na Paraíba
verificou-se que a quantidade de funções acumuladas em tarefas distintas é causadora
de sofrimento. Em Recife, as demandas psicológicas e físicas foram encontradas em
sua maioria em policiais que possuem cargas excessivas de trabalho, ausência de apoio
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – NOVEMBRO – PMBA 24
social por parte dos superiores hierárquicos e pouca folga semanal, que podem serem
entendidas de forma mais clara diante dos dados abaixo:
Silveira (2016) também trouxe dados em seu relatório final que na cidade de
Trindade (GO), a maioria dos policiais militares pesquisados entre 28 e 46 anos
apresentaram sobrepeso e alguns eram obesos, trazendo este dado como algo
preocupante devido ao aumento de risco de adquirir doenças crônicas, além da
dificuldade que pode apresentar no desempenho laboral.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – NOVEMBRO – PMBA 25
A Bahia também foi pesquisada, como pode ser observado neste resultado
apresentado por Silveira (2016, p. 41) apud Lima Filho e Cassundé (2015) realizado na
cidade de Casa Nova (BA), sendo utilizado o instrumento Job Diagnostic Survey, onde
observou-se: “...alto nível de insatisfação com a tarefa desempenhada, com a ausência
de feedback institucional e a alta carga de trabalho. Contudo, os policiais
manifestaram satisfação em relação ao reconhecimento da atividade junto à
comunidade, o que proporciona sentimento de realização pessoal”.
CGM
Categoria salários e
prêmios
Temas Exemplo de Ação Instituição Ofertante
Sistemas de Oferta de escola para filhos de CP
recompensas trabalhadores M
CP
Programa de apoio a militares presos M
e assistência social Programa de apoio ás famílias em CP
caso de óbito em serviço M
Apoio psicopedagógico a filhos
CPM
de trabalhadores
Empréstimo para aquisição de casa CCB, CPM
própria CCB, CPM
Subsidio para aquisição de moradia CPM
popular Atendimento
CP
Social ao trabalhador em
vulnerabilidade Econômica M
Atendimento Social ao trabalhador
vítima de intempérie natural e CP
sinistro
Cessão de moradia temporária M
para trabalhadores ameaçados
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Categoria Espiritualidade e
Tolerância
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – NOVEMBRO – PMBA 30
Instituição
Temas Exemplo de ação ofertante
Tolerância Ações para inclusão e CCB, BGM
enfrentamento ao
preconceito LGBT
Siglas: Estados A,B,C,C ; Instituições: Polícia Militar = PM, Polícia Civil =PC, Corpo de
Bombeiros =CB, Guarda Municipal=GM, a = Associação. FONTE: SILVEIRA, (2016).
esta relação saúde mental e trabalho pode aparecer como ergoterapia, quando este
labor traz benefícios positivos, se constituindo portanto um recurso terapêutico ou
pode surgir como psicopatologia do trabalho, quando acarreta a debilitação da saúde
de maneira patogênica. Daí a relevância da continuidade de estudos sobre esta
temática.
____________________________________________________________________________________________
Psicóloga, Tenente (PMBA), Mestranda em Segurança Pública, Justiça e Cidadania, Especialista em Gestão em
Saúde, Especialista em Saúde Mental com ênfase em Dependência Química, Família e Comunidade, Especialista
em Inclusão e Diversidade na Educação
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – NOVEMBRO – PMBA 33
Na PMBA, outro fator que pode ser trazido sobre esta temática é a
importância do estabelecimento de um relacionamento interpessoal saudável entre o
gestor, na pessoa do Comandante e a tropa, chamados de subordinados. É comum na
linguagem miliciana a palavra superior, para os policiais hierarquicamente com posto
ou graduação acima e subordinado, para posto ou graduação abaixo; entretanto estas
colocações não dizem respeitos a superioridade ou inferioridade no sentido de ser
melhor ou pior, portanto não se refere a pessoa, mas sim a função que ela exerce. Os
policiais que relatam um maior grau de satisfação quanto ao seu trabalho, tanto os
oficiais (Tenente, Capitão, Major, Tenente Coronel, Coronel), como as praças
(Soldados, Cabos, Sargentos, Subtenentes), confirmam ter uma boa relação com o
outro na Unidade que trabalha, e uma boa convivência, quando existe a oferta de
espaços de escuta e diálogo; e um processo empático nesta relação.
ESTRESSE OCUPACIONAL
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – NOVEMBRO – PMBA 36
Em virtude dos fatos mencionados, não será possível a retirada do risco que
os policiais militares passam diariamente em serviço ou quando de folga, nem poderá
evitar o estresse causado ao lidar com as ocorrências e situações inerentes ao seu
serviço. Também não mudará a sua posição dentre às profissões que mais contribuem
com o adoecimento físico e mental. Como pode ser visto é uma profissão essencial, que
nem este cenário de pandemia evitou sua exposição ao risco de contaminação, pois
não poderia deixar de trabalhar, nem ser possível que agentes de segurança pública
permanecesse em home office.
Sendo assim não restam dúvidas, que se faz necessário o poder público
analisar quais ações podem ser efetivadas a fim que estes policiais militares e também
bombeiros militares, policiais civis, que certamente enfrentam esta mesma realidade,
senão for igual, será semelhante em alguns aspectos, a fim que eles possam ter uma
vida mais saudável no que se refere às dimensões afetivo-emocional, física, social e
financeira. Também é primordial que haja mais estudos sobre esta temática, ainda é
muito carente a produção científica sobre a saúde destes trabalhadores.
ajuda. Que seja incentivado portanto, o sentimento humanitário, tão necessário para a
estabilidade emocional.
Sabino & Santana (2012), apresenta reflexões sobre o estresse policial militar
e seus efeitos psicossociais. Inicialmente os autores ressaltam que o estresse integra a
realidade da vida do policial, e certamente afetará seu comportamento em sua vida
laboral, como em sua vida privada. Enfatiza também que é multifatorial os motivos
que levam ao surgimento dos sintomas do estresse, exemplificando a especifidade do
tipo de serviço, exposição a contumaz situações de desgastes físicos, mental e
emocional; o frequente convívio em situações de violência, injustiças, risco de morrer
e matar.
Segundo Sabino & Santana (2012) devido estas situações que motivam o
surgimento do estresse, o policial militar tem a necessidade de compensação, e se
percebe se afastando do seu núcleo familiar e buscando o extravasamento em relações
extraconjugais, além da mudança comportamental, tendo algumas vezes atitudes de
arbritariedade, agressividade e grosserias. Outro fator preocupante apontado pelos
autores é o fato destes agentes estressores aliados a outros problemas emocionais
contribuir para elevados índices de divórcio, dependência química e suicídio, além do
constante estado alerta, seja durante o serviço ou nos momentos de folga e esta tensão
muitas vezes interferem em seus pensamentos, ações. “Em matéria intitulada na revista
“Isto É” (09-08-95), “Os campeões da neurose”, segundo a revista, estudos feitos pelo instituto
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Manchester na Inglaterra, apontam a profissão
policialcomo a segunda mais estressante do mundo” (SABINO & SANTANA, 2012, p.5).
Nos estudos que Sabino & Santana (2012) foi verificado que vários autores
realizaram pesquisas para identificar os principais elementos estressores na rotina de
um policial militar e dos 80 motivos encontrados, três trousseram uma maior
importância: “... morte de colega no cumprimento do dever; matar alguém no
cumprimento do dever e contato com a exposição de crianças espancadas ou mortas” (p.6).
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – NOVEMBRO – PMBA 38
De acordo com Sabino & Santana (2012) o estresse pode interferir na maneira
do policial se comportar e por esse motivo foi percebido que as instituições já ofertam
ajuda profissional que visam minimizar o adoecimento físico e mental e ainda propõe
programas destinados à prevenção. Na PMBA por exemplo, desde 2016 está sendo
ofertado ao seu efetivo um curso com técnicas de respiração através do Programa Arte
de Viver que visa contribuir para que o policial militar aprenda a lidar com estresse.
Sendo assim os autores concluem que apesar da complexidade do combate ao estresse
e a ansiedade entre os profissionais que atuam como policiais militares, existe chances
de sucesso nas ações de enfrentamento, desde que haja uma participação ativa da
família, dos amigos e dos colegas.
Dias & Andrade (2020, p.195) apud Gutierrez (2000) menciona cinco
elementos que normalmente aparecem em indivíduos que sofrem de síndrome de
burnout:
a) Predomínio de sintomas como cansaço mental e/ou emocional,
fadiga e depressão;
b) Evidência observada em um âmbito mental/conduta mais do
que emsintomas físicos;
c) Sintomas relacionados com o trabalho;
d) Manifestação da síndrome em pessoas "normais" e sadias que não
sofriamanteriormente de nenhuma alteração psicopatológica;
e) Observação de redução da efetividade e do rendimento no
trabalho.
De acordo com Dias & Andrade (2012), deverá ter uma atenção mais
ampliada para os níveis da Síndrome de Pânico entre policiais militares. Inicialmente
a Exaustão Emocional, caso ele esteja elevada; a Desporsonalização, que refere-se a
forma de tratamento frio e rispido para com os colegas e clientes; a baixa Realização
Pessoal, onde ele foge e se desanima em relação a ida ao trabalho. Por esse motivo se
faz necessário ações voltadas a minimizar os efeitos adoecedores, com o uso de
estratégias de enfrentamento, como as sugerida por Dias & Andrade (2012, p.199)
apud Silva et al. (2016):
É importante salientar que quando uma organização seja ela militar ou não,
começa ficar atenta a saúde emocional e qualidade de vida dos seus funcionários,
propondo ações que visem ajudar e enfrentar as demandas na saúde física, mental e
social, através de intervenções preventivas e pósventivas, certamente esta instituição
evitará o fracasso no alcance dos objetivos planejados e esperados, obtendo assim o
sucesso organizacional. Afinal, por traz de um fardamento existe um ser humano, com
sonhos, alegrias, tristezas, medos e fé.
CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS – NOVEMBRO – PMBA 42
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