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urbanização e industrialização
José Miguel Arias Neto
Professor adjunto do Departamento de História
da Universidade Estadual de Londrina.
INTRODUÇÃO
DO IMPÉRIO À REPÚBLICA
PRINCIPAIS P R O D U T O S D E E X P O R T A Ç Ã O 1 8 2 1 - 1 8 9 0
(°/o na receita das e x p o r t a ç õ e s )
Fonte: Silva, 1953 & Vilela & Suzigan, 1973 apud Singer, 1989, p. 355.
Uma outra questão diz respeito ao fato de que, apesar das experiências rea-
lizadas com a introdução do trabalho livre, a mão de obra empregada na econo-
mia cafeeira era majoritariamente escrava. É importante observar ainda o fato
de que a grande produção, a partir da década de 1870, estava vinculada ao des-
locamento do centro dinâmico da cafeicultura para as férteis terras roxas do Oeste
paulista, isto é, à abertura de novas áreas de plantio, em decorrência do esgota-
mento do solo, predatoriamente explorado, no vale do Paraíba.
F, fundamental abordar aqui a questão da substituição do trabalho escra-
vo pelo trabalho livre, bem como das relações deste primeiro desenvolvimento
cafeeiro com a economia internacional e com a indústria. Problema dos mais
complexos diz respeito às relações entre trabalho escravo e trabalho livre no
Brasil. Em termos globais, pode-se dizer que, desde o século XVI, trabalho
escravo e trabalho livre faziam parte de um todo integrado. Vários autores,
como Prado Jr. (1990), Mello e Souza (1982), Dias (1984), Franco (1983),
investigaram o problema da inserção do homem livre pobre na sociedade
colonial. O que importa neste texto, entretanto, é compreender a dinâmica
das transformações no fim do século que levaram à implantação do colonato
nas fazendas de café, baseado na imigração, e não no trabalhador livre na-
cional e no liberto.
Conforme demonstraram vários estudiosos do sistema colonial, desde
cedo no Brasil formou-se uma camada de homens livres pobres cuja existên-
cia estava atada descontinuamente à economia mercantil. Ocupavam lugares
<ti' u limado fisaavoT istp é^da produção agroexportadora.
se n do ai guniiii_y^zjs5ubí^diária_dãqu e 1 ajÇomCLnajir o d u ç ã o ^ e a l iment os,
in4úírÇ«Aíi-daai£süça^ seryiçamilitar etc. Pode-se falar, grosso modo,
qiie„era ü agregado,.da-grandfí pmpnedade 1 _o_lavrador que_CGmercializava
pequenos exçgdeiitgs..alimentaresjias cidades,
dasj çomn art£SÍOS urbano^mnwfthwirrni etr De acordo com Maria Sylvia
de Carvalho Franco (1978, p. 184), em fins do século X I X esse contingente
abrangia três quartos da população do país. Nesse momento, em que a escra-
vidão já estava condenada, isto é, que a expansão dos mercados mundiais
pressupunha a generalização do trabalho livre,
estava consolidada, nas populações pobres brasileiras, toda uma cultura que
dificultaria a formação de uma camada de assalariados. Mesmo em nível ideo-
lógico estes obstáculos aparecem elaborados: nas representações desses gru-
pos há um vivo sentimento de desprezo pela condição de homem alugado.
Em resumo, [...] quando abolida a escravidão, embora houvesse um potencial
grande de mão de obra livre, este não fora totalmente expropriado e não sofria
pressões econômicas suficientes para transformar-se em força de trabalho as-
salariado. O fazendeiro voltou-se, pois, para o exterior, em busca dos braços
de que ele necessitava (Franco, 1 9 8 4 , p. 1 8 7 - 1 9 0 ) .
É pertinente enfatizar esse aspecto, isto é, que após a abolição do tráfico ficou
claro que a escravidão estava condenada. A partir desse momento houve cons-
tante preocupação, por parte dos fazendeiros e do governo, em encontrar uma
"solução" para o "problema da mão de obra". Para as elites brasileiras isso im-
plicaria substituir o negro nas fazendas, pois consideravam-no racialmente infe-
rior e acreditavam que manchava o trabalho manual com o estigma da escravidão,
ou seja, para a manutenção e o desenvolvimento da produção seria necessário
um trabalhador imbuído da ideologia do trabalho livre que se formava na Euro-
pa. Em outras palavras, de_veriaj!fir 'IT^ ^ ^ ^ q i l f ar rfílifíissr q11^ " rrahalW
liberta epropicia o acesso à propriedads-e-à-acumulação de hens-
A introdução de trabalhadores livres em um país cujas terras eram doadas
segundo o velho princípio colonial, ou simplesmente ocupadas, se afiguraria um
problema na medida em que se desejava que aqueles trabalhadores se dirigissem
às fazendas de café. Assim^jKMnesmo ano de 1850 foi votada a chamada Leide
-Ierras. que estabeleceu o princípio da propriedade privada. A mesma lei fez CÇHD
^qiie_asjerras devolutas, nu seja, sem proprietários, tornassem-se d Í T o r " ' v e i s
^exploração capitalista. Consequentemente, os homens sem recursos para terras
deveriam, necessariamente, dirigir-se às fazendasTSilva, 198S, p. 70 e segs.).
Trazer imigrantes europeus acenando-lhes com a possibilidade de acu-
mularem certo capital e adquirirem terras constituiu o núcleo central da pro-
paganda imigrantista e é certo que muitos imigrantes adquiriam pequenas
propriedades. Contudo, a historiografia brasileira já demonstrou e estudos
mais recentes confirmaram (Petrone, 1984; Stolcke, 1986) que isso ocorreu
em uma escala muito menor do que normalmente se imagina e crê. Segundo
Maria Thereza Schorer Petrone, nesse período, " o acesso à terra depois de
um estágio na fazenda fazia dos projetos de criação de pequena propriedade
uma 'isca' para atrair imigrantes" (Petrone, 1984, p. 48).
Após as primeiras experiências com imigrantes, já a partir da década de 1840
— parceria e contrato de locação de serviços feitos através de iniciativa particu-
lar —, ficou claro para os fazendeiros que somente um processo migratório sub-
vencionado pelo Estado representaria uma alternativa viável para a substituição
do escravo. A subvenção estatal permitiu o deslocamento de capitais (inicialmente
invertidos na compra do escravo no tráfico interprovincial e na subvenção do
imigrante com transporte, alimentação etc.) para o setor da produção, isto é,
para a ampliação da cafeicultura. Por outro lado, xtsjovos imigrantesJWam
inseridosnosistema que ficou conhecido como colonatosno qual parte do salá-
rio era paga por tarefa (carpa/colheita etc.) e parte através da possibilidade do
trabalhadordesenvqlver uma agricultura de gêneros alimentíriosrísando à sua
subsistência. Ksse sistema foi altamente lucrativo pois, de um lado, liberava capi-
tais anteriormente empregados na manutenção do escravo e, de outro, aumen-
tava a produtividade da fazenda na medida em que, sgndo o salário pago_por
tarefa, implantava-se definitivamente uma moderna disciplina de trabalho nas
fazendas, baseada na coação econômica da trabalhador. Posteriormente implan-
tou-se um sistema misto de remuneração por tarefa e por medida colhida, o que
significava, na prática, uma pressão maior no sentido do aumento da produtivi-
dade. Há que destacar, ainda, que, embora os contratos fossem individuais, os
fazendeiros contavam com a força do trabalho de toda a família do colono, daí
a preferência dos fazendeiros pela imigração familiar. A partir de 1870 a provín-
cia de São Paulo passou a subvencionar a imigração, e o governo imperial a par-
tir do fim da década seguinte. O trabalhador foi submetido a esse sistema pela
impossibilidade de adquirir terras ou pela concorrência por emprego com a cria-
ção de um grande mercado de mão de obra livre pela grande imigração:
DADOS DE IMIGRAÇÃO
( E n t r a d a s p o r década)
1850 177.000
1860 108.187
1870 453.781
1880 527.000
1890 1.200.000
1900 649.000
1910 766.000
1920 846.000
EXPANSÃO FERROVIÁRIA 1 8 5 4 - 1 9 2 9
(em quilômetros)
Sob a a ç ã o deste jorro emissor não tardará que da [...] ativação dos negó-
cios se passe rapidamente para a especulação pura. C o m e ç a m a surgir em
grande n ú m e r o novas empresas de toda a ordem e finalidade. Eram ban-
cos, firmas comerciais, companhias industriais, de estradas de ferro, toda
sorte de negócios possíveis e impossíveis. E n t r e a [...] p r o c l a m a ç ã o da
República e o fim da aventura ( 1 8 9 1 ) incorporar-se-ão no Rio de J a n e i r o
sociedades c o m o capital global de 3 . 0 0 0 . 0 0 0 de c o n t o s ; ao iniciar-se a
especulação, isto é, n o v e m b r o de 1 8 8 9 , o capital de todas as sociedades
existentes no país apenas ultrapassava 8 0 0 . 0 0 0 c o n t o s . Quintuplicara-se
quase este capital em p o u c o mais de dois anos! [...] a quase totalidade das
novas empresas era fantástica e não tinha existência senão no papel. Or-
ganizavam-se apenas c o m o fito de emitir ações e despejá-las no m e r c a d o
de títulos, onde passavam rapidamente de m ã o em mão em valorizações
sucessivas [...] E m fins de 1 8 9 1 estoura a crise e rui o castelo de cartas
levantado pela especulação. [...] A débâcle arrastará muitas instituições de
bases mais sólidas, mas que não resistirão à crise; e as falências se multi-
plicam. O ano de 1 8 9 2 será de liquidação; conseguir-se-á amainar a tem-
pestade, mas ficará a herança desastrosa legada por dois anos de jogatina
e loucura: a massa imensa de papel inconversível em circulação. Esta su-
bira, entre 1 8 8 9 e 1 8 9 2 , de 2 0 6 . 0 0 0 contos para 5 6 1 . 0 0 0 . E c o m o não
será possível estancar de súbito este j o r r o emissor, a inflação ainda conti-
nuará nos anos seguintes (Prado Jr., 1 9 9 0 , p. 2 2 0 ) .
PRINCIPAIS P R O D U T O S DE E X P O R T A Ç Ã O 1 8 9 1 - 1 9 2 8
( % na receita das e x p o r t a ç õ e s )
Fonte: Silva, 1953 & Vilela & Suzigan, 1973 apud Singer, 1989, p. 355.
DADOS INDUSTRIAIS 1 9 0 7
tal cafeeiro- A partir^ de fins da década de 1930 e nos anos seguintes a acumula-
d o industrial p a s ^ i y fcrarlnrivampnr^ a ^rjVniH:impiitiirl:i rpjTmHiirãrw^
jjrpplinç?'^'» p r n p r i » rapjffll.
Resta saber como se processou o desenvolvimento industrial a partir do
início do século X X . Em primeiro lugar, foi beneficiado com a expansão da
economia cafeeira: o crescimento da área de plantio geralmente era precedido
ou, em algumas regiões — como por exemplo o norte do Paraná —, seguido
pela construção da ferrovia, que propiciava o escoamento da produção para
os portos, principalmente Santos e Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo funda-
vam-se novos núcleos urbanos, ampliavam-se as necessidades de consumo e
crescia a demanda do abastecimento. Parte dessas necessidades era satisfeita
com importações. O caso dos gêneros alimentícios é bastante exemplificador:
entre 1905 e 1930 eles representaram uma média aproximada de 2 4 % das
importações brasileiras (Cano, 1983, p. 274). Cada vez mais, contudo, a in-
dústria nacional passou a abastecer esse mercado em expansão.
É consagrada na historiografia brasileira a visão de que nos anos da guer-
ra, 1914 a 1918, graças ao fechamento do mercado internacional, ter-se-ia
consolidado uma indústria voltada para a substituição das importações. Esta
afirmação é, contudo, duvidosa, pois, se o mercado estava fechado às impor-
tações de produtos manufaturados, as importações de bens de capital, que
poderiam permitir a instalação de novas unidades, também sofriam a mesma
restrição. Os dados de importação de maquinaria da Grã-Bretanha, dos Es-
tados Unidos, da Alemanha e da França demonstram que no período de 1908
a 1913 o total das compras junto àqueles países foi de 9,5 milhões de libras
aproximadamente, perfazendo uma média de 1,9 milhão de libras ao ano.
Nos anos da guerra, isto é, d e l 9 1 4 a l 9 1 8 , o total das importações foi de
apenas 2,7 milhões de libras, o que representa uma média de 5 5 0 mil libras
ao ano. Em outras palavras, os índices de importação de maquinaria caiu três
vezes e meia em relação ao período anterior. Finalmente, no período que vai
de 1919 a 1930, o total de importações de máquinas foi de 22,6 milhões de
libras, o que representa uma média anual de 1,8 milhão de libras, ou seja,
após a guerra a média de importação retomou os níveis de 1 9 0 8 - 1 9 1 3
(Suzigan, 1986, p. 361-363). A i séries documentai levantadas por Suzigan
confirmam que as importações de máquinas para geração de energia para a
indústria têxtil e para indústrias de cimento, cal e cerâmica, alimentos, bebi-
das, cigarros e charutos predominaram em todo o período abordado neste
texto.
DADOS INDUSTRIAIS 1 9 2 0
N Ú M E R O DE CAPITAL FORÇA N Ú M E R O DE
EMPRESAS (CONTOS) MOTRIZ OPERÁRIOS
(C.V.)
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BIBLIOGRAFIA