O texto de Lilia é bastante explicativo e exemplificativo, então, por via
desta característica a aula acerca da temática do texto foi expositiva, como uma introdução que ocorreu através de seminário.
Para a autora o processo de modernização e racionalização ocorrido pós
a abolição da escravatura excluiu determinados setores da sociedade, portanto, certa parcela social, mesmo munida de liberdade e igualdade jurídica, era colocada de escanteio nesse processo de institucionalização no qual se formava a sociedade brasileira. A constituição de 1889 não concretizou a utopia de igualdade, liberdade e cidadania, então, logo se tinha a certeza por parte dos brancos de que a não plenitude da sociedade derivava da liberdade concedida aos afrodescendentes, dos imigrantes e da má organização das cidades, tornando evidente a concepção da época que o descontrole dos valores e da cultura era consequência das “misturas”. A partir deste ideal, vigoraram, então, as políticas higienistas pautadas no Darwinismo racial, então, favorecendo interpretações negativas até mesmo do ponto cientifico acerca da miscigenação.
A situação econômica do período só colaborava para o maior
empobrecimento da parcela que já era excluída do processo de modernização e racionalização. Moradia, transporte e alimentos se encareciam, enquanto a população do campo migrava para as cidades expulsa pelas secas, crise de produção e agrária. Todo esse cenário contribuía para que as cidades fossem sobrecarregadas de trabalhadores informais e moradias irregulares, principalmente de negros e mestiços.
Este espaço na história do Brasil era marcado por crenças paradoxais:
ao mesmo tempo em que viam negativamente a situação em que se encontrava o país e a sensação de insegurança que era recorrente, acreditavam profundamente no progresso, num futuro moderno e no melhoramento das cidades através do capitalismo. Neste momento o Brasil previa mudanças e transformações, mas mantinha certas continuidades, principalmente ao que tange os setores sociais. Perante as políticas higienistas que vigoravam na época, as cidades se tornaram o oposto do interior. As cidades exibiam cenários comparados ao da Europa, enquanto no interior e nos subúrbios viviam os indígenas, negros libertos, mulatos. Era preciso que os espaços públicos urbanos fossem cuidados enquanto a parcela pobre era jogada para os subúrbios e literalmente posta pra fora das cidades que se modernizavam. Ou seja, aqueles que não tinham poder social eram postos a margem da sociedade. Então o Brasil da virada do século XIX para o XX via-se em processo de modernização e racionalização, expresso sob a forma de avanços arquitetônicos e técnicos, mas, isso não significa que o processo chegaria a todos os locais do país e a toda população.
A modernidade promoveu o embelezamento e crescimento das cidades
(com casas modernas, luz elétrica, água encanada, saneamento básico) ao mesmo passo que expulsava a pobreza e colocava certa população nas periferias e subúrbios para que essas populações fossem para longe das cidades em transformação. As três maiores cidades da época contavam com as transformações: Rio de Janeiro se reformulava em função da Republica, São Paulo era a cidade símbolo econômico e Belo Horizonte a capital. Todas com grande modernidade, mas com certas estruturas tradicionais sendo mantidas.
A Revolta da vacina, ocorrida no Rio De Janeiro em 1904, é exemplo
claro das políticas higienistas e autoritárias que vigoravam na época, buscava- se o controle das doenças e, ao mesmo tempo, o controle da população, já que as doenças que afetavam a população dos subúrbios também chegava para afetar os moradores das novas cidades. Assim como o conflito de canudos que teve sertanejos massacrados pelo exercito da modernidade, tornando evidente que alguns setores sociais seriam postos às margens. Ou também a Revolta do Contestado ocorrido entre 1912 e 1916 na região entre o Paraná e Santa Catarina, na qual os revoltosos se autointerpretavam como distantes da modernidade. Não só o trabalho do campo sofria grandes reparações, mas também os trabalhadores das cidades que sofriam com as condições de trabalho semelhantes as da Revolução Industrial inglesa, com exploração, baixos salários e horário fixo só de entrada. Esta situação acabou por gerar inúmeras greves, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, nas primeiras décadas do século XX, revelando as fragilidades do projeto republicano.
Os imigrantes europeus, sobretudo espanhóis, italianos e alemães,
vieram para o Brasil muito mais habituados ao trabalho urbano do que ao trabalho rural, então além das migrações internas, as externas também contribuíam para o crescimento das cidades que se desenvolviam neste período. As cidades cresciam, mas o trabalho agrícola permanecia bastante significativo, segundo um censo de 1920, 6,3 milhões de pessoas se dedicavam ao trabalho rural.
Longe dos sertões bravios reinava a “cidade moderna”, local de
igualdade e cidadania. Porém, a cidadania seria, como vimos, dedicada a poucos e, desta forma, outras parcelas estariam isoladas, principalmente, os herdeiros da escravidão que sem a experiência necessária nas cidades, não dispunham das ferramentas sociais para competir em igualdade de condições com os trabalhadores nacionais livres, ou mesmo com as populações imigrantes que traziam consigo suas especializações e hábitos urbanos. Com a crescente das teorias raciais, recaia sobre os negros ex trabalhadores escravos o fardo de que sua falta de sucesso social estaria ligada com sua biologia, negando o seu passado de exploração e suas condições de vida.
Com estas condições os negros ex escravos misturavam-se com as
demais populações pobres, que também sofriam com a marginalização, caracterizando de forma plena a mestiçagem, característica que era repugnante neste período e passou a ser resignificada e transformada em símbolo do país somente no do Estado Novo, nos anos 30.
A Confederação Nagô-Macamba-Malunga dos Abolicionistas: O Movimento Social Abolicionista no Rio de Janeiro e as Ações Políticas de Libertos e Intelectuais Negros na Construção de um Projeto de Nação Para o Pós-Abolição no Brasil