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1 DESCRIÇÃO DO CASO
O Big Brother Brasil, BBB, é a versão brasileira do reality show Big Brother,
produzido e exibido pela Rede Globo, no qual os participantes além de confinados, seriam
submetidos a vigilância 24 horas por câmeras. O nome do programa deve-se ao livro 1984,
escrito por George Orwell, sendo uma crítica ao totalitarismo, no qual o Big Brother, ou
Grande Irmão, representado pela figura de um homem que, provavelmente, na trama, não
existe, é o ditador que tudo vê, vigiando e manipulando a forma de pensar dos habitantes da
distópica Oceania de Orwell através das chamadas teletelas.
Nesse sentido, é possível se observar no programa alguns pontos relevantes como a
manipulação, a alienação, o estímulo ao consumo induzido na audiência, a instrumentalização
de vidas humanas em busca do entretenimento, além do poder dado aos espectadores de
controlar diretamente os participantes.
Por outro lado, há quem defenda que tais programas são importantes fontes de
entretenimento, funcionando como um escapismo à realidade econômico-social da população,
e que, por refletir os comportamentos da sociedade, o programa é capaz de levantar grandes
discussões sobre fenômenos sociais, como a violência, racismo etc. Dessa maneira, questiona-
se a verdadeira essência de programas como o BBB.
Em várias edições do Big Brother Brasil foi possível perceber a presença de varias
figuras marcantes como por exemplo a advogada e vencedora do reality, Juliette Freire
Feitosa; a cantora, compositora e atriz Lina Pereira dos Santos, mais conhecida como Linn da
Quebrada, entre outros. Tais personalidades despertaram interesse e se tornaram objeto de
estudo através de suas trajetórias e da perseguição sofrida dentro e fora do programa, gerando,
assim, identificação pelo público.
Em primeira análise, observa-se, referente ao que foi dito anteriormente, que o
programa, querendo ou não, como analisado por Maria Lilia Dias de Castro(2006) em seu
livro “Televisão entre o mercado e a academia”, abriu portas para a identificação da audiência
com o agrupamento de pessoas anônimas que participam dos programas e também para
debates de grande relevância no plano social, visto que esse reality é um entretenimento
diretamente intrínseco à realidade de quem assiste, causando, assim, uma identificação.
Além disso, o reality show, através das narrativas militantes, também é um formador
de opiniões, visto que, através dele, o telespectador cria uma realidade a partir de outra que
lhe é apresentada. Nesse sentido, Douglas Kellner (2020), filósofo norte-americano,
argumenta que espetáculos são aqueles fenômenos de cultura da mídia que representam
valores básicos da sociedade contemporânea, determinam o comportamento dos indivíduos e
dramatizam suas controvérsias e lutas, tanto quanto seus modelos para as soluções de
conflitos.
Através do exposto, é possível afirmar que o público e participantes aprendem com a
experiência de quem está na casa sobre pautas sociais como machismo, racismo, xenofobia,
LBTQI+, desigualdade social e preconceitos; assuntos expostos no programa que logo passam
às análises de espectadores e comentaristas na internet.
Pão e Circo, ou Panem et Circenses, em latim, é uma das expressões mais famosas
do mundo antigo, que sugere que com “comida e diversão” seria possível manobrar
politicamente a população. Diante da crise que perdurava no Antigo Império Romano, Jérôme
Carcopino (1970) descreve em seu livro “A vida cotidiana: Roma no apogeu do Império” que
os imperadores romanos, Césares, deveriam controlar a plebe pois a mesma era uma massa
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ociosa ao trabalho, com bastante tempo livre para “debilitar” a ordem política e social
instalada no período imperial romana, e que, caso não fosse ocupada com distrações, seria
perigosa, e, portanto poderia, a qualquer momento, se manifestar de forma violenta, ou seja,
rebelar-se contra o poder vigente, incitando assim uma revolta.
Não muito longe da antiga realidade romana, no Brasil, programas e realities shows
como o Big Brother Brasil distraem e alienam a população brasileira em relação aos
problemas da nação, como os altos índice de desemprego e de analfabetismo, a falta de
moradia, a situação de pobreza extrema, entre outros problemas que participam da vida
cotidiana de muitos brasileiros.
Porém, esse não é a única função ou papel atribuído à realities semelhantes ao BBB,
eles também se encarregam de controlar e manipular a sociedade brasileira. É possível
compreender esse pensamento através do que o escritor e pensador francês Guy Debord(2014)
descreve como “sociedade do espetáculo”, que seria uma sociedade dominada por imagens,
onde a vida moderna escolhe a representação ao invés da realidade e onde a mídia tem poder
persuasivo e domina a vida do ser humano através de imagens. Nesse sentido, o BBB, por
meio da produção contínua de novas imagens e mercadorias, influencia a forma de pensar,
agir e, principalmente, consumir das pessoas. Tal fato é possível ser observado através de
dados expostos pela revista Exame que relata que, em 2020, após a primeira ação da C&A na
casa, o tráfego orgânico para o site da marca aumentou 340%, mostrando, assim, o poder
exercido por esses programas na população.
2.3 Descrição dos critérios e valores (explícitos e/ou implícitos) contidos em cada
decisão possível
REFERÊNCIAS
CASTRO, C. Questão das identidades em Big Brother. Em E.B. Duarte & M. L.D.
Castro (Orgs.), Televisão – entre o mercado e a academia (pp. 269-283 ). Porto Alegre:
Editora Sulina, 2006
CARCOPINO, J. Daily life in ancient Rome: The people and the city at the
height of the empire. Harlow, England: Penguin Books, 1970.
DEBORD, G. La Socidad del Espect culo. Tradução: Colectivo Maldeojo. [s.l.]
Gegner, 2014.