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CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA
8º E / 7° D - NOTURNO

DISCUSSÃO DO DOCUMENTÁRIO - FALCÃO: MENINOS DO


TRÁFICO

ENZO PIRES BAMONTE RGM: 2344254-9

GISELE SALES RAMOS DE ASSUMPÇÃO RGM: 2440414-4

INGRED SILVA SOUZA RGM: 2349441-7

LARISSA CAMARGO RGM: 2427718-5

LORENA MARTINS DE SOUZA BONO RGM: 2351858-8

LUANA CARDOSO CARDIM RGM: 2465333-1

LUCAS SANTIAGO DE CARVALHO RGM: 2477660-2

RAQUEL DA SILVA MENDES OLIVEIRA RGM: 2482855-6

STEFANO CICCONE CHINELATI RGM: 2268881-1

SÃO PAULO
2023
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………………3
2 JUSTIFICATIVA………………………………………………….………………….5
3 OBJETIVOS……………………………………………………………………….…6
3.1. Objetivos Gerais…………………………………….……………..6
3.2. Objetivos específicos…………………………..…………………6
4 DESENVOLVIMENTO………………………………………………………………
7
4.1. Análise Crítica……………………………………..……………….7
4.2. Propostas de intervenção………………………...…………….10
5 CONCLUSÃO………………………………………………………………..…….15
6 REFERÊNCIAS………………………………………………………………….…16
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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho possui um modelo de estudo com bases fundamentadas


na Psicologia da Libertação de Martin-Baró e na obra de Paulo Freire. O objetivo do
estudo é elaborar discussões e reflexões acerca da realidade retratada pelo
documentário “Falcão: meninos do tráfico”, a fim de buscar propostas de
intervenção para os graves problemas sociais mostrados na produção. Essa
abordagem é sem dúvidas, um grande desafio e irá proporcionar um contato,
embora distante, mas de suma relevância, com essa realidade.
“Falcão: Meninos do Tráfico” é um documentário brasileiro que foi lançado
em 2006 e dirigido pelo rapper MV Bill e seu produtor, Celso Athayde. A história
retrata a vida de crianças e adolescentes que vivem nas favelas do Rio de Janeiro,
envolvidos no tráfico de drogas e expostos a situações de violência e criminalidade.
A obra oferece um retrato cru e impactante da realidade vivida por esses jovens,
mostrando como muitos deles são recrutados por facções criminosas em um
contexto de falta de oportunidades econômicas e educacionais. A produção também
examina o papel das políticas públicas, ou a falta delas, no enfrentamento desses
desafios.
O documentário ganhou destaque e gerou discussões sobre as questões
sociais, econômicas e políticas, relacionadas à violência e ao tráfico de drogas nas
favelas do Brasil. Ele demonstra a necessidade de abordar essas questões de
maneira mais ampla, indo além das operações policiais e considerando a
importância de criar oportunidades e alternativas para jovens em comunidades
carentes. Trata-se de um documentário poderoso, que visa sensibilizar o público
para os desafios enfrentados por essas crianças e adolescentes e promove a
reflexão sobre as causas subjacentes da violência e da criminalidade nas áreas
urbanas.
O presente estudo busca trabalhar a consciência do papel e do compromisso
social da psicologia, desenvolvendo um debate crítico e lúcido sobre o real alcance
e participação no fortalecimento; conscientização; identidade; empoderamento;
entre outros aspectos, que abarcam o papel de um psicólogo. Embora a construção
dessa profissão se dê em um ambiente colonial e bastante hegemônico, nessa
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vivência é possível construir uma profunda crítica. Para o autor, a precariedade da


psicologia se relaciona com uma ideologia de reconversão.
Se faz necessário colocar-se fora desse espaço para buscar compreender a
realidade desses locais exclusivos, elevando sua consciência, observando e
descortinando o imenso sofrimento psíquico desses sujeitos e fundamentando a
construção desses espaços na medida em que se percebe todas as diversas
situações de exclusão social e perda de direitos básicos. Sendo assim, é preciso
buscar a dimensão da consciência em sua relação dialética e histórica entre o saber
e o fazer (Martin-Baró, 2011).
Neste debate crítico será possível proporcionar uma melhor elaboração e
acolhimento do sofrimento desses sujeitos, permitindo entender se é possível que
eles aprendam sobre essa submissão e os problemas sociais que afetam a sua
comunidade, contribuindo para o início de um processo contínuo de emancipação
na descoberta da relação entre alienação e consciência, ratificando o compromisso
social, ético e político da psicologia.
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2. JUSTIFICATIVA
Ao analisar o contexto apresentado, é possível perceber a fragilidade e
instabilidade em diversos âmbitos socioculturais desses indivíduos, como: estruturas
familiares fragilizadas; condições sociais instáveis; falta de acesso a cultura de
qualidade; desestimulação ao ensino e contato aproximado com a criminalidade
regional. Sejam crianças, adolescentes ou adultos, todos sofrem com a extrema
desigualdade social e a pobreza, sendo eles mesmos produtos e vítimas dos
contextos em que nasceram.
Esses indivíduos sofrem não só pela falta das condições básicas, mas como
pela exclusão e falta de pertencimento com a sociedade, impedindo-os de se
apropriarem dos locais públicos e privados que promovem cultura, educação e
lazer. A promoção de qualidade de vida se torna inviável para indivíduos que não
conseguem sequer sanar suas necessidades básicas. Toda falta, insalubridade e
violência estão internamente ligados com a identidade, personalidade e história
dessas pessoas, incentivando-os e inserindo-os em contextos criminais e de baixa
escala cultural.
Toda falta de pertencimento vivenciada faz desses indivíduos, não somente
vítimas da violência, mas replicadores dela, o que reforça um ciclo social. Todos os
prejuízos apresentados justificam a formação dessas pessoas em sociedade,
demonstrando como esse processo contínuo afeta principalmente essas pessoas e
todo contexto sociobrasileiro marginalizado.
As propostas de intervenção reunidas buscam ressignificar os espaços
culturais e a forma como se faz cultura, incentivando esses indivíduos a se
apropriarem do que não conseguiram contextualizar, devido suas divergências
socioeconômicas. Portanto, para se tornar um agente transformador, o indivíduo
precisa passar por um processo de libertação cultural e embasamento informativo.
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3. OBJETIVOS
3.1. Objetivos geral
As propostas apresentadas têm como objetivo alterar o olhar da educação na
vida desses indivíduos, como uma maneirade buscarem a evasão do crime, a
quebra do ciclo marginalizado e uma busca por conhecimento, identidade e
apropriação dos espaços culturais como forma de promoção de saúde mental,
estabilização econômica e reinserção social dessas pessoas que são produtos
oprimidos em seus contextos.

3.2. Objetivos específicos


● Conscientização: sensibilizar o público sobre as questões complexas sociais,
econômicas e políticas;
● Educação crítica: auxilia na inspiração do espectador para que ele questione
as raízes estruturais da violência e da desigualdade social, assim como, os
sistemas de poder que perpetuam tais problemáticas;
● Diálogo e participação: promovem a participação ativa do público, onde
podem refletir e debater sobre possíveis soluções, se tornando agentes
ativos de sua comunidade;
● Empoderamento: inspira ações individuais e coletivas para criar mudanças
positivas nas comunidades afetadas pelo tráfico de drogas, capacitando os
residentes a serem agentes de transformação em suas próprias realidades;
● Promoção dos direitos humanos: enfatiza a importância dos direitos humanos
e da justiça social, pontuando o papel de cada indivíduo na defesa desses
princípios;
● Desconstrução de estereótipos: permite que os indivíduos tenham uma visão
diferente sobre a realidade que vivem, frequentemente afetadas pelo tráfico
de drogas;
● Criação de espaços públicos: permite que a comunidade tenha um espaço de
lazer acessível, tanto em distância quanto economicamente, além disso
possibilita a interação entre os residentes;
● Profissionais capacitados: promove uma melhora na saúde mental dos
indivíduos, além de se sentirem ouvidos e acolhidos, mostra a realidade frágil
onde estão inseridos, estrutura familiar abalada, locais sem saneamento
básico, alta exposição à marginalidade e tráfico de drogas.
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4. DESENVOLVIMENTO

4.1. Análise Crítica

Ignacio Martín-Baró, foi um renomado psicólogo social e psicanalista, nascido


em 1942, em Madrid, na Espanha, e se tornou uma figura proeminente na psicologia
latino-americana. Sua obra e contribuições à psicologia são fundamentais para
entender o papel dos psicólogos na sociedade, particularmente em contextos
políticos e sociais complexos.
Martín-Baró é mais conhecido por seu trabalho na psicologia social crítica e
pela promoção da psicologia da libertação, uma abordagem que busca entender a
psicologia em relação às estruturas de poder, opressão e desigualdade social. Ele
dedicou sua carreira a examinar as condições sociais e políticas da América Latina
e a compreender como esses fatores afetam o bem-estar psicológico das pessoas.
Uma das contribuições principais dele foi a introdução da noção de "violência
sócio-política" em psicologia. Ele argumentou que a violência não se limita a ações
físicas, mas também inclui processos sociais e políticos que oprimem as pessoas.
Sua abordagem destacou a importância de considerar a opressão sistêmica e a
marginalização social ao analisar questões psicológicas. Também enfatizou a
necessidade de os psicólogos se envolverem de maneira ativa na transformação
social e na defesa dos direitos humanos. Ele acreditava que a psicologia deveria ser
uma ferramenta para promover a justiça social e o empoderamento das
comunidades marginalizadas.
A influência dele na psicologia também se estendeu à área da psicologia da
libertação, que promove a consciência crítica e a transformação social. Uma das
contribuições mais notáveis para a psicologia da libertação foi seu enfoque na
"psicologia do povo", que enfatizava a importância de compreender as experiências
e perspectivas das pessoas em comunidades marginalizadas. Ele argumentava que
os psicólogos precisam trabalhar lado a lado com as comunidades para
compreender suas necessidades e desafios, em vez de impor soluções de cima
para baixo. Além disso, explorou a noção de "alienação social", destacando como
as estruturas sociais desiguais podem alienar as pessoas de seu próprio poder e
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potencial. Ele via a psicologia como uma ferramenta para ajudar as pessoas a
recuperar esse poder e se tornarem agentes de mudança em suas próprias vidas.

Paulo Freire (1921-1997) foi um renomado educador, pedagogo e filósofo


brasileiro, conhecido por suas contribuições significativas para a área da educação
e seu impacto global. Ele é amplamente reconhecido como um dos principais
teóricos da pedagogia crítica e da educação popular. A abordagem educacional de
Freire, mais notavelmente apresentada em sua obra "Pedagogia do Oprimido"
(1968), enfatiza a importância da conscientização e da emancipação dos oprimidos.
Ele acreditava que a educação deveria ser um processo libertador, no qual os
estudantes não apenas adquirem conhecimento, mas também desenvolvem uma
compreensão crítica de seu ambiente social, político e econômico. Isso, por sua vez,
deveria capacitá-los a tomar medidas para melhorar suas próprias vidas e
comunidades. Freire também é conhecido por sua ênfase na educação como um
diálogo entre professores e alunos, em contraposição à "educação bancária", na
qual o conhecimento é simplesmente depositado nos alunos. Sua abordagem
valoriza a participação ativa dos alunos na construção do conhecimento e na
resolução de problemas.
A articulação da psicologia de Martín-Baró com os ensinamentos de Paulo
Freire é significativa, pois ambos abordam questões relacionadas à conscientização,
justiça social e emancipação das pessoas em contextos sociais e educacionais.
Embora seus enfoques sejam diferentes, há áreas de convergência e
complementaridade em suas abordagens.
Tanto Martín-Baró quanto Paulo Freire enfatizam a importância da
conscientização (ou "conscientização crítica", nas palavras de Freire) como um
processo fundamental. Baró destaca a necessidade de compreender as condições
sociais e políticas que afetam a vida das pessoas, enquanto Freire compreende a
conscientização como um processo de tomada de consciência de sua situação e de
se tornarem agentes de mudança em sua própria realidade.
Portanto, Martín-Baró enfatiza a necessidade de compreender as
experiências das pessoas em contextos específicos. Enquanto isso, Freire defende
que a educação precisa ser centrada na realidade dos estudantes, de modo que
possa ser transformadora e significativa.
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Os dois teóricos destacam o papel do diálogo e da participação ativa nas


práticas educacionais e psicológicas. Freire desenvolveu a pedagogia do diálogo, na
qual o educador e o aluno se engajam em um diálogo crítico e colaborativo. Martín-
Baró também destaca a importância do diálogo na compreensão das necessidades
das comunidades e na busca por soluções conjuntas. Eles são críticos das
estruturas de opressão e injustiça em suas respectivas áreas, enquanto um (Baró)
foca nas injustiças sociais e políticas, o outro (Freire) concentra-se nas injustiças
educacionais.
Podemos ver essas estruturas de opressão no documentário “Homo Sacer”,
um termo fundamental para entender a dinâmica social e criminológica no Brasil,
especialmente quando relacionado à linguagem simbólica e aos mecanismos de
exclusão (KOTLEWSKI e LOWE, 2017).
A ideia do "Homo Sacer" se refere a um ser humano que é considerado
matável, fora da proteção da lei e da sociedade. Isso geralmente ocorre quando a
sociedade define certos grupos como inimigos ou estranhos e os estigmatiza. No
contexto brasileiro, isso pode estar relacionado a pessoas marginalizadas, como
aquelas que vivem nas favelas e estão envolvidas no tráfico de drogas, como
retratado no documentário "Falcão: Meninos do Tráfico" (KOTLEWSKI e LOWE,
2017).
A análise também destaca como a linguagem e a comunicação
desempenham um papel importante na construção do "outro" como inimigo, e como
a linguagem pode ser usada para estigmatizar e excluir determinados grupos
sociais. A utilização de gírias, por exemplo, pode ser vista como um fator de
exclusão social, já que é associada a determinadas camadas da sociedade.
Observamos como a política criminal e o sistema de justiça podem perpetuar a
exclusão e a estigmatização de certos grupos, em vez de buscar soluções mais
abrangentes e inclusivas para os problemas sociais (KOTLEWSKI e LOWE, 2017).
Nesse sentido, Freire e Baró oferecem uma perspectiva valiosa sobre como a
escuta ativa e o diálogo podem ser instrumentos para superar a exclusão social e
construir uma sociedade mais justa. No contexto da educação, a pedagogia de
Freire promove a ideia de que o processo de aprendizado deve ser uma troca de
conhecimento entre educadores e educandos, em um ambiente de respeito mútuo.
O diálogo é fundamental para que os estudantes se tornem críticos em relação à
realidade e capazes de transformá-la. Da mesma forma, Baró reconhece o poder do
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diálogo em sua psicologia social crítica, enfatizando a importância de ouvir as vozes


das comunidades marginalizadas e entender suas perspectivas.

Ambos os pensadores também ressaltam a importância de considerar as


dimensões políticas e éticas de suas práticas. Freire argumenta que a educação
não é neutra, mas uma ação política que pode reforçar ou desafiar as estruturas de
poder existentes. Baró, por sua vez, aborda diretamente as implicações políticas da
psicologia e da opressão social, argumentando que os psicólogos têm a
responsabilidade de se envolver em questões políticas em nome da justiça social.
Além disso, reconhecem a importância de uma educação e psicologia que
levem em consideração as experiências e realidades culturais das pessoas. Freire
defende uma pedagogia que respeite a cultura e os saberes prévios dos estudantes,
enquanto Baró destaca a necessidade de uma psicologia que seja sensível às
especificidades culturais e contextuais das pessoas.
Por fim, ambos desafiam a visão tradicional de que o conhecimento é
transmitido de cima para baixo. Em vez disso, eles propõem uma abordagem mais
participativa, na qual os indivíduos são ativos na construção do conhecimento e na
análise de suas próprias experiências. Essa abordagem é especialmente relevante
no campo da educação, onde Freire promoveu a ideia de que os estudantes não
são recipientes passivos de informação, mas sujeitos ativos que co-criam o saber
em colaboração com seus educadores.

4.2. Desenvolvimento do projeto

Para pensar em propostas de intervenção social, é necessário primeiro


destrinchar o tema para entender o que de fato significa esta conjectura, que elucida
a compreensão da intervenção proposta por este trabalho. A área de interesse que
se entende por intervenção psicossociológica surgiu como uma vertente
independente, porém associada à Psicologia Social, em meados de 1950. A partir
das contribuições de vários autores, que nesse período já haviam realizado estudos,
distinguiram a prática clínica individual da intervenção grupal e a unificação entre os
métodos de pesquisa fundamentais para uma pesquisa prática e ativa
(LAPASSADE, 1977).
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Entre eles, temos as contribuições de Lewin, que cunhou o termo “dinâmica


grupal” e estendeu o conceito de pesquisa ativa para uma complementaridade entre
a ação de pesquisa que vise situações da vida cotidiana e que não fique apenas no
laboratório, distantes das realidades sociais (LAPASSADE, 1977).
As ideias de Moreno, o psicodrama e a concepção de sociometria, foram
extremamente importantes para esse campo de estudo psicossocial, e não menos
importante, o pesquisador psicossocial Pichon-Riviere, incorporou sua metodologia
de grupos operativos, que tem sido muito utilizada nesse contexto de avaliação.
Portanto, a Psicossociologia interventiva pode ser entendida como um ramo da
Psicologia Social que se debruça sobre os grupos, as organizações e as
comunidades, que se situam como organismos ativos que mediam a vida pessoal
dos indivíduos e são por esses ambientes sociais constituídos, geridos e
transformados (NEIVA apud MACHADO, 2010).
O profissional que atua nesta área assume um papel pesquisador-interventor,
pois a pesquisa possui papel fundamental nesse processo que permeia uma análise
de demanda, devendo assumir caráter ativo, porém não deixar de lado a
importância de uma postura científica na geração de reflexões críticas e bem
fundamentadas da intervenção que será realizada. As contribuições de Bleger
(1984) também ilustram bem a relação de pesquisa e ação que este campo de
estudo propõe. Ele afirma que a prática não é subordinada pela ciência, mas sim
uma núcleo vital e parte atuante junto do método científico, essas proposições não
disputam espaço entre si nessa perspectiva, em outras palavras, elas se
complementam.

O objetivo essencial desta abordagem é gerar mudança e transformação,


mas sem que seja percebida uma necessidade de mudança e delineado onde
precisa ser mudado não será garantida a eficácia do método de intervenção
psicossocial, pois nada muda sem que haja uma demanda importante e um desejo
intenso de transformação, que vem de acordo com a conscientização de que existe
sobre a problemática. Levy ressalta que a mudança só se faz possível com o
conhecimento das dificuldades e do processamento de novas possibilidades de
busca da verdade (NEIVA apud LÉVY, 1994).
É necessário pensar em múltiplos fatores que permeiam às complexas redes
sociais, como grupos, comunidades e instituições. Sendo assim, o mal-estar gerado
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nesse contexto grupal possui uma relação com todas as necessidades psicossociais
que os integrantes do grupo possuem, que podem estar associados com fatores
econômicos, alimentares, emocionais e sociais. Nesse caso, o interventor deve
assumir a responsabilidade de responder a essas insatisfações que estão
associadas a diversas demandas psicossociais, porque, o que pode ser uma
importante para um grupo pode não ser para o outro, cada núcleo social possui as
suas próprias singularidades (NEIVA, 2010).
Desse modo, não é possível apreender sobre uma realidade social sem levar
em consideração seu contexto sócio-histórico, na qual as dinâmicas sociais se
desenvolvem. O contexto onde está inserido cada comunidade é fundamentalmente
relevante para uma intervenção adequada que contemple as necessidades reais
dos grupos abordados (NEIVA, 2010).
Dentre as possíveis propostas de intervenção para crianças e adolescentes
em situações semelhantes às retratadas no documentário "Falcão: Meninos do
Tráfico," com base na intervenção psicossocial proposta por Neiva e as ideias sobre
emancipação de Martín-Baró e Freire, sugere-se:

● Implementação de programas educacionais que sejam significativos e


relevantes para a vida dessas crianças e adolescentes. A educação deve ser
sensível à sua cultura e contexto e as lições devem estar relacionadas aos
desafios e oportunidades que enfrentam diariamente;
● Profissionais da psicologia comunitária e da educação devem ser treinados
para adotar essa abordagem crítica e sensível. Isso envolve o
desenvolvimento de competências que vão além das técnicas tradicionais e
incluem empatia, sensibilidade cultural e habilidades de comunicação;
● Incentivar o diálogo ativo e multidisciplinar, entre educadores, psicólogos,
assistentes sociais e as próprias crianças e adolescentes. Estes devem
participar ativamente na tomada de decisões sobre suas vidas e no
planejamento de intervenções;
● Oferecer apoio psicossocial para lidar com traumas, estresse e outras
dificuldades emocionais que podem ter experimentado. Isso pode incluir
terapia individual e em grupo, bem como programas de resiliência;
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● Criar oportunidades que promovem saúde, como atividades esportivas,


culturais e artísticas, que permitam que essas crianças e adolescentes
explorem seus talentos e interesses;
● Trabalhar em estreita colaboração com as comunidades locais para
identificar recursos e oportunidades que possam melhorar a qualidade de
vida dessas crianças e adolescentes;
● Oferecer apoio às famílias, incluindo programas de capacitação e acesso a
serviços sociais, a fim de fortalecer o ambiente familiar;
● Defender políticas sociais que abordem as causas subjacentes da pobreza,
falta de oportunidades e desigualdade, a fim de criar um ambiente mais
propício para o desenvolvimento dessas crianças;
● Realizar círculos de discussão em grupos, onde os participantes podem
compartilhar suas experiências, preocupações e aspirações. Isso promove o
diálogo e a conscientização mútua;
● Oferecer oficinas de arte, como pintura, música, dança e escrita, para ajudar
os jovens a expressar suas emoções e pensamentos de maneira criativa e
terapêutica;
● Organizar atividades esportivas e recreativas, como futebol, capoeira, teatro
ou outras formas de recreação que incentivem o trabalho em equipe e o
desenvolvimento de habilidades sociais;
● Organizar visitas a museus, exposições, bibliotecas e outros locais culturais e
educacionais para expandir o horizonte dos jovens e estimular o aprendizado.
● Fornecer programas de educação financeira, como gerenciamento de
recursos e economia;
● Realizar mobilizações sociais para impor políticas públicas que melhorem as
condições de vida nas comunidades afetadas, incluindo acesso a serviço de
saúde, segurança e educação de qualidade;
● Valorizar a cultura e a identidade das comunidades afetadas, promovendo
um senso de pertencimento e respeito pela história e tradições locais;
● Incentivar a participação ativa dos jovens nas tomadas de decisões
relacionadas à educação e ao desenvolvimento de programas. Isso promove
senso de pertencimento e responsabilidade, tornando os alunos ativos no
processo educativo;
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● Além de ensinar habilidades de leitura e escrita, promover a alfabetização


crítica, ajudando os alunos a analisar e questionar o mundo ao seu redor,
incluindo as questões sociais e políticas que os afetam.

É importante adaptar essas atividades às necessidades específicas da


comunidade e dos jovens envolvidos, levando em consideração sua cultura,
contexto e recursos disponíveis, buscando proporcionar oportunidades para um
desenvolvimento saudável, educação e a construção de uma comunidade mais
resistente e equitativa. Além disso, é fundamental manter uma abordagem flexível,
permitindo que os jovens participantes tenham voz ativa no planejamento e na
implementação das atividades, promovendo assim seu empoderamento e
engajamento.

5. CONCLUSÃO
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A articulação entre a psicologia de Ignacio Martín-Baró e os ensinamentos de


Paulo Freire, combinada com a discussão do documentário "Falcão: Meninos do
Tráfico," ressalta a importância de abordar questões sociais, políticas e
educacionais de maneira crítica, consciente e engajada. Os dois compartilham uma
ênfase na conscientização, justiça social, empoderamento e diálogo como
elementos cruciais de suas abordagens. Eles destacam a importância de
reconhecer as estruturas de poder, promover a reflexão crítica e capacitar as
pessoas para se tornarem agentes de mudança em suas vidas e em suas
comunidades.
Ao integrar essas abordagens, os profissionais da psicologia e da educação
podem criar ambientes de aprendizado e práticas psicológicas que sejam sensíveis
às realidades culturais, contextuais e políticas das pessoas. Eles podem contribuir
para a transformação social, promovendo a igualdade, a justiça e a dignidade
humana. O documentário ilustra de maneira poderosa as complexas questões
sociais enfrentadas por crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade,
expostas à violência e ao tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro.
Em conjunto, as abordagens e a mensagem do documentário nos lembram
que a psicologia e a educação não podem ser dissociadas das realidades sociais e
políticas. Elas têm o potencial de ser forças transformadoras na luta contra a
opressão, a desigualdade e a injustiça. A combinação da psicologia crítica de
Martín-Baró, da pedagogia de Freire e do impacto do documentário destaca a
necessidade de abordagens humanizadas que promovam a conscientização, a
justiça social e a emancipação, e que considerem as complexas interações entre
indivíduos, comunidades, política e sociedade.
Diante desse cenário, é fundamental que a sociedade e as instituições
reavaliem suas abordagens em relação às questões sociais e à exclusão. É preciso
buscar soluções mais inclusivas, justas e igualitárias. Essas abordagens nos
incentivam a desafiar as estruturas de poder, a dar voz aos marginalizados
promovendo a participação ativa de todos os cidadãos na construção de uma
sociedade mais equitativa e no combate às raízes profundas da criminalização e da
exclusão.

6. REFERÊNCIAS
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FALCÃO: MENINOS DO TRÁFICO. Direção: Alex Pereira Barbosa, Celso Athayde.


Produção: Alex Pereira Barbosa, Celso Athayde. Youtube. 24 de março de 2021.
Duração: 57 minutos. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=G1I2L073SNI. Acesso em: 30 de outubro de
2023.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1974.

KOTLEWSKI, K. C.; LOWE, F. L.; (Des)caminhos do crime: uma abordagem


sócio-político-criminal da obra cinematográfica "Falcão: Meninos do Tráfico".
In: V Seminário Internacional de Direitos Humanos e Democracia, 2017,
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ
(Ijuí/RS). Disponível em:
https://publicacoeseventos.unijui.edu.br/index.php/direitoshumanosedemocracia/
article/view/8750 . Acesso em: 23 de novembro de 2023

Martín-Baró, I. (2011). Para uma psicologia da Libertação. Em Guzzo, R. S. L e


Lacerda JR, F. Psicologia Social para a América Latina: o resgaste da
Psicologia da Libertação. Editora Alinea, 2ª. Ed.

MARTÍN-BARÓ, I.. O papel do Psicólogo. Estudos de Psicologia (Natal), v. 2, n. 1,


p. 7–27, jan. 1997.

NEIVA, Kathia Maria Costa. Intervenção psicossocial: aspectos teóricos e


metodológicos. Editora Vetor, 2010, 1º Ed.

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