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MODERNA
Introdução
A Idade Moderna foi um período marcado por transições, rupturas e
continuidades em relação à sociedade medieval. Houve uma série de
mudanças nos âmbitos cultural, econômico, político e social, com a
coexistência do “novo” e do “velho”, que fizeram com que as sociedades
da Europa Ocidental desenvolvessem uma autoconsciência de viver
em um “novo tempo”. Nesse sentido, é muito importante estudar que
transformações foram essas ocorridas entre o século XIV e o século XVIII
e de que maneira elas impactaram na construção de uma nova visão de
mundo dos europeus na chamada “modernidade”.
Neste capítulo, você vai estudar de que forma se dá a transição entre
a Idade Média e a Idade Moderna, compreendendo que essa abordagem
dá espaço para rupturas e continuidades entre um período e outro. Além
disso, vai conhecer a forma pela qual os burgos e, mais especificamente,
o “renascimento” comercial e urbano, contribuíram para a conformação
da sociedade moderna e, por fim, vai ver o surgimento de preceitos laicos
na ascensão do antropocentrismo.
2 Idade Moderna
Foi uma crise de grandes proporções, que se projetou nos diversos âmbitos da
realidade, envolvendo aspectos econômicos, demográficos, sociais, políticos
e clericais: aspectos econômicos derivados da exploração agrícola predatória
e extensiva, que fora típica do feudalismo e que inviabilizou o aumento da
produção; aspectos demográficos oriundos das grandes tragédias, da fome e
da peste; aspectos sociais advindos da ruptura da rigidez hierárquica anterior,
seja pela crise demográfica, seja pelo empobrecimento das camadas superiores
a partir da crise econômica do período ou pela ruptura do próprio conceito
de ordem; aspectos políticos resultantes da retomada ou reconstituição dos
poderes públicos centralizados; aspectos clericais originados do questio-
namento da supremacia do poder da Igreja e de seu representante supremo.
Os burgos e a modernidade
Uma série de transformações ocorridas entre o século XIV e o XV fragilizou o
sistema feudal, compreendido em seus âmbitos cultural, econômico, político e
social. Em relação à economia, a melhoria nas técnicas de plantio, somada a outros
fatores, permitiu o aumento da produtividade agrícola, gerando um crescimento
demográfico na Europa. Entretanto, as estruturas feudais (alimentos, espaço,
governo, leis) não deram conta do aumento no número da população, gerando
diminuição das condições de vida, mortandade e uma alta geral de preços.
Em meio a esse processo de instabilidade, as cidades recuperaram o po-
der econômico e político. Mas você sabe de que forma os burgos e, mais
especificamente, o “renascimento” comercial e urbano, contribuíram para a
conformação da sociedade moderna?
Com as novas rotas comerciais surgidas durante a Baixa Idade Média em
decorrência do movimento das cruzadas e a retomada do comércio marítimo
pelo Mar Mediterrâneo, as feiras, que eram periódicas, tornaram-se fixas,
dando origem aos burgos (cidades). As feiras eram espaços em que eram co-
mercializados produtos locais e outros vindos do Oriente, como as especiarias,
os perfumes, os tecidos e as porcelanas, que se tornaram objetos de luxo e
cobiça por parte da nobreza feudal. As feiras também atraíam muitas pessoas,
sendo um verdadeiro espaço de encontro entre culturas diferentes. Assim, ao
mesmo tempo que as cidades foram fundamentais para o desenvolvimento do
comércio, o comércio também foi indispensável para o surgimento de novas
cidades e para o desenvolvimento de outras.
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Todo esse processo ocorre nas cidades, ainda que a maioria da população
europeia fosse rural. Esse é um alerta que faz o historiador Fernand Braudel
(1985, p. 13) e que demonstra, mais uma vez, os traços de continuidade e
ruptura presentes durante a Idade Moderna:
[...] por um lado, os camponeses nas aldeias, vivendo de uma forma quase
autônoma, quase autárquica; por outro lado, uma economia de mercado e um
capitalismo em expansão [...]. O perigo reside, evidentemente, em vermos
somente a economia de mercado, em a descrevermos com tal exuberância de
detalhes que denote uma presença avassaladora, persistente, não sendo ela
afinal senão um fragmento de um vasto conjunto.
Do teocentrismo ao antropocentrismo
Antes de nos dedicarmos ao estudo das novas formas de pensamento surgidas
na modernidade e seu reflexo nas práticas e nos valores da sociedade moderna,
é necessário lembrar quais eram as bases da sociedade medieval no que diz
respeito à sua visão de mundo.
Durante a Idade Média, a religião era estruturante dos âmbitos cultural,
econômico, político e social das sociedades da Europa Ocidental, e não havia
uma nítida distinção entre essas esferas e a religiosa, que permeava todo
o social. Em outras palavras, pode-se afirmar que a visão de mundo dos
europeus durante a Idade Média é religiosa, mesmo que houvesse diferenças
entre algumas concepções e práticas, de acordo com o local ou o tempo, o
que também faria com que a Igreja Católica se esforce para a normatização
e unificação de cultos, dogmas, práticas e rituais. A marcação do tempo do
calendário e do relógio vincula-se a essa visão de mundo religiosa, ou seja,
a organização da vida cotidiana se faz a partir da relação do homem com o
sagrado, assim como as explicações para os fenômenos naturais e sociais eram
encontradas nos dogmas religiosos.
Nessa sociedade, em que todo o conhecimento se dava a partir da fé, refletir
sobre o mundo a partir de outros parâmetros, como outras crenças ou por
meio da natureza, era considerado heresia. Entretanto, essa situação começa
a se modificar a partir do século XI, quando se inicia uma aproximação das
formas de se conhecer o mundo a partir da lógica, do estudo de observação
e da investigação.
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Ainda que as universidades modernas tenham copiado muito dos seus pro-
tótipos medievais, o programa de estudos mudou radicalmente. Nenhum dos
currículos da Idade Média incluía um número razoável de aulas de história
ou de ciências naturais, e pouca coisa continham de matemática e literatura
clássica. O educador tradicionalista moderno, que acredita formarem a espinha
dorsal do ensino universitário a matemática e os clássicos, não encontrará base
para os seus argumentos na história das universidades medievais.
literárias nem de mudanças estéticas e técnicas nas artes plásticas, mas significou
uma transformação muito mais ampla, com a difusão da escrita e da leitura
para além dos espaços religiosos ou das elites, da alfabetização vinculada às
necessidades do comércio e das cidades, da releitura dos textos da Antiguidade
Clássica a partir desses próprios textos, e não das interpretações religiosas a
eles atribuídas.
Vejamos, resumidamente, nas considerações de Burns (1957), quais foram
as causas da renovação artística e intelectual ocorrida nos séculos XII e XIII
que gerariam o Renascimento:
Leituras recomendadas
BRAUDEL, F. A dinâmica do capitalismo. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
CIPOLLA, C. M. A alvorada da idade moderna. In: CIPOLLA, C. M. História económica da
Europa pré-industrial. Lisboa: Edições 70, 1984.
DEYON, P. O mercantilismo. São Paulo: Editora Perspectiva, 1973.
FRANK, A. G. A expansão do século XVI: acumulação mundial, 1492-1789. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1977.
KRANTZ, F. A outra história: ideologia e protesto popular nos séculos XVII a XIX. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
LOPEZ, R. S. A resposta da sociedade agrícola. In: LOPEZ, R. S. A revolução comercial da
idade média. Lisboa: Editora Presença, 1986.
MOUSNIER, R. As novas estruturas do Estado. In: MOUSNIER, R. Os séculos XVI e XVII. São
Paulo: Difusão Européia do Livro, 1973.
SKINNER, Q. As fundações do pensamento político moderno. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996.
SWEEZY, P. et al. A transição do feudalismo para o capitalismo. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1977.
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