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ARTIGO et al.
ESPECIAL
A aprendizagem humana:
cada pessoa com seu estilo
Maria Cristina Natel; Rita Maria Lino de Tarcia; Daniel Sigulem
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A aprendizagem humana: cada pessoa com seu estilo
APRENDIZAGEM HUMANA: CONTEX- tem sentido, é possível afirmar que cada um faz,
TUALIZAÇÃO elabora e testa suas experiências segundo seu
A natureza da aprendizagem humana e o in- modo particular de aprender.
teresse em compreender como o homem constrói Diante dessa premissa, neste artigo, serão
conhecimento já era objeto de estudo na Antiga abordados os conceitos de inteligências múltiplas,
Grécia: na formulação socrática de que o homem de estilos cognitivos e de estilos de aprendizagem,
deveria, antes de tudo, conhecer a si mesmo e na uma vez que estudam e explicam a particularida-
convicção de Platão, de que os conhecimentos do de do modo de aprender de cada um.
homem foram adquiridos de uma vida anterior.
O desenvolvimento das disciplinas científi- ESTILOS COGNITIVOS
cas surge no final do século XIX, e dentre elas A maneira como cada pessoa organiza e ana-
a Psicologia que, fortemente influenciada pelo lisa a informação está relacionada não somente
pensamento filosófico, configura-se como parte ao “quanto inteligente” ela é, mas, sobretudo, ao
das Ciências Humanas, tendo como um de seus como ela exerce ou usa sua inteligência.
campos de estudo a aprendizagem humana, que Datam da década de 1950 pesquisas acerca
é compreendida por diferentes pressupostos das diferenças entre estilo cognitivo e nível cog-
teóricos. Depreende-se, então, que a concepção nitivo: enquanto diferentes níveis de habilidades
de como se aprende não está fundamentada em cognitivas podem levar a diferentes níveis de
uma única teoria, justificando a dificuldade para desempenho, estilos não têm relação com eficácia
encontrar um consenso a respeito, uma vez que ou eficiência e podem ser julgados mais ou menos
coexistem diferentes ideias, concepções e teorias adequados a determinadas situações de como a
que explicam a aprendizagem humana. pessoa adquire, armazena e usa o conhecimento.
Neste artigo, priorizamos três, dentre as teo- Allport2, entre outros teóricos, afirma que
rias clássicas da Psicologia: a que elege o objeto “existir como pessoa e desenvolver a própria
como fonte do conhecimento, o Inatismo, con- visão de mundo determinaria o estilo cognitivo”
siderando apenas as categorias de pensamento e explica a diferença no modo como cada um
do sujeito para a apreensão do conhecimento; aprende pela existência de disposições procepti-
destaca-se outra concepção, o Empirismo, que vas, que são as relações passadas com o mundo,
valoriza a perspectiva do sujeito e fundamenta- as disposições emocionais e expectativas para o
-se na ideia de que o conhecimento está fundado futuro em relação à cultura em que vive, preser-
na experiência que se organiza da mais simples vando a individualidade de cada um. Enquanto
à mais complexa. E, rompendo com o reducio- Messick3 considera que os estilos cognitivos
nismo dessas teorias que não consideram a com- refletem diferenças individuais na organização
plexidade da aprendizagem humana, situa-se cognitiva da pessoa e os vê como elemento
o Construtivismo, teoria do conhecimento que mediador entre a habilidade e a personalida-
engloba o sujeito histórico e o objeto cultural, em de, Bariani et al.4-6 entendem os estilos como
interação recíproca; interação essa que ultrapas- estruturas relativamente estáveis, que podem
sa dialeticamente e sem cessar as construções já sofrer impacto de experiências vividas durante
acabadas para satisfazer as lacunas, carências os anos de escolaridade, inclusive na etapa do
(necessidades) e valoriza a interação entre sujei- ensino superior.
to e objeto, uma vez que, segundo Perkins1, no São diferentes as formas de apreender e apren-
construtivismo, há um sujeito engajado, partici- der os dados de uma dada realidade, uma vez que
pante e buscando o sentido e o significado das a cognição está associada ao modo como “a pes-
ocorrências no mundo. soa adquire, armazena e usa o conhecimento”7.
Se na perspectiva construtivista só a ação Os estilos cognitivos mais estudados referem-
espontânea do sujeito ou nele desencadeada -se a três dimensões: impulsividade e reflexivi-
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SUMMARY
The human learning: each person with his/her style
How people feel and think of challenges, each person manages and
searches for a solution in a personal way. Applying a strategy, choosing a
specific way, deciding between two alternatives indicate a personal and
unique approach to deal with information. How do human beings learn?
Understanding how people elaborate and process information is one way
of getting to know how a human being learns in both systems, formal and
distance learning. Different theoretical assumptions, among others, may
explain this phenomenon as the Theory of Multiple Intelligence, the Theory
of Cognitive Styles and also the Theory of Learning Styles. Aiming at making
the connection among the concepts cognitive styles, multiple intelligence
and learning styles, we have searched in the literature the reasoning to
clarify the concepts mentioned which could be the reason to review the
teaching and learning processes.
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