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Ciências & Cognição 2007; Vol 12: 134-149 <http://www.cienciasecognicao.

org> © Ciências & Cognição


S u b me t i d o e m 1 3 / 1 0 / 2 0 0 7 | A c e i t o e m 2 6 / 1 1 / 2 0 0 7 | I S S N 1 8 0 6 - 5 8 2 1 – P u b l i c a d o o n l i n e e m 0 3 d e d e z e mb r o d e 2 0 0 7

Artigo Científico

Pensamento, crenças e complexidade humana


Thinking, beliefs and human complexity

Cristina Satiê de Oliveira Pátaro

Departamento de Metodologia de Ensino (DME), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar),


São Carlos, São Paulo, Brasil; Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade de São Pau-
lo (FE/USP), São Paulo, São Paulo, Brasil

Resumo

Considerando a complexidade do funcionamento psíquico e mental, o artigo discute as relações entre


crenças e pensamento humano. Parte-se do pressuposto de que processos relativos ao pensamento en-
volvem não apenas a cognição, mas também aspectos de outra natureza, como afetivos ou sociocultu-
rais (crenças). São apresentados os resultados de uma investigação cujo objetivo foi verificar possíveis
influências das crenças no pensamento. A pesquisa envolveu a aplicação de questionário a quatro gru-
pos (católicos, adventistas, espíritas e estudantes universitários sem considerar a religião), totalizando
100 sujeitos. As questões, sobre temáticas de sexualidade, solicitavam do sujeito, primeiramente, um
posicionamento pessoal e, em seguida, a postura de sua religião. Os dados evidenciaram a influência
das crenças no raciocínio humano e, ao mesmo tempo, a existência de outros fatores atuantes nos pro-
cessos do pensamento, ressaltando a efetiva complexidade do funcionamento mental e das relações en-
tre aspectos culturais e sujeito. © Ciências & Cognição 2007; Vol. 12: 134-149.

Palavras-chave: crenças; cultura; complexidade; modelos organizadores do pensa-


mento.

Abstract

Considering the complexity of mental and psychic functioning, this article discusses the relations be-
tween beliefs and human thinking. It assumes that processes of human thinking involve not only cogni-
tion but also suffers the influence of other aspects such as affective or cultural (beliefs). The article
presents the results of a research that studied the possible influences of beliefs in human thinking. A
questionnaire was applied to four groups (Catholics, Adventists, Spiritualists and academic students
without considering the religious tendency), a total of 100 persons. The questions are concerning hu-
man sexuality themes; it was asked the personal positioning and subject’s religion positioning. Results
indicated the influence of beliefs and, simultaneously, the influence of other factors in human thinking,
that indicate the complexity of mental functioning and of relations between culture and subject. ©
Ciências & Cognição 2007; Vol. 12: 134-149.

Key Words: beliefs; culture; complexity; organizing models of thinking.

1. Introdução O presente artigo busca discutir a in-


fluência de aspectos culturais no pensamento
 - C.S.O. Pátaro é Graduada em Pedagogia (Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP), Mestre em Educa-
ção (UNICAMP) e Doutoranda (FE/USP). Atualmente é Professora Substituta (UFSCar). E-mail para correspondên-
cia: crispataro@yahoo.com.br.

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humano, compreendendo que o funcionamen- dade dos sujeitos. Em um terceiro momento,


to mental se dá a partir de elementos que não nosso olhar estará voltado para a Teoria dos
se limitam apenas à cognição, à lógica e ra- Modelos Organizadores do Pensamento, refe-
cionalidade. Neste percurso, nosso intuito será rencial teórico e metodológico que orientou a
o de apontar a perspectiva da complexidade pesquisa apresentada, e que permite conside-
como um caminho possível na compreensão rar o pensamento humano a partir da articula-
não apenas das certezas e regularidades que ção de aspectos de diferentes naturezas (cog-
possam permear o funcionamento psíquico e nitivos, mas também afetivos, socioculturais,
mental, mas também das ambigüidades, alea- biológicos, etc.). Por último, apresentaremos a
toriedades e incertezas presentes nas relações pesquisa realizada, os resultados encontrados
entre sujeito, cultura e pensamento humano. e as análises e discussões levantadas a partir
Nossa referência para as idéias que dos dados da investigação.
configuram a Teoria da Complexidade é o
trabalho de Edgar Morin (1991, 1994, 2002a). 2. Dimensões constituintes do sujeito
De acordo com Morin, a complexidade do
mundo real – dos objetos e fenômenos da na- Compreender o psiquismo humano de
tureza – só pode ser compreendida a partir de uma forma que seja coerente com os princí-
uma perspectiva multidimensional (em lugar pios de complexidade, expostos anterior-
de unidimensional e fragmentada) e que tenha mente, exige que consideremos o ser humano
em vista as incertezas e incompletudes de to- em sua totalidade e multidimensionalidade,
do o conhecimento. Nesse sentido, a perspec- levando em conta os inúmeros elementos e
tiva de complexidade considera, na compre- relações que influenciam o funcionamento
ensão do mundo real, a ordem, a certeza e a psíquico.
regularidade tanto quanto a desordem, a incer- Encontramos essas características no
teza, as não-regularidades. Busca conhecer as trabalho de Araújo (1999; 2003). Este autor
partes sem desvinculá-las da existência de um apresenta um modelo cujo objetivo é explicar
todo e vice-versa, levando em conta, assim, as o funcionamento psíquico em uma perspecti-
grandes quan-tidades de interações e unidades va complexa e não-fragmentada, que conside-
existentes na realidade, de forma que as de- re a influência de fatores diversos, tanto ex-
terminações e previsões dão lugar às não- ternos quanto internos ao sujeito, que ocorrem
determinações, às possibilidades e aos fenô- simultaneamente.
menos aleatórios. Segundo Araújo, cada ser humano, seu
A partir desta perspectiva de comple- modo de ser, agir, pensar e sentir, é resultado
xidade, nossa intenção será a de buscar com- da interação de diferentes dimensões, com
preender o funcionamento psíquico e mental características específicas, mas que se inter-
do ser humano. Para tanto, apresen-taremos relacionam, e que, em conjunto, fazem parte
os resultados e discussões de uma investiga- de um sistema mais complexo que define a
ção realizada que teve como objetivo analisar individualidade do sujeito.
as possíveis relações entre o pensamento do O autor afirma que o sujeito psicoló-
sujeito e os aspectos vinculados à cultura, em gico é, ao mesmo tempo, um ser biológico,
especial, as crenças. que sente fome, frio e sede, mas que também
Assim, levando em conta os pressu- tem sentimentos, emoções, desejos. Este
postos aqui discorridos, pretendemos inicial- mesmo sujeito interage com a realidade ex-
mente apresentar, neste artigo, de que forma terna (objetiva) e também interna (subjetiva)
compreendemos o sujeito psicológico e as e, nesta relação, constrói uma capacidade
diferentes dimensões que o constituem. Em cognitiva de organizar suas experiências (A-
seguida, discutiremos acerca das relações en- raújo, 2003). Todos os aspectos constituintes
tre sujeito e cultura, analisando de que forma do sujeito (biológico, afetivo, sociocultural e
os elementos culturais (como é o caso das cognitivo) atuam simultaneamente, influenci-
crenças) passam a fazer parte da individuali-

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ando a maneira de ser, pensar, agir e sentir de relação deste conjunto como um todo junto ao
cada ser humano. meio.
Adotar este modelo como explicação Segundo a representação de Araújo
para o funcionamento psicológico do sujeito (2003: 156), a seguir, o sujeito psicológico é
implica considerar que em qualquer situação constituído por diferentes dimensões – cogni-
da vida cotidiana entram em ação diferentes tiva, afetiva, biológica e sociocultural – e seu
aspectos relativos às diferentes dimensões funcionamento se dá a partir das inter-
constituintes do sujeito: o funcionamento bio- relações destas entre si e com o mundo exter-
fisiológico do organismo, as estruturas cogni- no – físico, interpessoal e sociocultural – com
tivas, os sentimentos, emoções, valores, cren- o qual o sujeito interage:
ças, desejos do indivíduo, bem como a inter-

Figura 1 – Modelo para o sujeito psicológico, segundo Araúo (2003).

Os estudos feitos a partir deste modelo espaço ao inesperado, ao aleatório, à possibi-


psicológico, de acordo com Araújo, não po- lidade de desordem e incerteza. Estes pontos
dem perder de vista a sua totalidade e a noção são de fundamental importância se queremos
de organização interna e externa das dimen- uma teoria que explique o funcionamento psí-
sões propostas, de forma que é possível estu- quico, o sujeito da vida real, e que esteja de
dar, separadamente, cada uma das dimensões acordo com os princípios de complexidade.
– afetiva, cognitiva, sociocultural e biológica É neste contexto, e a partir deste olhar
– mas não podemos deixar de considerar que de complexidade, que devem ser compreendi-
estes aspectos se inter-relacionam e que esta das as discussões propostas no presente arti-
dinâmica exerce e recebe influências da ma- go. Assim, sem perder a noção do funciona-
neira como o sujeito psicológico lida e intera- mento do sujeito psicológico como um todo,
ge com o mundo interno e externo. nosso foco, a seguir, estará voltado para a di-
Dadas estas considerações, é possível mensão sociocultural, a partir da discussão a
dizer que o funcionamento psíquico ocorre a respeito das crenças pessoais e das relações
partir de um certo grau de previsibilidade, de entre sujeito e cultura.
certezas; ao mesmo tempo, entretanto, abre-se

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3. Crenças, cultura e sujeito pouco mais de perto as relações entre sujeito e


cultura, buscando compreender como se dá a
Ao tecer suas considerações acerca da internalização dos aspectos culturais pelo in-
mente humana, Morin (2002a) considera a divíduo.
existência de dois tipos de pensamento: o O estudo de tais relações entre cultura
pensamento racional, ligado à lógica, ao cál- e sujeito são pontos altamente discutidos em
culo e à razão, e o pensamento mítico, rela- estudos de diferentes campos do conhecimen-
cionado a um âmbito mitológico, do imaginá- to, em especial da Psicologia. Para abordar-
rio, das analogias e dos símbolos. Segundo o mos estas relações a fim de orientar a discus-
autor, o raciocínio humano acontece a partir são do presente artigo, iremos nos ater mais
da articulação destes dois tipos de pensamen- especificamente nas perspectivas trazidas por
to, que não podem ser vistos separadamente, Morin (2002b), Vygotsky (1998) e também
de forma que a esfera imaginária – dos mitos, por Martins e Branco (2001).
religiões, crenças – adquire para o ser huma- Para Morin (2002b), o ser humano es-
no tanta importância quanto a esfera do pen- tá em constante interação com o mundo físi-
samento racional. co, com os fenômenos naturais, e, principal-
Diante de tal constatação, Morin colo- mente, com outros sujeitos ao seu redor. É
ca que o conhecimento é uma re-construção desta interação entre os seres humanos que
do real pelo ser humano e que, portanto, não é nasce a cultura.
completo, nem pode ser encarado como uma Própria da natureza humana e da vida
cópia exata do mundo objetivo, sendo sempre coletiva, a cultura é definida por Morin
permeado por constantes “erros e ilusões”. (2002b: 35) como sendo constituída pelo:
Tudo isso leva o autor a ressaltar que o co-
nhecimento humano não se encerra nos prin- “Conjunto de hábitos, costumes, práti-
cípios da razão e da lógica, e deve ser sempre cas, savoir-faire, saberes, normas, inter-
considerado dentro de seus limites e incerte- ditos, estratégias, crenças, idéias, valo-
zas. res, mitos, que se perpetua de geração
A partir desta premissa, passamos a em geração, reproduz-se em cada indi-
nos debruçar sobre o estudo das relações entre víduo, gera e regenera a complexidade
as crenças pessoais e o pensamento humano. social.”
Considerando, desta forma, que tanto o pen-
samento quanto a construção do conhecimen- Em cada sociedade, de geração em ge-
to são permeados não apenas por processos ração, a cultura é protegida, nutrida, regene-
relativos à racionalidade e à lógica, mas tam- rada e, ao mesmo tempo, modificada, para
bém por fatores de outra natureza, fomos em que não seja destruída, não caia em extinção.
busca de investigar em que medida as crenças Segundo o autor, da mesma forma que não
– enquanto construção cultural, proveniente existe cultura sem as competências propor-
do imaginário, da “esfera mitológica” (Morin, cionadas pelo cérebro humano, também não
2002a) – podem vir a influenciar a organiza- haveria linguagem ou pensamento sem a cul-
ção do pensamento. Ao optarmos por estudar tura.
as crenças, elegemos assim um elemento rela- De acordo com Morin, as relações en-
tivo à cultura, a fim de investigar até que pon- tre cultura e sujeito são estreitas e mútuas. Se,
to essa dimensão cultural, que se incorpora ao por um lado, a cultura depende da vida em
indivíduo a partir de seu contato com diferen- sociedade, por outro, o ser humano, em sua
tes grupos e com a sociedade, exerce influên- constituição, também possui muito da cultura
cias no pensamento dos sujeitos. à qual pertence.
Partindo do pressuposto de que as Essa “reprodução” da cultura em cada
crenças, provenientes do meio cultural e soci- sujeito é o que o autor denomina imprinting.
al, passam a fazer parte da individualidade do Para Morin, o imprinting pode ser compreen-
ser humano, é necessário explorarmos um dido como uma marca, uma inscrição, impos-

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ta à mente humana pela cultura. Desde o nas- De acordo com Vygotsky (1998), a in-
cimento, através da cultura familiar e, poste- ternalização é a reconstrução interna de uma
riormente, através da cultura social, o imprin- operação externa ao sujeito e implica uma sé-
ting vai impondo sua marca e, tal qual uma rie de transformações psicológicas, a seguir:
cicatriz, passa a fazer parte da constituição do
sujeito, sua individualidade, e com ele perma- a) Uma operação externa é reconstruída e co-
nece continuamente. meça a ocorrer internamente ao sujeito;
Entretanto, a cultura exerce suas influ- b) Um processo inicialmente interpessoal tor-
ências não apenas externamente, impondo sua na-se intrapessoal. As funções superiores
marca, mas também internamente, fazendo (como é o caso do pensamento), segundo
emergir do próprio sujeito o poder de suas Vygotsky, originam-se das relações entre
idéias, suas crenças e paradigmas. Em muitos os indivíduos e, no desenvolvimento da
casos, estas influências vão além, de modo criança, aparecem inicialmente no nível
que a cultura – através das idéias, de suas in- social, entre pessoas (interpsicológica) e
fluências no pensamento e na visão de mundo posteriormente no nível individual, no in-
– age também em outra direção: é ela que i- terior da criança (intrapsicológica).
gualmente “impede de aprender e de conhecer c) A transformação do processo interpessoal
fora dos seus imperativos e das suas normas, em intrapessoal vem como resultado de
havendo, então, antagonismo entre o espírito um longo processo de desenvolvimento.
autônomo e sua cultura” (Morin, 2002b: 35).
Assim, para Morin, a cultura passa a Nas palavras do autor,
fazer parte do sujeito e não imprime apenas
suas marcas, mas traz também uma consigna- “O processo, sendo transformado, con-
ção de como deve o sujeito organizar, conce- tinua a existir e a mudar como uma
ber, lidar com o mundo ao seu redor e com os forma externa de atividade por um lon-
demais seres humanos. go período de tempo, antes de internali-
Diante de tais considerações e partin- zar-se definitivamente. (...) [as funções]
do do pressuposto de que as crenças possuem somente adquirem o caráter de proces-
suas raízes na cultura, conforme colocamos sos internos como resultado de um de-
anteriormente, é possível afirmar que o sujei- senvolvimento prolongado. Sua trans-
to, ao mesmo tempo em que possui determi- ferência para dentro está ligada a mu-
nadas crenças e tende a agir de acordo com danças nas leis que governam sua ativi-
elas, é também, em certa maneira, tomado por dade; elas são incorporadas em um no-
suas crenças, passando assim a pensar e a en- vo sistema com suas próprias leis.” (Vy-
xergar o mundo através delas. Neste aspecto, gotsky, 1998: 75)
a crença é ao mesmo tempo uma forma de
guiar as condutas e também de limitá-las. As idéias de Vygotsky, como é possí-
Entretanto, é preciso considerar que, vel notar, auxiliam na compreensão dos pro-
se por um lado o imprinting imprime as mar- cessos psicológicos envolvidos na internaliza-
cas da cultura no sujeito, por outro, como já ção dos aspectos culturais pelos seres huma-
afirma o próprio Morin, o sujeito não é passi- nos, a qual está intimamente relacionada ao
vo nesta relação. Vejamos. próprio desenvolvimento do sujeito.
Adentrando mais especificamente o A partir dos estudos de Vygotsky,
campo da Psicologia, encontramos os estudos Martins e Branco (2001) abordam igualmente
do psicólogo russo Lev S. Vygotsky. Dentre o conceito de internalização, ao discutirem as
seus estudos sobre as relações entre cultura e relações entre cultura e sujeito. A partir de
sujeito, destacaremos, no presente trabalho, uma perspectiva sociocultural construtivista,
suas considerações acerca do conceito de in- propõem considerar a relação bidirecional que
ternalização. caracteriza a transmissão da cultura para o
sujeito. De acordo com estes autores, os parti-

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cipantes do processo de transmissão cultural no interior de um universo amplo de


estão ativa e constantemente transformando as possibilidades. Por outro lado, a cultura
mensagens culturais. Assim: à qual o indivíduo está ligado, e na qual
ele se constitui, orienta suas expectati-
“Emissor e receptor organizam e reor- vas e comportamentos em uma certa di-
ganizam ativamente a informação cultu- reção, sem com isto impor-lhe, necessa-
ral de forma que a cultura se encontra riamente, um padrão definido de cren-
continuamente em transformação medi- ças, valores e comportamentos. Em fun-
ante a ação de todos os participantes da ção de aspectos motivacionais próprios,
experiência social.” (Martins e Branco, o indivíduo pode se opor de forma mais
2001: 171) ou menos intensa às orientações apon-
tadas pelas sugestões sociais, dando o-
Esta perspectiva nos traz amplas pos- rigem à singularidade de sua constitui-
sibilidades na relação entre sujeito e cultura, ção subjetiva e, em conseqüência, per-
abrindo espaço para a participação de ambos mitindo-lhe introduzir novos aspectos
na construção do novo ao longo deste proces- na cultura coletiva.” (Martins e Branco,
so de constante interação. 2001: 172)
Para Martins e Branco, embora o estu-
do do conceito de internalização venha rece- No trecho que acabamos de citar, tanto
bendo a atenção de vários pesquisadores e de o indivíduo quanto a cultura estão abertos à
diferentes áreas do conhecimento, a noção transformação, à formação de novos signifi-
apresentada por Vygotsky é a que mais trouxe cados, que ocorrerão em função da forma co-
contribuições para o campo de pesquisa do mo se dá a relação entre ambos. Ou seja, não
desenvolvimento humano. Nas palavras dos é possível considerar cultura sem indivíduo
autores, o processo de internalização pode ser ou vice-versa.
entendido como: Realizando um paralelo entre tais co-
locações e as considerações de Edgar Morin
“[um] processo através do qual suges- (2002b), apresentadas anteriormente, pude-
tões ou conteúdos externos ao indivíduo mos verificar nestas últimas, de forma análo-
apresentados por um ‘outro social’ são ga, as estreitas inter-relações entre cultura e
trazidos para o domínio intra- sujeito. Segundo Morin, através do imprin-
psicológico (do pensar e do sentir subje- ting, a cultura inscreve no indivíduo um con-
tivos), passando a incorporar-se à subje- junto de práticas, saberes, crenças, valores,
tividade do indivíduo. Este ‘outro’ são idéias, conhecimento, que influenciam o de-
pessoas, instituições sociais ou mesmo senvolvimento da individualidade do sujeito.
instrumentos mediados culturalmente.” Mas evidentemente, embora todos os indiví-
(Martins e Branco, 2001: 172) duos de um determinado grupo sejam subme-
tidos ao mesmo imprinting cultural, cada su-
A compreensão apresentada por estes jeito, em sua individualidade, irá constituir-se
autores evidencia a dinâmica entre indivíduo e construir-se de maneira diferente, uma vez
e cultura, demonstrando de que forma ocor- que não é a cultura unicamente que influencia
rem as influências mútuas recebidas e exerci- o ser humano – o qual, para Morin, deve ser
das por ambos os pólos desta relação: considerado de maneira multidimensional,
como um sujeito ao mesmo tempo físico, bio-
“No que se refere ao indivíduo, a inter- lógico, psíquico, afetivo, cultural e social
nalização de aspectos culturais é ante- (Morin, 2002b, 2002c). Ou seja, entram em
cedida e orientada por elementos moti- ação, entre outros fatores, os “aspectos
vacionais, afetivos, que elegem e priori- motivacionais” próprios de cada sujeito
zam objetivos e conteúdos culturais, a- (Martins e Branco, que acabamos de citar),
tribuindo-lhes um significado próprio que possibilitarão que os aspectos culturais
sejam apreendidos pelo indivíduo adquirindo

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didos pelo indivíduo adquirindo significado estádios do desenvolvimento cognitivo, colo-


próprio. cando o sujeito como organizador da realida-
Diante do quadro exposto até agora, de – mas também apontam para suas limita-
entendemos que uma compreensão das rela- ções. Neste sentido, Moreno e colaboradores
ções entre cultura e indivíduo, que leve em (1999) consideram que o desenvolvimento
conta toda complexidade inerente a estes ele- cognitivo, na perspectiva de Piaget, é tomado
mentos, necessita, por um lado, de uma noção apenas a partir do ponto de vista estrutural,
de cultura que esteja aberta a transformações, sem dar muita atenção ao fato de que o em-
que exerça suas influências sobre o indivíduo prego de determinadas operações depende não
em uma relação não-unilateral e não- apenas dos estádios, mas também dos conteú-
determinista. Por outro lado, exige também dos aos quais se aplicam. Assim, as autoras
uma noção de indivíduo ativo que, embora propõem que o funcionamento mental se dê
possua, em sua subjetividade, traços da cultu- não apenas em vista dos aspectos estruturais,
ra e da sociedade da qual participa, tenha pos- internos ao sujeito, mas também, de maneira
sibilidades de (re)significar e (re)construir os articulada, considerando os conteúdos presen-
aspectos culturais. Esta noção de indivíduo só tes na realidade – ou seja, os elementos, en-
se faz, do nosso ponto de vista, à medida que quanto “um produto da interpre-tação que o
encaramos esse ser humano de forma com- sujeito faz dos objetos e fatos perceptíveis”
plexa e multidimensional (como já nos propõe (Moreno et al., 1999: 77).
Morin), e nos parece coerente com o modelo Um segundo ponto em que se baseia a
de sujeito psicológico apresentado no início teoria dos Modelos Organizadores do Pensa-
deste artigo (Araújo, 1999, 2003) – o qual mento é a idéia defendida por Philip Johnson-
considera as diferentes dimensões constituin- Laird de que o raciocínio humano opera por
tes do ser humano, a partir de uma perspectiva meio de modelos mentais. Johson-Laird con-
de complexidade. sidera que o raciocínio não segue unicamente
Neste contexto, em busca de analisar a lógica formal, mas envolve a compreensão
as relações entre as crenças e o pensamento de significados e a manipulação de modelos
humano, os pressupostos apresentados até a- mentais, estes vistos como uma representação
gora nos conduziram à opção pela Teoria dos interna que o sujeito realiza do mundo ao seu
Modelos Organizadores do Pensamento, que redor (Johson-Laird, 1993, apud Moreno et
discorreremos a seguir. al., 1999). De acordo com este autor, por
meio de modelos mentais, o ser humano re-
4. A Teoria dos Modelos Organizadores do presenta a realidade que o cerca e é capaz de
Pensamento raciocinar, verificar hipóteses e alternativas.
Assim, a compreensão envolve a elaboração
A Teoria dos Modelos Organizadores de modelos do mundo, e o raciocínio consiste
do Pensamento (Moreno et al., 1999; Arantes, na manipulação de tais modelos. O papel da
2000) é uma das bases que fundamenta a pes- representação na teoria dos modelos mentais
quisa aqui apresentada e constitui-se, assim, é de fundamental importância para explicar a
na base teórica e metodológica para a mesma. elaboração dos modelos, bem como sua ma-
Esta teoria foi inicialmente proposta por Mo- nipulação, que se dá através do pensamento.
reno, Sastre, Leal e Bovet, e parte dos traba- A partir da articulação entre as idéias
lhos de Jean Piaget, e também da teoria de da teoria dos modelos mentais e da epistemo-
modelos mentais de Johnson-Laird. Vejamos. logia genética de Piaget – conforme destaca-
As autoras adotam como um dos pon- mos – Moreno e colaboradores (1999) desen-
tos de partida os estudos de Jean Piaget acerca volvem então a teoria dos Modelos Organiza-
dos aspectos estruturais do pensamento e o dores do Pensamento, segundo a qual o ser
funcionamento cognitivo. Reconhecem a im- humano, a fim de orientar-se e conhecer o
portância e abrangência de tais idéias – que mundo que o cerca, constrói modelos da rea-
inovam ao constituírem uma teoria acerca dos lidade em sua interação com os objetos, pes-

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soas e relações ao seu redor, e também consi- A abstração de elementos ocorre uma
go mesmo. vez que o sujeito seleciona alguns elementos
Os Modelos Organizadores do Pensa- da realidade observada para que constituam o
mento – que influenciam a forma de agir, modelo organizador. Assim sendo, nem todos
pensar, ser e sentir do sujeito, assim como a os elementos da situação observada são ne-
própria construção do conhecimento – são cessariamente abstraídos e, ao mesmo tempo,
construídos com base em elementos estrutu- o modelo organizador pode contemplar ele-
rais internos ao sujeito, mas também externos mentos que não se encontram na realidade e
a ele, ou seja, os conteúdos da realidade. De que são, assim, inferidos pelo próprio sujeito.
acordo com as autoras, Na elaboração do modelo organizador, os e-
lementos que não são vistos como significati-
“Concebemos um modelo organizador vos ou pertinentes são desconsiderados e pas-
como uma particular organização que o sam a não fazer parte do modelo elaborado.
sujeito realiza dos dados que seleciona e Aos elementos que são abstraídos, o
elabora a partir de uma determinada si- sujeito atribui significados. Não há, portanto,
tuação, do significado que lhes atribui e no modelo organizador, elemento sem signifi-
das implicações que deles se originam. cado. Entretanto, segundo as autoras, contex-
Tais dados procedem das percepções, tos diferentes podem levar um mesmo sujeito
das ações (tanto físicas como mentais) e a atribuir significados diferentes a um mesmo
do conhecimento em geral que o sujeito elemento, da mesma forma que, a este mesmo
possui sobre uma certa situação, assim elemento, sujeitos diferentes podem atribuir
como das inferências que a partir de tu- significados diferentes.
do isso realiza. O conjunto resultante é O estabelecimento de implicações e/ou
organizado por um sistema de relações relações diz respeito às conseqüências que o
que lhe confere uma coerência interna, a sujeito atribui na relação entre elementos e
qual produz, no sujeito que o elaborou, significados do modelo em questão.
a idéia de que mantém também uma co- A construção do modelo organizador
erência externa, ou seja, uma coerência depende de como estes três processos, que
com a situação do mundo real que re- ocorrem simultaneamente, são articulados in-
presenta.” (Moreno et al., 1999: 78) ternamente pelo sujeito: um determinado ele-
mento é abstraído em função do significado
De acordo com o trecho acima, é pos- que lhe é atribuído no contexto da construção
sível verificar que, como se baseiam na repre- de um determinado modelo, e destes dois as-
sentação e interpretação do sujeito, os mode- pectos dependem as implicações estabeleci-
los organizadores nem sempre correspondem das.
exatamente à situação do mundo real. Desta Um aspecto importante a ser ressalta-
forma, embora confiram ao sujeito uma “coe- do é que a construção dos modelos organiza-
rência interna”, a qual, por sua vez, “produz dores permite a imaginação do sujeito, a infe-
a idéia de uma coerência externa”, isso não rência de novos elementos (Arantes, 2000),
significa que o modelo construído correspon- pois o modelo organizador pode ser constituí-
da exatamente à realidade que representa. do também de alguns elementos não necessa-
Segundo Moreno e colaboradores riamente presentes na realidade. Tais elemen-
(1999), o sujeito constrói os modelos organi- tos passam a integrar o modelo organizador
zadores a partir da avaliação que faz diante de construído, adquirindo tanta importância
determinada situação do mundo real, processo quanto os demais na constituição do modelo.
em que estão envolvidas as seguintes ativida- A imaginação do sujeito pode se basear em
des cognitivas: abstração de elementos, atri- aspectos da razão, de natureza lógico-
buição de significados e estabelecimento de matemática, mas também de outra natureza.
implicações e/ou relações. Vejamos: E, desta forma, podemos dizer que a Teoria
dos Modelos Organizadores avança no senti-

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do de considerar que a organização do pen- lher?” e Questão B – “Para sua religião, qual
samento está relacionada não apenas a aspec- o papel da relação sexual no relacionamento
tos (e processos) cognitivos, mas também aos entre um homem e uma mulher?”.
sentimentos e emoções, desejos, fantasias, Para a análise dos dados, foram identi-
representações sociais, crenças, que influenci- ficados os modelos organizadores aplicados
am os próprios processos mentais de seleção pelos sujeitos, a partir das respostas dadas em
de elementos, atribuição de significados e es- cada uma das questões. De posse destes da-
tabelecimento de implicações. dos, foram analisadas as relações entre a dis-
É neste sentido que a Teoria dos Mo- tribuição dos modelos organizadores dentro
delos Organizadores do Pensamento permite- de cada um dos grupos entrevistados, bem
nos considerar que as crenças pessoais podem como as relações entre o posicionamento de
exercer tanta influência no pensamento hu- um mesmo sujeito diante de ambas as ques-
mano quanto os aspectos cognitivos. É neste tões.
contexto, portanto, que se desenvolveu a pes-
quisa apresentada a seguir. 7. Resultados e discussões

5. Objetivos da pesquisa Na seqüência, temos os modelos orga-


nizadores encontrados e a distribuição dos
O problema central da pesquisa foi mesmos dentro dos diferentes grupos entre-
investigar se os modelos organizadores apli- vistados, considerando primeiramente a Ques-
cados diante de situações da vida cotidiana tão A e, em seguida, a Questão B:
estão de alguma forma relacionados às cren-
ças do sujeito, ou, dito de outra maneira, veri- • Análise da Questão A: “Na sua opinião,
ficar em que medida as crenças influenciam a qual o papel da relação sexual no relacio-
organização do pensamento. O tipo de crença namento entre um homem e uma mu-
considerado foi a crença religiosa, e o conteú- lher?”
do das situações apresentadas aos sujeitos foi
a sexualidade. Dos dados da Questão A é relevante
destacar, por um lado, a presença do Modelo
6. Metodologia 1, que agrega em si elementos e significados
associados à religião (Deus, casamento, pro-
Para atender aos objetivos da pesquisa, criação). Este modelo se faz presente nos 3
foi aplicado um questionário a um total de grupos religiosos entrevistados, principalmen-
100 sujeitos adultos, entre 20 e 40 anos, divi- te dentro do grupo Católico, e evidencia que
didos em 4 grupos: 25 Católicos, 25 Adven- de fato as crenças religiosas parecem influen-
tistas, 25 Espíritas e 25 estudantes universitá- ciar a organização do pensamento.
rios sem que fosse considerada a religião. O Por outro lado, é importante ressaltar
questionário foi aplicado a cada grupo, em que, mesmo sendo composto por uma maioria
seu próprio espaço religioso, o que, no caso de sujeitos que declararam possuir alguma
dos estudantes, foi feito na própria Universi- religião, nenhum dos entrevistados do grupo
dade. de estudantes aplicou o Modelo 1 ao respon-
Ao responder às questões, que versa- der à primeira questão. Este dado indica que o
vam sobre temáticas de sexualidade, os sujei- grau de influência das crenças parece variar
tos deveriam, primeiramente, dissertar sobre de acordo com o contexto social, e que deve
seu posicionamento pessoal diante da temáti- haver outras variáveis que influenciam igual-
ca apresentada e, em um segundo momento, mente o pensamento dos sujeitos ao organiza-
colocar a postura de sua religião. As duas rem seu pensamento diante do tema solicitado
questões analisadas foram: Questão A – “Na (experiências pessoais, emoções e sentimen-
sua opinião, qual o papel da relação sexual no tos, crenças de outra natureza).
relacionamento entre um homem e uma mu-

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Modelos Organizadores %
Modelo 1 Relação sexual pautada em princípios religiosos tradicionais (criação de 37
Deus, casamento, procriação)
Modelo 2 Relação sexual como elemento que define a continuidade ou não do relacio- 8
namento entre o casal
Modelo 3 Relação sexual como fator de união entre o casal 24
Modelo 4 Relação sexual como complemento do relacionamento entre o casal 24
Modelo 5 Relação sexual valorada de diferentes maneiras, em função do tipo de rela- 7
cionamento entre o casal
Tabela 1 - Modelos organizadores e freqüência (%) considerando o total de sujeitos na Questão A.

Gráfico 1 - Distribuição dos modelos organizadores referentes à Questão A nos diferentes grupos.

• Análise da Questão B: “Para sua religião, qual o papel da relação sexual no relacionamento en-
tre um homem e uma mulher?”

Analisando os dados da Questão B que aplicaram este modelo afirmaram ser ca-
podemos notar uma grande quantidade de su- tólicos, e que a maioria dos sujeitos do grupo
jeitos aplicando o Modelo 1, pautado em católico aplicou o Modelo 1, veremos que, em
princípios ligados tradicionalmente à religião, nossa amostra, uma mesma religião deu ori-
correspondendo a 61% da amostra como um gem a raciocínios diversos, orientados em di-
todo e à maioria dos sujeitos dos grupos cató- reções opostas. Este dado nos faz considerar
lico e adventista. que as crenças, relacionadas a uma cultura,
O que chama a atenção, entretanto, é o não são internalizadas de uma mesma maneira
grupo de estudantes, onde encontramos uma por todos os sujeitos, sendo que outros aspec-
parcela de 6 sujeitos aplicando o Modelo 5, tos subjetivos (ex: sentimentos, valores, co-
que considera a postura religiosa insuficiente nhecimentos do sujeito) parecem atuar na
e antiquada para explicar o papel da relação forma como os indivíduos incorporam suas
sexual. Ao notarmos que todos os estudantes crenças.

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Modelos Organizadores %
Modelo 1 Relação sexual pautada em princípios religiosos tradicionais (criação de Deus, 61
casamento, procriação)
Modelo 2 Relação sexual exige responsabilidade, pois traz conseqüências 12
Modelo 3 Relação sexual como fator de união entre o casal 7
Modelo 4 Relação sexual como complemento do relacionamento entre o casal 7
Modelo 5 A postura religiosa é insuficiente, antiquada, ortodoxa, para explicar o papel da 6
relação sexual
----- Não respondeu à Questão B 7

Tabela 2 - Modelos organizadores e freqüência (%) considerando o total de sujeitos na Questão B.

Gráfico 2 - Distribuição dos modelos organizadores referentes à Questão B nos diferentes grupos.

Partindo agora para uma análise das suas respostas às questões A e B, primeira-
respostas dadas por um mesmo sujeito às di- mente considerando o total da amostra e, em
ferentes questões, temos os gráficos a seguir, seguida, levando em conta os diferentes gru-
que apresentam a freqüência de sujeitos que pos entrevistados:
mantiveram ou alteraram seu raciocínio em

Gráfico 3 - Distribuição dos sujeitos que apli-


caram o mesmo modelo organizador e mode-
los diferentes nas questões A e B.

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Gráfico 4 - Distribuição, por grupo entrevistado, dos sujeitos que aplicaram o mesmo modelo
organizador e modelos diferentes nas questões A e B

Como mostram os dados, embora as


crenças religiosas tenham exercido um certo Como vimos, os resultados gerais ob-
grau de influência nas respostas, levando uma tidos demonstraram que efetivamente os mo-
parcela dos sujeitos a manter seu raciocínio delos organizadores aplicados pelos sujeitos,
nas duas questões, a maioria da amostra apli- ao se posicionarem diante de tematicas de se-
cou raciocínios diferentes ao responderem xualidade, tiveram associados a seus elemen-
sobre o papel da relação sexual, primeira- tos, significados e implicações, aspectos e
mente segundo sua opinião pessoal e, em se- conteúdos relativos às crenças religiosas,
guida, sob a postura de sua religião. mesmo quando estas não estavam explicita-
Os dados da investigação sugerem que mente presentes no contexto.
a cultura, internalizada pelos sujeitos, embora Como exemplo do que acabamos de
influencie a individualidade de cada membro colocar, dentre os modelos organizadores en-
da sociedade, não anula os demais aspectos contrados a partir das respostas da amostra
subjetivos que se manifestam na dinâmica do entrevistada, podemos citar o Modelo 1 da
funcionamento psíquico. Ao mesmo tempo, Questão A, que, por sua vez, correspondia ao
os resultados obtidos permitem considerar que Modelo 1 da Questão B. Nestes casos, o ra-
tal funcionamento deve ser entendido a partir ciocínio empregado pelos sujeitos fundamen-
de uma visão de complexidade, a qual, ao tava-se em princípios religiosos tradicionais
considerar as diferentes variáveis que podem para explicar o papel da relação sexual no re-
atuar no pensamento humano de forma não lacionamento de um casal, citando elementos
previsível, ajuda a explicar a tendência à mu- como Deus, procriação e casamento, de ma-
dança no raciocínio dos sujeitos, verificada neira coerente com alguns dos pressupostos
em nossa amostra. encontrados nas religiões com as quais traba-
Por outro lado, os dados demonstra- lhamos. Na primeira questão, que não fazia
ram também que cada uma das três religiões referência explícita a princípios religiosos, tal
consideradas influenciou de forma diferente a raciocínio foi aplicado por 37% dos sujeitos,
organização do pensamento, levando em con- correspondendo a 18 católicos, 12 adventistas
ta as variações intrapessoais diante das ques- e 7 espíritas. Já na Questão B, que solicitava
tões analisadas. Este fato anuncia que o grau do sujeito a postura de sua religião, 61% de
de influência exercida pelas crenças na orga- nossa amostra aplicou o Modelo 1, sendo 23
nização do pensamento de um sujeito pode católicos, 22 adventistas, 9 espíritas e 7 estu-
também estar, de alguma maneira, relaciona- dantes.
do à própria natureza da crença. Diante da ocorrência destes dados,
podemos afirmar que os seres humanos incor-
7.1. Regularidades e não-regularidades poram elementos vinculados às suas crenças

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na forma de pensar e de posicionar-se frente xidade dos processos que envolvem o pensa-
às situações cotidianas, o que indica que, de mento humano e as relações entre o sujeito e a
uma maneira geral, os aspectos culturais, in- cultura:
ternalizados pelos indivíduos em sua relação
com os grupos e com a sociedade, podem in- • Uma mesma situação apresentada aos su-
fluenciar a própria organização de seu pensa- jeitos da investigação deu origem a racio-
mento. Tal fato, portanto, confirma, em parte, cínios diversos, de modo que foram en-
a hipótese central, de que as crenças influen- contrados, em cada uma das questões ana-
ciam a organização do pensamento humano. lisadas (Questão A e B), cinco modelos
Assim sendo, como já propôs Morin, é organizadores diferentes, dentre os quais
possível dizer que as crenças e a cultura – nem todos haviam sido elaborados levan-
que, confirme vimos, relacionam-se ao “pen- do em conta aspectos relativos a crenças
samento mítico”, da criação, do imaginário e religiosas. Tal fato pode ser explicado pe-
das analogias – são aspectos de fato tão im- la própria Teoria dos Modelos Organiza-
portantes para o ser humano quanto a esfera dores do Pensamento, e demonstra que a
do “pensamento racional”, já consagrado e elaboração dos modelos organizadores
exaltado desde a Modernidade, com as idéias passa pela interpretação do sujeito, o qual
Iluministas e o pensamento cartesiano. (re)organiza internamente a realidade ob-
Nesse sentido, consideramos que os jetiva a partir daquilo que, estando ou não
resultados contribuem com uma perspectiva presente no contexto, considera significa-
recente, dentro dos estudos da Psicologia, que tivo.
busca compreender os processos do pensa-
mento para além dos aspectos e processos • Uma mesma “cultura religiosa” deu ori-
cognitivos da mente humana. gem a raciocínios diversos. Mais especifi-
Entretanto, como um trabalho de Psi- camente, diferentes indivíduos que se de-
cologia que adota o referencial da Teoria da clararam Católicos incorporaram, nos mo-
Complexidade, a análise dos dados obtidos delos organizadores aplicados, elementos
com nossa investigação contempla não apenas relativos a esta religião, integrando, con-
as regularidades presentes, mas atenta tam- tudo, raciocínios orientados em direções
bém para as não-regularidades, as incertezas e opostas. É o que pudemos observar ao
aleatoriedades que regem os fenômenos ob- comparar os Modelos 1 e 5 da Questão B:
servados. enquanto um deles fundamentava-se em
Desta forma, o que chama a atenção princípios religiosos tradicionais para ex-
na investigação é o fato de que, mais do que plicar o papel da relação sexual, o outro
as regularidades, as permanências, foram en- considerava a postura religiosa como insu-
contradas mudanças, variações, tanto na for- ficiente para explicar tal papel. Nos dados
ma com a qual os sujeitos organizaram seu apresentados, verificamos que 23 sujeitos
pensamento quanto no grau de influência e- do grupo católico (92%) aplicaram o Mo-
xercida pelas crenças religiosas nos modelos delo 1 em suas respostas à Questão B. Por
organizadores identificados. Sendo assim, em outro lado, o Modelo 5 foi aplicado por 6
busca de compreender as relações entre as sujeitos do grupo de estudantes, sendo
crenças e a organização do pensamento, foi que, deste total, 5 deles afirmaram ser Ca-
encontrado um número maior de hipóteses e tólicos. Assim, diferentes sujeitos de uma
de novos questionamentos do que propria- mesma religião, ao responderam à mesma
mente respostas e/ou considerações conclusi- questão, fundamentados em suas crenças
vas. religiosas, partiram para direções comple-
A seguir, discutiremos rapidamente tamente diferentes. Estes dados deixam
cada uma das não-regularidades identificadas claro que a internalização dos elementos
diante dos dados apresentados, as quais vêm, da cultura ocorre de forma não-linear, e
do nosso ponto de vista, confirmar a comple- em meio a outros processos subjetivos

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(ex: valores, estruturas cognitivas, senti- mais acentuada. Isso fica claro quando ob-
mentos, representações sociais) que po- servamos, por exemplo, que, ao contrário
dem levar o sujeito a aceitar ou contestar, do que encontramos nos grupos religiosos,
de forma mais ou menos intensa, aquilo nenhum dos sujeitos do grupo de estudan-
que lhe é sugerido pela cultura (Martins e tes (entrevistados no espaço da Universi-
Branco, 2001). Desta maneira, a organiza- dade) fez referência às suas crenças reli-
ção do pensamento do sujeito não neces- giosas ao responderem à Questão A; den-
sariamente é determinada por aquilo que é tro deste grupo, entretanto, mais da meta-
veiculado pela cultura da sociedade ou de dos sujeitos declarou vincular-se a al-
grupo do qual este participa. guma religião. Ao mesmo tempo, as dife-
rentes crenças religiosas com as quais tra-
• Diante de temáticas de sexualidade apre- balhamos influenciaram de formas e em
sentadas de formas diferentes, a tendência níveis diferentes o pensamento dos sujei-
dos sujeitos foi de alterar seu raciocínio, tos entrevistados. Basta verificarmos, den-
isto é, de uma maneira geral, um mesmo tro de cada grupo religioso, a quantidade
sujeito aplicou modelos organizadores di- de sujeitos que, influenciados por suas
ferentes ao responder às questões apresen- crenças religiosas, aplicaram o mesmo ra-
tadas. Resgatando os dados encontrados, ciocínio ao responderem às questões A e
temos que, ao compararmos as respostas B: enquanto que, no grupo católico, 80%
dadas pelos sujeitos às questões A e B, dos sujeitos mantiveram a coerência, nos
39% mantiveram o mesmo tipo de racio- grupos adventista e espírita, esta porcen-
cínio – isto é, aplicaram modelos organi- tagem corresponde a 48% e 24%, respec-
zadores análogos nas duas respostas –, ao tivamente. Assim, consideramos que a in-
passo que a maioria, 54%, aplicou racio- fluência exercida pelas crenças na organi-
cínios diferentes. Este dado indica que a zação do pensamento humano pode ser
influência das crenças na organização do mais ou menos acentuada, a depender de
pensamento, no caso dos sujeitos que par- seu conteúdo e da maneira com a qual o
ticiparam de nossa investigação, não foi sujeito relaciona-se ao grupo cultural no
tão intensa a ponto de garantir uma coe- qual se insere.
rência no pensamento dos mesmos. O que
fica evidente, portanto, é que a influência A partir dos pontos aqui discutidos,
das crenças religiosas no pensamento não podemos afirmar que os resultados obtidos
foi determinante, e isso, por sua vez, con- com a pesquisa que aqui se coloca, embora
duz-nos para o fato de que os modelos or- confirmem a hipótese inicial, também trazem
ganizadores elaborados pelos sujeitos di- indícios para considerar que as relações entre
ante de situações semelhantes podem va- as crenças – e por extensão os aspectos cultu-
riar de acordo com o contexto, influencia- rais – e o pensamento humano são permeadas
dos por outros fatores como os sentimen- por uma série de outros fatores que atuam si-
tos, os valores, as experiências anteriores multaneamente durante a organização do ra-
do sujeito, apenas para citar algumas hipó- ciocínio, isto é, na elaboração dos modelos
teses. organizadores. Tais fatores podem ser de or-
dem inter e intrapsíquica, sendo que, neste
• Foi possível verificar variações no grau de último caso, podem estar relacionados, supo-
influência das crenças no pensamento dos mos, a diferentes dimensões constituintes do
sujeitos, de acordo com os diferentes con- sujeito: afetiva (através da atuação de senti-
textos sociais e também com o conteúdo mentos e valores); biológica (com o próprio
da própria crença. Assim foi que, no caso funcionamento cerebral); cognitiva (influen-
dos sujeitos que estavam em contato com ciada pelos esquemas de ação e estruturas
seu grupo e espaço religioso, a influência cognitivas) e até mesmo outros aspectos da
das crenças no pensamento parece ter sido

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própria dimensão sociocultural (influência da modelos organizadores aplicados incorpora-


linguagem e representações sociais). ram elementos relativos às crenças religiosas,
Para finalizar, devemos ter em vista indicando que estas de fato influenciam a or-
que este trabalho centrou-se apenas nas possí- ganização do pensamento. Por outro lado, foi
veis influências exercidas pelas crenças reli- verificado também que tal influência atuou
giosas no pensamento humano, e que há ou- em conjunto a outras variáveis concernentes
tros aspectos também relacionados à cultura ao funcionamento psíquico dos sujeitos em
(contexto familiar, linguagem, crenças de ou- questão, evidenciado pelas variações nos mo-
tra natureza) que, julgamos, certamente exer- delos organizadores encontrados, tanto entre
cem sua parcela de influência na organização os diferentes grupos entrevistados quanto na
do pensamento dos sujeitos. análise das respostas de um mesmo sujeito.
Diante de todo o exposto, gostaríamos
8. Considerações finais de encerrar as discussões com algumas consi-
derações suscitadas pelo estudo feito e pelos
O presente artigo buscou discutir as resultados obtidos.
relações entre as crenças e o pensamento hu- Não nos resta dúvida de que o funcio-
mano, a partir de uma perspectiva de comple- namento mental do ser humano deve ser com-
xidade. Partimos do princípio de que as cren- preendido a partir de uma perspectiva de
ças pessoais, ao fazerem parte da individuali- complexidade. Pensamos, assim, que os resul-
dade do sujeito, passam a influenciar o pró- tados apresentados vêm por confirmar ainda
prio funcionamento mental, a organização do mais a necessidade de considerarmos que os
pensamento, atuando juntamente aos proces- processos do pensamento humano, diante da
sos cognitivos. infinidade de variáveis que nele atuam, só po-
Para as discussões, apresentamos os dem ser de fato compreendidos levando-se em
resultados de uma investigação embasada na conta que as não-regularidades existem tanto
Teoria dos Modelos Organizadores do Pen- quanto as regularidades, que as possibilidades
samento. Esta teoria considera que o sujeito não são necessariamente previsíveis, que a-
constrói modelos da realidade em sua intera- quilo que influencia não determina.
ção com os objetos, pessoas e relações pre- O intuito, portanto, não foi delinear
sentes ao seu redor, e também consigo mes- um caminho único, com teorias acabadas e
mo. Os modelos organizadores do pensamen- que se pretendem absolutas. Pensamos que
to são construídos a partir não apenas de pro- novos estudos, que tenham como ponto de
cessos cognitivos, mas também diante da in- partida uma perspectiva ampla, encarando o
fluência de aspectos de outra natureza, como ser humano em sua totalidade e complexida-
afetiva (sentimentos, emoções) e sociocultural de, podem esclarecer ainda mais nossa com-
(crenças). preensão da realidade humana e de suas rela-
A pesquisa apresentada teve como ob- ções com o mundo.
jetivo investigar as relações entre as crenças Ao mesmo tempo, na intenção de es-
religiosas e os modelos organizadores do pen- tudar as influências das crenças na organiza-
samento aplicados por sujeitos diante de situ- ção do pensamento, a pesquisa traz também
ações que envolviam questões relacionadas ao contribuições para a discussão acerca das re-
tema da sexualidade. Em uma perspectiva lações entre o sujeito e a cultura, ao modo
mais ampla, a pesquisa buscou verificar até com o qual os elementos culturais são interna-
que ponto os aspectos culturais (aqui repre- lizados pelos sujeitos e até que ponto estes
sentados pelas crenças), que são internaliza- mesmos elementos passam a ser incorporados
dos pelos sujeitos, passam a influenciar a or- à forma de pensar do ser humano.
ganização de seu pensamento. E, neste sentido, os resultados de nos-
Os dados da pesquisa, obtidos a partir sa pesquisa apontam para o fato de que os as-
da aplicação de um questionário a sujeitos de pectos culturais, criações humanas que têm
diferentes religiões, demonstraram que os sua origem na vida social dos indivíduos, e-

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xercem sua parcela de influência, orientando tal e a influência da cultura podem contribuir
o modo de pensar dos sujeitos e sua atuação para uma compreensão ainda maior destes
no mundo e que, no pensamento humano, tais processos.
aspectos adquirem tanta importância quanto
outros, de ordem cognitiva ou afetiva, por e- 9. Referências bibliográficas
xemplo.
Por outro lado, essa mesma cultura Arantes, V.A. (2000). Estados de ânimo e os
não pode ser vista como determinante na modelos organizadores do pensamento: um
constituição da individualidade do ser huma- estudo exploratório sobre a resolução de con-
no, uma vez que, como discutido, as crenças flitos morais. Tese de Doutorado. Barcelona:
(em especial as religiosas) não foram sufici- Facultat de Psicologia, Universitat de Barce-
entes para orientar por si só a organização do lona.
pensamento diante das questões cotidianas, Araújo, U.F. (1999). Conto de Escola: a ver-
em direção à homogeneidade e constância dos gonha como um regulador moral. São Paulo:
raciocínios aplicados pelos sujeitos, já que Moderna; Campinas: Editora UNICAMP.
atuam em meio a outros fatores subjetivos. Araújo, U.F. (2003). A dimensão afetiva na
Desta forma, estamos inclinados a psique humana e a educação em valores. Em:
considerar que a cultura, ao ser internalizada Arantes, V. (Ed.) Afetividade na escola: al-
– através de aspectos como as crenças (que ternativas teóricas e práticas (pp. 153-169).
aqui elegemos para nosso estudo) – passa a São Paulo: Summus.
fazer parte da dinâmica do funcionamento Martins, L.C. e Branco, A.U. (2001). Desen-
psíquico e mental do ser humano, mas não volvimento moral: considerações teóricas a
anula os demais fatores que influenciam este partir de uma abordagem sociocultural cons-
processo, tanto vinculados à própria dimensão trutivista. Psicologia Teoria Pesq., 17 (2),
sociocultural, como a demais dimensões do 169-176.
ser humano. Moreno, M.; Sastre, G.; Leal, A. e Bovet, M.
Isso parece ser coerente com as pers- (1999). Conhecimento e Mudança: os mode-
pectivas que consideram a relação entre a cul- los organizadores na construção do conheci-
tura e o indivíduo, bem como o processo de mento. São Paulo: Moderna; Campinas: Edi-
internalização desta pelo sujeito, de uma ma- tora UNICAMP.
neira não unilateral, apresentadas ao longo do Morin, E. (1991). O paradigma de complexi-
presente artigo através das idéias de Morin dade (Matos, D., Trad.). Em: Introdução ao
(2002b), Vygotsky (1998) e Martins e Branco Pensamento Complexo (pp. 83-113). Lisboa:
(2001). Assim, ao ser incorporada à individu- Instituto Piaget (Original publicado em 1990).
alidade do sujeito, os aspectos culturais pas- Morin, E. (1994). Epistemologia da Comple-
sam, neste processo, pela subjetividade de xidade (Rodrigues, J. H., Trad.). Em: Shni-
cada ser humano, de forma que a internaliza- man, D. Novos paradigmas, cultura e subjeti-
ção não representa simplesmente a reprodu- vidade (pp. 274-289). Porto Alegre: Artes
ção dos elementos da cultura no indivíduo. Médicas.
Diante disso, ressaltamos que, em Morin, E. (2002a). O Método 1: a natureza
nossa opinião, qualquer estudo que tenha co- da natureza (Heineberg, I., Trad.). Porto Ale-
mo objetivo compreender o funcionamento gre: Sulina (Original publicado em 1977).
mental e psíquico do ser humano e sua atua- Morin, E. (2002b). O Método 5: a humanida-
ção no mundo deve fazê-lo sempre levando de da humanidade (Silva, J. M., Trad.). Porto
em conta as influências exercidas pelo con- Alegre: Sulina (Original publicado em 2001).
texto cultural nesta dinâmica. Isto é, o ser Vygotsky, L.S. (1998). A formação social da
humano não pode ser visto desvinculado da mente (Cipolla Neto, J.; Menna Barreto, L.S.;
cultura e da sociedade nas quais se insere. Afeche, S.C., Trads.). São Paulo: Martins
Ademais, acreditamos que estudos futuros Fontes (Original publicado em 1978).
sobre as relações entre o funcionamento men-

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