Você está na página 1de 15

UM BREVE HISTÓRICO, CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA

PSICOMOTRICIDADE E SUA RELAÇÃO COM A EDUCAÇÃO

Raysa Soares Moi


Licenciatura em Pedagogia – Universidade Veiga de Almeida
moi.raysa2@outlook.com
Márcia Simões Mattos
Professora da Universidade Veiga de Almeida - Mestre em Educação –Licenciatura em
Pedagogia e História
marcia.mattos@uva.br

RESUMO

O estudo tem como objetivo o levantamento de informações históricas acerca do tema


psicomotricidade e sua relação com a educação como fator fundamental para o
desenvolvimento em seus aspectos cognitivos, físicos e sociais da criança. Por meio de
atividades lúdicas as crianças, além de se divertir, criam, interpretam e interagem com
o mundo em que vivem, considerando a relação do movimento e da aprendizagem, e a
desarmonia entre ambos pode ser prejudicial à criança. O ser humano é visto como um
corpo único e inseparável, e se desenvolve sobre três pilares: cognitivo (intelectual),
motor (movimento) e o afetivo (relação), gerando assim, o equilíbrio biopsicossocial.
Um bom trabalho psicomotor com o foco no controle tônico postural pode diminuir as
dificuldades de aprendizagem, estimulando a conscientização do ritmo, da atenção,
concentração, dentre outros aspectos que influenciam diretamente na aprendizagem e
no desenvolvimento. A metodologia consistiu em uma série de pesquisas
bibliográficas para apoiar um estudo crítico sobre a história da psicomotricidade e sua
relação com a educação.
Palavras-chave: Psicomotricidade, História, Aprendizagem.

ABSTRACT

The aim of this study is to collect historical information about the theme of
psychomotricity and its relationship with education as a fundamental factor for
development in its cognitive, physical and social aspects of the child. Through play
activities, children enjoy and create, interpret and interact with the world in which they
live, considering the relation of movement and learning, and the disharmony between
them can be harmful to the child. The human being is seen as a single and inseparable
body, and develops on three pillars: cognitive (intellectual), motor (movement) and
affective (relationship), thus generating biopsychosocial balance. Good psychomotor
work with a focus on postural tonic control can reduce learning difficulties,
stimulating awareness of rhythm, attention, concentration, among other aspects that
will directly influence children's learning and development. The methodology
consisted of a series of bibliographical research to support a critical study on the
history of psychomotricity and its relation with education.
Key words: Psychomotricity, History, Learning.

INTRODUÇÃO

A psicomotricidade está presente basicamente em todas as atividades, e além de


constituir-se como um fator indispensável ao desenvolvimento global e uniforme da
criança, é também a base fundamental para o processo de aprendizagem dos indivíduos.
Assim este estudo tem como objetivo o levantamento de informações históricas
acerca do tema psicomotricidade e sua relação com a educação como fator fundamental
para o desenvolvimento em seus aspectos cognitivos, físicos e sociais da criança.
A metodologia utilizada está alicerçada na pesquisa bibliográfica que tem como
objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito, assim entendermos o conceito de psicomotricidade, e como ela está vinculada
com a educação e suas contribuições para a aprendizagem da criança.
A psicomotricidade é caracterizada como uma área do conhecimento que utiliza
os movimentos físicos para atingir outras aquisições mais elaboradas, como as
intelectuais, e durante o processo de ensino, os elementos básicos da psicomotricidade
são utilizados com frequência, e cujo desenvolvimento psicomotor é mal constituído,
poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de
letras (ex:b/d), na ordenação de sílabas, no pensamento abstrato (matemática), na
análise gramatical, dentre outras.
Assim os movimentos físicos são muito importantes para o desenvolvimento
humano, transmitindo sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as
possibilidades do uso de gestos e posturas corporais, que auxiliarão no processo de
ensino-aprendizagem, considerando que um bom desenvolvimento psicomotor
proporciona ao aluno algumas habilidades e um bom desempenho escolar.
Neste sentido é importante refletir sobre a história, os conceitos e fundamentos
da psicomotricidade, e os benefícios dessa prática para o desenvolvimento integral da
criança, o surgimento da psicomotricidade no Brasil e suas principais vertentes.
A partir do referencial teórico, obtido com as leituras de autores como Fonseca
(2008) que apresenta em sua obra um minucioso estudo sobre os três pioneiros do
desenvolvimento psicomotor: Ajuriaguerra, Wallon, Piaget, e as contribuições de Le
Boulch (1982), Negrine (1986), entre outros autores, assim sendo possível formular a
hipótese de que a psicomotricidade interfere na aprendizagem dos alunos e no
desenvolvimento integral.
De acordo com Fonseca (2008), a psicomotricidade pode ser definida como o
campo transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e
sistêmicas entre o psiquismo e a motricidade.
Para Le Boulch, a educação psicomotora deve ser uma formação de base
indispensável para toda criança.
Assim, é importante uma analise a fim de buscar os motivos das dificuldades
encontradas no processo de ensino-aprendizagem, que não estão ligadas às questões
patológicas, e acabam se tornando uma problemática educacional nas etapas da vida
escolar da criança. Desta maneira destaca-se e a importância para o professor em
conhecer a história da psicomotricidade e seus fundamentos, a fim de compreender de
fato como ela está ligada à educação e refletir sobre a importância da área psicomotora
no desenvolvimento motor e cognitivo.

1. Um Breve Histórico, Conceitos e Fundamentos da Psicomotricidade

O corpo é o ponto de referência que os seres humanos buscam conhecer e assim


interagir com o mundo, servindo como base para o desenvolvimento nos aspectos
cognitivos, sociais, físico-motor e afetivo-emocional.
Fonseca (1988) informa que etimologicamente podemos definir o termo
psicomotricidade como oriundo do grego psyqué = alma/mente e do verbo latino moto =
mover frequentemente, agitar fortemente. A terminologia está ligada ao movimento
corporal e sua intencionalidade.
A motricidade humana tem sua origem na própria história social do homem,
sendo fundamental às atividades no trabalho, em casa, na caça, na comunicação e na
perpetuação da espécie. Já o termo “Psicomotricidade” apareceu pela primeira vez no
discurso médico, no campo da neurologia, tendo como pioneiro o neurologista francês
Ernest Dupré (1862 – 1921), que no século XIX constatou disfunções graves
evidenciadas no corpo sem que o cérebro tivesse nenhuma lesão. São descobertos
distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica, onde o "esquema anátomo-clínico"
que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar
alguns fenômenos patológicos, tendo então a necessidade de encontrar uma área que
explicasse tais fenômenos clínicos, e então fez com que surgisse a palavra
“Psicomotricidade” em 1870.
Em 1909, Dupré definiu a síndrome da debilidade motora através das relações
entre o corpo e a inteligência, dando partida para o estudo dos transtornos psicomotores,
patologias não relacionadas a nenhum indício neurológico estudados pela
Psicomotricidade.
Somente no século XX a psicomotricidade passou realmente a ser considerada
ciência. Contudo, a prática psicomotora começou em 1935, com Eduard Guilmain, que
elaborou protocolos de exames para medir e diagnosticar transtornos psicomotores.
Passa-se a ter uma visão integral do indivíduo, de forma a respeitar suas limitações e
necessidades, trabalhando-o integralmente o físico, cognitivo e o afetivo.
A psicomotricidade é sustentada por três conhecimentos básicos: o movimento,
o intelecto e o afeto. Sendo estruturada por três pilares: o querer fazer (emocional) –
sistema límbico, o poder fazer (motor) – sistema reticular e o saber fazer (cognitivo) –
córtex cerebral. Sendo importante que ocorra o equilíbrio entre eles, caso ao contrário
pode acarretar uma desestruturação no processo de aprendizagem da criança.
A motricidade tem a função de levar as experiências vivenciadas até o cérebro,
que fará a decodificação de cada estimulo enviado e armazenará as informações
sensoriais, afetivas e perceptivas que o individuo presenciou.
De acordo com a Associação Brasileira de Psicomotricidade, a mesma pode ser
definida como:
... a ciência que tem como objetivo de estudo o homem por meio do seu
corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem
como suas possibilidades de perceber, atuar e agir com o outro, com os
objetos, e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o
corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas, e orgânicas.

Neste sentido Dupré, foi um dos autores que influenciaram fortemente a


Psicomotricidade, assim como Wallon, Piaget, Guilmain, Ajuriaguerra entre outros, que
estudaram e comprovaram a relação entre o movimento e a aprendizagem.
Segundo Wallon (1925), seus estudos estavam voltados para a relação entre as
emoções e o certo comportamento tônico, mostrando a importância dos movimentos no
desenvolvimento psicológico da criança. Seu olhar psicobiológico influenciou os
psicomotricistas que estudam o desenvolvimento motor e mental da criança, auxiliando
nos estudos relacionados à aquisição do conhecimento da criança, em seus aspectos
intelectuais, motores e afetivos.

O movimento não é puramente um deslocamento no espaço, nem uma


simples contração muscular, e sim, um significado de relação afetiva com o
mundo, assim, para o autor, o movimento é a única expressão e o primeiro
instrumento do psiquismo. Neste contexto, pode-se dizer que o
desenvolvimento motor é precursor de todas as demais áreas. (WALLON,
1995, p. 01).

O que mais tarde será visto por Ferreira (1998), afirma que “não existe
aprendizagem sem que seja registrado no corpo”. (p. 18), destacando a importância dos
movimentos nas ações de construção do conhecimento.
Nos estudos de De Meur & Staes (1984), assinala que “o intelecto se constrói a
partir da atividade física”. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas
do desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade
(emoções e sentimentos). Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é
indispensável o domínio de habilidades a ele relacionado, considerando que as
habilidades são fundamentais manifestações psicomotoras.
No enfoque das pesquisas de Levin (1995), “há uma diferença entre os
pensamentos de Wallon e Dupré”; para Wallon, o movimento está relacionado ao afeto,
à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos das crianças; para Dupré, a motricidade está
relacionada inteligência. Assim é possível observar que no início a psicomotricidade
tinha seus estudos voltados para a patologia. Porém Wallon, Piaget e Ajuriaguerra
aprofundaram seus estudos voltados para o campo do desenvolvimento, nesta
perspectiva Wallon se preocupou com a relação psicomotora, afeto e emoção, já Piaget
se preocupou com a relação evolutiva da psicomotricidade com a inteligência e
Ajuriaguerra consolida as bases da evolução psicomotora, de forma mais específica para
o corpo e sua relação com o meio. Para ele, a evolução da criança está na
conscientização do seu corpo.
Estas contribuições muito avançaram para o conceito da psicomotricidade e as
ações metodológicas para o desenvolvimento da aprendizagem, principalmente na
aquisição da leitura e escrita.
Assim para a psicomotricidade o indivíduo, para aprender, precisa sentir, pensar
e agir, a psicomotricidade é a expressão de um pensamento pelo ato motor preciso,
econômico e harmonioso. (AJURIAGUERRA, 1983)
Em 1948, Ajuriaguerra redefiniu o conceito de debilidade motora e delimitou
com clareza os transtornos psicomotores no seu Manual de Psiquiatria Infantil. Ele é o
responsável por delimitar com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o
neurológico e o psiquiátrico. Com estas novas contribuições, a psicomotricidade
diferencia-se de outras disciplinas, adquirindo sua própria especificidade e autonomia.
O corpo é eixo comum na prática da psicomotricidade, porta-voz dos sintomas e
sede dos problemas de aprendizagem e/ou psicomotores, podendo ser trabalhados
através da reeducação, porém o profissional de educação deve se apropriar deste recurso
para aplicá-lo nas rotinas educacionais.
Os pesquisadores André Lapierre e Bernard Aucouturier, são considerados os
pais da psicomotricidade relacional. Negrine (1995), afirma que com a influência desses
dois professores de educação física, a psicomotricidade passou por três períodos:
continuador, inovador e de ruptura. O período continuador é caracterizado pela primeira
vertente adotada pelos autores Lapierre e Aucouturier, onde as publicações da época
expressavam a linha teórico-metodológica funcionalista, marcando a origem da
psicomotricidade como campo de estudo e como prática pedagógica, onde as crianças
eram submetidas a testes que avaliavam seu perfil psicomotor. Já no período inovador,
ao contrário do que acreditavam no estágio anterior, nesse período, o trabalho era
desenvolvido com fundamento nas potencialidades dos alunos, unindo teoria e prática
com bases relacionais, pois a psicomotricidade funcional não seria adequada quando se
tratasse de educação ou reeducação. Assim surge o período da ruptura, onde os autores
Lapierre e Aucouturier acabaram tendo suas práticas distanciadas. Lapierre trabalhou
com base na potencialização dos jogos simbólicos, acreditando que sempre há uma
intenção por trás deles, e que o adulto interviria no jogo simbólico da criança. Já
Aucouturier defendia a potencialização dos jogos sensório-motor.
Segundo Alves (apud SILVA, 2004), “A psicomotricidade tem como principal
propósito melhorar ou normalizar o comportamento geral do individuo, promovendo um
trabalho constante sobre as condutas motoras, através das quais o indivíduo toma
consciência do seu corpo, desenvolvendo o equilíbrio, controlando a coordenação global
e fina e a respiração bem como a organização das noções espaciais e temporais.”
É uma pratica pedagógica que contribui para o desenvolvimento da criança no
processo de ensino aprendizagem. Favorece os aspectos físicos, mental, afetivo
emocional e sócio cultural. É uma forma de ajudar a criança a superar as suas
dificuldades e precaver possíveis inadaptações. (OLIVEIRA, 2002).
O papel da psicomotricidade na educação é estimular o desenvolvimento das
percepções da criança e seu esquema corporal. O ato de movimentar-se fisicamente é
privilegiado com o trabalho psicomotor, porém leva-o ao trabalho mental, onde é
aprendido a ouvir, interpretar, imaginar, organizar, representar e passar do abstrato para
o concreto. O desenvolvimento é adquirido através de suas tentativas e erros. Ela
transforma seus erros em aprendizado. Portanto a atividade motora é de extrema
importância no desenvolvimento da criança.
A psicomotricidade de Le Boulch (1983) justifica sua ação pedagógica
colocando em evidencia a prevenção das dificuldades pedagógicas, dando importância a
uma educação do corpo que busque um desenvolvimento total da pessoa, tendo como
principal papel na escola preparar seus educandos para vida, utilizando métodos
pedagógicos renovados, procurando ajudar a criança a ser desenvolver da maneira
possível, contribuindo dessa forma para uma boa formação da vida social.
Muitos estudos tem na psicomotricidade um olhar apenas para o corpo e o
movimento, porém vai além. É responsável também pela contribuição mental e pelo
comportamento, neste sentido podemos observar que:

A psicomotricidade como seu nome indica, trata de relacionar os elementos


aparentemente desconectados, de uma mesma evolução: o desenvolvimento
psíquico e o desenvolvimento motor. Parte, portanto, de uma concepção do
desenvolvimento que coincide com a maturação e as funções neuromotoras e
as capacidades psíquicas do individuo de maneira que ambas as coisas não
são duas formas, até então desvinculadas, na realidade é um processo.
(NÚNEZ apud COSTALLAT, 2002, p.22)

O movimento é a parte integrante do comportamento humano. No entanto,


conforme os estudos de Santos; Cavalari (2010) para que haja desenvolvimento integral
é preciso que tenhamos profissionais capazes e conscientes da importância da
psicomotricidade, considerando-a como a ciência que envolve toda ação realizada pelo
individuo, que represente suas necessidades e permita suas relações com os demais.
Segundo Alves (2008), “O ser humano não é feito de uma só vez, mais se
constrói pouco a pouco, por meio da ação com o meio e de suas próprias realizações, e
nessa construção a psicomotricidade realiza um papel fundamental.” O que a cada dia
torna-se essencial no processo de aprendizagem da criança, onde ela utiliza de seu
próprio corpo para o processo de interação e conhecimento do mundo. De acordo com a
afirmação de Alves (2012, p.144), “A psicomotricidade existe nos menores gestos e em
todas as atividades que desenvolve a motricidade da criança, visando ao conhecimento e
ao domínio do seu próprio corpo”.
A estruturação psicomotora é a base para o processo de desenvolvimento
intelectual da criança. O desenvolvimento evolui do geral para o específico.
Apresentando desta forma ser um dos fatores essenciais ao desenvolvimento global e
uniforme da criança.
Alexander Romanovich Luria foi um famoso psicólogo soviético especialista em
psicologia do desenvolvimento e agrupou as bases psicomotoras em unidades
funcionais ou neuroblocos, a primeira composta pela tonicidade e o equilíbrio, a
segunda composta pela noção de corpo, lateralidade e estruturação espaço-temporal e a
terceira é composta pelas praxias global e distal.
A criança não nasce pronta, tudo se constrói aos poucos, por meio das próprias
ações, cada ser tem seu eixo corporal que ao decorrer do tempo é adquirido pelo
movimento e as experiências vividas. O ser humano necessita através do seu corpo,
perceber as coisas que estão ao seu redor, adquirindo as noções de em cima, embaixo,
perto, longe, na frente e atrás, sendo sempre estimulada a se auto-independe. No entanto
esses desenvolvimentos variam de criança para criança, pois cada uma apresenta
competências diferentes.
A psicomotricidade trabalha os movimentos da criança, motiva a capacidade
sensitiva, cultiva a capacidade perceptiva através da resposta corporal, organiza a
capacidade dos movimentos, utilizando objetos reais e imaginários, amplia e valoriza a
identidade própria, cria segurança e respeito aos espaços dos demais.
Os estudos baseados na psicomotricidade nos auxiliam a entender a importância
do corpo para o desenvolvimento global do ser humano, associando dinamicamente o
ato ao pensamento, o gesto à palavra, o símbolo ao conceito, e está relacionada ao
processo de maturação. Antigamente a educação propôs que os aspectos motores e
intelectuais poderiam ser medidos por testes, sendo o sujeito fragmentado, e assim
vieram novos tempos e novas idéias, e com isso o corpo e a imaginação só poderiam
andar juntos, e o brincar passou a fazer parte da educação, contribuindo para
aprendizagem. E as relações com o outro e com o meio, o ser humano se desenvolvia
plenamente.

2. O Surgimento da Psicomotricidade no Brasil

No Brasil, a Psicomotricidade foi introduzida em meados da década de 70,


trazida por profissionais oriundos da Europa. Nesta época, as práticas eram direcionadas
a Educação e Reeducação Psicomotora. E em 1976, com a estada de Françoise
Désobeau, uma das pioneiras em psicanálise infantil, foi introduzida a Terapia
Psicomotora que propunha a substituição das técnicas instrumentais por atividades mais
livres, valorizando o jogo e o brincar. Assim, em 1980 foi fundada a Sociedade
Brasileira de Psicomotricidade.
O início da Psicomotricidade no Brasil ocorreu com profissionais que foram para
a França especializar-se em clínica infantil e, depois, em psicomotricidade com
Ajuriaguerra - psiquiatra e professor e, depois, com Bergès que era seguidor de
Ajuriaguerra, no hospital Henri-Roussele, na escola da equipe de Giselle. B Soubiran-
terapeuta psicomotora.
Airton Negrine, é uma das primeiras referências no Brasil na área da
Psicomotricidade, passando de partidário da linha funcionalista, para defensor da linha
relacional, onde o professor deve buscar sempre estratégias para impulsionar o
desenvolvimento dos alunos que apresentam dificuldades. A educação especial foi o elo
entre o surgimento da psicomotricidade na Europa e no Brasil.
De acordo com Negrine (2002), os primeiros trabalhos relacionados à
psicomotricidade no Brasil foram realizados por professores das disciplinas ligadas ao
ensino de educação física na educação infantil, em cursos superiores de educação física.
Esses professores lutaram para que a psicomotricidade fosse uma disciplina integrante
do currículo dos cursos de educação física e pedagogia. Antes que isso acontecesse, a
psicomotricidade já era desenvolvida dentro de clínicas privadas de reeducação.
A história da psicomotricidade chega tardiamente no Brasil, contudo, vêm
despertando interesse de muitos estudiosos, principalmente de profissionais da área da
educação que buscam melhorar o desempenho de seus alunos no desenvolvimento
global, para facilitar a aquisição de conhecimentos, principalmente no processo de
alfabetização, onde são encontradas as maiores dificuldades trazidas pelos alunos.

3. As Principais Vertentes da Psicomotricidade

Com o intuito de facilitar a compreensão das características das principais


vertentes da Psicomotricidade, algumas características são analisadas e destacadas em
cada uma delas. A psicomotricidade evidencia três vertentes: a reeducativa, terapêutica
e educativa.
A Reeducação atende individualmente, ou em pequenos grupos, que apresentam
sintomas de ordem psicomotora. Estes sintomas podem vir acompanhados de distúrbios
mentais, orgânicos, psiquiátricos, neurológicos, relacionais e afetivos. O trabalho de
reeducação privilegia a princípio três situações, que são: o alívio do problema, a
redução do sintoma e a adaptação ao problema através de jogos e exercícios
psicomotores.
A Terapia Psicomotora é realizada individualmente ou em pequenos grupos que
apresentam grandes perturbações de ordem patológica, tem como objetivo uma ação
diagnóstica dos atrasos psicomotores ou características da personalidade com a
utilização do corpo, com seus movimentos e sua expressividade.
A terapia psicomotora utiliza-se das contribuições da teoria psicanalítica. Nesta
vertente os psicomotricistas estão atentos à vida emotiva de seus pacientes, delegando
importância à emoção, à expressão e à afetividade. O corpo é considerado como uma
unidade que conjuga a emoção e a motricidade (LEVIN, 1995).
A Educação Psicomotora é realizada no âmbito escolar, é uma atividade
preventiva, aplicada principalmente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental
séries iniciais. Sua intensificação como prática pedagógica teve origem na França, com
o professor de Educação física Jean Le Boulch, na segunda metade da década de 60,
tendo como foco o desenvolvimento global do indivíduo por meio dos movimentos,
evitando distúrbios de aprendizagem, proporcionando para os indivíduos, ambientes que
estimulem as vivências corporais, desafiando os alunos a alcançarem suas zonas de
desenvolvimento, como defende Vygotsky.
Segundo Le Boulch (1987) “a Educação Psicomotora deve ser considerada como
uma educação básica para o ensino fundamental.” A Educação Psicomotora proporciona
atividades escolares, que não podem ser conduzidas se a crianças não tiver alcançado a
consciência do seu corpo, lateralizar-se, e se não tiver adquirido habilidades e
coordenação de seus gestos e movimentos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim este estudo buscou alcançar os objetivos propostos, demonstrando assim a


grande importância que a psicomotricidade exerce ao longo da vida de um aluno e sua
influência no processo de ensino-aprendizagem. Entender a questão histórica e evolução
da Psicomotricidade bem como relatar as personalidades importantes para o crescimento
desta ciência, é de suma importância para a formação dos docentes e ponto de reflexão
para torna-la amplamente conhecida na base de estudos na formação docente.
Um desenvolvimento psicomotor não estimulado pode acarretar uma série de
problemas não só motores, mas no desenvolvimento total do indivíduo, fazendo com
que as ações simples do cotidiano se tornem difíceis pela má formação. Como por
exemplo, o desenvolvimento das habilidades psicomotoras para o aluno nos anos
iniciais escolares poderá ser grande facilitador no desenvolvimento integral das etapas
da alfabetização e levando-o a um desenvolvimento pleno.
Assim, é necessário que as escolas proporcionem a formação continuada para os
professores através de conhecimentos sobre a temática, e que tenham um olhar sensível
para perceber as necessidades dos alunos e poder construir novas possibilidades diante
das dificuldades psicomotoras, e nas situações mais complexas solicitar o auxílio
necessário, e a escola cumpra sua função social que é garantir os conhecimentos, as
habilidades e valores necessários à formação do individuo.
Neste sentido esta pesquisa buscou enfatizar, a partir de uma perspectiva
histórica, uma breve narrativa do desenvolvimento da Psicomotricidade ao decorrer dos
tempos e alguns de seus autores principais, evidenciar através dos estudos destes
autores, que não há um conceito único e singular, mas sim, diversos olhares sobre a
Psicomotricidade.
A Psicomotricidade é apresentada assim, como uma ciência que pretende
transformar o corpo em um instrumento de relação e expressão com o outro, através do
movimento dirigido ao ser em sua totalidade, em seus aspectos motores, emocionais,
afetivos, intelectuais e sociais, considerando o homem como único, em constante
evolução e essencialmente um ser interativo.
Diante desta pesquisa, o estudo possibilitará o início de outras análises para que
este tema ocorra frequentemente nas pesquisas de educação e principalmente nas
práticas docentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AJURIAGUERRA, J. Manual da Psiquiatria Infantil. São Paulo: Masson, 1983.


ALVES. Fátima. Psicomotricidade: corpo, ação e movimento. 4. Ed. Rio de Janeiro:
Wak, 2008.

_________. Psicomotricidade – corpo, ação e emoção. 5. Ed. Rio de Janeiro: Wak,


2012.

ASP, Associação Brasileira de Psicomotricidade. O que é Psicomotricidade.


Disponível em: https://psicomotricidade.com.br/sobre/o-que-e-psicomotricidade/.
Acessado em: 31 de março de 2018.

BRASIL. Ministério da educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental


Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil/. Brasília: MEC/SEF,
1998.

COSTALLAT, D. M. M. et al. A Psicomotricidade Otimizando as Relações


Humanas. São Paulo: Arte e Ciência, 2002.

DE MEUR, A. & STAES, L. Psicomotricidade: Educação e Reeducação. Rio de


Janeiro: Manole, 1984.
.

FERREIRA, Isabel Neves. Caminhos do aprender: Uma alternativa Educacional


para a criança portadora de deficiência. São Paulo: Unimep, 1998.

FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. 2. Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

LE BOULCH, J. O desenvolvimento Psicomotor do Nascimento até os seis


anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.

_________. Educação Psicomotora: Psicocinética na Idade Escolar. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1983.

_________. Educação Psicomotora: Psicocinética na Idade Escolar. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1987.

_________. Educação psicomotora. Porto Alegre: Artmed, 1988.


_________. Educação Psicomotora: Psicocinética na idade Escolar. Porto Alegre
:Ed. Artmed,1997.

LEVIN. Esteban. A Clínica Psicomotora: o corpo na linguaguem. Petrópolis, RJ:


Vozes, 1995.

NEGRINE, A. Educação Psicomotora: A Lateralidade e a Orientação Espacial.


Porto Alegre: Palloti, 1986.

________. Aprendizagem e Desenvolvimento Infantil. Porto Alegre: Prodil, 1995.

________. O Corpo na Educação Infantil. Caxias do sul: EDUCS, 2002.

OLIVEIRA, Anié Coutinho; SILVA, Katia Cilene. Ludicidade e Psicomotricidade.


Curitiba: InterSaberes, 2017.

OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque


psicopedagógico. 7. Ed. Petrópolis: Vozes, 2002.

________. Avaliação Psicomotora à luz da psicologia e da psicopedagogia.


Petrópolis: Vozes, 2003.

________. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque


psicopedagógico. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.

SANTOS, E. L. S. dos; CAVALARI, N. Psicomotricidade e Educação Infantil.


Caderno Multidisciplinar de Pós – Graduação da UCP, Pitanga, V.1, n.3, p.149 – 163,
marco, 2010.

SILVA, A. O Idoso e a Psiomotricidade. Monografia para a conclusão do Curso de


Pós- Graduação “Lato Sensu”, Rio de janeiro, 2004.

WALLON, Henry. As Origens do Caráter na Criança. São Paulo: Nova Alexandria,


1995.

Você também pode gostar