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AULA 2

DESENVOLVIMENTO
NEUROPSICOMOTOR E
APRENDIZAGEM

Prof. Everton Adriano de Morais


CONVERSA INICIAL

Nobres alunos, sejam bem-vindos à segunda aula sobre comportamento


neuropsicomotor e aprendizagem. Para este momento, a discussão está pautada
em conteúdos referentes a interações entre funções cognitivas e comportamento
motor, em consideração ao aspecto gradual de como o ser humano aprende e
apreende o conhecimento. Você já parou para pensar que digitar um texto envolve
inúmeros processos cognitivos, além de linguagem e do próprio comportamento
motor? Considere como a sua história de vida, o modo como se deu a construção
do conhecimento a partir do contexto de vivências escolares, familiares e sociais,
de um modo geral, faz com que você seja capaz de transportar, por exemplo, o
símbolo de uma placa de trânsito para um conjunto semântico de fatores que
influenciam a forma como você se porta diante de uma situação de tomada de
decisão.
A descoberta do significado de direita e esquerda, horizontal e vertical,
oriente e ocidente, qual dia você faz aniversário, quando ocorreu a queda das
torres gêmeas estadunidenses, um número de telefone não anotado e
posteriormente evocado – o que todas essas informações têm a ver com o
aprender e com a motricidade? Direta ou indiretamente, informações mnemônicas
acarretam em organização no espaço e no tempo; como isso acontece? Depende
diretamente de como aprendemos. Assim, a aula que se inicia irá explorar os
processos cognitivos interligados ao comportamento neuropsicomotor.

CONTEXTUALIZANDO

Dentre diversas teorias da aprendizagem voltadas a explicar o


comportamento motor, podemos analisar a teoria walloniana. Essa teoria
contribuiu significativamente, como suporte teórico, para a compreensão da
dimensão social e afetiva do desenvolvimento em relação à aprendizagem e a
motricidade, pois revelou a interação entre ambos os processos. Henri Wallon
enfatizou de um modo especial a comunicação humana nos primeiros anos de
vida, e sua maturação de um modo geral. Ele também deu enfoque à influência
do meio social no desenvolvimento do ser humano, o que inclui o seu contexto
histórico e social.
De acordo com Guedes (2011), Wallon aborda, em sua teoria, temas como
emoção, motricidade, formação da personalidade, linguagem, e pensamento.

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Estuda o modo como aprendemos e a forma como o indivíduo desenvolve suas
capacidades cognitivas e emocionais.
Obviamente, há outras teorias da aprendizagem que também contribuem
para a literatura quanto às fases do desenvolvimento e sua construção
maturacional de motricidade, cognição e interação social. No decorrer desta aula,
algumas delas serão comentadas e descritas, com a finalidade de mostrar a
importância do comportamento motor, a forma como evolui e contribui com o
funcionamento dos pensamentos, a criação de ideias e a coordenação motora
fina. O objetivo desta aula é traçar uma correlação entre os temas propostos e a
forma como o ser humano nasce, cresce e se desenvolve, considerando o
aprender voltado ao brincar, ao estudar, ao relacionar-se, à vivência e ao
compartilhamento do que é aprendido. Tudo isso com o suporte das teorias da
aprendizagem e da motricidade.

TEMA 1 – LUDICIDADE E PSICOMOTRICIDADE

O comportamento motor é desenvolvido a partir de diversos fatores, entre


eles a ludicidade. A psicomotricidade é conhecida por funções que são
relacionadas a processos do pensamento, e isso envolve tanto emoção quanto
cognição. Assim, de acordo com Silva e Haetinger (2013), o termo
psicomotricidade tem por definição a ciência que tem por objeto de estudo o
homem em seu desenvolvimento relacionado ao movimento, seja interno ou
externo, incluindo aí a socialização e suas produções.
A educação psicomotora abrange aprendizagens progressivas, referentes
a etapas do desenvolvimento do indivíduo que interferem diretamente nos
aspectos cognitivos. O meio interno ou externo influencia diretamente na
maturação da psicomotricidade, que se realiza em âmbitos diversos, como escola
e casa, em atividades lúdicas nos mais diversos locais e ambientes. A participação
de pais, adultos, professores e educadores em geral tem imensa importância
nesse processo. Música, dança, práticas diversas de artes-educadoras, e
atividades físicas em geral são a base para o desenvolvimento da vida motora de
uma criança (Silva; Haetinger, 2013).
Além da aprendizagem e da maturação biológica, a psicomotricidade
produz uma melhora comportamental em cada indivíduo, pela socialização e
adaptação ao mundo exterior, que se configuram como os principais e mais
eficazes motivos para a progressão psicomotriz. Mas o que ocorre quando não há

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desenvolvimento? Para entender esse ponto, é necessário analisar
minuciosamente cada caso e propor uma reeducação psicomotora. Com isso,
reeducar é também orientar o indivíduo a assimilar etapas que não foram
desenvolvidas progressivamente; o mesmo vale para dificuldades relacionadas à
coordenação de processos de pensamento e do comportamento motor.
Para que ocorra pleno desenvolvimento, o brincar é de extrema
importância: além de exercitar movimentos, contribui para criatividade,
planejamento, tomada de decisão, cinestesia, entre outros processos do
pensamento. As brincadeiras são as mais variadas e estão relacionadas com a
cultura em que o indivíduo está inserido. A inteligência é outra questão a ser
analisada, em especial a capacidade de lidar com as influências ambientais da
família, da sociedade e da ação do próprio indivíduo na sua aprendizagem.
Outra condição extremamente importante na aprendizagem psicomotora,
que envolve o brincar intimamente, é o escrever. Esta condição tem como
precursora a construção de símbolos e signos que contribuem para a transcrição
de pensamentos, e dá espaço à criatividade. Este processo precede a transcrição,
mas se dá concomitantemente ao simbólico, ao brincar e ao desenhar, em uma
reconstrução contínua de pensamentos. Após este processo inicial, é atribuído
um significado convencional e arbitrário ao produto, dando espaço à escrita; isso
depende de todo um processo complexo, que não envolve apenas o
comportamento psicomotor. Apesar da psicomotricidade ser precursora,
posteriormente a criança desenvolve uma percepção conceitual, que varia
conforme sua realidade.
Dessa forma, pode-se considerar que o desenho ou o brincar trazem de
forma precursora a ideia de linguagem escrita; para tal, são utilizados conceitos
semânticos. Por exemplo, o ato de brincar com um pedaço de madeira pode
indicar um boneco de brinquedo. A semelhança gestual com a escrita está em
entender que o objeto atual denota um significado para uma determina ação, a
qual posteriormente terá outro sentido; o mesmo se dá no processo semântico da
escrita. Uma palavra traz um certo significado dentro de um contexto, mas em
outro não (Maluf; Cardoso-Martins, 2013).
A ludicidade é fundamentalmente importante às condições cognitivas, que
se relacionam, por sua vez, ao comportamento motor. O brincar caracteriza-se
como um preparo a movimentos complexos, à criatividade e ao desenvolvimento
intelectual dos indivíduos.

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TEMA 2 – PSICOGÊNESE, APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO

Wallon (1975) aprofundou seus estudos em uma pesquisa chamada


Psicologia Genética, que trata da gênese dos processos psíquicos. O autor
acreditava que determinadas situações precursoras do psiquismo podem ajudar
a compreender a vida psíquica na sua totalidade, e que para tanto a observação
é o principal método de pesquisa.
Sua teoria partia do pressuposto de que o homem não pode ser dividido
em sociável e biológico, devido às exigências tanto do organismo quanto da
sociedade, presentes na vida de todos. Por meio de tal conceito, concluía que o
homem possui uma inteligência genética e organicamente social, e que isso
ocorre devido à relação entre o ambiente social e questões biológicas, por meio
da qual o indivíduo se constrói, por meio da reciprocidade e da interdependência
com o meio.
Após estudar o comportamento infantil, Wallon (1975) contextualizou as
condutas das crianças com base no meio em que o sujeito vive, incluindo aspectos
como a cultura, o social e o familiar, entre outros. Ele afirma que a condição e o
meio em que a criança vive determinam o seu desenvolvimento.
O desenvolvimento é visto em referência ao todo. Wallon (1975)
compreende que o psiquismo da criança é desenvolvido de forma descontínua,
carregando a marca de muitas contradições, devido às situações de maturação
orgânica e à relação com o ambiente. A teoria walloniana se contrapõe à teoria
chamada de linear, que propõe um desenvolvimento por etapas definidas e
sequencias; nesta, os aspectos do processo não são superados por outros, porém
podem ocorrer em outro momento da vida. Acredita-se que a idade da criança
também estabelece uma determinada interação com o meio; assim, pode-se dizer
que o meio não é estático ou homogêneo, mas sofre alterações, junto com o
indivíduo.
Todo esse processo ocorre porque a criança extrai recursos do meio de
convívio para o seu desenvolvimento. Isso irá ocorrer conforme a competência e
as necessidades específicas da criança nos momentos em que é exigida. Por
razões culturais e ambientais, o sujeito tem uma dinâmica e um ritmo próprios,
que Wallon chama de princípios funcionais, os quais agem como leis constantes.
Nesse processo, há também a instalação de conflitos, que são chamados de

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dinamogênicos. Os conflitos seriam os responsáveis pela propulsão do
desenvolvimento.
Tais conflitos podem ter origem exógena (com relação ao externo), entre o
comportamento da criança e o ambiente, ou ter origem orgânica, o que
corresponde à maturação infantil, sendo, portanto, endógenos (causas internas).
Wallon também expõe que, na construção progressiva, há fases ora
predominantemente afetivas, ora cognitivas; a isso ele dá o nome de
predominância funcional.
Wallon propõe cinco estágios essenciais, e cada um com suas
especificidades:

1. Impulsivo-emocional: Abrangência no primeiro ano de vida. Enfatiza a


emoção (predomínio afetivo).
2. Sensório motor e projetivo: Ocorre até o terceiro ano de vida; é a fase
em que a criança se interessa pela exploração sensório-motora do mundo
físico (predomínio cognitivo).
3. Personalismo: Faixa etária dos três aos seis anos; construção da
personalidade e consciência de si (predomínio afetivo).
4. Categorial: Ênfase nos avanços intelectuais, que ocorre a partir dos seis
anos; é quando a criança parte para a conquista do mundo exterior
(predomínio cognitivo).
5. Adolescência: Crises impõem a necessidade de novos contornos da
personalidade. Mudanças corporais, questões existenciais e morais
retornam à situação de predominância afetiva.

Segundo Guedes (2011), o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem


com sucessivas diferenciações entre os campos funcionais. Esse processo seria
a chave da psicogenética proposta por Wallon, e orienta a formação da
personalidade de forma mais ampla nos processos de aprendizagem.

TEMA 3 – CONTRIBUIÇÕES DA EPISTEMOLOGIA GENÉTICA DE PIAGET AO


PROCESSO NEUROPSICOMOTOR

A epistemologia genética é uma teoria elaborada por Jean Piaget. A


epistemologia é um resumo de duas teorias existentes: apriorismo e empirismo.
Para Piaget, o conhecimento não é algo inato ao indivíduo, como afirma o
apriorismo. A epistemologia é utilizada comumente para designar o que

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chamamos de teoria do conhecimento. Por meio dos processos de
desenvolvimento e maturação biológica, se pode atingir uma formação para o
aprender. Cada etapa passa por uma fase de construção interacional; tais fatores
são importantes para a construção do conhecimento. Tanto nas fases de infância
como na adolescência, o indivíduo está sujeito a interagir de forma crítica com o
objeto, por meio de relacionamento interpessoal, mas também por influências
diretas do crescimento orgânico, pelo exercício e pela experiência com o objeto
(Lima; Bellini, 2017, p. 28-51).
A criticidade clínica, por meio do interrogatório, faz-se necessária para a
construção do conhecimento a partir da aprendizagem prática. Esta inclui a
construção cognitiva e a do comportamento motor, como base ao
desenvolvimento. Com isso, é importante desenvolver um aluno ativo, que busca
interação não apenas com seu tutor/professor, mas na relação com outro aluno,
de modo relacional e interacional, exercendo a capacidade de maturação que
possui, para executar vários comportamentos.
Outro processo importante a ser avaliado é a construção da capacidade
intelectual, pela interação do aluno, que se torna efetivamente um agente que
estabelece objetos educacionais. Os processos cognitivos contribuem para a
reciprocidade voltada aos relacionamentos humanos, bem como para
capacidades de atenção, memória, socialização, autonomia e motricidade, as
quais desempenham papel importante na formação do processo de
aprendizagem.
Desta forma, pode-se considerar que o motivo de Piaget ter pesquisado o
desenvolvimento humano (a partir do estudo e da observação de bebês, crianças
e adolescentes) é por conceber este estudo como o mais apropriado para suas
investigações a respeito da gênese do conhecimento. Ele visava, com isso,
demonstrar empiricamente e explicar o seu modelo teórico de construção de
inteligência.
O comportamento motor está ligado aos estágios propostos por Piaget em
sua teoria, desde o início, quando o autor retrata isso como uma condição reflexa,
até o momento em que é considerado como mais reflexivo e formal, com a
utilização de pensamentos mais abstratos. O fato, nesse caso, não corresponde
apenas a agir, executar, abrir ou fechar a mão, pegar ou não um talher, executar
um movimento de pressão, mas é algo mais refinado, elaborado e pensado muito

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antes da efetivação. O processo cognitivo que permeia toda essa construção
passa por fases que evoluem gradativamente.
Pode-se perceber que, na fase sensório-motora (assim intitulada por
Piaget), o movimento parte de uma inteligência prática. Isso quer dizer que a
criança não utiliza linguagem para executar movimentos, pois traz a
empregabilidade de atos a partir de percepções que possui. Com isso, vem o
funcionamento de estruturações cerebrais, que são estimuladas produzindo um
determinado mecanismo que varia de indivíduo para indivíduo. As ações e a
maturação biológica das estruturas mentais estão diretamente ligadas quando o
quesito é a aprendizagem; a cada exercício de estimulação, isso contribui para a
formação das capacidades cognitivas e para o seu aprimoramento em um viés
neuropsicomotor (Pádua, 2009, p. 22-35).

TEMA 4 – APRENDIZAGEM E COORDENAÇÃO MOTORA FINA

O comportamento motor possui algumas singularidades que são


aprimoradas com o decorrer do desenvolvimento humano. Movimentos de
coordenação motora grossa passam por aprimoramentos a partir de situações que
exigem algo mais refinado, como por exemplo escrever, desenhar, replicar algum
movimento de dança e agir dentro de uma determinada regra, o que é o caso de
movimentos de esportes sincronizados. Mas como isso ocorre? Como se chega
de uma motricidade toda desregulada ou desorganizada a uma ação que respeita
rigorosamente passos e sequências minuciosas e quase perfeitas? A partir de tais
indagações, partimos para possíveis respostas, considerando o aprimoramento e
o refinamento de comportamentos motores, da coordenação motora fina.
Em um nível estrutural biológico, temos áreas do sistema nervoso humano
que regulam e coordenam os movimentos organizados e bem elaborados, que
são considerados como sendo reproduzidos a partir de uma série de treinos e
repetições, que variam de situação para situação. O cérebro e a medula espinhal
têm um determinado objetivo, dentre muitos outros: o controle do comportamento
motor (Neto, 2009, p. 27). Inicialmente, o comportamento motor voluntário, e de
certo modo ainda rudimentar, é coordenado e executado pelos lobos frontal e
parietal. Por exemplo, quando uma pessoa está aprendendo a escrever, existe
uma exigência enorme nos cuidados, nos aprimoramentos e nas elaborações do
comportamento motor fino.

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De acordo com Okuda et al. (2011), a coordenação motora fina é uma
função que necessita de destreza para que sejam efetuadas ações com demanda
de certa complexidade, com execução mais elaborada e aprimorada. A inabilidade
na execução de movimentos que exigem coordenação é caracterizada pelos
autores como Transtorno de Coordenação (TDC). Isso inclui não apenas
movimentos finos, mas o desempenho motor de um modo geral. Outro ponto
mencionado pelos autores é que a não execução do comportamento motor pode
ocasionar diversos problemas de aprendizagem, além de causar inúmeras
comorbidades, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH),
dislexia, disgrafia e outras condições que comprometem a aprendizagem devido
a uma defasagem no sistema integrador que está envolvido nos processos de
pensamento e na capacidade motora necessária ao aprender.
Ou seja, um aluno pode apresentar mau desempenho escolar devido à
dificuldade em escrever de forma correta. Por sua vez, isso pode ser decorrente
de uma dificuldade na efetivação de comportamento motor, e não
necessariamente ligado a causas diretamente psicológicas ou emocionais.
Embora haja uma ligação entre os sistemas integradores no aprender, a raiz do
problema muitas vezes não é cognitiva, mas reside na dificuldade de coordenação
motora.

TEMA 5 – PLASTICIDADE CEREBRAL E COMPORTAMENTO


NEUROPSICOMOTOR

O ser humano passa continuamente por processos de aprender e


reaprender, e isso independente da demanda que precisa ser trabalhada. Um
certo dia, alguém se deparou com um teclado de computador. As teclas estavam
dispostas de uma maneira jamais vista: era o primeiro contato com o teclado
intitulado qwerty. O primeiro contato para digitar foi relativamente lento, parecia
que se estava “catando milho”. Com o passar do tempo, e com treino diário, a
performance mudou. Havia uma regra que era cumprida para a utilização de todos
os dedos. Por exemplo, as teclas “asdfg” eram digitadas com o dedo mínimo
esquerdo para “a”, dedo anelar para “s”, o dedo médio para “d” e o indicador para
“f” e “g”. E assim sucessivamente para os demais dedos das mãos, conforme a
organização do teclado. A partir desse exemplo, temos uma explicação do
processo de neuroplasticidade: as regiões que tinham uma certa forma de
execução e coordenação tiveram que readaptar-se e reaprenderam a digitar.
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De acordo com Kandel et al. (2014, p. 643), o comportamento motor tem
um processo de aprendizagem diretamente relacionado às funções de
plasticidade do sistema nervoso. Isso resulta em uma consideração
extremamente interessante sobre a plasticidade cerebral e a aprendizagem: por
mais que esta fique mais complexa no decorrer da vida, e seja diminuída, não se
extingue. As estruturas do sistema nervoso podem ser reorganizadas durante a
vida, e isso traz uma evidência de que é possível aprender sempre, mesmo na
velhice, fase do desenvolvimento em que é há possivelmente diversos
comprometimentos por complicações de saúde (Guerra; Cosenza, 2011, p. 36).
Quando se trata de sistema nervoso, a cada estudo, a cada leitura e pesquisa,
descobre-se o quanto esta rede é complexa e o quanto é possível descobrir
avanços a cada dia. A vida inteira, podemos realizar mudanças, as quais
possibilitam novas aprendizagens.
De acordo com Guerra e Cosenza (2011, p. 36), há dois períodos
importantes para o desenvolvimento humano: o primeiro na fase dos primeiros
dias de vida, logo após o nascimento, quando há um ajuste das células nervosas
que irão se organizar para executar inúmeras funções. O segundo momento
corresponde à fase da adolescência, quando há a poda neural de sinapses, ou
seja, uma reorganização em todo o córtex cerebral. O organismo se reorganiza
por causa de um aumento de mielinização, aprimorando os comportamentos já
aprendidos. Segundo os mesmos autores, é como se o organismo estivesse
preparando o adolescente para a vida adulta.
Algo extremamente interessante é o modo como o sistema nervoso – em
qualquer fase do desenvolvimento, seja na infância (com um grande ritmo de
ligação sináptica), ou na adolescência, ou até mesmo na aprendizagem um pouco
mais lenta da velhice – é capaz aprender e reorganizar o aprendizado. Assim, é
importante ressaltar que, com o passar do tempo, a agilidade da neuroplasticidade
pode diminuir, mas ainda assim continua acontecendo.
Outro ponto importante a respeito da reorganização das conexões
cerebrais é que elas acontecem, porém dependem da complexidade da atividade
desempenhada, e também da estrutura cerebral. Por exemplo, caso um paciente
sofra uma lesão nas estruturas do lobo frontal, devido à complexidade dessa
região do cérebro, a dificuldade de reorganização é grande, mas não quer dizer
que não ocorra. Esse processo ocorre de outra forma com outras estruturas e
regiões do cérebro, que não apresentam tanta dificuldade de reorganização. De

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qualquer modo, tudo irá depender da estimulação e do modo como o indivíduo
exercita a região que foi impactada. É preciso também considerar que há vários
fatores a serem avaliados, os quais podem ser investigados por diversos
profissionais.
Abaixo, segue uma imagem ilustrativa de como as redes neuronais podem
ser reorganizadas e rearranjadas a partir de treino e aprendizagem.

Figura 1 – Descrição ilustrativa de uma rede neuronal (A) e sua reorganização por
neuroplasticidade (B)

Fonte: Guerra; Cosenza, 2011, p. 37.

Por meio da reorganização e da readaptação neuronal, é possível


aprender, e isso em todos os níveis, desde um movimento motor simples até um
novo idioma, com hieróglifos, ideogramas e outros símbolos não utilizados
frequentemente. O desenvolvimento neuropsicomotor pode ser constantemente
organizado, para chegar até um devido objetivo, que pode ser escrever, dirigir,
operar uma máquina, entre outros processos. Algo comentado indiretamente, mas
que é de suma importância mencionar, é que, apesar de a plasticidade cerebral
envolver diversas estruturas biológicas, todo o processo está ligado também com
a interação efetiva com o ambiente externo – estimulações, vivências, relações
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interpessoais, enfim, o meio em que o indivíduo está, considerando também os
responsáveis pela aprendizagem, como ela acontece etc. Entende-se que o
aprender está ligado a uma contribuição biológica, que sofre influência do meio, o
qual também é responsável pela reorganização e pela readaptação de novos
comportamentos e aprendizagens.

FINALIZANDO

Nesta aula, discorremos sobre o modo como o comportamento motor está


ligado aos processos do aprender, desde as bases biológicas. Tal processo
envolve todo o sistema nervoso, o que inclui capacidade emocional, afetiva,
regulação e controle cognitivo, além de suas particularidades, da interação social
e do lúdico. Fica evidente a necessidade de estimulação para que o indivíduo
tenha uma aprendizagem saudável, conseguindo assimilar e acomodar novos e
pertinentes conhecimentos.
Cada fase, cada estrutura e faixa-etária tem sua particularidade no
amadurecer. A ligação de diversos processos contribui para que o ser humano
evolua e cresça em todos os sentidos. As relações interpessoais, em vários
contextos, o desenvolvimento biológico, a maturação e o aperfeiçoamento de
vivências trazem a cada ser humano, a cada dia, uma nova perspectiva. A partir
disso, são possibilitadas novas aquisições de conhecimento. Outro ponto
importante, que também trabalhamos, é a condição de aprender a todo momento
ao longo da vida, mesmo que de forma lenta na velhice, ou de forma mais rápida
na infância. Todas essas contribuições corroboram para a ideia de sequência das
etapas do desenvolvimento. E, em se tratando do quesito neuropsicomotor, e da
interação entre todas essas condições, ressaltamos a importância do
aprimoramento e da interligação entre todas as estruturas, processo que
proporciona uma aprendizagem funcional e saudável.

LEITURA COMPLEMENTAR

Texto de abordagem teórica

ALMEIDA, A. Ludicidade como instrumento pedagógico. 2009. Disponível:


<http://www.cdof.com.br/recrea22.htm>. Acesso em: 10 ago. 2021.

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BARDUCHI, A. L. J. et al. As concepções de desenvolvimento e aprendizagem na
teoria psicogenética de Jean Piaget. Movimento e Percepção, Espírito Santo de
Pinhal, SP, v. 4, n. 4/5, 2004.

GUEDES, A. O. A psicogênese da pessoa completa de Henri Wallon:


desenvolvimento da comunicação humana nos seus primórdios. 2011. Disponível
em: <http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/a-psicogenese-da-pessoa-
completa-de-henri-wallon-desenvolvimento-da-comunicacao-humana-nos-seus-
primordios>. Acesso em: 10 ago. 2021.

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REFERÊNCIAS

GUEDES, A. O. A psicogênese da pessoa completa de Henri Wallon:


desenvolvimento da comunicação humana nos seus primórdios. 2011. Disponível
em: <http://www.museudainfancia.unesc.net/memoria/expo_escolares/GUEDES
_psicogenese.pdf>. Acesso em: 28 maio 2018.

GUERRA, L. B.; COSENZA, R. M. Neurociência e Educação: como o cérebro


aprende. Porto Alegre, Artmed, p. 36-37, 2011.

LIMA, E.; BELLINI, M. Implicações da Teoria de Piaget para a educação científica


nas séries iniciais: contribuições do estudo sobre o conceito de adaptação à
dimensão social do conhecimento. Schème-Revista Eletrônica de Psicologia e
Epistemologia Genéticas, v. 8, n. 2, p. 28-51, 2017.

MALUF, M. R.; CARDOSO-MARTINS, C. Alfabetização no século XXI: como se


aprende a ler e a escrever. São Paulo: Penso, 2013.

NETO, F. R. Manual de avaliação motora para terceira idade. Porto Alegre:


Artmed, 2009.

OKUDA, P. M. M. et al. Coordenação motora fina de escolares com dislexia e


transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Revista CEFAC, p. 876-885,
2011.

PÁDUA, G. L. D. de. A epistemologia genética de Jean Piaget. Revista FACEVV,


n. 2, p. 22-35, 2009.

SILVA, D. V. da; HAETINGER, M. G. Ludicidade e psicomotricidade. Curitiba:


IESDE, 2013.

WALLON, H. Psicologia da Educação e da Infância. Lisboa, Portugal: Editorial


Estampa, 1975.

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