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Psicologia da Educação - Unidade Nº 1 - Desenvolvimento Humano

Psicologia da
Educação

Unidade Nº 1 - Desenvolvimento
Humano

Ana Cristina Bassler


Psicologia da Educação - Unidade Nº 1 - Desenvolvimento Humano

Introdução
Seja bem-vindo(a) a esta unidade de ensino!

Você já parou para pensar como o comportamento humano é semelhante em


determinadas situações? Mas também é tão diferente em outras, não é mesmo? Esta
questão vem sendo estudada há muito tempo e traz diferentes abordagens
comportamentalistas. Vamos estudar a perspectiva de dois estudiosos do assunto:
Pavlov e Skinner. Além de como estas teorias são percebidas no meio escolar.

Teremos a oportunidade de conhecer e identificar como as mudanças pelas


quais todos os seres passam, sejam elas biológicas, sociais, culturais e econômicas
interferem e impactam na formação e no desenvolvimento individual, bem como nos
processos de aprendizagem. Vamos diferenciar as abordagens que demonstram o
processo de como aprendemos, identificando e analisando as principais diferenças
dentro do contexto educacional.

Mas, o que a ciência nos diz sobre aquelas informações que estão no nosso
inconsciente? Porque elas ficam “submersas” e não conseguimos acessá-las? Vamos
conhecer um pouco sobre as teorias de Sigmund Freud, o pai da psicanálise.
Estudaremos seus constructos sobre a evolução do ser humano, que em suas
principais características nos permitem uma compreensão da psicologia separada a
nível consciente e inconsciente, além de diferenciada em Id, Ego e Superego.

Todos estes aprendizados são relevantes, pois esta etapa é fundamental para
o sucesso do educando em sua vida acadêmica.

Bons estudos!

1. O estudo do desenvolvimento humano à luz de


algumas concepções
Pense na maneira como nosso organismo se forma no útero materno. A partir
da fecundação do óvulo, as células começam a se multiplicar de maneira acelerada
e progressivamente atingem uma formação mais complexa, originando os órgãos
vitais. Nossa existência humana, enquanto seres dotados de consciência e inseridos
num meio social e cultural, segue a mesma lógica. Experimentamos esse existir,
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interagindo com o mundo, e nossos resultados vão adquirindo significância, se


multiplicando, se contradizendo, mudando de natureza e, pouco a pouco, sobretudo
na infância e juventude, esse processo sedimenta o que virá a ser nossa
personalidade.

O crescimento se dá nos diferentes campos da vida - social, afetiva, intelectual


e motora. Há variáveis que interferem na maneira como uma pessoa vai se
desenvolver. Questões genéticas e de natureza biológica, cultura do local onde vive,
ambiente físico, crenças e valores são alguns dos pontos que influenciam a maneira
como este ser vai se relacionar com o mundo. E a partir do momento em que o bebê
vem ao mundo ele começa a aprender sobre o que está ao seu redor.

Mas o que é aprendizagem?

Aprendizagem é a modificação do comportamento a partir de um processo


ativo e construtivo que possibilita ao aprendiz manipular estrategicamente os
recursos disponíveis, criando novos conhecimentos, atitudes e emoções com
base na experiência, no treino, na obtenção de informações do ambiente e
na integração com a estrutura informacional já presente em sua memória
(Rodrigues, 2016 pg 11)

Você quer ver? O vídeo Quando começa o aprendizado, que pode ser acessado
aqui, traz a reflexão sobre a importância de que já nos primeiros dias de vida o
aprendizado se inicia.

Não existe um entendimento único sobre a influência de determinados


aspectos na evolução do indivíduo em seu contexto, mas torna-se claro que a cultura
em que está inserido determina de maneira bastante contundente as interações
sociais e a forma como o desenvolvimento e a aprendizagem se efetivam.

Vamos conhecer como as mudanças são constituídas ao longo da vida.


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1.1. As experiências geradas pelo desenvolvimento humano

De acordo com as condições biológicas, sociais, culturais e econômicas pelas


quais cada um de nós está sujeito, as experiências vão se materializando e se
integrando a nossas vidas.

São as experiências pelas quais passa uma pessoa, ou seja, estar exposta a
situações internas ou externas, que impulsionam e movem nosso desenvolvimento.
O aspecto físico deste percurso está relacionado às questões dos processos motores
(sentar, engatinhar, andar, correr), bem como altura e peso, que é determinado como
normal em comparação a outras crianças da mesma idade.

O desenvolvimento social é observado nas relações da criança com as pessoas


ao seu redor. Em uma cultura na qual crianças são estimuladas a brincar, pular e
participar de jogos físicos, percebe-se maior interação social, aprendizado sobre
trabalho em equipe e a importância de seguir regras.

A cultura modela as ações e o comportamento das pessoas, pois determina


muito das crenças e valores individuais. Observar pessoas de diferentes estados ou
países realizando uma atividade em conjunto é uma das maneiras mais fáceis de
entender como aquilo que aprendemos com nossos familiares influencia quem
somos. Existem culturas nas quais o individualismo é visto como independência e
vontade de vencer, enquanto em outras, o trabalhar em equipe, de forma coletiva
demonstra a capacidade de interdependência e harmonia. Pode ser observado que
sobre o mesmo comportamento podem recair visões e avaliações diferentes, de
acordo com a cultura em que a criança está inserida.
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Figura 1 - Pluralidade Cultural. Fonte: Pluralidade Cultural em Foco.

A interculturalidade pode ser uma grande escola para o aprendizado e


respeito a diferenças significativas.

Quando a referência é o aspecto econômico, fica nítido que a desvantagem


gera riscos ao desenvolvimento. Isso porque, crianças com alimentação inadequada,
falta de moradia e segurança em ambientes aliados a violência, tendem a ter
comportamentos agressivos justificados como a luta pela sobrevivência.

Podemos considerar que, independente do macrossistema em que a criança


está inserida, o que determina o desenvolvimento adequado está diretamente
relacionado ao microssistema, ou seja, ao ambiente e às relações sociais que a
criança vivencia. Mas será que existem maneiras de tornar o aprendizado mais
potente?

1.2. Potencializando o desenvolvimento humano

É evidente que as formas sociais e os esquemas culturais irão se modificar de


acordo com o tempo, ganhando novas proporções e passando a diferentes
paradigmas. Não há como, desta forma, nos apegarmos à metodologias de formação
humana que se originaram visando um período histórico há muito ultrapassado.
Num ambiente social como o que vemos agora, em que a cultura digital é
preponderante e determina oportunidades, a promoção do contato das crianças e
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jovens com a tecnologia se torna importante. Um grande desafio, por exemplo, é


prepararmos essas novas gerações para serem capazes de lidar com a abundância
de informações disponíveis na rede, garantindo a elas a autonomia para avaliar os
conteúdos, reconhecendo-os como significantes ou não.

Estimular a leitura e a resolução de problemas, dentro da capacidade de cada


faixa etária, usar sons, cores, texturas, odores e sabores nas brincadeiras, são outros
recursos.

Os pais também são peças-chave para fortalecer o avanço, transmitindo os


valores culturais, que acabam por incentivar a curiosidade no interior do cotidiano
das crianças e, assim, gerar crescimento pessoal, de interesse e de raciocínio crítico.
Uma família que tem a cultura de compartilhar conhecimentos, explorar
experimentações rotineiras - como contar moedas na hora do troco do mercado, as
colheres de açúcar que vão na receita do bolo, a quantidade de carros em um
determinado local - ajuda a criança a questionar mais os acontecimentos, buscando,
por meio da curiosidade, ampliar sua visão de mundo.

Já a criança que vive em uma estrutura familiar limitada, conformada e com o


discurso de que as coisas são assim porque foi assim que eu aprendi, corre o risco
de enxergar a vida como algo inerte e determinada, sem ter grandes expectativas
em relação à experimentação.

Estes são alguns estímulos que contribuem para impulsionar as pessoas a


atingirem patamares cada vez mais altos.

Mas o que diz a ciência sobre isto?

Você que ver? Dentre as proposições do campo da psicologia, que define as


prioridades que almeja um indivíduo, para concretizar seu processo de
desenvolvimento e usufruir de uma vida plena, se destaca a teoria do psicólogo
Abraham Maslow. Ele constrói uma pirâmide que hierarquiza as necessidades do ser
humano quanto ao desenvolvimento em cinco categorias: fisiológicas, segurança,
amor/relacionamento, estima e realização pessoal.
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Para conhecer um pouco mais, acesse aqui um vídeo explicativo.

2. Diferenciando concepções acerca do


desenvolvimento humano
Uma série de teorias foram estabelecidas trazendo como objeto principal o
desenvolvimento do ser humano. A primeira delas, chamada Teoria Inatista, fala
sobre a hereditariedade - daquilo que é inerente ao indivíduo, passado pelos
componentes genéticos. O estudo aceita que, ao nascermos, já temos conosco
capacidades e habilidades naturais que serão reveladas ao longo da vida por meio
da educação. Este modelo descarta qualquer possibilidade de uma pessoa aprender
uma nova competência que não seja inata a ela, ou seja, o desenvolvimento
predomina o aprendizado.

A teoria que dá ênfase ao conhecimento por meio das experiências vividas


pelo indivíduo dentro de um determinado ambiente é chamada de empirismo. O
movimento de aprendizagem ocorre de fora para dentro e são desconsideradas
variáveis como consciência ou habilidades inatas. As crianças são vistas como uma
“folha de papel” em branco, que vai sendo preenchida com os aprendizados pelos
quais tem acesso.

A experiência é a base do conhecimento e aprendizado, já que não existe nada


pré-designado.

Por meio das percepções e sensações vivenciadas e encaminhadas ao


cérebro, novos pensamentos e aprendizados são gerados e passam a ser utilizados
em situações semelhantes.

Outro estudo que balizou a criação de algumas teorias da aprendizagem foi a


abordagem histórico-social, que sustenta a importância das relações sociais para
o crescimento individual. Neste modelo, o convívio com outras pessoas é o ponto
chave para o desenvolvimento. Crianças que são privadas de brincar ou interagir com
outras crianças deixam de aprender a aprender. Aqui, o sujeito é o protagonista do
seu conhecimento.

Veja abaixo um quadro comparativo entre as abordagens estudadas até aqui:


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Abordagem Conceito Aprendizagem

Inatismo Habilidades inatas De dentro para fora

Empirismo Experiências vividas De fora para dentro

Histórico-Social Relações sociais Aprender a aprender

E como estas abordagens são transpostas para o contexto educacional?


Como o aprendizado ocorre de diferentes maneiras, o processo pode acontecer
quando:

● o aluno está envolvido em atividades que estimulam o contato consigo,


com os colegas e professores;

● o aluno é exposto a situações desconhecidas, nas quais precisa buscar


alternativas e novos conhecimentos para solucioná-las;

● o aluno é apresentado a circunstâncias que já lhe são comuns e utiliza


seu repertório interno para encontrar as respostas.

Cabe ao professor conhecer individualmente cada aluno e propor diferentes


estímulos para que o aprendizado se concretize. Poder usar conhecimentos inatos,
ensinamentos vivenciados em outros contextos e experiências relacionais no
ambiente escolar torna a aquisição de novos saberes mais efetiva e eficaz.

Mas como as pessoas se comportam em relação ao aprendizado? Vamos ver


a seguir algumas teorias sobre este tema.

3. Condicionamento e aprendizagem: precursores


do Behaviorismo
No início do século XX, diversos psicólogos começaram a estudar aspectos
menos subjetivos do comportamento humano, pois tornava-se mais claro e evidente
que a conduta humana era impactada por diferentes estímulos.
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Watson, um dos precursores do Behaviorismo e conhecido como o pai do


Behaviorismo Clássico, afirmou que “a matéria-prima da psicologia humana é o
comportamento do ser humano” (Lefrançois, 2016 apud Watson 1930 p. 2). Para
Watson é possível prever ou controlar toda a atuação humana, e todo
comportamento é uma consequência do ambiente em que se vive.

Em suas palestras, afirmava que o comportamento observado e estudado de


maneira concreta era a melhor forma de avaliar o desenvolvimento humano e
projetar o comportamento futuro, visto que em uma situação estudada é possível
determinar que o comportamento de qualquer pessoa será semelhante. De acordo
com o comportamento apresentado, decorrem as consequências, sejam elas
positivas, negativas ou neutras.

Outro estudioso que ampliou a visão do comportamento humano, foi Ivan


Pavlov. Por intermédio de experimentos com cães, que até os dias de hoje são
modelos de referência para o conceito de condicionamento clássico ou
respondente, ele demonstrou que para cada estímulo existe uma resposta.

Como estímulo podemos entender uma modificação no ambiente que gera


uma mudança no nosso organismo. A resposta é mudança que nosso corpo
produziu em decorrência de um estímulo.

O experimento acontecia da seguinte forma:

1. Um pedaço de carne era apresentado ao cão e ele salivava;

2. Um pedaço de carne + um som era apresentado ao cão


simultaneamente e ele salivava;

3. Somente o som era apresentado ao cão e ele salivava.

Estas experiências demonstraram que não era exclusivamente a visão dos


alimentos que gerava a salivação. Outros estímulos, como um som de campainha,
produziam os mesmos efeitos, pois os cães já estavam condicionados a salivar
naquelas condições. A comida - chamada de estímulo incondicionado (US) - afeta o
organismo e provoca uma resposta física (muscular ou glandular) que não envolve a
aprendizagem. Quando a campainha - chamado de estímulo condicionado (CS) - era
acionada o cão salivava. Estes estudos serviram de base para a teoria do
condicionamento operante desenvolvida mais tarde por Skinner.
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Skinner desenvolveu sua teoria baseado em duas convicções: de que o


comportamento humano segue certas leis; e que os motivos do comportamento são
externas ao indivíduo, sendo passíveis, desta maneira, de observação e estudo. É
por meio do planejamento de ações e atividades que os comportamentos são
modelados, gerando, assim, o desenvolvimento das pessoas.

A principal diferença entre os dois conceitos é de que para Pavlov a resposta


estava ligada a um estímulo externo e, para Skinner, o comportamento acontece
quando o ambiente sofre alguma mudança e o indivíduo responde de acordo com
seus hábitos. No entanto, esta resposta podem ser alteradas de acordo com a
intencionalidade de quem apresenta o estímulo.

Lefrançois (2016) afirma que a consequência desta formulação gera um


entendimento objetivo, descritivo, não especulativo e inferencial das atitudes
humanas.

Rodrigues cita que:

Skinner foi o responsável pela criação da máquina de ensinar, planejada com


base no conhecimento científico sobre o comportamento com o propósito
de ser o mais eficiente possível na tarefa de ensinar (2016, p. 19).

A ideia era apresentar uma questão para o aluno e, com base na resposta,
fornecer um reforço positivo (caso estivesse correta) ou negativo (caso estivesse
errada). Para Skinner o foco era o reforço e não o estímulo.

Você quer ver? O vídeo Skinner - Modelagem, que pode ser acessado aqui,
demonstra a construção da teoria de Skinner e suas contribuições para o
entendimento sob um novo aspecto da aprendizagem.

Um dos principais interesses de Skinner foi com a aprendizagem. Diferentes


metodologias de ensino e avaliação são apresentadas ao contexto escolar de tempos
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em tempos, mas os estudos que deram origem ao behaviorismo são utilizados até
hoje nos bancos escolares. Um exemplo clássico é o do reforço positivo. Trata-se de
quando o professor faz um comentário positivo sobre o comportamento ou com a
atribuição de uma boa nota ao aluno em uma prova. Já a depreciação ou uma crítica,
quando o aluno faz um comentário em sala de aula, pode fazer com que ele se retraia
e não volte a emitir sua opinião em público.

Quando passamos por uma avaliação, seja ela formal - como um teste ou uma
prova, por exemplo, precisamos atingir uma nota mínima, considerada a média, para
ser promovido ao próximo estágio. Se a nota recebida está na média, ou acima, este
reforço estimula o aprendiz a repetir o comportamento de estudar (se foi este o
comportamento que o levou ao resultado). Se o resultado do esforço não for efetivo,
a percepção é de que seu esforço não foi reconhecido, gerando um reforço negativo
que é a nota baixa (consequência do comportamento de não estudar o suficiente ou
estudar de maneira incorreta). Cabe ao aluno e ao professor reavaliar os estímulos,
fazendo com que o aluno consiga atingir o objetivo e não desista de estudar.

Figura 2 - Comportamento em sala de aula. Fonte: Escola em Movimento.

Outro exemplo é quando um aluno faz bagunça em sala de aula. Se o


professor não toma uma atitude, o comportamento de “bagunçar” é reforçado e o
aluno continua a repeti-lo. Já se o professor diz que se este comportamento
continuar se repetindo, o aluno não vai sair para o intervalo, o efeito previsto é o fim
da bagunça.
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Dentro da sala de aula aprendemos por meio do condicionamento operante


algumas respostas que serão úteis para nossa vida. Cabe ao educador conhecer e
utilizar técnicas que reforçam positivamente os comportamentos adequados por
meio de aprovação e recompensas.

Olhando pela perspectiva behaviorista, na qual o desenvolvimento das


características está relacionado ao meio no qual se está inserido, e de acordo com
Lefrançois (2006), que diz os estímulos e as respostas são os únicos aspectos do
comportamento que podem ser observados, é possível entender como ocorre a
exteriorização de alguns comportamentos neste contexto escolar e educacional.

Para você refletir, pense em algumas situações que você vivenciou no seu
período escolar. Que comportamentos foram reforçados positivamente e quais
geraram reforço negativo? Como estas atitudes influenciaram a pessoa que você é
hoje?

As correntes neobehavioristas trazem concepções mais profundas sobre a


teoria da aprendizagem, fazendo analogias da nossa mente com um computador.
Cada vez que uma atividade é realizada existem processos mentais que influenciam
nossas atitudes, mas que não são tangíveis.

Edward Chace Tolman fala de aprendizagem intencional, na qual o aprender


acontece em função dos objetivos individuais (intenções). Para Albert Bandura,
criador da teoria da aprendizagem social, o aprender resulta da interação social e da
imitação, quando entramos em contato com os outros.

O neobehaviorismo está focado em aspectos que têm ligação direta com o


processo de aprendizagem, tais quais a linguagem e atitudes como empatia,
motivação e percepção.

Vamos no próximo tópico entender de que maneira as ações do passado


tornam-se comportamentos conscientes ou inconscientes no presente.

4. Freud: Psicanálise e o desenvolvimento humano


Sigmund Freud ficou conhecido no início do século XX quando, por meio de
estudos e diversas experiências, trouxe a luz a teoria da psicanálise, tendo como
base o comportamento e a mente humana. Sua teoria demonstra que há uma
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estreita relação das nossas ações com nossos processos mentais, ou seja, tudo o
que pensamos ou fazemos está relacionado a alguma situação vivida de forma
consciente ou não.

Mas o que é a consciência? O quanto compreendemos as nossas atitudes,


pensamentos e sentimentos? E porque, algumas vezes, lembramos de algo que não
sabemos como veio parar em nosso pensamento?

4.1. Teoria Topográfica

Freud estabeleceu em seus estudos duas maneiras de dividir a mente e a


psique humana. Uma delas é chamada de aparelho psíquico ou topográfica e traz o
conceito de consciente, pré-consciente e inconsciente. Dentro da sua teoria, tornar
consciente o que está no inconsciente, era a solução para a “cura” dos problemas
humanos.

Você já viu a imagem de um iceberg, não é mesmo? A superfície que está


acima da água é imensamente menor do que está submersa. Esta analogia é a que
fazemos com aquilo que temos acesso, o que eventualmente vem a tona e situações
ou sensações que ficam profundamente guardados em nossa psique.

Figura 3 - Analogia do Iceberg. Fonte: Pixabay.


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Aquilo que é consciente está relacionado ao momento atual, como nossas


percepções, sensações, razão e o que de forma voluntária conseguimos controlar.
Quando se faz necessário lembrar de uma experiência vivida ou um aprendizado, o
indivíduo abre seu “arquivo” e encontra a resposta facilmente.

Existe um nível abaixo da consciência, mas não tão profundo, chamado de


pré-consciente. Constituído por memórias e convicções que podem ser acessados
de maneira moderadamente fácil. Ele tem a função de deixar que determinadas
convicções venham à tona ou não, dependendo do momento e da situação. Por
vezes estamos em um ambiente onde determinado comportamento não é aceito e
cabe também ao pré-consciente manter o equilíbrio entre o que pode ou não ser
externado.

Este nível, também chamado de subconsciente, possui uma estrutura mais


passiva, mas pode aflorar por meio de atos falhos ou momentos que parecem
traiçoeiros, como um sonho ou ainda quando você quer dizer algo e fala outra coisa.

Aquilo que de mais profundo existe em nosso aparelho psíquico é chamado


de inconsciente. Muitos desejos e instintos socialmente inaceitáveis (de natureza
sexual) estão trancados neste arcabouço. Aqui também encontramos o medo,
impulsos imorais e traumas. De acordo com Freud, todos os processos psíquicos
são, a princípio, inconscientes e, quando vêm à consciência não passam de atos
isolados, de frações de vida psíquica total. Isto significa que grande parte da nossa
vida psíquica se realiza no inconsciente, que é uma estrutura dinâmica e regida pelo
princípio do prazer.

4.2. Teoria Estrutural

Vamos agora conhecer outra estrutura também estabelecida por Freud, que
nos ajuda a entender os impulsos (pulsões) em realizar nossos desejos. Este sistema,
que forma a estrutura da personalidade, foi dividido em três partes - o Id, o Ego e o
Superego.

O Id representa as pulsões, o Ego possui um conjunto de funções e


representações e o Superego é formado pelas ameaças e castigos. Neste modelo
entendia-se que onde houver Id e Superego, o Ego também deve estar presente.
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O Id, conhecido como o princípio do prazer, de natureza instintiva, anseia que


tudo se realize ao seu comando, sendo considerado o primeiro componente que
nasce com o bebê. Quando você sente uma vontade muito grande de realizar algo,
seja a satisfação de impulsos biológicos, fisiológicos ou emocionais, é o Id que está
se manifestando. A manifestação do Id pode ser exemplificada quando vemos uma
criança chorando até que seu desejo seja realizado.

Seus conteúdos podem ser considerados equivalentes aos que estão no


nosso inconsciente, pois nem sempre é possível entender de onde aquele desejo
surge. Mas mesmo não tendo acesso a pensamentos ou sentimentos excluídos da
consciência, eles terão influência direta na vida mental do indivíduo.

Para o Id não há limites para conseguir a satisfação - se for preciso fazer algo
impensável, ele assim o fará. A falta de controle dos desejos pode gerar sérias
consequências. Dentro do contexto escolar, a vontade de não estudar ou se dedicar
a um assunto pode gerar o não entendimento de um conhecimento importante e
consequentemente fazer com que o aluno tenha que repetir o ano escolar.

O Ego é o responsável pela mediação do prazer e da rigidez. Quando a criança


começa a entender que não pode ter tudo o que quer, na hora que quer, o Ego
demonstra seu papel - o de moderar a impulsividade do Id, buscando alternativas
para a satisfação dos desejos. O Ego é regido pelo princípio da realidade e nos serve
como parâmetro para adaptação aos desafios mundanos.

Figura 4 - Estrutura da personalidade. Fonte: Ame mais.


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É o Ego que equilibra o “querer” (Id) do “dever” (Superego). É a parte consciente


do aparelho psíquico e auxilia na regulação das ações e reações humanas. Tem um
importante papel para determinar a adaptação do indivíduo em seu ambiente,
ajustando comportamentos para uma melhor convivência.

Já o Superego é a força moral, a “voz” que nos diz quem devemos ser, o que
devemos ou não devemos fazer. Surge por volta dos 4 anos, quando existe a
introjeção dos valores e crenças vindas das expectativas da família. Ser o melhor
aluno e tirar as melhores notas criam na criança um confronto interno com o desejo
de brincar o tempo todo, se divertir e não ter compromisso.

A principal responsabilidade do Id é reprimir e ser o juiz dos impulsos


inaceitáveis impostos pelo Id. As funções do superego são consciência pessoal para
agir ou reagir, julgar ou proibir uma ação não aceita pelo ambiente. Muitas vezes o
agir do superego é inconsciente.

O superego é construído de acordo com o superego daqueles que participam


efetivamente da formação de uma criança. Um superego muito rígido pode gerar
transtornos psíquicos, reprimindo todo e qualquer desejo que se apresente, mas
não eliminando a atuação do Id. Um superego frágil também gera adversidades, pois
vivemos em uma sociedade com regras sociais e familiares a serem cumpridas.

Você quer ver? O vídeo Estrutura da Personalidade (Id, Ego e Superego), que pode
ser acessado aqui, apresenta de maneira didática as principais diferenças entre as
três estruturas da teoria da personalidade desenvolvida por Freud.

Além das teorias topográfica e estrutural, Freud também determinou estágios


do desenvolvimento infantil de acordo com a maturidade da sexualidade. São elas:

● Fase oral - do nascimento até um ano. Nesta etapa, o prazer está vinculado as
sensações geradas na boca.
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● Fase anal - de um aos três anos aproximadamente. Nesta etapa, o prazer está
vinculado ao intestino e bexiga.

● Fase fálica - dos três aos seis anos aproximadamente. Nesta etapa, o prazer
está vinculado aos genitais.

● Fase de latência - dos seis aos onze anos. Nesta etapa, há um deslocamento
do prazer para atividades sociais.

● Fase genital - a partir dos onze anos, quando se dá início à adolescência e a


busca pelo prazer e pelo objeto de amor fora do contexto familiar.

Compreender a teoria de Freud faz parte do entendimento do


desenvolvimento humano. A conexão do aprendizado com a estrutura concebida do
que está no nosso consciente ou inconsciente explicita o conhecimento de que
nosso comportamento é, muitas vezes, determinado por acontecimentos que não
temos discernimento.

Síntese
Tivemos, neste módulo, a oportunidade de conhecer como teóricos
construíram suas concepções sobre o desenvolvimento humano e como elas se
entrelaçam com o aprendizado, além de analisar os principais conceitos e
concepções teóricas acerca da Aprendizagem e Desenvolvimento Humano.

Compreendemos os aspectos da constituição do sujeito e toda a subjetividade


que envolve o seu desenvolvimento. Teorias behavioristas foram concebidas com o
objetivo de buscar minimizar situações nas quais a mente não se torna acessível.

Percebemos que há uma evolução de pensamentos e objetos de estudo,


sendo que uma teoria surge por contraposição ou como complementar a outra, e a
maneira como a aprendizagem e o desenvolvimento decorrem da relação das
diferentes dimensões - cognitiva, afetiva, social e moral.

Entender que existem conteúdos não acessíveis a todo momento, como


sensações, lembranças ou emoções foram objetos de estudo da teoria proposta por
Freud, que contribui para a percepção de que podemos ter passado por diversas
experiências das quais não nos lembramos. Outro ponto importante é a constante
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batalha entre fazer o que temos vontade (ID) em relação ao que a sociedade espera
(SUPEREGO). O mediador (EGO) busca encontrar o melhor equilíbrio possível para
que o indivíduo possa se adaptar ao contexto social de maneira apropriada.

Outras teorias do desenvolvimento foram concebidas e é isto que veremos na


próxima unidade - sobre a teoria cognitiva e seus estudiosos, como Piaget e o
desenvolvimento da inteligência e os estágios do desenvolvimento cognitivo,
Vygotsky e o aprendizado como processo social e os aprendizados escolares, Wallon
- o desenvolvimento intelectual pelo corpo e emoções além de Carl Rogers e método
não diretivo.

Lembre de realizar as atividades complementares para fixar o aprendizado.


Compartilhar seus aprendizados com colegas e relacionar as teorias com suas
vivências fortalece a aquisição dos conhecimentos.

Nesta unidade você teve a oportunidade de:

● Iniciar seus estudos acerca do desenvolvimento humano;


● Diferenciar concepções existentes para o processo de
desenvolvimento humano;
● Estudar conceitos precursores do behaviorismo como
condicionamento e aprendizagem;
● Compreender as contribuições da psicanálise para o estudo do
desenvolvimento.
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Bibliografia
LEFRANÇOIS, Guy R. Teorias da aprendizagem: o que o professor disse. São Paulo:
Cengage Learning, 2016.

RODRIGUES, Ana Maria. Psicologia da aprendizagem e da avaliação. São Paulo,


SP: Cengage, 2016.

Referências imagéticas:

Figura 1 - Pluralidade em foco. O que é pluralidade cultural? Disponível em:


<pluralidadeculturalemfoco.wordpress.com/2016/10/15/o-que-e-a-pluralidade-
cultural/>. Acesso em: 24 jun. 2019.

Figura 2 - ESCOLA EM MOVIMENTO. Como lidar com um aluno indisciplinado


com a ajuda dos pais. Disponível em:
<https://www.escolaemmovimento.com.br/blog/como-lidar-com-um-aluno-
indisciplinado-com-a-ajuda-dos-pais/>. Acesso em: 24 jun. 2019.

Figura 3 - PIXABAY. Iceberg. Disponível em:


<http://pixabay.com/pt/illustrations/iceberg-acima-%C3%A1gua-branco-frio-
3273216/>. Acesso em: 24 jun. 2019.

Figura 4 - AME MAIS. Id, ego e superego: entenda rapidamente. Disponível em:
<amemais.net.br/id-ego-e-superego-entenda-rapidamente/>. Acesso em: 24 jun.
2019.

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