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Este tema, tratará da caracterização do desenvolvimento psíquico da criança segundo o psicólogo russo Lev Seminovitch Vygotsky (1896-1934).
Segundo Crain (1992:194), Vygotsky tentou criar uma teoria de desenvolvimento psíquico que considera a interacção entre a “linha natural” de
desenvolvimento que emerge de dentro e a “linha socio-histórica de desenvolvimento”
que influência a criança por fora. Tal linha natural domina o
desenvolvimento cognitivo até, mais ou menos, aos dois anos. A partir dessa idade o desenvolvimento cognitivo é influenciado pela linguagem, pela
adquirida na interacção da criança com os adultos e outras crianças. Os significados dados pela
linguagem são, por sua vez, influenciados pela cultura.
Vygotsky define o desenvolvimento psíquico como um processo activo de aquisição da cultura humana através da linguagem, na interacção com
outras pessoas. A linguagem aparece, assim, como forma de representação das coisas e dos fenómenos do mundo real. Ao adquirir a cultura
humana a criança assimila conhecimentos sobre as coisas e os fenómenos, aprende a realizar actividades e acções respectivas, formando assim
habilidades, aptidões, bem como comportamentos.
Deste modo, Vygotsky considera o desenvolvimento psíquico como um processo de interiorização da cultura humana através de
representações simbólicas, em especial, através da linguagem. Neste sentido, o
social tem importância fundamental no desenvolvimento psíquico do indivíduo.
Vygotsky reconhece os estágios de desenvolvimento do pensamento de Piaget sem, no entanto, aceitar sua determinação puramente
biológica e os respectivos limites absolutos de idade.
(Crain, 1992:199) refere que Vygotsky considera que a aquisição de conhecimentos espontâneos do dia-a-dia não conduzem ao
desenvolvimento do pensamento puramente abstracto e teórico. É preciso recordar que as generalizações a partir da actividade prática com os
objectos, a partir de vivências do dia a dia caracterizam o pensamento concreto. O pensamento puramente abstracto e teórico caracteriza-se
por generalizações de características mais essenciais das coisas e fenómenos e suas relações.
Para Vygotsky este pensamento puramente abstracto e teórico desenvolve-se, indissociavelmente, ligado à aprendizagem da Escrita,
Matemática, Ciências Naturais.
Note-se
que Piaget considera que o pensamento formal surge por volta dos 11/12 anos, isto é, aparece consoante a idade. Contudo, para Vygotsky, o pe
teórico não só depende da aprendizagem, como também das condições sócio- históricas de vida do indivíduo. Por condições socio-
históricas entenda-se aqui o desenvolvimento socio-
económico, o contexto em que o indivíduo está inserido, as formas de vida, etc. Tomemos o exemplo das características do pensamento que a
seguir se apresenta.
O aspecto instrumental refere-se à natureza basicamente mediadora das funções psicológicas complexas. Não apenas respondemos aos
estímulos apresentados no ambiente, mas os alteramos e usamos suas modificações como um instrumento de nosso comportamento. Exemplo
disso é o costume popular de amarrar um barbante no dedo para lembrar algo. O estímulo — o laço no dedo — objectivamente significa apenas
que o dedo está amarrado. Ele adquire sentido, por sua função mediadora, fazendo-nos lembrar algo importante.
O aspecto cultural da teoria envolve os meios socialmente estruturados pelos quais a sociedade organiza os tipos de tarefa que a criança em
crescimento enfrenta, e os tipos de instrumento, tanto mentais como físicos, de que a criança pequena dispõe para dominar aquelas tarefas. Um
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3/2/24, 2:13 AM Desenvolvimento Psíquico da Criança Segundo Vygotsky
dos instrumentos básicos criados pela humanidade é a linguagem. Por isso, Vigotsky deu ênfase, em toda sua obra, à linguagem e sua relação
com o pensamento.
O aspecto histórico, como afirma Luria, funde-se com o cultural, pois os instrumentos que o homem usa, para dominar seu ambiente e seu
próprio comportamento, foram criados e modificados ao longo da história social da civilização. Os instrumentos culturais expandiram os poderes
do homem e estruturaram seu pensamento, de maneira que, se não tivéssemos desenvolvido a linguagem escrita e a aritmética, por exemplo,
não possuiríamos hoje a organização dos processos superiores que possuímos.
Assim, para Vigotsky, a história da sociedade e o desenvolvimento do homem caminham juntos e, mais do que isso, estão de tal forma intrincados,
que um não seria o que é sem o outro.
Com essa perspectiva, é que Vygotsky estudou o desenvolvimento infantil. As crianças, desde o nascimento, estão em constante interacção com os
adultos, que activamente procuram incorporá-las a suas relações e a sua cultura. No início, as respostas das crianças são dominadas por processos
naturais, especialmente aqueles proporcionados pela herança biológica. É através da mediação dos adultos que os processos psicológicos mais
complexos tomam forma. Inicialmente, esses processos são inter-psíquicos (partilhados entre pessoas), isto é, só podem funcionar durante a
interacção das crianças com os adultos.
À medida que a criança cresce, os processos acabam por ser executados dentro das próprias crianças — intra-psíquicos. É através desta
interiorização dos meios de operação das informações, meios estes historicamente determinados e culturalmente organizados, que a natureza social
das pessoas tornou-se igualmente sua natureza psicológica.
No estudo feito por Vygotsky, sobre o desenvolvimento da fala, sua visão fica bastante clara: inicialmente, os aspectos motores e verbais do
comportamento estão misturados. A fala envolve os elementos referenciais, a conversação orientada pelo objecto, as expressões emocionais e
outros tipos de fala social. Como a criança está cercada por adultos na família, a fala começa a adquirir traços demonstrativos, e ela começa a
indicar o que está fazendo e de que está precisando. Após algum tempo, a criança, fazendo distinções para os outros com o auxílio da fala, começa
a fazer distinções para si mesma. E a fala vai deixando de ser um meio para dirigir o comportamento dos outros e vai adquirindo a função de auto-
direcção.
Fala e acção, que se desenvolvem independentes uma da outra, em determinado momento do desenvolvimento convergem, e esse é o momento de
maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente humanas de inteligência. Forma-se, então, um
amálgama entre fala e acção; inicialmente a fala acompanha as acções e, posteriormente, dirige, determina e domina o curso da acção, com sua
função planejados.
O desenvolvimento está, pois, alicerçado sobre o plano das interacções. O sujeito faz sua uma acção que tem, inicialmente, um significado
partilhado. Assim, a criança que deseja um objecto inacessível apresenta movimentos de alcançá-lo, e esses movimentos são interpretados pelo
adulto como “desejo de obtê-lo”, e então lhe dá o objecto. Os movimentos da criança afectam o adulto e não o objecto directamente; e a
interpretação do movimento pelo adulto permite que a criança transforme o movimento de agarrar em gesto de apontar. O gesto é criado na
interacção, e a criança passa a ter controle de uma forma de sinal, a partir das relações sociais.
Todos os movimentos e expressões verbais da criança, no início de sua vida, são importantes, pois afectam o adulto, que os interpreta e os devolve
à criança cora acção e/ou com fala. A fala egocêntrica, por exemplo, foi vista por Vygotsky como uma forma de transição entre a fala exterior e a
interior. A fala inicial da criança tem, portanto, um papel fundamental no desenvolvimento de suas funções psicológicas.
Para Vygotsky, as funções psicológicas emergem e se consolidam no plano da acção entre pessoas e tornam-se internalizadas, isto é, transformam-
se para constituir o funcionamento interno. O plano interno não é a reprodução do plano externo, pois ocorrem transformações ao longo do processo
de internalização. Do plano inter-psíquico, as acções passam para o plano intra-psíquico. Considera, portanto, as relações sociais como constitutivas
das funções psicológicas do homem. Essa visão de Vygotsky deu o carácter interacionista à sua teoria.
Vygotsky deu ênfase ao processo de internalização como mecanismo que intervém no desenvolvimento das funções psicológicas complexas. Esta é
reconstrução interna de uma operação externa e tem como base a linguagem. O plano interno, para Vygotsky, não preexiste, mas é constituído pelo
processo de internalização, fundado nas acções, nas interacções sociais e na linguagem.
Bibliografia
RODRIGUES, A. & BILA, L.V. Módulo de Psicologia de Desenvolvimento e de Aprendizagem. Maputo. Universidade Pedagógica.
págs. 83-92.
BOCK, A. M. B. et al. Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo, Editora Saraiva, 1993, Cap. 7.
INSTITUTO SUPERIOR DOM BOSCO. Módulo IV. Psicologia de Aprendizagem. Maputo, págs. 43-47.
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