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BIOLOGIA

HUMANA
AULA 8
Desenvolvimento
Social

ABERTURA

Olá!

O desenvolvimento do ser humano ocorre em diversas frentes: físico, motor, cognitivo


e desenvolvimento social — este será abordado nesta unidade, principalmente, pela linha
sociointeracionista a partir das ideias propostas por Vygostsky. Para este autor,
a aprendizagem ocorre via interação social. Para isso, ele faz uso de conceitos como
mediação, signos, instrumentos, Zona Proximal de Desenvolvimento, pensamento e linguagem.
Nesta aula, serão caracterizados conceitos que envolvem o desenvolvimento social, tais
como mediação, signos, instrumentos e Zona de Desenvolvimento Proximal. Também
serão exploradas as fases desse desenvolvimento, bem como analisados dois estudos de caso.

Bons estudos.
REFERENCIAL TEÓRICO

O desenvolvimento social é oriundo da teoria sociointeracionista proposta por Vygotsky. O


autor propõe a interação social como meio de aprendizagem, incluindo conceitos de
mediação, Zona de Desenvolvimento Proximal, linguagem e pensamento, por exemplo, como
elementos fundamentais desse processo.
No capítulo "Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos", do
livro Crescimento e desenvolvimento humano e aprendizagem motora, você
compreenderá os conceitos e as características do desenvolvimento social, bem como
enumerará as fases e suas características específicas do desenvolvimento social e,
ainda, avaliará o estágio de desenvolvimento social a partir de estudos de caso.
Faça seu estudo e, ao final, você terá reunido os seguintes aprendizados:
• Definir desenvolvimento social e suas características.
• Enumerar as fases do desenvolvimento social e suas características específicas.
• Avaliar o estágio de desenvolvimento social a partir de estudos de casos.

Boa leitura.
Desenvolvimento social:
fases, características
e comportamentos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir desenvolvimento social e suas características.


„„ Enumerar as fases do desenvolvimento social e suas características
específicas.
„„ Avaliar o estágio de desenvolvimento social a partir de estudos de caso.

Introdução
Desde sua concepção, no período embrionário, o ser humano está se
desenvolvendo. Desde o período pré-natal até o envelhecimento, cada
pessoa passa por inúmeras fases, relacionadas ao desenvolvimento físico,
motor, social ou cognitivo.
O desenvolvimento social é oriundo da teoria sociointeracionista
proposta por Lev Vygotsky, que propõe a interação social como meio
de aprendizagem, incluindo conceitos como mediação, zona de desen-
volvimento proximal (ZDP), linguagem e pensamento como elementos
fundamentais desse processo.
Neste capítulo, você estudará os conceitos e características do de-
senvolvimento social, bem como as fases e as características específicas
do desenvolvimento social. Além disso, avaliará o estágio de desenvol-
vimento social a partir de estudos de caso.
2 Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos

Desenvolvimento social — conceitos


e características
O estudo do desenvolvimento social surge a partir da linha de pensadores que vão
formar a abordagem sociointeracionista. Esta linha teórica propõe que o desen-
volvimento humano se dá nas relações, por meio da troca entre parceiros sociais
via mediação e interação. O principal pensador dessa linha é Lev Semenovitch
Vygotsky, que criou conceitos importantes como a ZDP e a abordagem das funções
da linguagem e do pensamento. Vygotsky é, portanto, o pioneiro dessa linha, que
conta com outros nomes importantes, entre eles o brasileiro Paulo Freire.
Antes de explorarmos os conceitos e características do desenvolvimento
social, vamos saber um pouco mais sobre a biografia de Vygotsky.

Lev Semyonovich Vygotsky (1896-1934) (Figura 1) nasceu na Bielorrússia e, antes de


atuar como psicólogo, formou-se em direito. Sua experiência com a formação de
professores o fez iniciar seus estudos no campo do desenvolvimento de aprendizagem,
o que gerou a abordagem sociointeracionista. Vygotsky morreu aos 38 anos, devido
a uma tuberculose. A título de curiosidade, nasceu no mesmo ano de Jean Piaget.

Figura 1. Vygostky.
Fonte: Ferrari (2008, documento on-line).
Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos 3

Pode-se afirmar que as teorias, tanto de Piaget como de Vygotsky, têm um


ponto em comum como destaque: a importância do ambiente para o desen-
volvimento humano. No entanto, enquanto Piaget considera um ambiente um
estímulo, a linha adotada por Vygotsky enfatiza a questão da relação pessoal
e da influência cultural. Rabelo e Passos (2014, documento on-line) apontam:

Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o


psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo processo
de socialização, além das maturações orgânicas) – depende da aprendizagem
na medida em que se dá por processos de internalização de conceitos, que
são promovidos pela aprendizagem social, principalmente aquela planejada
no meio escolar.

Além disso, Vygotsky não considera o aparato biológico suficiente, mas


sim a participação do indivíduo em ambientes para que a aprendizagem ocorra
por meio das experiências. Essa relação passa a ser melhor entendida quando
se remete ao conceito de ZPD. Segundo Vygotsky “a zona de desenvolvimento
proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que
estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão
presentemente em estado embrionário” (VYGOTSKY, 1989, p. 97).
Para o autor a ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real, ou
seja, determinado pela capacidade de resolver problemas de forma indepen-
dente, e o nível de desenvolvimento proximal, demarcado pela capacidade
de solucionar problemas com ajuda de um parceiro mais experiente. São
as aprendizagens que ocorrem na ZDP que fazem a criança se desenvolver
ainda mais, ou seja, desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais
desenvolvimento, por isso dizemos que, para Vygotsky, esses processos são
indissociáveis.

A implicação pedagógica mais relevante desse conceito reside na forma como


é vista a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento. Ao contrário de
outras teorias pedagógicas, como a piagetiana, que sugerem a necessidade
de o ensino ajustar-se a estruturas mentais já estabelecidas, para Vygotsky,
o aprendizado orientado para níveis de desenvolvimento que já foram atin-
gidos é ineficaz do ponto de vista do desenvolvimento global da criança. Ele
não se dirige para um novo estágio do processo de desenvolvimento, mas,
ao invés disso, vai a reboque desse processo. Assim, a noção de zona de de-
senvolvimento proximal capacita-nos a propor uma nova fórmula, a de que
o “bom aprendizado” é somente aquele que se adianta ao desenvolvimento
(OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 42).
4 Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos

Dentro dessa zona em que ocorre a aprendizagem, o professor agiria favo-


recendo esse processo, servindo de mediador entre a criança e o mundo. Essa
construção começaria a partir do nível de desenvolvimento da criança na zona
real. Ela seria o ponto de partida para que o professor traçasse seus objetivos e
procedimentos para a construção do conhecimento. Dentro dessa perspectiva,
então, a aprendizagem acontece pela maturação biológica associada à interação
e à presença de mediadores, que são os professores.

Para obter mais informações sobre a ZDP, acesse o link


ou o código a seguir.

https://goo.gl/2W7c9L

O conceito de mediação é fundamental na teoria vygotskyana, pois toda


relação é mediada pela linguagem ou por instrumentos técnicos, que passam
a intervir no processo. Os dois principais elementos mediadores são os instru-
mentos e os signos. Por instrumentos é possível compreender, por exemplo,
o machado, que permite um corte mais afiado e preciso; ou uma vasilha, que
facilita o armazenamento de água, entre outros. Alguns animais, sobretudo
primatas, podem até utilizá-los eventualmente, mas é o homem que concebe
um uso mais sofisticado, guardando instrumentos para o futuro, inventando
novos e deixa instruções para que outros os fabriquem (MONROE, 2018).
Já os signos, segundo Vygotsky (1989), são um meio para sua atividade
interior, dirigida a dominar o próprio ser humano, ou seja, o signo está orientado
para dentro. Eles agem como representações como a escrita, os desenhos, a
linguagem e os mapas. Por fim, temos ainda a internalização por meio da
experiência com o outro.
Assim, Vygotsky aponta:

[...] o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento


mental e põe em movimento vários processos que, de outra forma, seriam
impossíveis de acontecer. Assim, o aprendizado é um aspecto necessário e
Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos 5

universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas cultural-


mente organizadas e especificamente humanas (VYGOTSKY, 2003, p. 118
apud OSTERMANN; CAVALCANTI, 2011, p. 43).

Uma criança não precisa pôr a mão na chama de uma vela acesa para saber que ela
queima. Esse conhecimento pode ser adquirido por meio do conselho de alguém ou
de uma experiência própria anterior.

As ideias de Vygotsky influíram diretamente no modelo de educação


proposto pelo brasileiro Paulo Freire, a partir dos anos 1960. Os primeiros
projetos de Freire se voltaram à alfabetização de adultos. Em 1962, ele e seu
grupo alfabetizaram 300 cortadores de cana em apenas 45 dias (GADOTTI,
1991). Exilado do Brasil, no período da ditadura militar, Freire passou a divulgar
suas experiências no Chile, país onde residia.
Gadotti (1991) destaca o prefácio que Linda Bimbi escreveu na edição
italiana do livro “Pedagogia do Oprimido”, apontando um certo “desconforto”
causado pelo método freiriano:

A originalidade do método de Paulo Freire não reside só na eficácia dos


métodos de alfabetização, mas, acima de tudo, na inovação de seus conteú-
dos para “conscientizar” (...). A conscientização nasce em um determinado
contexto pedagógico e apresenta características originais: com as novas
técnicas se aprende uma nova visão de mundo, a qual implica uma crítica
cujos caminhos não são impostos, mas deixados à capacidade criadora da
consciência “livre”; Não se conscientiza um indivíduo isolado, mas sim uma
comunidade, quando ela é totalmente solidária com respeito a uma situação-
-limite comum. Portanto, a matriz do método, que é a educação concebida
como um momento do processo global de transformação revolucionária da
sociedade, é um desafio toda situação pré-revolucionária e sugere a criação
de atos pedagógicos humanizantes (e não humanísticos) que se incorporam
em uma pedagogia da revolução (GADOTTI, 1991, p. 37).

Assim, percebe-se que o método de Paulo Freire apresenta uma ideia de


comprometimento com a sociedade, perspectiva que explorava o que o aluno
trazia consigo, como seus hábitos, experiências e vivencias. A forma de tra-
balho era dividida em investigação temática e estabelecimento das palavras
geradoras e temas geradores. A investigação temática consistia:
6 Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos

O educador ia ao ambiente dos educandos com um caderno ou um gravador,


quando possível. Registrava tudo que via e ouvia; • Não havia normas ou
regras rígidas nesse processo: o educador perguntava sobre a vida dos alunos,
suas visões de mundo e aspirações. O objetivo primordial era registrar as
palavras mais usadas pela comunidade já alfabetizada; • Tudo era registrado:
formas de falar, versos, descrições do mundo; • Daí nasciam as chamadas
palavras geradoras e temas geradores. As palavras geradoras eram escolhidas
não apenas pelo significado, mas pela relevância social. Tinham também
que representar todos os fonemas da língua portuguesa (OSTERMANN;
CAVALCANTI, 2011, p. 45-46).

No estabelecimento das palavras geradoras e temas geradores, as pala-


vras seriam esmiuçadas e ligadas a temas geradores. A palavra governo, por
exemplo, geraria novas palavras para o debate, como política, participação
popular, poder, etc. A partir disso, se dava o modelo de educação proposto
por Freire, que visava uma educação libertadora.
Nesta seção, você conferiu as características do desenvolvimento social
baseado na teoria sociointeracionista a partir das ideias de Vygotsky e dos
conceitos de mediação e ZDP, bem como viu o modelo de educação pro-
posto por Paulo Freire. Na sequência, você verá as fases que marcaram esse
desenvolvimento.

Fases do desenvolvimento social


Vygotsky aponta as fases do desenvolvimento social sob dois vieses: o do
pensamento e o da linguagem. Por meio deles vão ocorrer as transformações
sociais em cada criança e, para Vygotsky, a relação de ambos é estreita.
Para o autor, linguagem e pensamento são fenômenos de desenvolvimento
independentes nos primeiros meses de vida, manifestando-se com autonomia.
Porém, por volta do segundo ano, as curvas de evolução do pensamento e
da linguagem se encontram, passando a exercer uma relação de dependên-
cia mútua — interdependência. Assim, linguagem e pensamento “passam a
interferir no complexo universo cognitivo da criança de modo a determinar,
a certa altura, que a linguagem pode servir de impulso para o pensamento”
(FERNANDES, 2003, p. 9; PALANGANA, 2001).
A seguir, você verá um pouco sobre cada uma dessas fases e conceitos.
Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos 7

Linguagem e pensamento
Para Vygotsky, a linguagem é o nosso instrumento de relação com os outros
e constituidora do sujeito, podendo ser verbal, gestual ou escrita. Além disso,
é por meio dela que aprendemos a pensar (RIBEIRO, 2005).
Sobre a linguagem, Rabelo e Passos (2014, documento on-line) afirmam
que, antes de tudo, ela é social, “portanto, sua função inicial é a comunicação,
expressão e compreensão. Essa função comunicativa está estreitamente com-
binada com o pensamento. A comunicação é uma espécie de função básica
porque permite a interação social e, ao mesmo tempo, organiza o pensamento”.
Segundo o autor, a aquisição da linguagem passa por três fases ou estágios.

„„ Linguagem social: é a primeira forma de linguagem, pois surge ainda


no nascimento e permanece até os 3 anos. Tem como principal função
denominar, comunicar e acompanhar as ações gerais da criança, porém,
de maneira dispersa e caótica.
„„ Linguagem egocêntrica: é a transição da fala social para a fala interna,
ou seja, da função comunicativa para a função intelectual, ficando bem
próxima ao pensamento. Segundo Rabelo e Passos (s.d), trata-se da fala
que a criança emite para si, em voz baixa, enquanto está concentrada
em alguma atividade. Essa fala, além de acompanhar a atividade in-
fantil, é um instrumento para pensar em sentido estrito, isto é, planejar
uma resolução para a tarefa durante a atividade na qual a criança está
entretida (RIBEIRO, 2005). Sendo assim, a linguagem se caracteriza
como sendo da pessoa para a própria pessoa, o conhecido “falar so-
zinho”. Rabelo e Passos (2014, documento on-line) apontam que esse
“falar sozinho” é “essencial porque ajuda a organizar melhor as ideias
e planejar melhor as ações. É como se a criança precisasse falar para
resolver um problema que, nós adultos, resolveríamos apenas no plano
do pensamento/raciocínio.” Essa fase também marca a curiosidade e as
inúmeras perguntas das crianças e, geralmente, permanece até os 6 anos.
„„ Linguagem interior: esta fase ocorre quando começa o declínio da
linguagem egocêntrica e a criança passa a ter a capacidade de “pensar
as palavras”, sem a necessidade de dizê-las. Sobre isso:

O pensamento é um plano mais profundo do discurso interior, que tem por


função criar conexões e resolver problemas, o que não é, necessariamente,
feito em palavras. É algo feito de ideias, que muitas vezes nem conseguimos
verbalizar, ou demoramos ainda um tempo para achar as palavras certas para
exprimir um pensamento. O pensamento não coincide de forma exata com os
8 Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos

significados das palavras. O pensamento vai além, porque capta as relações


entre as palavras de uma forma mais complexa e completa que a gramática
faz na linguagem escrita e falada. Para a expressão verbal do pensamento, às
vezes é preciso um esforço grande para concentrar todo o conteúdo de uma
reflexão em uma frase ou em um discurso. Portanto, podemos concluir que
o pensamento não se reflete na palavra; realiza-se nela, a medida em que é a
linguagem que permite a transmissão do seu pensamento para outra pessoa
(VYGOTSKY, 1998 apud RABELO; PASSOS, 2014, documento on-line).

Em relação ao desenvolvimento das operações mentais que começam a


envolver o uso dos signos, Palangana (2001, p. 104) cita que Vygotsky sugere
a existência de quatro estágios:

1º - estágio natural ou primitivo: que corresponde à fala pré-intelectual


(manifestada na forma de balbucio, choro e riso) e ao pensamento pré-verbal
(caracterizada por manifestações intelectuais rudimentares, ligadas à mani-
pulação de instrumentos); 2º - estágios das experiências psicológicas ingê-
nuas: a criança vai interagir com seu próprio corpo, com objetos e pessoas
a sua volta – com isso busca aplicar as experiências ao uso de instrumentos;
é o início da inteligência prática. 3º - estágio dos signos exteriores: neste
estágio “o pensamento atua basicamente com operações externas, das quais
a criança se apropria para resolver problemas internos.” No desenvolvimento
da fala, é o período da fala egocêntrica; 4º - estágio de crescimento inte-
rior: caracterizado pela interiorização das operações externas. Dispondo
de memória lógica, a criança pode operar com relações intrínsecas e signos
interiores. No desenvolvimento da linguagem, este estágio caracteriza-se
pela fala interior ou silenciosa.

Em relação ao pensamento, a teoria vygotskyana propões três fases ou


estágios de desenvolvimento. La Taille, Oliveira e Pinto (1992) caracterizam
esses estágios da seguinte maneira:

„„ primeiro estágio — é denominado como a formação de conjuntos sin-


créticos, nele, os objetos são agrupados em conjuntos sincréticos pelas
crianças, baseados em ligações vagas e subjetivas, como a proximidade
espacial quando não tem relação com os atributos relevantes para for-
marem categorias de objetos;
„„ segundo estágio — denominado estágio de pensamento por complexos,
no qual as ligações entre os componentes dos objetos não são abstratas e
lógicas, mas apenas concretas e factuais, de modo que qualquer conexão
factualmente presente possa incluir um elemento em um “complexo”,
sem a lógica devida;
Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos 9

„„ terceiro estágio — denominado formação dos conceitos propriamente


ditos, porque a criança agrupa os objetos conforme um único atributo,
sendo capaz de abstrair características isoladas da totalidade da expe-
riência concreta. É importante destacar, que o percurso genético para
o desenvolvimento conceitual não é linear, pois o terceiro estágio, por
exemplo, não aparece necessariamente após o segundo estágio.

Funções psicológicas superiores


Apesar de suas ideias serem ligadas às questões interacionistas, Vygotsky
também valorizava as funções psicológicas superiores. No entanto, esse autor
se opunha a visão de que essas funções eram associadas ao espírito humano
e já compostas desde o nascimento:

[...] não estão prontas desde o nascimento, elas possuem um componente


primitivo, biológico, instintivo a princípio, que com a inserção da criança em
sociedade vai se modificando e assumindo um caráter diferenciado. Ocorre,
então, um salto qualitativo interno, provocado pelo meio externo, que redi-
mensiona totalmente as funções elevando-as a patamares superiores, pois o
indivíduo passa de ser controlado por elas (funções) a controlá-las conscien-
temente (TULESKI, 2002, p. 119).

Vygotsky aponta o “desenvolvimento das funções psicológicas superiores”


por meio de dois fenômenos: os processos de domínio dos meios externos do
desenvolvimento cultural e do pensamento: a linguagem, a escrita, o cálculo, o
desenho; e os processos de desenvolvimento das funções psíquicas superiores
especiais, não limitadas nem determinadas com exatidão, que na psicologia
tradicional denominam-se atenção voluntária, memória lógica, formação de
conceitos, etc. Tanto uns como outros, tomados em conjunto, formam o que
qualificamos convencionalmente como processos de desenvolvimento das
formas superiores de conduta da criança (VYGOTSKI, 2000c, p. 29 apud
FUNÇÕES..., 2013, documento on-line).
Vygotsky aponta como funções psíquicas:

[...] formas complexas de atividade mental, tais como percepção, memória,


atenção, linguagem e pensamento, leitura, escrita e cálculo, foram formadas
durante o desenvolvimento histórico e, portanto são sociais em sua gênese
(LURIA, 1981 apud PADILHA, 2000, p. 58; VYGOTSKY, 1994 apud PADI-
LHA, 2000, p. 58; LEONTIEV, 1978 apud PADILHA, 2000, p. 58).
10 Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos

Para o autor, a escola tem papel fundamental no desenvolvimento, pois


possibilita a apropriação dos signos mediadores culturais, permitindo o au-
todomínio ou autocontrole das capacidades mentais, sejam elas intelectuais
ou emocionais. No coletivo, a criança exercita as funções psicológicas, su-
gerindo novas funções, portanto, é no coletivo que a criança se desenvolve
(TULESKI, 2002).
Agora que você já conhece as fases do desenvolvimento social segundo a
teoria de Vygotsky, a seguir, verá estudos de caso conforme os estágios citados.

Desenvolvimento social a partir de


estudos de caso
Neste tópico, iremos abordar estudos de caso com crianças, para que se possa
avaliar o seu desenvolvimento social. Cabe destacar que um estudo de caso
investiga casos ou indivíduos específicos, com minuciosa observação e, após,
interpretação do avaliado.

Como não há um teste padrão para realizar nestes estudos, a observação tem sido
utilizada como método (ver CARVALHO, 1996; KALLIOPUSKA, 1991).

Estudo de caso 1

Atividades propostas: o professor propõe uma dinâmica de grupo, envolvendo a


prática da cooperação para atingir o objetivo de formar um grande nó humano com a
turma. A turma forma um círculo e dá a mão ao colega do lado. Após o sinal do professor,
a turma se desloca e, no segundo sinal, deve parar e procurar o colega que deu a mão
para repetir o gesto. Como estão distantes, será necessário cooperação em equipe.

Idade do aluno: 5 anos


Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos 11

Ações da criança:
„„ não colaborou com a turma para a realização do objetivo;
„„ se mostrou disperso;
„„ quis resolver a tarefa sozinho;
„„ discutiu com colegas proferindo xingamentos.

Após a tarefa, os resultados observados foram:


„„ egocêntrico;
„„ pouca concentração;
„„ discussão para realizar a tarefa;
„„ quer ser o primeiro a fazer;
„„ não considera importante o que os colegas fazem.

Neste estudo de caso relatado, a criança apresenta um desenvolvimento


social de acordo com a sua idade, pois possui características inerentes a sua
fase (fase da linguagem egocêntrica). Para realizar a tarefa, a criança pensa
apenas nela mesma e não que os resultados sejam favoráveis a todos. Em vez
de ajudar o colega, o culpa por um possível fracasso na atividade. A partir
desse caso, o professor pode atuar na ZDP desse aluno, o ajudando a estabe-
lecer relações com os colegas e mostrando a importância dos colegas para que
todos realizem o objetivo em comum. As atividades devem ser cooperativas
e solidárias (Figura 2).

Figura 2. Crianças em cooperação.


Fonte: Jogos... (2017, documento on-line).
12 Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos

Estudo de caso 2

Atividades propostas: o professor propõe uma dinâmica de grupo, envolvendo a


prática da cooperação para atingir o objetivo de formar um grande nó humano com a
turma. A turma forma um círculo e dá a mão ao colega do lado. Após o sinal do professor,
a turma se desloca e, no segundo sinal, deve parar e procurar o colega que deu a mão
para repetir o gesto. Como estão distantes, será necessário cooperação em equipe.

Idade do aluno: 12 anos.

Ações da criança:
„„ liderou a turma na realização da prática;
„„ se mostrou focado na aula;
„„ atuou com solidariedade perante o grupo;
„„ discutiu com colegas para encontrar as melhores soluções.

Após a tarefa, os resultados foram:


„„ cooperativo;
„„ muito concentração;
„„ pensa na melhor forma de ajudar;
„„ colabora com os colegas;
„„ espírito de equipe.

Neste caso, temos um adolescente que está em pleno acordo com o desen-
volvimento social de sua idade. A fase do pensamento e da linguagem interior
começa a se desenvolver a partir dos 6 anos de idade, quando a pessoa passa
a ser menos egocêntrica, utilizando a linguagem em todas as suas formas e
fazendo uso da interação em prol de uma coletividade. Quando esse compor-
tamento aparece, o aluno já se encontra na zona de desenvolvimento real, pois
consegue realizar a tarefa de forma autônoma. O professor precisa estimular
este caso, dando um feedback positivo em novas situações.
Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos 13

FERNANDES, E. Linguagem e surdez. Porto Alegre: ArtMed, 2003. 155 p.


FERRARI, M. Lev Vygotsky, o teórico do ensino como processo social. Nova Escola, [s.l.],
1 out. 2008. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/382/lev-vygotsky-o-
teorico-do-ensino-como-processo-social>. Acesso em: 31 jul. 2018.
FUNÇÕES psicológicas superiores. Portal Educação, [s.l.], 8 abr. 2013. Disponível em:
<https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/funcoes-psicologicas-
superiores/42701>. Acesso em: 31 jul. 2018.
GADOTTI, M. Paulo Freire: su vida y su obra. Bogotá: Codecal, 1991. 193 p.
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LA TAILLE, Y.; OLIVEIRA, M. K.; PINTO, H. D. S. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicoge-
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MONROE, C. Vygotsky e o conceito de aprendizagem mediada. Nova Escola, [s.l.], 7
mar. 2018. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/274/vygotsky-e-o-
conceito-de-aprendizagem-mediada>. Acesso em: 31 jul. 2018.
OSTERMANN, F.; CAVALCANTI, C. J. H. Teorias de aprendizagem. Porto Alegre: Evangraf;
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PADILHA, A. M. L. Bianca: o ser simbólico: para além da deficiência mental. 2000. 232 f.
Tese (Doutorado em Educação) — Faculdade de Educação da Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, 2000. Disponível em: <http://repositorio.unicamp.br/bits-
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PALANGANA, I. C. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e Vygotsky: a relevância
do social. 3. ed. São Paulo: Summus, 2001. 168 p.
RABELLO, E.; PASSOS, J. S. Vygotsky e o desenvolvimento humano. Vale Cursos, São José
dos Campos, 23 set. 2014. Disponível em < http://www.valecursos.com.br/vygotsky-
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RIBEIRO, A. M. Curso de formação profissional em educação infantil. Rio de Janeiro: Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio; Creche Fiocruz, 2005.
TULESKI, S. C. A construção de uma psicologia marxista. Maringá: Eduem, 2002. 171 p.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psico-
lógicos superiores. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1989. 168 p.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 135 p.
14 Desenvolvimento social: fases, características e comportamentos

Leituras recomendadas
CARVALHO, A. M. Comportamento de cuidado entre crianças: um estudo longitudinal
em diferentes ambientes institucionais. 1996. 187 f. Tese (Doutorado em Psicologia)–
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
KALLIOPUSKA, M. Study on the empathy and prosocial behaviour of children in three
daycare centers. Psychological Reports, [s.l.], v. 68, n. 2, p. 375-378, April 1991.
PORTFÓLIO

Segundo Vygotsky, na Zona de Desenvolvimento Proximal, a criança precisará da ajuda


de alguém mais experiente. Durante as aulas, é comum ver crianças errando movimentos
ou com medo de errar.

Explique como o professor pode agir para promover a aprendizagem.


PESQUISA

Vigotski (3): implicações pedagógicas (Zona de Desenvolvimento Proximal)

Acesse https://www.youtube.com/watch?v=vUX3XJVPlWo

Uma das contribuições do estudioso foi o desenvolvimento do conceito de Zona


de Desenvolvimento Proximal. Conheça melhor o conceito neste vídeo.

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