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Este presente trabalho discute o conceito vygotskyano “mediação”, bem como as implicações que tal
conceito traz para a rotina do fazer pedagógico (processo de ensino-aprendizagem). A ênfase estará na
compreensão de um conceito e ao mesmo tempo de um instrumento metodológico de intervenção.
Além do próprio Vygotsky, outros autores que contribuem para a discussão sob o quadro da teoria
sócio-cultural estarão presentes. Neste artigo será discutida uma proposta de organização da prática
pedagógica dentro do quadro da teoria sócio-histórico-cultural, na qual o conceito vygotskyano da
mediação terá ênfase especial, por ser ele central na teoria de Vygotsky. A partir dele, tratarei de vários
outros conceitos que são fundamentais para a discussão. O desafio aqui é propor um caminho
teórico/prático que contribua para a ação de educadores no propósito de qualificar uma prática voltada
a uma formação cidadã, na qual se considera e se valoriza todos os envolvidos no processo de ensino-
aprendizagem2 , isto é, uma visão de trabalho educativo que tem na colaboração um meio de ação. Na
representação a seguir há uma organização do que será tratado, numa interligação seqüencial lógica de
conceitos que o grupo julgo necessários para a discussão proposta.
Teoria socio-cultural de Vygotsk
Histórica: faz-nos pensar em como chegamos até aqui, os diversos momentos e épocas que marcaram a
humanidade. Em primeiro plano ficam as influências do tempo sobre o humano;
Cultural: útil para vermos e valorizarmos toda a produção humana em diferentes contextos. Aqui
olhamos em primeiro plano as influências humanas na temporalidade.
O objetivo de uma abordagem sociocultural é explicar as relações entre a ação humana, de um lado, e
as situações culturais, institucionais e históricas em que essa ocorre, de outro.
Nesta perspectiva, a teoria em questão deveria ser discutida quando da produção coletiva dos Projetos
Políticos Pedagógicos nas unidades escolares, pois detalha posicionamentos que mapeariam um melhor
direcionamento das ações, já que dela fazem parte as seguintes visões :
Aluno: interage a partir de experiências sociais; constrói a partir de conexões entre experiências e
conhecimento anterior; só se desenvolve porque aprende; observa, experimenta problematiza
argumenta, aprende a partir do que lhe é significativo deve ser ajudado a buscar diferentes respostas
para o mesmo problema.
Professor: provocador de conflitos; suporte e apoio no processo; mediador; constrói junto com os
alunos; preocupa-se com o processo e não apenas com o produto.
Escola: visa à autonomia intelectual e moral do aprendiz; desafiadora: visa propiciar a superação dos
níveis de conscientização do educando sobre si próprio e sobre a sociedade; propicia espaço para
participação, respeita opiniões e diferentes culturas; não é o único local onde ocorre a aprendizagem.
Práticas de sala de aula: provoca desequilíbrios, desafia; organizada em grupo priorizando a interação
entre os aprendizes; pressupõe habilidade intelectual individual no trabalho com o outro; permite a
relação entre trabalho e realidade do aluno; permite interação do aluno com ele próprio e com os
outros; prevê a socialização do conhecimento.
Ensino-aprendizagem: tem como central as experiências sociais e a construção do conhecimento;
possibilita o desenvolvimento da autonomia do aluno; construção do conhecimento através do
processamento da informação.
Ser humano que pretendemos formar: capaz de modificar o meio e a si próprio; capaz de atuar em
diferentes contextos sociais; capaz da reflexão crítica; capaz de exercer sua autonomia e de ser sujeito
de sua própria história, de forma consciente e participativa.
Há um interesse crescente pelo que se tornou conhecido como “teoria sociocultural” e por seu parente
próximo, a “teoria da atividade”. Ambas as tradições são historicamente vinculadas a L. S. Vygotsky e
tentam explicar a aprendizagem e o desenvolvimento como processos mediados.
Mediação é o processo que caracteriza a relação do homem com o mundo e com outros homens. Assim
temos I: instrumentos; S: sujeito e O: objeto. A mediação é vista como central, pois é neste processo
que as Funções Psicológicas Superiores (FPS) - tipicamente humanas - se desenvolvem. As FPS
relacionam-se com ações intencionais – planejamento, memória voluntária, imaginação, enquanto as
FPE (funções psicológicas elementares) dizem respeito ao que é biológico, nato, extintivo, reflexo.
Uma delas são as inferiores, isto é, aquelas que compartilhamos com o reino animal, como
memória, a atenção e a percepção.
Por outro lado, temos as funções psíquicas superiores, que são as que nos caracterizam como
seres humanos, e são as que somente nós podemos alcançar através da interação com outros seres
humanos, por exemplo, a atenção seletiva, raciocínio abstrato, metacognição, insights, e o
pensamento matemático. Tudo isso mediado pela linguagem, a qual é a principal ferramenta
cultural humana, que nos possibilita o pensamento e a comunicação.
O nível de desenvolvimento atual da criança (tudo o que uma pessoa pode fazer sem
problemas nem ajuda).
O nível de desenvolvimento potencial (tudo o que a criança poderá chegar a alcançar ou fazer).
A distância entre o desenvolvimento atual e o desenvolvimento potencial é a zona de
desenvolvimento próximo, é nesta zona que a criança recebe ajuda e colaboração do adulto, de
um especialista ou de colega de classe mais avançado que ela para o aprendizado.
Na teoria de Vygotsky, se fala do potencial humano ou capacidade cognitiva do ser humano,
onde é exposto que cada geração não deve iniciar novamente do zero, não é necessário reinventar
a roda ou o fogo, cada geração pode partir dos conhecimentos desenvolvidos pela geração
anterior. Os adultos e especialistas podem exercer esta troca de consciência que obtiveram
através do desenvolvimento da aprendizagem. Desta forma aumentamos nosso potencial.
Em seu livro Pensamento e Linguagem (1993), Lev Vygotsky propôs a análise das relações entre
estas duas funções psicológicas, a partir de uma perspectiva teórica nunca antes abordada.
Propõe que a consciência deve ser entendida como um sistema dinâmico de funções
psicológicas, onde pensamento e linguagem são apenas dois; estas funções constituem as
diversas formas da atividade da consciência. A linguagem para Vygotsky é um instrumento
fundamental para o desenvolvimento do pensamento e sua evolução. É por esta razão que
Vygotsky propõe que o pensamento e a linguagem são a base para compreender a natureza da
consciência humana.
Se considerarmos a linguagem como um instrumento que tem origem social, nos referimos ao
fato de que toda atividade ou processo mental é feito com o uso de instrumentos psicológicos, ou
seja, símbolos que facilitam ou possibilitam o pensar. Para este autor, os instrumentos são: a
língua, obras de arte, escritos e desenhos. Razão pela qual a utilização de organizadores visuais
dentro da aula ajuda a desenvolver o pensamento e a linguagem; assim como a organização de
ideias e sua estruturação.
Caicedo (2012), expõe que o cérebro foi dotado, através da evolução, de áreas especializadas no
processamento de certos estímulos de acordo com regras universais da linguagem. A área de
Broca está envolvida na produção da linguagem e a área de Wernicke está associada com
processos semânticos da linguagem. Aqui você pode ver as funções das áreas de Broca e de
Wernicke. Caicedo diz que tanto uma como outra são estruturas com capacidade de
processamento não apenas de estímulos sonoros, mas também daqueles que contém informação
visual e espacial, que podem chegar a ser processados linguisticamente.
Medina (2007) argumenta que toda atividade mental é feita com a utilização de instrumentos
psicológicos, isto é, símbolos que tornam possível pensar e realizar atividades. Assim como
também expõe Reuven Feuerstein (2008), a mente cognitiva organiza o mundo, que vai se
formando e estruturando desde uma idade precoce.
Para Vygotsky, a origem dos símbolos é sociocultural, já que estes são a canalização para o
pensamento, para ele, os símbolos recriam e reorganizam a composição mental. Vygotsky (2001)
diz que a compreensão da linguagem é uma cadeia de associações que surgem na mente, sob
influência de imagens conhecidas das palavras. Portanto, entre a linguagem e o pensamento, o
«significado» desempenha um papel importante.
Para Vygotsky (2001), o significado das palavras não é estático, e sim evolui com as situações. É
por esta razão que este autor propõe que o significado da palavra funciona como unidade de
análise da consciência. O significado é a resposta que se produz. A evolução de nosso
pensamento está precedida pela linguagem, ou seja, por estes instrumentos linguísticos do
pensamento e a experiência social e cultural do sujeito.
Portanto esta unidade de análise está conotada com as áreas inter e intra psicológicas;
considerando o que disse Reuven Feuerstein sobre a metacognição: o componente metacognitivo
inclui a consciência dos fatores que afetam o pensamento e o controle que se têm sobre estes
fatores.
Desde pequenos nos ensinaram a falar com os outros: como cumprimentar, perguntar sobre a
vida dos outros... mas nunca nos ensinaram a falar com nós mesmos, mesmo esta sendo uma
base muito importante da metacognição, o ser consciente de nós mesmos e dos outros, nossa
consciência social. Como dito por Marco Ledesma (2014), o pensamento e a linguagem
continuamente alteram a vida cotidiana, são reviravoltas que apostam na comunicação, com a
intenção de expressar o que uma pessoa sente por dentro, se guiando pelas experiências e
expectativas. Pela perspectiva da neurolinguística, é fundamental o inconsciente dos seres
humanos nas relações subjetivas e intersubjetivas. Como percebeu Lacan, o outro influencia no
desenvolvimento e formulação da língua na vida cotidiana.
Para Vygotsky, aprender significa adquirir funções cognitivas superiores. Como a criança
adquire estas funções? Interagindo com o entorno que a rodeia, mas não apenas isto, já que ela
também interage com o entorno que a rodeia através de uma série de ferramentas.
Para Vigotski, a aprendizagem sempre inclui relações entre as pessoas. Não há como apreender o
mundo se não tivermos o outro, aquele que nos fornece os significados que permitem pensar o
mundo a nossa volta. Vigotsky considera ainda que o desenvolvimento é um processo que se dá
de fora para dentro. É no PEA que ocorre a apropriação da cultura e consequente
desenvolvimento do indivíduo. A linguagem humana, sistema simbólico fundamental na
mediação entre sujeito e objecto de conhecimento, serve para o intercâmbio social e para a
formação de conceitos, compartilhados pelos usuários dessa linguagem. O pensamento verbal
não é uma forma de pensamento natural e inata, mas resulta de um processo histórico-cultural,
pois os conceitos são formados, são internalizados através das relações culturais, no decorrer do
desenvolvimento do indivíduo.
Grupos culturais que não dispõem da ciência como forma de construção do conhecimento não
atingem os conceitos científicos.
A aprendizagem da criança inicia-se muito antes da sua entrada na escola, isto porque desde o
primeiro dia de vida, ela já está exposta aos elementos da cultura e à presença do outro, que se
torna o mediador entre ela e a cultura.
A escola surgirá, então como lugar privilegiado para o desenvolvimento, pois é o espaço em que
o contacto com a cultura é feito de forma sistemática, intencional e planificada. O
desenvolvimento – que só ocorre quando situações de aprendizagem o provoquem –tem seu
ritmo acelerado no ambiente escolar. O professor e os colegas formam um conjunto de
mediadores da cultura que possibilita um grande avanço no desenvolvimento da
criança.Vigotsky concebe o desenvolvimento dinamicamente formado por dois níveis: o afectivo
(já adquirido) e o potencial (realizável com ajuda dos adultos).
O bom ensino, segundo Vigotsky é aquele que se adianta ao desenvolvimento, ou seja, se volta
para as funções psicológicas emergentes, potenciais, e pode ser facilmente estimulado pelo
contacto com os colegas que já aprenderam determinado conteúdo.
Portanto, o que caracteriza fundamentalmente o ensino seria gerar essa área potencial de
desenvolvimento, que posteriormente seria internalizada pela criança. A aprendizagem não é em
si mesma desenvolvimento mas activa o processo evolutivo, desperta os processos internos do
indivíduo, liga o desenvolvimento da pessoa a sua relação com o meio ambiente sócio-cultural
em que vive e a sua situação de organismo que não se desenvolve plenamente sem o suporte de
outros indivíduos da sua espécie. Se o ensino constitui um estímulo para o desenvolvimento, é
preciso que ele se adapte às diferenças desenvolvimentais, tendo em conta um conjunto de
qualidades cognitivo-afectivo-sociais evolutivas da criança.
•Os mecanismos de desenvolvimento são dependentes dos processos de aprendizagem, estes sim
(processos de aprendizagem), responsáveis pela emergência de características tipicamente
humanas, que transcendem a programação biológica da espécie.
Desta forma está interagindo com seu entorno, mas também está utilizando uma ferramenta que
facilita a interação com o entorno. É por este motivo que Vygotsky também denomina sua
aprendizagem como aprendizagem mediada, porque as ferramentas que mediam a criança e o
entorno geralmente são de tipo social ou cultural: pessoas os instrumentos que os adultos
utilizam.
Conclusão
Findo o trabalho o grupo, quer portanto reconhecer, quão útil e frutífero foi trabalhar com o tema teoria
sócio-cultural de Lev Vygotsky, apetrechado com matéria da mediação, do processo de ensino-
aprendizagem nesse contexto ficou perceptível que na qualidqde de aspirante a professores que somos,
é dessa bagagem que necessitamos para saber lhe dar com os alunos na sala de aulas no processo de
ensino-aprendizagem.
Ainda nesse âmbito várias conclusões foram tiradas sobre a mediação, em Vygotsky a mediação
estabelece uma ligação, o signo, a actividade e a consciência interagem socialmente. A mediação tem
função de aquisição de conhecimentos realizada por meio de um elo de intermediário entre o ser
humano e o ambiente
É inegável a responsabilidade do educador e da escola enquanto agentes de constituição e
transformação sociais. Diante do exposto, espera-se que ambos tenham um posicionamento claro da
base teórica, ou abordagem que acreditam para que possam discutir e serem coerentes com ela. Só
assim, os objetivos preliminarmente estabelecidos poderão ser alcançados. O conceito de mediação e
suas implicações discutidos neste artigo fortalece a crença na construção e transformação de uma
sociedade que se pretende mais justa e convergente à gestão democrática e a formação cidadã de todos
os seus agentes.
Referências Bibliográficas
https://www.infoescola.com/pedagogia/teoria-de-aprendizagem-de-vygotsky.
SMYTH, John. Teachers Work and the Politics of Reflection. In: American Educational Research
Journal. V. 29, nº2, 267-300, 1992.