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Perspectivas

cognitivistas:
abordagem socio-
histórica (Vygotsky)

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Objetivos da aula:

Construir conceitos diante da epistemologia


Genética na visão de Vygotsky.

Descrever abordagens teóricas de Vygotsky.

Pontuar as contribuições teóricas de Lev


Vygotsky para a aprendizagem.

Palavras-chave:
Cognitivismo

Desenvolvimento humano

Educação

Lev Vygotsky

Psicologia Sócio-Histórica

Em nossas aulas anteriores, discutimos as bases epistemológicas do


cognitivismo, Racionalismo; Empirismo; Apriorismo; Intelectualismo e
Interacionismo. Na aula 8, exploramos um dos grandes teóricos
cognitivistas, Jean Piaget.

Nesta aula, estudaremos sobre Lev Vygotsky, um autor de base


interacionista, assim como Piaget. É importante recordar, então, que
para o interacionismo a ação do indivíduo é central ao conhecimento
e ao processo de aprendizagem (NEVES; DAMIANI, 2006).

Apesar de Piaget e Vygotsky serem interacionistas, os dois diferem


especialmente em relação ao entendimento sobre a aprendizagem e
o desenvolvimento humano. Quanto à maneira de encarar o
conhecimento, a partir de uma perspectiva interacionista, Vygotsky
pensa como Piaget. Dessa forma, ele compreende que o
conhecimento se produz a partir das interações entre sujeito e objeto,
no caminho entre sujeito e objeto e dependendo de ambos ao mesmo
tempo (RODRIGUES, 2016).

A divergência de Vygotsky com o pensamento de Piaget em relação à


aprendizagem e ao desenvolvimento humano ocorre porque, para
Vygotsky, o desenvolvimento humano acontece especialmente por
meio da mediação e da interação sociocultural (RODRIGUES, 2016).

Quem foi Vygotsky


@novaescola

Lev Semyonovich Vygotsky nasceu na Bielorrússia em 1896,


curiosamente no mesmo ano em que nasceu Piaget. Estudou
literatura na Universidade de Moscou, pesquisando, inicialmente,
sobre a criação artística (FERRARI, 2010, apud PORTAL Educação, s/d).

No contexto posterior à Revolução Russa de 1917 e à consequente


criação da União Soviética, emergiram os estudos de Vygotsky que
semearam a teoria sócio-histórica (ANDRADE et al., 2019). A partir de
1924, contudo, o foco de sua carreira havia mudado, passando a ser
dirigido, então, à psicologia evolutiva e à área da educação (FERRARI,
2010, apud PORTAL Educação, s/d).

Entre 1924 e 1934, sua atuação e suas publicações se concentraram


nesses campos do saber, com a produção de várias obras. Em 1934,
Vygotsky faleceu, aos 37 anos, em decorrência de uma tuberculose.
Apesar de sua morte prematura, estudou e colaborou imensamente
com o campo de estudos da psicologia e também da literatura,
linguística, filosofia e ciências sociais (COLL, 1992 apud PORTAL
Educação, s/d).

O nome exato do conjunto de sua obra tem variações diversas. Como


Neves e Damiani (2006) pontuam:
[...] conforme Newton Duarte (DUARTE, 1999), no Brasil, encontramos:
socioconstrutivismo, sociointeracionismo-contrutivista e
construtivismo pós-piagetiano. Contudo, nenhuma dessas
denominações aparece na obra de Vygotsky. Os teóricos vinculados a
essa corrente de pensamento preocupavam-se sempre em
caracterizá-la naquilo em que ela se diferenciava das demais, ou seja,
sua abordagem histórico-social do psiquismo humano.

As autoras concluem informando-nos que a denominação mais


utilizada pelos teóricos é Teoria Sócio-Histórica, e, assim, sugerem que
seja mantida essa terminologia (NEVES; DAMIANI, 2006).

A abordagem sócio-
histórica e o
desenvolvimento
humano para Vygotsky
O pressuposto central da Abordagem Sócio-Histórica, desenvolvida
por Vygotsky, é que:

a criança é um ser social desde o seu nascimento e se forem


proporcionadas
condições adequadas de vida e de educação desde
este momento, ela será capaz de desenvolver seu
pensamento, sentimentos, hábitos morais e sua personalidade
(NOGUEIRA, 2007).

Dessa maneira, é possível entender o desenvolvimento humano como


um produto de trocas do indivíduo com o meio, em que cada aspecto
influencia o outro (NEVES; DAMIANI, 2006). Além disso, a partir dessa
teoria, não analisamos o sujeito e o objeto fora do ambiente em que
essa relação acontece. O foco da abordagem é na interação dialética
que acontece entre o sujeito e o meio social e cultural (NEVES;
DAMIANI, 2006). Essa interação mediada pelo meio sociocultural
confere significados aos objetos e, portanto, influencia diretamente na
compreensão que se cria deles.

Então, conforme essa abordagem, o ser humano só é capaz de


aprender um conceito sobre determinado objeto, concreto ou
abstrato, a partir do momento em que aprende o seu uso social e
cultural. Nogueira (2007) exemplifica dizendo que uma criança só vai
compreender de fato o que é um copo no momento que conseguir
utilizá-lo da forma como o seu meio social o utiliza e, para isso, é
preciso que ela interaja com pessoas que saibam usá-lo.

Além disso, para Vygotsky não existe uma natureza ou uma essência
humana. Ele compreende que os seres humanos são, primeiramente,
sociais; e depois é que passam por processos de individualização
(NEVES; DAMIANI, 2006).

Dessa forma, é refutada a ideia de que o sujeito recebe as informações


prontas de maneira passiva. O que acontece é que ele é ativo nessa
construção, que envolve necessariamente a socialização e a
comunicação entre os pares sociais. Para isso, a linguagem é essencial,
pois ela auxilia o processo de aprendizagem e o desenvolvimento do
pensamento (NOGUEIRA, 2007).

Em resumo, os aspectos mais difundidos do


sociointeracionismo de Vygotsky são as fortes relações entre
pensamento e linguagem. É a palavra que dá forma ao pensamento,
modificando suas funções psicológicas, percepção, atenção, memória,
capacidade de solucionar problemas e o planejamento da ação
(NOGUEIRA, 2007, p. 86-87).

Conforme Nogueira (2007), um conceito muito importante da


abordagem de Vygotsky é o de Zona de Desenvolvimento Proximal,
que se refere à distância entre o nível do potencial de
desenvolvimento da pessoa e o nível real do desenvolvimento dela
para um dado momento (ANDRADE et al., 2019).

A teoria de Vygotsky prevê que a interação social é muito valorizada e


capaz de provocar a aprendizagem, porém, isso só acontece se for
dentro da zona de desenvolvimento proximal. O que isso quer dizer?
Isso significa que, para Vygotsky, a aprendizagem precede o
desenvolvimento, ao contrário de outras linhas que pregam que o
desenvolvimento cognitivo faz com que a aprendizagem ocorra. A
aprendizagem precede o desenvolvimento porque, quando ela
acontece na zona proximal, é capaz de avançar os conhecimentos já
existentes do indivíduo e contribui, então, para seu desenvolvimento
cognitivo (ANDRADE et al., 2019).

O desenvolvimento infantil, de acordo com o que foi elaborado por


Vygotsky, sofre influências das constantes interações com os adultos
que as inserem ativamente na cultura, e pode ser analisado por meio
de três aspectos principais:

Instrumental: em que a natureza media as funções psicológicas


complexas.

Cultural: que envolve os meios sociais estruturados.

Histórico: funde-se com o cultural, pois os instrumentos que o


homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio
comportamento foram criados e modificados ao longo da história
social da civilização (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

Instrumental
Cultural
Histórico

A educação e Vygotsky
Considerando que para o desenvolvimento cognitivo Vygotsky
enfatiza que o processo acontece primeiro em nível social e
interpessoal e, depois, em nível individual (Lei de Dupla Formação de
Vygotsky), pode-se dizer que as relações sociais são convertidas em
funções mentais superiores (ANDRADE et al., 2019).

Enquanto para Piaget devia-se esperar que a criança estivesse em


determinado estágio do desenvolvimento, ou seja, que formasse
certas estruturas mentais, para aí então ensinar alguns conceitos, para
Vygotsky, é a partir do ensino e da interação social que as estruturas
mentais são formadas, desde que aconteçam dentro da zona de
desenvolvimento proximal (ANDRADE et al., 2019).

As práticas pedagógicas fundamentadas nessa teoria da


aprendizagem entendem que o indivíduo é ativo no processo e o
professor é um mediador, possibilitando ao aluno um acesso a trocas
sociais e culturais diferentes das que já estão presentes nos outros
meios em que convive (NOGUEIRA, 2007).

Nogueira (2007) afirma que, para exercer esse papel de mediador, o


professor deve trabalhar em conjunto com o aluno, explicar os
conteúdos, questionar e corrigir o que foi feito, além de incentivar que
o aluno explique o seu próprio pensamento em relação àquele
conteúdo.

Para Vygotsky, portanto, a interação do aluno com o professor é


importante para o processo de aprendizagem. Outros autores
destacaram, ainda, a importância da relação e da interação entre os
alunos para essas trocas de conceitos já adquiridos que beneficiam o
desenvolvimento cognitivo (MOYSÉS, 1997 apud NOGUEIRA, 2007).

Portanto, a aprendizagem se concretiza (ocorre o desenvolvimento


cognitivo) quando professor e aluno conseguem partilhar esses
significados por meio de uma interação social (ex.: uma aula) dentro
da zona de desenvolvimento proximal (ANDRADE et al., 2019, p. 231).

SAIBA MAIS
Vygotsky é um dos autores proeminentes do cognitivismo e, mais
especificamente, o de caráter interacionista. O material indicado traz
uma introdução sobre a vida e a obra de Vygotsky, feita pela
Professora Zoia Prestes.

Música UNIRIO. “Imaginação e Criação na Teoria Histórico-Cultural”


com Zoia Prestes – UFF.

ACESSAR
FICA A DICA
O foco desta aula foi uma exposição sobre a teoria de Lev Vygotsky. O
artigo indicado apresenta uma entrevista de uma das filhas de
Vygotsky conduzida pela professora Zoia Prestes, e traz algumas
curiosidades sobre o início da obra e a vida do autor.

PRESTES, Zoia Ribeiro. Guita Ivovna Vigodskaia (1925-2010), filha de


Vygotsky: entrevista. Cadernos de Pesquisa [online], v. 40, n. 141, pp.
1025-1033, 2010.

ACESSAR

Finalizando
A Abordagem Sócio-Histórica de Lev Vygotsky é uma das principais
teorias cognitivistas e classifica-se como interacionista. Lev Vygotsky
foi um psicólogo russo que, mesmo tendo vivido apenas 37 anos,
deixou um legado de vastos estudos.

Na sua perspectiva, o desenvolvimento cognitivo necessita da relação


do indivíduo com o contexto social, histórico e cultural no qual está
inserido. Por isso, ele não estabelece estágios de desenvolvimento,
como Piaget, pois compreende que há uma interação contínua entre
as inúmeras diversidades das condições sociais e a base biológica do
comportamento humano.

As práticas pedagógicas baseadas na abordagem sócio-histórica


incluem métodos e procedimentos de ensino que valorizam e incluem
as relações com pares, pois, para Vygotsky, as relações sociais e
culturais têm uma importância crucial para o desenvolvimento.

Dúvidas Frequentes
1. Quem foi Vygotsky?
Resposta: Lev Vygotsky foi um psicólogo russo que desenvolveu
a abordagem sócio-histórica.

2. Como são as práticas pedagógicas baseadas em Vygotsky?


Resposta: Vygotsky, ao estudar a aprendizagem, enfatiza e
destaca a importância das relações sociais. Por isso, as sugestões
de método e procedimento de ensino baseadas em Vygotsky
devem valorizar e incluir as relações com pares.

3. Como Vygotsky divide estágios?


Resposta: Vygotsky não divide o desenvolvimento em estágios
e não aceita a tese de que a criança passa por diversos estágios
cognitivos, pois, segundo ele, há uma contínua interação entre
as inúmeras diversidades das condições sociais e a base
biológica do comportamento humano.

4. O que é a Abordagem Sócio-Histórica?


Resposta: É a abordagem desenvolvida por Vygotsky. Na
perspectiva dele, o desenvolvimento cognitivo necessita da
relação do indivíduo com o contexto social, histórico e cultural
no qual está inserido.

Selecione os itens a seguir para obter as respostas:

Quem foi Vygotsky?


Como são as práticas pedagógicas baseadas em Vygotsky?
Como Vygotsky divide estágios?
O que é a Abordagem Sócio-Histórica?

Referências
ANDRADE, Daniel Everson da Silva; NETO,
Antônio Ferrão Paiva Pinto; OLIVEIRA, Cristiane Ayala de; BRITO,
Josilene Almeida. Comportamentalismo, Cognitivismo e Humanismo:
uma revisão de literatura. Revista Semiárido De Visu, Petrolina, v. 7, n.
2, p. 222-241, 2019. Disponível em: <https://periodicos.ifsertao-
pe.edu.br/ojs2/index.php/semiaridodevisu/article/viewFile/1065/26
9>. Acesso: 13 maio 2022.

NEVES, Rita de Araujo; DAMIANI, Magda Floriana. Vygotsky e as teorias


da aprendizagem. UNIrevista – Vol. 1, n° 2, abril 2006. Disponível em:
<http://repositorio.furg.br/handle/1/3453?show=full>. Acesso: 17 abr.
2022.

NOGUEIRA, Clélia Maria Ignatius. As teorias de aprendizagem e suas


implicações no ensino de ensino de Matemática. Acta Sci. Human
Soc. Sci., v. 29, n. 1, p. 83-92, 2007. Disponível em:
<https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ActaSciHumanSocSci/arti
cle/view/141/2708>. Acesso: 13 maio 2022.

PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 12. ed.


Porto Alegre: McGraw Hill, Artmed, 2013.

PORTAL Educação. Síntese das concepções das Teorias


Interacionistas de Piaget e de Vigotsky. Disponível em:
<https://blog.portaleducacao.com.br/sintese-das-concepcoes-das-
teorias-interacionistas-de-piaget-e-de-vigotsky/>. Acesso:10 maio
2022.

RODRIGUES, Márcia Maria. As teorias de aprendizagem e suas


implicações na educação a distância. Educar FCE, pp 103-116, agosto
2016. Disponível em: <https://www.fce.edu.br/pdf/EDUCAR-FCE-2ED-
VOL1-28.07.2016-V4.pdf#page=104>. Acesso: 17 abr. 2022.

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