Você está na página 1de 5

A PSICOMOTRICIDADE COMO INTERVENÇÃO NO DESENVOLVIMENTO

DE SUJEITOS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO

Luan Barth Alves1

Resumo

O presente artigo envolve dois temas importantes na atualidade - a


Psicomotricidade e o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e, a partir
disso, objetiva de compreender as potencialidades e as contribuições da
intervenção psicomotora na formação de indivíduos com TEA. Utilizando como
metodologia de trabalho a pesquisa bibliográfica, foi possível constatar que as
atividades recreativas, envolvendo diferentes atos de brincar e baseados na
lógica da psicomotricidade podem colaborar na construção da identidade e nas
potencialidades das crianças com TEA, uma vez que são tarefas que envolvem
aspectos motores, cognitivos e sociais. Cada comportamento da criança com
TEA apresenta características únicas, as quais devem ser respeitadas e
estimuladas para melhorar a qualidade de vida individual e coletiva.

Palavras-chave: Educação. Psicomotricidade. Transtorno do Espectro do


Autismo.

1. Introdução

Atualmente, o desenvolvimento integral de uma criança é uma das


preocupações dos sujeitos envolvidos nas práticas educacionais, exemplo
disso, são os dizeres da Base Nacional Comum Curricular (2017) que discorre
dessa questão em seu texto final, o qual serve como documento normativo
para as escolas, os docentes e a comunidade em geral. Mediante o cenário
educacional nacional, o tema envolve dois pontos: a Psicomotricidade e o
Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Desse modo, esse escrito tem por
objetivo compreender por meio de referenciais teóricos as potencialidades e as
contribuições da intervenção psicomotora na formação de indivíduos com TEA.
Tendo como justificativa, o viés pessoal (entender mais sobre o tema) e, social,
demonstrando como existem argumentos científicos a respeito da relação dos
assuntos. Assim, além da introdução, o artigo conta com o desenvolvimento, as
conclusões e as referências bibliográficas aqui utilizadas.

1
Graduação em Educação Física - UNOESC/Chapecó, especialização em Educação Especial
e Psicomotricidade - Faculdade de Educação São Luis. E-mail do autor:
luanbarthsmo@gmail.com
2. Psicomotricidade e o TEA: uma relação em prol do desenvolvimento
integral da criança

Considerar somente as impressões físicas de um sujeito para


compreender as questões cognitivas é um erro não mais aceitável nos dias
atuais, pois o corpo se faz presente na sociedade por meio das relações
internas e externas que realiza no cotidiano, assim, a capacidade emocional e
intelectual perpassa pela forma de comunicação, de expressão, de movimento,
de ação, de cognição e de afetividade que o sujeito estabelece ao longo de
suas experiências (FERNANDES; GUTIERRES FILHO; REZENDE, 2018).
As particularidades de cada corpo de cada criança devem ser
respeitadas, aqui se abordam as características do TEA que engloba: “[...]
autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo
atípico, transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação,
transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger” (AMERICAN
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 53). As manifestações do autismo
variam em cada sujeito, conforme idade, desenvolvimento e gravidade da
situação, por isso o uso do espectro. De modo geral, esses sujeitos
apresentam comprometimentos na interação e nos comportamentos sociais,
bem como a repetição de padrões em atividades, interesses e atividades
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). Em síntese:

O autismo é definido como um transtorno do desenvolvimento que


geralmente está associado a outras síndromes e é facilmente
confundido com deficiência mental. É descrito como uma síndrome
comportamental com causas múltiplas e caracterizado por déficit na
interação social, ou seja, dificuldade em se relacionar com o outro,
déficit de linguagem e alterações de comportamento (FALKENBACH;
DIESEL; DE OLIVEIRA, 2010, p. 204-205).

Com base nessas informações iniciais, apresentam-se a seguir


argumentos que demonstram como o desenvolvimento individual de TAE pode
ser potencializado a luz da psicomotricidade. Em termos históricos, a
psicomotricidade esteve associada primeiramente a questões neurológicas –
motoras, para que na sequência se adentre nas áreas psíquicas e, por fim,
educacionais; ela abarca características de pensamento e movimento das
ações humanas, que são transformadas diariamente conforme a necessidade
de cada época (LUSSAC, 2008). Desse modo, em complemento a essa
afirmação, aponta-se que: “O termo psicomotricidade se divide em duas partes:
a motriz e o psiquismo que constituem o processo de desenvolvimento integral
da pessoa” (IVO, 2011, p. 63).
O foco aqui nesse estudo se importa pelos movimentos complexos que o
corpo infantil realiza, sendo a definição de criança como aquela que “[...]
observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, faz julgamentos e assimila
valores e que constrói conhecimentos e se apropria do conhecimento
sistematizado por meio da ação e nas interações com o mundo físico e social”
(BRASIL, 2017, p.36). E esse estabelecimento das interações acontece pelo
brincar aqui “[...] entendido como o exercício funcional das capacidades
corporais” (FERNANDES; GUTIERRES FILHO; REZENDE, 2018, p. 704).
Nesse sentido:
A criança, desde o início, busca estabelecer relações e se
comunicar com o mundo físico e social. Essas primeiras
tentativas envolvem o corpo como um todo e, nesses
movimentos corporais — sempre ampliados pelo sentido que a
mãe ou pessoas próximas à criança lhes conferem — estão
contidos o germe da constituição simbólica da realidade
(SOUZA E JOBIM, 2008, p. 138).

Essas interações necessárias entre as crianças e com os demais


sujeitos que ela interage podem acontecer de diferentes modos, dessa
maneira: “Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o
teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no
entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem” (BRASIL, 2017, p. 41). É
nesse jogo de relações entre a criança e o mundo que a psicomotricidade se
estabelece, pois no processo de ensino-aprendizagem essa área é entendida
como prática pedagógica, que visa “[...] contribuir para o desenvolvimento
integral da criança, favorecendo aspectos físicos, mentais, afetivo-emocionais e
socioculturais, buscando estar sempre condizente com a realidade dos
educandos” (IVO, 2011, p. 61). Sendo aqui explanados alguns exemplos de
atividades possíveis de realizar na psicomotricidade: pega-pega; morto x vivo;
chamada da roda; gato doente (INSTITUTO WALLON EDUCACIONAL, s.a.).
Além dessas, tantas outras podem ser organizadas conforme as
especificidades dos estudantes, uma vez que: “O momento do brincar é voltado
para potenciar experiências corporais e de vivências simbólicas, permitindo as
relações com os colegas, professores e objetos da prática” (FALKENBACH;
DIESEL; DE OLIVEIRA, 2010. p. 204). A criança com TEA pode encontrar no
ato de brincar um caminho para seu desenvolvimento particular e de
coletividade, uma vez que: “[...] a psicomotricidade relaciona de forma
globalizada os aspectos sociais afetivos cognitivos e motores como resgate da
qualidade de vida” (WALLON INSTITUTO EDUCACIONAL, s.a, p. 09). E, para
uma criança, que apresenta limitações geradas pelo TEA, cada possibilidade
de melhorar a vida deve ser aproveitada.
A criança deve vivenciar, de forma livre e espontânea, o prazer
de jogar, correr, saltar, gritar, desempenhar o papel de um
outro, enquanto pensa, espera, observa e explora; também
deve realizar atividades e construções com bolas, blocos de
espuma, tecidos, cordas, bastões e, sempre que desejar, ter a
liberdade de destruir e voltar a construir, de realizar e não
realizar, para que possa desenvolver o sentimento de ser
(FERNANDES; GUTIERRES FILHO; REZENDE, 2018, p. 707).

Todas essas tarefas podem ser realizadas com atividades de


psicomotricidade, entendendo as limitações de cada corpo, mas incentivando
constantemente para que a criança se desafie. Elas precisam ser estimuladas
a tentarem e cada processo deve ser reconhecido. O lúdico – jogo ou brincar, é
uma ferramenta interessante para o desenvolvimento do TEA, sendo que aqui
está enraizado o conceito de “educação psicomotora” como é aquela que
acontece: “[...] através do corpo em movimento, que irá proporcionar ao
educando o controle gradativo do corpo, seja dos movimentos mais simples até
os mais complexos” (IVO, 2011, p. 89). Nessa lógica, com esses dizeres finais,
retoma-se ao ponto inicial desse tópico, em que se apresentaram colocações
sobre o corpo, que está constantemente em mudança e contato com o outro e
consigo mesmo. O corpo de uma criança com TEA tem potencialidades que
devem ser exploradas por meio da psicomotricidade.

3. Conclusão

A intenção no texto foi mostrar por meio de que existem muitos


benefícios do uso de atividades psicomotoras, as quais devem ser mediadas
por profissionais dispostos a trabalhar em prol do desenvolvimento infantil. A
partir de práticas que envolvem a psicomotricidade, as crianças com TEA
podem melhorar em diferentes campos, pois sentirão mudanças motoras,
cognitivas e sociais por meio do desenvolvimento particular e no coletivo das
tarefas. Os estímulos ofertados pela psicomotricidade associado com o tempo
de envolvimento podem ser fatores essenciais na qualidade de vida das
crianças e familiares que vivenciam o TEA.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual de diagnóstico e


estatístico de transtornos mentais: DSM-V. 5. ed. Porto Alegre: Artmed;
2014. 848 p. Disponível em: http://www.niip.com.br/wp-
content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-
Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf. Acesso em 13 out. 2021.

BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base


Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofin
al_site.pdf. Acesso em 13 out. 2021.

FALKENBACH, A.P., DIESEL, D. DE OLIVEIRA, L.C. O jogo da criança autista


nas sessões de psicomotricidade relacional. Rev. Bras. Cienc. Esporte,
Campinas, v. 31, n. 2, p. 203-214, janeiro 2010. Disponível em:
http://revista.cbce.org.br/index.php/RBCE/article/view/706/411. Acesso em: 13
out. 2021.

FERNANDES, J.M.G. de A., GUTIERRES FILHO, P.J.B., REZENDE, A.L.G.


Psicomotricidade, jogo e corpo-em-relação: contribuições para a intervenção.
Cad. Bras. Ter. Ocup., São Carlos, v. 26, n. 3, p. 702-709, 2018. DOI:
https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoEN1232

JOBIM E SOUZA, S.. Infância e Linguagem. Bakhtin, Vygotsky e Benjamim.


11ºed. Campinas, SP: Papirus. 2008. Disponível em:
https://filosoficabiblioteca.files.wordpress.com/2018/12/SOUZA-Solange-Jobim-
Infancia-e-Linguagem.pdf. Acesso em 14 out. 2021.

IVO, I. J. Ludicidade e psicomotricidade / Ivo José Ivo, Maurício. Barbosa de


Paula, Sandro de Souza; revisão de Walter P. Valverde Júnior. 1. ed. – Niterói,
RJ: EAD/UNIVERSO, 2011. 113 p.: il.
LUSSAC, R. M. P. Psicomotricidade: história, desenvolvimento, conceitos,
definições e intervenção profissional. Revista digital Buenos Aires. Ano 13. nº
126 – Novembro, 2008. Disponível em:
https://www.efdeportes.com/efd126/psicomotricidade-historia-e-intervencao-
profissional.htm. Acesso em: 14 out. 2014.

Você também pode gostar