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Conforme Nildo Viana, sociólogo brasileiro, o conceito de raça pode ser definido
como uma população que possui uma série de características físicas e hereditárias
em comum. Entretanto, é importante ressaltar que para os estudos genéticos e para a
comunidade científica, a espécie humana possui apenas uma raça.
Pois, biologicamente, o DNA (material genético) entre diferentes pessoas com
diferentes características físicas possui uma variação considerada insignificante.
E o que é etnia?
Nesse sentido, segundo o sociólogo Nildo Viana, a etnia pode ser definida
como um grupo de indivíduos de um mesmo território que possuem uma
homogeneidade cultural (mesma língua, religião, crenças, valores etc.) e uma
identidade coletiva de pertencimento a esta etnia, como os povos indígenas, os judeus,
os curdos, os rohingyas, entre outros.
Agora que entendemos a diferença entre os conceitos de raça e etnia, fica mais
fácil de entender os direitos étnico-raciais. Uma boa pergunta para começar é: afinal,
como eles surgiram? A promoção desses direitos pelo mundo começou após o
surgimento da Declaração Universal dos Direitos Humanos na Organização das
Nações Unidas (ONU). Foi a partir desse momento que necessidades e particularidades
de grupos vulneráveis historicamente passaram a ser levadas em consideração.
Na década de 60, muitas lutas por parte de movimentos sociais foram feitas no
país, resultando na prisão de um de seus líderes, Nelson Mandela. Mesmo assim, o
sistema só foi destituído legalmente em 1994.
O movimento representava a luta dos negros por direitos civis, como o direito à
educação, saúde e transporte. Eles também viviam em um regime de segregação, no
qual não podiam ocupar os mesmos locais que pessoas brancas, como escolas,
restaurantes, transporte, hospitais, entre outros.
Imagine uma corrida em que para alguns indivíduos são colocados obstáculos
na pista, enquanto para outros não. É certo que os indivíduos que podem correr
livremente na pista terão grandes vantagens para vencer a corrida, não é mesmo? Essa
é a situação de acesso a direitos e oportunidades entre os grupos étnico-raciais
atualmente. Em vista das discriminações sofridas e a exclusão social que vivenciam,
esses grupos possuem grandes dificuldades para viverem uma vida digna na
sociedade.
É por isso que os direitos étnico-raciais existem. Para tentar promover a justiça
social para esses grupos vulneráveis, que acabam sendo as principais vítimas de
mazelas como a violência e a desigualdade. No caso do Brasil, a defesa dos direitos
fundamentais das pessoas pretas, pardas e indígenas é também a defesa da
democracia. Como foi dito no início do texto, a população negra representa a maioria
da população brasileira. Entretanto, é essa mesma população que mais sofre com a
pobreza no país.
Dessa forma, nós enquanto sociedade devemos lutar para que os direitos de
todos sejam respeitados. Especialmente daqueles que por muito tempo não tiveram os
seus direitos reconhecidos. Pois, apesar da previsão de defesa e garantia de direitos
humanos, alguns grupos permanecem em situação desigual, sendo necessária a
previsão de direitos e políticas específicas, como no caso dos direitos étnico-raciais, os
quais foram e continuam sendo reivindicados ao longo do processo de lutas e esforços
coletivos.
Grécia
A Grécia antiga era composta por povos indo-europeus, como os aqueus, jônios,
eólios e dórios. Apesar dessa variedade de povos, não havia perseguição e segregação
entre eles, que conservavam as suas características culturais próprias. Para a
sociedade grega, o sentimento de pertencimento coletivo fazia com que os povos
fossem vistos apenas como gregos e não-gregos. Os não-gregos , em sua maioria,
eram os estrangeiros e os prisioneiros de guerra, que eram vistos como povos bárbaros
e eram escravizados pelos gregos.
Mesopotâmia
Outro caso marcante é da Mesopotâmia antiga. Muitos povos também
pertenciam à região, como os sumérios, acádios, hebreus, amoritas, caldeus e hititas.
Mas mesmo assim, também não havia perseguições contra um grupo específico.
A escravidão era permitida legalmente, por meio do Código de Hamurabi, mas a
maioria dos escravos também eram compostos de estrangeiros e prisioneiros de
guerra. Nesse sentido, a discriminação ocorria contra os povos do exterior, que não
possuíam nenhum direito reconhecido.
Período medieval
Dessa forma, na história dos direitos étnico-raciais nas sociedades africanas e
americanas, a perseguição e dominação direcionada especificamente a um grupo
racial e justificada por esse pertencimento teve início após o fim da Idade Média (476 –
1453), quando o processo de colonização europeia se iniciou.
Os colonizadores não apenas exploravam os recursos dos territórios colonizados (da
América Latina e África em sua maioria), mas também implementaram a sua cultura e
moral sobre os povos colonizados. Os costumes, valores e as tradições culturais dos
colonizadores foram impostos de forma violenta.
Vale lembrar que, muito influenciado pela Revolução Francesa, o primeiro país
das Américas a abolir a escravidão foi o Haiti, 95 anos antes do Brasil, em 1793, se
tornando independente em 1804.
Com isso, em 1957 é elaborada pela ONU a Convenção sobre os Povos Indígenas
e Tribais (Convenção OIT nº 107). O documento reconhece que esses povos precisam
de uma proteção legal especial, por conta das suas condições sociais e econômicas.
Dessa forma, prevê que os Estados signatários devem tomar providências para
assegurar a proteção das populações indígenas, tribais e semi tribais (pessoas que
apesar de já não terem todas as características do grupo étnico, não se identificam
com a comunidade nacional).
Mais tarde, em 1963, a ONU promulga a Declaração sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial, visando acabar com toda e qualquer discriminação
com base em raça do mundo. Os dispositivos e garantias do documento foram
reafirmados em 1965, com a elaboração da Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, principal documento
atualmente dos direitos étnico-raciais no mundo.
Conclusão
A distinção entre povos com diferentes culturas e modos de vida é algo presente
na história dos direitos étnico-raciais. Ao longo da história, essas diferenças foram
exploradas de maneiras distintas, levando a situações extremas como a submissão de
estrangeiros e prisioneiros de guerra à escravização nas civilizações antigas, e
posteriormente a escravização de povos e grupos étnicos, apenas por apresentarem
características físicas e costumes distintos.