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[...] um grupo de pessoas que de algum modo e em algum setor das relações sociais
se encontra numa situação de dependência ou desvantagem em relação a um outro
grupo, “maioritário”, ambos integrando uma sociedade mais ampla. As minorias
recebem quase sempre um tratamento discriminatório por parte da maioria.
(CHAVES, 1970, p.149).
Sendo assim, o conceito de minoria social diz respeito a grupos marginalizados
dentro de uma sociedade. Na maioria das vezes, são compostos por um número elevado de
pessoas, mas que são excluídos por questões relativas à classe social, ao porte de necessidades
especiais, à orientação sexual, à origem étnica, ao gênero, dentre outros motivos.
No Brasil, pode-se citar como exemplos de minorias mais conhecidas as populações
indígenas, LGBTQIA+, de mulheres, negros e de deficientes.
Com a finalidade de defender, assegurar e prestar assistência, principalmente aos
mais necessitados de justiça, o Ministério Público tem se feito presente na constituição de um
comportamento participativo e reivindicatório da sociedade. É extensa a atuação do MP na
defesa dos direitos das minorias, visto que esta instituição se orienta pelo preceito constitucional
que estabelece a pluralidade de etnias e culturas do Estado brasileiro. (BRASIL, 1988).
A lei não deve ser fonte de privilégios ou perseguições, mas instrumento regulador da
vida social que necessita tratar equitativamente todos os cidadãos. Este é o conteúdo
político-ideológico absorvido pelo princípio da isonomia e juridicizado pelos textos
constitucionais em geral, ou de todo modo assimilado pelos sistemas normativos
vigentes (MELLO, 2006, p. 10).
Tal argumento é fundado em uma interpretação literal e equívoca do que seria a
igualdade visada pelo ordenamento. O sentido em que o termo igualdade foi empregado adequa-
se à palavra “equidade”, tratando-se de como a lei conseguirá proporcionar oportunidades
iguais a pessoas com realidades diferentes. A proposta desse princípio é finalística, de trazer a
materialização do direito na sociedade e, portanto, não deve ser o meio de realização do direito
igual para todos, mas sim o seu resultado.
Discriminação positiva é o termo que caracteriza o tratamento diferenciado das
pessoas num mesmo contexto sem configurar o privilégio, mas nivelando a situação de cidadãos
em situações fáticas distintas. É a expressão da máxima aristotélica de tratar igualmente os
iguais e desigualmente os desiguais. Assim sendo, conclui-se que a discriminação positiva
acontece quando o Estado intervém no coletivo com o objetivo de proporcionar igualdade
material nas relações sociais.
No findar de sua obra, “Conteúdo jurídico de princípio da igualdade”, Celso de
Mello oferece um quadro sinótico que possui as hipóteses em que a discriminação positiva é
vedada:
Há ofensa ao preceito constitucional da isonomia quando:
I – A norma singulariza atual e definitivamente um destinatário determinado, ao invés
de abranger uma categoria de pessoas, ou uma pessoa futura e indeterminada.
II – A norma adota como critério discriminador, para fins de diferenciação de regimes,
elemento não residente nos fatos, situações ou pessoas por tal modo desequiparadas.
É o que ocorre quando pretende tomar o fator “tempo” – que não descansa no objeto
– como critério diferencial.
III – A norma atribui tratamentos jurídicos diferentes em atenção a fator de discrímen
adotado que, entretanto, não guarda relação de pertinência lógica com a disparidade
de regimes outorgados.
IV – A norma supõe relação de pertinência lógica existente em abstrato, mas o
discrímen estabelecido conduz a efeitos contrapostos ou de qualquer modo
dissonantes dos interesses prestigiados constitucionalmente.
V – A interpretação da norma extrai dela distinções, discrimens, desequiparações que
não foram professadamente assumidos por ela de modo claro, ainda que por via
implícita. (MELLO, 2006, p. 47 – 48).
As discriminações positivas, conforme expõe Wasserman em seu artigo no portal
do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, são oriundas de modelos norte-americanos. Trata-
se de uma maneira institucionalizada de utilização política ou jurídica, quando de iniciativa do
poder público, de meios que concedam artifícios a um determinado grupo de indivíduos em
potencial desigualdade na sociedade.
É importante notar que o Estado deverá valer-se de respaldo jurídico para a
implementação de políticas ou ações públicas afirmativas, que serão anteriormente previstas na
legislação. Dessa forma, os três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) deverão atuar de
forma conjunta para o estabelecimento da discriminação positiva no Estado Democrático de
Direito.
Conforme mencionado, a influência estrangeira no Brasil trouxe certos benefícios
e avanços sociais, ainda que tardios. Estados Unidos e Índia são exemplos de países que
enfrentaram a questão relacionada à discriminação racial de maneira destacada. O
desenvolvimento do pensamento social, amadurecimento do governo democrático e os
movimentos globais em torno da erradicação das desigualdades sociais moldaram as ações
afirmativas naqueles países. Não só naqueles, mas também o Brasil sofreu influência a respeito
da questão de discriminação racial.
Nessa tônica, o ordenamento jurídico brasileiro absorveu a Convenção
Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, promulgado sob
o Decreto n° 65.810/69, no qual é possível perceber o comprometimento do Estado brasileiro
no sentido de adotar medidas que visem a eliminação de qualquer forma de discriminação
racial. Este Decreto tem importância para o tema exposto por ser historicamente o embrião da
chamada discriminação positiva amparada pelo ordenamento jurídico. É notório que o Estado
deveria agir e garantir a eficácia vertical da igualdade formal visada na referida Convenção.
O Estado brasileiro deveria então, através dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, tornar efetiva a eliminação da discriminação racial. Entretanto, somente com o
advento da Constituição Cidadã é perceptível a positivação da proteção a diversas minorias
sociais. Os sujeitos de direitos são agora nomeados e há uma progressiva materialização judicial
no sentido de garantir às minorias o direito de igualdade material, conforme dispôs a
Constituinte.
Fernando Trindade, quando Consultor Legislativo no Senado Federal, publicou por
aquela Casa um documento intitulado “A Constitucionalidade da Discriminação Positiva”, cuja
data é de 29 de junho de 1998, aproximadamente uma década após a promulgação da CF/88.
Os apontamentos e afirmações em defesa das chamadas discriminações positivas elucidam de
maneira sucinta a não vedação, contrariamente, o favorecimento de ações afirmativas no Estado
brasileiro.
O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou improcedente a ADPF n°186 movida
pelo Partido Democratas contra a Universidade de Brasília para discutir a inconstitucionalidade
do sistema de ingresso na Universidade através de cotas raciais. Os impetrantes argumentaram
justamente o que fora combatido no início deste trabalho, a ofensa ao princípio da igualdade,
conforme consta no art.5º, I da CF/88. O STF entendeu de maneira a corroborar com a ação
afirmativa promovida pela UnB, exaltando-a como uma das primeiras universidades Federais
a instituir uma modalidade de ingresso que permita a pluralidade de estudantes. Ainda fornece
o relator uma retrospectiva dos eventos que marcaram avanços, retrocessos e questões ainda
irresolutas na seara dessa discussão.
Outra importante manifestação na Suprema Corte foi o voto do Ministro Celso de
Mello na ADC n° 41/DF, cuja questão seria declarar a constitucionalidade da Lei 12.990/2014
que previa reserva de vagas em concursos públicos destinadas a candidatos negros. O Ministro
Alexandre de Moraes (MORAES, p. 42-43) comenta o assunto:
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso
às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das
manifestações culturais.
Parágrafo 1º: O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas
e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório
nacional. […]
Art. 216: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à
identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira (BRASIL, 1988).
Os artigos acima, além de outras garantias previstas no art. 5º da CRFB/88, formam
o sistema constitucional que tutela os interesses das minorias. Contudo, não é somente a
Constituição que visa a proteção das minorias, outros diplomas infraconstitucionais
complementam a defesa destes interesses transindividuais, como a Ação Civil Pública, prevista
no ordenamento jurídico brasileiro pela Lei nº 7.347/1985, que é um tipo especial de ação
jurídica com a finalidade de proteger os direitos difusos e coletivos seja por iniciativa do Estado
ou de associações que possuam finalidades específicas. A referida lei representou um grande
avanço na tutela dos direitos transindividuais, sendo um marco na evolução legislativa sobre a
tutela coletiva.
Integram ainda o sistema infraconstitucional que tutela os interesses
transindividuais e proteção das minorias as leis: 2.889/1956 (que busca prevenir o genocídio);
a lei 7.716/1989 (que estabelece punição aos crimes de discriminação por cor, religião, etnia,
raça, ou procedência nacional); lei 12.990/2014 (versa sobre as ações afirmativas); lei
7.797/1989 (criação do fundo nacional do meio ambiente); lei 7.913/1989 (proteção aos
titulares de valores mobiliários e aos investidores do mercado); lei 8.069/1990 (Estatuto da
Criança e do Adolescente); lei 6.001/1973 (dispõe sobre o Estatuto do Índio); lei 7.853/1989
(proteção às pessoas portadoras de deficiências físicas); lei 10.741/2003 (dispõe sobre o
Estatuto do Idoso), dentre outras muitas, que formam um sofisticado microssistema dos Direitos
Difusos e Coletivos.
Dessa forma é possível observar que o sistema legislativo de defesa dos interesses
transindividuais, principalmente no que se refere à proteção das minorias, teve um grande
avanço a partir da sanção da lei da Ação Civil Pública, quando passou por uma rápida evolução,
sendo outro grande marco o CDC, além da recente criação de vários diplomas como o Estatuto
da Criança e do Adolescente, Estatuto do Idoso e Lei Maria da Penha. Acontece que, em sua
grande maioria, as leis que visam à proteção das minorias são resultado de acontecimentos
negativamente impactantes a tais grupos, se tornando meios relativamente eficazes de proteção,
porém, após alguma situação de violação dessas minorias. Desse modo, para uma eficaz
proteção às minorias o Estado deve buscar legislar de forma a prever as possibilidades
impactantes negativamente a elas, devendo buscar uma prevenção eficaz para as lesões às
minorias, a fim de adaptar a regra a realidade social e não o contrário, somente assim será
possível fazer com as minorias deixem de ser grupos sociais em situação de vulnerabilidade,
passando a integrar de modo equipolente a sociedade, deixando de se tornar minorias, mas
conservando todas as suas características sociais e culturais.
Além das legislações supramencionadas, é necessária a existência de órgãos e
entidades do Poder Público que atuem na aplicabilidade dos instrumentos criados pelo
legislador com o escopo de garantir a alteração desse cenário de desigualdade. Nesse viés, tanto
a Defensoria Pública quanto o Ministério Público possuem atuação positiva essencial à proteção
dos interesses transindividuais ligados às minorias. Neste estudo, abordar-se-á a atuação do
Parquet e seus instrumentos judiciais e extrajudiciais utilizados na prática.
Conforme dispõe a Constituição de 1988 em seu art. 127, “o Ministério Público é
instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”.
Assim, no que diz respeito à proteção dos interesses difusos e coletivos, o Parquet possui
atuação essencial na defesa destes, além de ser uma de suas funções institucionais elencadas
pelo texto constitucional.
Os principais instrumentos utilizados para a efetivação da defesa dos interesses
transindividuais são o inquérito civil e a ação civil pública. Por meio destes, é possível que a
tutela abranja maior grupo de pessoas com as mesmas necessidades e, assim, seja possível a
ampliação do acesso à justiça, conforme a segunda onda renovatória proposta por Cappelletti e
Garth (1988), baseando-se na celeridade processual e redução de custas processuais. Tais
instrumentos são mencionados no art. 129 da CRFB/88 e, conforme exposição anterior, trata-
se meios de atuação judicial do Ministério Público.
Com relação às minorias, a própria legislação brasileira se encarregou de atribuir
funções ao Ministério Público como forma de responsabilizá-lo pelas crianças e adolescentes,
idosos, mulheres, consumidores e outras minorias como índios, quilombolas e população
LGBTQIA+. Isso significa dizer que a tradicional função acusatória do Parquet é deixada de
lado a partir do momento em que este funciona como um órgão responsável pela defesa das
minorias através de instrumentos judiciais e extrajudiciais, garantindo uma expansividade de
sua atuação, conforme depoimentos dos promotores Mário Higuchi e Paulo César Vicente de
Lima:
Com relação especificamente a atuação judicial, a atuação do Ministério Público
Federal em todas as regiões do País, é amplamente diversificada com relação a
temática: No tocante, aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais dos povos
indígenas por exemplo, há Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público
Federal do Acre requerendo a devolução do material acessado pertencente 33 a
comunidade Ashanika e o cancelamento das patentes obtidas por este irregular acesso.
[...] Existem outros exemplos relacionados às comunidades quilombolas, como no
caso da Ilha de Marajó no estado do Para, onde uma área está em processo de
conhecimento da comunidade quilombola Jumbuaçu (CONCEIÇÃO, 2011).
Percebe-se, portanto, que as atuações do referido órgão são em defesa de interesses
sociais e são uma forma de inclusão dessas minorias através da desconstrução de preconceitos
existentes. Alguns dos instrumentos utilizados para tanto pelo Parquet são: ação civil pública,
instrumento judicial já abordado este estudo, o inquérito civil e o termo de ajustamento de
conduta, sendo os dois últimos meios extrajudiciais.
Em se tratando do inquérito civil, Sousa (2014, p. 23) diz que:
Com relação ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), Sousa (2014, p. 55) diz
que se trata de
[...] uma inovação trazida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8069/90,
através de seu artigo 211 (“os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos
interessados compromisso de ajustamento de conduta às exigências legais...”).
Naquele mesmo ano, o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8078) acrescentou o
parágrafo 6º à Lei da Ação Civil Pública (Lei 7347/85), expandindo de vez a utilização
de tão importante instrumento de operosidade das demandas coletivas.
Esse termo é uma obrigação unilateral em que o interessado assume a
responsabilidade de ajustar a sua conduta à previsão legal, demonstrando a consensualidade
deste instrumento, as partes assinam um documento perante o Promotor de Justiça e se
comprometem a solucionar o problema sem a necessidade de homologação judicial. Além
disso, pode ser uma forma de prevenção de novos conflitos e dada a funcionalidade do TAC,
pode ser tomado tanto pelo Ministério Público quanto pela Defensoria Pública, União, Estados-
membros, Municípios, Distrito Federal, autarquias e fundações públicas (COSTA, 2014).
Os instrumentos mencionados são umas das possibilidades de atuação do Parquet
na defesa de direitos difusos e coletivos, no que se refere especificamente às minorias, é
necessária que seja feita uma abordagem específica em cada caso visando o suprimento das
necessidades pontuais de cada grupo. Isso demonstra a relevância social que este órgão
democrático possui na construção de uma sociedade mais justa.
O Ministério Público pode desempenhar o papel através de políticas que visam à
conscientização da sociedade e das classes consideradas minoritárias. Uma das
maneiras mencionadas seria a utilização da mídia para buscar o complemento da
sociedade na luta contra a discriminação. No processo de mobilização social, o
Ministério Público, por intermédio de seus representantes, deve estabelecer alianças
com a sociedade civil e, desta maneira, identificar os problemas a serem enfrentados
por meio da formulação de políticas públicas (COCEIÇÃO, 2011, p. 38).
8 ENTREVISTAS
Primeira entrevista
Na sequência será realizada uma transcrição não literal da entrevista realizada com
Mário Konichi Higuchi Júnior, promotor de justiça em Belo Horizonte/MG. O promotor Mario
possui 21 anos de carreira e hoje em dia atua na promotoria de direitos humanos, na subárea
específica da defesa das minorias. É formado em Direito pela UFMG, possui especialização em
Direito Público pela PUC Minas e em Inteligência de Estado pela FMP - Fundação Escola
Superior do Ministério Público de Minas Gerais. A entrevista foi realizada por meio de uma
videoconferência via Google Meet, que ocorreu no dia 26/06/2020 às 16 horas.
2. Qual a sua área de atuação com relação à defesa das minorias? Quais as principais
situações que demandam a tutela do MP nessa área?
A promotoria de direitos humanos se divide em 4 áreas de atuação diferentes, com
5 promotores, a área de atuação do promotor Mário é a defesa de minorias, sendo elas, as
minorias étnicas, sexuais, pessoas em situação de rua e trabalhadores informais.
Na questão racial, o racismo é frequente; as ofensas à população LGBTQ+
despertam tutela frequente, principalmente após a decisão proferida na ADO 26 do supremo
em que as condutas de homofobia e transfobia foram criminalizadas. A população em situação
de rua foi bastante afetada nesse momento de pandemia, a promotoria de direitos humanos
realizou várias recomendações ao poder público de BH, de modo que o promotor buscou não
entrar com uma ação civil pública e sim realizar uma recomendação direta ao prefeito de BH e
foi o suficiente para que o município criasse um plano de ação emergencial para a população
em situação de rua, ademais, o promotor também realizou outra recomendação a respeito do
fornecimento de cestas básicas para os catadores de materiais recicláveis. O promotor Mário
considera que é um facilitador o fato da promotoria ter um bom relacionamento com esses
agentes públicos municipais.
Esse tipo de atuação resolutiva e consensual é muito mais célere e traz resultados
práticos e concretos de uma forma efetiva e rápida. Se levarmos em consideração que uma ação
civil pública em BH leva entre 7 e 10 anos para encontrar uma conclusão, percebe-se que os
instrumentos de atuação extrajudicial têm uma efetividade muito maior e uma concretização
dos direitos de maneira mais rápida, e por isso, o promotor Mário prima pela atuação por meio
de instrumentos extrajudiciais.
3. Quais as suas experiências práticas com a tutela desses interesses no âmbito social?
Atualmente, em BH, existe um local que foi construído para eventos, onde várias
festas e shows eram realizados, porém devido a pandemia ele não pode ser utilizado, esse
espaço foi cedido para organizações da sociedade civil (destaque para a pastoral nacional da
população em situação de rua com o apoio do banco Itaú). Lá foi criado um grande espaço de
atuação em prol da população em situação de rua durante o período de pandemia. Existe uma
área específica para higienização dessas pessoas, outra área para a alimentação, outra para
cuidados com os animais dessas pessoas, área específica para saúde e de alojamento para cerca
de 75 moradores em situação de rua, além de áreas específicas para registro civil e assistência
social. Nesse espaço, o Ministério Público se faz presente, diariamente, promotores de justiça
e servidores do MP voluntários participam efetivamente dessa campanha em prol do
atendimento das necessidades dessa população vulnerável. Esse exemplo fático ilustra bem o
viés de agente político e de concretizador de direitos sociais inerente ao Ministério Público.
Segunda entrevista
Na sequência será realizada uma transcrição não literal da entrevista realizada com
Paulo César Vicente de Lima, promotor de Justiça de defesa do meio ambiente em Montes
Claros, com atribuição na área de meio ambiente natural, habitação e urbanismo, patrimônio
histórico cultural e de conflitos agrários. O promotor foi coordenador da promotoria de inclusão
e mobilização social. Graduado em direito pela UFJF, especialista em Direito Público pela PUC
Minas e mestre em Desenvolvimento Social pela UNIMONTES. A entrevista foi realizada por
meio de uma videoconferência via Google Meet, que ocorreu no dia 29/06/2020 às 17 horas.
2. Quais as suas experiências práticas com a tutela desses interesses no âmbito social
através dos projetos sociais?
Resposta: Existem diversos projetos sendo desenvolvidos em Montes Claros. Um dos exemplos
que posso citar é o Fórum municipal Lixo e Cidadania, que foi criado e é fomentado pelo
Ministério Público de Montes Claros. Nesse fórum existem representantes da prefeitura, das
universidades, da sociedade civil e dos catadores de materiais recicláveis. O objetivo principal
do Fórum é a implementação da coleta seletiva em Montes Claros. O promotor nos relata que
caso a via escolhida fosse o ajuizamento de uma ação para forçar a prefeitura a implementar a
coleta seletiva poderia chegar a levar 10 anos, enquanto através desse projeto o diálogo já esta
estabelecido há dois anos e as forças sociais vêm trabalhando em conjunto para conseguir
atingir o objetivo.
A presença do MP nessas situações é extremamente relevante, pois garante a
sociedade que o projeto está sendo desenvolvido e acompanhado, o MP atua como um fiscal,
utiliza seu poder e respaldo, atuando como um “catalizador” dos projetos, já que não possui um
orçamento próprio para desenvolver esses projetos. Ademais, a promoção dessa articulação
coletiva é uma das bases para o desenvolvimento de projetos sociais.
Hoje o Fórum Lixo e Cidadania possui um espaço físico, já são dois galpões de
coleta seletiva em Montes Claros. Um deles é o galpão da associação amor e vida na Avenida
Ovídio de Abreu e o outro próximo a saída para o município de Pirapora, que é o galpão da
associação de catadores Montesul.
Outro exemplo de atuação do MP de Montes Claros, é o trabalho em prol das
pessoas em situação de rua, destaca-se que essa não era uma atribuição do promotor Paulo
César, no entanto ele atuou e cooperou nesse setor por um ano em meio. Foi criado um comitê
(Comitê municipal de monitoramento das políticas para população em situação de rua)
integrado também por representantes da administração pública e da sociedade civil, que se
reúne de tempos em tempos para tratar e monitorar as políticas direcionadas as pessoas em
situação de rua em Montes Claros.
Outro projeto desenvolvido ocorre em São João da Lagoa, na comunidade do
alegre, que é tipicamente quilombola. No entanto, antes da atuação do MP, a comunidade não
se reconhecia como quilombola, já que eles não sabiam o significado do termo. O promotor
Paulo César contribui também em Coração de Jesus, certa vez uma assistente social local
relatou a situação precária em que a comunidade do alegre se encontrava. Então, o apoio da
coordenadoria de inclusão e mobilização social foi solicitado e um dos antropólogos que fazem
parte da equipe foi até o local e observou que a comunidade possuía todas as características do
grupo quilombola, ele também considerou que essa era a comunidade quilombola mais
vulnerável de Minas Gerais.
Era dever do Ministério Público Estadual garantir que essa comunidade tivesse
acesso aos direitos constitucionais, como alimentação, moradia e transporte, saneamento básico
e educação. Porém, destaca-se que a questão territorial era de competência do Ministério
Público Federal.
Desenvolveu-se então o projeto “Próximo passo” na comunidade do alegre.
Primeiramente, representantes da comunidade foram chamados à promotoria para que o
Ministério Público fosse apresentado para eles e então eles foram questionados se gostariam de
receber o apoio do MP e então com a anuência deles o projeto foi construído.
Representantes do município, da UNIMONTES, do Centro de referência dos
direitos humanos, da secretaria estadual de educação e outros membros da sociedade civil
dialogaram em conjunto com o MP na elaboração do projeto, estabelecendo metas e distribuição
de funções e responsabilidades. Hoje em dia, a comunidade se articulou e já se auto
reconheceram como quilombolas e conseguiram a certificação da fundação palmares através
dos documentos que a equipe técnica do MP preparou.
Ademais, o poder judiciário da comarca foi sensibilizado quanto à questão, o
município já construiu três casas para a comunidade, a energia elétrica foi levada até o local, as
estradas estão sendo melhoradas, foi realizada a construções de barragens pequenas para o
abastecimento de água na comunidade e essa semana o promotor recebeu o laudo antropológico
da comunidade que foi elaborado pela UNIMONTES. Esse laudo contempla a história e o
sofrimento dos antepassados da comunidade. Pode-se destacar que nessa situação o MP usou o
seu poder, o seu capital social, para fomentar a organização da comunidade.
Por fim, outro exemplo foi o projeto “Plantando Água” desenvolvido pelo MP com
a ajuda da UNIMONTES, para tentar resolver um problema do povo indígena Xakriabá, eles
tinham um problema de água e precisavam revitalizara algumas nascentes. Através de uma
medida compensatória de um PAC conseguiram construir algumas barragens pequenas para os
Xakriabás.
Terceira entrevista
Na sequência será realizada uma transcrição não literal da entrevista realizada com o
Guilherme Roedel Fernandez Silva, promotor de justiça em Montes Claros. Ele é Especialista
em Inteligência de Estado e Inteligência de Segurança Pública pelo Centro Universitário
Newton Paiva/Fundação Escola do Ministério Público de Minas Gerais – FESMP e Professor
efetivo de Processo Penal na UNIMONTES. Sua área de atuação como promotor é focada
principalmente na defesa dos direitos das mulheres. A entrevista foi realizada por Whatsapp no
dia 01/07/2020 às 9h30min.
2. Quais as suas experiências práticas com a tutela desses interesses no âmbito social?
As atribuições do promotor Guilherme envolvem principalmente os processos em
que ocorreram crimes no contexto de violência doméstica/familiar contra a mulher. No entanto,
ele diz que essa atuação restrita ao gabinete e aos processos criminais é insuficiente para
garantir uma mudança de compreensão da sociedade quanto ao papel do homem e da mulher
no seio social, de maneira que ele tem desenvolvido audiências públicas; palestras em escolas,
inclusive com a participação da comunidade acadêmica da UNIMONTES.
Semestre passado o promotor Guilherme, que também é professor do curso de
Direito da UNIMONES, desenvolveu um projeto com alunos da instituição que levou a
realização de mais de 30 palestras, que ocorreram em quase todas as escolas do município de
Montes Claros. As palestras foram ministradas para alunos já no final do ensino fundamental.
Ademais, participaram ativamente de audiências públicas sobre o tema. Tal atuação possui um
grande alcance na comunidade e tem um caráter preventivo.
O MP tem atuado em apoio à construção de uma rede de serviços de enfretamento
e prevenção à violência doméstica, que visa ampliar e facilitar a comunicação entre os
diferentes serviços públicos já existentes no município, mas que por deficiência de
comunicação acabam por não desempenhar o seu trabalho de maneira mais eficiente. Possuímos
em Montes Claros o Hospital Universitário, que é referência no atendimento a vítimas de
violência sexual, possuímos também uma delegacia especializada no atendimento de caso de
violência contra as mulheres, além de um centro de referência em assistência social e diversas
universidades e escolas que podem entregar essa rede de serviços.
A ideia do MP é justamente articular esses serviços públicos juntos com órgãos da
sociedade civil, de maneira a levar mais informação e suporte as mulheres. Dessa forma, busca-
se também que as mulheres sejam devidamente encaminhadas para os serviços que elas
necessitam quando se encontram diante de uma situação de violência.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, fica evidente que o Ministério Público tem como uma de suas
finalidades, defender, assegurar e prestar assistência à sociedade, principalmente no que pese
aos mais necessitados de justiça. É extensa a atuação desse órgão frente a sociedade na defesa
dos direitos das minorias sociais.
Conforme apresentado, as minorias sociais não dizem respeito necessariamente aos
grupos de menor quantidade de indivíduos, mas àqueles grupos marginalizados, discriminados
e mais vulneráveis presentes dentro de uma sociedade, em decorrência de sua classe social, sua
orientação sexual, sua origem étnica, entre outros motivos. Assim sendo, podem ser
classificadas como essas minorias: as mulheres, os índios, os quilombolas, as pessoas em
situação de rua, dentre outros grupos.
É imprescindível também o reconhecimento da discriminação positiva para o ideal
tratamento dessas diferenças, visto que se trata da maneira eficaz pela qual o Estado pode
interferir no coletivo proporcionando igualdade material nas relações sociais. Visando eliminar
todas as formas de discriminação desses grupos, a implementação de políticas e ações
afirmativas, com fulcro na discriminação positiva, se fazem necessárias, buscando nivelar a
situação das pessoas que se encontram em circunstâncias distintas.
A função do Ministério Público frente as minorias se constitui com a defesa de
interesses transindividuais para essa parcela da população, buscando assim, a tutela desses
direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Para a efetivação desses interesses,
apresentam-se principalmente o inquérito civil e a ação civil pública, instrumentos que
possibilitam o maior alcance da tutela às pessoas com semelhante necessidade, além de
proporcionar a celeridade processual e a redução de custas processuais.
Nesse viés, após realizadas as entrevistas aos Promotores de Justiça Mário Konichi
Higuchi, atuante em Belo Horizonte, e Paulo César Vicente de Lima, agente em Montes Claros,
constatamos que ambos descrevem do mesmo modo a atual situação do Ministério Público,
reconhecendo a primazia pela atuação resolutiva de conflitos. Conforme eles, existem outros
meios de fazer justiça e promover os direitos transindividuais das minorias além da atuação
judicial e extrajudicial do Ministério Público.
De acordo com o que foi apresentado, os meios tradicionais de atuação não têm
sido suficientes para a efetiva satisfação dos direitos transindividuais no que tange às minorias.
Essa metodologia é morosa e muitas vezes não acompanha a urgência da necessidade do grupo
representado, resultados concretos precisam ser alcançados e para isso é imprescindível a
atuação resolutiva e consensual, pautada no desempenho extrajudicial e buscando a
judicialização apenas de maneira excepcional.
Esse novo método de operação do Ministério Público é muito mais célere e
consegue atender à necessidade urgente das pessoas que o carecem. Tal comportamento
extrajudicial é fundado no diálogo, nas recomendações feitas pelos promotores, no apoio das
parceiras feitas pelo órgão público, nas visitas realizadas pelos próprios promotores
demonstrando a proximidade do órgão com a luta pelos interesses difusos, na elaboração de
políticas sociais, entre outras ações práticas realizadas nesse âmbito externo. Porém, se apesar
das sugestões e tentativas de resolução do conflito no âmbito consensual e extrajudicial, os
resultados não forem alcançados, a judicialização deve ser utilizada como garantia dos direitos
ali questionados.
Assim como, no que pese à discriminação positiva, o promotor Mário Konichi,
ressaltou sua importância e necessidade de realização por meio de políticas públicas, atuando o
Ministério Público como fiscal e realizando o acompanhamento das mesmas. E conforme
acrescentado pelo promotor Paulo César, uma novidade na atuação em Montes Claros, se deve
mediante parceria com a UNIMONTES, consistente na atuação do Ministério Público em
projetos sociais, visando mitigar as desigualdades tão presentes no norte de Minas Gerais.
É essencial destacar que as medidas judiciais para a efetivação dos direitos e
interesses transindividuais são eficazes, sendo o resultado de um progresso e garantindo um
acesso amplo e considerável à justiça para os grupos de minorias sociais que antes desse
instituto não tinham para onde recorrer. Entretanto, ainda são necessárias mudanças e
modernizações no modo de tutela desses interesses, que são demasiado lentos em detrimento
do sistema judiciário superlotado.
Nesse viés, o Ministério Público tem agido em observância ao princípio
fundamental da igualdade como preceito norteador das ações afirmativas, identificando as
necessidades das camadas menos favorecidas e caracterizando as ações afirmativas dentro deste
contexto, seja através de políticas públicas ou da atuação direta nas demandas processuais. Com
fulcro no art. 1º da CF, os fundamentos do Estado Democrático de Direito devem ser
pretendidos, acima da burocratização e do tratamento verticalizado entre o necessitado e o seu
representante.
10 REFERÊNCIAS
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