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O Grupo Operativo
como Instrumento
Terapêutico-Pedagógico
de Promoção à Saúde
Mental no Trabalho

Operative Group as a Therapeutic–Pedagogical


Instrument for Promoting Mental Health at Work

El Grupo Operativo como Herramienta Terapéutico-Pedagógica


para Promover la Salud Mental en el Trabajo

Wagner Honorato Dutra


Centro Universitário de
Belo Horizonte

Rosa Maria Corrêa


Universidade Católica
de Minas Gerais

http://dx.doi.org/10.1590/1982-370302512013
Artigo

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2015, 35(2), 515-527


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Resumo: O presente texto é uma síntese das experiências profissionais vivenciadas junto a
um grupo operativo constituído por cuidadores do Programa Maior Cuidado, da Prefeitura
Municipal de Belo Horizonte. Apresenta as análises das condições de trabalho enfrentadas
por estes profissionais e sua participação na gênese e desenvolvimento de fenômenos
psicopatológicos. Esta empreitada permitiu a sistematização de alguns fatores envolvidos
na psicodinâmica do adoecimento do trabalhador-cuidador, as possibilidades de superação
e as limitações inerentes ao processo. Fundamentou-se em algumas noções de Grupo
Operativo de Pichon-Rivière e nas pesquisas em Psicodinâmica do trabalho desenvolvidas
por Christophe Dejours.
Palavras-chave: Saúde Mental. Condições de Trabalho. Promoção da Saúde.

Abstract: The present study analyzes the professional experiences of an operative group
composed of caregivers of the Greater Care Program of the City of Belo Horizonte. It presents
analyses of the working conditions encountered by these professionals and their participation
in the genesis and development of psychopathological phenomena. This contract allowed the
systematization of some factors involved in the psychodynamics of illness of the worker or
caregiver, the opportunities for overcoming this, and the limitations inherent in the process.
It was based on notions of the Operative Group of Pichon–Riviere and research in the
psychodynamics of work developed by Christophe Dejours.
Keywords: Mental Health. Working Conditions. Health Promotion.

Resumen: El presente texto es una síntesis de las experiencias profesionales vividas junto a un
grupo operativo constituido por los cuidadores del Programa Cuidado Mayor de la Prefectura
Municipal de Belo Horizonte. El texto presenta el análisis de las condiciones de trabajo
enfrentadas por estos profesionales y su participación en la génesis y desenvolvimiento de
fenómenos psicopatológicos. Esta vivencia permitió una sistematización de algunos factores
envueltos en la psicodinámica del padecimiento del trabajador-cuidador, las posibilidades
de superación y las limitaciones inherentes al proceso. Asimismo, este trabajo se encuentra
ancorado en algunas concepciones del Grupo Operativo de Pichón-Rivière y en las pesquisas
del trabajo desarrolladas por Christophe Dejours con psicodinámica.
Palabras clave: Salud Mental. Condiciones de Trabajo. La Promoción de la Salud.

Introdução Segundo Paulino (2011), essas contingên-


cias interferem diretamente na vida do
cuidador familiar, que tem que se adaptar
O Brasil vem passando por mudanças demo-
às mudanças repentinas nas dimensões
gráficas e epidemiológicas que evidenciam o
social, relacional, econômica e emocional.
aumento das doenças ligadas ao processo de
Neste novo ambiente, o cuidador torna-se
envelhecimento populacional. Os fenômenos
suscetível ao estresse e ao adoecimento. No
ligados a esta problemática são variados e caso dos cuidadores familiares de portadores
dentre eles destacam-se o declínio e/ou per- de Alzheimer, por exemplo, “os níveis de
das cognitivas, os acidentes e o isolamento estresse, depressão, morbidade e mortalidade
social. Tais alterações contribuem para o chegam a ser ainda mais elevados do que
surgimento da dependência funcional nos na população que cuida de familiares com
idosos incidindo diretamente em seus desem- outras doenças crônicas ou qualquer tipo
penhos nas atividades da vida diária. Isto de dificuldade física” (Paulino, 2011, p.
significa que, nestas condições, o idoso tende 390). Nesse contexto, o papel do cuidador
a depender de seus familiares que passam profissional torna-se oportuno, na medida em
a ocupar tarefas que, muitas vezes, não se que pode oferecer apoio especializado para
sentem preparados para executá-las. as atividades de cuidado cotidiano.

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O suporte dado aos idosos frágeis e aos psicólogo do NASF e uma coordenadora do
seus familiares representa um desafio para projeto vinculada ao CRAS de determinada
o sistema de saúde brasileiro e tem suscitado região de Belo Horizonte.
estudos variados. Trata-se de um fenômeno
que demanda reordenamento da atenção
política, na medida em que traz implica-
As origens de uma demanda
ções econômicas, previdenciárias, sociais e
“Em vão sofrera o operário
assistenciais. Motivada por estas questões, a
Prefeitura de Belo Horizonte criou em 2009 Sua primeira agressão
o Programa Maior Cuidado, que promove
ações de proteção e segurança para a pessoa Muitas outras seguiram
idosa. O Projeto Cuidador de Idosos é uma
das ações deste Programa e consiste no Muitas outras seguirão.
acompanhamento domiciliar da rotina de
idosos semidependentes e dependentes em Porém, por imprescindível
situação de vulnerabilidade social. Trata-se
Ao edifício em construção
de contextos familiares marcados pela fra-
gilização dos vínculos familiares e sociais e
Seu trabalho prosseguia
pela ausência de acesso às possibilidades de
inserção e habilitação social e comunitária. O E todo seu sofrimento
Projeto Cuidador é coordenado pela Secreta-
ria Municipal de Assistência Social (SMAAS), Misturava-se ao cimento
com a cogestão da Secretaria Municipal de
Saúde e é monitorado em nível local pelos Da construção que crescia.”
Centros de Referência da Assistência Social (Moraes, 1982, p. 51).
(CRAS). Consiste numa iniciativa de caráter
intersetorial pioneira no país e por isso seus Os cuidadores de idosos frágeis enfrentam
operadores estão sujeitos aos desafios ine- situações adversas no trabalho que por sua
rentes a uma práxis em construção. natureza, frequência e complexidade, exigem
grande envolvimento emocional e cognitivo.
Este artigo é uma síntese das experiências Os estressores inerentes à atividade do cuida-
construídas em conjunto com um grupo dor podem se intensificar de acordo com o
de profissionais cuidadores. Tenta respon- contexto social e familiar no qual o idoso está
der a uma parcela dos questionamentos inserido, além de suas limitações e patologias
emergentes no cotidiano desta política em (doenças crônicas, neurodegenerativas, trans-
movimento e colaborar com a consolidação tornos psiquiátricos…), recursos econômicos
de seus pressupostos. e sociais de apoio e sua dinâmica familiar.
No cotidiano de trabalho, estes elementos se
O grupo operativo objeto deste estudo iniciou- mesclam e se apresentam como problemas
se em dezembro de 2011 e caracteriza-se por de difícil manejo, já que sua resolutividade,
ser uma intervenção permanente de promoção geralmente, depende da confluência de ações
à saúde. Sua concepção foi instigada pelas intersetoriais (Serviços de Saúde, Assistência
questões emergentes da prática dos cuidadores Social, etc.).
do Programa Maior Cuidado da Prefeitura
Municipal de Belo Horizonte. Consiste numa Conflitos éticos e psicológicos são comuns
iniciativa de promoção e educação em saúde em situações que exigem do agente uma
que articula setores da saúde (Núcleo de ação para a qual ele não tem os recursos
Apoio à Saúde da família/NASF e Equipes de psicológicos, técnicos e/ou materiais para sua
Saúde da Família/ESF) e da Assistência Social execução. Isto significa que os cuidadores
(Centro de Referência da Assistência Social/ estão sujeitos a experimentarem sentimentos
CRAS). Os encontros acontecem mensalmente de insatisfação, impotência e ficarem vulne-
com a participação de cinco cuidadores, um ráveis à psicopatologia do trabalho.

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De acordo com Pichon-Rivière (1983/2009), estratégias que pudessem auxiliar os cuida-


o fator insegurança diante de uma tarefa e dores de idosos frágeis no manejo saudável
a incerteza diante de situações complexas dos efeitos psicopatológicos decorrentes da
são sentimentos que repercutem na saúde prática do cuidado no ambiente de trabalho.
mental dos indivíduos e grupos. A sensação Trata-se de uma experiência marcada pela
de impotência no exercício de determinado construção contínua de recursos psicoedu-
papel cria um baixo limite de tolerância às cacionais de suporte para superação das
frustrações tornando-se um fator extrema- limitações existentes nas rotinas de trabalho
mente patogênico. Tudo isto pode realimentar das pessoas envolvidas.
e desencadear processos psicofísicos que
estão na base de vários transtornos mentais.
Estas vivências de fracassos reiterados tem
Psicodinâmica, saúde mental
grande potencial psicopatogênico e tendem e trabalho
a mobilizar no sujeito defesas reforçadoras
de mecanismos psico-imuno-fisiológicos que Esta intervenção baseia-se em algumas noções
afetam seu estado de saúde global. de Grupo Operativo, especificamente do
tipo aprendizagem, de Pichon-Rivière, e
No modo de produção capitalista, o trabalho é nas pesquisas em Psicodinâmica do Trabalho
frequentemente vivenciado como uma expe- desenvolvidas por Christophe Dejours.
riência alienante. A fragmentação da tarefa
cria para o trabalhador sensações de disper- De Pichon-Rivière (1983/2009) compartilha-
são e anomia que, segundo Pichon-Rivière se a ideia de que a utilização de atividades
(1983/2009, p. 14), “lhe torna impossível de aprendizagem, treinamento e tarefa
manter um vínculo com esse objeto, com atuam como processo terapêutico. As téc-
o qual conserva uma relação fragmentada, nicas empregadas nos encontros com os
transitória e alienada”. profissionais cuidadores consistem em criar,
manter e fomentar a comunicação. Agindo
Portanto, o trabalho constitui-se como impor- desta forma, os integrantes do grupo tendem
tante analisador para o entendimento das con- a ampliar seus repertórios de significação das
sequências dos efeitos de sua organização na questões relativas ao trabalho aliviando-se da
saúde mental das pessoas. Para Dejours (2008), ansiedade básica resultante da tarefa.
a organização do trabalho exerce um papel
imprescindível para abordagem do sofrimento “Um grupo obtém uma adaptação ativa à
psíquico, assim como para a compreensão das realidade quando adquire insight, quando
estratégias desenvolvidas pelos trabalhadores se torna consciente de certos aspectos de
para suportá-las e superá-las. sua estrutura e dinâmica, quando torna ade-
quado seu nível de aspiração a seu status
A organização do trabalho remete aos processos real, determinante de suas possibilidades”
de divisão das tarefas e dos trabalhadores pelo (Pichon-Rivière, 1983/2009, p. 81).
estabelecimento de prescrições e estratégias
de controle. “Tal divisão organiza subjetiva- Pichon-Rivière (1992/2012) sugere que
mente o indivíduo por meio das vivências de investigações sobre situações de tensão no
prazer e sofrimento, e que ajuda ou atrapalha trabalho devem ancorar-se no contexto social
sua mobilização subjetiva, seu engajamento em que as coisas acontecem e considerar
afetivo-emocional no compromisso com o o modo como cada sujeito experiencia à
trabalho.” (Anjos, 2013, p. 270-271). dinâmica grupal a qual pertence. Esta postura
fundamental está condicionada à adoção de
O grupo operativo que é paradigma deste um esquema etiológico da doença mental
relato surgiu como necessidade de elaboração no trabalho que integra aspectos biopsi-
de alternativas intersetoriais para as questões cossociais. As análises da saúde mental no
emergentes na relação cuidador e idoso/ trabalho devem, portanto, privilegiar a estrita
família. Buscou-se, a partir dele, construir vinculação entre indivíduo e sociedade, já

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que pensamentos, valores e ideais são repre- indivíduos – criadoras de atividades, de


sentações particularizadas pelas quais cada saber-fazer e modos operatórios novos.
sujeito atua no meio e é por ele influenciado. Concebe o trabalho como a atividade
manifestada por homens e mulheres
para realizar o que ainda não está
O coordenador de um grupo constituído prescrito pela organização do trabalho
sob estas premissas recorre ao uso de um (Dejours, 2008, p. 77).
esquema referencial e operativo para construir
sua interpretação dos fenômenos grupais, A análise psicodinâmica das situações de
conhecimentos sobre a dinâmica experien- trabalho aponta para uma dimensão espe-
ciada. O grupo operativo torna-se assim cífica do hiato existente entre o prescrito e
um contexto propício para elaboração de o real. Depois de numerosas pesquisas de
intervenções psicoeducativas que aumen- campo, Dejours constatou que a organização
tam a compreensão das perturbações que do trabalho em si é repleta de contradições,
ocasionalmente estancam, numa espécie de na medida em que as leis, regulamentações,
círculo vicioso, as relações dos indivíduos no normas e regras prescritas tornam-se, com
contexto grupal (Pichon-Rivière, 1992/2012). o tempo, inconciliáveis com as exigências
concretas do trabalho. Isto significa que
Dejours (2008) amplia a discussão sobre o embora as prescrições sejam concebidas para
impacto do trabalho na saúde mental do organizar o trabalho, elas podem, às vezes,
trabalhador. Os estudos de Dejours cons- levar à desorganização (Dejours, 2008).
tituem-se numa tentativa de compreensão
das consequências das novas formas de
Vários fatores estão associados aos processos
organização de trabalho na saúde mental
que se desenrolam no contexto de trabalho
das pessoas e das estratégias desenvolvidas
e interferem diretamente em sua dinâmica.
pelos trabalhadores para manejá-las em seu
Dejours e Molinier (2008) destacam aqueles
cotidiano. Ele concebe o trabalho como
que produzem efeitos positivos na saúde men-
experiência privilegiada no desenvolvimento
tal no trabalho. Elencam quatro elementos
humano capaz de promover tanto prazer
intercambiáveis: confiança, cooperação,
quanto adoecimento.
mobilização subjetiva e reconhecimento.

Dejours (2008) elaborou a Psicodinâmica do


A confiança consiste na construção de acor-
Trabalho como recurso metodológico-con-
dos, normas e regras necessárias à execução
ceitual alternativo aos impasses emergentes
do trabalho. Ela é uma atitude imprescindível
1 Dejours denominou Psi- em sua Psicopatologia do Trabalho.1 Operou
para o ordenamento ético e concretização
copatologia do Trabalho uma mudança paradigmática que passou a
da práxis laboral.
um conjunto de pesquisas focar a “normalidade” como ponto central
sobre organização do de investigação e análise. Ao desviar seu
trabalho e seus efeitos na olhar das estratégias de defesa, Dejours A cooperação, por sua vez, representa “a
economia do sofrimento concebeu a “normalidade” como resultado vontade das pessoas de trabalharem juntas e
do trabalhador. Propunha de estratégias intencionais, complexas e de superarem coletivamente as contradições
a análise dos processos que surgem da própria natureza ou da essên-
rigorosas, e não como resultante mecânica
psíquicos (mecanismos cia da organização do trabalho.” (Dejours
coletivos de defesa) mobi- de um somatório de ações e de reações, de
estímulos e respostas. A Psicodinâmica do & Molinier, 2008, p. 80).
lizados pela confrontação
do sujeito com a realidade Trabalho abriu caminho para perspectivas
do trabalho. mais amplas, não restritas a problematização Ghizoni (2013) explica que o conceito de
do sofrimento, mas, também ao prazer no cooperação é fundamental em psicodinâmica
trabalho em função de sua dinâmica interna. do trabalho na medida em que remete ao
De acordo com este autor: desejo coletivo de superação dos impasses
emergentes. Em suas palavras:
A psicodinâmica do trabalho tem por
objeto os processos intersubjetivos A cooperação só se torna efetiva
que tornam possível a gestão social quando os trabalhadores demonstram o
das interpretações do trabalho pelos desejo, o anseio, a vontade de cooperar

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coletivamente, passando assim, por se manifestam e servem como analisadores


uma mobilização (não prescrita) que do processo grupal.
deve ser considerada como contribui-
ção insubstituível dos trabalhadores
na concepção, nos ajustes e na gestão Eixos norteadores de uma
da organização do trabalho (Ghizoni,
2013, p. 101).
experiência grupal

Nota-se, com isto, que a cooperação apenas O Grupo Operativo iniciou-se em outubro
é concretizada se os trabalhadores possuem de 2011 e desde então ocorre mensalmente.
o desejo de cooperar, isto é, estão subje- Em cada encontro, os participantes são con-
tivamente mobilizados. Isto ocorre porque vidados a debater e refletir sobre as questões
a mobilização subjetiva “é constituída pela que envolvem o trabalho. A ideia consiste
possibilidade de ação coordenada visando à em levantar as possibilidades de intervenção,
construção de um produto comum com base isto é, elaborar estratégias e táticas mediante
na confiança e na solidariedade” (Ghizoni, as quais os cuidadores podem intervir nas
2013, p. 101). situações e provocar transformações. Para
tanto, lança-se mão de atividades de apren-
dizagem, treinamento e tarefa que atuam
O último fator, mas não o menos importante, é
como processo terapêutico.
o reconhecimento. Dejours e Molinier (2008)
explicam que o reconhecimento é uma experi-
ência fundamentalmente simbólica que veicula As técnicas empregadas pelo coordenador
dois significados: reconhecimento da realidade do grupo (Psicólogo/Nasf) visam à ampliação
que representa a contribuição individual à dos recursos comunicacionais e à capacidade
organização do trabalho; e reconhecimento de compreensão das práticas de cuidado
no sentido de gratidão pela contribuição dos e seus efeitos na subjetividade. Espera-
trabalhadores à organização do trabalho. se que o grupo possa constituir-se como
espaço de ressignificação de experiências,
aprendizagem e de criação de alternativas
Lima (2013) corrobora esta hipótese quando
para o sofrimento gerado no trabalho. Os
problematiza o trabalho na contemporanei-
encontros grupais estruturam-se em três eixos
dade. Para a autora:
analítico-metodológicos:
As formas atuais de organização do
trabalho ameaçam a possiblidade de a) Diálogo: a importância do diálogo é
reconhecimento justamente porque amplamente corroborada em vários estudos.
não favorecem a construção de rela- Rogers (1961/2012) demonstra o quanto é
ções solidárias e cooperativas. Tais enriquecedor para o crescimento pessoal,
entraves podem ser intensificados pela inserir-se numa relação onde há canais
avaliação individualizada do desempe-
abertos, através dos quais as pessoas podem
nho, pelas formas precárias de trabalho
comunicar seus sentimentos e mundos per-
como a terceirização, pelas estratégias
adotadas pela qualidade total, a forte ceptivos particulares.
concorrência e o individualismo, den-
tre outras características deste cenário, Dejours (2008), por sua vez, acredita que
que conduzem a uma extrema pressão o acesso à inteligibilidade dos fenômenos
no trabalho e, concomitantemente, ao contribui para o desvelamento da realidade
isolamento e solidão do trabalhador do sofrimento e de seu relacionamento dinâ-
(Lima, 2013, p. 354).
mico com a subjetividade. A palavra tem um
estatuto privilegiado, pois torna cognoscível
Em síntese, pode-se dizer que os fatores aqui aquilo que sem mediação simbólica perma-
descritos são expressões de um saber-fazer nece sob o véu do sintoma.
e explicam, em parte, a gênese e desenvol-
vimento da psicodinâmica do trabalho. Nos Essa propriedade da linguagem deve-
encontros com os cuidadores estes elementos se ao fato de que falar com alguém é

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um meio muito vigoroso de pensar; de II. Sensação de desamparo, sobrecarga de


pensar a experiência vivida subjetiva- trabalho e despreparo para realizar tarefas
mente. A palavra é o meio de perla- complexas cuja resolução exige intervenções
boração, mas este vigor da linguagem
intersetoriais.
não é automático. Pode-se falar sem
dizer nada. A linguagem ganha o vigor
quando a palavra é dirigida aos outros III. Convivência diária com situações degra-
(Dejours, 2008, p. 99). dantes e frequentemente de risco para própria
saúde e integridade física.
b) Aprendizagem: também concebida como
construção de sentido, a aprendizagem se Temas analítico-geradores de
dá “por intermédio da ‘deliberação’ coletiva
de trabalhadores, os quais constroem uma uma experiência grupal
representação que os orienta e auxilia na
manutenção da saúde do aparelho psíquico” A dinâmica dos encontros e as discussões
(Costa, 2013, p. 377). A ideia é instituir são orientadas a partir de temas geradores
“a possibilidade de abordar um objeto, definidos pelos participantes. O tema gerador
apoderar-se instrumentalmente de um é um conceito operacional fundamental na
conhecimento para poder operar com ele, teoria dialética do conhecimento elaborada
conseguir uma incorporação.” (Pichon-Ri- por Paulo Freire. Vincula-se à tese de que
vière, 1983/2009, p. 269). quanto mais as pessoas assumem uma pos-
tura ativa na investigação de sua temática
c) Intersetorialidade: é um princípio funda- existencial, mais aprofundam a sua tomada
mental para condução do processo grupal, de consciência e se apropriam da realidade
uma vez que pressupõe a articulação entre (Freire, 1987).
sujeitos e setores distintos, conhecimentos,
práticas e interesses variados. A Organi- O tema é denominado de gerador porque
zação de ações intersetoriais responde têm em si o potencial de eliciar tantos outros
aos desafios inerentes aos problemas de temas e tarefas a eles associadas. Na expe-
saúde cuja etiologia remete a uma rede de riência que é objeto deste relato, os temas
condicionantes heterogêneos. Por isso, a são delimitados de maneira democrática e
preocupação constante e sistematizada em servem como fio condutor para reflexão das
articular esforços da Saúde e Assistência condições de trabalho, dos fatores que afetam
Social em benefício dos trabalhadores e da a saúde mental do trabalhador, bem como
população atendida. do planejamento de ações de superação das
dificuldades identificadas.
Os três eixos aqui elencados comungam a
hipótese de que parte do sofrimento viven- O próprio funcionamento grupal e
ciado no cotidiano pelos cuidadores advém os fenômenos que nele se manifestam (afi-
dos desafios impostos pela organização do liação-pertença, comunicação, cooperação,
trabalho da qual participam. As discussões cooperação, aprendizagem, pertinência, Telê)
em grupo envolvem questões e problemas servem de recursos analítico-terapêuticos. A
variados que formam um mosaico de formas partir da análise destes fatores, os integrantes
difusas. Sob o risco de estereotipa-las em do grupo podem transpor obstáculos, ampliar
estratificações artificiais, elencamos alguns o autoconhecimento e superar dificuldades
problemas: experimentadas no processo de pensar, sentir
e entrar em contato com a realidade. Esses
I. O hiato existente entre a atividade prescrita fenômenos, tal como se situam no Esquema do
e a atividade real, isto é, as regulamentações, Cone Invertido proposto por Pichon-Rivière
normas e regras prescritas são vivenciadas (1983/2009), são recursos teórico-metodoló-
como inconciliáveis com as exigências gicos valiosos para compreensão da dinâmica
concretas de trabalho. grupal e segundo o autor indicam:

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(...) uma situação espiralada que e intimamente vinculadas às questões vividas


desemboca num ponto determinado no cotidiano do trabalho. Percebe-se que os
no qual se formula a resistência à temas geradores funcionam como categorias
mudança. O trabalho grupal confi- lógico-operacionais que cumprem uma tripla
gura a espiral que vai se internalizando
função: ampliação dos referenciais de sig-
pouco a pouco mediante a utiliza-
ção dos vetores de interpretação para nificação da realidade; empoderamento do
poder chegar ao núcleo onde reside a trabalhador; instauração de uma coletividade.
resistência à mudança (Pichon-Rivière, Esses temas decorrem do esforço coletivo para
1983/2009, p. 267). dar inteligibilidade às questões pertinentes
à psicodinâmica do trabalho. Associam-se,
Pode-se dizer que nestes encontros agen- portanto, aos problemas vivenciados no coti-
ciam-se linhas de produtividade coletiva, diano e podem ser agrupados nas seguintes
que sensibilizam os integrantes do grupo categorias hermenêuticas: contexto social
para questões relativas ao exercício de sua e as condições de trabalho, saber técnico e
autonomia na construção de uma resolu- cuidado de si.
ção ética para aquilo que é vivido como
aparente aporia. Esta abordagem leva em O contexto social e as condições de
consideração dois conceitos operacionais: trabalho
autoanálise e autogestão. Ambos originam
na Análise Institucional e dizem respeito ao Os integrantes do grupo atribuem ao
empoderamento do trabalhador visando o contexto sociocultural do trabalho grande
autogerenciamento do processo produtivo. impacto na saúde de um modo geral. Eles
Estas noções implicam em dispositivos de percebem que parte dos problemas viven-
discussão coletiva sobre os mais diversos ciados resulta dos conflitos decorrentes das
fenômenos e seus efeitos na práxis grupal. De especificidades da organização familiar do
acordo com Baremblitt (1994), este método idoso que acompanham. Desde os primór-
assenta-se em pressupostos teórico-metodo- dios da intervenção é recorrente a demanda
lógicos que visam à compreensão dos efeitos por orientações que promovam mudanças
antiprodutivos como expressão e consequ- comportamentais no grupo familiar. Tal
ência do desconhecimento das contradições expectativa é motivada por conflitos gerados
do sistema e das forças criativas. O objetivo pela divergência de valores, conceitos e
de tal práxis consiste em: hábitos pertencentes aos dois universos:
dos cuidadores e as famílias assistidas.
(...) correlacionar esses analisadores Os problemas vivenciados no cotidiano
com suas causas e dar conta delas, de
abrangem também situações complexas
maneira tal que adquiram consciência
de que não vão poder solucionar esses como violência doméstica, negligência e
fenômenos sem uma ampla reformu- abandono, ambiente domiciliar insalubre,
lação da estrutura e do processo pro- entre outras. Precisam, ainda, enfrentar
dutivo em si mesmo, mas nas formas uma jornada de trabalho de quarenta horas
peculiares que este adquire em seu semanais deslocando-se para duas ou até
caso singular (Baremblitt, 1994, p. 91). três residências diariamente. Inclui-se nesta
rotina um sofrimento importante, a saber: o
Até o período em que este texto foi conclu- medo. Os cuidadores referem-se ao medo
ído (dezembro de 2013), o grupo discutiu relativo à degradação do organismo, ligado
questões relativas à práxis cotidiana, forma- diretamente às más condições de trabalho.
lizando-as nos seguintes temas: motivação O problema é intensificado, principalmente,
para mudança, estresse, luto, aspectos pela falta de possibilidades ou carência de
socioeconômicos do envelhecimento, recursos para superação dessas dificuldades.
alteridade, funções cognitivas e doenças Trata-se de fatores de difícil manejo que
neurodegenerativas, disfagia, alimentação demandam ação intersetorial de apoio ao
saudável e cinesioterapia. Consistem em trabalhador, coisa que não ocorre de maneira
formas de saber construídas coletivamente satisfatória. Os temas geradores motivação

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para mudança, alteridade, aspectos socio- prática, não dependem de sua ação exclusiva.
econômicos do envelhecimento, direitos Tais experiências geram sensações de frustra-
da pessoa idosa serviram de subsídio teó- ção e impotência perenes, vividas como algo
rico-prático para a reflexão e compreensão difuso e ameaçador. Por meio de uma medida
parcial das questões vivenciadas. defensiva contra o sofrimento, o desejo de
cuidar sofre um deslocamento de objeto e é
Saber técnico redirecionado para o sujeito da ação sob a
forma de demanda de ser cuidado e acolhido.
Os trabalhadores percebem que a gênese e Cançado e Sant’Anna (2013) esclarecem a
o desenvolvimento do sofrimento vinculam- importância destes mecanismos na economia
se, em parte, a sensação de incompetên- da saúde mental. Recorrem a Freud para
cia técnica para resolução de problemas propor a seguinte definição:
emergentes na prática diária de cuidado.
Pode-se entender como mecanismos
A maioria dos idosos acompanhados tem
de defesa o conjunto de operações
enfermidades crônicas (transtornos neu- que visam mitigar perigos à integri-
ropatológicos, distúrbios metabólicos, dade psíquica do indivíduo, que são
deficiência física, etc.) que demandam decorrentes de elementos recalcados
atenção cuidadosa e especializada. O des- de seu nível de consciência. Emergem
conhecimento dos fatores que participam de suas dificuldades de elaborar, em
destes processos e das possibilidades de nível consciente, determinados conte-
manejo em situações agudas intensifica a údos e representações retidas a priori
sensação de impotência constituindo-se em seu registro inconsciente (Cançado
& Sant’Anna, 2013, p. 249).
como fator gerador de ansiedade.

A presença de equipe interdisciplinar do O tema cuidado de si surgiu diante desta


NASF (fonoaudiólogo, fisioterapeuta, nutri- situação e provocou o estabelecimento de
cionista, psicólogo, farmacêutico) é crucial ações de educação em saúde promovidas em
para transmissão de saberes pertinentes as torno dos temas geradores cinesioterapia e
atividades desempenhadas pelo cuidador. alimentação saudável. Nestes encontros os
Os temas geradores destes encontros foram: cuidadores, com o auxílio de especialistas
disfagia, cinesioterapia, reeducação alimen- do Nasf (fisioterapeuta e nutricionista) agre-
tar, uso correto de medicamentos, funções garam novos conhecimentos, refletiram sobre
cognitivas e doenças neurodegenerativas. hábitos, trocaram experiências em torno das
temáticas.
Cuidado de si
Limitações do processo
A atividade de cuidar gera no profissional
uma série de sentimentos e expectativas. O A psicodinâmica do Trabalho tenta compre-
significante cuidar veicula, nestas pessoas, ender como os trabalhadores alcançam e
muitos significados: proteger, zelar, fazer mantém certo equilíbrio psíquico, mesmo
algo em prol da alguém, prevenir agravos, estando submetidos a condições de trabalho
promover saúde, bem estar físico, mental desestruturantes. Após a identificação do
e social. Nota-se que este conjunto de sofrimento psíquico em situações de trabalho,
representações associa-se parcialmente a tenta-se elaborar intervenções voltadas para a
expectativas concretas dirigidas ao cuidador organização do trabalho à qual os indivíduos
pelos idosos e seus familiares. No entanto, estão submetidos. Mas existem situações
percebe-se nas discussões em grupo, que no cotidiano do trabalho que restringem as
esta questão origina-se, também, em uma possibilidades de sublimação e levam, por
demanda autodirigida. meio de mecanismos psicopatológicos, a
emergência de doenças somáticas e mentais
O cuidador, frequentemente, sente-se impe- (psiconeuróticas). Segundo Merlo (2002) para
lido a ser um agente de mudanças, que na que a sublimação possa ocorrer na atividade

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de trabalho, é necessário que condições Social, mas os profissionais respondem


psíquicas, ontogenéticas, organizacionais, legalmente a uma associação contratante.
éticas e sociais sejam preenchidas. Esta condição provoca sobreposição e con-
flitos nas relações de poder e confusão na
Durante a intervenção, o grupo identificou organização da gestão do programa.
alguns destes fatores como determinantes
intransponíveis no processo de adoecimento Considerações finais
no trabalho:
O Grupo Operativo, objeto deste estudo,
a) Condições psíquicas: os trabalhadores é constituído em torno de uma tarefa (a
desenvolvem defesas contra um sentimento atividade de cuidado e seus impactos na
perene de luto. O público atendido tem uma saúde do trabalhador). Os temas discuti-
saúde delicada e isto mobiliza no cuidador dos pelos integrantes do grupo produzem
ansiedade em relação a iminente morte de questionamentos sobre experiências do
um idoso. Quando o fato ocorre, outro idoso cotidiano, bem como análises que constituem
é incluído no programa. Esta dinâmica, quase os materiais concretos para ressignificação
artificial, provoca nos profissionais sentimen- das vivências e construção do aprendizado.
tos de desumanização diante de uma vivência Fomentam ações intersetoriais Nasf/ESF e
complexa e carente de significação. O tema CRAS, (visitas domiciliares compartilhadas,
luto é recorrente nas discussões grupais; o ações de educação/promoção de saúde com
desabafo e as conversas amenizam o sofri- familiares dos idosos, articulação da rede de
mento, mas não o elimina. assistência), que potencializam a consecução
dos objetivos almejados.
b) Condições organizacionais: (ver o tópico “O
contexto social e as condições de trabalho”). As análises elaboradas até o momento indi-
cam que o grupo operativo configura-se como
c) Condições éticas: A relação que existe um importante recurso pedagógico capaz
entre a organização real e a prescrita do de produzir em seus participantes efeitos
trabalho é sempre conflitiva. Os cuidadores terapêuticos. Isto porque as atividades de
enfrentam, frequentemente, situações com- educação desenvolvidas nos encontros per-
plexas e inusitadas que demandam atitudes mitem a criação de estratégias saudáveis de
inventivas. Estas tentativas de realização de manejo e enfrentamento de alguns efeitos
experiências novas no trabalho implicam em psicopatológicos decorrentes da prática
sofrimento que se apresenta muito custoso no do cuidado no ambiente de trabalho. Os
plano psicológico e para a saúde globalmente temas geradores (motivação para mudança,
(Merlo, 2002). Esta tensão cotidiana seria estresse, luto, aspectos socioeconômicos do
reduzida se as ações intersetoriais, como envelhecimento, alteridade, funções cogniti-
o apoio mais efetivo das equipes de saúde vas e doenças neurodegenerativas, disfagia e
da família, fossem institucionalizadas em alimentação saudável) representam o esforço
arranjos entre gestores. hermenêutico dos integrantes do grupo para
dar inteligibilidade às suas experiências coti-
Outra questão envolvida neste tópico refere- dianas. Constituem uma espécie de síntese
se à necessidade de reconhecimento, ou em das atividades desenvolvidas que permite
outros termos, ao desejo por valorização pela identificar os aspectos mais significativos na
contribuição para realização do trabalho. gênese e desenvolvimento da psicodinâmica
De acordo com Merlo (2002), esse reco- do adoecimento no contexto do trabalho.
nhecimento precisa acompanhar-se de um
julgamento de utilidade, isto é, a atividade No entanto, certos elementos identificados
fornecida pelo trabalhador deve receber a na pesquisa (as condições de trabalho e o
gratidão de seus superiores hierárquicos na contexto social, situações de negligência e
empresa, como alguma coisa que tenha valor. abandono familiar e o sentimento perene
O programa é coordenado pela Assistência de perda) são vivenciados como obstáculos

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intransponíveis que colocam em risco a saúde frente, mas andasse para trás, isso então
do trabalhador. Mas, se Dejours está correto seria desesperador; mas uma vez que
em dizer que o trabalho pode ser fonte tanto está escalando uma encosta íngreme,
de sofrimento, quanto de prazer, resta-nos tão íngreme quanto você próprio é visto
criar novas perspectivas. de baixo, os passos para trás podem ser
causado apenas pela condição do ter-
Se você estivesse cruzando uma pla- reno e você não precisa se desesperar
nície com a firme intenção de ir em (Kafka, 2011, p. 191).

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Wagner Honorato Dutra


Especialista em Psicopedagogia pelo Centro Universitário de Belo Horizonte, Belo
Horizonte – BH. Brasil.
E-mail: wagnerhonoratodutra@hotmail.com

Rosa Maria Corrêa


Doutora em Educação pela Universidade de Campinas, Campinas – SP. Brasil. Docente
da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte – MG. Brasil.
E-mail: rosamc@pucminas.br

Endereço para envio de correspondência:


Waldemar Falcão nº 186. ap.303. Bairro Planalto. CEP: 31540-530. Belo
Horizonte – MG. Brasil.

Recebido 15/12/2013, Aprovado 28/11/2014.

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