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Marília Mazzuco Sant’Ana1, Valdete Preve Pereira2, Miriam Süsskind Borenstein3, Alcione Leite da Silva4
1
Enfermeira. Santa Catarina, Brasil. E-mail: ma_mazzuco@yahoo.com.br
2
Mestre em Enfermagem. Professora do Curso de Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí – Campus Biguaçu. Enfermeira
Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria de Santa Catarina. Santa Catarina, Brasil. E-mail: detepreve@yahoo.com.br
3
Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Santa Catarina, Brasil. E-mail: miriam@nfr.ufsc.br
4
Doutora em Filosofia da Enfermagem. Professora do Secção Autónoma de Ciências da Saúde da Universidade de Aveiro,
Portugal. E-mail: alsilva@ua.pt
RESUMO: Trata-se de um estudo qualitativo, do tipo exploratório, descritivo, cujo objetivo foi compreender os significados de ser
familiar cuidador do paciente portador de transtorno mental. O estudo foi desenvolvido com familiares de portadores de transtornos
mentais, atendidos na Clínica Integrada de Atenção Básica à Saúde, no município de Biguaçu-SC, vinculada à Universidade do Vale
do Itajaí. Dados qualitativos foram obtidos por entrevista dialógica e analisados com base na teoria do Tornar-se Humano. Da análise
dos dados emergiram as seguintes categorias: e a experiência do transtorno mental em família; o enfrentamento das dificuldades e
limitações; a interrelação em família e com “outros”; a co-criação das possibilidades de transcendência. Concluiu-se que viver a teoria
do Tornar-se Humano com o familiar cuidador do portador de transtorno mental, implica na co-participação do(a) enfermeiro(a) na
iluminação dos significados das situações vivenciadas, co-transcendendo as suas próprias condições de ser e agir no mundo, na busca
de melhor qualidade de vida.
DESCRITORES: Enfermagem. Transtornos mentais. Família.
ABSTRACT: The objective of this qualitative, exploratory, and descriptive study was to understand the meanings of being a caregiver
to family members with mental disorders. The study was conducted among relatives of patients with mental disorders, attended at
the Integrated Clinic of Primary Health Care in the municipality of Biguaçu-SC, Universidade do Vale do Itajaí. Qualitative data was
generated through dialogic interviews and analyzed using the theory of Becoming Human. Four categories emerged from analysis: the
experience of mental disorder in families; coping with its difficulties and limitations; relationships with family and “others”; co-creation
of the possibilities for transcendence. We conclude that living the theory of Becoming Human including a family member mental
patient caregiver involves the co-participation of the nurse as a caregiver, in illuminating with meaning the experienced situations,
thus co-transcending their own conditions of being and acting in the world in search of a better quality of life.
DESCRIPTORS: Nursing. Mental disorders. Family.
RESUMEN: Este es un estudio cualitativo de enfoque exploratorio, descriptivo, cuyo objetivo fue comprender el significado de ser
un cuidador familiar de pacientes con trastornos mentales. El estudio se desarrolló con los familiares de los pacientes con trastornos
mentales, seguido en la clinica integrada de Atención Primaria de Salud en el municipio de Biguaçu-SC, vinculada a Universidade
do Vale do Itajaí. Los datos cualitativos fueron obtenidos por entrevista dialógica y analizados sobre la base de la teoría del Devenir
Humano. Del análisis de los dados surgieron las siguientes categorías: la experiencia de trastorno mental en las familias; hacer frente a
las dificultades y limitaciones, la interrelación con la familia y “otros”; y co-creación de las posibilidades de trascendencia. Se concluyó
que viver la teoría del Devenir Humano con el familiar cuidador de pacientes con trastorno mental, implica la co-participación del
enfermero en la iluminación de los significados de las situaciones vivenciadas, co-trasciendendo sus propias condiciones de ser y actuar
en el mundo en busca de una mejor calidad de vida.
DESCRIPTORES: Enfermería. Transtornos mentales. Família.
preparado para lidar. Estas situações incluem com- [...] eles acham que não tem compromisso e eles
portamentos de descontrole do familiar doente, fazem só quando eles querem, entendeu [...] (Esme-
que se torna mais agressivo e inquieto, causando ralda).
um clima de intranqüilidade que foge aos padrões O desejo dessa cuidadora era poder contar de
até então conhecidos pelos que com ele convivem maneira efetiva com o suporte emocional e a ajuda
e que afetam toda a estrutura familiar. Em face instrumental de outros familiares, isto é, poder
destes comportamentos, os familiares demonstram compartilhar tanto as responsabilidades quanto
sentimentos de insegurança e medo, conforme os o cuidar. As pessoas da família que não convi-
depoimentos a seguir: vem diariamente com um portador de transtorno
[...] eu fico atento, nos casos de ele fechar o quarto, mental, mostram certo receio de se aproximar
e a gente tem medo, está sempre de olho! (Diamante). para ajudar nos cuidados, pois desconhecem e não
[...] antes nós dormíamos com a casa assim toda compreendem a doença e suas manifestações ou,
aberta, os quartos, e hoje a gente dorme com a casa toda muitas vezes, nem se interessam em saber como
fechada, o nosso quarto, o da minha menina fechada. podem ajudar, apenas se afastam desses membros
Eu tenho medo, a gente nunca sabe o que vai passar na da família.
cabeça dele [...] (Rubi). O termo “sobrecarga familiar” fundamen-
O familiar cuidador pode, também, apre- ta-se no impacto provocado pela presença do
sentar ansiedade por não saber como lidar com portador de sofrimento mental junto ao meio/
alguns comportamentos apresentados como, ambiente familiar e envolve aspectos econômi-
por exemplo, o silêncio excessivo, fala contínua cos, práticos e emocionais a que se encontram
e desordenada ou com a imprevisibilidade em submetidos àqueles familiares que se encarregam
suas ações, e a percepção da vida cada vez mais do cuidado necessário e exigido pelo usuário.13
“empobrecida” do paciente. Muitos não se con- Os familiares com contato mais próximo a pessoa
formam em ver um familiar, que até então era em situação de sofrimento mental usualmente
brilhante, cheio de projetos de vida e socialmente não dispõem de tempo nem de espaço para
bem integrado, transformar-se numa pessoa com- manter outros relacionamentos. Envolvem-se
prometida, dependente, desprotegida e tomada apenas com o que diz respeito à doença mental,
por limitações de toda natureza. Os relatos abaixo tornando o vínculo sobrecarregado de cobranças
expressam esta situação: e exigências em relação a eles mesmos e à pessoa
de quem cuidam. A distância entre a família e o
[...] assim, em ver a situação dela, a gente vendo
corpo social pode ser exemplificada pela ausên-
a própria mãe na situação que ela está, uma pessoa que
cia a festas e eventos, diminuição do número de
era, que fazia tudo e de repente está aí sem falar coisa
visitas a amigos e parentes.
sem é [...] então tu tem um sentimento assim de, de
tristeza [...] (Esmeralda). A família do doente sempre procura uma
causa para a doença e, ao longo de sua vida, tenta
A doença mental não é apenas um rótulo,
encontrar significados para compreender a origem
uma categoria, um diagnóstico, ela constitui-se
do transtorno, pois, de certa forma, isto ocasiona
numa experiência vivida pelo ser humano e por
certo alívio para os que estão envolvidos direta-
sua família. Alguns sintomas da doença trazem
mente no processo. Neste estudo, constatamos que
também, angústia e impaciência, decorrentes
os familiares trouxeram concepções etiológicas de
da necessidade de constante atenção e estímulo
causas relacionadas a fatores hereditários e causas
à ação. Um dos sintomas da doença mental é a
originadas de difíceis experiências em determina-
diminuição da motivação, levando o doente a
dos percursos de suas vidas, ou de algum acon-
não conversar, ficar apático, isolado e retraído
tecimento marcante para os transtornos mentais
socialmente.12
de seus familiares. Para uma família, a doença foi
A tarefa de cuidar e ao mesmo tempo ser um percebida em um momento marcante da vida do
familiar exige também, muita disponibilidade e pa- familiar, como se segue:
ciência, já que, muitas vezes, este é o único membro
[...] é, o “bipolar” mesmo apareceu depois! Na re-
da família que acolhe o doente. Uma das participan-
alidade [...] ele começou desde os 15 anos com depressão!
tes (filha) enfatizou a falta de interesse dos outros
Antes de casar! Com 15 anos ele teve uma depressão
membros da família em se responsabilizar pelo
forte! É que, na realidade, deu o quadro mesmo com 23
cuidado da mãe, que vive com ela e fica somente
anos (Diamante).
sob os seus cuidados, como referido a seguir:
de transtorno mental e sua família devem ser uma liberdade situada. Daí a necessidade de uma
orientados sobre a doença e suas características, assistência profissional às famílias que convivem
sobre o diagnóstico e prognóstico da mesma. Há com um portador de transtorno psíquico com um
necessidade de conhecimento, pois, em geral, o olhar mais voltado à qualidade de vida da família
tratamento é por tempo indeterminado. As infor- e dos que praticam este cuidado.
mações e orientações devem ser transmitidas pela
equipe de saúde, de forma clara e objetiva, para
A interrelação em família e com “outros”
que se estabeleça um vínculo de confiança e maior
adesão ao tratamento. Durante toda a trajetória de vida destas
O fato de a família conviver com o porta- famílias, elas se deparam com inúmeras vivên-
dor de transtorno psíquico, faz com que os seus cias que representam algum significado em cada
membros fiquem sempre apreensivos quanto ao fase da vida, especialmente quando estão ligadas
tratamento e surgimento de novas crises ou reca- ao familiar que adoeceu. Nos relatos de uma
ídas. Assim, o(a) enfermeiro(a) deve estar atento família destacam-se alguns pontos importantes
durante a assistência, observando como ocorre a que fizeram parte das relações interpessoais que
dinâmica familiar, os significados que emergem ocorreram com o familiar doente, bem como os
em cada situação, dentro do ritmo próprio da famí- significados atribuídos a estas passagens.
lia, procurando possibilidades com os cuidadores Em relação à moradia, ao estudo e ao trabalho,
para transformar a interação familiar. os familiares cuidadores, Rubi e Diamante falaram
Outro tema de difícil enfrentamento, le- desta relação com o familiar da seguinte forma:
vantado pelos familiares, e também relacionado [...] sempre morou conosco! Sempre morou,
à suspensão do tratamento, é a questão do sur- sempre trabalhou! Com 13, 14, 15 anos ele começou a
gimento das crises, que acabam precipitando a ajudar na padaria! Fez primeira comunhão, fez tudo
necessidade de internação. Esta aparece como uma direitinho, na Igreja! Se formou na oitava [série do
solução para a situação insuportável de ansiedade ensino fundamental], depois no terceiro [ano do
e temor que vivenciam as famílias quando perce- ensino médio]! Começou a namorar, parou de traba-
bem a emergência de uma descompensação e, em lhar. Ele já fez administração, já passou para direito,
alguns casos, pode representar uma tentativa de mas depois pode querer ir, pode não querer ir e lá vai,
manutenção da estrutura familiar. Como podemos entendeu, uma confusão (Diamante).
observar a seguir: Quanto ao convívio familiar e aos relacio-
[...] ele ameaçou botar fogo na casa, estava to- namentos afetivos e de amizade, ressaltam os
talmente fora, não estava violento assim [...] e a gente seguintes depoimentos:
entrou em conversa com ele e conseguimos levar ele [...] é, ele tem um convívio, ele tem e a gente
sozinho, eu e a Rubi, internamos e ele aceitou até a também tem muita amizade. A gente é bem querido lá
internação lá [...] (Diamante). e todo mundo adora ele e aquelas igrejas, o pessoal vai
Ao falar da complexidade do cuidado ao lá em casa e qualquer religião, qualquer crença, fazendo
portador de transtorno mental, é possível com- corrente pro meu filho (Diamante).
preender a ambigüidade vivenciada pelo familiar A Teoria do “Tornar-se Humano” 9, em
quanto ao parente permanecer em casa ou no seus princípios, afirma que o humano co-existe
hospital. Ao mesmo tempo em que gostaria que enquanto co-constitui padrões rítmicos com o am-
ele permanecesse em casa, para receber cuidados biente que o cerca. A vida é uma manifestação de
e afeto, considera o hospital uma alternativa vibrações rítmicas. Criamos padrões rítmicos com
para garantir o controle do quadro de crise e a o universo. Esses padrões são os paradoxos que
administração de medicamentos, para poder dar vivemos ao longo da vida. Paradoxos são ritmos
continuidade ao tratamento. vividos de forma multidimensional e simultânea.
Deste modo, cada ser humano transcende Cada pessoa tem seu ritmo que se move junto com
com as possibilidades de que dispõe em diferentes o das outras pessoas. Neste estudo, o convívio com
momentos de sua existência.11 Em sua singularida- a família e com o meio está diretamente relacio-
de, ele se depara com limites, os quais são trans- nado às implicações na vida do ser humano e nos
cendidos de acordo com o padrão de relações que padrões de inter-relacionamento que vão se consti-
estabelece consigo e com os outros. Com isso, cada tuindo. Assim, os processos de relações paternais,
ser humano é indissociável de seu meio, influencia fraternais, conjugais e outros, vão formando uma
e é influenciado em suas decisões, o que lhe confere rede de experiências vividas.
No entanto, nem todos os familiares pos- e manter uma estrutura adequada para o cuidado
suem condições estruturais, econômicas e emocio- ao doente. Com um acompanhamento profissional
nais para lidar com o comportamento próprio do e tratamento apropriados, a família tem o apoio
membro da família acometido de um transtorno necessário para poder transformar sua prática na
mental. Daí a complexidade na qual se insere o cui- busca da qualidade de vida.
dador, que passa a vivenciar situações que, muitas Para Diamante e Rubi, suas atitudes no dia-
vezes, se refletem direta e indiretamente em sua a-dia estão constantemente sendo mudadas, pois
subjetividade, exposta não só nas situações deter- eles passaram para a uma fase em que a doença
minadas pelo membro da família com transtorno já foi compreendida e as informações a respeito
mental, mas também nas situações conflituosas estão sendo aperfeiçoadas.
geradas no próprio contexto familiar.
[...] eu acho que cada dia a gente vai aprendendo
É muito complicado, porque a pessoa que não tem mais, vai aceitando, vai caindo na realidade! [...] nós já
uma estrutura, conhecimento [...] (Diamante). aceitamos que ele é doente e que tem que tratar e nós é
Ah, é muita responsabilidade! Eu comecei a me que temos que cuidar dele! (Diamante).
envolver, fui ficando, é como ter um filho e agora tem Para esses familiares, a esperança de uma
que cuidar, entendeu! (Esmeralda). melhora é o que os sustenta para continuarem o
A complexidade das interações em família e tratamento de seu familiar, já que não existe cura
com os outros reflete a unidade família-meio am- para a doença. A adesão ao tratamento constitui-
biente e, consequentemente, a dinâmica e criativa se no co-transcender as possibilidades a fim de
interação do todo que compõe esta unidade, que é procurar maneiras únicas de iniciar o processo de
mais do que a soma dos aspectos físicos, mentais, transformação na busca pela qualidade de vida,
emocionais, sociais, espirituais e materiais de nossa exemplificado nas falas:
vida. Entendemos este conjunto como um “sistema [...] a gente tem esperança que ele vai melhorar
de saúde” que, dependendo da harmonia de seu [...] (Rubi).
ritmo, responde pelo bem-estar do ser humano.
[...] é a esperança a gente tem! Que eu espero um
Deste modo, as experiências de vida refletem a na-
dia de ele aceitar o tratamento, que o tratamento já é
tureza paradoxal das relações da pessoa no mundo
bem dizer, uma cura! (Diamante).
em um processo rítmico. A Teoria do “Tornar-se
Humano”9 afirma que a essência da enfermagem é Co-transcender significa mover-se para
o relacionamento enfermeiro-pessoa e a sua meta outras dimensões com sonhos e esperanças cul-
principal é a qualidade de vida sob a perspectiva tivados, criando novas formas de perceber o que
da própria pessoa.9 já é conhecido.9 Quando a pessoa co-transcende,
cria forças para originar novas formas de viver,
transformando assim, seus padrões de vida. Trans-
A co-criação das possibilidades de transcen- formar é viver novas possibilidades imaginadas. A
dência mudança é um processo contínuo do ser humano
Para compreender o que é ser um cuidador em interação com o meio ambiente, movendo-se do
de um portador de transtorno mental, é preciso que é para o que ainda não se é. As novas maneiras
transportar-se para o seu mundo, imaginar-se no de ver a vida são incorporadas às anteriores.
lugar dele,20 não é suficiente para isso o embasa- Para Esmeralda, a esperança de que sua mãe
mento teórico. É preciso atentar-se para o caminho melhore se apóia na idéia de que ela possa vir a se
da solicitude, num esforço de ser-com-o-outro, tornar mais independente, voltar as suas ativida-
com disponibilidade para compreendê-lo em tal des diárias e também, retornar ao trabalho, o que
momento de sua existência. Para o familiar cuida- foi relatado da seguinte forma:
dor, a doença é um obstáculo a ser superado e a [...] ela já esteve pior, hoje ela está melhor do que
esperança de uma melhora está sempre presente, antes, mas, eu claro que a minha esperança é que ela
principalmente quando o seu entendimento da fique cada vez melhor, [...] que ela pudesse ficar sozinha,
doença está firmado. Há que ser lembrado que entendesse, é que no caso se eu trabalhar, que ela pudesse
estas famílias estão passando por situações não ficar sozinha em casa [...] (Esmeralda).
escolhidas e para as quais não foram preparadas. As transformações buscadas pelo ser huma-
Portanto, o estar nesse papel é difícil e sempre no são reforçadas nos conceitos de enfermagem,
acarreta algum prejuízo para a família. Porém, entendidos como ciência e arte, fundamentadas
muitas dessas famílias conseguem se restabelecer nas ciências humanas.11 O foco da enfermagem é
o ser humano como unidade de vida, como um do (a) enfermeiro (a) na iluminação de signi-
elemento de participação qualitativa em seu modo ficados das situações vivenciadas e mover-se
de experenciar a saúde. com eles na escolha de possibilidade de melhor
qualidade de vida, através de uma participa-
ção inter-subjetiva. Neste processo, o familiar
CONSIDERAÇÕES FINAIS
cuidador, o portador de transtorno mental e
O presente estudo teve por objetivo compre- o(a) enfermeiro(a), enquanto unidade de vida,
ender os significados de ser familiar cuidador do transcendem seu tempo-espaço, bem como suas
paciente portador de transtorno mental. O referen- próprias condições de ser e agir no mundo.
cial teórico utilizado fundamentou esta pesquisa Desta forma, a teoria do “Tornar-se Huma-
voltada ao familiar cuidador do portador de trans- no” constitui-se em novo paradigma para o “ser”
torno mental, o qual nos possibilitou uma melhor e “fazer” enfermagem, dentro de uma abordagem
compreensão do mundo em nossa volta, contri- mais humanizada, moderna, inovadora e desa-
buindo para a descoberta de novos significados e fiadora, centrada na pessoa com doença mental
reflexões. Com a teoria do “Tornar-se-Humano”, e sua família, focando os valores e experiências
pudemos co-existir e co-constituir padrões de in- vividas por estas pessoas, respeitando seus rit-
terrelação com os familiares cuidadores na busca mos e acreditando em suas potencialidades de
pela co-transcendência. O foco principal da teoria co-transcender para ser mais.
diz que a busca de possibilidades para SER MAIS
com qualidade de vida confere ao ser humano uma
maior autonomia, no que diz respeito às decisões e REFERÊNCIAS
ações de saúde, com base no processo reflexivo. 1. Ministério da Saúde (BR), Departamento de ações
A compreensão da doença pela família e a programáticas estratégicas. Departamento de
busca pela assistência mais adequada ao seu fami- atenção básica, Coordenação geral de saúde mental,
Coordenação de gestão da atenção básica. Saúde
liar doente acontecem de forma lenta e progressi-
mental e atenção básica: o vínculo e o diálogo
va, à medida que eles se dão conta do processo pelo
necessários. Brasília (DF): MS; 2003 [acesso 2007 Out
qual estão passando. Na interrelação em família 15]. Disponível em: www.saude.gov.br
e com outros, a família revela e oculta ao mesmo
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que foram e o que são. A família é capacitada e Jan-Mar; 54(1):34-46.
limitada simultaneamente por suas escolhas. Ao 3. Barroso SM, Bandeira MN. Fatores preditores da
moverem juntos ou separados, ao mesmo tempo, sobrecarga subjetiva de familiares de pacientes
a família ora se conecta, ora se separa do ambiente, psiquiátricos atendidos na rede pública de Belo
em busca de uma melhor qualidade de vida. O Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad Saúde Pública
movimento de revelar-ocultar está presente, por [periódico na Internet]. 2009 Set [acesso 2011 Jan
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esconde a doença perante os outros. No entanto, à 311X2009000900010&lng=pt
medida que a família sente-se esclarecida, começa 4. Moreno V. Familiares de portadores de transtorno
a entender a doença e a desenvolver estratégias mental: vivenciando o cuidado em um centro
de enfrentamento. Este movimento nem sempre de atenção psicossocial. Rev Esc Enferm USP
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é unidirecional, mas multidirecional, tendo em
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vista que comporta avanços e recuos, com padrões scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-
ritmicos específicos de cada família. 62342009000300010&lng=pt
Percebemos neste estudo que, na assistência 5. Moreno V, Alencastre MB. A trajetória da família do
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mas também com seus familiares. 62342003000200006&lng=pt
Deste modo, viver a teoria do “Tornar-se 6. Moreno V. A família do portador de sofrimento
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