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SPAGESP - Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo

Revista da SPAGESP, 18(1), 80-100

GRUPO OPERATIVO COM PAIS DE JOVENS


EM PROCESSO DE ESCOLHA DA CARREIRA

Fabiana Hilário de Almeida


Lucy Leal Melo-Silva
Manoel Antônio dos Santos
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto-SP, Brasil

RESUMO
Este estudo teve por objetivo apresentar um programa de intervenção grupal com pais
de adolescentes em processo da escolha da carreira. Vinte e dois pais com filhos
adolescentes matriculados no ensino médio participaram de oito sessões semanais. A
intervenção e análise dos dados foram desenvolvidas com base no referencial teórico-
metodológico do grupo operativo de Pichon-Rivière. As sessões foram registradas por
três observadores e o material coligido foi submetido à análise de conteúdo temática.
Desta análise emergiram as categorias: expectativas quanto ao futuro profissional dos
filhos, o posicionamento frente ao processo de escolha da carreira, o processo de
separação pais-filhos, e as contribuições do Grupo de Orientação de Pais. Os resultados
mostram que os pais investiram maciçamente na formação educacional de seus filhos,
revelando elevadas expectativas quanto ao seu futuro. Os pais puderam refletir sobre
seus sentimentos ambivalentes e ressignificar seu envolvimento nas escolhas iniciais de
carreira dos adolescentes. O grupo operativo mostrou ser uma estratégia apropriada para
a intervenção, proporcionado a participação mais ativa dos pais no processo de
orientação profissional dos filhos.
Palavras-chave: orientação vocacional; escolha da carreira; apoio parental; orientação
de pais; grupos operativos.

OPERATIVE GROUP WITH PARENTS OF YOUNG PEOPLE IN CAREER CHOICE PROCESS

ABSTRACT
This study aimed to present a group intervention program with parents of adolescents
facing career choice process. Twenty-two parents with teenage children enrolled in high
school participated in eight weekly sessions. The intervention and data analysis were
developed based on the theoretical-methodological reference of Pichon-Rivière
operative group. Sessions were recorded by three observers and the collected material
was subjected to the thematic content analysis. From this analysis, the following
categories emerged: expectations regarding children´s professional future, the place they
assumed when facing the career choice process, the process of parent-child separation,
and the contributions of the Parent Guidance Group. Results showed that parents
invested heavily in the education background of their children, showing high
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expectations about their future. Parents were able to reflect on their ambivalent feelings
and redefine their involvement in the early career choices of adolescents. The operative
group proved to be an appropriate strategy for intervention, providing more active
participation of parents in the process of vocational guidance of their children.
Keywords: career guidance; career choice; parental support; parents guidance;
operative groups.

GRUPO OPERATIVO CON LOS PADRES DE JÓVENES EN EL PROCESO DE ELECCIÓN DE


CARRERA

RESUMEN
Este estudio tuvo como objetivo presentar un programa de intervención grupal con los
padres de adolescentes en proceso de elección de carrera. Veintidós padres con hijos
adolescentes matriculados en la escuela secundaria asistieron ocho sesiones semanales.
Se desarrolló el análisis de intervención y los datos basado en el marco teórico y
metodológico del grupo operativo de Pichon-Rivière. Las sesiones fueron grabadas por
tres observadores y el material obtenido fue sometido a análisis de contenido temático.
A partir de este análisis surgieron las siguientes categorías: las expectativas sobre el
futuro profesional de los niños, la posición frente al proceso de elección de carrera, el
proceso de separación entre padres y hijos, y las contribuciones del Grupo de
Orientación de Padres. Los resultados muestran que los padres han invertido mucho en
la formación educativa de sus hijos, dejando al descubierto grandes expectativas sobre
su futuro. Los padres fueron capaces de reflexionar sobre sus sentimientos ambivalentes
y replantear su participación en las elecciones de carrera tempranas de los adolescentes.
El grupo operativo demostrado ser una estrategia adecuada para la intervención,
proporcionando una participación más activa de los padres en el proceso de orientación
profesional de los niños.
Palabras clave: orientación vocacional; elección de carrera; apoyo parental; orientación
de los padres; grupos operativos.

Com o avanço do processo de globalização, as rápidas e significativas mudanças


que vêm ocorrendo nos domínios da economia e da política impactam diretamente a
vida social e afetam o modo como o ser humano tem se relacionado consigo mesmo,
com o outro e com seus projetos de vida e de carreira (Whitaker, 1997). O presente
estudo parte do princípio de que trajetórias de carreira são desenhadas por cada ser
humano ao longo da vida e, necessariamente, estão ancoradas na relação mutuamente
transformadora que os indivíduos estabelecem com seu contexto cultural (Almeida,
2009, 2014; Almeida & Melo-Silva, 2011; Savickas, 2002).
Os estudos contemporâneos no campo da orientação profissional de carreira na
atualidade valorizam uma concepção desenvolvimental do comportamento vocacional
(Savickas, 2002). Os processos de desenvolvimento vocacional de crianças e
adolescentes incluem aquisição de conhecimentos, crenças e valores sobre opções e
requisitos de trabalho, exploração de interesses que serão relevantes para o
desenvolvimento dos futuros interesses profissionais, desenvolvimento de aspirações
acadêmicas, autoeficácia, expectativas e realização no universo profissional. Esses
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elementos preparam o indivíduo em desenvolvimento para o ingresso em uma gama de


ocupações e predizem o estabelecimento de aspirações vocacionais, autoeficácia
profissional, expectativas, planejamento e realização (Bryant, Zyonkovic, & Reynolds,
2006).
No que se refere às primeiras decisões de carreira, tomadas ainda durante a
adolescência, Bohoslavsky (1977/2007) já apontava que estas se sustentam no interjogo
estabelecido entre a dimensão individual e a dimensão social, abrangendo influências do
grupo familiar, dos grupos de pares, da formação educacional e, mais amplamente, do
contexto econômico, político, social e cultural. Circunscrito a esse contexto, o momento
em que se realizam as primeiras escolhas profissionais coincide com o conturbado
período da adolescência, época de significativas transformações fisiológicas, psíquicas
e, também, no que se refere à formação das representações de papeis sociais. Nesse
cenário instável o jovem defronta-se com o complexo desafio de projetar-se em um
futuro, realizando “escolhas” – com maiores ou menores graus de liberdade –
consonantes com o projeto de um “vir a ser” (Bohoslavsky, 1977/2007). Esse longo
processo, segundo o autor, é influenciado pelas relações interpessoais, especialmente
pelos pais, tendo em vista que a família é o grupo de “participação e de referência
fundamental, e é por isso que os valores desse grupo constituem bases significativas na
orientação do adolescente, quer a família atue como grupo positivo de referência, quer
opere como grupo negativo” (p. 33).
As dinâmicas familiares, portanto, repercutem na identidade ocupacional de seus
membros (Almeida & Melo-Silva, 2011). Assim, destacam-se as ressignificações que a
família vem sofrendo nas últimas décadas, incluindo a vinculação entre pais e filhos
(Pratta & Santos, 2007; Romanelli, 2003b). A partir da década de 1970, sobretudo nas
camadas médias e altas, o ingresso da mulher no mercado do trabalho, o movimento
feminista, os avanços da Medicina, Psicologia e Psicanálise, entre outros fatores,
contribuíram significativamente para reavaliações nos padrões de conduta das famílias
(Romanelli, 2003b). Contudo, independentemente das mudanças ocorridas nas
representações de papéis e funções assumidas dentro dos grupos familiares, a família
continua exercendo seu papel nos processos do desenvolvimento e na orientação dos
filhos rumo à vida adulta (Romanelli, 2003).
Considerar os fatores contextuais da pessoa, a começar pelo meio familiar,
representou o início de uma significativa evolução para o campo de estudos e
intervenção da Psicologia da Orientação e Desenvolvimento de Carreira. Esse campo,
paulatinamente, ampliou suas perspectivas para além das dimensões individuais de
influência na construção de projetos de carreira (Almeida, 2014; Whiston & Keller,
2004). A influência da família, sobretudo dos pais, sobre a trajetória de carreira de seus
membros resulta da combinação de múltiplas variáveis familiares, tanto estruturais
como processuais (Emmanuelle, 2009). O papel da família tem sido abordado desde a
década de 1950, como indicam os dois maiores estudos de revisão da literatura da área
(Schulenberg, Vondracek, & Crouter, 1984; Whiston & Keller, 2004). No que concerne
às influências sobre a psicodinâmica dos processos iniciais da escolha da carreira,
Bohoslavsky (1977/2007) já havia alertado para as possíveis interferências das
problemáticas vocacionais dos pais, incluindo satisfações e frustrações, sobre a tomada
de decisão profissional dos filhos. No contexto brasileiro, estudo de Fiamengue e
Whitaker (2003) salientou o papel crucial da mãe quando o jovem reflete sobre a
profissão, observando relações entre a profissionalização materna e a escolhas de
carreira dos filhos.
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Com o olhar voltado para as vinculações familiares, no cenário internacional


destacam-se pesquisas que analisaram a influência do apego parental e do processo de
separação psicológica pais-filhos sobre o desenvolvimento vocacional (Blustein,
Walbridge, Friedlander, & Palladino, 1991; Emmanuelle, 2009; O’Brien, Friedman,
Tipton, & Linn, 2000).
Como o processo de tomada de decisão começa bem cedo, já na infância, as
decisões dos adolescentes são modeladas por influências familiares. Estudo romeno
(Paloú & Drobotb, 2010) mostrou que, ao contrário do pai, a mãe envolve-se mais
intensamente quando se trata de incentivar planos relacionados à carreira, por meio de
ações, mas também fornecendo apoio psicossocial. Pais carinhosos, tolerantes,
estimuladores e orientados para o desempenho costumam se envolver mais no
desenvolvimento vocacional de seus filhos. Adolescentes com apego seguro são mais
abertos à orientação e exploração vocacional.
Emmanuelle (2009) investigou o papel mediador da indecisão profissional dos
adolescentes sobre a relação entre apego dos pais e a autoestima dos filhos. A autora
corroborou a relação entre a dificuldade em tomar decisões sobre a futura carreira
acadêmica e profissional, a autoestima e o apego aos pais. Os resultados mostraram que,
quanto mais adolescentes se sentiam ligados à mãe e ao pai, mais fácil tomavam suas
decisões de carreira. Foi confirmada a hipótese do papel mediador exercido pela
indecisão de carreira que, no entanto, depende da combinação entre o gênero dos pais e
dos adolescentes.
Em relação à influência do gênero sobre o papel desempenhado pelos familiares,
Otto (2000) identificou que os pais são as figuras mais requisitadas pelos filhos em seus
planos de carreira, assim como também indicaram as pesquisas que se referem aos pais
como os maiores favorecedores do desenvolvimento vocacional dos filhos (Carvalho &
Taveira, 2009; Young et al., 2001).
Assinalando a recente tendência a uma participação mais ativa dos pais junto à
construção dos projetos de carreira de seus filhos, ganharam destaque os estudos de
Richard Young, que ressaltam a importância do comportamento intencional e dirigido
de carreira, entendendo que a sequência de etapas de desenvolvimento de uma profissão
é construída na ação conjunta indivíduo-meio (Young & Valach, 2008). Por essa ótica,
a família é o grande agente que pode oportunizar aos filhos situações de exploração de
carreira e investimentos vocacionais. Nessa relação de parceria que pode ser
estabelecida entre as duas gerações, a comunicação entre pais e filhos ganha
significativa relevância, configurando-se, como apontam Young, Friesen e Borycki
(1994), como o grande sustentáculo dos projetos vocacionais dos filhos. Esses autores
destacam que grupos familiares que apresentam posturas mais ativas junto aos filhos,
mesclando situações de apoio e desafio, contribuem significativamente para a
construção dos projetos de carreira dos jovens, sobretudo nas fases de escolha e tomadas
de decisão (Young et al., 2005).
As contribuições desse modo de posicionar a família como agente facilitador de
construção da carreira têm instigado tanto investigações como programas interventivos
com o grupo familiar. É o que se observa em pesquisas realizadas em Portugal, que
focalizam intervenções com os pais (Pinto & Soares, 2002; Soares & Pinto, 2004), cujos
resultados apontam, em linhas gerais, que os pais portugueses se reconhecem como
agentes necessários no desenvolvimento de carreira de seus filhos. No cenário
brasileiro, as investigações mostram maior investimento dos pais nas carreiras dos
filhos e, provavelmente, maior dependência dos filhos de classe média e alta, sobretudo
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os que buscam realizar uma carreira universitária (Almeida, & Melo-Silva, 2011;
Duarte, Melo-Silva, Santos, & Bonfim, 2005; Romanelli, 2003a; Whitaker, 1997).
Em relação à influência parental sobre o desenvolvimento da carreira dos filhos,
a literatura tem apontado para diferentes direções, o que justifica a realização de novos
estudos. Por exemplo, pesquisa realizada na Indonésia com jovens do ensino médio
apontou que as expectativas parentais estão associadas direta e indiretamente com as
aspirações de carreira dos adolescentes, pela via da autoeficácia e dos efeitos das
expectativas dos próprios adolescentes (Sawitri, Creed, & Zimmer-Gemback, 2014).
Por outro lado, estudo conduzido em Taiwan, com o objetivo de verificar a influência
parental para escolha do curso superior, encontrou que a maioria dos estudantes parecia
ter escolhido sua graduação sem muita influência dos pais (Lin, 2011).
Os estudos que relacionam a escolha de carreira pelos adolescentes com o
investimento parental apontam consistentemente para as diferenças de gênero, ou seja,
filhos do gênero masculino recebem mais investimento por parte dos pais em suas
escolhas profissionais. Hopcroft (2005) investigou a hipótese de Trivers-Willard,
segundo a qual existe uma interação entre o status individual e o investimento na prole,
de modo que os indivíduos de elevado status investiriam mais nos meninos e os de
baixo status alocaram mais seus recursos nas meninas, que alcançariam maior nível
educacional. Os dados apoiaram a hipótese, usando anos de educação alcançados como
uma medida indireta do investimento dos pais. Canec e Okten (2010) mostraram que o
rendimento do pai e seu status ocupacional são fatores que influenciam o filho na
escolha de uma carreira de maior risco em termos de remuneração, como negócios, em
comparação com ocupações menos arriscadas, como educação ou saúde.
Outros estudos têm reiterado a relevância do relacionamento com os pais e do
suporte familiar (Tziner, Oren, & Caduri, 2014; Tziner, Loberman, Dekel, & Sharoni,
2012). Desse modo, é possível afirmar que o desenvolvimento vocacional dos
adolescentes inclui a interface com os processos parentais e ocorre dentro de um
contexto familiar influenciado por uma miríade de fatores, que incluem papéis
familiares, estrutura familiar, disponibilidade de capital financeiro, humano e social,
relação que a família estabelece com o trabalho e as condições sociais e históricas que
afetam a família (Bryant et al., 2006). Esses fatores familiares contextuais modulam a
compreensão que se tem atualmente acerca da influência do investimento parental no
desenvolvimento vocacional dos adolescentes.
Ao investigar a relação entre estilos parentais, instabilidade de metas e indecisão
vocacional em uma amostra de adolescentes do terceiro ano do ensino médio, o estudo
de Magalhães, Alvarenga e Teixeira (2012) mostra que uma combinação adequada de
apoio afetivo e exigências quanto ao cumprimento de normas, com a característica do
estilo parental autoritativo, parecem favorecer o desenvolvimento dos filhos. No que
tange ao desenvolvimento da carreira, a construção da identidade ocupacional está
diretamente vinculada à identidade pessoal. Nesse sentido, a família tem um papel
fundamental nas relações que o indivíduo estabelece ao longo da vida (Medeiros,
Gonçalves-dos-Santos, & Melo-Silva, 2013). Esses resultados são congruentes com o
que apontam Moraes e Lima (2014), que destacam que os pais se preocupam com a
escolha e o futuro profissional dos filhos, estabelecendo diálogo para tentar fornecer
informações sobre as profissões e a continuidade dos estudos. As autoras destacam,
ainda, que os pais manifestam o desejo de que os filhos busquem sua satisfação pessoal
e profissional.

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No cenário brasileiro, os pais de camadas sociais médias continuam apoiando


seus filhos até ou além da realização do Ensino Superior. Como destacam Oliveira e
Dias (2013), a participação parental no desenvolvimento da carreira universitária dos
filhos se inicia precocemente, já na infância, é contínua e se desenrola em três níveis de
influência: diálogo, apoio emocional e material, e influência como modelo. Ao
investigarem o fenômeno da evasão do curso universitário e sua relação com o contexto
familiar, Bardagi e Hutz (2008) apontam para a importância da participação parental
não apenas no processo de escolha de carreira dos filhos, como também a necessidade
de maior aproximação e comunicação familiar durante o desenrolar da graduação.
No que concerne ao envolvimento dos familiares no atendimento dos filhos em
processos de orientação profissional, em diferentes cenários e contextos, estudos
anteriores apontaram que há lacunas de investigações sobre a intervenção direta com os
pais, tanto no contexto estrangeiro (Blustein et al., 1991; Gonçalves & Coimbra, 2007;
Palmer & Cochran, 1988; Pinto & Soares, 2002; Soares & Pinto, 2004), como no
cenário brasileiro (Bardagi & Hutz, 2006, 2008; Duarte et al., 2005; Melo-Silva, Silva,
& Venturini, 2005). No Brasil, avaliando processos de intervenção na perspectiva de
adolescentes atendidos em um Serviço de Orientação Profissional entre os anos de 1994
e 2000, Almeida e Melo-Silva (2006) identificaram que a maioria dos participantes
considerava que a influência familiar era um assunto que deveria ser abordado ao longo
das sessões de atendimento em orientação profissional.
Também avaliando o serviço, no mesmo período, mas na perspectiva dos pais
dos adolescentes, Loosli (2003) concluiu que os pais apresentavam dificuldades para
dialogar com seus filhos adolescentes sobre as questões concernentes à escolha da
carreira, devido ao temor de influenciá-los negativamente. Essas pesquisas inspiraram o
estudo de Duarte et al. (2005), que observaram o quanto as expectativas parentais
configuram-se como uma realidade que interfere no processo da escolha profissional e
que, portanto, necessita ser abordada em programas de intervenção. Ainda nesse
contexto de pesquisas, Melo-Silva et al. (2005) identificaram a existência de um
substancial hiato na comunicação entre pais e filhos sobre o processo da escolha,
destacando que, se há diálogo e um consistente posicionamento parental, o jovem sente-
se mais amparado e seguro em suas decisões de carreira. Considerando o exposto, este
estudo teve por objetivo apresentar um programa de intervenção grupal com pais de
adolescentes em processo da escolha da carreira.

MÉTODO
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

A intervenção grupal foi embasada no Esquema Conceitual Referencial


Operativo (ECRO) de Pichon-Rivière (1998a, 1998b), que possibilita compreender a
relação dialética entre homem/mulher e mundo. Nessa relação, sempre conflitiva, a
resolução dos conflitos torna-se sempre a nova questão a ser enfrentada. A fim de
abordar o homem/mulher em suas condições de existência, o autor utilizou-se do grupo,
sistema básico de interação vincular, como unidade de investigação. Considerando que
o modelo original da situação de interação é a família, Pichon-Rivière argumenta que as
vinculações familiares se sustentam sempre como um sistema. Assim, ao surgirem mal-
entendidos na comunicação que perturbam o equilíbrio do sistema, o grupo se sente
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desafiado e se propõe à tarefa de resolução do problema, explicitando as situações


latentes (inconscientes). Essa reação de mudança proporciona aprendizagem e
desenvolvimento do grupo. O grupo operativo, portanto, fundamenta-se na concepção
de aprendizagem como capacidade de ação transformadora da realidade.
No presente estudo, o referencial pichoniano foi escolhido para dar sustentação
teórico-metodológica à proposta de intervenção desenvolvida. Essa escolha se deve à
sua pertinência e proximidade epistemológica com a concepção que considera a
dimensão relacional do desenvolvimento de carreira. O uso da técnica operativa
objetivou não apenas compreender como os pais percebiam e se posicionavam junto a
seus filhos que estavam em processo de escolha de carreira, mas também favorecer, nos
membros do grupo, atitudes de escuta/diálogo e o enfrentamento das resistências que
permeiam as situações grupais, promovendo assim o confronto entre ideias cristalizadas
e o conhecimento adquirido no contato com o outro (mundo), o que se traduz em
processos de aprendizagem.

PARTICIPANTES

Participaram do estudo 22 integrantes do Grupo de Orientação de Pais (15 mulheres e


sete homens), pais de adolescentes atendidos simultaneamente pelo Serviço de
Orientação Profissional de uma universidade pública do interior do Estado de São
Paulo. Foram convidados para a atividade os pais ou responsáveis legais de todos os
adolescentes inscritos no período, sendo que aceitaram e participaram aqueles que
mostraram interesse e tinham disponibilidade de horário.

PROCEDIMENTO

COLETA DE DADOS

O Grupo de Orientação de Pais foi desenvolvido concomitantemente ao


atendimento de seus filhos em grupos independentes e coordenados por outros
profissionais. A intervenção ocorreu em oito sessões grupais de uma hora e meia, com
frequência semanal, em sala reservada. Todos os integrantes participaram do início ao
fim do processo. Ao final do processo grupal, realizou-se uma sessão individual de,
aproximadamente, 50 minutos, na qual foram processadas as percepções de cada
participante sobre a experiência grupal.
Foram analisados, neste estudo, os dados das sessões grupais, uma vez que o
foco é colocado no grupo operativo. O grupo foi coordenado pela primeira autora,
psicóloga, e supervisionado pela segunda autora, ambas com especialização em
coordenação de grupos operativos. Para o registro dos dados houve a colaboração de
três observadores silentes, que estiveram presentes em todas as sessões, com o propósito
de incrementar a fidedignidade dos relatos e, assim, garantir maior confiabilidade na
coleta das informações.
O processo grupal foi norteado por quatro eixos temáticos: (1) expectativas, (2)
comunicação, (3) atividades e (4) fatores que influenciam a escolha da profissão. Ainda
que a intervenção tenha sido planejada com eixos temáticos definidos, foi levado em
consideração o conteúdo emergente grupal de cada encontro para o planejamento da
sessão subsequente, conforme referencial de grupo operativo (Pichon-Rivière, 1998a,
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1998b). Maiores detalhes sobre o modelo de intervenção adotado com pais podem ser
obtidos em Almeida (2009) e sobre os desdobramentos da intervenção podem ser
consultados no estudo longitudinal de Almeida (2014).
Cada sessão grupal era estruturada em dois momentos: (a) definição do
disparador temático, relacionado com o eixo da sessão, mediante o uso de técnicas para
estimular o debate dos eixos temáticos; e (b) grupo operativo, centrado na tarefa
proposta pela coordenadora. A tarefa explícita dos pais era refletir sobre o processo da
escolha profissional e o papel que exerciam na construção da carreira dos filhos. A
tarefa implícita era a superação de obstáculos (resistências) da comunicação, próprios da
interação grupal e, concomitantemente, a expressão de ideias, sentimentos e
posicionamentos que mantinham junto aos filhos.
Nessa dinâmica, o emergente grupal caracteriza-se por ser resultado do interjogo
de forças contraditórias atuantes: conteúdos manifestos (explícitos) versus conteúdos
latentes (implícitos). Para Pichon-Rivière (1998a), todo conteúdo manifesto na
comunicação (situação explícita) prevê a existência do conteúdo latente (situação
implícita). A finalidade do grupo operativo é a aprendizagem, ou seja, preparar as
condições favoráveis que possibilitem o salto qualitativo do grupo na tomada de
consciência de seus sentimentos e papéis assumidos e adjudicados.
Para fazer fluir a comunicação dos pais no grupo, a intervenção foi baseada na
análise do conteúdo emergente e nas relações do grupo com a tarefa: pensar sobre a
construção da carreira dos filhos. Assim, foram observados, no processo grupal, os
Vetores do Cone Invertido, com o objetivo de examinar como o grupo abordava a tarefa
de superar suas resistências, transformando a situação implícita em explícita. São cinco
os vetores definidos por Pichon-Riviére (1998a): (a) afiliação (primeiro nível de
identificação entre os membros) e pertença (identificação profunda, com adoção de
normas que regem o grupo); (b) cooperação (capacidade de colaborar com papéis
complementares na execução da tarefa); (c) pertinência (o centrar-se na tarefa, vencendo
resistências à mudança); (d) comunicação (relação entre os membros e com o
coordenador); (d) aprendizagem (integração das informações veiculadas pelos
membros, provocando modificações qualitativas); (e) Tele (disposição do grupo para
com a tarefa, dos membros entre si e com o coordenador).
As sessões foram estruturadas de acordo com as estratégias de ação descritas em
estudo anterior (Almeida, 2009).
1. Expectativas dos pais. Os conteúdos abordados na primeira sessão foram:
expectativas em relação ao Grupo de Orientação de Pai, em relação ao futuro
profissional dos filhos e quanto ao papel que desempenham junto ao processo de
escolha profissional dos filhos. Na segunda sessão foram abordados os conteúdos:
expectativas que os pais nutriam, durante suas adolescências, quanto ao seu futuro
profissional, e expectativas que imaginam que os filhos têm para o seu futuro
profissional.
2. Fatores que influenciam a escolha da profissão dos filhos. Os conteúdos
tratados na terceira e quarta sessões foram: influência dos pais no processo da escolha
profissional dos filhos e outros fatores de influência no processo da escolha de carreira.
3. Comunicação. Os conteúdos abordados na quinta e sexta sessões foram:
comunicação entre pais e filhos adolescentes na atualidade e diálogo em casa com os
filhos.

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4. Atividades. No sétimo encontro foram tratadas as atividades que os pais


realizam com os filhos ou incentivam que realizem, e os meios que disponibilizam a fim
de facilitar aos filhos o processo da escolha profissional.
Na sessão de encerramento (oitavo encontro), os conteúdos abordados referiram-
se ao significado do Grupo de Orientação de Pais e a síntese do processo grupal.
Posteriormente, foi realizada uma entrevista individual, com foco na individualidade da
experiência de cada participante.

ANÁLISE DE DADOS

A descrição do procedimento de intervenção desenvolvido com pais (mãe e pai)


privilegiou as percepções e o envolvimento parental nos processos das escolhas iniciais
de carreira dos filhos, adolescentes matriculados no Ensino Médio. A intervenção foi
analisada com base na análise de conteúdos expressos, a partir dos quatro eixos
temáticos que nortearam as estratégias de ação, descritos na seção anterior.
A análise temática do material obtido foi elaborada segundo as etapas descritas
por Bardin (2011): (1) Leitura exaustiva e flutuante dos registros produzidos pelos
observadores, para imersão e familiarização da pesquisadora e da orientadora com os
dados obtidos; (2) Geração de códigos iniciais a partir dos conteúdos de interesse
inicialmente identificados; (3) Revisão e agrupamento dos códigos para formação dos
temas; (4) Revisão e nomeação dos temas, com eventuais criações de subtemas; (5)
Inferência e interpretação dos dados, buscando uma descrição analítica pertinente à
questão investigada.
Ainda segundo Bardin (2011), as categorias podem ser criadas a priori ou a
posteriori, isto é, a partir apenas do referencial teórico adotado ou após a coleta de
dados. No presente estudo, o título e a definição da categoria foram estabelecidos com
base nos relatos dos integrantes do grupo. Tanto a etapa de codificação e criação de
temas, como a posterior inferência e interpretação dos dados para descrição analítica,
foram feitas por dois juízes, à luz da literatura pertinente ao assunto. A análise
sistematização final dos dados foi feita pela primeira autora, após verificar a
concordância entre os juízes. Esse procedimento também foi utilizado para definir as
narrativas que seriam mais representativas dos conteúdos em cada categoria resultante
dos temas prevalentes.
A análise de conteúdo gerou quatro categorias: (a) expectativas quanto ao futuro
profissional dos filhos, (b) o posicionamento frente ao processo de escolha da carreira
dos filhos, (c) o processo de separação pais-filhos, e (d) as contribuições do Grupo de
Orientação de Pais. Esclarece-se que as narrativas não são identificadas por nomes
fictícios por serem consideradas, a partir do referencial da técnica operativa, como
movimentos do acontecer grupal, com o foco na tarefa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
EXPECTATIVAS QUANTO AO FUTURO PROFISSIONAL DOS FILHOS

A importância que os pais atribuíam à formação educacional como garantia de


um futuro promissor para os filhos foi a preocupação mais fortemente evidenciada no
grupo. Assim, diante de tantos investimentos parentais, os pais esperavam possibilitar a
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obtenção de resultados mais positivos por parte de seus filhos adolescentes. Na situação
grupal, nas primeiras sessões, as cobranças do cotidiano familiar foram gradualmente
explicitadas, à medida que os participantes se adaptavam à tarefa do grupo operativo
(Pichon-Rivière, 1998a): “Cobro sim que tem que estudar, ele tem que ir bem, afinal
sempre pagamos uma boa escola para ele”.
O processo de escolha da carreira era percebido pelos pais como de extrema
importância, pois a decisão tomada pelos filhos era imprescindível para o sucesso da
empreitada. Ficou claro que o ingresso na universidade era assumido como um projeto
familiar. Assim, tanto os participantes incentivaram que os filhos realizassem o
processo de Orientação Profissional, como eles próprios, em sua condição de pais,
decidiram participar do Grupo de Orientação de Pais, objeto deste estudo. É o que
revela a narrativa: “que o grupo ajude a diminuir nossa ansiedade e que vocês nos deem
uma luz”.
Observa-se que o posicionamento dos participantes e suas expectativas quanto à
formação educacional corroboram o que salienta Romanelli (2003a) ao apontar que os
pais investem cada vez mais para que os filhos adquiram o capital escolar, visando à
realização do projeto familiar. “Eu digo pra ela: ‘O que eu quero é que você estude. Eu
e seu pai não fizemos faculdade. Demos essa oportunidade a você”. Os participantes
com formação universitária demonstravam expectativas de que os filhos alcançassem
patamares superiores aos atingidos pela família, não bastando a formação de nível
superior, mas o ingresso em universidades renomadas.
Os discursos no grupo comunicavam o desejo de munirem seus filhos de
recursos que os destacassem futuramente no mercado de trabalho. Os participantes
creditam enorme prestígio social às instituições de nível superior de caráter público:
“Não me preocupa a profissão e sim o nível da faculdade, pois considero que uma boa
faculdade abre portas no sentido profissional. Considero a USP ou as faculdades
federais importantes pelo nível de profissionais que lecionam nelas.”
O grupo de pais não reconhecia, nos primeiros encontros, as suas próprias
exigências em relação aos filhos: “Esses cursinhos só querem saber do resultado do
vestibular, não estão preocupados com seu filho. Para eles importa a porcentagem de
aprovados”. No entanto, à medida que se sentiam pertencendo ao grupo (Vetores
Afiliação e Pertença, segundo Pichon-Rivière, 1998a), tornavam-se mais confiantes para
se expressarem, foram surgindo as possibilidades para os confrontos de percepções
entre participantes. Assim, contradições inerentes ao campo grupal operativo (Pichon-
Rivière, 1998a, 1998b) puderam emergir, como expressam as verbalizações: “Eu falo
pra ela: ‘Tua única responsabilidade é estudar e passar’. Mas o fato do filho não querer
estudar, será que não é de tanta cobrança? Minha filha fala: ‘Pelo amor de Deus, mãe,
dá um tempo pra mim!’. Gente, eu penso, vocês acham certo essa cobrança?”
O grupo operava buscando desvendar o que permanecia latente: a importância
conferida à formação educacional e aos investimentos parentais eram consoantes com
expectativas muito idealizadas que os pais mantinham para o futuro dos filhos. As
narrativas dos participantes refletiam as crenças parentais a respeito do que idealizavam
que uma carreira poderia proporcionar. Observou-se que não só o adolescente fantasiava
a existência de uma profissão que o realizasse plenamente, como apontam Almeida e
Melo-Silva (2006), mas que essa ideologia parece estar enraizada no grupo familiar,
sobretudo nas camadas sociais médias e altas.
No grupo de pais, a preocupação frente à indecisão profissional dos filhos
relacionava-se com a ameaça e risco de malogro que o conflito do adolescente oferecia
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ao futuro idealizado pela família. Ao não se definirem quanto à carreira, o projeto


familiar mantinha-se obstaculizado e as dúvidas dos filhos alimentavam o receio dos
pais de uma possível escolha “errada”. O mito da “decisão correta” perseverava na
comunicação grupal quando os participantes afirmavam não cobrarem a escolha de uma
determinada carreira, mas nutriam a expectativa da escolha “certa”. Essa ideia
favoreceu que os pais remetessem às suas problemáticas vocacionais e, a partir disso,
pudessem explicitar o desejo de que os filhos não se deparassem com percalços
enfrentados pelos próprios pais em suas trajetórias laborais. Essa preocupação aparece
claramente expressa na fala: “que encontre o mais rápido possível, com menos tropeços,
o seu rumo profissional”.
O grupo de pais idealizava que o complexo processo da escolha da carreira
ocorresse de modo linear, sem percalços, conflitos, perdas ou revisões, desconsiderando
o cenário contemporâneo de instabilidade do mundo do trabalho. Nessa situação de
escolha, muitas vezes os pais se mostram ansiosos, pois revivem seus próprios dilemas
vocacionais (Almeida & Melo-Silva, 2011; Dias, 1995), além de alimentarem a fantasia
de que os filhos possam um dia reparar os “tropeços” dos pais no passado. Foi por meio
do confronto das percepções no campo operativo que as interações grupais puderam
germinar reflexões, incentivando a revisão de ideias cristalizadas e estereotipadas: “[...]
a escolha ‘certa’ é muito relativa. Em determinado momento da vida, talvez as escolhas
estavam certas”.
À medida que o grupo avançava qualitativamente em direção aos conteúdos
latentes, como é esperado da tarefa implícita do grupo operativo (Pichon-Rivière,
1998a), eram possibilitadas condições para que os pais reconhecessem suas projeções:
“[...] eu estava pensando, somos sim extremamente cobradores. Quantos de nós fazemos
algo que não foi o que estudou? No fundo, o risco é grande sim: conciliar a realização
profissional com o prazer. A gente sabe que talvez isso não seja possível. [...] me dei
conta, hoje, aqui, do quanto eu cobro dele”. Desse modo, o grupo de pais aprendia, já no
segundo encontro, a pensar operativamente (Pichon-Rivière, 1998a), abrindo-se para o
exame de suas contradições internas, podendo rever ambiguidades e ambivalências.
Afinal, indagações e mudanças fazem parte da natureza humana, constatação retratada
na narrativa: “eu não segui minha carreira, mas foi de uma riqueza! Ela [filha] vai dar
um jeito de sobreviver, sim. Os pais têm que dar força para eles, claro! Mas nós não
vamos isentá-los de sofrer.”
A possibilidade de revisarem suas próprias escolhas e a disposição de refletir
realisticamente sobre seus próprios percursos de carreira favoreceram o reconhecimento
de que imprimiam aos filhos resoluções mágicas de questões inerentes à construção da
trajetória de uma carreira. Observam-se, nesse aspecto, os Vetores Cooperação e
Comunicação (Pichon-Rivière, 1998a).

O POSICIONAMENTO FRENTE AO PROCESSO DE ESCOLHA DA CARREIRA DOS FILHOS

O grupo de pais orbitava em torno da preocupação quanto à imaturidade dos


filhos para escolher uma profissão. Quando revelaram o desejo de postergarem o
momento da decisão, mostravam que desconfiavam dos recursos psíquicos dos filhos
para suportarem dúvidas e lidarem com conflitos pertinentes ao desenvolvimento de
carreira. Com o avanço da operatividade, porém, o grupo explicitou as ambiguidades de
posicionamentos mantidos, pois inconscientemente reforçavam a imaturidade dos filhos
realizando por eles tarefas que estes já eram capazes de desempenhar. Os pais, além de
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não incentivarem que os adolescentes realizassem a exploração sobre as carreiras, pouco


dialogavam a respeito dos interesses vocacionais de seus filhos ou sobre o mundo do
trabalho. Esse resultado corrobora estudos anteriores (Bardagi & Hutz, 2008; Soares &
Pinto, 2004). Portanto, os pais retardavam que seus filhos aprendessem a se
responsabilizar por compromissos e tarefas próprias da etapa do desenvolvimento na
qual se encontravam.
No grupo, os pais explicitavam ainda estratégias e pactos a fim de manterem os
adolescentes próximos de seu controle e sob uma relação de dependência. “Se ele não
sair de casa, o que vai ser economizado vai para ele depois. E, também, quase nenhum
amigo saiu. Quando ele terminar, eu que vou abrir a porta pra ele.” Outro relato obtido:
“meu filho mais velho quis fazer faculdade em São Paulo e eu não concordei. Negociei
com ele, porque achava ele muito novo pra sair, ele tinha só 17 anos na época.” O
implícito, no grupo, mostrava que os pais não instigavam a assunção de
responsabilidades por parte dos adolescentes porque eles próprios não se sentiam
preparados para lidar com o processo de desenvolvimento dos filhos e com o processo
de individuação-separação, caso eles fossem fazer faculdade em outra cidade. “Se ela
fala: ‘estou pensando em fazer vestibular em outra cidade’, eu já começo a chorar”.
Outra mãe declara, emocionada: “a minha angústia é que minha filha já está com a mala
pronta porque não quer fazer faculdade aqui [...], quer ser independente de qualquer
jeito”.
Desse modo, o grupo de pais começava a se aproximar dos dilemas subjacentes
a todo processo de escolha na adolescência: o caminho rumo ao universo adulto e o
consequente processo de separação pais-filhos. Essa explicitação promoveu mudanças
no grupo, favorecendo que posturas divergentes aflorassem no campo operativo. “E até
que ponto isso é positivo? [...] Por que não fazer com que eles fiquem aqui? Com a
gente perto, a gente está vendo tudo...” Com parte do grupo procurando manter a tutela
e dependência dos filhos, alguns consideravam que os pais é que deveriam decidir sobre
o momento “certo” para os adolescentes saírem de casa. Observa-se, nesse movimento
do grupo, desenvolverem-se os Vetores Cooperação e Comunicação (Pichon-Rivière,
1998a).
Apreende-se, pelas narrativas, a ambivalência de sentimentos que se refletia em
posicionamentos ambíguos em relação ao processo de escolha da carreira dos filhos e,
mais amplamente, ao desenvolvimento dos adolescentes rumo à vida adulta. A confusão
quanto ao papel que poderiam exercer como pais evidenciava-se nas posturas
extremadas: ora se conferiam o onipotente estatuto de “super-pais”, ao decidirem e
realizarem “tudo” pelos filhos; ora se eximiam de assumir responsabilidades parentais
que favoreceriam o amadurecimento dos adolescentes. Nesse contexto de
posicionamentos extremados, observou-se que os participantes atribuíam conotação
negativa à “influência parental na carreira”, acreditando que não poderiam participar da
construção da carreira profissional de seus filhos, o que corrobora dados encontrados
em estudos anteriores (Loosli, 2003; Yokoyama, 2009), que identificaram que, para os
pais, “influenciar” é o mesmo que dizer ao jovem qual profissão seguir, não
compreendendo que a influência é introjetada sutilmente ao longo do desenvolvimento.
Whitaker (1997) assinala que, desde a década de 1990, os pais estão alertados
por um “psicologismo” disseminado pela mídia a não influenciar os filhos e a não se
expressarem abertamente sobre o que pensam. Essa postura, na contramão do que os
filhos esperam dos pais, contribui para criar situações implícitas e ambíguas que acabam
por confundir ainda mais o jovem, dificultando seu posicionamento diante das
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expectativas parentais. Do mesmo modo, os participantes do grupo se equivocavam ao


considerar que dialogar com seus filhos sobre os interesses profissionais seria
equivalente a pressionar uma decisão ou sugerir uma opção. “Se pressiona de um jeito,
não é correto. De outro, também não. Se ficar sem pressionar, também não é. O que
fazer, então? [...] e se a gente fala: ‘Faz isso’ e depois não dar certo? É duro falar,
porque a gente não tem segurança de que aquilo é o melhor pra ele.”
O grupo revelava o temor de que os filhos acatassem uma sugestão ou
expectativa e, futuramente, fossem responsabilizados por um possível “fracasso” ou
frustração, como evidencia o discurso: “Acho que ninguém vai pôr a culpa na gente
depois, né?”. Entretanto, o grupo de pais, que trabalhava operativamente, já havia
desenvolvido nesse momento (meio do processo) maior capacidade para reconhecer
atitudes e sentimentos, como se observa na explicitação: “na verdade ninguém quer ter o
ônus do fracasso do filho, talvez por isso às vezes cometemos os extremos. Fica aquele
medo: ‘Nossa, dei minha opinião, influenciei demais, e hoje ele é um cara frustrado”. A
escolha profissional é um processo complexo, na medida em que põe em questão a
imagem que o indivíduo tem de si mesmo e de quem projeta ser no futuro (Savickas,
2002). Assim, é compreensível que os pais sintam dificuldades em apoiar seus filhos
nesse momento decisivo e que, em muitas situações, não saibam realmente o que fazer e
o que lhes dizer.
Mostrava-se bastante difícil, todavia, que os pais assumam sua influência, isto é,
o papel de favorecedores da construção da carreira, posicionando-se com diálogos não
impositivos sobre a questão profissional. Essa conduta parental implicaria no
reconhecimento e na valorização do ingresso dos filhos no universo adulto e, também,
na necessidade de se estabelecer um novo tipo de relação com os jovens. Em suas
tentativas para repensarem atitudes e condutas, os participantes revelavam confusão
quanto ao exercício do papel parental. É o que se apreende nos discursos em que
propunham relações horizontais, imaginando que assim evitariam enfrentamentos e
afastamentos. O grupo, entretanto, ao se ouvir, pôde conversar sobre as reações dos
filhos frente à situação, como ilustram as narrativas: “Mas meu filho me falou assim:
‘Mãe, isso não vou falar para você, isso é para eu falar pro meu amigo, você
entendeu?’” e “É, meu filho falou outro dia: ‘Mãe, tem muita coisa que você não sabe e
não vai saber’”.
Desse modo, o grupo, com maior plasticidade, ensaiava olhar por outras
perspectivas, quando então passou a questionar sobre os limites na relação com os
filhos: como exercer o papel parental sem invasão e autoritarismo e, por outro lado, sem
distanciamento ou permissividade? Tais reflexões promoveram a dolorosa explicitação
do latente: “A verdade é que a gente fica: ‘Puxa, tô perdendo o controle’. É difícil
suportar não saber o que está na cabeça deles”.
Outras possibilidades de compreensão emergem nas narrativas: “Minha filha tem
me desafiado em tudo. Percebo que ela já quer uma conversa em outro pé. Ela quer
discutir, não quer que eu fale como é ou não é. Vejo ela florescendo, entrando num
mundo de adultos.” Outro participante diz: “o meu filho gosta que participa sim, quer
estar junto, não quer que o pai fale: ‘Faz o quiser, não estou nem aí’ [...].” Assim,
observa-se a riqueza do contato com o novo, isto é, com pais em posições menos
radicais ou cristalizadas, que questionam a rigidez do grupo, fomentando a revisão das
estereotipias que obstruem os processos de pensar (Pichon-Rivière, 1998a), ao
refletirem que os filhos necessitavam de pais presentes que compreendessem e
acompanhassem suas novas necessidades. Observa-se, assim, a emergência do Vetor
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Pertinência com a tarefa: refletir sobre o futuro e a carreira dos filhos (Pichon-Rivière,
1998a).

O PROCESSO DE SEPARAÇÃO PAIS-FILHOS

A situação implícita que, paulatinamente, tornou-se explícita no grupo devido à


ruptura das resistências no campo operativo, dizia respeito ao processo da separação
emocional entre pais e filhos adolescentes, como revelam certas explicitações como as
descritas a seguir.
“– Na verdade, não só eles que estão perdendo, nós estamos perdendo também.
Estamos vendo o lado deles, mas e o nosso? Estamos perdendo um elo. É difícil
aceitar que eles têm capacidade de agir. [...] estou aqui mais pra mim do que pra
ele.
– É. Caiu uma ‘fichona’ aqui. Eu vou perdê-lo.
– [...] não quero nem pensar, imagina, você entra no quarto dela, e cadê?
– Nossa, pra mim é como uma sensação de abandono.
– É difícil tolerar essas mudanças, essas perdas. Éramos pais-heróis e, de
repente, não seremos mais.”

Sabe-se que a condição para o jovem se tornar autônomo depende da qualidade


do vínculo parental, bem como da capacidade dos pais de tolerarem e estimularem a
separação psicológica (Bohoslavsky, 1977/2007). Era sofrido sentir tais emoções,
porém, por outro lado, era uma experiência necessária para que pudessem ocorrer
transformações genuínas.
Aspectos divergentes no grupo promoviam confrontos de opiniões, mas também,
impulsionavam mudanças, incitando revisões das estereotipias que já se mostravam
obsoletas naquele momento operativo: “Gente, mas peraí, ninguém aqui morou fora de
casa, não? Eu achei excepcional. Eu estudei fora e torço pra minha filha ir, sim.”
Observam-se, nessa etapa do grupo, os Vetores Cooperação e Comunicação (Pichon-
Rivière, 1998a).
Um momento especialmente marcante no grupo foi quando os pais escreveram a
“carta aos filhos”, uma técnica narrativa desenvolvida pela equipe e já utilizada com os
jovens, nesse caso intitulada “carta aos pais” (Manaia, Medeiros, Gonçalves-dos Santos,
& Melo-Silva, 2013). A realização dessa técnica possibilitou a quebra de resistências e a
explicitação de sentimentos frente ao processo de separação. A leitura das cartas revelou
a confiança que vinha sendo construída a cada encontro, conforme explicitado nos
relatos escritos: “[...] esse momento é o primeiro grande de sua vida de escolha”; “[...]
me pego pesquisando para buscar uma certeza, talvez porque, para mim, foi muito
difícil também naquela época. [...] Mas você é outra pessoa [...]. Sei que existe uma
divisão mãe e filho [...]. Este é um momento importante para que você conquiste sua
liberdade e é assim que tem que ser, apesar da grande dificuldade [...]”.
Os participantes do grupo emocionavam-se e se acolhiam uns aos outros em suas
diferenças. Contrapontos, próprios da operatividade, surgiam por meio de posturas
antagônicas, que quando acolhidas também permitiam transformações, como se
identifica na narrativa: “[...] estou me sentindo tão diferente das pessoas aqui, eu não
tenho esse medo deles saírem de casa. Existe uma tranquilidade tanto da minha parte
quanto da deles. Sempre ficaram sozinhos. Isso deu uma maturidade grande pra eles”.
Saltos qualitativos como esse favoreciam insights. Um dos insights mais expressivos foi
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quando os pais interpretaram que os “obstáculos” criados para a saída dos filhos de casa
funcionam para postergar a separação. Ao mesmo tempo, explicitavam o quanto
duvidavam de seus recursos para lidarem com a progressiva independência dos filhos.
As narrativas contam sobre esse reconhecimento. “A gente subestima muito os filhos,
mas por insegurança que é nossa. Percebi que não estou preparada para soltar e está na
hora de soltar eles pro mundo. É que ele vai sair dos meus braços, então fico colocando
obstáculos pra ele sair. Sei que ele vai se virar, mas eu quero adiar porque sei que a hora
que ele sair por aquela porta, não vai mais voltar. Vai voltar pra me ver, mas não voltar
pra mim [...]”.
É interessante confrontar esses relatos com a reflexão proposta por Bohoslavsky
(1977/2007), quando aponta que o momento em que o jovem escolhe a profissão
representa a aceitação de seu crescimento, o que desestrutura momentaneamente a
dinâmica familiar. Por outro lado, a partir dessa tomada de posição o filho pode assumir
o papel reparador, ao proporcionar uma nova configuração para a família, possibilitando
uma nova relação entre pais e filhos, envolvendo outras necessidades, acordos e novos
projetos. No grupo, a explicitação do latente fez emergir no campo operativo o medo de
que os pais se tornassem desnecessários, obsoletos, algo que seguramente os remetia ao
processo do envelhecimento. “A gente se dedica tanto que, quando eles saírem de casa,
pensamos ‘Vamos fazer o que agora?’. Mas é assim, né? Vamos cuidar de nós, agora!”
Assim, paulatinamente, o clima de ameaça de perda, presente no campo grupal,
não se mostrava mais tão desagregador. Ao contrário, favorecia movimentos de
integração, de busca de saídas. A respeito da posição depressiva, Pichon-Rivière
(1998a) ressalta o seu caráter de oportunizar a elaboração das ambivalências e,
consequentemente, a integração do grupo, abrandando resistências e possibilitando a
construção da identidade grupal. Essa condição adquirida é base para os insights, o que
proporciona a aprendizagem no campo operativo, como ilustrado na comunicação:
“Achei que esse grupo era pra ajudar meu filho a encontrar um caminho e agora acho
que acabei encontrando um caminho meu”. Observa-se, nessa etapa, a ação do Vetor
Tele (Pichon-Rivière, 1998a).

AS CONTRIBUIÇÕES DO GRUPO DE ORIENTAÇÃO DE PAIS

Os participantes, durante as sessões, revelaram não só mudanças de postura no


campo operativo, mas também mostravam mudanças em relação às percepções e
atitudes junto aos filhos no cotidiano familiar: “Depois que saí daqui, cheguei em casa e
abracei meu filho. A gente conversou muito, e disse a ele que eu não tinha todas as
respostas. Foi um alívio”. Os participantes explicitavam que passaram a participar mais
ativamente do processo vivido pelos filhos, com menos receio de se comprometerem e,
por outro lado, sem sentirem a necessidade de apelar para posturas impositivas.
Ensaiavam reflexões mais amadurecidas com os adolescentes, assumindo um papel
mais continente. “Pensei em não fazer pressão, não ficar perguntando: ‘E aí, já
escolheu?’. É diferente propor uma conversa perguntando: “Posso ajudá-lo, filho?’.
Falar com ele que a vida dá muitas voltas e que as escolhas não são definitivas.”
Observa-se, nessa etapa do processo grupal, a ativação do Vetor Comunicação (Pichon-
Rivière, 1998a).
O grupo, de modo mais realístico, reconhecia suas limitações. Os participantes
assumiram que, apesar de adultos, não poderiam saber tudo, nem mesmo o que era
melhor para seus filhos. “Notei que cobramos tanto dos filhos. Mas percebi o quanto
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também a gente se cobra de nós mesmos enquanto pais. Eu vim pelos meus filhos e a
mais favorecida fui eu.” Com expectativas menos idealizadas sobre o exercício de seus
papéis parentais e até mesmo sobre o que esperar dos filhos, os pais mostravam
posicionamentos menos radicais. Refletiam mais sobre as individualidades de cada um:
“[...] percebi que cada filho é diferente e também nós com eles. Serviu para um
crescimento meu, e no fundo, me aproximei mais do meu filho [...]”. A percepção
dessas situações é fundamental, uma vez que os pais desempenham um papel
importante, pois são percebidos pelos filhos como principal fonte de apoio (Teixeira,
Dias, Wottrich, & Oliveira, 2008).
O enfretamento das resistências, o compartilhamento de sentimentos e atitudes
semelhantes (que, em outros momentos, eram tão divergentes), possibilitaram novas
percepções aos membros do grupo. A construção do conhecimento, para Pichon-Rivière
(1998a), não é um ato individual, mas uma produção social. É o que se apreende do
discurso que revelou o quanto os participantes puderam se beneficiar da operatividade
grupal: “[...] na história de cada um, a gente se via, eu pensava: ‘Puxa, posso fazer isso
diferente ou aquilo’. Sabe, ficou parecendo que o problema não era só meu, é nosso
[...]”.
Assim, o grupo avançou rumo à construção de pontes para o diálogo, de
possibilidades e co-responsabilidades na comunicação com os filhos, favorecendo que
refletissem sobre como o homem tem estabelecido suas relações na atualidade e os
reflexos dessa postura no funcionamento familiar. Nota-se, a seguir, o reconhecimento
do desamparo dos filhos frente ao não posicionamento dos pais: “Acho que os filhos
estão muito perdidos, porque os pais nunca têm tempo nem interesse de dialogar com
eles. Pensei muito sobre isso aqui.” Observa-se um salto na espiral de aprendizagem dos
participantes do grupo. Há uma reconstrução em marcha dos significados do papel de
pai e mãe. Com entusiasmo, os participantes compartilhavam com o grupo o que
vinham aprendendo ao longo do seu desenvolvimento, ponderando sobre suas perdas e
seus ganhos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo mostrou que o Grupo de Orientação de Pais, desenvolvido com base
no referencial de Pichon-Rivière (1998a, 1998b), favoreceu aos participantes a
construção de um campo operativo, no qual em cada sessão os participantes adquiriram
condições de enfrentar resistências na comunicação, tornando explícitas as situações
latentes (no grupo e no cotidiano familiar). Sabe-se que, ao se constituir um grupo, cada
membro participa com seu próprio esquema de referência, de acordo com sua história de
vida. Por meio do Vetor Afiliação, observavam-se pais reunidos com o mesmo objetivo,
porém desconhecendo o que era trabalhar em grupo operativo. À medida que se
identificavam, entraram em contato com expectativas e ansiedades semelhantes, pouco a
pouco o Vetor Pertença foi sendo favorecido e o grupo progressivamente foi
construindo seu próprio ECRO, condição básica para a comunicação operativa.
No desenrolar desse processo, os participantes puderam adquirir a confiança
necessária para cooperarem entre si (Vetor Cooperação) na tarefa de abordar as
situações com as quais se deparavam, sobretudo as divergências e contradições. O Vetor
Pertinência gradual à tarefa proposta ao grupo (conversarem sobre a vivência com os
filhos em processo de escolha da carreira) permitiu que se aproximassem dos conteúdos
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implícitos presentes no campo grupal. No entanto, a abordagem da situação latente


ainda se mostrava dolorosa, revelando sentimentos que até então não eram conscientes,
nem possíveis de serem enfrentados. O acolhimento desses conteúdos mais difíceis de
serem integrados foi fundamental para o fortalecimento da confiança e para a
apropriação do campo operativo como espaço de compartilhamento, ressignificação e
construção de novas maneiras de pensar e agir, o que possibilitou ao grupo rever
estereotipias de crenças e condutas cristalizadas (Pichon-Rivière, 1998a).
Com o avanço do processo de intervenção, os pais adquiriram condições de
explicitar o quanto esperavam e cobravam, diretamente ou não, que seus filhos
correspondessem aos projetos sonhados pelo grupo familiar. O modelo de intervenção
propiciou um espaço para que explicitassem conflitos e contradições presentes em suas
posturas junto aos filhos no cotidiano familiar, podendo identificar a ambivalência de
sentimentos frente ao processo de desenvolvimento dos adolescentes, em direção ao
universo adulto. No processo grupal os participantes puderam explicitar estratégias para
controlar a autonomia dos filhos, tomando consciência de seus desejos latentes de
obstaculizar o processo de separação psicológica.
Pôde-se observar que alguns dos participantes apresentavam dificuldades para
assumir a influência exercida sobre o processo da escolha da carreira de seus filhos e,
consequentemente, para desempenhar claramente o papel de figuras de referência. Tal
dificuldade de posicionamento caracterizava-se por posturas extremadas, que oscilavam
entre tomar decisões pelos filhos ou realizar tarefas que estes já seriam capazes de
exercer ou, por outro lado, eximir-se de diálogos sobre carreira ou de se lançarem em
explorações vocacionais com os filhos. Os pais demonstravam, assim, ter medo de se
comprometerem e depois serem responsabilizados por uma decisão equivocada. Tais
atitudes extremas relacionavam-se, sobretudo, com a ambivalência de sentimentos
despertada, pois ao assumirem um papel participativo, instigando o desenvolvimento de
carreira e possibilitando situações facilitadoras da tomada de decisão, favoreceriam que
os filhos adquirissem condições para assumindo seus próprios projetos de carreira,
desenvolvendo-se rumo à independência em relação aos pais e à vida adulta.
A explicitação do latente no grupo, graças à técnica operativa, favoreceu nos
participantes ampliação da consciência e reconhecimento dos sentimentos conflituosos
em jogo, abrindo caminho para a assunção de papéis mais amadurecidos junto aos
filhos. Por meio da avaliação dos registros das sessões foram identificadas mudanças
nas atitudes e percepções dos pais em relação ao processo da escolha profissional e um
comprometimento maior com os projetos de carreira de seus filhos. Esse
posicionamento parental mais ativo tem sido valorizado por estudos da área, que
focalizam a importância da família como agente favorecedor na construção das
trajetórias de carreira (Carvalho & Taveira, 2010; Gonçalves & Coimbra, 2007; Soares
& Pinto, 2004; Young & Valach, 2008; Young et al, 1994, 2001, 2005). Considera-se
pertinente esta temática justamente por se considerar o prolongamento da dependência
(instrumental e afetiva) dos jovens em relação ao núcleo familiar, por vezes associado
ao aumento da convivência familiar, fenômeno que vem sendo reconhecido atualmente
como Geração Canguru, postergando assim a assunção de responsabilidades e
compromissos da vida adulta (Henriques, Jablonski, & Féres-Carneiro, 2004; Silveira &
Wagner, 2006).
O estudo, portanto, contribui com o conhecimento nos domínios da Orientação
Vocacional/Profissional e Desenvolvimento de Carreira, ao descrever uma estratégia de
intervenção junto aos pais para facilitação da transição de seus filhos, no que concerne
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ao processo da escolha profissional na adolescência. Destaca-se, no entanto, a


necessidade de ampliação tanto de intervenções quanto de investigações sob diferentes
perspectivas de análise. A compreensão sobre como o posicionamento ativo dos pais
poderia influenciar positivamente as trajetórias de carreira, não só no que se refere às
primeiras escolhas profissionais na adolescência, mas para além dessa etapa, incluindo a
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Sobre os autores:

Fabiana Hilário de Almeida é doutora em Psicologia pela Faculdade de Filosofia,


Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
Lucy Leal Melo-Silva é docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo.
Manoel Antônio dos Santos é docente do Programa de Pós-graduação em Psicologia
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São
Paulo.

E-mail de correspondência: lucileal@ffclrp.usp.br

Recebido: 19/01/2016
1ª revisão: 04/09/2016
Aceite: 20/10/2016

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