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INSTITUTO PORTUGUÊS DE PSICOLOGIA e outras CIÊNCIAS

Psicofármacos e
Sexualidade
Dupla Pós-Graduação
Terapia de Casal/Terapia Sexual

24/10/2020
Ana Maria Moreira
(Médica Psiquiatra)

INSPSIC
Objectivos
▪ Analisar e sistematizar a informação da literatura sobre a etiologia, factores de risco e
abordagem da disfunção sexual.
▪ Analisar a alta prevalência da doença mental em Portugal, o uso de psicofármacos, uma
necessidade com possíveis efeitos negativos sobre a sexualidade.
▪ Valorizar outros fatores de risco a contribuir para prejudicar a função sexual .
▪ Analisar as perturbações psíquicas como fator de risco major de disfunção sexual.
▪ Enumerar possíveis estratégias de diminuir a repercussão negativa sobre a função sexual
induzida por psicofármacos.

INSPSIC
Epidemiologia
▪ Países da OCDE:
◦ 5% da População ativa tem uma doença mental grave
◦ 15% tem uma doença mental comum.
▪ Os problemas neuropsiquiátricos são a segunda causa de perda de DALY ( nº de anos perdidos por
problemas de saúde, incapacidade ou morte prematura).
▪ Uma em duas pessoa, terá uma doença mental ao longo da vida com consequências negativas no
emprego produtividade.
▪ Em 2014 o Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses registou 1074 mortes por suicídio - o
dobro das mortes por acidente rodoviário.
▪ Prevalência da Saúde Mental em Portugal - 22,9 %; Irlanda - 23,1% ; EUA - 26,4%.
Acesso e qualidade nos cuidados de saúde mental - Setembro 2015.

INSPSIC
Epidemiologia
▪ A importância do sexo na qualidade de vida:
◦ 85.6% dos homens consideraram que o sexo era muito importante ou mesmo fundamental.
◦ 65.8% das mulheres consideraram que o sexo era muito importante ou mesmo fundamental.
◦ 24.7% dos homens não procura o seu médico por vergonha.
◦ 9.9% das mulheres disseram que nunca exporiam um problema de disfunção sexual (DS) ao seu médico por
vergonha de discutir o assunto.
◦ 85.2% das mulheres considera que o médico deveria inquirir sobre o assunto.
◦ 81.7% dos homens considera que o médico deveria inquirir sobre possíveis dificuldades sexuais.
◦ Apenas 27.5% declarou já ter sido questionada pelo médico sobre a sua vida sexual.

Vendeira PS etal. Episex-PT: Epidemiologia das disfunções sexuais masculinas em Portugal. Isex Cadernos de Sexologia, n. 4, p. 15-22, june 2011.

INSPSIC
Etiologia e Fatores de risco
▪ Idade - maior prevalência de Disfunção Sexual mas menor sofrimento associado.
▪ Fadiga e Stress.
▪ Menopausa - se menopausa cirúrgica.
▪ Doença psiquiátrica:
◦ Depressão, Ansiedade, Psicoses
▪ Doença neurológica:
◦ Esclerose Múltipla, Parkinson, Epilepsia.

Shifren JL, Monz BU, Russo PA, Segreti A, Johannes CB. Sexual problems and distress in United States women: prevalence and correlates.
ObstetGynecol. 2008;112(5):970.

INSPSIC
Doença mental e sexualidade
▪ Depressão e ansiedade:
◦ Para a maioria das pessoas a expressão da sexualidade é maior quando se sentem bem.
◦ Presença de pensamentos negativos sobre si próprias e baixa auto-estima associadas a menos- valia
sexual.
◦ Tumescência peniana noturna , 40% diminuída em homens deprimidos, melhora com o tratamento
farmacológico ou psicoterapêutico (diminuição do tónus excitatório central).
◦ Mulheres com história de depressão recorrente com menor prazer nos relacionamentos afetivo sexuais
◦ Alteração biológica básica na resposta sexual?
◦ Dificuldades recorrentes nos relacionamentos resultado da depressão recorrente?
Roose 1982

INSPSIC
Doença mental e sexualidade
▪ Diminuição do desejo e depressão
◦ Depressão provoca diminuição do desejo:
◦ 40% nos homens.

◦ 50 % nas mulheres (Podendo variar até 70 %).

▪ Disfunção erétil em 23% dos homens com perturbação afetiva.


▪ Maior perda de interesse sexual nas pessoas com depressão sem tratamento farmacológico.
▪ Diminuição do desejo - Risco para depressão.
▪ Fator etiopatogénico comum?
Mathew&Weinman 1982

INSPSIC
Doença mental e sexualidade
▪ Função sexual é parte integral da vida dos doentes.
▪ Omissão frequente na avaliação médica (apesar da elevada prevalência de problemas sexuais
na população em geral), por medicina geral, neurologia, psiquiatria.
▪ Avaliação de rotina:
◦ Avaliar função sexual basal.
◦ Comportamento sexual e fármacos.
◦ Maior efeito negativo sobre sexualidade, dos fármacos para tratamento da HTA, Doença crónica ou
associações medicamentosas.

▪ Função sexual deve ser avaliada antes de iniciar psicofármacos.

INSPSIC
Psicofármacos e sexualidade
▪ A função sexual afeta a qualidade de vida do doente e afeta a adesão à medicação.
▪ A disfunção sexual é uma das principais causas de abandono do tratamento.
▪ As dificuldades sexuais, causam deterioração na qualidade de vida.
▪ A prevalência das disfunções sexuais varia conforme é relatada de forma espontânea ou por
anamnese estruturada/questionários.
MontejoAl, et al, J.Clin. Psychiatry 2001

INSPSIC
Mudar estilos de vida
▪ Mudanças nos estilo vida/medicação demonstraram melhoria na disfunção erétil:
◦ Perda de peso.
◦ Actividade física.
◦ Paragem do abuso da nicotina.
◦ Regulação dos níveis de testosterona.
◦ Controlo da Diabetes.
◦ Substituição da medicação para Hipertensão, Depressão, Hipertrofia benigna da próstata.

H.Porst Erectile Dysfunction, ESSM manual of Sexual Medicine 2015

INSPSIC
Avaliação Psico-sexual
▪ Casal… ▪ Reportório erótico.
▪ Comunicação. ▪ Preconceitos e falsas crenças.
▪ Funcionamento conjugal/lar. ▪ Educação sexual.
▪ Intensidade do afecto. ▪ Hábitos de vida.
▪ Espaço. ▪ Avaliação física (doenças e tratamentos).
▪ Tempo.

INSPSIC
Avaliação psiquiátrica e sexológica
estandardizada
▪ Avaliação psiquiátrica e sexológica estandardizada
▪ Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI) - (Lecrubier et al 1999)
▪ Entrevista de Avaliação de Disfunções Sexuais (SDI) - (Sbrocco et al. 1992)
◦ Versão Feminina
◦ Versão Masculina

▪ Índice de Funcionamento Sexual Feminino (FSFI) - (Rosen et al. 2000)


▪ Índice Internacional de Função Eréctil (IIEF) - (Rosen et al. 1997)

INSPSIC
Dimensão biológica da sexualidade
▪ Sistema límbico:
◦ Hipocampo:
◦ Memória antiga

◦ Amígdala:
◦ Medo, recompensa, funções sociais

◦ Hipotálamo:
◦ Regula SNA através da libertação de hormonas

◦ Núcleo talâmico anterior

◦ Cortex límbico

INSPSIC
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Fisiologia da resposta sexual
▪ Núcleo para-ventricular
◦ Integrador do sistema neuro-vegetativo e
endócrino
◦ Neurónios oxitocinérgico:
◦ Oxitocina.

▪ Ereção, contração, cópula.


▪ Relações duradouras.
▪ Em relação com intensidade do orgasmo.

INSPSIC
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Vias dopaminérgicas

INSPSIC
Vias Serotoninérgicas

INSPSIC
Fisiologia da resposta sexual
Vias dopaminérgicas Vias serotoninérgicas

Funções:
Funções:
• Humor
• Gratificação, motivação
• Sono
• Prazer, euforia
• Apetite
• Função motora
• Temperatura corporal
• Reforço intracerebral
• Percepção da dor

INSPSIC
Modelo de Basson - Resposta Sexual Feminina - 2000

INSPSIC
Mecanismo e fisiologia da ereção

INSPSIC
A resposta sexual humana
▪ Desejo:
◦ Níveis de testosterona no homem.
◦ Possivelmente aumentado pela dopamina que medeia a excitação sexual a nível do hipotálamo.
◦ Possivelmente diminuído pela prolactina.
◦ Sedação pode provocar desinteresse sexual.
▪ Excitação:
◦ Níveis de testosterona no homem e estrogénio na mulher.
◦ Estimulação central de dopamina, balanço colinérgico/adrenérgico, agonista alfa 1 periférico e óxido nítrico.
◦ Diabetes e HTA podem ter um efeito negativo.
▪ Orgasmo:
◦ Pode estar relacionada com a oxitocina.
◦ Serotonina e bloqueio alfa-1 podem inibir o orgasmo.

INSPSIC
Perturbações sexuais
▪ Perturbações sexuais primárias.
▪ Perturbações sexuais secundárias:
◦ Doença Física.
◦ Doença Psiquiátrica.
◦ Abuso de substâncias.
◦ Fármacos.

INSPSIC
Avaliação e Tratamento

INSPSIC
Terapia Sexual - Modelo PLISSIT (Annon, 1974)

INSPSIC
Terapia Sexual - Modelo PLISSIT (Annon,
1974)
▪ Permissão (P):
◦ O técnico permite ao indivíduo ou casal desculpabilizar o seu comportamento, enriquecer o seu
reportório erótico e sentir-se normal (ambos estão bem...)
▪ Informação Limitada (LI):
◦ Mas adequada, torna possível ao indivíduo ou casal uma melhor compreensão da função sexual, da sua
variabilidade e dos múltiplos factores que ao longo da vida a podem influenciar-idade, doença,
medicamentos, drogas, fadiga, etc.
▪ Sugestões Específicas (SS):
◦ Pode tornar a prática sexual mais eficaz, proporcionando mudanças comportamentais específicas que
reduzam os factores que estão a inibir a expressão natural da sexualidade.

INSPSIC
Terapêuticas Sexuais
▪ Psicoterapias:
◦ PLISSIT (centrada na TCC), T. casal.
▪ Fármacos:
◦ ADT, ISRS, IMAO, Dapoxetina (Priligy), Alprostadil ( Caverget e Vitaros), Sildenafil (Viagra), Vardenafil (Levitra) Tadalafil (Cialis) Avanafil (Spedra)
Hormonas ( testosterona …)
▪ Meios Mecânicos:
◦ Dispositivos de vácuo c/ anéis constritores.
◦ Shockwaves
▪ Cirurgia:
◦ Arterial/venosa/revascularização/plastias...
▪ Próteses:
◦ Rígidas, semi-rígidas, articuladas, insufláveis e hidráulicas…
▪ RMA:
◦ Várias metodologias-FIV, GIFT, Electro-ejaculação.

INSPSIC
Terapêuticas Sexuais

INSPSIC
Viagra Femenino
▪ Flibanserina Segundo resultados de testes com o medicamento no site do FDA- Food and Drug
Administration (órgão responsável pela liberação de alimentos e medicamentos nos EUA), o
índice de mulheres que obtiveram melhora na vida sexual após o consumo do Addyi foi
considerado baixo em comparação com as reações adversas: tontura, náusea, cansaço,
sonolência.
▪ Vyleesi (bremelanotide) Food and Drug Administration (FDA) — aprovou a 21 de junho uma
injeção que promete melhorar o desejo sexual das mulheres na pré-menopausa ou daquelas
que sofrem da síndrome do desejo sexual hipoativo (DSH). e deve ser aplicado, pelo menos, 45
minutos antes da relação sexual.

INSPSIC
Iatrogenia inevitável
▪ Os efeitos negativos da medicação farmacológica são muitas vezes inevitáveis
▪ É da nossa responsabilidade:
◦ Informar sobre os possíveis efeitos secundários.
◦ Informar (quando ocorrem) sobre potenciais soluções.
◦ Tratar ou lidar com os efeitos laterais.

▪ SDM Shared Decision Making:


◦ Com informação adequada o doente ou o casal podem decidir qual a melhor opção terapêutica.
◦ Doentes informados lidam e toleram melhor as consequências do tratamento.

INSPSIC
Antipsicóticos e
disfunção sexual

INSPSIC
Efeitos da Psicose
▪ Psicopatologia sexual da própria doença.
▪ Consequências sexuais do curso da doença.
▪ Consequências sexuais do tratamento.
▪ A disfunção sexual é referida no primeiro episódio de psicose (Bitter I, 2005).
▪ Homem - Diminuição do desejo, incapacidade de excitação e ejaculação precoce (Macdonald S,
2003).
▪ Mulher - diminuição do desejo (Smith SM, 2003).
▪ Doentes com psicose têm mais dificuldade em desenvolver boas relações interpessoais, em alguns
doentes o tratamento pode melhorar o interesse e a actividade sexual (Covington et al.,2000).

INSPSIC
Doença mental e Problemática sexual
Esquizofrenia (Psicose)
▪ Estudos sobre o impacto da doença na sexualidade é limitado.
▪ Vários aspetos a considerar:
◦ Idade de início.
◦ Personalidade pré-mórbida.
◦ Atingimento do desenvolvimento sexual “normal”?
◦ Como se manifesta a sexualidade durante episódio psicótico?
◦ Quais os efeitos do tratamento na função sexual?
◦ Como lidam os doentes com a sexualidade nas suas vidas quando em tratamento e remissão?

INSPSIC
Psicopatologia sexual
▪ 30% dos homens com alucinações envolvendo os genitais
▪ 27% com delírios acerca da identidade de género
▪ 20% acerca da preferência de género.
▪ Percentagens idênticas para as mulheres – 36%, 25% e 24%
▪ A manutenção da actividade sexual na presença de delírios ou padrões de comportamento
bizarros pode conduzir à agressão sexual.

INSPSIC
Antipsicóticos
▪ Antipsicóticos usados no tratamento da Esquizofrenia, provocam disfunção sexual em 60-96%
dos doentes:
◦ Perturbação do desejo, disfunção erétil, perturbações da ejeculação e do orgasmo

▪ A maior parte dos antipsicóticos provocam o aumento dos níveis de prolactina séricos,
causando diminuição do desejo e das fantasias sexuais.
▪ Muitos antipsicóticos provocam aumento de peso e secura de boca.

INSPSIC
Efeitos dos fármacos antipsicóticos
▪ A disfunção sexual é um efeito secundário de todos os antipsicóticos na proporção em que estes
provocam aumento da prolactina.
◦ Risperidona > Haloperidol > Olanzapina > Paliperidona > Quetiapina > Ziprasidona > Aripiprazol > Cariprazina >
Lurasidona
▪ Bloqueio dos receptores dopaminérgicos D2 com aumento dos níveis de prolactina > diminuição do
desejo da excitação e do orgasmo.
◦ Risperidona, Olanzapina e Haloperidol.
▪ Disfunção Erétil e ejaculatória nos homens, amenorreia, irregularidades menstruais, diminuição da
lubrificação vaginal na mulher, diminuição do desejo e do orgasmo em ambos os sexos.
▪ Ação anticolinérgica provoca perturbação da excitação.
▪ Fármacos que bloqueiam os receptores periféricos α1 provocam disfunção de ereção e ejaculação.

INSPSIC
Antipsicóticos

INSPSIC
Antipsicóticos

INSPSIC
Tratamento
▪ Excluir outras patologias orgânicas:
◦ DCV, Diabetes, Dislipidemia…

▪ Redução de dose até interrupção (apenas se possível).


▪ Mudar para outro fármaco menos propenso a causar Disfunção Sexual.
▪ Antídotos:
◦ Ciproeptadina, Amantadina, Bupropion, Buspirona, Betanecol, Ioimbina.
◦ Testoterona em Patch.
◦ Flibanserina
◦ Sildenafil, Vardenafil, Tadalafil, Avanafil e Alprostadil
▪ Psicoterapia.

INSPSIC
Antidepressivos e
disfunção sexual

INSPSIC
Efeitos da depressão
▪ Depressão e antidepressivos podem causar DS (desejo, excitação, orgasmo)
▪ A perturbação de desejo sexual hipoactivo é superior nos doentes com depressão que na
população geral ( 50 vs,24%). (Angst J, 1998)
▪ 40 a 50% dos deprimidos referem diminuição do desejo e da excitação no mês anterior ao
diagnóstico, apenas 15 a 20% referem perturbação do orgasmo. (Kennedy SH,1999).
▪ A prevalência e gravidade da DS aumenta com a gravidade da depressão (Cheng JY, 2007).
▪ Deprimidos com DS, em tratamento com antidepressivo, alguns melhoram a DS, outros não
têm qualquer melhoria e outros agravam a DS (Werneke U, 2006).

INSPSIC
Efeitos dos antidepressivos e Disfunção
Sexual
▪ Sedação.
▪ Alterações hormonais.
▪ Perturbação no balanço colinérgico/adrenérgico.
▪ Antagonismo alfa-adrenérgico periférico.
▪ Inibição do óxido nítrico.
▪ Aumento da neurotransmissão serotoninérgica 5HT2, com redução dopaminergica.
▪ Na maioria das vezes a DS é dose dependente.
▪ Susceptibilidade geneticamente determinada.
▪ Todos os efeitos são reversíveis.
▪ Nem todos os efeitos secundários dos antidepressivos são indesejáveis.

INSPSIC
Antidepressivos

INSPSIC
Antidepressivos
▪ Atraso no orgasmo com a clomipramina, o dobro que para outros triciclicos.
▪ Os ISRS e Venlafaxina foram os responsáveis pela maior incidência de disfunção sexual relacionadas
com o tratamento da depressão numa proporção de 26% para a Fluvoxamina e Escitalopram para
80% para a Sertralina e Venlafaxina.
▪ A Duloxetina, Imipramina, mostraram relação com DS superior ao placebo
▪ Não foram observadas diferenças significativas com o placebo com a Agomelatina, Moclobemida,
Amineptina, Nefazodona, Bupropiom, Mirtazapina.
▪ Continua pouco claro se as diferenças tão acentuadas se devem a determinadas características
destes fármacos ou outras razões.
Meta-análise recente (2009) Serretti , J. Clin. Psycopharmacology

INSPSIC
Tratamento
▪ Depois de excluir outras causa associadas : A etiologia da DS é sempre multifatorial
◦ HTA, Dislipidemia, Diabetes, Tabagismo, dificuldades no relacionamento de casal.
◦ Aconselhamento sexual
◦ Alteração de estilo de vida
◦ Terapia psicossexual-individual, casal, familiar.
▪ Esperar remissão espontânea - 20% aos 6 meses.
▪ Redução de dose, com metade da dose - 75% melhoram.
▪ Períodos de interrupção do fármaco (férias de fim de semana, em 50% há melhoria, excepto com fluoxetina, risco de sintomas de
descontinuação).
▪ Redução de dose, 2 dias por semana, melhora o orgasmo e erecção, sem risco de descontinuação.
▪ Mudar para outro antidepressivo que se pensa não prejudicar a sexualidade :
Mirtazapina, Moclobemida, Mianserina, Reboxetina, Maprotilina, Trazodona, Agomelatina, Vortioxetina
▪ Utilização de medicação adjuvante.

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Tratamento
▪ Bupropiom:
◦ Risco mínimo de DS, também usado como (antídoto) em DS induzida por ISRS.

▪ Agomelatina:
◦ Agonista MT1 e MT2 e antagonista 5-HT2c não parece causar efeitos secundários sexuais.

▪ Sildenafil:
◦ Foi mais eficaz que o placebo a melhorar a DE no homem e a função sexual em mulheres a tomar ISRS.
(Numberg HG, 2008).
◦ Sildenafil, Tadalafil, ou Bupropiom:
◦ Podem melhorar a disfunção sexual causada por antidepressivos. (Rudkin L, Cochrane Dadabase syst rev 2004).

INSPSIC
Níveis de evidência
▪ Dados clínicos
▪ Nível de evidencia
▪ Substituição por Bupropion ou Mirtazapina é útil - B.
▪ Potenciação com Amantadina, Bupropion e Buspirona não é melhor que o placebo – B.
▪ Potenciação com outros agentes pode ser benéfica – D.
▪ A interrupção durante os fins de semana é útil em casos de anorgasmia – D.
▪ Sildenafil é útil na disfunção eréctil secundária a ISRS – B.
◦ B - Estudos controlados randomizados.
◦ D - Estudos abertos, não randomizados, series de casos e casos clínicos isolados.

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Mania e sexualidade
▪ Também existe (tal como na Depressão) dificuldade em correlacionar entre a sexualidade e a patologia
▪ Embora a hiperssexualidade seja o mais comum, a diminuição do interesse sexual pode também ocorrer
(Clayton, Segraves)
▪ Será a hiperssexualidade consequência da energia e bem estar geral ou das alterações bioquímicas próprias da
doença ?
▪ Mania:
◦ Interesse a atividade sexual aumentada.
◦ Comportamento sexual desinibido.
◦ Reflexo do aumento geral da energia e bem-estar?
◦ Base bioquímica com paralelo sexual?
◦ Mas nem sempre…!!!

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Estabilizadores do Humor
▪ Lítio:
◦ Não foram observadas DS significativas com o seu uso excepto quando associado a Clonazepam.
(Ghadirian,A.M., 1992).

▪ Anticonvulsivantes:
◦ Foram reportados alguns casos de DS associados ao uso de anticonvulsivantes, incluindo Valproato e
particularmente Carbamazepina.
◦ Lamotrigina, foram relatados casos de melhoria na FS , mais provavelmente atribuída a diminuição dos
efeitos com anticonvulsivantes usados anteriormente. Não parece ter efeito negativo sobre a função
sexual

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Ansiolíticos
▪ Alprazolam:
◦ Referida a ocorrência de DS quando associado com Lítio.
▪ Clonazepam:
◦ Maior incidência de DS que com Alprazolam.
▪ Diazepam, Clonazepam, Alprazolam:
◦ Provocam diminuição do desejo e atraso no orgasmo.
La Torre, 2014

◦ Sem alteração significativa antes e depois do tratamento.


Marquez, 2011

▪ Buspirona:
◦ Agonista 5HT1A . Não altera ou até pode melhorar a FS. No entanto os estudos não são concordantes, não
revelou eficácia superior ao placebo.

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Conclusão
▪ A nossa intervenção pode provocar danos colaterais sobre a sexualidade.
▪ Efeitos negativos sobre a sexualidade podem provocar má adesão à terapêutica ou mesmo
abandono da mesma.
▪ É nossa responsabilidade lidar com estes factos.
▪ É da nossa responsabilidade perguntar/interrogar sobre os mesmos (porque os doentes têm
medo de os expôr).
▪ Fármacos com menor influência negativa sobre a sexualidade, devem ser a primeira opção nos
doentes com vida sexual ativa e satisfatória.
▪ Afinal há solução para quase todas as perturbações sexuais!!!

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Casos clínicos

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Vinheta clinica - 1
▪ Mulher de 41 anos, funcionária pública
◦ Tem dois filhos, 20 e 11 anos.
◦ 2º casamento, 1 filho de cada casamento.
◦ Motivo consulta: depressão com adinamia e lentificação psicomotora.
▪ Medicada
◦ Fluoxetina 20 mg/dia.
▪ Dois meses após início de tratamento, melhorou a adinamia e a função motora, mas apresenta- se
mais irritável com perturbação do sono e o desejo sexual diminuiu francamente.
▪ Mais informação:
◦ Pai em conflito com o filho mais velho, má relação do casal, acusações mútuas.
▪ O que propõe?

INSPSIC
Vinheta clinica - 2
▪ Homem, 21 anos, solteiro estudante de enfermagem
◦ Internado através do SU : elação do humor + sintomas psicóticos e ausência de consciência de doença.
◦ Diagnóstico à data da alta: Perturbação bipolar.

▪ Medicação proposta:
◦ Lítio + Risperidona.
▪ Acompanhamento em ambulatório:
◦ Abandono progressivo da terapêutica.
▪ Motivo alegado:
◦ Diminuição do desejo, disfunção erétil + critica parcial para a sua doença.
▪ O que fazer?

INSPSIC
Vinheta clinica - 3
▪ Homem, casado 32 anos, agente comercial.
◦ Frequenta pela primeira vez consulta de psiquiatria por quadro depressivo e ataques de pânico que o
impossibilitou temporariamente para a sua atividade profissional e prejudicou a relação do casal.

▪ Medicado em consulta de psiquiatria:


◦ Paroxetina 20mg + Benziodiazepina (Alprazolam 2 mg/dia).

▪ Terceira consulta, passados 3 meses, francamente melhor. Muito bem disposto, sem crises de
pânico, embora se queixe de discreta diminuição do desejo mas não se importa pois a esposa
está muito satisfeita e a relação do casal melhorou francamente.
▪ Como explicar?

INSPSIC
Vinheta clinica - 4
▪ Homem de 32 anos, casado, sem filhos, empresário.
◦ Frequenta a consulta por quadro depressivo, e ansioso.

▪ Medicado com:
◦ Escitalopram (Cipralex) 15 mg e Diazepam 5 mg em sos.

▪ Consulta posterior:
◦ Melhoria do humor e maior satisfação geral.

▪ Como explicar?
▪ “Estranho … por falar disso… eu que até era rápido agora demoro mais tempo”.

INSPSIC
Vinheta clinica - 5
▪ Mulher, 44 anos, casada, cozinheira, dois filhos.
◦ Frequenta a consulta por quadro depressivo com adinamia, pernas pesadas, grandes
preocupações com peso, com obesidade que dificulta o seu trabalho, HTA medicada com
diurético, Diabetes tipo 2, medicada.
▪ Medicada com:
◦ Fluoxetina 40 mg por dia.
▪ Consulta posterior:
◦ Queixa de ausência completa de desejo sexual “nem permito que o meu marido se aproxime
de mim”
▪ Que fazer?

INSPSIC
Bibliografia
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