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Radiografia de tórax
Ricardo Guerrini

Introdução cunstanciais da realização do exame, incluindo obstácu­


los de posicionamento, respiração, movimentação etc.
A radiografia do tórax, apesar de ser mais do que se­ Salienta-se, também, que o estudo radiológico do
cular, é o estudo de imagem mais realizado no mundo, tórax serve como registro documental e datado da pre­
mas sua interpretação é ainda desafiadora. Múltiplos são sença ou não de processo patológico e de sua evolução.
os fatores que a tornam difícil de ser analisada, apesar de Frequentemente, a existência de exame(s) anterior(es) é
ser um exame extremamente simples. de extrema ajuda na determinação da presença ou não da
O objetivo deste texto não é reavaliar extensivamente evolução de um processo patológico e até na determina­
a radiologia do tórax, visto que textos excepcionais já fi­ ção da conduta. Por exemplo, o diagnóstico de pseudo-
zeram isso e atualmente existem alternativas diagnósticas linfoma é quase impossível sem radiografias anteriores,
que mestres do passado não tinham. sendo frequentemente considerado apenas uma conden­
A radiografia simples requer atenção, treino, expe­ sação pneumônica. Porém, na presença de radiografias
riência e interpretação dos achados e seus diferenciais, anteriores que mostrem sua evolução estável, é um diag­
sendo grande a margem de erro. Na radiografia de tórax, nóstico raro, mas fácil de fazer.
pode passar despercebido um detalhe não percebido na O seguinte caso é frequentemente citado em aulas:
primeira olhada, por exemplo, um nódulo retro cardíaco, garota de 12 anos, admitida no pronto-socorro (PS) com
um mínimo pneumotórax ou um tênue borramento do história de dor abdominal à direita e febril há 2 dias, apre­
contorno cardíaco, que, retrospectivamente, são perfeita­ sentou a radiografia do abdome mostrada na Figura 2A.
mente visíveis (Figura 1). Notam-se posição antálgica com proteção para o lado
Após essa consideração, fica a primeira mensagem, direito e distensão gasosa das alças intestinais, sugerindo
que é a importância do contexto clínico. Radiografias de a possibilidade de processo intestinal obstrutivo ou infec­
tórax por trauma, em decorrência de emagrecimento ou cioso, incluindo apendicite.
para admissão em uma empresa, por exemplo, não po­ O médico de plantão, que não era iniciante, solicitou
dem ser estudadas da mesma maneira. também radiografias de tórax posteroanterior (PA) e de
Na medida do possível, deve-se ser exigente com o perfil (Figura 2B e C).
pedido de exame, que pode trazer informações úteis e É possível observar alguma alteração na radiografia
direcionar a precisão do diagnóstico. O mundo real é PA? E na de perfil? No perfil, é clara a presença do sinal da
outro, portanto, às vezes, o médico solicitante não for­ coluna, que mostra evidente pneumonia basal posterior.
nece a história resumida ou dados clínicos, sendo útil Reavaliando a radiografia PA, há suspeita de que seja à di­
qualquer anotação do técnico de radiografia que teve reita, em decorrência do aumento da densidade do átrio
contato com o paciente. Na maioria dos serviços, o ra­ direito. Caso resolvido - não foram necessárias ultrasso-
diologista não está na sala acompanhando a realização nografia (USG), tomografia computadorizada (TC), con­
do exame portanto, não tem acesso imediato ao paciente sulta com a gastroenterologia e muito menos cirurgia.
para lhe fazer perguntas. A conclusão é de que pneumonia basal pode produzir
Por isso, deve-se solicitar ao técnico que anote no dor abdominal e a ingestão de ar pelo choro pode causar
pedido de exame informações adicionais clínicas ou cir­ distensão de alças.
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Figura 1 A: Ao observar a primeira radiografia, e somente ela, com atenção, é possível ver alguma alteração? Seja persistente,
compare os dois lados. B: O perfil ajuda? C: Observa-se uma reconstrução coronal de tomografia computadorizada multislice, na qual
a lesão é fácil de identificar. Caso não tenha visto, volte na primeira radiografia e encontre a lesão. D: mínima linha de pneumotórax.

O sinal da coluna significa que, em um tórax normal, na imagenologia evoluíram com os exames de USG, TC, res­
incidência em perfil, a coluna deve ir escurecendo inferior­ sonância magnética (RM), medicina nuclear, tomografia
mente até atingir uma das cúpulas. Caso haja uma “quebra” por emissão de pósitrons (PET, PET/CT), impedância,
desse padrão normal, há algum processo patológico, que enfim, métodos que avançaram muito em várias frontei­
pode ser pulmonar, mas também em outros compartimen­ ras. Logo, não deve haver nenhum obstáculo ao progredir
tos, como na própria coluna, na pleura e até na parede do na investigação com outros métodos.
tórax. Cuidado deve ser tomado para não confundir a su­ Sabe-se que a margem de erro para estudo de micro-
perposição de costelas e da aorta torácica descendente, que nódulos, pequenas opacidades e bronquiectasias na ra­
frequentemente se superpõem, com a positividade do sinal. diografia simples é elevada. No mediastino, mais ainda,
Conforme mencionado, a radiografia ainda é o mé­ pois várias estruturas de mesma densidade fazem sinal da
todo de imagem mais realizado por ser rápido, objetivo silhueta umas com as outras, parecendo uma janela com
e econômico; no entanto, sabe-se que a radiologia ou a as cortinas fechadas, sendo, portanto, significativamente
4 TRATADO DE R A D IO LO G IA PULMÕES, CORAÇÃO E VASOS

Figura 2 A: Radiografia simples de abdome por suspeita de abdome agudo por dor abdominal à direita e febre há 2 dias. Notam-se
discreta distensão gasosa das alças e posição antálgica com escoliose dextrocôncava. B: Observa-se como o átrio direito do coração se
apresenta mais denso que os ventrículos, apesar de ser muito menor, podendo indicar somação de densidade retrocardíaca à direita.
C: Na incidência em perfil, nota-se evidente sinal da coluna positivo, indicando uma condensação pneumônica basal posterior à direita.

mais efetiva uma TC quando a suspeita clínica for de uma xe de raios X, seus fótons são sempre ligeiramente diver­
lesão no mediastino ou bronquiectasia. Nesses casos, a gentes nos equipamentos utilizados.
radiografia simples é útil para triagem. Cientificamente, O paciente em posição ortostática (em pé) encosta a
pode-se dizer que é melhor fazer TC de alta resolução face anterior do tórax na estativa (suporte em que se en­
(TCAR) em todos os casos, porém há alguns problemas: contra o chassi com o filme ou a placa com os detectores),
posiciona o dorso das mãos na cintura e força os ombros
■ O custo seria proibitivo para qualquer sistema de saúde. para a frente (essa manobra projeta as escápulas para os
■ Disponibilidade maior de tomógrafos, custo de aqui­ lados, melhorando a visualização dos pulmões).
sição, manutenção e operação. Após esse posicionamento, utiliza-se o feixe de luz-guia
■ A quantidade de radiação ainda é mais elevada em para abranger a área de interesse, superiormente no nível
uma TC de tórax. de C7 (apófise espinhosa mais saliente). As regiões laterais
podem ser colimadas, e a margem inferior é mais amplia­
A radiografia convencional pode, de modo simples, da para não cortar os ângulos costofrênicos laterais e sur­
rápido e econômico, mostrar uma condensação pulmo­ preender eventuais alterações do abdome superior (pneu-
nar de uma criança no PS ou um pneumotórax em outra moperitôneo, cálculos renais/biliares, níveis líquidos etc.).
que, juntamente com os dados clínicos, permitem diag­ Após essas etapas, solicita-se inspiração profunda
nósticos finais corretos. com parada ao final e realiza-se a incidência de raios X.
Portanto, as radiografias simples PA + perfil têm o seu Alguns pacientes necessitam de rápido treino para reali­
espaço na imagenologia médica, devendo ser usadas com zar apneia inspiratória (Figura 3).
critério, sendo por vezes complementadas por outros Se o paciente estiver fraco ou com desequilíbrio, ele
métodos de imagem em alguns diagnósticos e por vezes pode “abraçar” a estativa ou ser amparado, obtendo-se
usadas como métodos de controle/acompanhamento da efeito satisfatório.
evolução de doenças e tratamentos. Caso o paciente esteja sentado (cadeirante) ou deita­
do, se puder realizar rotação interna dos ombros, também
Radiografia de tórax posteroanterior há melhora da projeção lateral das escápulas.
ou frontal Como em pacientes graves (U TI), inconscientes ou
politraumatizados não é possível fazer a radiografia PA
Técnicas de exame padrão, realiza-se rotineiramente a incidência anteropos­
terior (AP), que geralmente apresenta magnificação da
Essa incidência é padrão, pois mantém o coração mais silhueta cardíaca, frequentemente com inspiração pouco
próximo do filme/placa detectora, reduzindo o efeito de profunda, devendo o radiologista considerar sempre es­
magnificação do coração, pois, por melhor que seja o fei­ sas duas variáveis em sua análise.
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Figura 3 A: Posicionamento correto de um paciente para realização da radiografia de tórax. B: Resultado do correto posicionamento.

Pacientes gestantes também podem fazer radiografia doente e faça simples cálculos pertinentes à boa técnica
de tórax quando necessário, devendo usar proteção com radiológica.
avental de chumbo anterior e posteriormente no abdome, O profissional pode deparar-se com radiografias de
para minimizar a radiação secundária. pacientes pediátricos nas quais há dificuldade de se iden­
A técnica adequada para a realização da radiografia tificar o coração. Se a penetração excessiva pode impedir
de tórax é a de alta quilovoltagem (95 a 125 KV) e bai­ a visualização do coração, fica fácil imaginar que um pe­
xa miliamperagem (mA), pois se obtém, com isso, maior queno foco pneumônico literalmente desaparece. É o que
espectro de cinzas que facilitam a identificação de varia­ se chama de “radiografia curativa”. Deve-se combater esse
ções de densidade pulmonar. A distância do tubo deve ser tipo de trabalho, pois já é difícil lidar com movimentação
maior que 1,80 m. e respiração em pacientes não colaborativos e/ou pediá­
Existem variações técnicas entre diferentes departa­ tricos. Por sorte, com os sistemas digitais, a tendência é o
mentos de radiologia. desaparecimento desse problema.
Em alguns serviços americanos, adota-se a técnica de Obtida a radiografia de tórax PA, deve-se avaliar a
baixa quilovoltagem (60-80 KV), sem o uso de grade, pois qualidade do exame:
em baixa quilovoltagem há redução do efeito Compton,
com menor espalhamento de radiação secundária. Nos ■ Posicionamento: verificar se o filme documentou to­
serviços que optam por quilovoltagem alta (125 KV), o das as áreas de interesse e se o posicionamento, con­
uso de grade ou bucky (grade oscilante) é inevitável para forme visto previamente, está adequado. Deve-se in­
reduzir o efeito da radiação secundária (efeito Compton) cluir os seios costofrênicos laterais.
e maximizar o efeito fotoelétrico (feixe de fótons efetivo ■ Centralização: verificar se a centralização está corre­
para produção de boa imagem). ta. Para essa análise, observa-se a distância entre as
Ambas as técnicas apresentam vantagens e desvanta­ extremidades mediais das clavículas (anteriores), que
gens quanto às estruturas mais bem visualizadas e quanto deverão estar relativamente equidistantes das apófises
à dose de radiação para o paciente. posteriores ou espinhosas das vértebras (posteriores)
Devem-se evitar as radiografias com muito contraste (Figura 4).
branco/preto (baixo KV e alto mA), que é útil para iden­ ■ Inspiração: além da primeira impressão visual, pode-
tificar calcificações, sendo uma técnica mais desejável no -se adotar como critério qual costela atinge a porção
abdome, para identificar cálculos, por exemplo. mais central e superior das cúpulas diafragmáticas,
As radiografias pediátricas, desde o período pós-na­ sendo a extremidade anterior da 6a ou 7a costela ante­
tal até a idade pré-escolar, são frequentemente alvo de riormente (mais rápido) ou 9o ou 10° arco costal pos­
barbáries técnicas, como hiperexposições aos raios X, teriormente (Figura 5).
por isso são frequentemente rotuladas de “radiografias ■ Exposição: nas radiografias que utilizam filme, um
queimadas”. É necessário que a equipe técnica meça o bom padrão é identificar de forma tênue o parênqui-
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ma pulmonar (cinza escuro), visualizar as silhuetas


vasculares e identificar os espaços discais dorsais su­
periores. Estes não devem ser visíveis sobre o coração.
Nas radiografias digitais, esse último aspecto é menos
válido por causa da facilidade de manipulação dos pa­
râmetros de janela e nível para distribuição da escala
f ^ t de cinza, visualizando-se, inclusive, de forma melhor
o pulmão retrocardíaco.
■ Movimentação: radiografias com muita movimenta­
ção corpórea ou respiratória devem, na medida do
possível, ser repetidas (pacientes agitados, dispnei-
cos, não contactuantes, pediátricos etc.), pois com ­
prometem a identificação e a avaliação de estruturas
Figura 4 Verificar centralização dos raios X pela equidistância normais e patológicas. Em nossa experiência com
das extremidades mediais das clavículas às apófises posteriores pacientes pediátricos “rebeldes”, obtém-se menor
da coluna (setas). movimentação quando a criança está gritando, pois
entre os gritos ela está ofegante e, portanto, respiran­
do mais rapidamente.

Radiografia em perfil

Incidência frequentemente deixada em segundo pla­


no, sendo, no entanto, de grande ajuda na localização de
lesões e na compreensão das estruturas tridimensionais
do tórax.
Deve ser considerada radiografia obrigatória na roti­
na de uma primeira exploração radiológica do tórax.

Técnica de exame

■ Posicionar o paciente em pé, com o lado esquerdo


apoiado na estativa, em que está o chassi com o filme,
ou a placa detectora, no caso de radiografia digital,
com os braços para o alto ou para a frente, caso a ele­
vação dos braços não seja possível.
■ Direcionar o raio central aproximadamente 10 cm abai­
xo do cavo axilar, solicitar inspiração moderadamente
profunda, seguida de apneia, e realizar a incidência.
■ A elevação dos braços desloca as asas das escápulas
anteriormente, que são visíveis nos ápices. Entretanto,
esse fato não interfere na análise do exame, pois as
áreas mais importantes no estudo em perfil estão fora
dessa projeção (Figura 6).
■ Usa-se o lado esquerdo junto à estativa para reduzir a
magnificação do coração.
■ Se houver lesão conhecida do lado direito (costal
direita ou pleural direita ou na periferia do pulmão
direito), pode-se fazer o perfil direito com a mesma
técnica, para a lesão ficar mais nítida e com menor
magnificação.
■ Realizar os dois perfis rotineiramente parece desne­
cessário e pouco produtivo, além do custo e da radia­
Figura 5 A: Radiografia com pouca inspiração. B: Radiografia ção envolvidos, com pouco benefício diagnóstico.
com boa apneia inspiratória deve apresentar a extremidade an­
■ Pacientes debilitados podem fazer a incidência sen­
terior da 6a ou 7a costelas, atingindo a região central das cúpulas
diafragmáticas. tados em cadeira comum com apoio para o chassi/
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Figura 6 A: Posicionamento correto para a radiografia de tórax em perfil esquerdo. B: Imagem obtida.

placa detectora, com ajuda para elevar os braços se vidade para a direita ou para a esquerda, observando-se o
necessário. deslocamento de eventuais derrames pleurais (Figura 7).
■ Com o paciente deitado também é possível, lembran- Em lojas ou cavidades com ar e líquido, é muito fácil
do-se de apoiar a cabeça para evitar obliquidade do observar a mobilização do nível hidroaéreo.
tórax e semiflexão das pernas para estabilização.
■ Geralmente, a inspiração pode estar comprometida Radiografias oblíquas
nessas técnicas.
■ A radiografia deve incluir todos os segmentos pulmo­ Essas incidências eram mais utilizadas para avaliar as
nares, e deve haver razoável superposição do gradea­ alterações das câmaras cardíacas e aorta, caindo em de­
do costal posteriormente, o que é facilmente identi­ suso com a ecocardiografia, TC mulstislice, RM e medici­
ficado pela proximidade dos ângulos costofrênicos na nuclear, que permitem avaliações infinitamente mais
posteriores. precisas, inclusive com modo dinâmico, avaliando a mor­
■ A exposição ideal deve permitir que se visualizem os fologia do coração, seu funcionamento, perfusão (angio-
vasos pulmonares retro cardíacos. coronariografia por TC, perfusão miocárdica), metabo­
lismo do consumo de glicose e até locais de hipoperfusão.
Decúbito lateral com raios horizontais
Outras incidências oblíquas
Técnica interessante e fácil para demonstrar mobiliza­
ção de líquidos pleurais no diagnóstico de derrame pleu­ Outras incidências oblíquas podem ser necessárias
ral e, principalmente, de derrame subpulmonar. em algumas condições.
Consiste em posicionar o paciente em decúbito late­ Durante o curso de Radiologia, pergunta-se aos alunos:
ral direito ou esquerdo, em uma mesa ou maca, com os “Se eu tenho um nódulo visível de forma clara, na projeção
braços fletidos sobre a cabeça e incidir os raios X hori­ da periferia do pulmão, que se projeta sobre o pulmão nas
zontalmente, obtendo-se radiografia com o efeito da gra­ duas incidências PA e de perfil, onde está o nódulo?”
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Figura 7 A: Posicionamento correto para obter-se a incidência em decúbito lateral esquerdo com raios horizontais. B: Radiografia
de tórax posteroanterior ortostática (derrame pleural à esquerda). C: Radiografia em decúbito lateral com raios horizontais mostra
mobilização do derrame que afasta o pulmão do gradeado costal.

A resposta instintiva é: “no pulmão”. Esta resposta seria Radiografia expirada


válida se o tórax fosse um quadrado ou retângulo em corte
transversal (Figura 8A). No entanto, o tórax é grosseiramen­ Tem sua indicação para pesquisa de paralisia do
te oval (Figura 8B), existindo quatro zonas em que um nó­ diafragma e para diagnóstico mais preciso de enfisema
dulo extrapulmonar pode se projetar no pulmão em posição pulmonar e aprisionamento aéreo, pois a inspiração e a
PA e de perfil (Figura 8C). Esse conhecimento é particular­ expiração serão muito semelhantes, quando não iguais,
mente útil na compreensão da localização de projéteis de nas áreas afetadas.
arma de fogo, corpos estranhos e calcificações no tórax, que
não produzam reação pleural ou não pareçam pulmonares; Incidência lordótica ou apicolordótica
portanto, provavelmente de localização extrapleural.
Portanto, na ausência de fluoroscopia disponível, inci­ Esta ainda tem alguma utilização para melhor estu­
dências oblíquas com outras angulações podem compro­ do dos ápices e para se observar tênues condensações do
var a topografia correta de um nódulo/corpo estranho. lobo médio à direita.
Os ápices pulmonares são sempre parcialmente obs­
Fluoroscopia: a "arte perdida" curecidos pelas clavículas e pela I a costela bilateralmente,
juntamente com as frequentes calcificações condrocostais
Segundo o Professor Felson, a fluoroscopia é uma da I a costela, presentes inclusive em pacientes jovens.
“arte perdida”. Trata-se de um procedimento pouco utili­ O objetivo dessa incidência é projetar acima do pulmão
zado atualmente, embora seja sempre lembrado nos casos as clavículas e, parcialmente, a I a costela de modo bilateral.
de suspeita de paralisia de um diafragma. É um exame Para sua realização, faz-se a incidência AP com o pa­
que requer experiência anterior para minimizar erros de ciente inclinado para trás, apoiando apenas os ombros na
interpretação, não infrequentes quando se está em bus­ estativa. Caso ele não tenha condições físicas de realizar
ca de confirmar uma hipótese diagnóstica. A experiência a manobra, pode-se posicioná-lo em pé, com as costas na
prática anterior é necessária para reduzir o tempo de ex­ estativa, e inclinar o tubo de raios X 15° cefalicamente,
posição à radiação. Não é incomum avisar o residente de obtendo-se resultado semelhante (Figura 9).
que radioscopia não é televisão, portanto, deve durar o
menor tempo possível (menos de 3 minutos). A rotação Pós-processamento da radiografia digital
do paciente é muito útil na determinação da tridimensio-
nalidade das estruturas e de seu exato posicionamento. Inversão de negativo para positivo
Pode-se lançar mão de manobra de Müller, que con­
siste em inspiração forçada com o nariz e a boca tapados, Algumas escolas europeias, principalmente a france­
pois reduz a pressão intratorácica, aumentando o tamanho sa, adotaram por um período a inversão da imagem da
das veias intrapulmonares. Essa manobra é mais fiel para radiografia (que, na verdade, é um negativo) para uma
demonstrar a perda de movimentação de um diafragma. imagem em positivo. São imagens interessantes que, no
A manobra de Valsalva também pode ser utilizada (es­ entanto, não acrescentam informações para o diagnós­
forço expiratório com a glote fechada) para visualizar a re­ tico, porém exigem “retrabalho” da imagem, com custo
dução das veias e de eventuais malformações arterioveno- financeiro e de tempo, sendo artifício fácil nos equipa­
sas, que são mais bem caracterizadas atualmente com TC. mentos digitais (Figura 10).
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Figura 8 A: Se o tórax tivesse formato retangular ao corte, um


nódulo que se projetasse no pulmão posteroanteriormente (PA)
e em perfil estaria no pulmão. B: Formato real do tórax evidencia
que um nódulo extrapulmonar pode se projetar no pulmão PA e
em perfil. C: Quatro regiões em que isso pode ocorrer.

Figura 9 A: Posicionamento da incidência apicolordótica. B: Ra­


diografia de tórax em incidência posteroanterior evidencia conden­
sação do segmento medial do lobo médio à direita, pois produz o
sinal da silhueta com contorno cardíaco e opacidade retroclavicu-
lar direita. C: Em incidência apicolordótica do mesmo tórax, fica
evidente a cavitação tuberculosa que estava parcialmente oculta
pela clavícula. Mesmo retrospectivamente, é difícil ver a caverna
atrás da clavícula direita.
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Figura 10 A: Radiografia de tórax simples, na verdade uma imagem em negativo. B: Imagem positiva do mesmo tórax.

Técnicas para melhorar o contraste fia “deitada” (flip 90°), em sentido horário ou anti-horá-
rio, facilita muito a visualização dessas fraturas.
Os aparelhos digitais podem reprocessar a imagem da ra­
diografia para acentuar o contraste, o que pode ser útil para Tórax normal
identificar e definir pequenos nódulos. Ainda são recursos com
limitações e efetividade limitadas, que poderão ser mais efi­ Nunca é demais relembrar que, para uma melhor ava­
cazes com avanços técnicos de reprocessamento (Figura 11). liação radiológica, é necessário ter em mente as quatro
densidades radiológicas básicas no corpo humano, que
Troca de posição da radiografia (flip) são, em ordem crescente: ar, gordura, água e cálcio/metal.
Uma boa maneira de memorizar essas densidades é
Trata-se de um recurso muito útil, principalmente lembrar-se da radiografia de um ovo de ave, na qual (Fi­
para pesquisa de fraturas costais. Analisar uma radiogra­ gura 12):

Figura 11 A: Radiografia pós-processada com acentuação das margens (edge enhancement). B: Radiografia pós-processada com
maior detecção das margens (edge detect).
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■ Ar: saco aéreo ou câmara aérea. É importante lembrar que quando se faz uma opção,
■ Gordura: gema. em caso de dúvida, pode-se errar; mas, quando se expõe
■ Água: clara. a dúvida, o profissional não erra.
■ Cálcio: casca.
Análise do tórax normal
A densidade, em uma imagem radiológica, depende
não só da densidade do tecido, mas também de sua es­ Vários estudos mostram que uma análise aleatória
pessura; portanto, um nódulo pequeno parcialmente cal­ das radiografias do tórax cria condições para que algu­
cificado pode ter densidade absoluta menor que a sombra mas regiões e tecidos não sejam analisados com a devida
mamária. É preciso bom senso na interpretação dos acha­ atenção.
dos radiológicos quanto à sua densidade. É importante que a análise seja sistematizada, para
Outro lembrete importante é o valor do sinal da si­ que todas as informações de uma radiografia possam ser
lhueta, no qual estruturas de densidade semelhante, que avaliadas.
fazem contato direto umas com a outras, apagam esse Utiliza-se, há décadas, uma análise chamada de fora
contorno, fundindo-se visualmente. para dentro, ou seja, inicia-se o estudo pelas partes moles
Isso explica por que um derrame pleural ou uma e adentra-se o tórax. Seguem-se o plano ósseo, as cúpulas
pneumonia basal à direita se fundem ao contorno do dia- diafragmáticas e os espaços pleurais, o parênquima pul­
fragma/fígado. Explica, também, por que uma pneumo­ monar e sua vascularização, os hilos pulmonares, a tra­
nia de segmento medial do lobo médio, que toca o cora­ queia e os brônquios-fonte, o coração, a aorta e o restante
ção, borra seu contorno. do mediastino.
Outro fato muito importante na análise é a dúvida. É imprescindível ter em mente que o tórax é uma es­
A dúvida deve ser respeitada, descrita como tal, ou seja: trutura tridimensional projetada em um filme ou imagem
se em uma radiografia houver dúvida se um nódulo é de forma bidimensional (parece óbvio, mas não é) e, por­
calcificado ou não, se uma lesão está no lobo médio ou tanto, múltiplas estruturas se superpõem, de maneira que
superior, deve-se descrever essa dúvida e não tentar por a densidade dessas estruturas e outras incidências podem
adivinhação escolher uma das opções. definir melhor os achados.
É muito fácil solicitar outros métodos de imagem para Não é incomum ter dúvida se um mamilo ou um calo
resolver a dúvida, minimizando o fator erro do relatório. ósseo em uma costela é uma lesão pulmonar (Figura 13).
No caso dos mamilos, sua quase sempre presente bi-
lateralidade e simetria podem resolver a questão. Podem
ser necessários exame físico e a realização de nova radio­
grafia com os mamilos marcados com reparo radiopaco
para o correto diagnóstico. Pode ocorrer assimetria dos
mamilos em pacientes tanto femininos como masculinos.
Na Figura 14, observam-se o aspecto do tórax nor­
mal em adultos masculinos e femininos e a projeção das
linhas mediastinais anatômicas principais.

Partes moles
A análise se inicia pela espessura das partes moles,
permitindo facilmente o diagnóstico de obesidade ou
magreza (caquexia), que isoladamente podem indicar
diagnósticos ou condições clínicas (p. ex., obesidade ali-
mentar/Cushing ou desnutrição/doença consumptiva)
(Figura 15).
Dobras cutâneas podem ser identificáveis como li­
nhas em geral arqueadas, mas frequentemente vistas em
pacientes imobilizados (crianças) ou pacientes de unida­
de de terapia intensiva (UTI). Nos pacientes de UTI, em
especial, essas dobras podem ser paralelas ao contorno
lateral da caixa torácica, podendo induzir ao diagnóstico
errado de pneumotórax (Figura 16).
Enfisema subcutâneo pode ter várias origens, sendo
Figura 12 Radiografia simples de um ovo mostrando as quatro
as mais comuns procedimentos cirúrgicos, traumas per-
densidades básicas do corpo humano. É necessário ter boa von­
tade para ver a gema! furantes, infecções, traqueostomias e drenos torácicos.
12 TRATADO DE RADIOLOGIA PULMÕES, CORAÇÃO E VASOS

Figura 13 A: Radiografia de tórax posteroanterior masculino com mamilos identificáveis. B: Detalhe da radiografia.

Tipicamente, são imagens hipertransparentes, geralmen­ Mamas


te laminares, pois se espalham entre os planos anatômi­ As sombras mamárias iniciam-se lateralmente como
cos das partes moles, por vezes infiltrando a musculatura prolongamento das linhas axilares anteriores, formando
peitoral, sendo evidentes os feixes musculares desses pla­ um arco nítido inferiormente de cada lado.
nos em formato de leque (Figura 17). As mamas produzem velamento progressivo e homo­
Nódulos ou tumorações variados podem ser suspeita­ gêneo, o qual aumenta inferiormente até o término delas.
dos por alteração de contorno da pele (neurofibromatose) Notar que as mamas variam muito em dimensões e den­
ou quando são grandes ou calcificados pela densificação sidade, produzindo graus diferentes de velamento, não
da região. necessariamente proporcional a seu volume.
A cisticercose pode produzir calcificações riziformes Mamas de mulheres mais jovens ou em fase de ama­
nas partes moles (Figura 18). mentação têm maior densidade, produzindo maior vela­
Esclerose sistêmica progressiva pode produzir calcifi­ mento, e mamas com substituição gordurosa produzem
cações cutâneas. Miosite ossificante produz calcificações velamento quase inexistente, apesar de suas dimensões,
musculares. lembrando que elas também são comprimidas na estativa.
Flemangiomas podem apresentar flebolitos em seu As mamas femininas de pequenas dimensões ou até
interior, que geralmente são resíduos de trombos venosos as masculinas podem produzir velamento no terço mé­
parcialmente recanalizados e calcificados. dio do tórax, sem ter necessariamente o contorno inferior
Corpos estranhos, marca-passo cardíaco, eletrodos de clássico visível (Figura 19).
monitoramento e outra infinidade de dispositivos e obje­ Pacientes masculinos com muita musculatura peito­
tos, incluindo projéteis de arma de fogo e até objetos de ral apresentam o mesmo efeito.
bolso (moedas, isqueiros), tranças de cabelo, colares e ar­ Às vezes, a paciente pode comprimir uma mama mais do
tefatos radiológicos (defeitos no filme ou nos detectores) que a outra na estativa, produzindo assimetria de velamento,
podem ser visualizados. que pode causar confusão com pneumonia de um dos lados
O cabelo pode se transformar em grande problema, (se for mama pequena e densa) ou até confusão com mas-
quando se projeta sobre os ápices pulmonares, pois simu­ tectomia. Portanto, é importante observar as linhas axilares
la infiltrado tuberculoso. O que ajuda na diferenciação é o para verificar se as mamas estão presentes (Figura 20).
fato de o cabelo ter extensão para cima, nas partes moles, É normal que as mamas sejam assimétricas em pe­
fora da projeção do pulmão. queno grau, sendo uma frequentemente maior que a ou-
1 RADIOGRAFIA DE TÓRAX 13

Figura 14 A: Tórax masculino normal em projeção posteroanterior (PA). B: Projeção das principais linhas mediastinais: 1) linha para-
vertebral direita; 2) recesso azigoesofágico/linha de junção posteroinferior; 3) linha para-aórtica; 4) linha de junção posterossuperior; 5)
triângulo mediastinal anterior, seguido inferiormente pela linha de junção anterior. C: Tórax posteroanterior feminino normal. D: Observar
o contorno das sombras mamárias, que são a continuação das linhas axilares anteriores. A análise do mediastino é a mesma do tórax
masculino. O contorno das demais estruturas do mediastino está descrito na Figura 84.
14 TRATADO DE R A D IO LO G IA PULMÕES, CORAÇÃO E VASOS

Figura 15 A: Obesidade. B: Emagrecimento.

Figura 16 Paciente de unidade de terapia intensiva, mostrando


dobra de pele que simula pneumotórax.

Figura 17 Exuberante enfisema subcutâneo delaminando os Figura 19 Mamas pequenas e densas, femininas pelo seu con­
planos anatômicos, visualizando-se, inclusive, os feixes muscu­ teúdo parenquimatoso ou masculinas pela musculatura peitoral,
lares dos peitorais. provocam velamento no tórax sem o contorno clássico das mamas.
1 RADIOGRAFIA DE TÓRAX 15

Figura 20 Mastectomia à esquerda (nota-se certa horizontaliza-


çâo da linha axilar anterior desse lado - seta).

tra. Esse achado pode ser variação do normal; porém, se


for significativo, deve ser descrito.
A assimetria também pode ser provocada por mas-
tectomias parciais pregressas, não citadas no pedido de
exame, ou assimetrias de diâmetro anteroposterior de um
hemitórax (deformidade da caixa).
Nódulos mamários calcificados (fibroadenomas) po­ Figura 21 A: Implantes mamários bilaterais. B: Detalhe do im­
dem ser confundidos com granulomas/hamartomas pul­ plante: observar seu contorno superior nítido (seta), inexistente
monares (Figura 8). em mama normal, mesmo se for densa, e o duplo contorno in­
ferior da mama.
Lembre-se de que as sombras mamárias podem ser
pequenas em pacientes femininas e grandes em pacien­
tes masculinos obesos ou com ginecomastia pelas mais Quando houver dúvida, deve-se tentar localizá-los na
variadas causas. incidência em perfil; principalmente em mulheres, essa
Implantes mamários, próteses ou expansores podem avaliação encerra a dúvida.
ser identificados, principalmente por seus contornos su­ Caso o perfil não resolva o problema, sugere-se re­
periores, que são facilmente visíveis na radiografia de tó­ petir o exame com os mamilos marcados com pequeno
rax PA (Figura 21) e duplo contorno inferior. objeto radiopaco, como já foi comentado, para definir a
A mastectomia total é fácil de identificar em função natureza dos nódulos.
da ausência de velamento e de horizontalização da linha
axilar anterior, podendo, às vezes, ser visível fibrose actí- Dobras axilares
nica pulmonar (pós-radioterapia) do lado da mastecto­ Podem ser facilmente identificadas, principalmente
mia (Figura 20). em indivíduos mais magros. A não visualização dessas
A síndrome de Poland é rara, na qual pode haver age­ linhas não tem significado patológico (posicionamento
nesia do músculo peitoral de um dos lados, entre outras diferente, obesidade etc.).
anomalias que podem estar associadas e que produzem Normalmente, identificam-se três linhas axilares (Fi­
hipertransparência unilateral. gura 22).
Os mamilos podem ser identificados geralmente em
pacientes femininas, nas quais podem ter grande volume. ■ Posterior: mais retilínea, inclinada superiormente
O fato de em geral serem visíveis bilateralmente e na mes­ para fora, acompanhando a musculatura dorsal e a
ma altura sugere que sejam os mamilos na base de ambos presença das escápulas.
os hemitóraces, não nódulos pulmonares (Figura 13). ■ Média ou cavo axilar: arqueada para dentro.
Os mamilos podem ser assimétricos quanto a seu ■ Anterior: mais sinuosa e que continua com a linha das
tamanho e posição, inclusive nos pacientes masculinos. mamas/músculos peitorais.
16 TRATADO DE RADIOLOGIA PULMÕES, CORAÇÃO E VASOS

Figura 22 Linhas axilares. Posterior (1): geralmente é a mais ex­


terna, pois acompanha a musculatura dorsal. Média ou cavoaxilar
(2), quando presente em pacientes mais magros, é mais profunda
e arqueada superiormente. Anterior (3): é a que continua com o
contorno das mamas.

Sombras companheiras das clavículas


e da segunda costela
As sombras companheiras das clavículas são visíveis
em indivíduos magros ou normais e consistem apenas na
visualização da tangência da pele e do tecido celular sub­
cutâneo que ficam sobre a clavícula e tendem a ser bilate­
Figura 23 A: Sombra companheira da clavícula (faixa de par­
rais e simétricos (Figura 23A). tes moles que acompanha a clavícula superiormente). B: Som­
As sombras companheiras das segundas costelas são bra companheira da segunda costela (faixa de partes moles que
menos visíveis e consistem na tangência do feixe de fó- acompanha a segunda costela inferiormente).
tons em deflexão da pleura sob ela mesma (Figura 23B).

Sombras dos músculos esternocleidomastóideos


Como o próprio nome do músculo descreve, essas
sombras conectam as mastoides à face anteromedial do
tórax, inserindo-se distalmente no manúbrio esternal,
e às extremidades mediais das clavículas, produzindo o
movimento rotatório horizontal da cabeça quando ape­
nas um lado é acionado e ajudando na flexão anterior da
cabeça quando ambos são acionados (Figura 24).
Quando o paciente é magro e/ou contrai o músculo
esternocleidomastóideo, ou durante a manobra de Mül-
ler, esse músculo pode ser visualizado em seus contornos
laterais e até nos mediais, que se unem inferiormente em
formato de U, caracterizando a fossa jugular logo acima
da fúrcula esternal.
A fossa jugular pode ser identificada fazendo-se inspi­
ração forçada com a glote fechada (manobra de Müller);
no entanto, ela é raramente vista e tem pouca utilidade
diagnóstica.

Plano ósseo
É necessária a análise de todos os ossos visíveis na ra­
Figura 24 Sombras dos músculos esternocleidomastóideos
diografia do tórax, ou seja: (setas horizontais) e fossa jugular (setas oblíquas).
1 RADIOGRAFIA DE TÓRAX 17

■ Segmento inferior das vértebras cervicais, incluindo


costelas cervicais calcificadas, caso presentes.
■ Vértebras torácicas visíveis, incluindo os espaços dis­
cais geralmente visíveis acima do maciço cardíaco. Ob­
servar escoliose e eventualmente espondilose dorsal.
■ Vértebras lombares visíveis.

Costelas
Observar todas as costelas visíveis bilateralmente (ge­
ralmente a 11 e a 12 não são visíveis, por serem obscure­
cidas pelas partes moles abdominais).
As costelas são ossos alongados que têm uma borda
arredondada superiormente e formato inferiormente afi­
lado, parecendo a lâmina de uma faca, em que se locali­
zam as artérias, as veias e os nervos intercostais.
Em função desse detalhe anatômico, as punções pleu-
ropulmonares devem ser feitas tangenciando a margem
superior das costelas, para evitar lesões do feixe vascu-
lonervoso.
Em alguns pacientes, a margem inferior dos segmen­
tos posteriores das costelas pode não ser identificada em
função de seu formato laminar, mas não deve ser confun­
dida com lesão óssea destrutiva (Figura 25). No entanto, a
descontinuidade da margem superior das costelas é indi­
cativa de lesão. É importante lembrar-se das lesões mais
comuns, que são as fraturas/calos ósseos, as metástases e
Figura 25 Observa-se a aparente descontinuidade da margem
as lesões primárias, que podem ser líticas ou escleróticas. inferior das costelas assinaladas. Esse achado é normal.
São comuns ilhotas de tecido ósseo compacto nas coste­
las, que podem ser confundíveis com nódulos calcificados
pulmonares. Caso o nódulo tenha extensão “extracostal”,
provavelmente está no pulmão, ou deve-se fazer radiogra­
fia em expiração (o nódulo permanece inalterado se estiver
na costela ou se mobiliza se estiver no pulmão).

Anom alias congênitas costais

Costela cervical
É uma anomalia relativamente frequente que consiste
em uma costela hipoplásica, articulada, geralmente em C7,
que pode estar ossificada ou não e ser uni ou bilateral, sen­
do visível na radiografia quando ossificada (Figura 26).
A costela cervical caracteriza uma anomalia de transição
cervicotorácica e geralmente não tem sintoma ou significa­ Figura 26 Costelas cervicais calcificadas em C7 bilateralmente.
do patológico. Em alguns pacientes, pode produzir a síndro-
me do desfiladeiro torácico, que consiste em compressão de
estruturas vasculonervosas (plexo braquial e artérias sub­ riados graus de elevação do braço ou rotação da cabeça,
clávias), podendo também ser produzida pela musculatura sendo feito o diagnóstico no TC multislice com contraste
do escaleno e do músculo peitoral. Essa síndrome pode ser intravenoso, na posição de gatilho (que produz o sintoma),
verificada sem a presença da costela cervical, e a costela cer­ tornando evidentes o ponto de compressão e o agente causal.
vical não produz, necessariamente, a síndrome. É importan­
te lembrar que a costela cervical pode não estar calcificada, Outras anom alias costais
sendo apenas cartilaginosa e invisível na radiografia.
Em alguns pacientes, os sintomas de dor, parestesia e São relativamente frequentes as anomalias morfológi­
adormecimento do membro superior só ocorrem com va- cas e de desenvolvimento dos arcos costais.

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