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Radiografia de tórax
Ricardo Guerrini
Figura 1 A: Ao observar a primeira radiografia, e somente ela, com atenção, é possível ver alguma alteração? Seja persistente,
compare os dois lados. B: O perfil ajuda? C: Observa-se uma reconstrução coronal de tomografia computadorizada multislice, na qual
a lesão é fácil de identificar. Caso não tenha visto, volte na primeira radiografia e encontre a lesão. D: mínima linha de pneumotórax.
O sinal da coluna significa que, em um tórax normal, na imagenologia evoluíram com os exames de USG, TC, res
incidência em perfil, a coluna deve ir escurecendo inferior sonância magnética (RM), medicina nuclear, tomografia
mente até atingir uma das cúpulas. Caso haja uma “quebra” por emissão de pósitrons (PET, PET/CT), impedância,
desse padrão normal, há algum processo patológico, que enfim, métodos que avançaram muito em várias frontei
pode ser pulmonar, mas também em outros compartimen ras. Logo, não deve haver nenhum obstáculo ao progredir
tos, como na própria coluna, na pleura e até na parede do na investigação com outros métodos.
tórax. Cuidado deve ser tomado para não confundir a su Sabe-se que a margem de erro para estudo de micro-
perposição de costelas e da aorta torácica descendente, que nódulos, pequenas opacidades e bronquiectasias na ra
frequentemente se superpõem, com a positividade do sinal. diografia simples é elevada. No mediastino, mais ainda,
Conforme mencionado, a radiografia ainda é o mé pois várias estruturas de mesma densidade fazem sinal da
todo de imagem mais realizado por ser rápido, objetivo silhueta umas com as outras, parecendo uma janela com
e econômico; no entanto, sabe-se que a radiologia ou a as cortinas fechadas, sendo, portanto, significativamente
4 TRATADO DE R A D IO LO G IA PULMÕES, CORAÇÃO E VASOS
Figura 2 A: Radiografia simples de abdome por suspeita de abdome agudo por dor abdominal à direita e febre há 2 dias. Notam-se
discreta distensão gasosa das alças e posição antálgica com escoliose dextrocôncava. B: Observa-se como o átrio direito do coração se
apresenta mais denso que os ventrículos, apesar de ser muito menor, podendo indicar somação de densidade retrocardíaca à direita.
C: Na incidência em perfil, nota-se evidente sinal da coluna positivo, indicando uma condensação pneumônica basal posterior à direita.
mais efetiva uma TC quando a suspeita clínica for de uma xe de raios X, seus fótons são sempre ligeiramente diver
lesão no mediastino ou bronquiectasia. Nesses casos, a gentes nos equipamentos utilizados.
radiografia simples é útil para triagem. Cientificamente, O paciente em posição ortostática (em pé) encosta a
pode-se dizer que é melhor fazer TC de alta resolução face anterior do tórax na estativa (suporte em que se en
(TCAR) em todos os casos, porém há alguns problemas: contra o chassi com o filme ou a placa com os detectores),
posiciona o dorso das mãos na cintura e força os ombros
■ O custo seria proibitivo para qualquer sistema de saúde. para a frente (essa manobra projeta as escápulas para os
■ Disponibilidade maior de tomógrafos, custo de aqui lados, melhorando a visualização dos pulmões).
sição, manutenção e operação. Após esse posicionamento, utiliza-se o feixe de luz-guia
■ A quantidade de radiação ainda é mais elevada em para abranger a área de interesse, superiormente no nível
uma TC de tórax. de C7 (apófise espinhosa mais saliente). As regiões laterais
podem ser colimadas, e a margem inferior é mais amplia
A radiografia convencional pode, de modo simples, da para não cortar os ângulos costofrênicos laterais e sur
rápido e econômico, mostrar uma condensação pulmo preender eventuais alterações do abdome superior (pneu-
nar de uma criança no PS ou um pneumotórax em outra moperitôneo, cálculos renais/biliares, níveis líquidos etc.).
que, juntamente com os dados clínicos, permitem diag Após essas etapas, solicita-se inspiração profunda
nósticos finais corretos. com parada ao final e realiza-se a incidência de raios X.
Portanto, as radiografias simples PA + perfil têm o seu Alguns pacientes necessitam de rápido treino para reali
espaço na imagenologia médica, devendo ser usadas com zar apneia inspiratória (Figura 3).
critério, sendo por vezes complementadas por outros Se o paciente estiver fraco ou com desequilíbrio, ele
métodos de imagem em alguns diagnósticos e por vezes pode “abraçar” a estativa ou ser amparado, obtendo-se
usadas como métodos de controle/acompanhamento da efeito satisfatório.
evolução de doenças e tratamentos. Caso o paciente esteja sentado (cadeirante) ou deita
do, se puder realizar rotação interna dos ombros, também
Radiografia de tórax posteroanterior há melhora da projeção lateral das escápulas.
ou frontal Como em pacientes graves (U TI), inconscientes ou
politraumatizados não é possível fazer a radiografia PA
Técnicas de exame padrão, realiza-se rotineiramente a incidência anteropos
terior (AP), que geralmente apresenta magnificação da
Essa incidência é padrão, pois mantém o coração mais silhueta cardíaca, frequentemente com inspiração pouco
próximo do filme/placa detectora, reduzindo o efeito de profunda, devendo o radiologista considerar sempre es
magnificação do coração, pois, por melhor que seja o fei sas duas variáveis em sua análise.
1 RADIOGRAFIA DE TÓRAX 5
Figura 3 A: Posicionamento correto de um paciente para realização da radiografia de tórax. B: Resultado do correto posicionamento.
Pacientes gestantes também podem fazer radiografia doente e faça simples cálculos pertinentes à boa técnica
de tórax quando necessário, devendo usar proteção com radiológica.
avental de chumbo anterior e posteriormente no abdome, O profissional pode deparar-se com radiografias de
para minimizar a radiação secundária. pacientes pediátricos nas quais há dificuldade de se iden
A técnica adequada para a realização da radiografia tificar o coração. Se a penetração excessiva pode impedir
de tórax é a de alta quilovoltagem (95 a 125 KV) e bai a visualização do coração, fica fácil imaginar que um pe
xa miliamperagem (mA), pois se obtém, com isso, maior queno foco pneumônico literalmente desaparece. É o que
espectro de cinzas que facilitam a identificação de varia se chama de “radiografia curativa”. Deve-se combater esse
ções de densidade pulmonar. A distância do tubo deve ser tipo de trabalho, pois já é difícil lidar com movimentação
maior que 1,80 m. e respiração em pacientes não colaborativos e/ou pediá
Existem variações técnicas entre diferentes departa tricos. Por sorte, com os sistemas digitais, a tendência é o
mentos de radiologia. desaparecimento desse problema.
Em alguns serviços americanos, adota-se a técnica de Obtida a radiografia de tórax PA, deve-se avaliar a
baixa quilovoltagem (60-80 KV), sem o uso de grade, pois qualidade do exame:
em baixa quilovoltagem há redução do efeito Compton,
com menor espalhamento de radiação secundária. Nos ■ Posicionamento: verificar se o filme documentou to
serviços que optam por quilovoltagem alta (125 KV), o das as áreas de interesse e se o posicionamento, con
uso de grade ou bucky (grade oscilante) é inevitável para forme visto previamente, está adequado. Deve-se in
reduzir o efeito da radiação secundária (efeito Compton) cluir os seios costofrênicos laterais.
e maximizar o efeito fotoelétrico (feixe de fótons efetivo ■ Centralização: verificar se a centralização está corre
para produção de boa imagem). ta. Para essa análise, observa-se a distância entre as
Ambas as técnicas apresentam vantagens e desvanta extremidades mediais das clavículas (anteriores), que
gens quanto às estruturas mais bem visualizadas e quanto deverão estar relativamente equidistantes das apófises
à dose de radiação para o paciente. posteriores ou espinhosas das vértebras (posteriores)
Devem-se evitar as radiografias com muito contraste (Figura 4).
branco/preto (baixo KV e alto mA), que é útil para iden ■ Inspiração: além da primeira impressão visual, pode-
tificar calcificações, sendo uma técnica mais desejável no -se adotar como critério qual costela atinge a porção
abdome, para identificar cálculos, por exemplo. mais central e superior das cúpulas diafragmáticas,
As radiografias pediátricas, desde o período pós-na sendo a extremidade anterior da 6a ou 7a costela ante
tal até a idade pré-escolar, são frequentemente alvo de riormente (mais rápido) ou 9o ou 10° arco costal pos
barbáries técnicas, como hiperexposições aos raios X, teriormente (Figura 5).
por isso são frequentemente rotuladas de “radiografias ■ Exposição: nas radiografias que utilizam filme, um
queimadas”. É necessário que a equipe técnica meça o bom padrão é identificar de forma tênue o parênqui-
6 TRATADO DE RADIOLOGIA PULMÕES, CORAÇÃO E VASOS
Radiografia em perfil
Técnica de exame
Figura 6 A: Posicionamento correto para a radiografia de tórax em perfil esquerdo. B: Imagem obtida.
placa detectora, com ajuda para elevar os braços se vidade para a direita ou para a esquerda, observando-se o
necessário. deslocamento de eventuais derrames pleurais (Figura 7).
■ Com o paciente deitado também é possível, lembran- Em lojas ou cavidades com ar e líquido, é muito fácil
do-se de apoiar a cabeça para evitar obliquidade do observar a mobilização do nível hidroaéreo.
tórax e semiflexão das pernas para estabilização.
■ Geralmente, a inspiração pode estar comprometida Radiografias oblíquas
nessas técnicas.
■ A radiografia deve incluir todos os segmentos pulmo Essas incidências eram mais utilizadas para avaliar as
nares, e deve haver razoável superposição do gradea alterações das câmaras cardíacas e aorta, caindo em de
do costal posteriormente, o que é facilmente identi suso com a ecocardiografia, TC mulstislice, RM e medici
ficado pela proximidade dos ângulos costofrênicos na nuclear, que permitem avaliações infinitamente mais
posteriores. precisas, inclusive com modo dinâmico, avaliando a mor
■ A exposição ideal deve permitir que se visualizem os fologia do coração, seu funcionamento, perfusão (angio-
vasos pulmonares retro cardíacos. coronariografia por TC, perfusão miocárdica), metabo
lismo do consumo de glicose e até locais de hipoperfusão.
Decúbito lateral com raios horizontais
Outras incidências oblíquas
Técnica interessante e fácil para demonstrar mobiliza
ção de líquidos pleurais no diagnóstico de derrame pleu Outras incidências oblíquas podem ser necessárias
ral e, principalmente, de derrame subpulmonar. em algumas condições.
Consiste em posicionar o paciente em decúbito late Durante o curso de Radiologia, pergunta-se aos alunos:
ral direito ou esquerdo, em uma mesa ou maca, com os “Se eu tenho um nódulo visível de forma clara, na projeção
braços fletidos sobre a cabeça e incidir os raios X hori da periferia do pulmão, que se projeta sobre o pulmão nas
zontalmente, obtendo-se radiografia com o efeito da gra duas incidências PA e de perfil, onde está o nódulo?”
8 TRATADO DE RADIOLOGIA PULMÕES, CORAÇÃO E VASOS
Figura 7 A: Posicionamento correto para obter-se a incidência em decúbito lateral esquerdo com raios horizontais. B: Radiografia
de tórax posteroanterior ortostática (derrame pleural à esquerda). C: Radiografia em decúbito lateral com raios horizontais mostra
mobilização do derrame que afasta o pulmão do gradeado costal.
Figura 10 A: Radiografia de tórax simples, na verdade uma imagem em negativo. B: Imagem positiva do mesmo tórax.
Técnicas para melhorar o contraste fia “deitada” (flip 90°), em sentido horário ou anti-horá-
rio, facilita muito a visualização dessas fraturas.
Os aparelhos digitais podem reprocessar a imagem da ra
diografia para acentuar o contraste, o que pode ser útil para Tórax normal
identificar e definir pequenos nódulos. Ainda são recursos com
limitações e efetividade limitadas, que poderão ser mais efi Nunca é demais relembrar que, para uma melhor ava
cazes com avanços técnicos de reprocessamento (Figura 11). liação radiológica, é necessário ter em mente as quatro
densidades radiológicas básicas no corpo humano, que
Troca de posição da radiografia (flip) são, em ordem crescente: ar, gordura, água e cálcio/metal.
Uma boa maneira de memorizar essas densidades é
Trata-se de um recurso muito útil, principalmente lembrar-se da radiografia de um ovo de ave, na qual (Fi
para pesquisa de fraturas costais. Analisar uma radiogra gura 12):
Figura 11 A: Radiografia pós-processada com acentuação das margens (edge enhancement). B: Radiografia pós-processada com
maior detecção das margens (edge detect).
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■ Ar: saco aéreo ou câmara aérea. É importante lembrar que quando se faz uma opção,
■ Gordura: gema. em caso de dúvida, pode-se errar; mas, quando se expõe
■ Água: clara. a dúvida, o profissional não erra.
■ Cálcio: casca.
Análise do tórax normal
A densidade, em uma imagem radiológica, depende
não só da densidade do tecido, mas também de sua es Vários estudos mostram que uma análise aleatória
pessura; portanto, um nódulo pequeno parcialmente cal das radiografias do tórax cria condições para que algu
cificado pode ter densidade absoluta menor que a sombra mas regiões e tecidos não sejam analisados com a devida
mamária. É preciso bom senso na interpretação dos acha atenção.
dos radiológicos quanto à sua densidade. É importante que a análise seja sistematizada, para
Outro lembrete importante é o valor do sinal da si que todas as informações de uma radiografia possam ser
lhueta, no qual estruturas de densidade semelhante, que avaliadas.
fazem contato direto umas com a outras, apagam esse Utiliza-se, há décadas, uma análise chamada de fora
contorno, fundindo-se visualmente. para dentro, ou seja, inicia-se o estudo pelas partes moles
Isso explica por que um derrame pleural ou uma e adentra-se o tórax. Seguem-se o plano ósseo, as cúpulas
pneumonia basal à direita se fundem ao contorno do dia- diafragmáticas e os espaços pleurais, o parênquima pul
fragma/fígado. Explica, também, por que uma pneumo monar e sua vascularização, os hilos pulmonares, a tra
nia de segmento medial do lobo médio, que toca o cora queia e os brônquios-fonte, o coração, a aorta e o restante
ção, borra seu contorno. do mediastino.
Outro fato muito importante na análise é a dúvida. É imprescindível ter em mente que o tórax é uma es
A dúvida deve ser respeitada, descrita como tal, ou seja: trutura tridimensional projetada em um filme ou imagem
se em uma radiografia houver dúvida se um nódulo é de forma bidimensional (parece óbvio, mas não é) e, por
calcificado ou não, se uma lesão está no lobo médio ou tanto, múltiplas estruturas se superpõem, de maneira que
superior, deve-se descrever essa dúvida e não tentar por a densidade dessas estruturas e outras incidências podem
adivinhação escolher uma das opções. definir melhor os achados.
É muito fácil solicitar outros métodos de imagem para Não é incomum ter dúvida se um mamilo ou um calo
resolver a dúvida, minimizando o fator erro do relatório. ósseo em uma costela é uma lesão pulmonar (Figura 13).
No caso dos mamilos, sua quase sempre presente bi-
lateralidade e simetria podem resolver a questão. Podem
ser necessários exame físico e a realização de nova radio
grafia com os mamilos marcados com reparo radiopaco
para o correto diagnóstico. Pode ocorrer assimetria dos
mamilos em pacientes tanto femininos como masculinos.
Na Figura 14, observam-se o aspecto do tórax nor
mal em adultos masculinos e femininos e a projeção das
linhas mediastinais anatômicas principais.
Partes moles
A análise se inicia pela espessura das partes moles,
permitindo facilmente o diagnóstico de obesidade ou
magreza (caquexia), que isoladamente podem indicar
diagnósticos ou condições clínicas (p. ex., obesidade ali-
mentar/Cushing ou desnutrição/doença consumptiva)
(Figura 15).
Dobras cutâneas podem ser identificáveis como li
nhas em geral arqueadas, mas frequentemente vistas em
pacientes imobilizados (crianças) ou pacientes de unida
de de terapia intensiva (UTI). Nos pacientes de UTI, em
especial, essas dobras podem ser paralelas ao contorno
lateral da caixa torácica, podendo induzir ao diagnóstico
errado de pneumotórax (Figura 16).
Enfisema subcutâneo pode ter várias origens, sendo
Figura 12 Radiografia simples de um ovo mostrando as quatro
as mais comuns procedimentos cirúrgicos, traumas per-
densidades básicas do corpo humano. É necessário ter boa von
tade para ver a gema! furantes, infecções, traqueostomias e drenos torácicos.
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Figura 13 A: Radiografia de tórax posteroanterior masculino com mamilos identificáveis. B: Detalhe da radiografia.
Figura 14 A: Tórax masculino normal em projeção posteroanterior (PA). B: Projeção das principais linhas mediastinais: 1) linha para-
vertebral direita; 2) recesso azigoesofágico/linha de junção posteroinferior; 3) linha para-aórtica; 4) linha de junção posterossuperior; 5)
triângulo mediastinal anterior, seguido inferiormente pela linha de junção anterior. C: Tórax posteroanterior feminino normal. D: Observar
o contorno das sombras mamárias, que são a continuação das linhas axilares anteriores. A análise do mediastino é a mesma do tórax
masculino. O contorno das demais estruturas do mediastino está descrito na Figura 84.
14 TRATADO DE R A D IO LO G IA PULMÕES, CORAÇÃO E VASOS
Figura 17 Exuberante enfisema subcutâneo delaminando os Figura 19 Mamas pequenas e densas, femininas pelo seu con
planos anatômicos, visualizando-se, inclusive, os feixes muscu teúdo parenquimatoso ou masculinas pela musculatura peitoral,
lares dos peitorais. provocam velamento no tórax sem o contorno clássico das mamas.
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Plano ósseo
É necessária a análise de todos os ossos visíveis na ra
Figura 24 Sombras dos músculos esternocleidomastóideos
diografia do tórax, ou seja: (setas horizontais) e fossa jugular (setas oblíquas).
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Costelas
Observar todas as costelas visíveis bilateralmente (ge
ralmente a 11 e a 12 não são visíveis, por serem obscure
cidas pelas partes moles abdominais).
As costelas são ossos alongados que têm uma borda
arredondada superiormente e formato inferiormente afi
lado, parecendo a lâmina de uma faca, em que se locali
zam as artérias, as veias e os nervos intercostais.
Em função desse detalhe anatômico, as punções pleu-
ropulmonares devem ser feitas tangenciando a margem
superior das costelas, para evitar lesões do feixe vascu-
lonervoso.
Em alguns pacientes, a margem inferior dos segmen
tos posteriores das costelas pode não ser identificada em
função de seu formato laminar, mas não deve ser confun
dida com lesão óssea destrutiva (Figura 25). No entanto, a
descontinuidade da margem superior das costelas é indi
cativa de lesão. É importante lembrar-se das lesões mais
comuns, que são as fraturas/calos ósseos, as metástases e
Figura 25 Observa-se a aparente descontinuidade da margem
as lesões primárias, que podem ser líticas ou escleróticas. inferior das costelas assinaladas. Esse achado é normal.
São comuns ilhotas de tecido ósseo compacto nas coste
las, que podem ser confundíveis com nódulos calcificados
pulmonares. Caso o nódulo tenha extensão “extracostal”,
provavelmente está no pulmão, ou deve-se fazer radiogra
fia em expiração (o nódulo permanece inalterado se estiver
na costela ou se mobiliza se estiver no pulmão).
Costela cervical
É uma anomalia relativamente frequente que consiste
em uma costela hipoplásica, articulada, geralmente em C7,
que pode estar ossificada ou não e ser uni ou bilateral, sen
do visível na radiografia quando ossificada (Figura 26).
A costela cervical caracteriza uma anomalia de transição
cervicotorácica e geralmente não tem sintoma ou significa Figura 26 Costelas cervicais calcificadas em C7 bilateralmente.
do patológico. Em alguns pacientes, pode produzir a síndro-
me do desfiladeiro torácico, que consiste em compressão de
estruturas vasculonervosas (plexo braquial e artérias sub riados graus de elevação do braço ou rotação da cabeça,
clávias), podendo também ser produzida pela musculatura sendo feito o diagnóstico no TC multislice com contraste
do escaleno e do músculo peitoral. Essa síndrome pode ser intravenoso, na posição de gatilho (que produz o sintoma),
verificada sem a presença da costela cervical, e a costela cer tornando evidentes o ponto de compressão e o agente causal.
vical não produz, necessariamente, a síndrome. É importan
te lembrar que a costela cervical pode não estar calcificada, Outras anom alias costais
sendo apenas cartilaginosa e invisível na radiografia.
Em alguns pacientes, os sintomas de dor, parestesia e São relativamente frequentes as anomalias morfológi
adormecimento do membro superior só ocorrem com va- cas e de desenvolvimento dos arcos costais.