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RESUMO
Antes de se iniciar a avaliação dos achados radiográficos no exame de radiografia (RX) de tórax, é preciso se atentar
às incidências realizadas e aos parâmetros técnicos do exame. A sistematização da avaliação, utilizando a rotina
semiológica e a terminologia correta, também é importante. Este artigo visa abordar os aspetos técnicos básicos
para a realização de um bom exame de RX de tórax e apresentar um roteiro de avaliação sistematizada para sua
correta interpretação. O exame de RX de tórax deve ser realizado, sempre que possível, com as incidências em
posteroanterior (PA) e perfil. Há outras incidências que são realizadas de maneira complementar ou em situações
específicas, como a anteroposterior (AP), decúbito lateral com raios horizontais (Laurel), apicolordótica, oblíquas,
expiração máxima e com marcadores no tórax. Os 3 principais parâmetros técnicos do RX de tórax avaliados na
rotina clínica são a dose de radiação (verificar se o RX não ficou pouco ou muito penetrado), inspiração correta
(verificar se o exame não está expirado) e o alinhamento (verificar se o RX não está rodado). A sistematização na
avaliação do exame de RX de tórax, seguindo uma rotina semiológica, ajuda a reduzir a chance de erros de inter-
pretação e de se perder alterações menos importantes ou secundárias. O modelo de laudo normal pode servir de
roteiro para a análise do exame.
ABSTRACT
Paying attention to the projection and technical parameters is essential before starting to interpret conventional
chest radiography findings. Systematic evaluation using a semiology routine and proper terminology is important in
radiography interpretation. In this article, we meant to cover the basic technical aspects for getting a good exam
and propose a systematic script to correct interpretation of conventional chest radiographies. When possible, the
chest radiography should be performed in both projections: posteroanterior (PA) and lateral. There are some other
specific projections like anteroposterior (AP), lateral decubitus with horizontal rays (Laurel), apicolordotic, obliques,
maximum expiration and radiography with external markers. The 3 main technical parameters evaluated in clini-
cal routine are the radiation dose (related to the exposure, leading to a too brighten or too dark image), correct
inspiration (verifying if the exam wasn’t made in expiration) and alignment (verifying if the patient was corrected
aligned to the ray direction). Systematic evaluation of conventional chest radiography going through a semiology
routine helps reducing the chance of missing subtle or secondary findings. A normal exam report model could work
as a guide to the exam interpretation.
1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p5-16
Aspectos técnicos e roteiro de análise da radiografia de tórax
6 https://www.revistas.usp.br/rmrp
Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
Figura 1: Posicionamento do paciente para realização da radiografia em PA do tórax e a respectiva imagem do exame.
Figura 2: Posicionamento do paciente para realização da radiografia em perfil do tórax e a respectiva imagem do exame.
A imagem em perfil pode ser obtida com o cação do coração (feixe de raios X penetra pela
lado direito ou esquerdo junto ao detector, mais direita). Quanto mais próxima a estrutura do de-
comumente o segundo, para reduzir a magnifi- tector radiológico, menor a ampliação e deforma-
ção e melhor a nitidez. É comum que uma lesão com o paciente sentado ou deitado e o feixe de raios
localizada atrás do coração ou nas bases atrás X penetra por via anterior, estando a porção poste-
das cúpulas diafragmáticas seja pouco visível na rior do tórax em contato com o detector (figura 3)5.
imagem em PA, e nestas situações a incidência Na imagem em AP o coração encontra-se
em perfil é útil. O perfil também auxilia a detectar amplificado4, já que está mais afastado do de-
opacidades intersticiais, já que os pulmões estão tector, tornando menos fidedigna a caracterização
sobrepostos, salientando a presença de opacida- do aumento da área cardíaca através do índice
des sutis e difusas10. Por vezes, a imagem em per- cardiotorácico. Esta incidência também dificulta
fil pode ser obtida após a ingestão oral de meio de a avaliação de opacidades pulmonares anterio-
contraste positivo pelo paciente, para auxiliar na res, como no lobo médio e língula5. Se o pacien-
avaliação do esôfago, hérnia hiatal e na dilatação te estiver deitado, prejudicada ainda a adequada
do átrio esquerdo11–14. avaliação da trama vascular pulmonar, como por
exemplo na caracterização de redistribuição ou
Anteroposterior cefalização relacionada à congestão pulmonar.
Figura 3: Radiografia do tórax em PA ortostático (esquerda) e AP deitado (direita). Notar a diferença de qualidade das ima-
gens, sendo que a imagem em PA permite melhor avaliação dos pulmões e estruturas mediastinais.
Decúbito lateral com raios horizontais (Laurel) se há suspeição de doença pleural à direita, com obli-
teração do seio costofrênico direito, a imagem deve ser
Esta incidência é indicada principalmente para realizada com o paciente em decúbito lateral direito.
auxiliar na identificação de derrame pleural e na dife- A ampola de raios X é colocada horizontalmente,
renciação de derrame e espessamento pleural. Deve com o feixe incidindo anteriormente no corpo do
ser realizada com o paciente deitado sobre o lado em paciente e o detector colocado junto a face posterior
que se suspeita haver doença pleural. Desta maneira, do tórax (figura 4)4. Menos comumente, o decúbito
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lateral pode ser utilizado na suspeição de pneu- decúbito lateral4. É importante lembrar que o lí-
motórax, devendo, nesta situação, o lado suspeito quido que escorre está livre, portanto, por vezes,
estar para cima. quando da presença de septações e loculações,
pode-se não identificar o aspecto típico no RX em
O decúbito lateral é utilizado principalmente decúbito lateral ou identifica-se que apenas par-
para avaliação de doença pleural, identifican- te do líquido escorre, indicando tratar-se de um
do o líquido pleural livre. derrame pleural complexo. Nestes casos, é apro-
priado complementar a avaliação com outros mé-
Na presença de derrame pleural, observa- todos de imagem, como a tomografia computa-
mos que o líquido escorre junto ao gradil costal dorizada (TC) com uso de contraste endovenoso,
inferior, formando um nível líquido na imagem em ultrassonografia (US) ou a RM.
Figura 4: Posicionamento para o RX Laurel (figura esquerda). Imagens em PA (superior direita) e decúbito lateral direito com
raios horizontais (inferior direita) de outro paciente, evidenciando a obliteração do seio costofrênico direito, com o derrame
pleural melhor evidenciado (escorreu junto ao gradil costal) no decúbito ipsilateral (setas).
Demais incidências
mente4,9. Esta posição pode ser incômoda para o
paciente, tendo como opção angular o tubo de RX
As demais incidências radiográficas são me- de maneira a simular o posicionamento e obtendo
nos utilizadas atualmente, principalmente devido assim imagem semelhante. Na imagem apicolordó-
ao desenvolvimento e maior disponibilidade da TC tica, as clavículas estão elevadas e são retiradas
de tórax. dos campos pulmonares, facilitando a identificação
A incidência apicolordótica é realizada com o de lesões nas regiões apicais, assim como no lobo
paciente em hiperlordose, as costas apoiadas sobre médio e língula. O coração e os grandes vasos ficam
o detector e o feixe penetrando pelo tórax anterior- de avaliação prejudicada (figura 5).
Figura 5: Posicionamento para aquisição de imagem na incidência apicolordótica (esquerda). Imagem do RX (direita) mos-
trando o deslocamento superior das clavículas, permitindo melhor visibilização dos ápices pulmonares.
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Figura 6: Imagens em inspiração (esquerda) e expiração (direita) de um paciente com corpo estranho (peça de brinquedo)
impactado em brônquio fonte esquerdo. Na fase expiratória é possível identificar o aprisionamento aéreo de todo pulmão
esquerdo, que não reduz de volume como o pulmão direito normal. O mediastino desvia-se à direita e a cúpula esquerda
mantém-se rebaixada.
Figura 7: Radiografia PA do tórax sem e com marcadores metálicos nos mamilos. Na grafia à esquerda, observa-se a imagem
do mamilo (seta) que pode simular nódulo pulmonar.
Figura 8: Exemplos de imagens obtidas com técnicas diferentes. À nossa esquerda, uma imagem muito penetrada, escura. À
nossa direita, uma imagem pouco penetrada, com baixa dose de radiação.
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Figura 9: A imagem à esquerda mostra uma aquisição com inspiração correta, destacando a identificação de 10 arcos costais
posteriores. À direita temos uma imagem pouco inspirada da mesma paciente, mostrando como há diferença do volume e
transparência pulmonar e da área cardíaca.
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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
Neste texto foram apresentados e discuti- 6. Hansell DM, Bankier A a, MacMahon H, McLoud TC, Mül-
ler NL, Remy J. Fleischner Society: Glossary of Terms
dos os seguintes tópicos:
for Thoracic Imaging. Radiology. 2008;246(3):697-722.
doi:10.1148/radiol.2462070712
• incidências básicas e complementares de 7. Souza Jr. AS, Araujo Neto C de, Jasinovodolinsky D, et
RX de tórax, como são obtidas e suas in- al. Terminologia para a descrição de tomografia com-
dicações putadorizada do tórax: Sugestões iniciais para um
consenso brasileiro. Radiol Bras. 2002;35(2):125-128.
• problemas relacionados aos parâmetros doi:10.1590/S0100-39842002000200016
técnicos do exame, como identificar e o que
8. Silva CIS, Marchiori E, Souza Júnior AS, Müller NL. Con-
significam senso brasileiro ilustrado sobre a terminologia dos des-
• a sistematização da avaliação semiológica critores e padrões fundamentais da TC de tórax. J Bras
Pneumol. 2010;36(1):99-123. doi:10.1590/S1806-
do exame, sua importância e um roteiro su-
37132010000100016
gerido de análise
9. Bontrager KL, Lampignano J. Tratado de Posicionamento
Radiografico E Anatomia. 7th ed. Elsevier Editora Ltda;
2010.
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4. Goodman LR. Felson: Princípios de Radiologia Do Tórax: 14. Spindola-Franco H, Fish BG. Radiology of the Heart.
Estudo Dirigido. 2. ed. Atheneu; 2001. Springer US; 2012.
MATERIAL SUPLEMENTAR
EXERCÍCIOS
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5. Qual das alternativas abaixo não faz parte de um relatório de RX de tórax normal?
a) Estruturas ósseas íntegras
b) Trama vascular pulmonar normal
c) Ausência de opacidades pulmonares
d) Índice cardiotorácico dentro da normalidade
e) Linfonodos mediastinais de aspecto habitual
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Suplemento Temático: A Radiografia Simples de Tórax
RESUMO
A radiografia simples do tórax permite identificar um conjunto de estruturas e órgãos, incluindo os elementos da
parede torácica (ossos e partes moles), cavidades pleurais, vias aéreas, hilos pulmonares, vasculatura pulmonar,
mediastino, coração, aorta e pulmões direito e esquerdo. Este artigo visa abordar as principais representações das
estruturas anatômicas contempladas pela radiografia de tórax através de um texto programado com exemplos e
ilustrações baseadas em exames de nosso serviço.Inicialmente, é preciso atentar para a técnica, características do
paciente e variantes anatômicas. É importante identificar as regiões das mamas, a bolha gástrica e a opacificação
infradiafragmática direita pelo fígado. Da parte óssea, avaliamos principalmente as clavículas, região dos ombros,
arcos costais, coluna torácica e o esterno. Os seios costofrênicos representam o principal marcador de doença da
cavidade pleural. Devemos avaliar a via aérea central (principalmente traqueia e carina), os hilos pulmonares di-
reito e esquerdo e a vasculatura pulmonar. É importante conhecer as estruturas que formam a silhueta cardiome-
diastinal normal, para assim poder identificar a presença de lesões mediastinais e sinais de doença cardiovascular.
Já em relação à anatomia pulmonar, devemos lembrar que o pulmão direito é diferente do esquerdo e avaliação das
imagens em PA e perfil é importante para localizar mais adequadamente as alterações radiográficas nos pulmões.
Por último, mas não menos importante, devemos conhecer as principais variantes anatômicas identificadas no RX
de tórax, com por exemplo a costela cervical, as calcificações costocondrais e o lobo acessório da veia ázigos.
ABSTRACT
Conventional chest radiography allows us to identify a bunch of structures and organs, including chest wall ele-
ments (e.g.: bones and soft tissue), pleural cavities, airways, pulmonary hila and vasculature, mediastinum, heart,
aorta, and right and left lungs. This article aims to review anatomy of the structures examined by chest radiography
through a didactic text with illustrations and figures from exams of our institution. The first things we should at-
tempt to evaluate is the exam technique, patients characteristics and anatomy variants. It is important to identify
the breasts shadows, gastric bullae and hepatic opacification below the diaphragm. Among bone structures, we
mainly evaluate the clavicles, shoulder joints, ribs, chest spine and the sternum. The costophrenic angles are the
main marker of pleural diseases. Our evaluation should contemplate the airways (particularly trachea and carina),
the pulmonary hila (right and left) and pulmonary vasculature. It is important to know the structures that com-
pose the normal cardiomediastinal silhouette, so we can recognize mediastinal lesions and cardiovascular disease.
Anatomically, the right lung differs from the left one, and the correlation between frontal and lateral images are
essential to the precise location of the anomalies. At last, we should have familiarity with some common anatomical
variants in chest radiography, like cervical ribs, costal cartilage calcifications and the Azygos vein lobe.
Keywords: Thoracic Radiography. Chest. Anatomy.
1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p17-29
Anatomia normal da radiografia de tórax
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Figura 1: Imagens em PA e perfil do tórax de indivíduo do sexo feminino, destacando-se algumas estruturas de partes moles.
Os elementos do arcabouço ósseo identificados e voltado para cima, enquanto o aspecto anterior
no RX de tórax são principalmente a coluna toráci- é inferior e voltado para baixo (figuras 2 e 3)10,13.
ca, os arcos costais (costelas), esterno, clavículas,
escápulas e úmero proximal. O esterno e a coluna Na grafia em PA avaliamos principalmente as
são melhor identificados nas imagens em perfil. Os clavículas, região dos ombros, arcos costais
arcos costais apresentam uma inclinação postero- e curvatura da coluna. Na grafia em perfil, a
anterior e são vistos em “dois momentos” na grafia coluna torácica e o esterno.
em PA. O aspecto posterior do arco costal é superior
Figura 2: Indivíduo masculino, santista, boleiro. A nossa esquerda grafia em PA com o primeiro arco costal direito em des-
taque e a contagem dos demais arcos costais no aspecto posterior. A direita reconstrução 3D de exame de tomografia do
mesmo indivíduo mostrando o arcabouço ósseo torácico.
Figura 3: Indivíduo masculino, santista, boleiro. A nossa esquerda grafia em perfil com a articulação manubrio-esternal em
destaque. A direita reconstrução 3D de exame de tomografia do mesmo indivíduo mostrando o arcabouço ósseo torácico.
A cavidade pleural é um “saco” de parede a posição do coração. Este aspecto pode ser ob-
dupla, formado pela pleura parietal junto à pare- servando tanto na grafia em PA quanto no perfil10.
de torácica e a pleura visceral junto ao pulmão, Os seios costofrênicos são recessos for-
que contém uma fina camada de líquido pleural mados pela intersecção entre os diafragmas e a
envolvendo o pulmão. O espaço pleural é geral- parede torácica, e na imagem radiográfica são
mente descrito como um espaço virtual, que se marcadores de doença pleural (derrame e/ou es-
estende inclusive pelas fissuras pulmonares. No pessamento)1,8,10. O seio costofrênico normal for-
RX de tórax, as cavidades pleurais são delimita- ma ângulo agudo e tem transparência semelhante
das pelo arcabouço ósseo apical e lateralmente, ao pulmão normal. Na imagem em PA avaliamos
pelo mediastino medialmente e pelas cúpulas dia- os seios costofrênicos laterais, enquanto na ima-
fragmáticas inferiormente. gem em perfil avaliamos os seios costofrênicos
A cúpula diafragmática normal tem conve- anteriores e posteriores, estes últimos mais pro-
xidade voltada para cima e a direita é mais alta fundos e mais sensíveis à detecção de derrames
que a esquerda na maioria dos indivíduos, devido pleurais pequenos (figura 4)13.
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Figura 4: Imagens em PA e perfil do tórax, em destaque para o seio costofrênico direito, que no perfil em geral é superior ao
esquerdo.
Figura 5: Imagem em PA mostrando a via aérea central com a carina em destaque. A direita reconstrução tridimensional da
árvore traqueobrônquica de exame de tomografia computadorizada do mesmo indivíduo. BFD / BFE: brônquio fonte direito /
esquerdo; BI: brônquio intermédio; LSD / LSE: brônquio lobar superior direito / esquerdo; LM: brônquio lobar médio; Lin: brôn-
quio lingular; LID / LIE: brônquio lobar inferior direito / esquerdo.
A vasculatura pulmonar é composta pelas tificados nos campos pulmonares superiores são
artérias pulmonares (sangue não oxigenado prove- menos calibrosos e numerosos quando comparados
niente do ventrículo direito), veias pulmonares (san- aos vasos dos campos inferiores1,10,18.
gue oxigenado levado ao átrio esquerdo) e artérias Na imagem radiográfica, os hilos pulmona-
brônquicas (ramos da aorta descendente)14. As ar- res são representados principalmente pelas ar-
térias brônquicas irrigam as paredes dos brônquios térias pulmonares, por serem mais calibrosas e
e tecidos de sustentação, e não são identificadas densas10. Cursando inferiormente, destaca-se o
no RX. Na imagem radiográfica em PA identificamos tronco basal vascular bilateralmente (artéria in-
o tronco da artéria pulmonar, formando o segundo terlobar descendente)10. Na maioria dos indivídu-
arco cardíaco a esquerda1,10. As artérias e veias os, o hilo pulmonar esquerdo é mais alto que o
pulmonares são identificadas nos hilos e regiões direito1,10. A direita o brônquio fonte cursa acima
peri-hilares, se estendendo até próximo a periferia da artéria pulmonar, enquanto a esquerda a arté-
dos pulmões, com calibres distalmente menores. ria é superior ao brônquio (figuras 6 e 7).
As artérias se originam nos hilos pulmonares e se
dividem em dois (dicotomizam), enquanto as veias No RX de tórax devemos avaliar a via aérea
confluem de duas em uma em direção ao átrio central (principalmente traqueia e carina), os
esquerdo. No RX de tórax do paciente saudável hilos pulmonares direito e esquerdo e a vas-
em ortostase (de pé), os vasos pulmonares iden- culatura pulmonar.
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Figura 6: Imagem em PA do tórax, destacando-se os hilos pulmonares direito e esquerdo (setas) representados principalmente
pelos ramos das artérias pulmonares. O contorno cardíaco também está desenhado, com dois arcos a direita e três a esquerda
(VCS: veia cava superior; AD: átrio direito; Ao: aorta; TP: tronco pulmonar; VE: ventrículo esquerdo, VD: ventrículo direito). A di-
reita, reconstrução tridimensional de imagem de tomografia computadorizada do coração e vasos no plano em correspondência.
Figura 7: Imagem em perfil do tórax, com o contorno cardíaco desenhado (Ao: aorta; TP: tronco pulmonar; VD: ventrículo
direito; AE: átrio esquerdo; VCI: veia cava inferior; VE: ventrículo esquerdo). A direita, reconstrução tridimensional de imagem
de tomografia computadorizada do coração e vasos no plano em correspondência.
Figura 8: A esquerda, imagem de RX de tórax em perfil e no centro imagem sagital de tomografia computadorizada mostrando
os compartimentos mediastinais. A direita há uma imagem radiográfica em PA e axial de TC. Mediastino anterior ou pré vascu-
lar: azul; mediastino médio ou visceral: laranja; mediastino posterior ou paravertebral: verde.
A silhueta cardíaca, na imagem em PA, pos- nar, e posteriormente pelas câmaras esquerdas e
sui 2 arcos a direita (superior = veia cava supe- pela veia cava inferior10,22. Nos pacientes idosos,
rior; inferior = átrio direito) e 3 arcos a esquer- devido à ectasia da aorta, o arco cardíaco supe-
da (superior = aorta; médio = tronco pulmonar; rior à direita pode ser representado pela aorta as-
inferior = ventrículo esquerdo)1,10,22. Na imagem cendente. O coração na imagem radiográfica tem
em perfil a silhueta cardíaca é delimitada ante- atenuação homogênea de partes moles, podendo-
riormente pelo ventrículo direito e tronco pulmo- -se ver apenas os vasos normais em sobreposição
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Figura 10: A esquerda, imagem de RX de tórax em PA; no centro, reconstrução tridimensional volumétrica de exame de tomo-
grafia computadorizada, e a direita, reconstrução coronal tomográfica do mesmo exame do mesmo indivíduo. Nas imagens de
TC foi realizada a segmentação lobar pulmonar, para se fazer correspondência com o RX no mesmo plano, lembrando que na
imagem radiográfica os lobos estão superpostos. Amarelo: lobo superior direito; verde: lobo médio; laranja: lobo inferior direito;
azul: lobo superior esquerdo (incluindo língula); rosa: lobo inferior esquerdo.
Figura 11: A esquerda, imagem de RX de tórax em perfil; no centro, reconstrução sagital de exame de tomografia computado-
rizada do pulmão direito, e a direita, reconstrução sagital tomográfica do pulmão esquerdo do mesmo exame do mesmo indi-
víduo. Nas imagens de TC foi realizada a segmentação lobar pulmonar, para se fazer correspondência com o RX no mesmo
plano, lembrando que na imagem radiográfica os lobos estão superpostos. Amarelo: lobo superior direito; verde: lobo médio;
azul escuro: lobo inferior direito; azul claro: lobo superior esquerdo (incluindo língula); rosa: lobo inferior esquerdo.
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relacionada à síndrome do desfiladeiro torácico13. vertida), este por sua vez podendo ser de todos
Há outras malformações das costelas que podem órgãos toracoabdominais (situs inversus totalis).
gerar confusão na interpretação do RX de tórax, O arco aórtico a direita da traqueia é raro e
como a costela bífida e hipoplásica, sendo portan- pode estar associado a presença de artéria subclávia
to importante conhecer estas variantes25. esquerda aberrante, que por sua vez pode apre-
As extremidades anteriores dos arcos costais sentar uma dilatação de sua origem denominada
se articulam com o esterno através de cartila- divertículo de Kommerell (figuras 12 e 13)26,27.
gens e normalmente não são identificadas no RX.
As calcificações destas cartilagens podem ocorrer
na senilidade, com padrão diferente nos homens
(marginal) e nas mulheres (central).
O lobo acessório da veia ázigos aparece
quando há um deslocamento lateral da veia pro-
traindo para o segmento apical do lobo superior
direito durante a embriogênese10,13. Possui quatro
folhetos pleurais, mas não é um lobo verdadeiro
porque não apresenta brônquio próprio.
A dextrocardia corresponde a uma mal ro-
tação congênita do coração, em que este encon-
tra-se a direita no tórax com ápice voltado a di-
reita13. Pode ser isolada (mais rara) ou associada Figura 12: Imagem em PA mostrando presença de costela
a situs inversus (imagem em espelho, posição in- cervical a direita.
Figura 13: A esquerda, imagem em PA de paciente com lobo acessório da veia ázigos (setas). A direita, imagem em PA de
paciente com situs inversus totalis (dextrocardia).
13. Müller CIS, Müller NL. CBR - Tórax. 2. ed. Elsevier Edito-
Neste texto foi discutida a anatomia básica ra Ltda; 2016.
da radiografia de tórax, identificando-se principal-
14. Hall JE. Guyton and Hall Textbook of Medical Physiolo-
mente a coluna, arcos costais, cúpulas diafragmá- gy.; 2016.
ticas, hilos pulmonares, contornos do mediastino
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28 https://www.revistas.usp.br/rmrp
Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
MATERIAL SUPLEMENTAR
EXERCÍCIOS
a) Sulco superior
b) Janela aortopulmonar
c) Seio cardiofrênico
d) Seio costofrênico
e) Recesso ázigo-esofágico
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5- Representam variantes anatômicas identificadas no RX de tórax, exceto:
a) Costela cervical
b) Calcificações costocondrais
c) Lobo acessório da veia ázigos
d) Cifoescoliose torácica
e) Arco aórtico a direita
RESUMO
Reconhecer os principais sinais radiológicos nos exames de tórax pode auxiliar na identificação dos padrões de
doenças e estreitar o diagnóstico diferencial. Muitos sinais utilizam termos metafóricos e alguns são descritos até
como altamente sugestivos de um diagnóstico. Alguns sinais podem ser vistos tanto na radiografia quanto na to-
mografia, enquanto outros apenas em um ou outro método. Juntamente com a semiologia radiológica correta e o
uso adequado da terminologia, o conhecimento dos sinais radiológicos favorece a interpretação mais correta das
alterações nos exames de imagem do tórax. Nesse artigo, realizamos uma breve revisão ilustrativa dos principais
sinais descritos na radiografia do tórax.
ABSTRACT
Knowledge of the main radiology signs may help recognizing patterns of diseases and cover the main possible
differential diagnosis. Many of the signs use metaphoric terms and some are told highly suggestive of a specific
disease. Some signs may be recognized in conventional chest radiography and in computed tomography, while
others are just applicable in one of these methods. Along with the use of the correct semiology and terminology,
knowledge of these signs helps to achieve the correct interpretation of chest radiography findings. In this article,
we’ve made a brief review of the main thoracic radiology signs.
1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Médica,
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto (SP),
Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p45-56
Sinais radiológicos no tórax
1-2-3
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Borda incompleta
Broncograma aéreo
Cervicotorácico
Cimitarra
Crescente aéreo
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Figura 8: Paciente com TEP agudo em base pulmonar esquerda e imagem de infarto caracterizando o sinal
da corcova de Hampton (seta). Na angioTC, identificamos o embolo (seta na imagem de janela mediastinal) e
o infarto pulmonar correspondente (seta na imagem de janela pulmonar).
Dedo de luva
Diafragma contínuo
Duplo contorno
Figura 9: Sinal do dedo de luva em paciente asmático com
Indica aumento do átrio esquerdo na radio- aspergilose broncopulmonar alérgica.
grafia em PA, aparecendo como opacidade curvi-
línea na silhueta cardíaca direita medialmente ao
contorno normal do átrio direito4,11 (figura 11).
Também são sinais de aumento desta câmara car-
díaca o deslocamento superior do brônquio fonte
esquerdo e o surgimento do quarto arco cardíaco
a esquerda.
“Luftsichel”
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Palla
Menisco
Pico justafrênico
S de Golden
Silhueta
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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
Sobreposição hilar
Sulco profundo
Trilho de trem
“Westermark”
conceito de que os sinais acrescentam es- 14. HALASZ NA, HALLORAN KH, LIEBOW AA. Bronchial and ar-
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MATERIAL SUPLEMENTAR
EXERCÍCIOS
2. Qual o sinal que pode auxiliar na identificação do pneumotórax em uma radiografia em AP?
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3. Qual o sinal identificado na imagem em PA deste exame de RX de tórax? Qual a provável alteração?
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Suplemento Temático: A Radiografia Simples de Tórax
RESUMO
É muito importante que sejam seguidos o roteiro de análise (semiologia) e a linguagem (terminologia) corretos na
identificação, interpretação e descrição dos achados em exames de imagem, inclusive na radiografia simples (RX)
de tórax. O consenso na terminologia é importante também para facilitar a comunicação entre os médicos das
diferentes especialidades e entre os diferentes profissionais que atuam na área de saúde, além de uniformizar a
avaliação e comparação de resultados no campo da pesquisa e investigação científica. Neste texto, descrevemos
o consenso atual dos termos descritivos a serem utilizados na avaliação do exame de RX do tórax, incluindo as
alterações com aumento da atenuação pulmonar (por ex.: opacidades alveolares e intersticiais), redução da ate-
nuação pulmonar (por ex.: cistos, bolhas e cavidades) e alterações extrapulmonares (por ex.: obliteração do seio
costofrênico, alargamento mediastinal).
ABSTRACT
It’s very important in the interpretation of the conventional chest radiography the use of a standard routine of anal-
ysis (semiology) and correct language (terminology). Using the terms presented in modern glossaries make com-
munication easier between different healthcare providers and allow a more uniform evaluation and interpretation in
the scientific research. In this text we’ve described the terms related to conventional chest radiography, including
the patterns of high attenuation (e.g.: alveolar and interstitial opacities), low attenuation (e.g.: cysts and cavities)
and extrapulmonary findings (e.g.: costophrenic angle obliteration, mediastinal enlargement).
1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p31-43
Semiologia radiológica e terminologia da radiografia de tórax
ca, para ser utilizada na avaliação dos exames de • reconhecer a importância da semiologia e
imagem. É importantíssimo que seja seguido o terminologia radiológica
roteiro de análise e a linguagem correta na des- • utilizar os termos corretos para descrição
crição dos achados em exames de imagem. Os das alterações no RX de tórax
médicos, radiologistas ou de outras especialida- • conhecer as principais alterações radiográ-
des, podem discutir ou mesmo discordar em rela- ficas no tórax
ção ao diagnóstico clínico-radiológico final, porém
todos devem concordar em relação à presença ou
não de uma alteração e descrevê-la de maneira Aspectos gerais
semelhante. Neste contexto, é a semiologia e a
terminologia radiológica que guia a análise, in-
terpretação e a descrição das alterações vistas Divisão didática das alterações radiográ-
em exames de imagem, desde a radiografia sim- ficas no tórax:
ples (RX), passando pela ultrassonografia (US),
tomografia computadorizada (TC) e ressonância • Aumento da atenuação pulmonar: con-
magnética (RM). solidações, opacidades em vidro fosco,
O consenso na terminologia1–3 é importan- opacidades intersticiais de padrão reticular,
te também para facilitar a comunicação entre os nodular, septal e miliar, nódulos e massas,
médicos das diferentes especialidades e entre os bandas e traves parenquimatosas
diferentes profissionais que atuam na área de • Redução da atenuação pulmonar: cisto,
saúde. Mesmo no campo da pesquisa e investi- bolha, cavidade e bronquiectasia
gação científica, o uso da terminologia correta e • Alterações extrapulmonares: obliteração
uniforme é importante quando desejamos com- do seio costofrênico, alargamento me-
parar resultados de estudos e trabalhos científi- diastinal, aumento do volume hilar, re-
cos. Atualmente, a língua inglesa é considerada distribuição da trama vascular pulmonar,
universal na literatura médica e os termos uti- pneumotórax, pneumomediastino, pneu-
lizados nas diferentes línguas tendem a seguir mopericárdio
a tradução dos termos em inglês. Desta manei-
ra, a terminologia radiológica atual tende a ser Didaticamente, podemos dividir as alte-
universal, com uso de termos similares para as rações naquelas que aumentam a atenuação ou
diferentes línguas e culturas. opacificação do parênquima pulmonar (reduzem
Estaremos neste texto, portanto, descre- a transparência e deixam os pulmões “mais bran-
vendo o consenso atual acerca dos termos des- cos”) e naquelas que reduzem sua atenuação
critivos relacionados ao exame de RX do tórax. (aumentam a transparência e deixam os pulmões
Para esta avaliação, há documentos de socieda- “mais escuros”). Além disto, há as alterações ex-
des nacionais2,3 e internacionais1 que sugerem trapulmonares e quadros sindrômicos específicos,
a terminologia a ser utilizada, tanto para o RX que auxiliam na compreensão e avaliação do qua-
quanto para a TC de alta resolução do tórax. Des- dro clínico-radiológico.
ta maneira, salienta-se que podemos sim utilizar Desta maneira, descreveremos neste texto,
a maioria dos descritores de TC nas imagens de na forma de um glossário ilustrado e de fácil leitu-
RX. Os sinais radiológicos também são muito im- ra, os principais termos a serem utilizados na ava-
portantes e acrescentam especificidade na ava- liação do exame de RX do tórax, de acordo com as
liação das imagens, porém serão discutidos mais recomendações modernas das principais socieda-
detalhadamente em outro texto. des médicas que trabalham comeste exame.
32 https://www.revistas.usp.br/rmrp
Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
Figura 1: Consolidação com broncogramas aéreos em lobo superior direito, delimitada pela fissura horizontal. Paciente com
pneumonia adquirida na comunidade.
Figura 2: Consolidação em lobo médio fazendo sinal da silhueta com o contorno cardíaco direito. A perda de volume indica
a atelectasia de lobo médio.
Uma consolidação com sinais de perda vo- fecciosos atípicos ou não bacterianos (pneumonia
lumétrica representa uma atelectasia pulmonar. viral, pneumocistose)16–19 e doenças intersticiais
Os sinais diretos de perda de volume são o des- pulmonares20–22.
locamento das fissuras pulmonares, dos vasos São comumente chamadas de opacidades
e brônquios. Sinais indiretos são representados alveolares a consolidação e a opacidade em vidro
pela elevação da cúpula diafragmática, desvio do fosco.
mediastino e retração dos espaços intercostais. O Opacidades intersticiais: as opacidades in-
mecanismo de atelectasia pode ser por reabsor- tersticiais representam alterações que envolvem
ção (pós-obstrutiva), compressão (derrame pleu- predominantemente o interstício pulmonar. Sem-
ral) ou atelectasia passiva (pneumotórax). pre que possível devemos tentar caracterizar qual
Opacidade em vidro fosco: termo mais uti- tipo de opacidade intersticial identificamos. A no-
lizado na TC, mas que deve também ser utilizado menclatura mais tradicional divide as opacidades
no RX, representando uma área indistinta de opa- intersticiais em 2 grandes grupos: reticulares e
cificação do parênquima pulmonar que oblitera nodulares. A nomenclatura atual recomenda uma
parcialmente a vasculatura e a via aérea, menos divisão em 4 tipos, diferenciando o padrão sep-
opaca que a consolidação. O vidro fosco pode re- tal do reticular e o padrão miliar do nodular1,3.
presentar uma alteração do espaço aéreo menos Os padrões septal e miliar são mais específicos
densa (material ou tecido “mais frouxo”) e/ou al- e ajudam a restringir o diagnóstico diferencial.
teração do interstício alveolar14,15. O diagnóstico Por vezes, não é possível no RX diferenciar es-
diferencial de uma opacidade em vidro fosco em tes padrões, mas recomenda-se que, sempre que
geral é semelhante ao da consolidação, porém o plausível, devemos identificar um dentre os 4
vidro fosco está mais relacionado a processos in- padrões intersticiais:
34 https://www.revistas.usp.br/rmrp
Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
• Padrão nodular: inúmeras pequenas opacida- • Padrão septal: linhas perpendiculares à su-
des arredondadas ou ovaladas menores que perfície pleural, na radiografia é geralmente
9 mm. Mais comumente, o padrão nodular representado pelas linhas de Kerley, sendo
está relacionado às doenças inflamatórias mais comuns as linhas B de Kerley (basais)
granulomatosas pulmonares, como a sarcoi- representando espessamento do interstício
dose, a silicose e as infecções (tuberculose, interlobular por edema pulmonar, como na
fungos) (figura 4)1,23. insuficiência cardíaca congestiva (figura 5)1,24.
36 https://www.revistas.usp.br/rmrp
Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
dade em paciente com quadro infeccioso favorece Obliteração do seio costofrênico: os seios
a hipótese de abcesso (figura 11). A cavidade se- costofrênicos laterais e posteriores são os recessos
quelar em geral tem paredes mais finas e conteúdo que marcam a presença de doença pleural no RX
aéreo, podendo confundir com um cisto, bolha ou de tórax7,8. A obliteração do seio costofrênico pode
bronquiectasia cística1,25. ocorrer por derrame e/ou espessamento pleural. O
RX de tórax PA e perfil nem sempre permite diferen-
ciar derrame de espessamento e não permite dizer
a causa do derrame pleural. A grafia em decúbito
lateral com raios horizontais (Laurel) pode ajudar.
Na presença de derrame pleural livre obser-
vamos o sinal do menisco, com obliteração homo-
gênea do seio costofrênico formando imagem de
aspecto côncavo, que quando identificado indica
presença de derrame (figura 13).
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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
do tórax7,8,12,28. O alargamento mediastinal pode redistribuição da trama, os vasos nos lobos superio-
ser benigno, relacionado por exemplo ao timo em res estão aumentados em número e calibre quando
crianças e ao ingurgitamento dos vasos da base comparados aos vasos dos lobos inferiores (figu-
na imagem em AP, mas pode também represen- ra 15). Uma boa dica é comparar os vasos da região
tar a presença de uma massa mediastinal, como supra-hilar esquerda com a infra-hilar direita.
um timoma, teratoma, bócio mergulhante ou um
linfoma (figura 14)24,29,30.
40 https://www.revistas.usp.br/rmrp
Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
CONCLUSÃO
Neste texto foram apresentados e discuti-
dos os seguintes tópicos:
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MATERIAL SUPLEMENTAR
EXERCÍCIOS
1. Cite 3 alterações que levam a redução da atenuação pulmonar no exame radiográfico do tórax.
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_________________________________________________________________________________
3. Quais são os quatro padrões de opacidades intersticiais? Cite uma causa para cada.
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4. RX de tórax de 2 pacientes diferentes, ambos com doença intersticial pulmonar. Indique quais são
as alterações radiográficas de cada caso.
A. B.
_________________________________________________________________________________
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_________________________________________________________________________________
RESUMO
O exame de radiografia simples (RX) do tórax é utilizado para verificação do posicionamento adequado de vários
tipos de aparatos médicos, além de auxiliar na detecção de complicações relacionadas à sua implantação e uso.
Principalmente nos pacientes criticamente doentes, com suporte cardiovascular ou ventilação mecânica, a realiza-
ção do RX é importante na avaliação de tubos endotraqueais, sondas de alimentação, cateteres vasculares e drenos
de tórax. O posicionamento inadequado desses dispositivos pode levar a complicações sérias que muitas vezes
não são clinicamente evidentes. Outros aparatos médicos, mesmo que na parede torácica ou externos ao corpo do
paciente, podem ser identificados no exame de RX, sendo importante saber reconhece-los para não confundir com
imagens de corpo estranho ou outro tipo de lesão torácica. Neste texto, serão abordados os aspectos radiográficos
das principais sondas, tubos e cateteres, vasculares e não vasculares, discutindo o posicionamento correto e algu-
mas complicações identificáveis ao exame de RX de tórax.
ABSTRACT
Conventional chest radiography is routinely used to check the position of many medical devices, also allowing us to
identify a bunch of complications related to them. Mostly in the critically ill patients with cardiovascular support or
mechanical ventilation, chest radiography is important in the evaluation of endotracheal tubes, alimentary probes,
vascular catheters and thoracic tubes. The correct interpretation of findings related to these devices is essential, as
many of the complications can be clinically missed.Other medical devices superposed to the chest wall should be
correctly identified for avoiding misinterpretations leading to incorrect diagnoses like intrathoracic strange bodies
or other lesions. In this article, it will be presented some of the imaging aspects of the main probes, catheters and
devices (vascular and non-vascular), discussing the correct positioning and some of the complications that can be
found in chest radiography.
Keywords: Conventional Radiography. Chest. Catheters. Medical Devices.
1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p57-71
Sondas, cateteres e outros aparatos médicos na radiografia de tórax
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Figura 1: A esquerda, tubo endotraqueal adequadamente posicionado, com extremidade distal a 5,2 cm da carina. Notar tam-
bém o cateter de acesso venoso central via jugular interna direita com extremidade em projeção da veia cava superior e fios
de monitorização cardíaca. A direita, cânula de traqueostomia adequadamente posicionada.
A traqueostomia é realizada diante da neces- tubo estiver muito baixo, pode ocorrer intubação
sidade de intubação prolongada. A ponta do tubo seletiva, principalmente para o brônquio fonte
(ou cânula) de traqueostomia deve estar localizada direito, que é mais verticalizado, levando a ate-
aproximadamente na metade da distância entre a lectasia pulmonar parcial ou completa2,8. A intu-
estomia e a carina6,7 (figura 1). Diferentemente da bação seletiva também aumenta o risco de pneu-
avaliação do tubo orotraqueal, a avaliação radiográ- motórax contralateral, devido a hiperinsuflação
fica da traqueostomia independe da posição da ca- compensatória (figura 2). Uma complicação im-
beça do paciente. Pequena quantidade de enfisema portante é a laceração da traqueia, principalmen-
subcutâneo ou mesmo pequeno pneumomediastino te da porção membranosa posterior, levando a
pode ser identificado logo após a traqueostomia e pneumomediastino e pneumotórax9. Neste caso,
passagem da cânula, sem repercussão clínica2. a tomografia computadorizada (TC) é importante
para demonstrar a localização e extensão da lesão
A extremidade do tubo endotraqueal deve estar traqueal2 (figura 3). Outra possível complicação é
a aproximadamente 5 cm da carina. Já o tubo de o posicionamento do tubo no esôfago, podendo
traqueostomia deve estar “no meio do caminho” inclusive levar a perfuração esofágica, com pneu-
entre a estomia e a carina. momediastino e posterior mediastinite2. Quando
o tubo está no esôfago, o RX mostra o tubo la-
Se o tubo endotraqueal estiver muito alto, teralmente à coluna aérea normal da traqueia,
há o risco de extubação, ventilação ineficiente, ou se estendendo inferiormente à carina, muito
distensão gástrica e lesão das cordas vocais. Se o comumente com distensão aérea do estômago8,10
Figura 2: Intubação seletiva em brônquio fonte direito, com atelectasia parcial do pulmão esquerdo e desvio mediastinal para
a esquerda. Há também cateter venoso central bem posicionado e fios de monitorização cardíaca.
Figura 3: Controle radiográfico pós intubação traqueal mostra extenso enfisema de partes moles, pneumotórax a direita e
pneumomediastino (desenhando a aorta descendente e coração). A direita, a TC mostra a laceração da membrana posterior
da traqueia pelo tubo.
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Figura 4: A esquerda, sonda nasogástrica bem posicionada. Há também cateter de acesso venoso central e cânula de traque-
ostomia, ambos adequadamente posicionados. A direita, sonda nasoentérica com extremidade corretamente posicionada a
direita da linha média.
As complicações mais comuns relacionadas posicionamento pode ser identificado pela posição
às sondas digestivas incluem o posicionamen- anômala do trajeto ou da extremidade da sonda
to errado, com inserção incompleta ou aspecto (figura 5). As grafias em duas incidências podem
enrolado da sonda na faringe ou esôfago2,9. Por ajudar. Ainda, após a administração de medica-
vezes, a sonda pode ser inserida na árvore tra- ção ou nutrição, o RX pode mostrar o rápido de-
queobrônquica, e menos comumente, mas com senvolvimento de derrame pleural, alargamento
pior repercussão clínica, pode haver perfuração e mediastinal, pneumotórax ou pneumomediastino,
a extremidade ser identificada no pulmão, cavi- aumentando a suspeição para o mal posiciona-
dade pleural e mediastino17. Na radiografia, o mal mento da sonda2.
Figura 5: Sonda digestiva mal posicionada, com extremidade em projeção de ramo de brônquio lobar inferior direito. Há tam-
bém cateter venoso central com extremidade distal na transição entre veia cava superior e átrio direito, e imagens de plugs de
monitorização cardíaca.
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depende do objetivo da drenagem. Para tratamen- substituído por uma valva de Heimlich ou por um
to do pneumotórax, o dreno pode ser mais alto e cateter pig tail, este mais fino.
deve cursar lateral e superiormente com extre-
midade próximo à região apical. Para tratamento A posição do dreno de tórax depende do obje-
dos derrames pleurais, o dreno pode ser inserido tivo. No pneumotórax, é mais alto e cursa su-
mais baixo e o trajeto posterior e inferior, com ex- periormente. No derrame, pode ser mais baixo
tremidade em projeção basal ou lateral (figuras 6 e ter trajeto basal. Nos derrames complexos,
e 7)2,18. Nos casos de derrame pleural loculado ou deve ter localização específica de acordo com
septado, o dreno deve cursar através da coleção a posição das coleções.
ou coleções. Às vezes, o dreno torácico pode ser
Figura 6: A esquerda, paciente com pneumonia de base esquerda e pneumotórax pós punção venosa a direita, drenado
adequadamente. Notar também a cânula de traqueostomia, o cateter venoso central e a sonda nasogástrica, todos adequa-
dos. Aparece ainda na grafia o tubo condutor da ventilação mecânica. A direita, drenagem de hemopneumotórax a direita após
acidente de moto x carro. Há também importante enfisema de partes moles.
Figura 7: Paciente com pneumonia de base esquerda e pneumotórax pós punção venosa a direita (mesmo paciente da
figura 6). Na imagem a direita, o primeiro dreno torácico colocado de maneira incorreta, em trajeto interfissural e dobrado
sobre si. Posteriormente, o dreno foi recolocado de maneira correta (figura 6).
Se o dreno para de drenar ar ou líquido, sempre ser feito após uma punção central (ver fi-
deve-se suspeitar de mal posicionamento3. O ori- guras de 1 a 7). O cateter intra-atrial deve ser evi-
fício proximal do dreno deve estar no interior do tado, pois, apesar de raro, há o risco de arritmia,
tórax, medialmente a borda interna das costelas, ruptura miocárdica e tamponamento cardíaco9.
caso contrário indica inserção incompleta. O dre- A complicação mais comum é o posiciona-
no pode também ser erroneamente inserido pelo mento inadequado do cateter, por vezes associado
tecido subcutâneo do paciente, em posição inter- a torção ou acotovelamento10 (figura 8). Se neces-
fissural ou mesmo intrapulmonar (figura 7). A ob- sário, outras incidências podem auxiliar a identi-
tenção de grafias em mais de uma incidência aju- ficar que o cateter não se encontra em projeção
da a confirmar a suspeita, além da realização da da VCS, podendo estar na veia cava inferior, veia
TC quando necessário. No caso de laceração pul- ázigos ou ventrículo direito. Variantes anatômicas,
monar, complicações mais graves podem aconte- como persistência da veia cava superior esquerda,
cer, como a formação de hematoma parenquima- drenagem venosa pulmonar anômala e defeitos dos
toso, infarto pulmonar e fístula broncopleural. septos cardíacos podem também levar a trajeto
Outras causas de drenagem ineficiente in- anômalo do cateter e gerar confusão4.
cluem o acotovelamento do dreno (“dobrado so-
bre si”), entupimento por coágulos ou debris18 e A ponta do cateter venoso central deve estar
oclusão da ponta por justaposição no mediastino na projeção da veia cava superior no exame
ou parede torácica19. A perfuração de órgãos me- de RX, abaixo da primeira costela anterior e
diastinais, do diafragma ou de órgãos abdominais logo acima do contorno do átrio direito.
é complicação rara, mas grave18.
Aparatos vasculares
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RX de tórax e, quando necessário, pode-se com- Além das complicações semelhantes às ob-
plementar a avaliação com grafias após injeção de servadas em casos de acesso venoso central, o ca-
pequena quantidade de meio de contraste iodado teter de Swan-Ganz pode levar a infarto pulmonar e,
pelo cateter ou com a TC. Complicações menos mais raramente, a dissecção da artéria pulmonar6.
comuns e de diagnóstico mais difícil incluem a trom-
bose completa ou parcial, ruptura, fragmentação
e migração de fragmento do cateter (incluindo a Marcapasso cardíaco
embolia pulmonar não trombótica)4.
O marcapasso cardíaco pode ser temporário
ou definitivo e pode ser utilizado para tratamento
Cateter arterial pulmonar de diferentes distúrbios de condução no coração.
O marcapasso temporário pode ser inserido por
O cateter de Swan-Ganz é utilizado para mo- via venosa, transtorácica, epicárdica ou transeso-
nitorização hemodinâmica circulatória, ajudando fágica. Os marcapassos definitivos possuem um
inclusive na diferenciação entre edema pulmonar dispositivo gerador de pulso que fica implanta-
cardiogênico e não cardiogênico. É inserido por via do no subcutâneo anterior do tórax e cabos com
venosa e a ponta deve estar idealmente na arté- eletrodos cardíacos, estes podendo ser único ou
ria pulmonar direita ou esquerda, não se devendo múltiplos. A apresentação mais comum é de dois
estender aos ramos interlobares. Desta maneira, cabos finos e uniformes, um com extremidade em
no RX de tórax, a ponta não deve estar além de átrio direito e outro no ventrículo direito (figura
2 cm de distância do hilo pulmonar10 (figura 8). 9). Em casos de marcapasso biventricular ou te-
rapia de ressincronização, há um terceiro cabo3,
No RX de tórax, a ponta do cateter de Swan- que mais comumente cursa em seio coronariano
-Ganz deve estar na região do hilo pulmonar até uma veia cardíaca esquerda para estimular o
direito ou esquerdo. ventrículo esquerdo, ou pode ter posição epicár-
dica esquerda.
Figura 9: Aparelho de marcapasso cardíaco com dois eletrodos íntegros com extremidades em
Nos pacientes com risco de taquicardia ou fibri- Às vezes, há um terceiro cabo relacionado ao
lação ventricular, o dispositivo de cardioversão-des- ventrículo esquerdo (venoso ou epicárdico). O
fibrilação (CDI) pode estar associado ao mecanismo CDI mais comumente tem um cabo com “mola
de marcapasso20,21(figura 10). O CDI em geral tem distal” e extremidade em ventrículo direito.
gerador maior, possui cabo heterogêneo com “mola”
na região distal e extremidade no ventrículo direito, As mesmas complicações relacionadas aos
e quando da presença de dois cabos, o segundo em cateteres venosos podem ocorrer durante a pas-
VCS ou veiabraquicefálica. sagem do marcapasso cardíaco. Adicionalmente,
pode ocorrer perfuração do miocárdio, identificado
O marcapasso cardíaco definitivo mais comu- no RX quando a ponta do cabo se estende além da
mente possui dois cabos finos de eletrodos, um borda cardíaca10 É preciso estar atento também para
em átrio e outro em ventrículo direito. o deslocamento e as fraturas dos cabos, em geral
fáceis de serem identificados no RX4,22 (figura 10).
Figura 10: Controle pós instalação de CDI em paciente com arritmia cardíaca (RX a esquerda). O aparelho não funcionava
corretamente e a TC (a direita) mostrou que a extremidade do cabo havia perfurado o miocárdio do ventrículo direito e estava
no pericárdio. Notar no RX a presença de sonda digestiva (ponta não identificada) e os eletrodos de monitorização.
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aparatos, é importante saber reconhecer seu as- Outro aparato que pode ser identificado no
pecto radiográfico para não confundir com altera- RX de tórax é o cateter de derivação ventriculo-
ções patológicas ou imagens de corpo estranho3. peritoneal, utilizado no tratamento de hidrocefa-
Muitas vezes, no exame em AP do paciente gra- lia não obstrutiva23 (figura 11). A porção torácica
ve, não é possível retirar os equipamentos médicos de
do cateter cursa no tecido subcutâneo longitudi-
monitorização e suporte do paciente para a realização
nalmente, comunicando a porção cefálica (esta
da radiografia3. Assim, é preciso saber reconhecer no
geralmente ligada a uma valva) com a porção
RX os plugs e fios de monitorização cardíaca, tubos e
conexões dos aparelhos de ventilação mecânica, sondas abdominal. Há complicações que podem ser iden-
e cateteres sobrepostos ao corpo do paciente, para não tificadas no RX de tórax, principalmente a ruptu-
confundir com dispositivos no interior do organismo ra do cateter e o surgimento de derrame pleural,
ou outro tipo de lesão torácica (ver figuras de 1 a 10). mas estas são incomuns.
Figura 11: Paciente com dois cateteres de derivação ventriculoperitoneal cursando anteriormente na parede torácica, um a
direita e outro, mais fino, a esquerda.
É importante também saber identificar os Clips metálicos mediastinais são pequenos, mas
aparatos cirúrgicos no tórax, principalmente os visíveis, e em geral estão relacionados a cirurgia
relacionados à cirurgia cardíaca, torácica e os ma- de revascularização miocárdica ou ressecção de
teriais ortopédicos da coluna, para não confundir tumores mediastinais3. Os fios metálicos de es-
com imagens de corpo estranho3,23 (figura 12). ternorrafia são facilmente identificados no RX e,
por vezes, a fratura de um dos fios pode ser iden- rante um procedimento cirúrgico, caracterizando
tificada ao exame. Outras complicações, como um corpo estranho intratorácico26. Atualmente, até
infecção e deficiência de consolidação óssea, re- as compressas cirúrgicas possuem fios radiopacos
querem outros exames com a TC ou ressonância de marcação, para auxiliar em sua identificação.
magnética (RM)24,25. Próteses valvares cardíacas, Nos casos crônicos, em que um instrumento mé-
stents coronarianos e de ramos do arco aórti- dico é esquecido no interior do corpo do paciente,
co, próteses endovasculares da aorta (reparo de pode-se formar uma reação inflamatória granu-
aneurisma ou tratamento de dissecção), stents lomatosa grave, gerando aspecto de massa, que
traqueais, brônquicos ou esofágicos podem tam- pode ser até confundida com neoplasia (figura 12).
bém ser identificados no RX de tórax3. Para men- Estas massas, quando relacionadas a compressas
suração do pH esofágico, usa-se uma sonda de ou gazes, são chamadas de gossipibomas27.
pHmetria com ponta radiopaca, sendo que o RX é
feito para identificar o posicionamento adequado A imagem de corpo estranho deve ser suspei-
da extremidade da sonda no esôfago distal3. tada quando se identifica no RX um dispositivo
Obviamente que, se ao exame de RX do tó- ou equipamento médico não esperado, por
rax, for identificada imagem de outro tipo de apara- vezes, relacionado a massa ou coleção. Por
to cirúrgico, como compresssa, gaze, pinça, agulha isso, é importante saber reconhecer todos os
ou afastador, deve ser averiguado a possibilidade aparatos médicos e seu aspecto habitual na
de iatrogenia, em que tal aparato foi esquecido du- imagem radiográfica.
Figura 12: Controle radiográfico tardio pós-operatório de cirurgia de revascularização miocárdica mostrou imagem com as-
pecto de massa junto ao coração associado a imagem metálica no interior, lembrando um afastado cirúrgico. A esquerda, no
RX, é possível ver os fios metálicos de esternorrafia e os clips cirúrgicos. A direita, a imagem de TC mostra tratar-se de uma
grande massa de provável granuloma de corpo estranho em região epicárdica.
68 https://www.revistas.usp.br/rmrp
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Neste texto foram apresentados e discuti- 13. Boiselle PM. Imaging of the Large Airways. Clin Chest Med.
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MATERIAL SUPLEMENTAR
EXERCÍCIOS
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
3. Qual aparato médico é identificado neste exame? Inserido por que via? O posicionamento está
correto? Por quê?
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70 https://www.revistas.usp.br/rmrp
Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK
A. Marcapasso cardíaco
B. CDI
C. Cateter de Swan-Ganz
D. Balão intra-aórtico
E. Fios de monitorização cardíaca
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Seguem as respostas aos exercícios (material complementar) dos textos de estudo dirigido do sim-
pósio de Radiografia Simples do Tórax.
1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p73-80
Respostas dos exercícios
TEXTO 1
Resposta correta:
(C) AP (D) Apicolordótica
(B) Decúbito lateral com raios horizontais (E) Obliquas
(A) PA e perfil
3. O que há de errado com esta radiografia de tórax em relação à técnica de aquisição da imagem?
O que pode ser feito para melhorar?
Resposta correta: Grafia em AP, pouco penetrada, pouco inspirada e paciente não centrado. Tentar
repetir em PA, com maior dose de radiação, melhor inspiração e centrar o paciente no filme.
Resposta correta: As bordas mediais das clavículas têm a mesma distância para o centro da coluna
dorsal.
5. Qual das alternativas abaixo não faz parte de um relatório de RX de tórax normal?
a) Estruturas ósseas íntegras d) Índice cardiotorácico dentro da normalidade
b) Trama vascular pulmonar normal e) Linfonodos mediastinais de aspecto habitual
c) Ausência de opacidades pulmonares
Resposta correta: e
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TEXTO 2
Resposta correta: d
Resposta correta: à direita o brônquio fonte é curto e verticalizado, enquanto à esquerda o brôn-
quio fonte é longo e horizontalizado. Apenas à direita há o brônquio intermédio, após a origem do
brônquio lobar superior direito.
Resposta correta:
A – traqueia
B – hilo pulmonar esquerdo
C – bolha gástrica
D – seio costofrênico direito
Resposta correta: é periférico e delimitado pelos septos interlobulares, é ventilado pelo bronquíolo
terminal.
Resposta correta: d
TEXTO 3
1. Cite 3 alterações que levam à redução da atenuação pulmonar no exame radiográfico do tórax.
Resposta correta: a
3. Quais são os quatro padrões de opacidades intersticiais? Cite uma causa para cada.
Resposta correta:
Padrão reticular – doença intersticial pulmonar fibrosante (fibrose pulmonar idiopática, doença cola-
genovascular, reação medicamentosa)
Padrão nodular – doença granulomatosa (sarcoidose, silicose, tuberculose)
Padrão septal – edema pulmonar (linfangite carcinomatosa)
Padrão miliar – tuberculose miliar (histoplasmose, metástases)
4. RX de tórax de 2 pacientes diferentes, ambos com doença intersticial pulmonar. Indique quais são
as alterações radiográficas de cada caso.
A. B.
Resposta correta:
Caso A. Opacidades de padrão reticular com predomínio basal e periférico, sinais de perda de volume
pulmonar, aumento da área cardíaca
Caso B. Opacidades de padrão nodular com predomínio superior e central, sinais de hiperinsuflação,
aumento do volume hilar por linfonodomegalias
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Resposta correta: d
TEXTO 4
Resposta correta: d
3. Qual o sinal identificado na imagem em PA deste exame de RX de tórax? Qual a provável alteração?
Resposta correta: Há uma consolidação em faixa fazendo sinal da silhueta com a borda cardíaca
direita. Representa atelectasia do lobo médio.
Resposta correta: Convergência hilar indica que a alteração é do hilo pulmonar, enquanto a sobre-
posição hilar indica que a alteração é extra hilar.
Resposta correta:
(B) Atelectasia redonda (A) Linfonodopatia paratraqueal e hilar bilateral (sarcoidose)
(C) Neoplasia central obstrutiva (D) Empiema pleural
(E) Bola fúngica
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TEXTO 5
Resposta correta: d
3. Qual aparato médico é identificado neste exame? Inserido por que via? O posicionamento está
correto? Por quê?
Resposta correta: Identifica-se um cateter de acesso venoso central inserido pela veia subclávia
direita, com posicionamento incorreto, pois está dobrado sobre si.
Resposta correta:
(E) Não confundir com sondas ou cateteres (D) Ponta radiopaca ao nível do botão aórtico
(A) Dois eletrodos, em átrio e ventrículo direito (C) Extremidade na região do hilo pulmonar
(B) Um cabo em ventrículo direito
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