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Suplemento Temático: A Radiografia Simples de Tórax

Aspectos técnicos e roteiro de análise da


radiografia de tórax
Technical aspects and analysis guide of the chest radiography
Danilo Tadao Wada1 , José Antonio Hiesinger Rodrigues1, Marcel Koenigkam Santos2

RESUMO
Antes de se iniciar a avaliação dos achados radiográficos no exame de radiografia (RX) de tórax, é preciso se atentar
às incidências realizadas e aos parâmetros técnicos do exame. A sistematização da avaliação, utilizando a rotina
semiológica e a terminologia correta, também é importante. Este artigo visa abordar os aspetos técnicos básicos
para a realização de um bom exame de RX de tórax e apresentar um roteiro de avaliação sistematizada para sua
correta interpretação. O exame de RX de tórax deve ser realizado, sempre que possível, com as incidências em
posteroanterior (PA) e perfil. Há outras incidências que são realizadas de maneira complementar ou em situações
específicas, como a anteroposterior (AP), decúbito lateral com raios horizontais (Laurel), apicolordótica, oblíquas,
expiração máxima e com marcadores no tórax. Os 3 principais parâmetros técnicos do RX de tórax avaliados na
rotina clínica são a dose de radiação (verificar se o RX não ficou pouco ou muito penetrado), inspiração correta
(verificar se o exame não está expirado) e o alinhamento (verificar se o RX não está rodado). A sistematização na
avaliação do exame de RX de tórax, seguindo uma rotina semiológica, ajuda a reduzir a chance de erros de inter-
pretação e de se perder alterações menos importantes ou secundárias. O modelo de laudo normal pode servir de
roteiro para a análise do exame.

Palavras-chave: Radiografia Torácica. Tórax. Aspectos Técnicos.

ABSTRACT
Paying attention to the projection and technical parameters is essential before starting to interpret conventional
chest radiography findings. Systematic evaluation using a semiology routine and proper terminology is important in
radiography interpretation. In this article, we meant to cover the basic technical aspects for getting a good exam
and propose a systematic script to correct interpretation of conventional chest radiographies. When possible, the
chest radiography should be performed in both projections: posteroanterior (PA) and lateral. There are some other
specific projections like anteroposterior (AP), lateral decubitus with horizontal rays (Laurel), apicolordotic, obliques,
maximum expiration and radiography with external markers. The 3 main technical parameters evaluated in clini-
cal routine are the radiation dose (related to the exposure, leading to a too brighten or too dark image), correct
inspiration (verifying if the exam wasn’t made in expiration) and alignment (verifying if the patient was corrected
aligned to the ray direction). Systematic evaluation of conventional chest radiography going through a semiology
routine helps reducing the chance of missing subtle or secondary findings. A normal exam report model could work
as a guide to the exam interpretation.

Keywords: Thoracic Radiography. Chest. Technical Aspects.

1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p5-16
Aspectos técnicos e roteiro de análise da radiografia de tórax

INTRODUÇÃO • saber identificar problemas relacionados


aos parâmetros técnicos do exame;

O exame de radiografia (RX) na avaliação do tórax


representa o método de imagem mais antigo,
mais barato, mais disponível1o Departamento de In-
• sistematizar a avaliação semiológica do exame.

-formática do SUS (Datasus e tecnologicamente mais Incidências


simples, desta maneira representando, na maioria
das situações, o primeiro exame radiológico a ser
solicitado para avaliação das doenças torácicas2. O O exame de RX de tórax deve ser reali-
aparelho de RX está comumente disponível mesmo zado, sempre que possível, com as incidências
nas unidades básicas de atendimento de saúde e em posteroanterior (PA) e em perfil. Há outras
possui ainda a vantagem de ser móvel, permitindo incidências que são realizadas de maneira com-
a realização de exames de pacientes acamados, no plementar ou em situações específicas:
centro cirúrgico, centro de terapia intensiva ou nas
salas de atendimento de urgência e trauma. • anteroposterior (AP)
O RX ainda representa, apesar de todos os • decúbito lateral com raios horizontais
avanços tecnológicos dos demais métodos, o método (Laurel)
de imagem radiológica com a maior resolução espa- • apicolordótica
cial (o menor pixel de imagem)3. Porém, a imagem • obliquas
radiográfica é uma representação bidimensional de • expiração máxima
estruturas tridimensionais, desta maneira tendo • com marcadores no tórax
como importante desvantagem a sobreposição de
estruturas na imagem, algo que não acontece com Posteroanterior e em perfil
os métodos seccionais, como a tomografia compu-
tadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM)4.
Na avaliação de um exame de RX de tórax, Este é o protocolo padrão e deve ser realiza-
o primeiro passo consiste em identificar quais as do sempre que possível, com o paciente em ortos-
incidências obtidas e se são suficientes para res- tase (de pé) e em inspiração profunda4,5. Como a
ponder a questão clínica. Depois é preciso verifi- radiografia é uma representação bidimensional de
car se a técnica utilizada foi adequada e se não há uma estrutura tridimensional, a presença de duas
artefatos ou deficiências que possam prejudicar a incidências auxilia a localizar e caracterizar as alte-
interpretação do exame5. Também se faz impor- rações mais adequadamente. Devido a divergência
tante a sistematização da avaliação da imagem5, dos feixes de raio X emitidos pela ampola, a ima-
respeitando a semiologia e terminologia radioló- gem em PA é preferida em relação à AP, pois apro-
gica6–8, para que todas as informações contidas xima o coração do detector e reduz sua magnifica-
no RX sejam adequadamente identificadas, inter- ção5. A posição em PA também auxilia a retirar as
pretadas e relatadas. A sistematização também escápulas dos campos pulmonares (figuras 1 e 2).
auxilia a não deixar de descrever todos os acha-
dos na imagem, inclusive aqueles não diretamen- O protocolo padrão do RX de tórax é realizado
te relacionados à queixa clínica. em PA e em perfil, com o paciente de pé e
realizando uma inspiração profunda.

OBJETIVOS GERAIS A distância mínima do paciente para a ampola


(distância foco-objeto) deve ser de 1,5 m, sendo ide-
Após a leitura deste texto, o leitor deverá al a distância tecnicamente padronizada de 1,8 m4,9.
ser capaz de: O paciente pode elevar os membros superiores, em
geral com apoio (segurando em algo), ou apoiar as
• conhecer as incidências básicas e comple- mãos na cintura afastando os ombros, além de en-
mentares do RX de tórax; costar a porção anterior do tórax no detector.

6 https://www.revistas.usp.br/rmrp
Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

Figura 1: Posicionamento do paciente para realização da radiografia em PA do tórax e a respectiva imagem do exame.

Figura 2: Posicionamento do paciente para realização da radiografia em perfil do tórax e a respectiva imagem do exame.

A imagem em perfil pode ser obtida com o cação do coração (feixe de raios X penetra pela
lado direito ou esquerdo junto ao detector, mais direita). Quanto mais próxima a estrutura do de-
comumente o segundo, para reduzir a magnifi- tector radiológico, menor a ampliação e deforma-

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ção e melhor a nitidez. É comum que uma lesão com o paciente sentado ou deitado e o feixe de raios
localizada atrás do coração ou nas bases atrás X penetra por via anterior, estando a porção poste-
das cúpulas diafragmáticas seja pouco visível na rior do tórax em contato com o detector (figura 3)5.
imagem em PA, e nestas situações a incidência Na imagem em AP o coração encontra-se
em perfil é útil. O perfil também auxilia a detectar amplificado4, já que está mais afastado do de-
opacidades intersticiais, já que os pulmões estão tector, tornando menos fidedigna a caracterização
sobrepostos, salientando a presença de opacida- do aumento da área cardíaca através do índice
des sutis e difusas10. Por vezes, a imagem em per- cardiotorácico. Esta incidência também dificulta
fil pode ser obtida após a ingestão oral de meio de a avaliação de opacidades pulmonares anterio-
contraste positivo pelo paciente, para auxiliar na res, como no lobo médio e língula5. Se o pacien-
avaliação do esôfago, hérnia hiatal e na dilatação te estiver deitado, prejudicada ainda a adequada
do átrio esquerdo11–14. avaliação da trama vascular pulmonar, como por
exemplo na caracterização de redistribuição ou
Anteroposterior cefalização relacionada à congestão pulmonar.

O RX de tórax em AP é realizado quando o pa- A imagem em AP tem pior qualidade e pode


ciente está impossibilitado de realizar o exame em atrapalhar a avaliação da área cardíaca,
PA e em perfil, como por exemplo nas crianças pe- trama vascular pulmonar e de opacidades
quenas, pacientes no leito, em cadeiras de roda ou pulmonares.
com dificuldades de mobilização. Pode ser realizada

Figura 3: Radiografia do tórax em PA ortostático (esquerda) e AP deitado (direita). Notar a diferença de qualidade das ima-
gens, sendo que a imagem em PA permite melhor avaliação dos pulmões e estruturas mediastinais.

Decúbito lateral com raios horizontais (Laurel) se há suspeição de doença pleural à direita, com obli-
teração do seio costofrênico direito, a imagem deve ser
Esta incidência é indicada principalmente para realizada com o paciente em decúbito lateral direito.
auxiliar na identificação de derrame pleural e na dife- A ampola de raios X é colocada horizontalmente,
renciação de derrame e espessamento pleural. Deve com o feixe incidindo anteriormente no corpo do
ser realizada com o paciente deitado sobre o lado em paciente e o detector colocado junto a face posterior
que se suspeita haver doença pleural. Desta maneira, do tórax (figura 4)4. Menos comumente, o decúbito

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lateral pode ser utilizado na suspeição de pneu- decúbito lateral4. É importante lembrar que o lí-
motórax, devendo, nesta situação, o lado suspeito quido que escorre está livre, portanto, por vezes,
estar para cima. quando da presença de septações e loculações,
pode-se não identificar o aspecto típico no RX em
O decúbito lateral é utilizado principalmente decúbito lateral ou identifica-se que apenas par-
para avaliação de doença pleural, identifican- te do líquido escorre, indicando tratar-se de um
do o líquido pleural livre. derrame pleural complexo. Nestes casos, é apro-
priado complementar a avaliação com outros mé-
Na presença de derrame pleural, observa- todos de imagem, como a tomografia computa-
mos que o líquido escorre junto ao gradil costal dorizada (TC) com uso de contraste endovenoso,
inferior, formando um nível líquido na imagem em ultrassonografia (US) ou a RM.

Figura 4: Posicionamento para o RX Laurel (figura esquerda). Imagens em PA (superior direita) e decúbito lateral direito com
raios horizontais (inferior direita) de outro paciente, evidenciando a obliteração do seio costofrênico direito, com o derrame
pleural melhor evidenciado (escorreu junto ao gradil costal) no decúbito ipsilateral (setas).

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Aspectos técnicos e roteiro de análise da radiografia de tórax

Demais incidências
mente4,9. Esta posição pode ser incômoda para o
paciente, tendo como opção angular o tubo de RX
As demais incidências radiográficas são me- de maneira a simular o posicionamento e obtendo
nos utilizadas atualmente, principalmente devido assim imagem semelhante. Na imagem apicolordó-
ao desenvolvimento e maior disponibilidade da TC tica, as clavículas estão elevadas e são retiradas
de tórax. dos campos pulmonares, facilitando a identificação
A incidência apicolordótica é realizada com o de lesões nas regiões apicais, assim como no lobo
paciente em hiperlordose, as costas apoiadas sobre médio e língula. O coração e os grandes vasos ficam
o detector e o feixe penetrando pelo tórax anterior- de avaliação prejudicada (figura 5).

Figura 5: Posicionamento para aquisição de imagem na incidência apicolordótica (esquerda). Imagem do RX (direita) mos-
trando o deslocamento superior das clavículas, permitindo melhor visibilização dos ápices pulmonares.

As imagens obliquas, que podem ser obti-


das tanto na incidência posteroanterior à direita lar nódulos ou outras opacidades pulmonares no RX
quanto à esquerda9, podem auxiliar na avaliação de tórax. Os mamilos muito comumente são vistos
do aumento isolado de câmaras cardíacas ou na como pequenas opacidades arredondadas projeta-
melhor identificação de alterações parcialmen- das no campo pulmonar inferior, nem sempre de
te encobertas por estruturas mediastinais. Hoje maneira simétrica5. Nestes casos, podemos realizar
estas incidências são pouco utilizadas, principal- a radiografia com um marcador torácico metálico
mente devido à maior disponibilidade da ecocar- ou radiopaco, como um clip ou pequena quantidade
diografia para avaliação cardíaca. de meio de contraste positivo, colocado sobre o
O exame em expiração máxima pode ser mamilo ou uma eventual lesão de pele (figura 7).
obtido em PA ou AP e é utilizado para auxiliar
a detectar pequeno pneumotórax, que se torna A incidência apicolordótica pode auxiliar na
mais evidente na expiração quando comparado à avaliação de lesões apicais. As incidências
imagem em inspiração4,5. A imagem em expiração obliquas podem ajudar a identificar aumento
pode também auxiliar no diagnóstico de aspiração isolado de câmara cardíaca. A expiração má-
de corpo estranho, identificando o aprisionamen- xima ajuda a identificar pequeno pneumotórax
to aéreo relacionado ao mecanismo valvular do e aspiração de corpo estranho. A imagem com
objeto na via aérea central (o lobo ou segmento marcador torácico é útil na identificação do
pulmonar distal se mantém hipertransparente e mamilo ou de uma lesão de pele que simula
expandido na expiração) (figura 6)4,5. nódulo pulmonar. Estas são pouco utilizadas
Por vezes, os mamilos ou lesões de pele e atualmente.
subcutâneo (por ex.: verrucosidades) podem simu-

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Figura 6: Imagens em inspiração (esquerda) e expiração (direita) de um paciente com corpo estranho (peça de brinquedo)
impactado em brônquio fonte esquerdo. Na fase expiratória é possível identificar o aprisionamento aéreo de todo pulmão
esquerdo, que não reduz de volume como o pulmão direito normal. O mediastino desvia-se à direita e a cúpula esquerda
mantém-se rebaixada.

Figura 7: Radiografia PA do tórax sem e com marcadores metálicos nos mamilos. Na grafia à esquerda, observa-se a imagem
do mamilo (seta) que pode simular nódulo pulmonar.

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Aspectos técnicos e roteiro de análise da radiografia de tórax

Parâmetros Técnicos sendo o terço inferior da coluna obscurecido pela


sombra cardíaca e do abdome superior. Quando
identificamos toda a coluna, descrevemos que a
Os 3 principais parâmetros técnicos do grafia está muito penetrada, com dose excessiva de
RX de tórax avaliados na rotina clínica são: radiação, enquanto que, quando não se identifica
nenhuma porção da coluna, descrevemos que o
• regime de dose (penetração do RX) exame está pouco penetrado (figura 8).
• inspiração correta Atualmente, com o advento da imagem di-
• alinhamento (centrado ou não) gital, as situações de erro de regime de dose po-
dem ser corrigidas após a realização do exame,
reduzindo a necessidade de repetições e novas
Regime de dose exposições do paciente à radiação ionizante5.

Em um exame de RX de tórax, nas incidências Na grafia em PA ou AP adequadamente pe-


em PA ou AP, com dose adequada e boa penetração netrada, identificamos bem apenas o terço
da radiação, é possível identificar a coluna vertebral superior da coluna dorsal.
apenas nas suas porções mais superiores (T1 a T3),

Figura 8: Exemplos de imagens obtidas com técnicas diferentes. À nossa esquerda, uma imagem muito penetrada, escura. À
nossa direita, uma imagem pouco penetrada, com baixa dose de radiação.

Inspiração Uma radiografia pouco inspirada pode difi-


cultar a identificação e caracterização de opacida-
Para a realização do exame de RX de tórax, des pulmonares, doença pleural ou mesmo indi-
o paciente é solicitado a realizar uma apneia ins- car uma falsa cardiomegalia4.
piratória máxima, ou seja, “encher bem o peito de
ar e segurar”. Nos exames realizados com inspira- A correta inspiração permite identificar de 9
ção correta, devemos identificar de 9 a 11 arcos a 11 arcos costais posteriores sobre os pul-
costais posteriores projetados sobre os campos mões.
pulmonares (figura 9)9.

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Figura 9: A imagem à esquerda mostra uma aquisição com inspiração correta, destacando a identificação de 10 arcos costais
posteriores. À direita temos uma imagem pouco inspirada da mesma paciente, mostrando como há diferença do volume e
transparência pulmonar e da área cardíaca.

Alinhamento Na grafia adequadamente alinhada, as bordas


mediais das clavículas são equidistantes da
Em relação ao alinhamento do paciente, no coluna e as escápulas estão projetadas fora
exame centrado, as bordas mediais das clavículas dos campos pulmonares. A coluna do paciente
têm a mesma distância para o centro da coluna encontra-se no centro da imagem, equidistante
dorsal (imagens em PA ou AP). Esta avaliação é das margens laterais.
mais fácil de ser realizada tendo como referência
o processo espinhoso do corpo vertebral ao nível
das clavículas na imagem. É importante também
que as escápulas estejam projetadas fora dos
campos pulmonares, de maneira simétrica, prin-
cipalmente quando realizamos a aquisição em PA
(figura 10).
A grafia rodada distorce a anatomia radio-
lógica normal do tórax, podendo mascarar lesões
ou mesmo criar falsas imagens que simulam alte-
rações patológicas4,5.
Em relação ao alinhamento do detector, é
importante verificar se o paciente está no centro
da imagem, ou seja, a coluna é equidistante em
relação às margens laterais da imagem de RX.
Quando o paciente não está centrado na imagem,
pode ocorrer de um hemitórax ficar mais pene-
trado (hipertransparente) em relação ao outro,
Figura 10: Exemplo de uma radiografia de tórax em PA
prejudicando a avaliação correta do parênquima pouco “rodada”. Notar a assimetria de distância das bordas
pulmonar5,9. mediais das clavículas para a coluna.

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Aspectos técnicos e roteiro de análise da radiografia de tórax

Sistematização da Avaliação (Rotina No item 1 descrevemos as alterações das


Semiológica) partes moles torácicas (pele, subcutâneo, mús-
culos, mamas), como por exemplo a presença de
A sistematização da avaliação do exame ra- calcificações, assimetria mamária ou enfisema.
diográfico deve ser sempre adotada, respeitando As alterações do abdome superior ou região cer-
a semiologia e a terminologia radiológica, para vical, quando identificadas no RX de tórax, podem
que todas as informações contidas no RX sejam também aqui ser descritas.
adequadamente identificadas, interpretadas e re- No item 2 descrevemos as alterações identifi-
latadas. A sistematização também auxilia a não cadas na coluna, arcos costais, clavículas, ossos dos
deixar de descrever todos os achados na imagem, ombros e demais componentes ósseos identifica-
inclusive aqueles não diretamente relacionados à dos. Mais comumente, identificamos alterações de-
queixa clínica ou à história fornecida pelo médico generativas e fraturas, por vezes, lesões suspeitas.
solicitante do exame4,5. Nos itens 3 e 4 avaliamos o mediastino, a
traqueia, os hilos pulmonares e a trama vascular
• A sistematização na avaliação do exame de pulmonar. Nestes itens descrevemos, por exem-
RX de tórax, seguindo uma rotina semio- plo, quando há alargamento mediastinal, desvio
lógica, ajuda a reduzir a chance de erros da traqueia e estruturas mediastinais, aumento
de interpretação e de se perder alterações vascular ou linfonodal do hilo pulmonar, desloca-
menos importantes ou secundárias. mento hilar, redistribuição ou cefalização da trama
vascular pulmonar.
Evidentemente que não existe uma regra No item 5 descrevemos a presença das opa-
fixa quanto ao jeito de avaliar o exame de RX de cidades pulmonares, sejam elas difusas ou focais.
tórax, que pode variar de acordo com o serviço Aqui indicamos a presença de opacidades alveo-
médico, ou mesmo com a experiência do médico lares, intersticiais, nódulos, massas e cavidades,
que analisa as imagens. Porém, é importante que entre outros.
cada médico crie sua rotina de avaliação, para O item 6 indica a busca pelos marcadores
que assim possa sempre identificar todas as alte- de doença pleural (derrame, espessamento), que
rações presentes na imagem. em geral se manifesta através da obliteração das
A seguir, apresentamos uma sugestão de cúpulas diafragmáticas e dos seios costofrênicos.
modelo de relatório normal, que pode atuar como Quando necessário, pode-se solicitar a realização
guia na avaliação sistematizada do RX de tórax: da imagem em decúbito lateral com raios horizon-
tais para complementar a avaliação.
1. PARTES MOLES: sem alterações No item 7 avaliamos a silhueta cardíaca. A
2. ARCABOUÇO ÓSSEO: íntegro. área cardíaca é medida através do índice cardio-
3. MEDIASTINO E TRAQUEIA: centrados. torácico (relação do maior diâmetro transverso do
4. HILOS E TRAMA VASCULAR PULMONAR: as- coração sobre o diâmetro interno da caixa torácica
pecto habitual. ao nível cardíaco), que no adulto é menor ou igual
5. PARÊNQUIMA PULMONAR: transparência nor- a 50%, quando aferido na imagem em PA (inspira-
mal, sem opacidades. da e em ortostase)15,16. Quando há alteração focal
6. CÚPULAS E SEIOS COSTOFRÊNICOS: livres. de arco cardíaco, indicando, por exemplo, aumen-
7. CORAÇÃO: morfologia e índice cardiotorácico to isolado de câmara cardíaca ou hipertensão pul-
normais. monar, também descrevemos neste item.
8. AORTA: sem alterações. O último item compreende a avaliação da
aorta torácica, realizada principalmente ao nível do
A presença de aparatos médicos, como tu- botão aórtico, que forma o primeiro arco cardíaco à
bos, drenos e cateteres, pode ser descrita no iní- esquerda superiormente. Neste item descrevemos,
cio do relatório. por exemplo, a ectasia e ateromatose aórtica.

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

CONCLUSÃO 5. Lacey G De, Morley S, Berman L. Radiografia Do Tórax -


Um Guia Prático. Elsevier Editora Ltda; 2010.

Neste texto foram apresentados e discuti- 6. Hansell DM, Bankier A a, MacMahon H, McLoud TC, Mül-
ler NL, Remy J. Fleischner Society: Glossary of Terms
dos os seguintes tópicos:
for Thoracic Imaging. Radiology. 2008;246(3):697-722.
doi:10.1148/radiol.2462070712
• incidências básicas e complementares de 7. Souza Jr. AS, Araujo Neto C de, Jasinovodolinsky D, et
RX de tórax, como são obtidas e suas in- al. Terminologia para a descrição de tomografia com-
dicações putadorizada do tórax: Sugestões iniciais para um
consenso brasileiro. Radiol Bras. 2002;35(2):125-128.
• problemas relacionados aos parâmetros doi:10.1590/S0100-39842002000200016
técnicos do exame, como identificar e o que
8. Silva CIS, Marchiori E, Souza Júnior AS, Müller NL. Con-
significam senso brasileiro ilustrado sobre a terminologia dos des-
• a sistematização da avaliação semiológica critores e padrões fundamentais da TC de tórax. J Bras
Pneumol. 2010;36(1):99-123. doi:10.1590/S1806-
do exame, sua importância e um roteiro su-
37132010000100016
gerido de análise
9. Bontrager KL, Lampignano J. Tratado de Posicionamento
Radiografico E Anatomia. 7th ed. Elsevier Editora Ltda;
2010.
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Aspectos técnicos e roteiro de análise da radiografia de tórax

MATERIAL SUPLEMENTAR

EXERCÍCIOS

1. Em relação às incidências do RX de tórax, correlacione:


A. Protocolo padrão ( ) AP
B. Para avaliar derrame pleural ( ) Decúbito lateral com raios horizontais
C. Paciente acamado ou de difícil mobilização ( ) PA e em perfil
D. Suspeita de nódulo no ápice do pulmão ( ) Apicolordótica
E. Avaliação de aumento do átrio esquerdo ( ) Obliquas

2. O RX de tórax realizado em expiração máxima pode ajudar em que situações?


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3. O que há de errado com esta radiografia de tórax em relação à técnica de aquisição da
imagem? O que pode ser feito para melhorar?

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4. Como identificamos que um exame de RX de tórax realizado em PA e em perfil está adequada-


mente centrado?
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______________________________________________________________________________

5. Qual das alternativas abaixo não faz parte de um relatório de RX de tórax normal?
a) Estruturas ósseas íntegras
b) Trama vascular pulmonar normal
c) Ausência de opacidades pulmonares
d) Índice cardiotorácico dentro da normalidade
e) Linfonodos mediastinais de aspecto habitual

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Suplemento Temático: A Radiografia Simples de Tórax

Anatomia normal da radiografia de tórax


Normal anatomy of chest radiography
Danilo Tadao Wada1 , José Antonio Hiesinger Rodrigues1, Marcel Koenigkam Santos2

RESUMO
A radiografia simples do tórax permite identificar um conjunto de estruturas e órgãos, incluindo os elementos da
parede torácica (ossos e partes moles), cavidades pleurais, vias aéreas, hilos pulmonares, vasculatura pulmonar,
mediastino, coração, aorta e pulmões direito e esquerdo. Este artigo visa abordar as principais representações das
estruturas anatômicas contempladas pela radiografia de tórax através de um texto programado com exemplos e
ilustrações baseadas em exames de nosso serviço.Inicialmente, é preciso atentar para a técnica, características do
paciente e variantes anatômicas. É importante identificar as regiões das mamas, a bolha gástrica e a opacificação
infradiafragmática direita pelo fígado. Da parte óssea, avaliamos principalmente as clavículas, região dos ombros,
arcos costais, coluna torácica e o esterno. Os seios costofrênicos representam o principal marcador de doença da
cavidade pleural. Devemos avaliar a via aérea central (principalmente traqueia e carina), os hilos pulmonares di-
reito e esquerdo e a vasculatura pulmonar. É importante conhecer as estruturas que formam a silhueta cardiome-
diastinal normal, para assim poder identificar a presença de lesões mediastinais e sinais de doença cardiovascular.
Já em relação à anatomia pulmonar, devemos lembrar que o pulmão direito é diferente do esquerdo e avaliação das
imagens em PA e perfil é importante para localizar mais adequadamente as alterações radiográficas nos pulmões.
Por último, mas não menos importante, devemos conhecer as principais variantes anatômicas identificadas no RX
de tórax, com por exemplo a costela cervical, as calcificações costocondrais e o lobo acessório da veia ázigos.

Palavras-chave: Radiografia Torácica. Tórax. Anatomia.

ABSTRACT
Conventional chest radiography allows us to identify a bunch of structures and organs, including chest wall ele-
ments (e.g.: bones and soft tissue), pleural cavities, airways, pulmonary hila and vasculature, mediastinum, heart,
aorta, and right and left lungs. This article aims to review anatomy of the structures examined by chest radiography
through a didactic text with illustrations and figures from exams of our institution. The first things we should at-
tempt to evaluate is the exam technique, patients characteristics and anatomy variants. It is important to identify
the breasts shadows, gastric bullae and hepatic opacification below the diaphragm. Among bone structures, we
mainly evaluate the clavicles, shoulder joints, ribs, chest spine and the sternum. The costophrenic angles are the
main marker of pleural diseases. Our evaluation should contemplate the airways (particularly trachea and carina),
the pulmonary hila (right and left) and pulmonary vasculature. It is important to know the structures that com-
pose the normal cardiomediastinal silhouette, so we can recognize mediastinal lesions and cardiovascular disease.
Anatomically, the right lung differs from the left one, and the correlation between frontal and lateral images are
essential to the precise location of the anomalies. At last, we should have familiarity with some common anatomical
variants in chest radiography, like cervical ribs, costal cartilage calcifications and the Azygos vein lobe.
Keywords: Thoracic Radiography. Chest. Anatomy.

1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p17-29
Anatomia normal da radiografia de tórax

INTRODUÇÃO O exame de RX permite a identificação das prin-


cipais estruturas anatômicas do tórax, porém é
preciso atentar para a técnica, características do
paciente e variantes anatômicas.
O exame de RX de tórax realizado nas in-
cidências em posteroanterior (PA) e perfil per-
mite uma melhor delimitação e localização das OBJETIVOS GERAIS
estruturas anatômicas. O conjunto de estrutu-
ras e órgãos que podem ser identificados no RX Após a leitura deste texto, o leitor deverá
de tórax podem ser divididos em: ser capaz de:

• parede torácica (ossos e partes moles) • conhecer a anatomia básica da radiografia


• cavidades pleurais de tórax
• vias aéreas • saber identificar principalmente a coluna, ar-
• hilos pulmonares cos costais, cúpulas diafragmáticas, hilos pul-
• vasculatura pulmonar monares, contornos do mediastino e coração,
• mediastino traqueia e projeção dos lobos pulmonares
• coração • conhecer algumas das variantes anatômicas
• aorta mais comuns identificadas no RX de tórax.
• pulmões direito e esquerdo

P rimeiro, devemos lembrar que a imagem ra- Anatomia Radiográfica Normal


diográfica é uma representação bidimensional
(2D) de uma estrutura tridimensional (3D), por- Parede torácica e cavidades pleurais
tanto, há importante sobreposição das estruturas
anatômicas1. Algumas estruturas são melhores A parede torácica é composta pelos elemen-
identificadas do que outras, a depender da com- tos ósseos e de partes moles. Dentre as funções,
posição tecidual dos órgãos, como por exemplo os deve conter e proteger os órgãos torácicos inter-
ossos em comparação com os tecidos moles, pois nos do sistema respiratório e cardiovascular11. Os
músculos e demais elementos são também im-
o osso é denso e atenua de maneira mais impor-
portantes no mecanismo de ventilação, permitin-
tante o feixe de RX, formando imagens mais ní-
do a entrada e saída do ar, a movimentação e
tidas e fáceis de serem identificadas2,3. A técnica
expansão dos pulmões12.
do exame e o perfil biofísico do paciente também
As partes moles devem sempre ser avaliadas,
influenciam na avaliação radiográfica da anato-
com atenção para as mamas nas mulheres, fossas
mia torácica. Por exemplo, em um exame pouco
supraclaviculares, tecidos torácicos laterais, transição
penetrado (baixa dose de radiação – “branco”) de
cervicotorácica e órgão do abdome superior. Por ve-
um paciente obeso e brevilíneo, pode ser difícil de zes, as mamas podem ser identificadas nos homens,
se identificar todas as estruturas anatômicas4,5. principalmente nos casos de ginecomastia. No ab-
Por último, é importante lembrar que existem va- dome superior observamos principalmente o fígado
riantes anatômicas da normalidade, que formam a direita e a bolha gástrica a esquerda (Figura 1)1,10.
imagens diferentes no RX de tórax, muitas ve-
zes podendo simular lesões e doenças6–10. Des- É importante identificar as regiões das mamas,
ta maneira, é importante conhecer as variantes a bolha gástrica e a opacificação infradiafrag-
mais comuns para evitar interpretações errôneas mática direita pelo fígado.
do exame.

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

Figura 1: Imagens em PA e perfil do tórax de indivíduo do sexo feminino, destacando-se algumas estruturas de partes moles.

Os elementos do arcabouço ósseo identificados e voltado para cima, enquanto o aspecto anterior
no RX de tórax são principalmente a coluna toráci- é inferior e voltado para baixo (figuras 2 e 3)10,13.
ca, os arcos costais (costelas), esterno, clavículas,
escápulas e úmero proximal. O esterno e a coluna Na grafia em PA avaliamos principalmente as
são melhor identificados nas imagens em perfil. Os clavículas, região dos ombros, arcos costais
arcos costais apresentam uma inclinação postero- e curvatura da coluna. Na grafia em perfil, a
anterior e são vistos em “dois momentos” na grafia coluna torácica e o esterno.
em PA. O aspecto posterior do arco costal é superior

Figura 2: Indivíduo masculino, santista, boleiro. A nossa esquerda grafia em PA com o primeiro arco costal direito em des-
taque e a contagem dos demais arcos costais no aspecto posterior. A direita reconstrução 3D de exame de tomografia do
mesmo indivíduo mostrando o arcabouço ósseo torácico.

Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):17-29 19


Anatomia normal da radiografia de tórax

Figura 3: Indivíduo masculino, santista, boleiro. A nossa esquerda grafia em perfil com a articulação manubrio-esternal em
destaque. A direita reconstrução 3D de exame de tomografia do mesmo indivíduo mostrando o arcabouço ósseo torácico.

A cavidade pleural é um “saco” de parede a posição do coração. Este aspecto pode ser ob-
dupla, formado pela pleura parietal junto à pare- servando tanto na grafia em PA quanto no perfil10.
de torácica e a pleura visceral junto ao pulmão, Os seios costofrênicos são recessos for-
que contém uma fina camada de líquido pleural mados pela intersecção entre os diafragmas e a
envolvendo o pulmão. O espaço pleural é geral- parede torácica, e na imagem radiográfica são
mente descrito como um espaço virtual, que se marcadores de doença pleural (derrame e/ou es-
estende inclusive pelas fissuras pulmonares. No pessamento)1,8,10. O seio costofrênico normal for-
RX de tórax, as cavidades pleurais são delimita- ma ângulo agudo e tem transparência semelhante
das pelo arcabouço ósseo apical e lateralmente, ao pulmão normal. Na imagem em PA avaliamos
pelo mediastino medialmente e pelas cúpulas dia- os seios costofrênicos laterais, enquanto na ima-
fragmáticas inferiormente. gem em perfil avaliamos os seios costofrênicos
A cúpula diafragmática normal tem conve- anteriores e posteriores, estes últimos mais pro-
xidade voltada para cima e a direita é mais alta fundos e mais sensíveis à detecção de derrames
que a esquerda na maioria dos indivíduos, devido pleurais pequenos (figura 4)13.

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Figura 4: Imagens em PA e perfil do tórax, em destaque para o seio costofrênico direito, que no perfil em geral é superior ao
esquerdo.

Os seios costofrênicos representam o prin- A via aérea se estende desde a cavidade


cipal marcador de doença pleural na imagem ra- nasal até os alvéolos, incluindo a traqueia, brô-
diográfica do tórax1,10. nquios (fontes ou principais, lobares, segmen-
tares e subsegmentares) e bronquíolos (termi-
nais e respiratórios). No RX de tórax com técnica
Vias aéreas e vasculatura pulmonar adequada, é possível identificar a coluna de ar
(hilos pulmonares) presente na traqueia até a origem dos brônquios
lobares, assim como a carina (bifurcação da tra-
As vias aéreas têm o papel principal de condu- queia)1,10,13,17. A traqueia tem trajeto vertical no
zir o ar ambiental até os alvéolos para a realização tórax e, nos pacientes jovens, tem posição cen-
da troca gasosa12,14. Além de conduzir, a via aérea tral, assim como a carina. A árvore traqueobrôn-
atua também na limpeza e controle da temperatura quica direita não é igual a esquerda. O brônquio
e humidade do ar15. Já a vasculatura pulmonar é fonte direito é curto e verticalizado, enquanto do
responsável por conduzir o sangue não oxigenado lado esquerdo o brônquio fonte é longo e horizon-
aos pulmões (irrigar os alvéolos para a troca gasosa) talizado. Apenas do lado direito temos o brônquio
e levar o sangue oxigenado ao coração. Os hilos intermédio, após a origem do brônquio lobar su-
pulmonares fazem a conexão entre os pulmões e o perior direito. Por vezes, no RX de tórax normal,
mediastino, contendo principalmente os elementos podemos também identificar alguns brônquios
das vias aéreas e vasculatura pulmonar, além do segmentares, principalmente no plano transverso
sistema linfático (linfonodos e vasos linfáticos)16. brônquico nas regiões peri hilares (figura 5).

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Anatomia normal da radiografia de tórax

Figura 5: Imagem em PA mostrando a via aérea central com a carina em destaque. A direita reconstrução tridimensional da
árvore traqueobrônquica de exame de tomografia computadorizada do mesmo indivíduo. BFD / BFE: brônquio fonte direito /
esquerdo; BI: brônquio intermédio; LSD / LSE: brônquio lobar superior direito / esquerdo; LM: brônquio lobar médio; Lin: brôn-
quio lingular; LID / LIE: brônquio lobar inferior direito / esquerdo.

A vasculatura pulmonar é composta pelas tificados nos campos pulmonares superiores são
artérias pulmonares (sangue não oxigenado prove- menos calibrosos e numerosos quando comparados
niente do ventrículo direito), veias pulmonares (san- aos vasos dos campos inferiores1,10,18.
gue oxigenado levado ao átrio esquerdo) e artérias Na imagem radiográfica, os hilos pulmona-
brônquicas (ramos da aorta descendente)14. As ar- res são representados principalmente pelas ar-
térias brônquicas irrigam as paredes dos brônquios térias pulmonares, por serem mais calibrosas e
e tecidos de sustentação, e não são identificadas densas10. Cursando inferiormente, destaca-se o
no RX. Na imagem radiográfica em PA identificamos tronco basal vascular bilateralmente (artéria in-
o tronco da artéria pulmonar, formando o segundo terlobar descendente)10. Na maioria dos indivídu-
arco cardíaco a esquerda1,10. As artérias e veias os, o hilo pulmonar esquerdo é mais alto que o
pulmonares são identificadas nos hilos e regiões direito1,10. A direita o brônquio fonte cursa acima
peri-hilares, se estendendo até próximo a periferia da artéria pulmonar, enquanto a esquerda a arté-
dos pulmões, com calibres distalmente menores. ria é superior ao brônquio (figuras 6 e 7).
As artérias se originam nos hilos pulmonares e se
dividem em dois (dicotomizam), enquanto as veias No RX de tórax devemos avaliar a via aérea
confluem de duas em uma em direção ao átrio central (principalmente traqueia e carina), os
esquerdo. No RX de tórax do paciente saudável hilos pulmonares direito e esquerdo e a vas-
em ortostase (de pé), os vasos pulmonares iden- culatura pulmonar.

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

Figura 6: Imagem em PA do tórax, destacando-se os hilos pulmonares direito e esquerdo (setas) representados principalmente
pelos ramos das artérias pulmonares. O contorno cardíaco também está desenhado, com dois arcos a direita e três a esquerda
(VCS: veia cava superior; AD: átrio direito; Ao: aorta; TP: tronco pulmonar; VE: ventrículo esquerdo, VD: ventrículo direito). A di-
reita, reconstrução tridimensional de imagem de tomografia computadorizada do coração e vasos no plano em correspondência.

Figura 7: Imagem em perfil do tórax, com o contorno cardíaco desenhado (Ao: aorta; TP: tronco pulmonar; VD: ventrículo
direito; AE: átrio esquerdo; VCI: veia cava inferior; VE: ventrículo esquerdo). A direita, reconstrução tridimensional de imagem
de tomografia computadorizada do coração e vasos no plano em correspondência.

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Anatomia normal da radiografia de tórax

Mediastino, coração e aorta dos pulmões lateralmente. O principal componente


da silhueta mediastinal no RX de tórax é formado
O mediastino é o espaço localizado entre os pelo coração e grandes vasos1,10. Quando há le-
pulmões, mais precisamente delimitado entre as sões mediastinais, estas sim se manifestam mais
pleuras mediastinais lateralmente, anterior e poste- comumente por alargamento mediastinal1,10,19,20.
riormente pela parede torácica, superiormente pelo O mediastino é atualmente dividido em 3
introito torácico (transição cervicotorácica ao nível compartimentos, que podem ser melhor avalia-
da fúrcula esternal e vértebra T1) e inferiormente dos na grafia em perfil e nos exames seccionais
pelo diafragma16,19. O mediastino contém as seguin- (TC e RM) (figura 8)19,21. São eles:
tes estruturas: coração, pericárdio, aorta e ramos,
artéria pulmonar, esôfago, traqueia e brônquios • mediastino anterior ou pré vascular: con-
principais, veia cava superior e suas tributárias, tém o timo, gordura, linfonodos e a veia
segmento proximal da veia cava inferior, linfonodos inominada
e vasos linfáticos, nervos, tecido adiposo e o timo • mediastino médio ou visceral: todos ór-
(pacientes jovens) 16. Com exceção da via aérea gãos, incluindo o esôfago
central, as demais estruturas mediastinais tem ate- • mediastino posterior ou paravertebral:
nuação de partes moles, sendo delimitadas pelo ar músculos, raízes nervosas

Figura 8: A esquerda, imagem de RX de tórax em perfil e no centro imagem sagital de tomografia computadorizada mostrando
os compartimentos mediastinais. A direita há uma imagem radiográfica em PA e axial de TC. Mediastino anterior ou pré vascu-
lar: azul; mediastino médio ou visceral: laranja; mediastino posterior ou paravertebral: verde.

A silhueta cardíaca, na imagem em PA, pos- nar, e posteriormente pelas câmaras esquerdas e
sui 2 arcos a direita (superior = veia cava supe- pela veia cava inferior10,22. Nos pacientes idosos,
rior; inferior = átrio direito) e 3 arcos a esquer- devido à ectasia da aorta, o arco cardíaco supe-
da (superior = aorta; médio = tronco pulmonar; rior à direita pode ser representado pela aorta as-
inferior = ventrículo esquerdo)1,10,22. Na imagem cendente. O coração na imagem radiográfica tem
em perfil a silhueta cardíaca é delimitada ante- atenuação homogênea de partes moles, podendo-
riormente pelo ventrículo direito e tronco pulmo- -se ver apenas os vasos normais em sobreposição

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

à silhueta cardíaca, incluindo os vasos intrapul- Pulmões


monares e a aorta descendente a esquerda. No
perfil, a aorta é melhor apreciada em seu trajeto O pulmão normal é radiotransparente e as ima-
anteroposterior e descendente (figuras 6 e 7). gens que observamos no RX de tórax normal repre-
Alguns espaços do mediastino podem ser sentam os vasos pulmonares fisiológicos. Por vezes,
identificados no RX de tórax e seu conhecimen- podemos identificar as fissuras pulmonares, princi-
to pode ajudar principalmente na interpretação palmente a fissura horizontal na grafia em PA e as
de lesões, como massas mediastinais e linfono- fissuras obliquas na grafia em perfil1,10. Apesar de nem
domegalias. Dentre eles, destacam-se as linhas sempre ser possível delimitar com precisão a divisão
paratraqueais, a janela aortopulmonar e o reces- lobar dos pulmões, é importante conhecer seus limites
so azigoesofágico na imagem em PA, e o espaço e projeções, pois quando dispomos das imagens em PA
retroesternal na imagem em perfil (figura 9)10,22. e P podemos inferir a localização das alterações1,10,13.
Se dispomos apenas de uma projeção radiográfica,
É importante conhecer as estruturas que for- torna-se mais difícil certificar-se de que a alteração
mam a silhueta cardiomediastinal normal, realmente é pulmonar e sua localização, muitas vezes
para assim poder identificar a presença de sendo mais adequado descrever a localização em terços
lesões mediastinais e sinais de doença car- superior, médio ou inferior do hemitórax.
diovascular. O pulmão direito possui 3 lobos: lobo supe-
rior (acima das fissuras obliqua e horizontal), lobo
médio (entre a fissura horizontal e obliqua) e lobo
inferior (abaixo da fissura obliqua). O pulmão es-
querdo possui 2 lobos: lobo superior (acima da
fissura obliqua) e lobo inferior (abaixo da fissura
obliqua); e a língula (parte do lobo superior, equi-
valente ao lobo médio) (figuras 10 e 11)1,10,13,16.
Os dois pulmões possuem 10 segmentos ana-
tômicos cada, porém a esquerda há segmentos
que compartilham o mesmo brônquio segmentar,
desta maneira sendo descritos em conjunto: seg-
mento 1 + 2 (apicoposterior) e segmento 7 + 8
(anteromedial). A segmentação pulmonar pode
ser bem apreciada nas imagens de TC de tórax.
E é importante conhecer ainda, apesar de não ter
representação radiográfica, a estrutura do lóbulo
pulmonar secundário. Este é periférico e delimi-
tado pelos septos interlobulares, é suprido pelo
bronquíolo terminal, contém ± 12 ácinos e 30-50
lóbulos primários23,24. O lóbulo pulmonar secundá-
rio por vezes pode ser identificado na imagem de
TC normal e seu conhecimento auxilia na carac-
terização das doenças que envolvem o interstício
pulmonar e as vias aéreas periféricas.

A anatomia lobar do pulmão direito é dife-


rente do esquerdo e quando dispomos das
imagens em PA e perfil podemos localizar
Figura 9: Na imagem radiográfica em PA é possível identi- mais adequadamente as alterações radiográ-
ficar-se a janela aortopulmonar a esquerda (seta longa) e a ficas nos pulmões.
região do recesso ázigo-esofágico a direita (setas curtas).

Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):17-29 25


Anatomia normal da radiografia de tórax

Figura 10: A esquerda, imagem de RX de tórax em PA; no centro, reconstrução tridimensional volumétrica de exame de tomo-
grafia computadorizada, e a direita, reconstrução coronal tomográfica do mesmo exame do mesmo indivíduo. Nas imagens de
TC foi realizada a segmentação lobar pulmonar, para se fazer correspondência com o RX no mesmo plano, lembrando que na
imagem radiográfica os lobos estão superpostos. Amarelo: lobo superior direito; verde: lobo médio; laranja: lobo inferior direito;
azul: lobo superior esquerdo (incluindo língula); rosa: lobo inferior esquerdo.

Figura 11: A esquerda, imagem de RX de tórax em perfil; no centro, reconstrução sagital de exame de tomografia computado-
rizada do pulmão direito, e a direita, reconstrução sagital tomográfica do pulmão esquerdo do mesmo exame do mesmo indi-
víduo. Nas imagens de TC foi realizada a segmentação lobar pulmonar, para se fazer correspondência com o RX no mesmo
plano, lembrando que na imagem radiográfica os lobos estão superpostos. Amarelo: lobo superior direito; verde: lobo médio;
azul escuro: lobo inferior direito; azul claro: lobo superior esquerdo (incluindo língula); rosa: lobo inferior esquerdo.

Variantes Anatômicas Mais Comuns • situs inversus e dextrocardia


• arco aórtico a direita
As principais variantes anatômicas identifi-
cadas no RX de tórax são: Uma variante anatômica é um achado atí-
pico encontrado em uma menor porcentagem da
• costela cervical e outras população que em geral não tem significado clínico.
• calcificações costocondrais A costela cervical é um osso acessório rela-
• lobo acessório da veia ázigos cionado ao último corpo vertebral (C7), em geral
é assintomática, mas eventualmente pode estar

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

relacionada à síndrome do desfiladeiro torácico13. vertida), este por sua vez podendo ser de todos
Há outras malformações das costelas que podem órgãos toracoabdominais (situs inversus totalis).
gerar confusão na interpretação do RX de tórax, O arco aórtico a direita da traqueia é raro e
como a costela bífida e hipoplásica, sendo portan- pode estar associado a presença de artéria subclávia
to importante conhecer estas variantes25. esquerda aberrante, que por sua vez pode apre-
As extremidades anteriores dos arcos costais sentar uma dilatação de sua origem denominada
se articulam com o esterno através de cartila- divertículo de Kommerell (figuras 12 e 13)26,27.
gens e normalmente não são identificadas no RX.
As calcificações destas cartilagens podem ocorrer
na senilidade, com padrão diferente nos homens
(marginal) e nas mulheres (central).
O lobo acessório da veia ázigos aparece
quando há um deslocamento lateral da veia pro-
traindo para o segmento apical do lobo superior
direito durante a embriogênese10,13. Possui quatro
folhetos pleurais, mas não é um lobo verdadeiro
porque não apresenta brônquio próprio.
A dextrocardia corresponde a uma mal ro-
tação congênita do coração, em que este encon-
tra-se a direita no tórax com ápice voltado a di-
reita13. Pode ser isolada (mais rara) ou associada Figura 12: Imagem em PA mostrando presença de costela
a situs inversus (imagem em espelho, posição in- cervical a direita.

Figura 13: A esquerda, imagem em PA de paciente com lobo acessório da veia ázigos (setas). A direita, imagem em PA de
paciente com situs inversus totalis (dextrocardia).

Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):17-29 27


Anatomia normal da radiografia de tórax

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MATERIAL SUPLEMENTAR

EXERCÍCIOS

1- Qual região anatômica representa o principal indicador de doença pleural no RX de tórax?

a) Sulco superior
b) Janela aortopulmonar
c) Seio cardiofrênico
d) Seio costofrênico
e) Recesso ázigo-esofágico

2- Qual a diferença entre os brônquios principais (centrais) a direita e a esquerda?

_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________

3- Nomeie as estruturas anatômicas apontadas (A, B, C e D).

_____________________________________
_____________________________________
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4- Qual a definição do lóbulo pulmonar secundário?

_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
5- Representam variantes anatômicas identificadas no RX de tórax, exceto:

a) Costela cervical
b) Calcificações costocondrais
c) Lobo acessório da veia ázigos
d) Cifoescoliose torácica
e) Arco aórtico a direita

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Suplemento Temático: A Radiografia Simples de Tórax

Sinais radiológicos no tórax


Radiologic signs in the thorax
Danilo Tadao Wada1 , José Antonio Hiesinger Rodrigues1, Marcel Koenigkam Santos2

RESUMO
Reconhecer os principais sinais radiológicos nos exames de tórax pode auxiliar na identificação dos padrões de
doenças e estreitar o diagnóstico diferencial. Muitos sinais utilizam termos metafóricos e alguns são descritos até
como altamente sugestivos de um diagnóstico. Alguns sinais podem ser vistos tanto na radiografia quanto na to-
mografia, enquanto outros apenas em um ou outro método. Juntamente com a semiologia radiológica correta e o
uso adequado da terminologia, o conhecimento dos sinais radiológicos favorece a interpretação mais correta das
alterações nos exames de imagem do tórax. Nesse artigo, realizamos uma breve revisão ilustrativa dos principais
sinais descritos na radiografia do tórax.

Palavras-chave: Radiografia Simples. Tórax. Sinais Radiológicos.

ABSTRACT
Knowledge of the main radiology signs may help recognizing patterns of diseases and cover the main possible
differential diagnosis. Many of the signs use metaphoric terms and some are told highly suggestive of a specific
disease. Some signs may be recognized in conventional chest radiography and in computed tomography, while
others are just applicable in one of these methods. Along with the use of the correct semiology and terminology,
knowledge of these signs helps to achieve the correct interpretation of chest radiography findings. In this article,
we’ve made a brief review of the main thoracic radiology signs.

Keywords: Conventional Radiography. Chest. Signs.

1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Médica,
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto (SP),
Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p45-56
Sinais radiológicos no tórax

INTRODUÇÃO Asa de borboleta

N a prática clínica de avaliação dos exames de


imagem do tórax utilizamos dos sinais radio-
lógicos para auxiliar na identificação dos padrões
Distribuição das opacidades alveolares ao
redor dos hilos pulmonares na região central dos
pulmões, de maneira simétrica, característico do
de doenças e assim estreitar o diagnóstico diferen- edema alveolar pulmonar cardiogênico (edema
cial1,2. Desta maneira, quando identificamos um si- agudo de pulmão)7-8 (figura 2).
nal radiológico, em geral, estamos acrescentando
especificidade à nossa hipótese diagnóstica. Mui-
tos sinais utilizam termos metafóricos e alguns são
descritos até como altamente sugestivos de um
diagnóstico. Boa parte dos sinais podem ser iden-
tificados tanto na radiografia simples (RX) quanto
na tomografia computadorizada (TC) do tórax.
Juntamente com a semiologia radiológica
correta e o uso adequado da terminologia, o co-
nhecimento dos sinais radiológicos favorece a in-
terpretação mais correta das alterações nos exa-
mes de imagem do tórax3.
Neste texto serão descritos os principais si-
nais radiológicos relacionados aos exames de RX
do tórax. Os sinais estão ordenados por ordem
alfabética.

OBJETIVOS GERAIS Figura 2: Sinal da asa de borboleta em paciente com edema


agudo de pulmão.
Após a leitura deste texto, o leitor deverá
ser capaz de:

• reconhecer os principais sinais radiológicos


no tórax
• conhecer as principais doenças relaciona-
das a estes sinais

Descrição dos sinais

1-2-3

Alargamento mediastinal e hilar bilateral4–6


típico da sarcoidose, visto na radiografia em pos-
teroanterior (PA). O sinal do 1-2-3 está relacio-
nado à linfonodopatia da sarcoidose nas regiões
paratraqueal direita e nos hilos pulmonares di-
reito e esquerdo, nestes, caracteristicamente, de Figura 1: Sinal do 1-2-3 em paciente com sarcoidose e linfo-
maneira simétrica (figura 1). nodopatia mediastinal.

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Borda incompleta

Sinal que indica no RX que a opacidade


mais provavelmente é extrapulmonar. Este sinal é
identificado quando a margem da opacidade vol-
tada para o pulmão é bem delimitada, enquanto
a margem voltada para a parede torácica ou me-
diastino tem limites imprecisos9–11 (figura 3).

Broncograma aéreo

Um dos primeiros sinais radiográficos, re-


presenta os brônquios fisiológicos pérvios, com
conteúdo aéreo, em meio a uma consolidação, as
vezes relacionado a um nódulo, massa ou outra
opacidade. O sinal do broncograma indica não so-
mente que a alteração é pulmonar, mas também
que está relacionada ao preenchimento alveo- Figura 3: Sinal da borda incompleta em paciente com bócio
lar2,4,11. Mais comumente é visto na pneumonia e mergulhante. Neste caso, observa-se também o sinal cervi-
no edema, mas pode estar presente na atelecta- cotorácico.

sia e mesmo em alguns tumores (adenocarcinoma


pulmonar, doença linfoproliferativa) (figura 4).

Cervicotorácico

Sinal relacionado ao alargamento mediasti-


nal na radiografia em PA, indicando a presença de
uma massa provavelmente do mediastino ante-
rior. Se o alargamento mediastinal é mal definido
acima do nível da clavícula, a lesão provavelmen-
te é do mediastino anterior por ter contato (sinal
da silhueta) com as partes moles cervicais1,2,12,13.
Quando a lesão é do mediastino posterior, em ge-
ral, tem limite bem definido acima do nível da
clavícula (figura 3).

Cimitarra

A cimitarra é uma espada árabe grande e cur-


vada. O sinal da cimitarra aparece como uma opa-
Figura 4: Paciente com opacidades alveolares incluindo
cidade pulmonar alongada, curva e verticalizada,
consolidações no pulmão esquerdo, apresentando sinal do
lembrando esta espada, nos pacientes com retorno broncograma aéreo (seta longa) e sinal da silhueta (setas
venoso parcial anômalo a direita1,2,14 (figura 5). curtas) com o contorno cardíaco esquerdo.

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Sinais radiológicos no tórax

Figura 5: Sinal da cimitarra em paciente com retorno venoso


parcial anômalo a direita.
Figura 6: Paciente com linfoma, alargamento mediastinal e
opacidade peri hilar esquerda, com sinal do hilo convergente
Convergência hilar por linfonodomegalia hilar.

Neste sinal identifica-se que o hilo pulmo-


nar está aumentado de tamanho e com morfolo-
gia alterada, ou seja, a alteração está relacionada
a estrutura ou tecido componente do hilo. Dife-
rentemente do sinal da sobreposição hilar (lesão
extra-hilar), na convergência hilar não se indivi-
dualizam as estruturas normais do hilo pulmo-
nar1,4,11 (figura 6).

Crescente aéreo

Relacionado a um nódulo ou massa, sendo


característico da presença da bola fúngica (fungo
Aspergillus) no interior de uma cavidade, bron-
quiectasia ou outra lesão de conteúdo aéreo. Este
sinal é identificado mais comumente na região
apical e indica a presença do aspergiloma no in-
terior de uma cavidade sequelar de tuberculose.
A linha externa ao crescente aéreo representa
a parede da cavidade, enquanto a linha interna
Figura 7: Sinal do crescente aéreo em paciente com bola
delimita a bola fúngica propriamente dita1,15,16 fúngica no interior de cavidade de tuberculose prévia no
(figura 7). ápice do pulmão esquerdo.

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Corcova de Hampton opacidade periférica de base pleural em forma


de cunha, na base pulmonar adjacente ao dia-
Sinal radiográfico que representa o in- fragma 1,2,17,18 (figura 8). O nome é homenagem
farto pulmonar secundário ao tromboembolis- a Aubrey Otis Hampton (1900-1955), radiolo-
mo pulmonar agudo. É caracterizado por uma gista americano.

Figura 8: Paciente com TEP agudo em base pulmonar esquerda e imagem de infarto caracterizando o sinal
da corcova de Hampton (seta). Na angioTC, identificamos o embolo (seta na imagem de janela mediastinal) e
o infarto pulmonar correspondente (seta na imagem de janela pulmonar).

Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):45-56 49


Sinais radiológicos no tórax

Dedo de luva

Opacidade alongada e ramificada que re-


presenta uma bronquiectasia preenchida por
conteúdo no interior, muitas vezes de impacta-
ção mucóide (retenção de secreção), em geral
relacionado a uma obstrução proximal (por ex.:
atresia brônquica, corpo estranho, tumor endolu-
minal) ou à aspergilose broncopulmonar alérgica
no paciente asmático1,16 (figura 9).

Diafragma contínuo

Auxilia a identificação de pneumomediasti-


no na radiografia em AP (anteroposterior) com o
paciente deitado ou sentado, sendo sinal caracte-
rizado por uma linha horizontal radiotransparen-
te que atravessa a linha média superiormente ao
diafragma, abaixo do coração19,20 (figura 10).

Duplo contorno
Figura 9: Sinal do dedo de luva em paciente asmático com
Indica aumento do átrio esquerdo na radio- aspergilose broncopulmonar alérgica.
grafia em PA, aparecendo como opacidade curvi-
línea na silhueta cardíaca direita medialmente ao
contorno normal do átrio direito4,11 (figura 11).
Também são sinais de aumento desta câmara car-
díaca o deslocamento superior do brônquio fonte
esquerdo e o surgimento do quarto arco cardíaco
a esquerda.

“Luftsichel”

Sinal com nome na língua alemã que re-


presenta imagem de crescente aéreo adjacente
ao arco aórtico na radiografia em PA, indicando
colapso acentuado do lobo superior do pulmão
esquerdo por diferentes patologias, inclusive por
neoplasia obstrutiva central. A imagem radio-
transparente se deve ao segmento superior do
lobo inferior esquerdo hiperinsuflado e desloca-
do superiormente (hiperinsuflação compensató- Figura 10: Radiografia AP de paciente internado com pneu-
ria)1,21-24 (figura 12). momediastino e sinal do diafragma contínuo.

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Palla

Este sinal é representado pela dilatação de ramo


da artéria pulmonar proximal a uma região de amputa-
ção vascular pulmonar (oligoemia), visto principalmen-
te na artéria pulmonar descendente direita, podendo
auxiliar na suspeição radiográfica de tromboembolismo
pulmonar agudo18,25,26 (figura 14). O nome é homena-
gem a Antonio Palla (1950-), radiologista italiano.

Figura 11: Paciente com doença mitral e sinais de dilatação


do átrio esquerdo, incluindo o sinal do duplo contorno (seta),
quarto arco esquerdo e luxação do brônquio fonte esquerdo.

Figura 13: Derrame pleural livre a direita, com sinal do menisco.

Figura 12: Sinal do “Luftsichel” em paciente com estenose


brônquica e atelectasia do lobo superior do pulmão esquerdo.

Menisco

Representa a obliteração do seio costofrênico


Figura 14: Paciente com extenso tromboembolismo pul-
lateral ou posterior no RX, formando imagem de as-
monar agudo a direita, notando-se hipertransparência do
pecto côncavo liso que, quando identificado, indica pulmão direito (sinal de Westermark) e dilatação com ampu-
a presença de derrame pleural livre4,11 (figura 13). tação da artéria descendente deste lado (sinal de Palla).

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Sinais radiológicos no tórax

Pico justafrênico

Imagem triangular que surge no aspec-


to mediano da cúpula diafragmática associada a
atelectasia de lobo pulmonar superior, visto na
radiografia em PA. Este sinal é pouco específico e
está relacionado a diferentes causas de atelecta-
sia superior1,27 (figura 15).

S de Golden

O sinal do S de Golden, descrito por R. Gol-


den em 1925, está relacionado a uma neoplasia
central obstrutiva levando a atelectasia distal,
mais comumente representando um carcinoma
broncogênico. A porção côncava da opacidade
(aspecto de S invertido) representa o contorno
Figura 15: Sinal do pico epifrênico em paciente com câncer
da massa e a porção convexa representa a ate-
de pulmão central (células escamosas) envolvendo o brôn-
lectasia pós obstrutiva. Mais tipicamente é visto quio lobar superior esquerdo, que perdeu volume.
nos tumores do lobo superior do pulmão direito1,2
(figura 16).

Silhueta

Um dos primeiros sinais descritos em ra-


diologia, indica a perda da definição da borda ou
margem de uma estrutura (“perda da silhueta”)
que está em contato com opacidade de atenu-
ação semelhante, em geral uma consolidação
ou massa. O sinal da silhueta é importante pois
nos ajuda a localizar a opacidade nas radio-
grafias. Por exemplo, enquanto as opacidades
do lobo médio e língula fazem sinal da silhue-
ta com o coração, as opacidades dos lobos in-
feriores apagam as silhuetas diafragmáticas4,11 Figura 16: Paciente com neoplasia pulmonar central obstruti-
(figura 4). va a direita e o sinal do S de Golden na radiografia em PA.

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Sobreposição hilar

Sinal que indica, na radiografia em PA, que


a opacidade projetada nesta região não tem ori-
gem nas estruturas do hilo pulmonar. Quando a
lesão é mediastinal, pleural ou pulmonar, é pos-
sível observar os vasos normais do hilo pulmonar
através da opacidade11,28,29 (figura 17).

Sulco profundo

Juntamente com o sinal do diafragma con-


tínuo, auxilia na identificação do pneumotórax
na radiografia em AP. O seio costofrênico lateral
fica hipertransparente e tem aspecto mais pro-
Figura 17: Sinal da sobreposição hilar, em um paciente com
fundo que o habitual30 (figura 10). É importan- quadro infeccioso e imagem de abcesso pulmonar (segmento
te lembrar que para detecção do pneumotórax, superior do lobo inferior) sobreposta ao hilo pulmonar direito
na grafia em AP (seta). Há outro abcesso menor no mesmo
o ideal é realizar o exame em PA com o pacien-
pulmão (cavidade - seta curta).
te em ortostase, podendo também a grafia em
expiração ajudar.

Trilho de trem

No RX de tórax, a imagem de bronquiec-


tasia pode não ser característica, muitas ve-
zes confundindo com opacidades intersticiais.
O sinal do trilho de trem (linhas paralelas) re-
presenta a bronquiectasia vista no seu plano
longitudinal e é a imagem radiográfica mais fide-
digna para a presença de dilatação irreversível do
brônquio31 (figura 18).

“Westermark”

Assim como o sinal de Palla, este sinal pode


auxiliar na suspeição de tromboembolismo pul-
monar agudo no RX. Aparece como uma região
de hipertransparência focal na radiografia em PA,
indicando área focal de oligoemia (figura 14). Ho-
menagem ao radiologista sueco Nils Johan Hugo Figura 18: Bronquiectasias em lobo inferior do pulmão es-
Westermark1,26 (1892-1980). querdo, com sinal do trilho de trem.

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Sinais radiológicos no tórax

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Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):45-56 55


Sinais radiológicos no tórax

MATERIAL SUPLEMENTAR

EXERCÍCIOS

1. São sinais relacionados ao tromboembolismo pulmonar agudo, exceto:


a) Corcova de Hampton
b) Westermark
c) Palla
d) Luftsichel
e) Todos são sinais relacionados ao TEP agudo

2. Qual o sinal que pode auxiliar na identificação do pneumotórax em uma radiografia em AP?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

3. Qual o sinal identificado na imagem em PA deste exame de RX de tórax? Qual a provável alteração?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

4. Qual a diferença de significado entre os sinais da convergência e da sobreposição hilar?

_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

5. Correlacione cada sinal com sua descrição ou significado.


A. Sinal do 1-2-3 ( ) Atelectasia redonda
B. Sinal da cauda de cometa ( ) Neoplasia central obstrutiva
C. S de Golden ( ) Bola fúngica
D. Split pleura ( ) Linfonodopatia paratraqueal e hilar bilateral
E. Sinal do crescente aéreo ( ) Empiema

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Suplemento Temático: A Radiografia Simples de Tórax

Semiologia radiológica e terminologia da


radiografia de tórax
Radiologic semiology and terminology in chest radiography
Danilo Tadao Wada1 , José Antonio Hiesinger Rodrigues1, Marcel Koenigkam Santos2

RESUMO
É muito importante que sejam seguidos o roteiro de análise (semiologia) e a linguagem (terminologia) corretos na
identificação, interpretação e descrição dos achados em exames de imagem, inclusive na radiografia simples (RX)
de tórax. O consenso na terminologia é importante também para facilitar a comunicação entre os médicos das
diferentes especialidades e entre os diferentes profissionais que atuam na área de saúde, além de uniformizar a
avaliação e comparação de resultados no campo da pesquisa e investigação científica. Neste texto, descrevemos
o consenso atual dos termos descritivos a serem utilizados na avaliação do exame de RX do tórax, incluindo as
alterações com aumento da atenuação pulmonar (por ex.: opacidades alveolares e intersticiais), redução da ate-
nuação pulmonar (por ex.: cistos, bolhas e cavidades) e alterações extrapulmonares (por ex.: obliteração do seio
costofrênico, alargamento mediastinal).

Palavras-chave: Radiografia Torácica. Toráx. Radiologia. Terminologia.

ABSTRACT
It’s very important in the interpretation of the conventional chest radiography the use of a standard routine of anal-
ysis (semiology) and correct language (terminology). Using the terms presented in modern glossaries make com-
munication easier between different healthcare providers and allow a more uniform evaluation and interpretation in
the scientific research. In this text we’ve described the terms related to conventional chest radiography, including
the patterns of high attenuation (e.g.: alveolar and interstitial opacities), low attenuation (e.g.: cysts and cavities)
and extrapulmonary findings (e.g.: costophrenic angle obliteration, mediastinal enlargement).

Keywords: Thoracic Radiography. Chest. Radiology. Glossary.

1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019
Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p31-43
Semiologia radiológica e terminologia da radiografia de tórax

INTRODUÇÃO OBJETIVOS GERAIS

D e maneira análoga à semiologia clínica, que


dita os princípios de anamnese e exame fí-
sico do paciente, temos a semiologia radiológi-
Após a leitura deste texto, o leitor deverá
ser capaz de:

ca, para ser utilizada na avaliação dos exames de • reconhecer a importância da semiologia e
imagem. É importantíssimo que seja seguido o terminologia radiológica
roteiro de análise e a linguagem correta na des- • utilizar os termos corretos para descrição
crição dos achados em exames de imagem. Os das alterações no RX de tórax
médicos, radiologistas ou de outras especialida- • conhecer as principais alterações radiográ-
des, podem discutir ou mesmo discordar em rela- ficas no tórax
ção ao diagnóstico clínico-radiológico final, porém
todos devem concordar em relação à presença ou
não de uma alteração e descrevê-la de maneira Aspectos gerais
semelhante. Neste contexto, é a semiologia e a
terminologia radiológica que guia a análise, in-
terpretação e a descrição das alterações vistas Divisão didática das alterações radiográ-
em exames de imagem, desde a radiografia sim- ficas no tórax:
ples (RX), passando pela ultrassonografia (US),
tomografia computadorizada (TC) e ressonância • Aumento da atenuação pulmonar: con-
magnética (RM). solidações, opacidades em vidro fosco,
O consenso na terminologia1–3 é importan- opacidades intersticiais de padrão reticular,
te também para facilitar a comunicação entre os nodular, septal e miliar, nódulos e massas,
médicos das diferentes especialidades e entre os bandas e traves parenquimatosas
diferentes profissionais que atuam na área de • Redução da atenuação pulmonar: cisto,
saúde. Mesmo no campo da pesquisa e investi- bolha, cavidade e bronquiectasia
gação científica, o uso da terminologia correta e • Alterações extrapulmonares: obliteração
uniforme é importante quando desejamos com- do seio costofrênico, alargamento me-
parar resultados de estudos e trabalhos científi- diastinal, aumento do volume hilar, re-
cos. Atualmente, a língua inglesa é considerada distribuição da trama vascular pulmonar,
universal na literatura médica e os termos uti- pneumotórax, pneumomediastino, pneu-
lizados nas diferentes línguas tendem a seguir mopericárdio
a tradução dos termos em inglês. Desta manei-
ra, a terminologia radiológica atual tende a ser Didaticamente, podemos dividir as alte-
universal, com uso de termos similares para as rações naquelas que aumentam a atenuação ou
diferentes línguas e culturas. opacificação do parênquima pulmonar (reduzem
Estaremos neste texto, portanto, descre- a transparência e deixam os pulmões “mais bran-
vendo o consenso atual acerca dos termos des- cos”) e naquelas que reduzem sua atenuação
critivos relacionados ao exame de RX do tórax. (aumentam a transparência e deixam os pulmões
Para esta avaliação, há documentos de socieda- “mais escuros”). Além disto, há as alterações ex-
des nacionais2,3 e internacionais1 que sugerem trapulmonares e quadros sindrômicos específicos,
a terminologia a ser utilizada, tanto para o RX que auxiliam na compreensão e avaliação do qua-
quanto para a TC de alta resolução do tórax. Des- dro clínico-radiológico.
ta maneira, salienta-se que podemos sim utilizar Desta maneira, descreveremos neste texto,
a maioria dos descritores de TC nas imagens de na forma de um glossário ilustrado e de fácil leitu-
RX. Os sinais radiológicos também são muito im- ra, os principais termos a serem utilizados na ava-
portantes e acrescentam especificidade na ava- liação do exame de RX do tórax, de acordo com as
liação das imagens, porém serão discutidos mais recomendações modernas das principais socieda-
detalhadamente em outro texto. des médicas que trabalham comeste exame.

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

A identificação, interpretação e descrição uma opacidade como alveolar,intersticial ou de ou-


correta dos achados radiográficos represen- tro tipo, utilizamos o termo genérico de opacidade.
tam a chave para o adequado diagnóstico clí- Consolidação: principal opacidade alveolar, que
nico-radiológico. indica o preenchimento do espaço aéreo, obscurece os
vasos e a via aérea, tende a ser densa, homogênea e
de limites imprecisos4. Uma consolidação pode repre-
TERMINOLOGIA sentar preenchimento do espaço alveolar por diferentes
materiais e tecidos: transudato (edema), exsudato
Opacidade1,3: termo genérico e inespecífico (inflamação, infecção), sangue (hemorragia, contu-
que indica qualquer imagem que atenua o feixe de são), material gástrico (aspiração), material necrótico
raios-X tornando a imagem radiográfica mais opa- (infarto, tromboembolismo) e neoplasia (carcinoma
ca (“branca”). Quando não é possível caracterizar broncogênico, doença linfoproliferativa)5,6 (Figura 1).

Figura 1: Consolidação com broncogramas aéreos em lobo superior direito, delimitada pela fissura horizontal. Paciente com
pneumonia adquirida na comunidade.

Relacionados à consolidação temos os si- lacionado a perda da definição da borda ou mar-


nais radiográficos mais clássicos, o sinal do bron- gem de uma estrutura7,8,11,12, indicando que esta
cograma aéreo e o sinal da silhueta7,8. O sinal do estrutura está em contato com a opacidade de
broncograma aéreo representa os brônquios pér- atenuação semelhante, em geral uma consolida-
vios, com conteúdo aéreo, em meio a uma con- ção ou massa. O sinal da silhueta é importante
solidação, podendo as vezes estar relacionado a pois nos ajuda a localizar a opacidade, por exem-
um nódulo, massa ou outra opacidade. Ele indi- plo, enquanto as consolidações do lobo médio e
ca não somente que a alteração é pulmonar, mas língula fazem sinal da silhueta com o coração, as
também que está relacionada ao preenchimento consolidações dos lobos inferiores pulmonares
alveolar9,10. O sinal da silhueta (figura 2) está re- obliteram as silhuetas diafragmáticas13.

Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):31-43 33


Semiologia radiológica e terminologia da radiografia de tórax

Figura 2: Consolidação em lobo médio fazendo sinal da silhueta com o contorno cardíaco direito. A perda de volume indica
a atelectasia de lobo médio.

Uma consolidação com sinais de perda vo- fecciosos atípicos ou não bacterianos (pneumonia
lumétrica representa uma atelectasia pulmonar. viral, pneumocistose)16–19 e doenças intersticiais
Os sinais diretos de perda de volume são o des- pulmonares20–22.
locamento das fissuras pulmonares, dos vasos São comumente chamadas de opacidades
e brônquios. Sinais indiretos são representados alveolares a consolidação e a opacidade em vidro
pela elevação da cúpula diafragmática, desvio do fosco.
mediastino e retração dos espaços intercostais. O Opacidades intersticiais: as opacidades in-
mecanismo de atelectasia pode ser por reabsor- tersticiais representam alterações que envolvem
ção (pós-obstrutiva), compressão (derrame pleu- predominantemente o interstício pulmonar. Sem-
ral) ou atelectasia passiva (pneumotórax). pre que possível devemos tentar caracterizar qual
Opacidade em vidro fosco: termo mais uti- tipo de opacidade intersticial identificamos. A no-
lizado na TC, mas que deve também ser utilizado menclatura mais tradicional divide as opacidades
no RX, representando uma área indistinta de opa- intersticiais em 2 grandes grupos: reticulares e
cificação do parênquima pulmonar que oblitera nodulares. A nomenclatura atual recomenda uma
parcialmente a vasculatura e a via aérea, menos divisão em 4 tipos, diferenciando o padrão sep-
opaca que a consolidação. O vidro fosco pode re- tal do reticular e o padrão miliar do nodular1,3.
presentar uma alteração do espaço aéreo menos Os padrões septal e miliar são mais específicos
densa (material ou tecido “mais frouxo”) e/ou al- e ajudam a restringir o diagnóstico diferencial.
teração do interstício alveolar14,15. O diagnóstico Por vezes, não é possível no RX diferenciar es-
diferencial de uma opacidade em vidro fosco em tes padrões, mas recomenda-se que, sempre que
geral é semelhante ao da consolidação, porém o plausível, devemos identificar um dentre os 4
vidro fosco está mais relacionado a processos in- padrões intersticiais:

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

• Padrão reticular: ou reticulações, imagens


com aspecto de “rede”, coleção desorga-
nizada de múltiplas imagens lineares em
que a região central é radiotransparente,
representando espessamento do interstício
inter e intralobular. Mais comumente, as
opacidades reticulares estão relacionadas a
processo inflamatório crônicos e são carac-
terísticas das doenças intersticiais pulmo-
nares fibrosantes (figura 3)1.

Figura 4: Opacidades intersticiais de padrão nodular. Pacien-


Figura 3: Opacidades intersticiais de padrão reticular. Pa- te com sarcoidose.
ciente com doença intersticial pulmonar fibrosante.

• Padrão nodular: inúmeras pequenas opacida- • Padrão septal: linhas perpendiculares à su-
des arredondadas ou ovaladas menores que perfície pleural, na radiografia é geralmente
9 mm. Mais comumente, o padrão nodular representado pelas linhas de Kerley, sendo
está relacionado às doenças inflamatórias mais comuns as linhas B de Kerley (basais)
granulomatosas pulmonares, como a sarcoi- representando espessamento do interstício
dose, a silicose e as infecções (tuberculose, interlobular por edema pulmonar, como na
fungos) (figura 4)1,23. insuficiência cardíaca congestiva (figura 5)1,24.

Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):31-43 35


Semiologia radiológica e terminologia da radiografia de tórax

Às vezes, na radiografia, podemos ter a


combinação de opacidades reticulares e nodula-
res, podendo ser descrito como opacidades reti-
culonodulares1. Na TC, os diferentes padrões são
mais facilmente individualizados.
Apesar de que, na maioria das vezes, as opa-
cidades intersticiais representam alterações benig-
nas, é preciso estar atento, pois podem representar
manifestação neoplásica, como a linfangite carcino-
matosa (padrão reticulonodular ou septal) e as me-
tástases hematogênicas (padrão nodular ou miliar).
Nódulo: opacidade bem delimitada, arre-
dondada ou ovalada, tridimensionalmente defi-
nida, que mede menos de 3,0 cm no maior di-
âmetro e pode ter diferentes densidades1,3. Um
nódulo pulmonar tem como principais hipóteses
diagnósticas: granuloma, neoplasia (primária pul-
monar ou metastática) e o hamartoma pulmonar
(figura 7). Quando único, é chamado de nódulo
Figura 5: Opacidades intersticiais de padrão septal (linhas sep- pulmonar solitário.
tais de Kerley). Paciente com insuficiência cardíaca congestiva.

• Padrão miliar: pequenos nódulos menores


que 3 mm, redondos, discretos ou sutis, de
distribuição difusa, homogênea e aleatória.
O padrão miliar pode ser difícil de se identi-
ficar no RX, porém tem alta especificidade. A
principal hipótese diante do padrão miliar é
de tuberculose, fazendo diagnóstico diferen-
cial com histoplasmose (figura 6)1,24.

Figura 7: Múltiplos nódulos pulmonares e aumento do volu-


me hilar bilateral por linfonodomegalia. Paciente com doença
metastática.

Massa: lesão torácica, pulmonar ou não, que


mede mais de 3,0 cm de diâmetro1,3. Em geral, des-
crevemos uma massa como uma lesão de limites
definidos, exercendo efeito de massa sobre as es-
truturas adjacentes, sendo suspeita para neoplasia
Figura 6: Opacidades intersticiais de padrão miliar. Paciente e, se pulmonar, especialmente o carcinoma bronco-
imunossuprimido com tuberculose miliar. gênico (figura 8).

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Cisto e bolha: imagens radioluscentes com


paredes finas quase imperceptíveis e conteúdo
mais comumente aéreo. Semiologicamente, cis-
tos e bolhas são semelhantes, porém o contexto
é diferente, pois os cistos normalmente são cen-
trais, ovalados e preenchidos por ar, enquanto as
bolhas são periféricas e relacionadas a enfisema
pulmonar1,3,24. Os cistos podem ser múltiplos e
relacionados à doença cística pulmonar, como a
linfangioliomiomatose e histiocitose de células de
Langerhans, ou únicos, representando sequela de
infecção prévia (pneumatocele) (figura 10)20,25–27.

Figura 8: Massa no lobo superior do pulmão direito, de con-


tornos lobulados se estendendo da região hilar até a parede
torácica. Carcinoma de células escamosas do pulmão.

Bandas e traves parenquimatosas: opaci-


dades alongadas, finas ou espessas, comumente
perpendiculares à pleura, representando mais co-
mumente atelectasias segmentares ou subseg-
mentares (figura 9)1. Por vezes, quando persisten-
te tornando-se crônica, uma banda ou trave pode
representar alteração fibroatelectásica irreversível.

Figura 10: Cisto em pulmão direito. Criança com pneumato-


cele (sequela de pneumonia).

O faveolamento, alteração tomográfica re-


presentada por cistos periféricos aglomerados,
heterogêneos, formando camadas desorganiza-
das e com distorção arquitetural, representa fi-
brose pulmonar1,20–22 e é de difícil individualização
pelo RX de tórax, na maioria das vezes sendo re-
presentado por opacidades intersticiais de padrão
reticular ou reticulonodular.
Cavidade: imagem radioluscente de pare-
des irregulares, comumente espessadas, com
conteúdo heterogêneo que pode ter componente
líquido ou sólido de partes moles1,3,24. A cavidade
representa uma consolidação, nódulo ou massa
que drenou para a via aérea ou espaço pleural, po-
Figura 9: Bandas atelectásicas nas bases pulmonares.
Paciente em pós-operatório recente, acamado, também com dendo representar abcesso ou mesmo neoplasia.
elevação da cúpula esquerda. A presença de nível líquido no interior de uma cavi-

Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):31-43 37


Semiologia radiológica e terminologia da radiografia de tórax

dade em paciente com quadro infeccioso favorece Obliteração do seio costofrênico: os seios
a hipótese de abcesso (figura 11). A cavidade se- costofrênicos laterais e posteriores são os recessos
quelar em geral tem paredes mais finas e conteúdo que marcam a presença de doença pleural no RX
aéreo, podendo confundir com um cisto, bolha ou de tórax7,8. A obliteração do seio costofrênico pode
bronquiectasia cística1,25. ocorrer por derrame e/ou espessamento pleural. O
RX de tórax PA e perfil nem sempre permite diferen-
ciar derrame de espessamento e não permite dizer
a causa do derrame pleural. A grafia em decúbito
lateral com raios horizontais (Laurel) pode ajudar.
Na presença de derrame pleural livre obser-
vamos o sinal do menisco, com obliteração homo-
gênea do seio costofrênico formando imagem de
aspecto côncavo, que quando identificado indica
presença de derrame (figura 13).

Figura 11: Cavidade em região apical direita. Sequela de


tuberculose.

Bronquiectasia: significa dilatação irrever-


sível do brônquio. Na radiografia simples a ima-
gem de bronquiectasia pode não ser caracterís-
tica, muitas vezes confundindo com opacidades
intersticiais. No RX a vbronquiectasia pode ter as-
pecto de alvo ou anelar (bronquiectasia vista no
seu plano axial), porém a imagem mais específica
forma o sinal do “trilho de trem” (bronquiectasia
vista no seu plano longitudinal) (figura 12)2,3,24.

Figura 13: Derrame pleural livre a direita, com sinal do


menisco.

Por vezes é possível identificar áreas de es-


pessamento pleural no RX de tórax, principalmen-
te se calcificado e envolvendo a parede lateral do
hemitórax ou as faces diafragmáticas. As placas
pleurais calcificadas são características da doen-
ça relacionado ao asbesto, tuberculose e sequela
de empiema10.
Alargamento mediastinal: quando as linhas
mediastinais encontram-se abauladas, caracte-
Figura 12: Imagens de aspecto anelar e em trilho de trem
nas bases pulmonares em grafia em perfil. Bronquiectasias riza-se o alargamento mediastinal no RX, mais
em paciente com sequela de infecção prévia. comumente visto no aspecto superior e anterior

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

do tórax7,8,12,28. O alargamento mediastinal pode redistribuição da trama, os vasos nos lobos superio-
ser benigno, relacionado por exemplo ao timo em res estão aumentados em número e calibre quando
crianças e ao ingurgitamento dos vasos da base comparados aos vasos dos lobos inferiores (figu-
na imagem em AP, mas pode também represen- ra 15). Uma boa dica é comparar os vasos da região
tar a presença de uma massa mediastinal, como supra-hilar esquerda com a infra-hilar direita.
um timoma, teratoma, bócio mergulhante ou um
linfoma (figura 14)24,29,30.

Figura 15: Cardiomegalia, aumento vascular dos hilos


Figura 14: Alargamento mediastinal a direita. Paciente com pulmonares, redistribuição da trama vascular pulmonar e
timoma. derrame pleural bilateral. Paciente com insuficiência cardíaca
congestiva.

Aumento do volume hilar: uni ou bilateral,


pode ser vascular, relacionado a congestão ou hi- Pneumotórax, pneumomediastino e pneu-
pertensão pulmonar, ou não vascular, relacionado mopericárdio: são termos semiológicos que já
a linfonodomegalia ou massa neoplásica7. Em ge- representam a alteração patológica, indicando,
ral, o aumento não vascular do hilo tem contor- respectivamente, a presença de ar na cavidade
nos lobulados e pode ter alteração da atenuação pleural, mediastino e no pericárdio1,3. Pneumotó-
(figura 15), enquanto o aumento vascular tende a rax é o mais comum, sendo identificado como au-
manter o aspecto anatômico e a densidade. mento da transparência do hemitórax associado
Redistribuição (cefalização) da trama vascu- a ausência das imagens da vasculatura pulmonar
lar pulmonar: indica aumento da resistência vascu- normal, principalmente na periferia e aspecto su-
lar pulmonar e é tipicamente descrito na imagem perior da imagem em PA. A realização do RX em
em PA em ortostase nos pacientes com congestão expiração pode ajudar a identificar pneumotórax
pulmonar da insuficiência cardíaca7,8,31. Quando há de pequeno volume7,8,32.

Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):31-43 39


Semiologia radiológica e terminologia da radiografia de tórax

O pneumotórax pode ser hipertensivo e


representar uma emergência médica, sendo os
sinais radiológicos: aumento dos espaços inter-
costais, desvio contralateral do mediastino e re-
baixamento da cúpula diafragmátia ipsilateral
(figuras 16 e 17).

Figura 17: Pneumomediastino. Paciente asmático.

Opacificação do hemitórax: termo radiográfico


que corresponde a redução difusa da transparência
do hemitórax7. O diagnóstico diferencial se faz prin-
cipalmente entre duas condições: volumoso derrame
pleural (com sinais de efeito de volume, com des-
vio do mediastino contralateralmente) e atelectasia
pulmonar (com sinais de perda de volume e desvio
Figura 16: Pneumotórax hipertensivo a direita. Pós trauma. ipsilateral das estruturas) (figuras 18 e 19).

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

CONCLUSÃO
Neste texto foram apresentados e discuti-
dos os seguintes tópicos:

• a importância da semiologia radiológica e


do uso correto da terminologia
• os termos corretos e atuais a serem utili-
zados na descrição das alterações no RX de
tórax
• opacidades pulmonares e outras alterações
identificáveis no RX de tórax

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

MATERIAL SUPLEMENTAR

EXERCÍCIOS

1. Cite 3 alterações que levam a redução da atenuação pulmonar no exame radiográfico do tórax.
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

2. Em relação à consolidação, indique a alternativa correta:


a) Representa o preenchimento do espaço aéreo ou alveolar
b) Pode indicar alteração extrapulmonar
c) É um tipo de opacidade intersticial
d) Em geral indica um tumor pulmonar central obstrutivo
e) É opacidade densa de limites precisos e contornos regulares

3. Quais são os quatro padrões de opacidades intersticiais? Cite uma causa para cada.
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

4. RX de tórax de 2 pacientes diferentes, ambos com doença intersticial pulmonar. Indique quais são
as alterações radiográficas de cada caso.
A. B.

_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________

5. Qual das situações abaixo leva a obliteração do seio costofrênico esquerdo:


a) Linfonodomegalia hilar
b) Timoma mediastinal
c) DPOC
d) Derrame ou espessamento pleural
e) Atelectasia do lobo médio

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Suplemento Temático: A Radiografia Simples de Tórax

Sondas, cateteres e outros aparatos médicos na


radiografia de tórax
Tubes, catheters and other medical devices on chest radiography
Danilo Tadao Wada1 , José Antonio Hiesinger Rodrigues1, Marcel Koenigkam Santos1

RESUMO
O exame de radiografia simples (RX) do tórax é utilizado para verificação do posicionamento adequado de vários
tipos de aparatos médicos, além de auxiliar na detecção de complicações relacionadas à sua implantação e uso.
Principalmente nos pacientes criticamente doentes, com suporte cardiovascular ou ventilação mecânica, a realiza-
ção do RX é importante na avaliação de tubos endotraqueais, sondas de alimentação, cateteres vasculares e drenos
de tórax. O posicionamento inadequado desses dispositivos pode levar a complicações sérias que muitas vezes
não são clinicamente evidentes. Outros aparatos médicos, mesmo que na parede torácica ou externos ao corpo do
paciente, podem ser identificados no exame de RX, sendo importante saber reconhece-los para não confundir com
imagens de corpo estranho ou outro tipo de lesão torácica. Neste texto, serão abordados os aspectos radiográficos
das principais sondas, tubos e cateteres, vasculares e não vasculares, discutindo o posicionamento correto e algu-
mas complicações identificáveis ao exame de RX de tórax.

Palavras-chave: Radiografia Simples. Tórax. Cateteres. Dispositivos Médicos.

ABSTRACT
Conventional chest radiography is routinely used to check the position of many medical devices, also allowing us to
identify a bunch of complications related to them. Mostly in the critically ill patients with cardiovascular support or
mechanical ventilation, chest radiography is important in the evaluation of endotracheal tubes, alimentary probes,
vascular catheters and thoracic tubes. The correct interpretation of findings related to these devices is essential, as
many of the complications can be clinically missed.Other medical devices superposed to the chest wall should be
correctly identified for avoiding misinterpretations leading to incorrect diagnoses like intrathoracic strange bodies
or other lesions. In this article, it will be presented some of the imaging aspects of the main probes, catheters and
devices (vascular and non-vascular), discussing the correct positioning and some of the complications that can be
found in chest radiography.
Keywords: Conventional Radiography. Chest. Catheters. Medical Devices.

1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p57-71
Sondas, cateteres e outros aparatos médicos na radiografia de tórax

INTRODUÇÃO • reconhecer o aspecto radiográfico dos prin-


cipais aparatos médicos utilizados no tórax,

O exame de radiografia simples (RX) do tórax é


utilizado para verificação do posicionamento
adequado de vários tipos de aparatos médicos, de

como tubos, sondas e cateteres
saber identificar o posicionamento adequa-
do destes dispositivos
monitorização ou suporte, vasculares e extra vascu- • conhecer as principais complicações rela-
lares1. Dentre eles, destacamos os tubos endotraque- cionados à sua instalação e permanência
ais, sondas digestivas, drenos pleurais2,3, cateteres
venosos e arteriais e os marcapassos cardíacos4,5.
Além de verificar o posicionamento adequa- Aparatos não vasculares
do do dispositivo médico, o RX auxilia na detec-
ção de complicações relacionadas à passagem ou O exame de RX de tórax deve ser realiza-
instalação do mesmo e complicações tardias rela- do para verificar a posição e sinais de compli-
cionadas à sua presença3. cações dos seguintes aparatos não vasculares:
Nos pacientes criticamente doentes, com
suporte cardiovascular ou ventilação mecânica, • tubo endotraqueal
o colégio americano de radiologia recomenda a • tubo de traqueostomia
realização diária do RX de tórax1, além da reali- • sonda gástrica
zação imediata do exame para todos os pacientes • sonda entérica
que foram submetidos a colocação de tubos endo- • dreno de tórax
traqueais, sondas de alimentação, cateteres vas-
culares e drenos de tórax. Estas recomendações
são feitas porque o mal posicionamento desses Tubo endotraqueal e traqueostomia
dispositivos pode levar a sérias complicações, que
muitas vezes não são clinicamente evidentes. A intubação traqueal é realizada para manter a
Desta maneira, é importante conhecer não via aérea pérvia e auxiliar na ventilação de pacientes
somente o aspecto radiográfico habitual destes com hipoventilação ou hipoxemia. O posicionamento
aparatos, como saber identificar possíveis com- correto dos tubos endotraqueais deve ser verificado
plicações relacionadas ao seu uso2,4. logo após sua introdução. No RX de tórax, a extre-
midade distal do tubo deve estar no terço médio da
traqueia torácica, distando aproximadamente 5 cm
OBJETIVOS GERAIS da carina2,3 (não menos que 3, não mais que 7 cm).
O exame deve ser realizado com a cabeça do pacien-
Após a leitura deste texto, o leitor deverá te em posição neutra, pois a flexão ou extensão pode
ser capaz de: mudar em até 2 cm a posição do tubo (figura 1).

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Figura 1: A esquerda, tubo endotraqueal adequadamente posicionado, com extremidade distal a 5,2 cm da carina. Notar tam-
bém o cateter de acesso venoso central via jugular interna direita com extremidade em projeção da veia cava superior e fios
de monitorização cardíaca. A direita, cânula de traqueostomia adequadamente posicionada.

A traqueostomia é realizada diante da neces- tubo estiver muito baixo, pode ocorrer intubação
sidade de intubação prolongada. A ponta do tubo seletiva, principalmente para o brônquio fonte
(ou cânula) de traqueostomia deve estar localizada direito, que é mais verticalizado, levando a ate-
aproximadamente na metade da distância entre a lectasia pulmonar parcial ou completa2,8. A intu-
estomia e a carina6,7 (figura 1). Diferentemente da bação seletiva também aumenta o risco de pneu-
avaliação do tubo orotraqueal, a avaliação radiográ- motórax contralateral, devido a hiperinsuflação
fica da traqueostomia independe da posição da ca- compensatória (figura 2). Uma complicação im-
beça do paciente. Pequena quantidade de enfisema portante é a laceração da traqueia, principalmen-
subcutâneo ou mesmo pequeno pneumomediastino te da porção membranosa posterior, levando a
pode ser identificado logo após a traqueostomia e pneumomediastino e pneumotórax9. Neste caso,
passagem da cânula, sem repercussão clínica2. a tomografia computadorizada (TC) é importante
para demonstrar a localização e extensão da lesão
A extremidade do tubo endotraqueal deve estar traqueal2 (figura 3). Outra possível complicação é
a aproximadamente 5 cm da carina. Já o tubo de o posicionamento do tubo no esôfago, podendo
traqueostomia deve estar “no meio do caminho” inclusive levar a perfuração esofágica, com pneu-
entre a estomia e a carina. momediastino e posterior mediastinite2. Quando
o tubo está no esôfago, o RX mostra o tubo la-
Se o tubo endotraqueal estiver muito alto, teralmente à coluna aérea normal da traqueia,
há o risco de extubação, ventilação ineficiente, ou se estendendo inferiormente à carina, muito
distensão gástrica e lesão das cordas vocais. Se o comumente com distensão aérea do estômago8,10

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Sondas, cateteres e outros aparatos médicos na radiografia de tórax

Figura 2: Intubação seletiva em brônquio fonte direito, com atelectasia parcial do pulmão esquerdo e desvio mediastinal para
a esquerda. Há também cateter venoso central bem posicionado e fios de monitorização cardíaca.

Figura 3: Controle radiográfico pós intubação traqueal mostra extenso enfisema de partes moles, pneumotórax a direita e
pneumomediastino (desenhando a aorta descendente e coração). A direita, a TC mostra a laceração da membrana posterior
da traqueia pelo tubo.

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Dentre as complicações tardias da intubação Sondas digestivas


endotraqueal, destaca-se a estenose de traqueia,
com ou sem traqueomalácia11–16. A estenose traque- As sondas digestivas mais comumente são
al está relacionada principalmente à hiperinsuflação nasogástricas ou nasoentéricas e servem para as-
do balonete (“cuff”), acima de 1,5 vezes o diâmetro piração de conteúdo, administração de medicamen-
da traqueia normal. Em casos mais graves, a hi- tos e nutrição. A sonda gástrica deve estar com
perinsuflação do balonete pode levar até à ruptura a extremidade no interior do estômago, além da
traqueal. A TC do tórax é utilizada para detecção da cardia7,9 (abaixo da transição esofagogástrica e do
estenose, assim como no planejamento cirúrgico do diafragma, no estômago tópico), enquanto a sonda
tratamento. A fase expiratória ou o estudo dinâmico entérica deve estar idealmente na segunda porção
são importantes na detecção da traqueomalácia12, do duodeno, além da região pilórica, a direita da
quando há o colapso excessivo da traqueia durante a linha média. Em geral, as pontas das sondas são
expiração, com redução de calibre ou área superior radiopacas, para facilitar sua identificação no RX
a 70% quando comparado à fase inspiratória. Nos (figura 4). Antes de verificar o posicionamento cor-
casos de traqueostomia, a estenose pode ocorrer reto das sondas digestivas pelo RX, é importante se
também ao nível do traqueostoma. certificar de que o paciente não possui uma hérnia
Há ainda outras complicações relacionadas à gástrica hiatal volumosa, mal rotação intestinal ou
ventilação mecânica, principalmente se realizada cirurgia prévia no trato gastrointestinal alto (como
com pressão positiva ou de maneira prolongada. O gastrectomia parcial). Estas condições podem levar a
barotrauma pode levar a pneumotórax, pneumome- interpretação errônea do posicionamento das sondas.
diastino, enfisema intersticial pulmonar e enfisema
de partes moles2. A ventilação prolongada aumento A sonda gástrica deve estar com extremidade
o risco de pneumonia aspirativa, pneumonia hospi- no interior do estômago, enquando a sonda
talar e atelectasias. Em todas estas situações, em entérica deve ter extremidade idealmente na
geral, o RX de tórax é o primeiro exame de imagem segunda porção do duodeno.
a ser realizado para confirmar a suspeita clínica.

Figura 4: A esquerda, sonda nasogástrica bem posicionada. Há também cateter de acesso venoso central e cânula de traque-
ostomia, ambos adequadamente posicionados. A direita, sonda nasoentérica com extremidade corretamente posicionada a
direita da linha média.

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Sondas, cateteres e outros aparatos médicos na radiografia de tórax

As complicações mais comuns relacionadas posicionamento pode ser identificado pela posição
às sondas digestivas incluem o posicionamen- anômala do trajeto ou da extremidade da sonda
to errado, com inserção incompleta ou aspecto (figura 5). As grafias em duas incidências podem
enrolado da sonda na faringe ou esôfago2,9. Por ajudar. Ainda, após a administração de medica-
vezes, a sonda pode ser inserida na árvore tra- ção ou nutrição, o RX pode mostrar o rápido de-
queobrônquica, e menos comumente, mas com senvolvimento de derrame pleural, alargamento
pior repercussão clínica, pode haver perfuração e mediastinal, pneumotórax ou pneumomediastino,
a extremidade ser identificada no pulmão, cavi- aumentando a suspeição para o mal posiciona-
dade pleural e mediastino17. Na radiografia, o mal mento da sonda2.

Figura 5: Sonda digestiva mal posicionada, com extremidade em projeção de ramo de brônquio lobar inferior direito. Há tam-
bém cateter venoso central com extremidade distal na transição entre veia cava superior e átrio direito, e imagens de plugs de
monitorização cardíaca.

Complicações da sondagem digestiva in- Dreno torácico


cluem também pneumonia aspirativa, abscesso
pulmonar, empiema e mediastinite. Nestas situ- A drenagem torácica é utilizada para trata-
ações, a TC de tórax com contraste pode ser im- mento do derrame pleural e do pneumotórax. Na
portante, para firmar o diagnóstico e auxiliar no radiografia, é possível identificar o trajeto, a ponta
planejamento terapêutico2. e os orifícios laterais do dreno. A posição do dreno

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depende do objetivo da drenagem. Para tratamen- substituído por uma valva de Heimlich ou por um
to do pneumotórax, o dreno pode ser mais alto e cateter pig tail, este mais fino.
deve cursar lateral e superiormente com extre-
midade próximo à região apical. Para tratamento A posição do dreno de tórax depende do obje-
dos derrames pleurais, o dreno pode ser inserido tivo. No pneumotórax, é mais alto e cursa su-
mais baixo e o trajeto posterior e inferior, com ex- periormente. No derrame, pode ser mais baixo
tremidade em projeção basal ou lateral (figuras 6 e ter trajeto basal. Nos derrames complexos,
e 7)2,18. Nos casos de derrame pleural loculado ou deve ter localização específica de acordo com
septado, o dreno deve cursar através da coleção a posição das coleções.
ou coleções. Às vezes, o dreno torácico pode ser

Figura 6: A esquerda, paciente com pneumonia de base esquerda e pneumotórax pós punção venosa a direita, drenado
adequadamente. Notar também a cânula de traqueostomia, o cateter venoso central e a sonda nasogástrica, todos adequa-
dos. Aparece ainda na grafia o tubo condutor da ventilação mecânica. A direita, drenagem de hemopneumotórax a direita após
acidente de moto x carro. Há também importante enfisema de partes moles.

Figura 7: Paciente com pneumonia de base esquerda e pneumotórax pós punção venosa a direita (mesmo paciente da
figura 6). Na imagem a direita, o primeiro dreno torácico colocado de maneira incorreta, em trajeto interfissural e dobrado
sobre si. Posteriormente, o dreno foi recolocado de maneira correta (figura 6).

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Sondas, cateteres e outros aparatos médicos na radiografia de tórax

Se o dreno para de drenar ar ou líquido, sempre ser feito após uma punção central (ver fi-
deve-se suspeitar de mal posicionamento3. O ori- guras de 1 a 7). O cateter intra-atrial deve ser evi-
fício proximal do dreno deve estar no interior do tado, pois, apesar de raro, há o risco de arritmia,
tórax, medialmente a borda interna das costelas, ruptura miocárdica e tamponamento cardíaco9.
caso contrário indica inserção incompleta. O dre- A complicação mais comum é o posiciona-
no pode também ser erroneamente inserido pelo mento inadequado do cateter, por vezes associado
tecido subcutâneo do paciente, em posição inter- a torção ou acotovelamento10 (figura 8). Se neces-
fissural ou mesmo intrapulmonar (figura 7). A ob- sário, outras incidências podem auxiliar a identi-
tenção de grafias em mais de uma incidência aju- ficar que o cateter não se encontra em projeção
da a confirmar a suspeita, além da realização da da VCS, podendo estar na veia cava inferior, veia
TC quando necessário. No caso de laceração pul- ázigos ou ventrículo direito. Variantes anatômicas,
monar, complicações mais graves podem aconte- como persistência da veia cava superior esquerda,
cer, como a formação de hematoma parenquima- drenagem venosa pulmonar anômala e defeitos dos
toso, infarto pulmonar e fístula broncopleural. septos cardíacos podem também levar a trajeto
Outras causas de drenagem ineficiente in- anômalo do cateter e gerar confusão4.
cluem o acotovelamento do dreno (“dobrado so-
bre si”), entupimento por coágulos ou debris18 e A ponta do cateter venoso central deve estar
oclusão da ponta por justaposição no mediastino na projeção da veia cava superior no exame
ou parede torácica19. A perfuração de órgãos me- de RX, abaixo da primeira costela anterior e
diastinais, do diafragma ou de órgãos abdominais logo acima do contorno do átrio direito.
é complicação rara, mas grave18.

Aparatos vasculares

O exame de RX de tórax deve ser realiza-


do para verificar a posição e sinais de complica-
ções dos seguintes aparatos vasculares:

• cateter venoso central


• cateter arterial pulmonar (Swan-Ganz)
• marcapasso cardíaco

Cateter venoso central

O cateter de acesso venoso central é utili-


zado em pacientes graves para administração de
medicações endovenosas e monitorização da pres-
são venosa, sendo posicionados após punção ju- Figura 8: Cateter de Swan-Ganz adequadamente posicio-
nado em região do hilo pulmonar direito. Notar ainda cateter
gular, subclávia ou femoral4. Nos pacientes oncoló- venoso central inserido via jugular interna direita que cursou
gicos em tratamento com quimioterapia, o cateter erroneamente para a veia subclávia esquerda.
pode estar acoplado a um reservatório fixo, este,
na maioria das vezes, fixado no subcutâneo da
parede torácica anterior (“cateter totalmente im- Outras complicações do acesso venoso central
plantado”). A ponta do cateter venoso deve estar incluem o pneumotórax, hemotórax, hematoma ex-
posicionada ao nível da veia cava superior (VCS), trapleural e hematoma mediastinal10 (figuras 6 e 7).
logo acima do átrio direito8,10” e o RX de tórax deve Todas estas condições podem ser identificadas no

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RX de tórax e, quando necessário, pode-se com- Além das complicações semelhantes às ob-
plementar a avaliação com grafias após injeção de servadas em casos de acesso venoso central, o ca-
pequena quantidade de meio de contraste iodado teter de Swan-Ganz pode levar a infarto pulmonar e,
pelo cateter ou com a TC. Complicações menos mais raramente, a dissecção da artéria pulmonar6.
comuns e de diagnóstico mais difícil incluem a trom-
bose completa ou parcial, ruptura, fragmentação
e migração de fragmento do cateter (incluindo a Marcapasso cardíaco
embolia pulmonar não trombótica)4.
O marcapasso cardíaco pode ser temporário
ou definitivo e pode ser utilizado para tratamento
Cateter arterial pulmonar de diferentes distúrbios de condução no coração.
O marcapasso temporário pode ser inserido por
O cateter de Swan-Ganz é utilizado para mo- via venosa, transtorácica, epicárdica ou transeso-
nitorização hemodinâmica circulatória, ajudando fágica. Os marcapassos definitivos possuem um
inclusive na diferenciação entre edema pulmonar dispositivo gerador de pulso que fica implanta-
cardiogênico e não cardiogênico. É inserido por via do no subcutâneo anterior do tórax e cabos com
venosa e a ponta deve estar idealmente na arté- eletrodos cardíacos, estes podendo ser único ou
ria pulmonar direita ou esquerda, não se devendo múltiplos. A apresentação mais comum é de dois
estender aos ramos interlobares. Desta maneira, cabos finos e uniformes, um com extremidade em
no RX de tórax, a ponta não deve estar além de átrio direito e outro no ventrículo direito (figura
2 cm de distância do hilo pulmonar10 (figura 8). 9). Em casos de marcapasso biventricular ou te-
rapia de ressincronização, há um terceiro cabo3,
No RX de tórax, a ponta do cateter de Swan- que mais comumente cursa em seio coronariano
-Ganz deve estar na região do hilo pulmonar até uma veia cardíaca esquerda para estimular o
direito ou esquerdo. ventrículo esquerdo, ou pode ter posição epicár-
dica esquerda.

Figura 9: Aparelho de marcapasso cardíaco com dois eletrodos íntegros com extremidades em

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Sondas, cateteres e outros aparatos médicos na radiografia de tórax

Nos pacientes com risco de taquicardia ou fibri- Às vezes, há um terceiro cabo relacionado ao
lação ventricular, o dispositivo de cardioversão-des- ventrículo esquerdo (venoso ou epicárdico). O
fibrilação (CDI) pode estar associado ao mecanismo CDI mais comumente tem um cabo com “mola
de marcapasso20,21(figura 10). O CDI em geral tem distal” e extremidade em ventrículo direito.
gerador maior, possui cabo heterogêneo com “mola”
na região distal e extremidade no ventrículo direito, As mesmas complicações relacionadas aos
e quando da presença de dois cabos, o segundo em cateteres venosos podem ocorrer durante a pas-
VCS ou veiabraquicefálica. sagem do marcapasso cardíaco. Adicionalmente,
pode ocorrer perfuração do miocárdio, identificado
O marcapasso cardíaco definitivo mais comu- no RX quando a ponta do cabo se estende além da
mente possui dois cabos finos de eletrodos, um borda cardíaca10 É preciso estar atento também para
em átrio e outro em ventrículo direito. o deslocamento e as fraturas dos cabos, em geral
fáceis de serem identificados no RX4,22 (figura 10).

Figura 10: Controle pós instalação de CDI em paciente com arritmia cardíaca (RX a esquerda). O aparelho não funcionava
corretamente e a TC (a direita) mostrou que a extremidade do cabo havia perfurado o miocárdio do ventrículo direito e estava
no pericárdio. Notar no RX a presença de sonda digestiva (ponta não identificada) e os eletrodos de monitorização.

Outros aparatos médicos • cateter de derivação ventriculoperitoneal


• fios de esternorrafia e clips mediastinais
Outros aparatos médicos comumente
identificados ao RX de tórax incluem: Há muitos outros dispositivos médicos que
comumente são identificados no exame de RX de
• plugs e fios de monitorização cardíaca tórax, principalmente de pacientes graves, inter-
• tubos de ventiladores mecânicos nados ou em avaliação de urgência / emergência.
• sondas sobrepostas ao corpo do paciente Mesmo que o RX não seja utilizado para verificar
a posição ou complicações relacionadas a estes

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

aparatos, é importante saber reconhecer seu as- Outro aparato que pode ser identificado no
pecto radiográfico para não confundir com altera- RX de tórax é o cateter de derivação ventriculo-
ções patológicas ou imagens de corpo estranho3. peritoneal, utilizado no tratamento de hidrocefa-
Muitas vezes, no exame em AP do paciente gra- lia não obstrutiva23 (figura 11). A porção torácica
ve, não é possível retirar os equipamentos médicos de
do cateter cursa no tecido subcutâneo longitudi-
monitorização e suporte do paciente para a realização
nalmente, comunicando a porção cefálica (esta
da radiografia3. Assim, é preciso saber reconhecer no
geralmente ligada a uma valva) com a porção
RX os plugs e fios de monitorização cardíaca, tubos e
conexões dos aparelhos de ventilação mecânica, sondas abdominal. Há complicações que podem ser iden-
e cateteres sobrepostos ao corpo do paciente, para não tificadas no RX de tórax, principalmente a ruptu-
confundir com dispositivos no interior do organismo ra do cateter e o surgimento de derrame pleural,
ou outro tipo de lesão torácica (ver figuras de 1 a 10). mas estas são incomuns.

Figura 11: Paciente com dois cateteres de derivação ventriculoperitoneal cursando anteriormente na parede torácica, um a
direita e outro, mais fino, a esquerda.

É importante também saber identificar os Clips metálicos mediastinais são pequenos, mas
aparatos cirúrgicos no tórax, principalmente os visíveis, e em geral estão relacionados a cirurgia
relacionados à cirurgia cardíaca, torácica e os ma- de revascularização miocárdica ou ressecção de
teriais ortopédicos da coluna, para não confundir tumores mediastinais3. Os fios metálicos de es-
com imagens de corpo estranho3,23 (figura 12). ternorrafia são facilmente identificados no RX e,

Medicina (Ribeirão Preto. Online) 2019;52(supl1):57-71 67


Sondas, cateteres e outros aparatos médicos na radiografia de tórax

por vezes, a fratura de um dos fios pode ser iden- rante um procedimento cirúrgico, caracterizando
tificada ao exame. Outras complicações, como um corpo estranho intratorácico26. Atualmente, até
infecção e deficiência de consolidação óssea, re- as compressas cirúrgicas possuem fios radiopacos
querem outros exames com a TC ou ressonância de marcação, para auxiliar em sua identificação.
magnética (RM)24,25. Próteses valvares cardíacas, Nos casos crônicos, em que um instrumento mé-
stents coronarianos e de ramos do arco aórti- dico é esquecido no interior do corpo do paciente,
co, próteses endovasculares da aorta (reparo de pode-se formar uma reação inflamatória granu-
aneurisma ou tratamento de dissecção), stents lomatosa grave, gerando aspecto de massa, que
traqueais, brônquicos ou esofágicos podem tam- pode ser até confundida com neoplasia (figura 12).
bém ser identificados no RX de tórax3. Para men- Estas massas, quando relacionadas a compressas
suração do pH esofágico, usa-se uma sonda de ou gazes, são chamadas de gossipibomas27.
pHmetria com ponta radiopaca, sendo que o RX é
feito para identificar o posicionamento adequado A imagem de corpo estranho deve ser suspei-
da extremidade da sonda no esôfago distal3. tada quando se identifica no RX um dispositivo
Obviamente que, se ao exame de RX do tó- ou equipamento médico não esperado, por
rax, for identificada imagem de outro tipo de apara- vezes, relacionado a massa ou coleção. Por
to cirúrgico, como compresssa, gaze, pinça, agulha isso, é importante saber reconhecer todos os
ou afastador, deve ser averiguado a possibilidade aparatos médicos e seu aspecto habitual na
de iatrogenia, em que tal aparato foi esquecido du- imagem radiográfica.

Figura 12: Controle radiográfico tardio pós-operatório de cirurgia de revascularização miocárdica mostrou imagem com as-
pecto de massa junto ao coração associado a imagem metálica no interior, lembrando um afastado cirúrgico. A esquerda, no
RX, é possível ver os fios metálicos de esternorrafia e os clips cirúrgicos. A direita, a imagem de TC mostra tratar-se de uma
grande massa de provável granuloma de corpo estranho em região epicárdica.

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

12. Heidinger BH, Occhipinti M, Eisenberg RL, Bankier AA.


CONCLUSÃO Imaging of Large Airways Disorders. Am J Roentgenol.
2015;205(1):41-56. doi:10.2214/AJR.14.13857

Neste texto foram apresentados e discuti- 13. Boiselle PM. Imaging of the Large Airways. Clin Chest Med.
dos os seguintes temas: 2008;29(1):181-193. doi:10.1016/j.ccm.2007.11.002

14. Carden KA, Boiselle PM, Waltz DA, Ernst A. Tracheomalacia


• O aspecto radiográfico dos principais apa- and Tracheobronchomalacia in Children and Adults. Chest.
2005;127(3):984-1005. doi:10.1378/chest.127.3.984
ratos médicos utilizados no tórax, como tu-
bos, sondas e cateteres 15. Ridge CA, O’Donnell CR, Lee EY, Majid A, Boiselle PM.
Tracheobronchomalacia: current concepts and con-
• o posicionamento adequado de vários dispo- troversies. J Thorac Imaging. 2011;26(4):278-289.
sitivos, vasculares e não vasculares doi:10.1097/RTI.0b013e3182203342
• as principais complicações relacionadas à 16. Boiselle PM, Ernst A. Tracheal Morphology in Patients With
instalação e permanência de alguns aparatos, Tracheomalacia: Prevalence of Inspiratory Lunate and Expi-
identificáveis ao RX de tórax ratory “Frown” Shapes. J Thorac Imaging. 2006;21(3):190-
196. doi:10.1097/01.rti.0000213647.42041.d0

17. Bankier AA, Wiesmayr MN, Henk C, Turetschek K, Winke-


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bronchial malpositions of nasogastric tubes and subsequent
complications in intensive care unit patients. Intensive Care
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doi:10.1056/NEJMvcm071974
2. Godoy MCB, Leitman BS, Groot PM, Vlahos I, Naidich
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2012;198(3):563-571. doi:10.2214/AJR.10.7226 doi:10.1016/S0363-0188(95)80002-6
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2004;24(6):1725-1746. doi:10.1148/rg.246045031
21. Drucker EA, Brooks R, Garan H, Sweeney MO, Ruskin
4. Godoy MCB, Leitman BS, Groot PM, Vlahos I, Naidich DP. JM, McGovern BA, et al. Malfunction of implantable
Chest Radiography in the ICU: Part 2, Evaluation of Car- cardioverter defibrillators placed by a nonthoracotomy
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5. Lacey G De, Morley S, Berman L. Radiografia Do Tórax - 1995;165(2):275-279. doi:10.2214/ajr.165.2.7618539
Um Guia Prático. Elsevier Editora Ltda; 2010. 22. Chang S-H, Tan C-K, Lee S-H. Fracture of a pace-
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doi:10.1016/j.ccc.2007.06.001
25. Restrepo CS, Martinez S, Lemos DF, Washington L, McA-
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monitors: The radiology of thoracic catheters, wires, Sternum and Sternoclavicular Joints. Radiographics.
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26. Karabulut N, Herek D, Kiroglu Y. CT features of intratho-
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11. Wain JC. Postintubation Tracheal Stenosis. Semin Thorac 27. Madan R, Trotman-Dickenson B, Hunsaker AR. Intrathoracic
Cardiovasc Surg. 2009;21(3):284-289. doi:10.1053/j. Gossypiboma. Am J Roentgenol. 2007;189(2):W90-W91.
semtcvs.2009.08.001 doi:10.2214/AJR.07.2250

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Sondas, cateteres e outros aparatos médicos na radiografia de tórax

MATERIAL SUPLEMENTAR

EXERCÍCIOS

1. Em relação ao posicionamento do tubo endotraqueal, assinale a alternativa incorreta.

a) O RX deve ser realizado logo após a intubação


b) A cabeça do paciente deve estar em posição neutra
c) A extremidade deve estar a aprox. 5 cm da carina
d) Intubação seletiva mais comumente ocorre a esquerda
e) A estenose traqueal é complicação tardia

2. Quais as diferenças entre a sonda nasogástrica e nasoentérica?

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3. Qual aparato médico é identificado neste exame? Inserido por que via? O posicionamento está
correto? Por quê?

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4. Em relação aos dispositivos médicos cardiovasculares, correlacione:

A. Marcapasso cardíaco
B. CDI
C. Cateter de Swan-Ganz
D. Balão intra-aórtico
E. Fios de monitorização cardíaca

( ) Não confundir com sondas ou cateteres


( ) Dois eletrodos, em átrio e ventrículo direito
( ) Um cabo em ventrículo direito
( ) Ponta radiopaca ao nível do botão aórtico
( ) Extremidade na região do hilo pulmonar

5. Cite três posições inadequadas do dreno torácico.

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Suplemento Temático: A Radiografia Simples de Tórax

Respostas dos exercícios


Tests answers
Danilo Tadao Wada1 , José Antonio Hiesinger Rodrigues1, Marcel Koenigkam Santos2

Seguem as respostas aos exercícios (material complementar) dos textos de estudo dirigido do sim-
pósio de Radiografia Simples do Tórax.

1. Médico assistente da disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Centro de Ciências das Imagens e Física Mé-
dica, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto
(SP), Brasil.
2. Docente responsável pela disciplina de Radiologia Torácica e Cardiovascular. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FAEPA),
Ribeirão Preto (SP), Brasil.
Danilo Tadao Wada. Avenida Bandeirantes, 3900 – Campus Universitário. CEP: 14049-900. Ribeirão Preto SP, Brasil.
dwada@hcrp.usp.br | Recebido em: 17/02/2019 | Aprovado em: 26/04/2019

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer meio,
sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. https://doi.org/10.11606/issn.2176-7262.v52isupl1.p73-80
Respostas dos exercícios

TEXTO 1

ASPECTOS TÉCNICOS E ROTEIRO DE ANÁLISE DA RADIOGRAFIA DE TÓRAX

1. Em relação às incidências do RX de tórax, correlacione:


A. Protocolo padrão D. Suspeita de nódulo no ápice do pulmão
B. Para avaliar derrame pleural E. Avaliação de aumento do átrio esquerdo
C. Paciente acamado ou de difícil mobilização

Resposta correta:
(C) AP (D) Apicolordótica
(B) Decúbito lateral com raios horizontais (E) Obliquas
(A) PA e perfil

2. O RX de tórax realizado em expiração máxima pode ajudar em que situações?

Resposta correta: Na suspeita de pneumotórax pequeno e aspiração de corpo estranho.

3. O que há de errado com esta radiografia de tórax em relação à técnica de aquisição da imagem?
O que pode ser feito para melhorar?

Resposta correta: Grafia em AP, pouco penetrada, pouco inspirada e paciente não centrado. Tentar
repetir em PA, com maior dose de radiação, melhor inspiração e centrar o paciente no filme.

4. Como identificamos que um exame de RX de tórax realizado em PA e perfil está adequadamente


centrado?

Resposta correta: As bordas mediais das clavículas têm a mesma distância para o centro da coluna
dorsal.

5. Qual das alternativas abaixo não faz parte de um relatório de RX de tórax normal?
a) Estruturas ósseas íntegras d) Índice cardiotorácico dentro da normalidade
b) Trama vascular pulmonar normal e) Linfonodos mediastinais de aspecto habitual
c) Ausência de opacidades pulmonares

Resposta correta: e

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Wada DT, Rodrigues JAH, Santos MK

TEXTO 2

ANATOMIA NORMAL DA RADIOGRAFIA DE TÓRAX

1. Qual região anatômica representa o principal indicador de doença pleural no RX de tórax?


a) Sulco superior d) Seio costofrênico
b) Janela aortopulmonar e) Recesso ázigo-esofágico
c) Seio cardiofrênico

Resposta correta: d

2. Qual a diferença entre os brônquios principais (centrais) a direita e a esquerda?

Resposta correta: à direita o brônquio fonte é curto e verticalizado, enquanto à esquerda o brôn-
quio fonte é longo e horizontalizado. Apenas à direita há o brônquio intermédio, após a origem do
brônquio lobar superior direito.

3. Nomeie as estruturas anatômicas apontadas (A, B, C e D).

Resposta correta:
A – traqueia
B – hilo pulmonar esquerdo
C – bolha gástrica
D – seio costofrênico direito

4. Qual a definição do lóbulo pulmonar secundário?

Resposta correta: é periférico e delimitado pelos septos interlobulares, é ventilado pelo bronquíolo
terminal.

5. Representam variantes anatômicas identificadas no RX de tórax, exceto:


a) Costela cervical d) Cifoescoliose torácica
b) Calcificações costocondrais e) Arco aórtico a direita
c) Lobo acessório da veia ázigos

Resposta correta: d

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Respostas dos exercícios

TEXTO 3

SEMIOLOGIA RADIOLÓGICA E TERMINOLOGIA DA RADIOGRAFIA DE TÓRAX

1. Cite 3 alterações que levam à redução da atenuação pulmonar no exame radiográfico do tórax.

Resposta correta: Cisto, bolha e cavidade.

2. Em relação à consolidação, indique a alternativa correta:


a) Representa o preenchimento do espaço aéreo ou alveolar
b) Pode indicar alteração extrapulmonar
c) É um tipo de opacidade intersticial
d) Em geral indica um tumor pulmonar central obstrutivo
e) É opacidade densa de limites precisos e contornos regulares

Resposta correta: a

3. Quais são os quatro padrões de opacidades intersticiais? Cite uma causa para cada.

Resposta correta:
Padrão reticular – doença intersticial pulmonar fibrosante (fibrose pulmonar idiopática, doença cola-
genovascular, reação medicamentosa)
Padrão nodular – doença granulomatosa (sarcoidose, silicose, tuberculose)
Padrão septal – edema pulmonar (linfangite carcinomatosa)
Padrão miliar – tuberculose miliar (histoplasmose, metástases)

4. RX de tórax de 2 pacientes diferentes, ambos com doença intersticial pulmonar. Indique quais são
as alterações radiográficas de cada caso.
A. B.

Resposta correta:
Caso A. Opacidades de padrão reticular com predomínio basal e periférico, sinais de perda de volume
pulmonar, aumento da área cardíaca
Caso B. Opacidades de padrão nodular com predomínio superior e central, sinais de hiperinsuflação,
aumento do volume hilar por linfonodomegalias

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5. Qual das situações abaixo leva a obliteração do seio costofrênico esquerdo:


a) Linfonodomegalia hilar d) Derrame ou espessamento pleural
b) Timoma mediastinal e) Atelectasia do lobo médio
c) DPOC

Resposta correta: d

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Respostas dos exercícios

TEXTO 4

SINAIS RADIOLÓGICOS NO TÓRAX

1. São sinais relacionados ao tromboembolismo pulmonar agudo, exceto:


a) Corcova de Hampton d) Luftsichel
b) Westermark e) Todos são sinais relacionados ao TEP agudo
c) Palla

Resposta correta: d

2. Qual sinal pode auxiliar na identificação do pneumotórax em uma radiografia em AP?

Resposta correta: Sinal do sulco profundo.

3. Qual o sinal identificado na imagem em PA deste exame de RX de tórax? Qual a provável alteração?

Resposta correta: Há uma consolidação em faixa fazendo sinal da silhueta com a borda cardíaca
direita. Representa atelectasia do lobo médio.

4. Qual a diferença de significado entre os sinais da convergência e da sobreposição hilar?

Resposta correta: Convergência hilar indica que a alteração é do hilo pulmonar, enquanto a sobre-
posição hilar indica que a alteração é extra hilar.

5. Correlacione cada sinal com sua descrição ou significado.


A. Sinal do 1-2-3 D. Split pleura
B. Sinal da cauda de cometa E. Sinal do crescente aéreo
C. S de Golden

Resposta correta:
(B) Atelectasia redonda (A) Linfonodopatia paratraqueal e hilar bilateral (sarcoidose)
(C) Neoplasia central obstrutiva (D) Empiema pleural
(E) Bola fúngica

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TEXTO 5

SONDAS, CATETERES E OUTROS APARATOS MÉDICOS

1. Em relação ao posicionamento do tubo endotraqueal, assinale a alternativa incorreta.


a) O RX deve ser realizado logo após a intubação
b) A cabeça do paciente deve estar em posição neutra
c) A extremidade deve estar a aprox. 5 cm da carina
d) Intubação seletiva mais comumente ocorre a esquerda
e) A estenose traqueal é complicação tardia

Resposta correta: d

2. Quais as diferenças entre a sonda nasogástrica e nasoentérica?

Resposta correta: Ambas servem para aspiração de conteúdo, administração de medicamentos e


nutrição. A sonda nasogástrica deve estar com a extremidade no interior do estômago, além da cardia
(abaixo da transição esofagogástrica e diafragma, no estômago tópico), enquanto a sonda entérica deve
estar idealmente na segunda porção do duodeno, além da região pilórica, a direita da linha média.

3. Qual aparato médico é identificado neste exame? Inserido por que via? O posicionamento está
correto? Por quê?

Resposta correta: Identifica-se um cateter de acesso venoso central inserido pela veia subclávia
direita, com posicionamento incorreto, pois está dobrado sobre si.

4. Em relação aos dispositivos médicos cardiovasculares, correlacione:


A. Marcapasso cardíaco D. Balão intra-aórtico
B. CDI E. Fios de monitorização cardíaca
C. Cateter de Swan-Ganz

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Respostas dos exercícios

Resposta correta:
(E) Não confundir com sondas ou cateteres (D) Ponta radiopaca ao nível do botão aórtico
(A) Dois eletrodos, em átrio e ventrículo direito (C) Extremidade na região do hilo pulmonar
(B) Um cabo em ventrículo direito

5. Cite três posições inadequadas do dreno torácico.

Resposta correta: Cursando no subcutâneo, em trajeto interfissural ou intrapulmonar.

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