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Para lá da diabetes

André Alçada Fernandes(1); Bruno Silva(1); Ana Rita Ambósio(1); Isménia de Oliveira(1); Fernando Martos Gonçalves(1); José Lomelino Araújo(1)
(1) Serviço de Medicina Interna, Hospital Beatriz Ângelo, Loures

Identificação e Antecedentes Pessoais


Mulher de 71 anos, com história de diabetes mellitus 5po 2 com 30 anos de evolução, com bom controlo metabólico sob
an5diabé5cos orais. Sem outros antecedentes de relevo.

História da Doença Atual e Exame Objetivo


Encaminhada à Consulta de Diabetes em janeiro de 2022 por dois episódios de cetoacidose diabé0ca naquele mês, tendo
iniciado insulinoterapia.
Apresentava astenia, perda ponderal, vómitos e descontrolo metabólico com um mês de evolução e edema dos membros
inferiores, que se viria a revelar refratário a terapia diuré5ca e desproporcional ao seu grau de insuficiência cardíaca (pelos
posteriores achados ecocardiográficos e por valores de NT-proBNP ~700 pg/mL).

Evolução e Marcha Diagnóstica

Abril Abril
Fevereiro-Março Tomografia computorizada abdominal: Tomografia computorizada abdominal
Ecocardiograma transtorácico, endoscopia
Cabeça do pâncreas ligeiramente (com contraste endovenoso):
diges>va alta, colonoscopia e ecodoppler dos
heterogénea; sem evidência de nódulos e Massa na cabeça do pâncreas com
Dezembro-Janeiro membros inferiores sem alterações de relevo sem adenomegálias abdominopélvicas extensão duodenal
Início das queixas

Fevereiro Março Abril


Maio
Avaliação em Consulta de Diabetes Ecografia Abdominal: Ressonância magné;ca abdominal:
Endoscopia diges;va alta:
Ajuste de insulinoterapia; início de Dilatação do Wirsung com 3.5mm e Nódulos hepá>cos de provável origem
Neoplasia ulcerada na 2ª porção
terapêu>ca diuré>ca indefinição na cabeça pancreá>ca secundária, sem alterações na cabeça do
duodenal
pâncreas

Figura 1 – Secção D2 da Endoscopia Diges;va Alta da doente em janeiro (à esquerda) e maio (à direita)

ADENOCARCINOMA DA CABEÇA DO PÂNCREAS

Discussão
A neoplasia do pâncreas como causa de diabetes mellitus é uma en5dade reconhecida, mas de diagnós0co di9cil sem
recorrer, por ro5na, a exames complementares que, na maioria das vezes, serão desnecessários. O facto de a perda
ponderal ser sintoma comum às duas condições clínicas e de o estudo imagiológico precoce poder ser inconclusivo
revelam-se obstáculos diagnós5cos a ter em conta, podendo a doença evoluir, por vezes, de forma galopante.
O aparecimento súbito e repe55vo de cetoacidose diabé5ca numa doente com diabetes mellitus 5po 2, previamente com
bom controlo glicémico, e o edema dos membros inferiores cons5tuíram sinais de alerta nesta doente.

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