Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Dan Kosmayer/Shutterstock
19-61588
CDU: 347.925
3 Comunicação e negociação 55
3.1 Requisitos para a comunicação 55
3.2 Rapport 58
3.3 Barreiras à comunicação e formas de contato 65
4 Gestão de conflitos 76
4.1 Características dos conflitos 76
4.2 Métodos de gestão de conflitos 85
4.3 O profissional de Segurança Pública no manejo de conflitos 91
APRESENTAÇÃO
Resolver crises e conflitos não é tarefa fácil. Passamos a vida lidando
diariamente com situações conflituosas, tentando encontrar a melhor maneira
de administrá-las de acordo com as expectativas que possuímos em relação
ao assunto implicado.
No entanto, para a área da Segurança Pública, as situações críticas
e os conflitos necessitam de atenção especial do operador, seja pela
imprevisibilidade e risco iminente à vida humana que as crises policiais
proporcionam, seja pelo número de envolvidos ou diferentes motivações que
os conflitos possam envolver. Por isso, os envolvidos no processo necessitam
escolher os métodos adequados e estar inteiramente focados na resolução
do problema.
Negociação e gestão de conflitos de segurança é uma obra que apresenta
técnicas que as instituições policiais e de Segurança Pública podem usar para
melhor enfrentar essas questões. Nesse sentido, convidamos você a imergir
no tema, estudando conceitos, características e elementos fundamentais do
gerenciamento de crises. Você vai conhecer a figura do negociador policial,
bem como os aspectos doutrinários da negociação em crises e seus objetivos,
perpassando pelos requisitos de comunicação e pelas dificuldades e barreiras
que possam surgir no processo, descobrindo as formas adequadas de manejo
e gestão de conflitos.
Com o intuito de apenas introduzir o conteúdo, que é vasto e interessante,
a obra procura instigá-lo a buscar mais conhecimentos sobre o tema e
formular suas próprias questões. Além disso, você será desafiado a responder
às atividades que integram e aplicam os assuntos estudados em cada capítulo,
o que proporciona um estudo mais aprofundado.
Bons estudos!
1
Noções de gerenciamento
de crises
Neste capítulo apresentaremos algumas noções básicas
relativas ao processo de gerenciamento de crises policiais, no qual
a atividade de negociação está inserida. É fundamental conhecer
os principais conceitos e aspectos relacionados à doutrina de
gerenciamento de crises antes da entrada no estudo aprofundado
da negociação voltada para a área policial.
Como foco principal deste capítulo, você verá, além do estudo
das principais definições relacionadas ao assunto, as ocorrências
qualificadas como críticas e os tipos de causadores do evento crítico.
Outro ponto importante será o estudo das alternativas táticas do
gerenciamento de crises, que são importantes ferramentas para a
resolução de todo o processo.
2) conter a crise;
3) isolar a crise;
6) coletar informações;
1.1.6 Refém
É a pessoa ameaçada e que representa importantes garantias para
o causador da crise, entre elas sua vida, sua integridade física, sua liber-
dade, além de outros benefícios que surjam durante o gerenciamento
do evento. Assim, podemos dizer que o refém pode ser considerado
“como um ‘objeto de troca’ para o CEC, e, portanto, é negociável, ou en-
tão, ‘trocável’ por outro objeto ou pelo cumprimento de uma exigência
sua” (SILVA, 2016b, p. 42). Quanto aos tipos de reféns, a doutrina esta-
belece dois: o refém tomado e o refém sequestrado.
1.1.7 Vítima
Diferentemente do refém, a vítima está envolvida na ocorrência
por questões emocionais, vingança ou em decorrência de transtornos
mentais apresentados pelo CEC, conforme esclarece Silva (2016b). Ape-
sar da similaridade das ocorrências, ou seja, tanto vítimas quando re-
féns são ameaçados pelo CEC, as condições de origem do evento é que
os diferenciam.
1.1.8 Intermediário
No contexto do gerenciamento de uma crise policial, o intermediário
é aquela pessoa, escolhida e orientada pelos negociadores, que faz
contato verbal com o causador da crise, auxiliando no processo de
resolução. Silva (2016b) estabelece que qualquer pessoa pode ser um
intermediário na ocorrência e que o seu contato orientado e protegido
com o CEC se caracteriza em uma importante ferramenta de barganha,
ou seja, de trocas vantajosas para os policiais com o causador.
(Continua)
Figura 1
Dimensões do critério da aceitabilidade
Figura 2
Tipos de crises
(Continua)
Cube29/Shutterstock
uma pessoa de notório poder financeiro, deixando-a em
cativeiro e fazendo exigência de resgate para a família. Essa
pessoa é chamada de refém sequestrado, e o ponto crítico
não é conhecido, sendo necessárias investigações para sua
localização e ações policiais visando a libertação. O crime está
tipificado no artigo 159 do Código Penal brasileiro.
(Continua)
Tentativas de suicídio
Leremy/Shutterstock
também tomam reféns quando querem obter vantagens
em troca deles, como dinheiro para o grupo, libertação de
colegas presos etc. Já o assassinato de vítimas serve aos
terroristas como meio para demonstrar que não estão
brincando e para exigir suas reivindicações das autoridades
confrontadas, geralmente na busca pelo poder ou afirmação religiosa radical. Para o
FBI, terrorismo é “o uso ilegal da força ou violência contra pessoas ou propriedades
para intimidar ou coagir um governo, uma população civil, ou qualquer segmento
dela, em apoio a objetivos políticos ou sociais” (WHITTAKER, 2005, p. 18).
(Continua)
Alexey Blogoodf/Shutterstock
defesa civil, bombeiros e integrantes das forças de segurança
pública. Uma ferramenta muito importante para o
gerenciamento desse tipo de evento emergencial é o
chamado Sistema de Comando de Incidentes (SCI), elaborado
pelos norte-americanos para o atendimento dos incêndios
florestais no estado da Califórnia na década de 1970. Tal
metodologia se mostrou eficiente e foi amplamente difundida em outros países,
chegando inclusive ao Brasil. Exemplos desse tipo de crise: queda de aeronaves
comerciais, rompimento de barragens de rejeitos de minério, acidentes com
produtos radioativos, incêndios florestais, enchentes etc.
1.3.2.2 Terroristas
Diferentemente dos causadores criminosos, os terroristas agem
por fanatismo político, religioso, ideológico ou social, intenções separa-
tistas, entre outros motivos. Silva (2016a) diz que os terroristas atuam
com o intuito de intimidar, coagir e desestabilizar o Estado constituí-
do, afetando comportamentos pela instauração do medo. Esse tipo de
causador, além da prática de atentados violentos em locais públicos,
contra pessoas comuns ou agentes públicos, toma reféns, exigindo
das autoridades, por exemplo, dinheiro para o grupo ou a libertação
de colegas presos. Quando os terroristas ameaçam vítimas, o intuito é
demonstrar poder e pressionar as autoridades contrárias. Invariavel-
mente, a divulgação dos assassinatos dessas vítimas em transmissões
televisivas provoca o pânico e o terror na sociedade, objetivos desse
tipo de causador.
Uma crise com presos rebelados costuma ser violenta e não são ra-
ras as vezes em que termina com mortos e feridos. Os líderes da rebe-
lião desafiam as autoridades gestoras da crise e exigem ações pontuais
que os favoreçam, em troca da libertação de reféns ou vítimas que se
encontram ameaçados no ponto crítico. Salignac (2011) pontua as prin-
cipais exigências de causadores presos rebelados aos negociadores, os
quais precisam estar atentos às demandas: melhoria das condições de
1.4.1 Negociação
É a primeira alternativa a ser considerada no processo de geren-
ciamento e a que impõe menor risco aos envolvidos (SILVA, 2016a),
considerando o uso do diálogo e do poder de convencimento para a
conclusão sem mortes no ponto crítico. Tal alternativa deve ser aplica-
da por especialistas, conforme esclarece Silva (2016a, p. 199):
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gerenciar crises policiais é uma atividade extremamente complexa.
Todos os aspectos doutrinários esmiuçados neste capítulo representam
norteadores ao trabalho policial em campo – local onde a crise está ocor-
rendo. Logo, conhecer e estudar a teoria minimizará os riscos inerentes
à atividade na prática e auxiliará os gestores do evento no atendimento
técnico que os inocentes merecem.
REFERÊNCIAS
RONCAGLIO, O. L. O gerenciamento de crises em estabelecimentos prisionais e a especificidade
do causador do evento crítico preso rebelado. Curitiba: FSB, 2017.
SALIGNAC, A. O. Negociação em crises: atuação policial na busca da solução para eventos
críticos. São Paulo: Ícone, 2011.
SILVA. M. A. Gerenciamento de crises policiais. Curitiba: InterSaberes, 2016a.
SILVA. M. A. Primeira intervenção em crises policiais: teoria e prática. 2. ed. Curitiba: AVM, 2016b.
TREVISAN, R. (coord.). Michaelis. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 2015. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/
busca/portugues-brasileiro/crise/. Acesso em: 12 nov. 2019.
TREVISAN, R. (coord.). Michaelis. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 2015. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/
busca/portugues-brasileiro/doutrina/. Acesso em: 12 dez. 2019.
VALLA, W. O. Doutrina de emprego de Polícia Militar e Bombeiro Militar. 3. ed. Curitiba: AVM,
2012.
WHITTAKER, D. J. Terrorismo: um retrato. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2005.
2. Gerenciar crises com técnica e com todos os meios adequados minimiza os riscos já
inerentes a esse tipo de ocorrência policial. O gerenciamento de crises é um processo
sistemático que auxilia os operadores envolvidos na busca de sua solução aceitável, ou
seja, com todas as vidas preservadas. Logo, conhecer todas as particularidades desse
processo, entender os conceitos relativos e, principalmente, aplicar os procedimentos
já amplamente testados e utilizados em situações reais trará uma vantagem muito
grande aos envolvidos.
ção
liza
rea
Realização do
tor
próprio potencial e
Au
autodesenvolvimento Necessidades
contínuo. secundárias
Autodepreciação, autoconfiança,
a necessidade de aprovação social
im
consideração.
relativamente satisfeitas.
De
Necessidades
primárias
Necessidades de alimentação (fome e sede), de sono
s
ica
Imagine que a preocupação do causador é com segurança, algo que está muito pró-
ximo da base piramidal, ou seja, ele precisa estar seguro para sobreviver, seu temor
relaciona-se diretamente com sua integridade física. Por mais que realize outras exi-
gências (desejos), o negociador percebe e consegue fazer com que o causador tam-
bém perceba que sua maior necessidade é segurança. Com a propositura de maneira
compreensível ao CEC, a tendência de um acordo satisfatório para ambos é grande.
Da mesma forma, se o indivíduo que está inserido numa crise há várias horas numa
sala sem nenhum tipo de recurso, passará a exigir alimentação e água, ou seja, ne-
cessidades vitais. Com certeza a entrega de algum desses itens (após avaliação dos
critérios de ação) permitirá ao negociador estabelecer uma troca considerável que
trará benefícios para o gerenciamento do evento crítico.
Divulgação
Chegar a uma solução pacífica para a crise é o que se busca por
meio da negociação, sendo este o principal objetivo. No entanto, num
evento crítico os fins não justificam os meios, basta lembrarmos o en-
tendimento da concepção ganhar-ganhar. Negociação policial em cri-
ses não é um jogo em que tudo é possível, mesmo que o objetivo seja
o desfecho não violento da ocorrência.
Quadro 1
Perfil do negociador
Fonte: Elaborado pelos autores com base em Polícia Militar do Paraná, 2017.
Pelos olhos do CEC, o negociador deve ser visto como a pessoa que
vai ajudá-lo, todavia, também deve ser enxergado como uma potencial
ameaça. Parece contrassenso, mas não é. Como único canal de comu-
nicação com o CEC, tudo que acontecer durante o processo de nego-
ciação passa pelo negociador. Além do diálogo, as orientações quanto
à recepção de pessoas, movimentação de efetivos, aproximação de in-
termediários e do grupo de intervenção para entrega de itens, tudo é
informado, garantido e empenhado pelo negociador, fazendo com que
o CEC perceba que uma possível intervenção tática pode depender de
uma simples sinalização do negociador ou da ausência dele.
Site Nesse momento, deve ser realizada uma conversa aproximada com
O blog do Program on Ne- os primeiros interventores a fim de que todas as informações colhidas
gotiation (PON), um pro- durante a primeira intervenção sejam revisadas. Contatos com outras
grama de negociação da
faculdade de Direito da fontes de informações também podem ser realizados, tais como teste-
Universidade de Harvard, munhas e familiares previamente identificados. Essas pessoas devem
conta com diversos docu-
mentos e artigos interes- ser apresentadas aos negociadores.
santes sobre negociação.
Esse blog faz análises de Nessa fase, a equipe de negociação reunida e devidamente escala-
negociações em diversas da em suas funções discute os primeiros contatos a serem realizados
áreas, como negócios, go-
verno, educação e direito. com o causador, estabelecendo os objetivos iniciais. Uma sugestão de
A página sobre negocia- objetivo para os primeiros contatos entre negociador e CEC pode ser a
ção de crises tem lições
tiradas de situações de visualização dos reféns e a confirmação sobre a condição de saúde de
negociação e técnicas dos todos os envolvidos.
negociadores de reféns
que podem ajudar a me- Ainda tratando-se de objetivos iniciais durante a preparação para os
lhorar suas habilidades
em negociação.
contatos, é necessário reunir-se com o gerente da crise e definir a pos-
2.4.1.2 Discussão
A fase da discussão é a primeira e mais extensa parte da negocia-
ção propriamente dita. Trata-se de todo o desenvolvimento do contato
com o CEC visando identificar suas reais necessidades.
Figura 2
Zona de negociação 1
PL PMF
NEGOCIADOR
ZONA DE NEGOCIAÇÃO
CEC
PMF PL
Figura 3
Zona de negociação 2
PL PMF
NEGOCIADOR
ZONA DE NEGOCIAÇÃO
CEC
PMF PL
2.4.1.3 Proposta
Demarcada a zona de negociação, em virtude da intercambiali-
dade de objetivos, o negociador deve identificar e/ou buscar, dentro
dessa área, um ponto comum de interesse. Esse ponto deve ser sa-
tisfatório para ambos e utilizado na proposição do encerramento da
crise. A Figura 4 representa o ponto de acordo.
ACORDO
PL PMF
NEGOCIADOR
CEC
PMF PL
2.4.1.4 Acordo
Última fase do processo de negociação, envolve diretamente a ava-
liação da proposta e as possíveis contrapropostas, realizadas na fase
anterior com o objetivo de findar a crise. Mais uma vez, os critérios de
ação do GC são evidenciados para auxiliar essa ponderação.
Ainda que a percepção de que a crise não findará por meio do diá-
logo com o negociador, este permanecerá em contato com o CEC. O
que muda é o foco pelo qual o processo prossegue. Para tanto, serão
expostos agora os dois tipos de negociação em crises: negociação téc-
nica e negociação tática.
Atividade 3 Para finalizar, cabe ressaltar que, durante uma crise policial, a equi-
De maneira sintética, dife- pe de negociação atua antes mesmo de chegar ao local da ocorrência,
rencie negociação técnica de pois quando é acionada já iniciam contatos para coletar informações e
negociação tática.
orientar os primeiros interventores, o que perdura durante todo o des-
locamento. No local, mesmo que a negociação técnica seja infrutífera,
a equipe de negociação parte para a negociação tática e permanece
em atividade, após o desfecho da situação, entrevistando envolvidos e
armazenando dados para posterior confecção de relatórios.
REFERÊNCIAS
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da
moderna administração das organizações. 7. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
FERRAZ, E. Negocie qualquer coisa com qualquer pessoa. São Paulo: Gente, 2015.
GARBELINI, V. M. P. Negociação e conflitos. Curitiba: InterSaberes, 2016.
MOSER, G. A negociação como alternativa tática empregada no gerenciamento de ocorrências
críticas da Polícia Militar do Paraná para a solução de crises. Curitiba: FSB, 2017.
OLIVEIRA, A. F. R. Manual de gerenciamento de crises. Rio de Janeiro: Instituto de Segurança
Pública, 2008.
POLÍCIA MILITAR DO PARANÁ. Diretoria de Ensino e Pesquisa. Concurso ao IV Curso de
capacitação de negociação em crises – Turma 2017 – Categoria oficiais e praças – Edital nº
001 – Abertura do certame. Paraná, 2017.
SALIGNAC, A. O. Negociação em crises: atuação policial na busca da solução para eventos
críticos. São Paulo: Ícone, 2011.
SAMPAIO, I. Momento crítico. Fortaleza: Edição Independente, 2018.
SILVA, L. F. Técnicas e Táticas de Negociação em Crises. Curitiba, 2005. Curso de Primeira
Intervenção em Crises, Companhia de Polícia de Choque, PMPR.
SILVA, M. A. Gerenciamento de crises policiais. Curitiba: InterSaberes, 2016.
SILVA, M. A.; SILVA, L. F.; RONCAGLIO, O. L. Negociação em crises policiais – teoria e prática.
2020. No prelo.
3. A negociação técnica, também conhecida como pura ou real, visa desfazer a intenção
do CEC, encerrando a crise pacificamente, por meio do diálogo. Já a negociação tática
ou preparatória é colocada em prática com a intenção de auxiliar a execução das
demais alternativas táticas (técnicas não letais, tiro de comprometimento e invasão
tática).
De acordo com Tubbs e Moss (2003 apud FAUAT; COSTA, 2018), sete
elementos compõem o processo de comunicação organizacional, são
Comunicação e negociação 55
eles: emissor, receptor, estímulo, mensagem, canal, feedback e barrei-
ras/interferências, sendo um modelo que bem representa a comunica-
ção e seus requisitos.
A partir da identificação do modelo de comunicação de Tubbs,
foram definidos sete elementos que compõem o processo da
comunicação organizacional no contexto de instituições finan-
ceiras governamentais. O primeiro elemento é o comunicador 1,
no papel primordial de emissor (representado pelos gestores).
O segundo elemento é o comunicador 2, no papel primordial de
receptor (representado pelos analistas). O terceiro, a mensagem,
significa todas as informações trocadas entre os comunicadores
1 e 2, ou seja, todas as informações relacionadas ao sistema de
normas das organizações estudadas e que são trocadas, princi-
palmente, mas não somente, entre gestores e analistas de risco de
crédito. O quarto elemento, o canal, constitui o veículo por meio
do qual a mensagem (escrita ou falada) é transmitida, como, por
exemplo, caixas postais, telefones e veículos digitais. O quinto
elemento são as interferências ou barreiras de comunicação, as
quais são constituídas por qualquer problema, de ordem técnica
e semântica, que distorça o significado da mensagem entre os
comunicadores. O sexto elemento é o feedback, que é o retorno
ao comunicador 1 (gestores) como resultado do comportamento
por ele gerado, sendo uma característica essencial dos relaciona-
mentos dele com seus interlocutores (principalmente analistas),
assim como uma importante fonte de informação sobre ele pró-
prio. Finalmente, o sétimo elemento é o estímulo (insumo), que
se refere a tudo o que o emissor e o receptor sabem, assim como
suas experiências a partir do mundo físico ou social, com base
nos seus sentidos. (FAUAT; COSTA, 2018, p. 70)
Figura 1
Requisitos para a comunicação
Código
Mensagem
Emissor Receptor
Feeedback
Comunicação e negociação 57
Weiss (2018) complementa que a maneira como o negociador se
comunica pode fazer toda a diferença. Para o autor “a linguagem que
usa e o modo como cria o entendimento, como resolve os problemas
em comum e determina o processo de negociação com a outra parte,
aumentam a eficiência da negociação” (WEISS, 2018, p. 24). Isso gera
acordos claros e compreensíveis e auxilia a criação de melhores rela-
cionamentos, facilitando eventuais negociações com o mesmo CEC.
3.2 Rapport
Vídeo Derivado do verbo francês rapporter, que significa “trazer de volta”
(relação), a palavra inglesa rapport refere-se a uma relação ou a uma
comunicação caracterizada por harmonia, sintonia, entendimento ou
empatia (SANDOVAL; ADAMS, 2001; MCLANACHAN, 2014 apud OLIVEI-
RA, 2017).
3.2.1 Empatia
Ser empático é “calçar os sapatos” do outro para compreender os
sentimentos dele. É tentar enxergar as coisas sob a ótica da outra pes-
soa levando em consideração o momento em que se encontra. Para o
dicionário de Psicologia da APA, empatia é:
compreender uma pessoa a partir do quadro de referência dela
e não do próprio, de modo a experimentar de modo vicário os
sentimentos, percepções e pensamentos dela. A empatia não
envolve por si mesma a motivação para ajudar, embora possa se
transformar em consideração pelo outro ou sofrimento pessoal,
o que pode resultar em ação. (AMERICAN PSYCHOLOGICAL AS-
SOCIATION, 2010, p. 335)
Uma pessoa que tem simpatia por outra, ou por uma causa especí-
fica, concordará com os atos e apoiará as ações da outra. Sendo assim,
um negociador necessita ser empático, e, caso demonstre simpatia
pelo CEC e suas ações, deverá ser substituído.
Comunicação e negociação 59
Um homem armado pratica um roubo a um supermercado. Vê-se frustrado pela polícia
no momento da fuga e retorna ao estabelecimento, onde, para não ser preso naquele
momento e não confrontar com os policiais, toma um refém.
Durante a negociação, o negociador extrai do CEC a motivação daquela ação delituosa. O
CEC expõe que está desempregado há dois anos, que cinco pessoas moram em sua casa
e dependem diretamente dele, que seu neto recém-nascido está passando fome e, como
último recurso que encontrou em meio a sua lastimável vida, cometeu o roubo para levar
comida para sua família.
Sendo empático, o negociador enxergará toda a situação do ponto de vista do CEC, com-
preenderá os motivos que o levaram a se envolver naquela situação, no entanto, não se
posicionará a favor do CEC quanto a sua atitude, até porque a conduta escolhida pelo
causador é criminosa. Ainda assim, o negociador relatará ao CEC o entendimento e a
compreensão do que lhe foi dito e juntos buscarão a melhor solução para o problema.
Figura 2
Declarações empáticas
Figura 3
Tipos de empatia
Comunicação e negociação 61
3.2.2 Escuta ativa
Webster (2003) relata que o FBI, desde os anos 70, vinha formando
seus negociadores com foco na resolução de ocorrências envolvendo
reféns. No entanto, no início da década de 90, a instituição passou a
reavaliar a forma de comunicação de seus negociadores em virtude dos
diferentes tipos de ocorrências críticas que se apresentavam. A denomi-
1 nada escuta ativa, então, surge como a ferramenta fundamental na cria-
A FBI Academy fica localizada ção de vínculos entre negociador e causador, passando a integrar, como
na cidade de Quantico, no metodologia basilar, os cursos da Academia de Treinamento do FBI .
1
estado norte-americano da
Virgínia, e é “dedicada a ser o Dedicação à comunicação é a principal característica da escuta ati-
principal centro de pesquisa va. Consiste em ouvir atentamente a pessoa com quem se está conver-
e de aprendizado da polícia e
defensora das melhores práticas sando, focando todas as palavras ditas e, sobretudo, compreendendo
policiais em todo o mundo” (FBI, as mensagens transmitidas, os sentimentos e as expectativas, demons-
2019, tradução nossa).
trando empatia pelas necessidades dessa pessoa (SALIGNAC, 2011).
Comunicação e negociação 63
Site informações, porém é preciso ter cuidado para não parecer um interro-
GOLFINHO. O portal da PNL no gatório ou que o problema do CEC ficou em segundo plano.
Brasil. Disponível em https://
A declaração empática, a qual demonstra compreensão, é a forma
golfinho.com.br/search/site/
comunicacao. Acesso em: 1 mais importante e eficaz de demonstrar para a outra pessoa que ela
dez. 2019. realmente está sendo ouvida.
Esse site é considerado
uma das principais refe-
É evidente que a escuta ativa apresenta melhores resultados na ne-
rências em Programação gociação face a face, devido à melhor possibilidade de recepção das
Neurolinguística (PNL) do
Brasil na internet. Nele é
mensagens do CEC, bem como maiores chances de feedback. Todavia,
possível encontrar vasto deve ser empregada independentemente da forma com que os con-
material sobre a eficácia
de uma boa comunica-
tatos são realizados. Um exemplo muito simples, e que a maioria das
ção; a importância da pessoas realiza inconscientemente, é a comunicação por telefone. Ao
comunicação não verbal;
novas tendências da co-
passo que o emissor profere suas mensagens, o receptor lhe dá retor-
municação interpessoal, nos pontuais por meio de “aham”, “sei”, “entendi”, para que o emissor
entre outros assuntos. O
nome do site foi inspirado
tenha a certeza de que está sendo ouvido. Quando esse retorno não
no livro A Estratégia do existe, é comum que o emissor acredite que a ligação caiu ou indague
Golfinho, de Dudley Lynch
e Paul L. Kordis.
se a outra parte ainda se encontra na linha, o que o faz crer que sua
mensagem possa não ter sido assimilada por completo.
Quadro 1
Técnicas de escuta ativa
Resposta na qual o negociador, com suas próprias palavras, repete ao causador a essên-
cia da mensagem que este acabou de emitir. Demonstra que o negociador está atento
Paráfrase à fala do causador e entendendo suas colocações. Podemos começar a frase com “Pelo
que eu entendi...”.
Técnica que permite enquadrar um comportamento em palavras, por exemplo, após o
Nomear os causador esmurrar uma parede, o negociador fala: “Vejo que você está zangado, quer me
sentimentos dizer o que está acontecendo?”. Essa técnica auxilia o desenvolvimento do rapport entre
o negociador e o causador.
Resposta pela qual o negociador demonstra ao causador que realmente está compreen-
Reflexão de dendo os fatos e os sentimentos que ele está transmitindo. É usada para ajudar a identi-
significados ficar o que o causador precisa e para fortalecer a relação entre os interlocutores.
Depois de um período de negociação longo, esta técnica permite ao negociador resumir
Reflexão os principais fatos e sentimentos demonstrados pelo causador, lembrando-o dos pro-
resumida gressos positivos obtidos durante o processo de diálogo, desde o início da crise.
(Continua)
Comunicação e negociação 65
3.3.1.1 Barreiras externas
São consideradas barreiras externas aquelas alheias à vontade do
receptor/emissor, conforme apresenta a Figura 4.
Figura 4
Exemplos de barreiras externas
kornn/Shutterstock Ruídos
Distância
HN Works/Shutterstock
Código
AVIcon/Shutterstock
Complexidade da mensagem
Leremy/Shutterstock
(Continua)
Competição de mensagens
TaLaNoVa/Shutterstock
Figura 5
Exemplos de barreiras internas
Dificuldade de expressão
Leremy/Shutterstock
(Continua)
Comunicação e negociação 67
Timidez
Leremy/Shutterstock
maioria das vezes observada nas crises que envolvem
CECs abalados emocionalmente em virtude de
descontentamentos familiares e afetivos (morte de
entes queridos, traição), problemas laborais ou
financeiros (perda de emprego, dívidas adquiridas)
e/ou tentativas de suicídio. Pessoas nessas condições
precisam ser constantemente estimuladas pelo
negociador, o qual deve compreender os motivos de
tal bloqueio.
Desinteresse ou desmotivação
Leremy/Shutterstock
Escolha do receptor
Leremy/Shutterstock
Escolha do momento
(Continua)
Distorções de mensagens
Leremy/Shutterstock
Hostilidade
Leremy/Shutterstock
u Incoerência de comunicação
to !
Es o!!
Leremy/Shutterstock
lm
ca Uma pessoa coerente na comunicação é aquela que
adapta e sincroniza a linguagem verbal e não verbal com
os demais recursos disponíveis (tom de voz, por exemplo).
Nesse sentido, seria incoerente a pessoa que esbraveja a
frase “Estou muito calmo!” ou aquela que diz um “sim”
balançando a cabeça negativamente.
(Continua)
Comunicação e negociação 69
Preconceito
RedKoala/Shutterstock
barreiras internas à comunicação de modo geral.
Divergências de crenças e valores, juízos preestabelecidos
e familiaridades contribuem para isso. O negociador
precisa se despir de qualquer tipo de preconceito ante
uma negociação, pois poderá ser indagado a respeito,
devendo deixar clara sua neutralidade e que suas
opiniões não importam. O importante é a vida e a
integridade física de todos que ali estão.
3.3.2.2 Megafone
Geralmente é utilizado quando existe dificuldade de aproximação,
problemas de segurança ou barreiras à comunicação, sejam físicas ou
derivadas de ruídos. Essa forma de contato acaba se tornando mais
impessoal que as mensagens ou bilhetes, uma vez que o CEC ouve o
negociador, porém o contrário não acontece.
3.3.2.3 Cobertura
Entendemos por cobertura o anteparo que oferece proteção balísti-
ca à equipe de negociação. Muros, paredes, postes de concreto, blocos
de motores de automóveis e veículos blindados são alguns exemplos
de cobertura, ao passo que uma pessoa estará encoberta quando não
pode ser visualizada, ou seja, cortinas, tapumes, biombos e vegetação
densa exemplificam essa situação. Uma pessoa pode estar coberta
atrás de um vidro blindado e não estar encoberta, pois sua visualização
Comunicação e negociação 71
é possível. Desse modo, o negociador poderá negociar por meio de
coberturas e, nesse caso estará em segurança, porém, com dificuldade
em interpretar a linguagem não falada (postura corporal, gestos, ex-
pressões faciais etc.).
Comunicação e negociação 73
Artigo
https://www.revistarazonypalabra.org/index.php/ryp/issue/view/17
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo, ao relacionarmos comunicação e negociação, denota-
mos a necessidade do conhecimento de técnicas de contato por parte
do negociador, evidenciando que o bom comunicador é aquele que sabe
ouvir, compreender a mensagem que lhe é repassada e demonstrar tal
compreensão, recebendo e fornecendo feedback.
Da boa comunicação, alicerçada na empatia e escuta ativa, nasce o
rapport como importante vínculo entre negociador e causador. Essa co-
municação pode ser comprometida por algumas barreiras e influenciada
pelo tipo de contato estabelecido entre as partes, explicitando a interde-
pendência dos diversos fatores aqui abordados, os quais precisam ser
manejados tecnicamente visando a uma boa comunicação e, consequen-
temente, a um acordo proveitoso para os envolvidos e ao encerramento
da crise.
REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Dicionário de psicologia. Porto Alegre:
ArtMed, 2010.
CABRAL, A.; NICK, E. Dicionário técnico de psicologia. São Paulo: Cultrix, 2006.
FAUAT, A. M.; COSTA, S. M. de S. Comunicação organizacional e padrões de comportamento
informacional de gestores e analistas de risco de crédito em instituições financeiras
governamentais. In: COSTA, S. M. S.; LEITE, F. C. L.; TAVARES, R. B. (orgs.). Comunicação da
informação, gestão da informação e gestão do conhecimento. Brasília: Ibict, 2018. p. 67-87.
FBI. Training Academy. 2019. Disponível em: https://www.fbi.gov/services/training-
academy. Acesso em: 3 dez. 2019.
GREENSTONE, J. L. The Elements of police hostage and crisis negotiations: critical incidents
and how to respond to them. New York: Routledge, 2005.
GABARITO
1. De acordo com O’Connor e Seymour (1995), em uma comunicação face a face, ou seja,
aquela em que receptor e emissor se observam, 55% das reações relacionam-se à
comunicação não verbal (gestos, roupas, posicionamento corporal, expressões faciais),
38% relacionam-se aos sons que envolvem a conversa (tonalidade de voz, velocidade
da fala, ruídos concorrentes com o diálogo) e apenas 7% referem-se às palavras ditas
pelo emissor. Sendo assim, 93% da comunicação é dependente de fatores distintos,
que vão melhor significar a fala e facilitar a compreensão e assimilação pelo receptor.
2. Para uma boa comunicação, aquela em que se espera resultados positivos, as partes
evolvidas (emissor e receptor) precisam estar conectadas, vinculadas. Denominamos
essa vinculação de rapport. A empatia é o principal fator gerador do rapport, pois o
comunicador se esforça para compreender o posicionamento e as ideias do outro
e, com o mesmo esforço, consegue demonstrar essa compreensão, construindo
conexões sólidas e ganhando a confiança da outra parte.
Desafio
O principal fator a ser observado pela equipe de negociação, no momento da escolha da forma de contato com
o CEC, é a segurança. Os negociadores precisam estar protegidos para trabalhar. É evidente que, ao eleger deter-
minados tipos de contato, podemos perder o contato visual com o CEC e com o local em que ele está inserido,
acarretando prejuízos na coleta de informações. Todavia, esses fatores não devem ser priorizados em detrimento
da segurança da equipe.
Comunicação e negociação 75
4
Gestão de conflitos
Este capítulo tratará das peculiaridades da gestão de conflitos
na área da Segurança Pública. Primeiramente serão apresentadas
as características dos conflitos, passando por sua conceituação e
diferenciação do termo violência. Para o entendimento desse fenô-
meno humano, também será feito um estudo sobre suas causas,
tipos e interações.
Na sequência, será explorado o processo de evolução da ges-
tão de conflitos no tempo, destacando sua importância e situando-
-o na atualidade. Por fim, serão apresentados os métodos usuais
para a administração dos conflitos e como o profissional de Se-
gurança Pública atua nessa tão importante área de resolução de
problemas.
Gestão de conflitos 77
Moreira (2011, p. 33) ensina que “a palavra violência vem do latim
vis, que significa força, vigor, potência. Assim, em sua herança etimoló-
gica, a ideia de violência contém elementos essenciais a todo ser, como
o vigor e a potência”.
Sob outra ótica, Dorecki (2017) sugere que as razões para conflitos,
relacionadas à Segurança Pública, confundem-se com as causas de tu-
multos e de distúrbios civis, sendo, nesse caso, elencadas conforme
mostra o Quadro 1.
Quadro 1
Causas dos conflitos relacionados à Segurança Pública
Sociais
Leremy/Shutterstock
Políticas
Leremy/Shutterstock
(Continua)
Gestão de conflitos 79
Alex Blogoodf/Shutterstock
Consequentes de calamidades públicas
Econômicas
IhorZigor/Shutterstock
autoridades constituídas
Gestão de conflitos 81
ma de roubo que reconhece e acusa a pessoa errada pelo crime,
considerando apenas a vestimenta similar à do verdadeiro crimi-
noso. Com a apresentação de outros recursos disponíveis, como
provas, imagens, depoimento de outras testemunhas, o equívoco
pode ser desfeito. Um conflito pode, obviamente, iniciar-se como
falso, mas expor novos motivos e comportamentos que o trans-
formem em verdadeiro, bastando uma análise mais apurada.
Gestão de conflitos 83
4.1.5 A gestão de conflitos no tempo
A gestão de conflitos é um processo de interação humana. Inde-
pendentemente da forma e qualidade com que as pessoas interagem,
existe a necessidade de relacionamento entre as partes. Esse relaciona-
mento pode ser muito breve, somente durante o período conflituoso,
ou então extremamente longo, quando já existe algum tipo de vínculo
anterior ao conflito, e existirá posterior a ele. Assim, a evolução do pro-
cesso de gestão de conflitos aponta como principal fator o envolvimen-
to entre as partes.
Figura 1
Mudança no foco dos conflitos
Gestão de conflitos 85
Garbelini (2016) esclarece que, das quatro estratégias citadas, a ne-
gociação é a única que não precisa envolver uma terceira pessoa, pois o
Site conflito deve ser resolvido com um acordo entre as partes. Já as demais
Na página da Escola Nacio- envolvem a participação, ainda que de modo não tão ativo, de um ter-
nal de Prevenção e Solução
de Conflitos (Enapres), su- ceiro para auxiliar no processo em busca de acordo.
bordinada à Secretaria Na-
cional de Justiça (Senajus) Além disso, são considerados métodos alternativos para a solução
e ao Ministério da Justiça e de conflitos que não envolvem o Poder Judiciário. É importante salien-
Segurança Pública, é pos-
sível encontrar materiais tar que, para a execução dos papéis de conciliadores, mediadores ou
pedagógicos, didáticos e árbitros, há a necessidade de formação adequada para a atividade. No
pesquisas acadêmicas so-
bre meios alternativos de caso da negociação no âmbito policial, também há formação específica,
solução de conflitos. Essa sendo este um pré-requisito ao operador da área.
escola é uma ferramen-
ta que tem o objetivo de
fornecer capacitações e
treinamentos para o de- 4.2.1 Negociação
senvolvimento de técnicas
de solução pacífica de con- É um processo de tomada de decisões para se atingir um consenso
flitos por meio de cursos entre duas partes. Trata-se do único método de gestão de conflitos em
gratuitos, presenciais e a
distância. que as partes conflitantes interagem sozinhas para administrar o pro-
Disponível em: https://www.justica. blema, sem a presença de um terceiro que conduza o embate.
gov.br/seus-direitos/politicas-de-
-justica/enam-2017. Acesso em: 16 Oliver (2014, p. 11) afirma que a “negociação é uma transação na
dez. 2019. qual ambas as partes têm a possibilidade de vetar o resultado final.
Ela requer o consentimento voluntário de ambas as partes”. Podemos
dizer que a negociação é um processo de dar e receber, em que as di-
vergências são resolvidas por consenso.
Figura 2
Esquematização do processo de negociação
X Y
Fonte: Elaborada pelos autores com base em Senasp/MJ, 2009, p. 16.
4.2.2 Arbitragem
O processo arbitral, regulado pela Lei Federal n. 9.307, de 23 de se-
tembro de 1996 (BRASIL, 1996), é muito semelhante ao processo judi-
cial. Nele as partes, em comum acordo e por livre vontade, escolhem o
árbitro, que não é um juiz e deve ser especialista na área ou tema em
que reside o conflito. Ele toma uma decisão sobre o conflito após ouvir
as partes, que não se comunicam.
Gestão de conflitos 87
Figura 3
Esquematização do processo de arbitragem
X Y
Fonte: Elaborada pelos autores com base em Senasp/MJ, 2009, p. 16.
4.2.3 Conciliação
A conciliação, assim como a arbitragem, é uma forma de resolução
administrada por um terceiro com autoridade decisória.
Figura 4
Esquematização do processo de conciliação
X Y
Fonte: Elaborada pelos autores com base em Senasp/MJ, 2009, p. 16.
Gestão de conflitos 89
Glossário Desta forma, diferentemente do árbitro, o mediador não decide pelas
paridade: igualdade. partes, tampouco sugere, direciona ou aconselha, como faz o conciliador.
O mediador promove o bom ambiente, a paridade e a isonomia en-
isonomia: princípio do Direito, quanto o conflito é colocado em evidência.
garantido pela Constituição, de
acordo com o qual todos são Na Figura 5, as letras X e Y representam cada uma das partes inseri-
iguais perante a lei. das no processo de mediação, e a letra M representa o terceiro envol-
vido, o mediador.
Figura 5
Esquematização do processo de mediação
X Y
Fonte: Elaborada pelos autores com base em Senasp/MJ, 2009, p. 16.
Gestão de conflitos 91
Da mesma forma acontece com os papéis de conciliador e media-
dor, os quais denotam requisitos específicos que dificilmente sejam
cumpridos pela equipe policial destinada à ocorrência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Gerenciar conflitos é uma atribuição difícil, e isso pode ser confirmado
pela necessidade imperiosa de profissionais especializados e capacitados.
Tal preparo percorre conhecimentos conceituais básicos, passando pelo
estudo das causas e fatores desencadeantes que levam às situações con-
flituosas e, também, por estudos aprofundados sobre o método escolhi-
do para a gestão dos conflitos.
É bem verdade que na vida cotidiana acabamos por gerenciar conflitos
e resolver problemas pequenos a cada instante. Entretanto, é necessário
separar o trabalho técnico e profissional do amador, que possui suas limi-
tações naturais. Da mesma forma, os operadores da área da Segurança
Pública necessitam conhecer e aplicar todos os preceitos técnicos neces-
sários para que consigam as soluções aceitáveis dos confrontos em que
estiverem envolvidos.
REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION (APA). Dicionário de psicologia. Porto Alegre:
ArtMed, 2010.
BRASIL. Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 24 set. 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.
htm. Acesso em: 16 dez. 2019.
BRASIL. Lei n. 13.140, de 26 de julho de 2015. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 29 jun. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13140.htm. Acesso em: 26 dez. 2019.
CHIAVENATO, I. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações.
Barueri: Manole, 2014.
DEUTSCH, M. A resolução do conflito. In: AZEVEDO, A. G. (org.). Estudos em arbitragem,
negociação e mediação. Brasília: Grupos de Pesquisa, 2004. p. 29-98.
DORECKI, A. C. Resolução pacífica de conflitos: alternativas para a segurança pública.
Curitiba: InterSaberes, 2017.
GARBELINI, V. M. P. Negociação e conflitos. Curitiba: InterSaberes, 2016.
MOREIRA, J. O. Reflexões sobre o conceito de violência: da necessidade civilizatória à
instrumentalização política. In: ROSÁRIO, A. B.; NETO, F. K.; MOREIRA, J. O. (orgs.). Faces
da violência na contemporaneidade: sociedade e clínica. Barbacena: Editora UEMG, 2011.
p. 33-42.
Gestão de conflitos 93
NASCIMENTO, E. M.; EL SAYED, K. M. Administração de conflitos. In: MENDES, J. T. G. Capital
humano/Fae Business School. Curitiba: Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom
Jesus, 2002. p. 47-56. (Coleção Gestão Empresarial, v. 5).
OLIVER, D. Técnicas de negociação. 2. ed. São Paulo: Clio Editora, 2014.
RONCAGLIO, O. L. Administração de conflitos. 2017.
SENASP/MJ. Curso de mediação de conflitos 1. 2009. Disponível em: http://www.conseg.
pr.gov.br/arquivos/File/MediacaoConflitos_completo.pdf. Acesso em: 21 jan. 2020.
SILVA, D. A vida íntima das palavras: origens e curiosidades da língua portuguesa. São
Paulo: Arx, 2002.
TREVISAN, R. (coord.). Michaelis. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. São Paulo:
Melhoramentos, 2015. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/
busca/portugues-brasileiro/conflito/ Acesso em: 14 nov. 2019.
WEISS, J. Negociações eficazes. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.
GABARITO
1. Conflito não pode ser confundido com briga, pois a briga, assim como qualquer outra
forma violenta, é uma resposta ao conflito. Pessoas podem tentar responder e/ou
resolver um conflito brigando. Por outro lado, os conflitos bem geridos podem trazer
resultados satisfatórios, apresentando importantes avanços no tema conflitante. Por
isso, a gestão de conflitos faz parte do processo evolutivo da humanidade e faz com
que nem todo conflito seja prejudicial.