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TERAPIA
DA CONSTELAÇÃO
FAMILIAR SISTÊMICA
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PSICOTERAPIA
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SUMÁRIO
HISTÓRIA ................................................................................................................... 6
DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA ............... 11
PRINCIPAIS LINHAS DE ABORDAGEM PSICOTERÁPICA .................................... 14
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA .............................................. 15
PSICOTERAPIA ANALÍTICA .................................................................................... 15
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL .......................................................... 20
Indicações ................................................................................................................. 21
Tipos de Terapia........................................................................................................ 22
PERFIL DO PSICOTERAPEUTA .............................................................................. 23
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA .............................................. 25
DIFERENÇAS ENTRE PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA
E PSICANÁLISE 25
A ENTREVISTA PSICANALÍTICA ............................................................................. 27
ENQUADRE TERAPÊUTICO .................................................................................... 29
ALIANÇA TERAPÊUTICA ......................................................................................... 31
PRINCIPAIS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS ........................................................... 32
PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL............................................... 45
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS ......................................... 45
TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL ................................................................ 53
FOBIAS ESPECÍFICAS ............................................................................................. 54
TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA ................................................. 55
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO .......................................................... 56
TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO .............................................. 57
TRANSTORNOS AFETIVOS .................................................................................... 57
TRANSTORNOS ALIMENTARES ............................................................................. 58
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE ................. 60
ADICÇÃO AO JOGO ................................................................................................. 61
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E
IMPULSIVIDADE....................................................................................................... 61
DISFUNÇÕES SEXUAIS .......................................................................................... 62
TRANSTORNOS DO SONO ..................................................................................... 63
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INTRODUÇÃO
No decorrer da vida, passamos por fases em que estamos bem. Parece que
encontramos o estado de felicidade. Mas em outras, encontramos dificuldades para
seguir nossa vida adiante. Nestas fases nos damos conta de que, sozinhos não
conseguimos caminhar. Reconhecemos que precisamos da ajuda de outro. Mas não
pode ser outro qualquer, é preciso que este outro esteja disposto a nos assumir do
modo como somos, sem julgar, e que nos dê a atenção devida. Pressupõe-se que
este outro tenha algo mais que o diferencie que é o conhecimento da psique. Para
cuidar dos sentimentos e emoções, temos o profissional especialista em teorias
psicológicas: o psicólogo.
As pessoas procuram psicoterapia por várias razões. Geralmente há um motivo
subjacente: o sentimento de que nem tudo vai bem com a própria vida, faltando
sentido e propósito mais profundo.
Freud já dizia que o desejo de se tratar deve ser primeiro do paciente, na
medida em que existe um sofrimento mental que justifique a necessidade. Quando o
paciente procura um tratamento por si só revela o desejo de amenizar seu sofrimento.
A palavra “terapia” vem de “theraplia” e quer dizer “cuidado, apoio”. Se
juntarmos à palavra “terapia” o prefixo “psico”, temos então “psicoterapia”, que
significa o “cuidado da psique, da alma, da mente”.
Para tanto, o psicólogo pode utilizar-se da abordagem teórica que lhe faça
sentido (psicanalítica, comportamental, humanista, etc.). A escolha da abordagem
depende da forma que este profissional entende o homem e o mundo, da sua filosofia
de vida.
A Psicoterapia é uma técnica psicológica, fundamentada e embasada
cientificamente para auxiliar as pessoas que buscam conforto para seu sofrimento
emocional. Seu objetivo não é o de prometer ao paciente um impossível estado de
felicidade eterna, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência filosófica diante do
sofrimento, auxiliando-o a lidar com seus conflitos. Nesse sentido, a vida acontece em
um equilíbrio entre a alegria e a dor.
A Psicoterapia pode ser realizada em indivíduos de todas as faixas etárias,
desde a infância, passando pela adolescência, fase adulta e até a velhice. Pode ser
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HISTÓRIA
Historicamente, a psicoterapia é muito mais antiga do que imaginamos, claro,
de forma não sistematizada. Suas raízes estão desde a Antiguidade, das mais
diversas formas culturais, por meio do curandeiro, danças xamanísticas, poções,
Buda, etc. (STONE, 2005).
A igreja, conforme relata Stone (2005), também exerceu grande influência na
cura do sofrimento mental, muitas vezes, com características sobrenaturais,
primeiramente com a Igreja Católica que tinha como pressuposto a luta entre o bem e
o mal (Deus e o diabo). Mais tarde o protestantismo de Martinho Lutero conquistou
milhares de fiéis, desafiando a autoridade da igreja, influenciando no rumo da história.
Assim, a possibilidade da crítica e do diálogo propiciou a separação entre a Igreja e o
estado, contribuindo com a ciência.
Segundo Stone (2005), já nos séculos XVI e XVII começou a surgir os hospitais
psiquiátricos, que nada mais eram que “depósito” de doentes mentais. Mas foi um
século mais tarde, com o movimento do Iluminismo que a psicoterapia começou a ser
modelada conforme hoje a conhecemos. Filósofos importantes (como Voltaire e
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CONCEITO/DEFINIÇÃO
FIGURA– CONCEITO/DEFINIÇÃO
http://marciocandiani.site.med.br/fmfiles/index.asp/::XPRWTT::/ps1.jpg
Acontece que, como narra Wallerstein (2005), nem todos os tipos de pacientes
podiam se beneficiar da psicanálise na época. Logo, a psicoterapia de orientação
psicanalítica começou a entrar em cena. Emprestava os conceitos da psicanálise e os
aplicava nos pacientes que não podiam ser tratados por esta última.
Segundo Wallerstein (20005) no final da década de 1930 até início de 1950
ocorreu o que chamou de segunda era, ou seja, a “era do consenso”, quando houve
um crescimento da psicanálise norte-americana, com psicanalistas europeus
refugiados de Hitler e com o aumento das clínicas psiquiátricas no país. Pacientes
com transtornos mentais não podiam ser tratados pela psicanálise, havendo a
necessidade de se adaptarem a outras psicoterapias, especialmente à psicoterapia
de base analítica, que teve como pioneiro Robert Knight.
Este pioneiro, conforme Wallerstein (2005) ocupou-se primeiramente em
delinear o que ele chamou de “ciência básica da psicologia dinâmica”. Para tanto, fez
a primeira distinção dentro do referencial psicanalítico: ele definiu as psicoterapias em
dois grandes grupos. São as psicoterapias de apoio, que visa à supressão dos
sintomas e as psicoterapias expressivas.
Para Knight a psicanálise tem como objetivo a modificação da estrutura da
personalidade. Já a psicoterapia de apoio propõe ao paciente a reconstrução dos
mecanismos de defesa utilizados antes da descompensação. E por fim, a psicoterapia
expressiva, de caráter exploratório, visa tratar as descompensações recentes
(WALLERSTEIN, 2005).
Após a década de 1950, como aponta Wallerstein (2005), outros pontos de vista
começaram a surgir. Alguns psicanalistas propuseram a unificação da psicanálise com
a psiquiatria. Dessa forma, passou-se a entender que havia uma grande proximidade
entre a psicanálise e a psicoterapia de base analítica.
Outro grupo de psicanalistas compartilhava de outro ponto de vista, segundo
Wallerstein (2005). Sugeriu modificações na técnica psicanalítica, uma revisão da
teoria clássica, modernizando-a.
Esses pontos de vista tiveram uma repercussão pouco significativa. Entretanto,
como salienta Wallerstein (2005), a preocupação maior era a de selecionar, dentre a
variedade de métodos terapêuticos, o mais adequado para a estrutura psicológica de
cada paciente.
Então, continua Wallerstein (2005), para selecionar o método mais adequado,
faz-se necessário delinear as diferenças dentre as psicoterapias de orientação
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analítica. Com este intuito, vários autores deram sua contribuição. Dentre eles
podemos citar Gill, Rangell e Stone, além de Anna Freud.
Entretanto, segundo Wallerstein (2005), foi a partir de 1979, com o simpósio
em Atlanta, patrocinado pelas sociedades psicanalistas regionais que houve
significativos avanços sobre as diferenças e semelhanças entre a psicanálise e a
psicoterapia. Neste simpósio, protagonizado por Gill, Rangel e Stone, ficou definida a
posição de manter marcadas as diferenças entre elas, cada qual com sua aplicação e
indicação específica.
Essa é a terceira era, denominada por Wallerstein (2005) de “era do consenso
fragmentado”, pois cada um dos três protagonistas possuía divergências em suas
concepções sobre psicanálise e psicoterapia.
Atualmente, Wallerstein (2005) chama de era de “um mundo sem consenso”,
pois se torna cada vez mais difícil definir tais diferenças. Difícil, mas não inexistentes.
Schestatsky et al. (2005) salienta a importância de se considerar as diferenças
entre psicanálise e psicoterapia, porém uma não é “menor” que a outra. Conforme as
pesquisas de Wallerstein, em 1986, o mesmo concluiu que a psicoterapia de
orientação psicanalítica e a psicanálise estão muito próximas.
Tanto a psicanálise quanto a psicoterapia de orientação psicanalítica são
métodos de tratamento psicológico do inconsciente. Enquanto a primeira visa à
mudança da estrutura psíquica, trabalhando o conteúdo latente, a psicoterapia tem
por objetivo o alívio dos sintomas, incluindo também o conteúdo manifesto.
Nesse sentido, o que diferencia essencialmente psicanálise e psicoterapia é a
técnica utilizada, uma vez que a escuta analítica está presente em ambas. Na
psicoterapia há uma escuta do latente, e a tradução para o manifesto no momento da
interpretação junto ao paciente.
Na Psicanálise a transferência é um dos conceitos-chave, utilizado com grande
frequência, enquanto que na psicoterapia acontece com menor frequência. A técnica
principal na psicanálise é a interpretação, na psicoterapia além da interpretação
transferencial há também a extratransferencial, confrontação, pontuação, sugestão
(SCHESTATSKY et.al., 2005).
Para Laplanche e Pontalis (2008) a “psicoterapia analítica” empresta princípios
teóricos e técnicos da psicanálise, sem realizar as condições de um tratamento
psicanalítico rigoroso.
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É difícil definir qual a melhor abordagem teórica a ser usada para cada tipo de
paciente ou de patologia. Mesmo porque todas elas têm um objetivo em comum, que
é o de ajudar a minimizar o sofrimento do paciente, favorecendo seu crescimento
pessoal. A diferença está na técnica, isto é, no modo como se alcançarão os objetivos.
Desde que o profissional conheça bem sua abordagem, todas elas serão valiosas.
Às vezes, o fator decisivo é a instituição na qual o psicólogo trabalha. Em se
tratando de postos de saúde ou outras instituições públicas, algumas técnicas são
sugeridas como mais adequadas. Por exemplo, em hospitais a psicoterapia de apoio
e psicoterapia breve são as mais indicadas. Em postos de saúde também, além de
ser uma tendência a psicoterapia de grupo, em razão da grande demanda e do pouco
tempo disponível.
A escolha da abordagem psicoterápica dependerá do estilo pessoal do
terapeuta, assim como sua visão de homem e de mundo, suas crenças e valores.
Cada um irá identificar-se com aquela que lhe fará mais sentido. O importante é que
todas elas têm o seu valor. O estudo teórico, a supervisão e a análise pessoal devem
ser feitas seguindo sempre a mesma linha teórica. Não conseguiremos atender cada
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paciente com uma abordagem diferente. Quando entendemos que não é o caso,
devemos encaminhá-lo para outro profissional.
Atualmente, há uma variedade de abordagens psicoterápicas. Dentre elas, as
mais conhecidas são: psicanálise, psicoterapia de orientação psicanalítica,
psicoterapia analítica; terapia cognitiva, terapia comportamental, psicoterapia
cognitivo-comportamental. Há também o psicodrama, a gestalt-terapia; a psicoterapia
humanista e a humanista-existencial. A abordagem existencialista, fenomenológica,
etc. A seguir, foram descritas algumas delas:
PSICOTERAPIA ANALÍTICA
Carl Gustav Jung foi um autor que concordou, pelo menos na fase inicial de
seu trabalho, em muitos pontos da teoria de Sigmund Freud, mas teve seus próprios
pensamentos e ideias, tornando a sua psicologia conhecida como “Psicologia
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projeção, uma vez que se refere ao processo que se dá entre duas pessoas (terapeuta
e paciente).
Na transferência o paciente projeta no terapeuta imagens derivadas de sua
experiência de figuras significativas do passado (geralmente figuras parentais).
Quanto mais o terapeuta for uma figura desconhecida, mais provável é que as
imagens do mundo interior do paciente se liguem àquele.
Freud também concorda com esse conceito, mas Jung vai além, e acrescenta
a observação de que não são apenas as imagens pessoais da infância do paciente
que se projetavam, mas também as figuras arquetípicas.
Para Freud a transferência é o que move o tratamento, se ela não existir, não
há cura. Mas para Jung ela não é necessária, chegando até ser indesejável. “Uma
transferência é sempre um estorvo, jamais uma vantagem. Cura-se apesar da
transferência e não por causa dela” (JUNG, 1985, p.141). Para Jung não é preciso
que o paciente ame ou odeie o terapeuta, porque o problema central do paciente é
que ele aprenda a viver a sua própria vida, sem que o terapeuta se intrometa nela.
Em psicoterapia, o fato de o paciente ter emoções, por si só, exerce efeito no
analista. Assim, o terapeuta serve de função especular, isto é, aceita as emoções do
paciente sendo um espelho para elas. Nesse sentido Jung não aceita a ideia do uso
do divã. Para cumprir a função especular, o terapeuta deve estar de frente ao paciente,
de modo que este primeiro tenha liberdade para reagir às emoções do segundo.
Temos também o conceito de contratransferência, que se refere aos
sentimentos do analista em relação ao seu paciente (o processo inverso da
transferência). Os conteúdos projetados pelo paciente são idênticos aos elementos
do inconsciente do próprio terapeuta. Entretanto, se o terapeuta não conhecer seu
inconsciente, pode ser que o paciente caia no inconsciente de seu terapeuta, e então
o processo terapêutico pode travar. Assim, fica mais uma vez confirmada à
importância do terapeuta em fazer análise. (JUNG, 1985).
Como já foi pontuado, a transferência e a projeção são os pontos iniciais a
serem trabalhados na psicoterapia. O analista não pode forçar uma transferência,
devendo ela ser tratada como qualquer projeção. No caso dela aparecer, o que é muito
comum, Jung distingue quatro estágios para que ela seja tratada em psicoterapia.
De acordo com Jung (1985), no início de um tratamento, as projeções são
experiências pessoais do paciente. Neste primeiro estágio devem-se trabalhar todos
os níveis de relacionamento que o paciente já teve, conscientizando-o de que ele
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ainda olha o mundo como se fosse criança: tudo projeta e espera das figuras
autoritárias de sua experiência pessoal. Para estabelecer uma imagem madura o
paciente deverá enxergar o lado subjetivo das imagens que criem empecilhos para
sua vida.
O segundo estágio da terapia da transferência consiste na discriminação entre
conteúdos pessoais dos impessoais. As projeções pessoais podem ser dissolvidas
por meio de realização consciente, já as impessoais não podem ser destruídas por
pertencerem aos elementos estruturais da psique. O que pode ser dissolvido é o ato
da projeção, e não seu conteúdo (JUNG, 1985).
Temos, conforme Jung (1985), o terceiro estágio, que consiste em diferenciar
o relacionamento pessoal com o analista dos fatores impessoais. É comum que o
paciente goste do terapeuta, e quando o trabalho foi bom, que o terapeuta também
goste de seu paciente. Logo, reações emocionais são aceitáveis. E isso não quer dizer
que se trata, ainda, de transferência.
Finalmente, o quarto estágio da terapia da transferência é denominado de
objetivação das imagens pessoais. É uma parte fundamental do processo de
individuação. Seu objetivo é desprender a consciência do objeto para que o indivíduo
não coloque a garantia de sua felicidade em fatores externos - em outras coisas ou
pessoas (JUNG, 1985).
Jung enfatiza a vida interior e acredita na existência do inconsciente. Assim, a
linguagem do inconsciente são os símbolos e o material de trabalho são:
1) a associação de palavras,
2) a análise dos sonhos e
3) a imaginação ativa.
Quanto ao teste da associação de palavras, Jung (1985) afirma que está um
tanto ultrapassado, por isso não o utiliza mais em seus pacientes. Este teste consiste
em uma lista de mais ou menos cem palavras. Explica-se à pessoa que se submete
ao teste que, após a apresentação da palavra estímulo, o mais rápido possível ela tem
que dizer qual a palavra que surge na cabeça. Marca-se o tempo de cada resposta e
depois se tira a média deste tempo. Após, parte-se para uma segunda etapa: repetem-
se as palavras estímulos e o indivíduo tem que repetir suas respostas. Em alguns
momentos a memória falha, e tais erros é que são significativos.
Os sonhos, segundo Storr (1993), são a “estrada real” para o inconsciente. A
linguagem dos sonhos é uma linguagem natural, simbólica, que talvez seja difícil de
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compreender, mas não constitui uma tentativa de esconder coisa alguma. Podem-se
ler os sonhos como se aborda uma língua estrangeira. Muitos sonhos originam-se no
inconsciente pessoal, isto é, dizem respeito aos problemas emocionais cotidianos, às
relações interpessoais e aos resíduos da infância.
Jung estava mais interessado nos sonhos que se originavam no inconsciente
coletivo. Nesses casos ele não hesitava em fornecer suas próprias associações,
filtradas do seu próprio e extenso conhecimento de mitologia, religião e alquimia. Essa
técnica é chamada de amplificação, isto é, a prática de fornecer ao paciente analogias
e comparações.
Durante a sua autoanálise, Jung desenhava e pintava suas próprias visões e
sonhos. Ele encorajou seus pacientes a fazerem o mesmo, ou, escrever poemas,
fazer modelagens ou esculturas, ou mesmo dançar suas próprias fantasias. Embora
um paciente possa tratar um sonho dessa forma e fosse estimulado a fazê-lo, Jung
estava mais interessado na espécie de fantasia que acode à mente das pessoas
quando elas não estão despertas nem adormecidas, mas num estado de divagação
em que o raciocínio está suspenso, mas não se perdeu a consciência (STORR, 1993).
A descrição acima se refere à técnica da imaginação ativa, que se destina a
mobilizar a criatividade do paciente. É uma forma de desenvolver as possibilidades
criadoras latentes no próprio paciente.
Jung fundamentou sua teoria na psicanálise freudiana, nos seus
conhecimentos de mitologia, alquimia e religião. Mas, especialmente, em sua
experiência clínica, experiência pessoal e em viagens que fez pelo México, China,
África, dentre outros países. Apesar de dar muita atenção à teoria propriamente dita,
ele estava mais interessado em ajudar o seu paciente. Jung deixava as pessoas livres
a lidarem com os fatos a sua maneira, e encorajava aos analistas que encontrassem
seus próprios caminhos.
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Indicações
Tipos de Terapia
PERFIL DO PSICOTERAPEUTA
Quanto ao paciente, este também tem suas expectativas, uma vez que buscou
ajuda porque está sofrendo. Algumas expectativas estão relacionadas a algumas
questões: será que o paciente vem buscar a solução mágica para seus problemas?
Será que está disposto a ter uma postura ativa no tratamento, ou espera mais do
psicólogo?
No terapeuta, segundo Santiago (1995) as suas atitudes podem oscilar entre a
onipotência e a impotência. O psicólogo, especialmente quando é iniciante, sente-se
muitas vezes inseguro para atender determinado caso.
Na prática da Psicoterapia espera-se do profissional o clássico tripé:
embasamento teórico, análise pessoal e supervisão.
O primeiro requisito trata-se da formação profissional. Serra (2004) sugere que
o psicoterapeuta tenha um amplo conhecimento acerca de sua abordagem teórica,
psicopatologia, desenvolvimento humano, além de conhecer áreas afins, como a
psicofarmacologia, psiquiatria, dentre outras. Além disso, faz-se necessário também
compreender como funciona a cultura e os hábitos de vida dos seus pacientes.
O instrumento de trabalho do psicoterapeuta é seu inconsciente, sua própria
personalidade. Portanto, sua mente precisa estar tratada. No processo de análise
pessoal – que é o segundo requisito – ele passará pelas etapas psicossexuais do
desenvolvimento descritas por Freud: fase oral, anal, fálica, genital, complexo de
édipo. Conforme afirma Jung (1985), no processo de análise, o paciente irá se
desenvolver até onde a mente do terapeuta estiver desenvolvida.
Os conteúdos inconscientes do paciente e do terapeuta estão em jogo, claro
que cada qual com sua função. Com isso, torna-se cada vez mais importante a análise
pessoal do terapeuta, de modo que seus “pontos cegos” passem a se tornar claros.
Vale o alerta de Keidann (2000): nem todos os terapeutas estão em condições de
tratar todos os tipos de pacientes. O terapeuta precisa ter claro quais são suas
limitações, pontos-cegos, enfim, suas dificuldades internas. Do contrário, poderá
ocorrer a interrupção do tratamento.
Finalizando o tripé, é de fundamental importância que o profissional realize
supervisão dos seus casos clínicos com um profissional mais experiente, que lhe
possibilitará um novo olhar para seu trabalho.
Segundo Ribeiro (1988) a empatia também é considerada uma ferramenta
importante. Trata-se da capacidade de colocar-se no lugar do outro, sendo sensível
ao sofrimento, sem, entretanto, misturar-se com esse outro. É a flexibilidade de estar
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junto do outro, mantendo uma distância ótima, suficiente para ajudar e não sofrer
como a pessoa.
Outros requisitos valiosos constam no Código de Ética Profissional do
Psicólogo (2005). São eles: a ética, o sigilo, a responsabilidade e o respeito ao ser
humano.
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jp
g/200pxSigmund_Freud_LIFE.jpg
A ENTREVISTA PSICANALÍTICA
ENQUADRE TERAPÊUTICO
O contrato é uma das primeiras etapas do processo terapêutico, vindo após o
psicodiagnóstico. É considerado o ponto mais concreto da relação terapêutica. É
realizado verbalmente, devendo ser claro, objetivo para ambos, pois é o que orienta a
dupla. O enquadre ou contrato inclui os seguintes pontos:
• Esclarecimento dos papéis;
• Lugar;
• Horários;
• Honorários.
esquecem que uma proporção necessária tem de ser observada entre tempo, trabalho
e sucesso” (p. 170).
Freud orienta para a importância de não dar prazos para o fim do tratamento.
Além disso, pode ser conveniente, em algumas situações, informar ao paciente sobre
a interrupção do tratamento. Este autor compara a interrupção de uma análise com a
interrupção de uma cirurgia, sendo, portanto, insatisfatório.
Outro fator a ser discutido no contrato refere-se aos honorários do terapeuta,
quando se tratar de clínica privada. Freud faz uma associação entre dinheiro e fatores
sexuais. Sugere que os honorários sejam tratados de forma espontânea e sincera,
sem vergonha.
Os honorários correspondem à parte prática da terapia. O psicólogo tem gastos
com aluguel, água, luz, telefone, impostos, livros para seu estudo e preparação
profissional. É recomendado que o paciente pague mensalmente, e o valor deve ser
reajustado anualmente.
Há que se identificar o simbolismo que o dinheiro tem para cada paciente.
Assim, o terapeuta deve ser responsável por receber os honorários, de modo que
possa realizar as interpretações quando necessário. Portanto, é ideal que não seja
função da secretária.
Atualmente, nos deparamos com os planos de saúde, que determinam
previamente e de forma padrão o número de sessões e o valor a ser cobrado, além
de ser pago indiretamente ao terapeuta. Nesses casos, convém informar ao paciente
sobre as dificuldades que se tem para trabalhar com prazos predefinidos. Algumas
vezes é possível combinar com o paciente sobre a continuidade do tratamento,
quando necessário, de modo que ele fique responsável pelos honorários.
Quanto ao tratamento, Freud conclui: “nada na vida é tão caro quanto a doença
e a estupidez” (p. 176).
ALIANÇA TERAPÊUTICA
De acordo com Freud o aparelho psíquico está dividido em: consciente, pré-
consciente e inconsciente.
Uma das principais características da psicanálise e da psicoterapia de base
analítica é o inconsciente. Este é regido, segundo Freud, pelo princípio do prazer e é
composto de ideias desorganizadas (ideias reprimidas, por exemplo). O inconsciente
é atemporal e, portanto, sempre atual. Apesar de não termos consciência dos
conteúdos inconscientes, poderemos vir a ter por intermédio da psicoterapia. Isso
pode ocorrer por meio da associação livre e dos sonhos.
No processo da psicoterapia a comunicação se dá de inconsciente do terapeuta
para inconsciente do paciente. Portanto, estão envolvidos os sentimentos da dupla.
Nesse sentido, dizemos que, em psicoterapia de orientação psicanalítica, assim
como na psicanálise, o inconsciente é o objeto principal a ser trabalhado.
De acordo com Luz (2005) a psicoterapia passa por três fases, sendo elas:
início, fase intermediária e término.
Quanto ao início do tratamento, Luz (2005) salienta que compreende desde o
primeiro contato com o paciente até o estabelecimento da aliança terapêutica, que
pode variar de sessões a meses, conforme cada caso.
Sendo assim, nesse momento o principal objetivo é o de estabelecer e
fortalecer a aliança terapêutica, por meio de um contrato claro e objetivo, identificando
os motivos inconscientes do sofrimento do paciente. A intervenção, portanto, precisa
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Ocorre que, como aponta Luz (2005), na fase intermediária nem sempre o
processo evolui tão bem. Às vezes pode ocorrer uma estagnação temporária, em
função das resistências, impasses, acting out, perturbação da aliança terapêutica, etc.
Em relação à alta, ou ao término da psicoterapia, este não ocorre em uma única
sessão. A fase final perdura por várias sessões, nas quais são trabalhadas as
ansiedades de separação. De acordo com Luz (2005) esta fase inicia com a primeira
comunicação da alta e culmina com a última sessão em que a dupla terapeuta-
paciente se encontra.
O objetivo principal é o de trabalhar os sentimentos de luto vivenciados pelo
término do tratamento, bem como avaliar os ganhos e benefícios conquistados
durante o mesmo (LUZ, 2005).
A alta é uma questão de comum acordo entre a dupla. Para o terapeuta, alguns
indicadores subsidiam seu trabalho, segundo Luz (2005). São eles:
• A melhora ou supressão do sintoma trazido inicialmente pelo paciente.
• Alguma mudança nos vínculos afetivos, com os familiares.
• Alguma alteração nos processos de trabalho, de modo que possa
almejar novos projetos.
• Ampliação dos contatos sociais.
• Maior satisfação na vida sexual.
• Mudança no contato com a realidade, de modo que o paciente a suporte
melhor.
Ocorre que nem sempre o processo psicoterápico tem êxito. Então se depara
com o fenômeno do abandono do tratamento, que é sempre indesejável.
Percorrendo a literatura, encontramos algumas explicações acerca do
abandono do tratamento psicoterápico.
Segundo Etchegoyen (2004), na fase do contrato do processo psicoterápico
está incluída a ideia de que o tratamento deve finalizar por acordo de ambas as partes
e, por isso, se apenas um lado decide, não se fala em término da análise, mas sim em
interrupção. O analisado tem liberdade para rescindir o contrato a qualquer momento,
assim como o analista.
Em alguns casos, salienta Etchegoyen (2004), pode ser que os motivos que
levaram à interrupção de tratamento sejam de ordem externas, porém não é o mais
comum. Os motivos internos são mais frequentes, e quando isso acontece, chamamos
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de resistências, que pode vir do analisando, ou até mesmo do analista, que não
conseguiu manejá-la.
De acordo com Laplanche e Pontalis (2008, p. 458) “chama-se resistência a
tudo o que nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanalítico, se
opõe ao acesso deste ao seu inconsciente”.
Um segundo fenômeno relacionado ao abandono do tratamento é o chamado
acting out. Chamado por Freud de “agieren” e apresenta o sentido de “atuar”.
Termo usado em Psicanálise para designar as ações que apresentam, quase
sempre, um caráter impulsivo, relativamente isolável no decurso das suas atividades,
e que torna muitas vezes uma forma auto ou hetero-agressiva. Para o psicanalista, o
aparecimento do acting out é a marca da emergência do recalcado. Quando aparece
no decorrer de uma análise (durante a sessão ou fora dela, o acting out tem de ser
compreendida na sua conexão com a transferência, e frequentemente como uma
tentativa para ignorá-la radicalmente. (LAPLANCHE e PONTALIS, 2008, p. 6)
Segundo Francisco (1995) o acting out pode estar a serviço ao que Freud
chamou de “lembranças encobridoras”. Ao invés de lembrar, o indivíduo atua, uma
vez que se trata de experiências infantis bastante remotas e que não foram
compreendidas na ocasião. Pode se referir a várias situações que se opõem ao
processo analítico, como o silêncio, esquecimento de sessões, decisão súbita de
deixar a análise, dentre outros.
Laplanche e Pontalis (2008, p. 264) definem lembrança encobridora:
Lembrança infantil que se caracteriza ao mesmo tempo pela sua especial nitidez e
pela aparente insignificância do seu conteúdo. A sua análise conduz a experiências
infantis marcantes e a fantasias inconscientes. Como o sintoma, a lembrança
encobridora é uma formação de compromisso entre elementos recalcados e a defesa.
De acordo com Gus (2005) atuações e encenações (enactments) refere-se a
sensações e sentimentos pré-verbais, portanto anterior a palavra, denotando
expressões primitivas.
Em um estágio primitivo do desenvolvimento psíquico, narra Gus (2005),
quando a linguagem ainda não existia (pré-verbal), não era possível expressar os
sentimentos por meio da palavra. Sendo assim, o ato é a única forma de expressão
de vivências emocionais primitivas e afetos perigosos da dupla terapêutica. Trata-se
de uma obstrução ao processo de crescimento e desenvolvimento psicoterápico, uma
vez que, ao invés de atingir o insight, o indivíduo realiza um ato.
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Entretanto, como aponta Gus (2005), o fenômeno do acting out pode ser útil ao
tratamento, desde que compreendidos e bem encaminhados àqueles pacientes de
difícil acesso, em que predominam o pré-verbal, a desorganização psíquica, o caos e
o vazio mental.
A realidade psíquica é resultante das percepções que o indivíduo tem do mundo
externo, somado às fantasias do mundo interno. Portanto, é uma experiência
subjetiva, individual e nem sempre traduz a realidade externa (GUS, 2005).
Sendo assim, afirma Gus (2005) que, no acting out e enactment a realidade
psíquica ganha expressão, por meio do ato, de vivências primitivas dolorosas (como
ansiedades persecutórias, etc.), as quais o indivíduo não se lembra e que podem ser
percebidas por meio da transferência e da contratransferência. Portanto, trata-se de
revivências de conflitos primitivos da dupla terapêutica.
Nesse sentido, Gus (2005) entende que as vivências primitivas são da dupla
terapeuta-paciente. As experiências de fantasias inconscientes destrutivas, arcaicas,
de ansiedade persecutória e situações traumáticas são reeditadas por ambos. Então,
o psicoterapeuta também possui papel fundamental: há que se compreender e
manejar adequadamente o fenômeno do acting out e enactment.
Atualmente há um consenso entre os psicanalistas de que o processo
psicoterápico não está focado apenas no paciente, mas sim na dinâmica do campo
analítico. Assim, são levadas em conta as condições emocionais do terapeuta e do
paciente, bem como o inconsciente de ambos (ZIMERMAN, 2004).
Quando o terapeuta, segundo Gus (2005), consegue compreender a realidade
psíquica do setting, conter e interpretar acting e enactment é possível dar novo
significado às fantasias primitivas.
Ao contrário, acrescenta Gus (2005), quando não se compreende a realidade
psíquica do par terapêutico no setting, chega-se ao “ponto cego” ou conluios
inconscientes, de natureza narcísica. Podem ocorrer ainda, piora do quadro clínico,
impasses e interrupção do tratamento.
Longos silêncios, faltas e atrasos podem se configurar como acting out, que,
caso ocorram de forma intensa no início do tratamento, podem levar à interrupção do
tratamento (GUS, 2005).
Há também o fenômeno do impasse que, segundo Pires (2005) pode estar
relacionado à interrupção no tratamento psicoterápico. Trata-se de uma estagnação
do desenvolvimento da terapia, que implica num cessamento da elaboração,
37
Ferenczi, citado em Freud, afirma que o êxito depende muito do analista ter
aprendido com seus próprios erros e de ter levado a melhor sobre os pontos fracos
de sua própria personalidade.
O tripé clássico da técnica psicanalítica consiste na transferência, resistência e
interpretação.
Segundo Laplanche e Pontalis (2008, p. 514) a transferência é um “processo
pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no
quadro de certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro
da relação analítica”.
Dewald (1981, p. 213) define a transferência como “uma forma de
deslocamento na qual o indivíduo dirige para um objeto presente todos aqueles
impulsos, defesas, atitudes, sentimentos e respostas” vivenciados nos primeiros
relacionamentos infantis com as figuras parentais.
O fenômeno da transferência refere-se aos conteúdos inconscientes do
paciente para o analista. Já a contratransferência vai do analista para o paciente.
No fenômeno da transferência, parte dos impulsos eróticos do indivíduo vai
para a consciência, dirigida para a realidade. A outra parte fica retida, ou permanece
inconsciente.
Então, se a necessidade de amar não está totalmente satisfeita pela realidade,
o indivíduo vai aproximar-se de cada nova pessoa que encontrar. Esta pessoa pode
ser até seu terapeuta. Isto é natural, mesmo porque é a transferência que move o
tratamento. Em Psicanálise trabalha-se com a perda de um objeto. Nesse sentido, a
transferência ocorre porque o paciente acredita que o analista é esse objeto perdido.
Ele acredita que o analista detém o saber, sabe algo dele que o próprio paciente não
sabe. E esse fenômeno move o tratamento. É necessário certo “enamoramento”, ou
seja, admiração pelo analista, para que o paciente suporte um longo tempo na terapia.
Vai chegar um dia em que, assim como a criança quando cresce descobre que seu
pai não é não perfeito e poderoso quanto pensava, o paciente também vai chegar a
essa conclusão. E nesse momento não vai mais haver motivo para continuar o
tratamento. É quando pode ser dada a alta.
Mas o que o paciente transfere para o terapeuta? Transfere sentimentos
inconscientes infantis vivenciados com as figuras parentais.
A transferência é sempre inconsciente. É o resultado de um desejo. O ser
humano tem dois caminhos: a saúde e o sintoma. Os que fazem sintoma são pessoas
39
que estão doentes. Pode estar doente porque direciona seu sintoma para uma meta
impossível (está sempre esperando, insatisfeito). Nesse sentido, a pessoa
desqualifica a saúde. O trabalho do psicoterapeuta é conscientizar a pessoa disso.
O sintoma implica num ganho secundário. Funciona como uma “bola de neve”,
isto é, quanto mais o tempo passa, mais fica prejudicial. É uma metáfora de uma
resolução sexual e implica numa homeostase (equilíbrio) do aparelho psíquico. Este
equilíbrio é dinâmico (em alguns momentos é bom, mas em outros é ruim). Acontece
que o sintoma toma bastante libido (energia) do indivíduo, impedindo, assim, que ele
não tenha energia para outras coisas.
Então o paciente procura o terapeuta porque essa situação é desconfortável.
Mas aí vem a resistência, pois o sintoma implica em alguns momentos, equilibrar seu
aparelho psíquico.
Na medida em que seu sintoma é retirado, há uma piora de seu quadro – e isto
é sinal da cura, primeiro piora para depois melhorar.
Segundo Freud a transferência pode ser positiva ou negativa. A primeira refere-
se aos sentimentos amorosos, de amizade e confiança, enquanto que a segunda diz
respeito aos sentimentos hostis, agressivos.
A transferência que move o tratamento é a positiva (o paciente tem confiança
no terapeuta, acredita que ele é o detentor do saber), enquanto a transferência
negativa prejudica o tratamento, pois funciona como resistência. Esta última precisa
ser interpretada ou assinalada.
Algumas vezes a transferência negativa é silenciosa ou muito sutil. Por
exemplo: quando o paciente chega atrasado à sessão ou falta. Quando no dia do
pagamento esquece-se de assinar o cheque, etc.
A contratransferência, como já foi dito, diz respeito ao “conjunto das reações
inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à
transferência deste” (LAPLANCHE E PONTALIS, 2008, p. 102).
É fundamental e faz parte da técnica atentar para os sentimentos que o
paciente desperta no terapeuta. Na relação com o paciente o terapeuta pode
experimentar diversos sentimentos, como raiva, prazer, desconfiança, preocupação,
etc. (DEWALD, 1981).
Quando se trata de pacientes com quadros psicossomáticos, é comum o
psicólogo sentir sensações físicas, como alguma dor, por exemplo. Prestar atenção
40
FIGURA - DIVÃ
http://www.greiceklem.psc.br/images/diva_freud.jpg?546
42
PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
WUNDT
http://files.segredosdapsicologia.webnode.com.pt/20000000615ff916f97/Wund
t3.jpg
FIGURA – CAIXA
http://www.jornallivre.com.br/images_enviadas/a-caixa-de-skinner-
caixa2-jpg.jpg> .
FIGURA - CONDICIONAMENTO
http://3.bp.blogspot.com/_nLGqF2OyrH0/S_nhFmYNx4I/AAAAAAAAACI/QnV
0c3oORM4/s320/experimento+de+pavlov>.
FIGURA - WATSON
http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-
watson-1-sized.jpg
FIGURA- SKINNER
http://1.bp.blogspot.com/-
L_p3nVe5Wqc/Taz13t5ktAI/AAAAAAAAACo/ZLRkpo4pTRU/s1600/skinner.jpg
>
49
FIGURA – BECK
http://www.atccl.org.ar/articulos/Beck4.jpg
Indicações
A.C.A.L.M.E.-S.E.
Ao exalar, não sopre: apenas deixe o ar sair lentamente pela boca. Procure descobrir
o ritmo ideal de sua respiração, nesse estilo e nesse ritmo, e você descobrirá como
isso é agradável.
5. Mantenha os passos anteriores. Repita cada um, passo a passo.
Continue a: (1) 64 aceitar sua ansiedade; (2) contemplar; (3) agir com ela e (4) respirar
calma e suavemente até que ela diminua e atinja um nível confortável. E ela irá, se
você continuar repetindo estes quatro passos: aceitar, contemplar, agir e respirar.
6. Examine seus pensamentos. Talvez você esteja antecipando coisas
catastróficas. Você sabe que elas não acontecem. Você já passou por isso muitas
vezes e sabe que nunca aconteceu nada do que pensou que aconteceria. Examine o
que você está dizendo para si mesmo (a) e reflita racionalmente para ver se o que
você pensa é verdade ou não: você tem provas sobre se o que pensa é verdade? Há
outras maneiras de entender o que está lhe acontecendo? Lembre-se: você está
apenas ansioso (a) - isto pode ser desagradável, mas não é perigoso. Você está
pensando que está em perigo, mas tem provas reais e definitivas disso?
7. Sorria, você conseguiu! Você merece todo o seu crédito e todo o seu
reconhecimento. Você conseguiu, sozinho (a), e com seus próprios recursos,
tranquilizar-se e superar este momento. Não é uma vitória, pois não havia um inimigo,
apenas um visitante de hábitos estranhos que você passou a compreender e aceitar
melhor. Você agora saberá como lidar com visitantes estranhos.
8. Espere o futuro com aceitação. Livre-se do pensamento mágico de que
você terá se livrado definitivamente, para sempre de sua ansiedade. Ela é necessária
para você viver e continuar vivo (a). Em vez de considerar-se livre dela, surpreenda-
se pelo jeito como a maneja, como acabou de fazer agora. Esperando a ocorrência
de sua ansiedade no futuro, você estará em uma boa posição para lidar com ela
novamente.
FONTE: Rangé; Bernik, 2001.
https://lh6.googleusercontent.com/--t-
Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+
6.jpg>.
FOBIAS ESPECÍFICAS
http://4.bp.blogspot.com/_PgIvOxUzJFY/SXm1CbbH0mI/AAAAAAAAA84/wIN
CNLVAML0/s400/fobias%5B1%5D.JPG>.
http://blog.opovo.com.br/cartasdetododia/files/2010/04/ANSIEDADE.gif>.
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO
FIGURA - TOC
57
http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4
wFfymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg>.
TRANSTORNOS AFETIVOS
http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-
tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257>.
TRANSTORNOS ALIMENTARES
http://pesfrei.files.wordpress.com/2011/06/anorexia.jpg>.
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
<http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao
-abertadesfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg>.
60
TABAGISMO
Apesar de todo mal que o cigarro faz à saúde, seu consumo continua
aumentando. Fumar é um comportamento reforçado por meio de estímulos externos
e internos. Estratégias úteis no tratamento são a retirada gradual e métodos aversivos
e terapia de reposição de nicotina (GIGLIOTTI et.al. 2001)
http://4.bp.blogspot.com/_oHVtojKEmN4/TK-
VYcdsI/AAAAAAAAAq8/uZcZvVDHeSw/s400/cigarro4.jpg>.
http://3.bp.blogspot.com/_lrmtSsR0EQ/TTjcpWWL6rI/AAAAAAAAAZA/WIMxz
Hx9L8c/s1600/borderline_hintergrund.jpg>.
ADICÇÃO AO JOGO
http://www.wallstreetfitness.com.br/imgs/Fotos/transtorno_deficit_atencao_hip
eratividade_tdah.jpg
DISFUNÇÕES SEXUAIS
http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ec
d9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg>.
63
TRANSTORNOS DO SONO
http://notapajos.globo.com/gifwrap.asp?id=694
TÉCNICAS DE RELAXAMENTO
TÉCNICAS DE RELAXAMENTO
http://www.possibilidades.com.br/meditacao/img/relaxamento.gif>
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA
TREINO DE ASSERTIVIDADE
PARADA DO PENSAMENTO
AUTOINSTRUÇÃO
INOCULAÇÃO DO ESTRESSE
Consiste em treinar o paciente na vivência de uma situação estressante, para
que ele desenvolva recursos de enfrentamento a serem utilizados na situação temida
real. Muito utilizada no tratamento do pânico, fobias específicas, transtorno do
estresse pós-traumático, ansiedade generalizada, alcoolismo, entre outros.
67
SOLUÇÃO DE PROBLEMA
SOLUÇÃO DE PROBLEMAS.
http://1.bp.blogspot.com/_SUOtG6MIDug/TJPy4IP7BzI/AAAAAAAAAGU/DnQ
ucZGQycQ/s320/analise_solucao_problemas.jpg>
EXPOSIÇÃO
EXPOSIÇÃO INTEROCEPTIVA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
PSICOTERAPIA DE GRUPO
http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqOWtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm-
4x_koA0/s1600/roda.jpg.
não houver terapia individual disponível ou se esta não for acessível (YALOM, 2006,
p. 421).
FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS
CAMPO GRUPAL
http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html
Embora não aja evidência científica de que a família nuclear (pai, mãe e
irmãos) seja considerada como o grupo primordial ou primeiro, uma associação com
o grupo terapêutico permite observar algumas semelhanças.
Em qualquer família, percebe-se que cada membro desempenha papel e
função definidos, assim como nos grupos terapêuticos.
A associação vai além e permite analisar que no grupo familiar há regras e
maneiras próprias de organização e funcionamento, muitas vezes implícitas. Estão
envolvidos sentimentos ambivalentes, como os de amor (segurança, aconchego,
carinho) e de ódio, ciúme, inveja, rivalidade e rejeição. As figuras, materna e paterna
constituem nos primeiros modelos de identificação para o indivíduo (RAVAZZOLA,
1997).
A família, para Osório (1997, p. 50) “é uma unidade grupal onde se
desenvolvem três tipos de relações pessoais – aliança (casal), filiação (pais/filhos) e
consanguinidade (irmãos)”. É uma instituição universal, presente em todas as culturas
e épocas históricas. O que varia com a contemporaneidade é a estrutura, formando
novas configurações. A família tradicional – pai, mãe e filhos – é cada vez menos
comum, ao passo que a união entre homossexuais, produções independentes, (re)
casamentos, adoções e filhos de casamentos anteriores são cada vez mais
frequentes.
De qualquer forma, destaca Zimerman (2000), a função da família é a de prover
a segurança, ou como ele mesmo diz: “função continente”. O cenário atual de
transformações não tem favorecido que a família cumpra sua função.
75
TERAPÊUTICOS
GRUPOS OPERATIVOS
GRUPOS TERAPÊUTICOS
Tipos de grupos
Radar. Esse papel costuma ser assumido por aquela pessoa do grupo
que capta, antes dos demais, os primeiros sinais de angústias e ansiedades do grupo.
Geralmente, esses conflitos são expressos por intermédio de abandono do
tratamento, somatizações e outras atuações; ou seja, de forma não verbal
(ZIMERMAN, 2000).
80
http://www.psicomed.net/Images/t_grupo.gif.
A FORMAÇÃO DE UM GRUPO
A SELEÇÃO DE PACIENTES
A indicação para psicoterapia de grupo deve ser feita com cautela. Nem todos
os pacientes podem se beneficiar dessa modalidade terapêutica. Uma seleção
acertada implicará em bons resultados.
Pesquisas revelam, segundo Yalom (2006), que a psicoterapia de grupo é tão
benéfica quanto à modalidade individual. Além disso, alguns benefícios podem ser
83
trabalho com grupos pode ser numa perspectiva interdisciplinar, quando o psicólogo
atua junto aos demais profissionais da saúde. Como exemplo, temos: grupo de
hipertensos, diabéticos, obesos e dependentes químicos.
Yalom (2006) salienta que é muito difícil selecionar os pacientes mais indicados
para a grupoterapia, e já adianta que é mais fácil estabelecer critérios de exclusão do
que de inclusão. Mesmo porque existem vários tipos de grupos. Assim, determinado
paciente não está indicado para um tipo, mas pode estar para outro.
Um primeiro sinal de indicação parece ser a motivação e o desejo do próprio
paciente em ser atendido em grupo. Ao serem convidados, alguns costumam resistir
inicialmente, mas quando informados sobre o funcionamento do grupo podem sentir-
se estimulados; ao passo que outros podem se recusar a participar da modalidade
grupal. Alguns argumentam que não gostariam de expor sua vida e seus sentimentos
para outras pessoas. Outros se sentem ameaçados em dividir o terapeuta com outras
pessoas, pela sua personalidade narcísica. Outros ainda, de forma inconsciente,
sentem-se desencorajados por terem dificuldade de relacionamento.
Yalom (2006) recomenda que determinados tipos de pacientes não se
beneficiariam de um grupo do tipo heterogêneo. É o caso dos sociopatas,
dependentes químicos, psicóticos agudos, paranoides e aqueles com lesão cerebral.
Acrescentam-se ainda aqueles que não possuem disponibilidade para participarem
frequentemente das sessões.
Zimerman (2000) lista um grupo de pacientes que são contraindicados para a
terapia de grupo. São eles:
• Pessoas que não têm motivação ou interesse para mudanças internas.
• Pacientes que já interromperam tratamentos anteriores com razoável
frequência.
• Deficientes mentais graves.
• Pacientes que apresentam risco de suicídio.
• Quadros mais sérios de depressão, paranoia e narcisismo.
podem contribuir para que pacientes desistam. Vale ressaltar que, assim como na
terapia individual, conteúdos internos da dupla (paciente-terapeuta) estão em jogo.
Resumindo, os motivos citados anteriormente auxiliam o terapeuta a selecionar
melhor os membros para o grupo. Trata-se de critérios de exclusão. Nas palavras de
Yalom (2006): “a seleção de pacientes para a terapia de grupo, na prática é um
processo de exclusão: os terapeutas de grupo excluem certos pacientes da sua
consideração e aceitam todos os outros” (p. 208). O interesse e a disponibilidade são
os principais critérios de inclusão.
O CONTRATO TERAPÊUTICO
Quanto aos motivos principais, para Zimerman (1997), que possam evocar as
resistências, podem ser:
• Medo do desconhecido;
• Medo da humilhação;
• Vergonha;
• Presença da inveja;
• Medo da depressão;
• Falhas técnicas do terapeuta.
TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA
COMUNICAÇÃO
INTERPRETAÇÃO
O término pode significar duas situações, como aponta Zimerman (1997): pode
ser que o grupo todo encerre, seja pelo que ficou estabelecido no contrato, seja por
outros motivos (grupo fechado), mas pode ser também que o término seja individual,
isto é, que uma pessoa conclua sua participação no grupo (são situações comuns de
grupos abertos).
Zimerman (1997) prefere falar em “crescimento mental” do que em “cura”, pois
o segundo é um termo da Medicina, e está mais associado com a supressão de
sintomas. Espera-se que, ao final da grupoterapia, possam ser identificadas algumas
mudanças psíquicas. Dentre elas, destacam-se:
• Maior flexibilidade dos papéis estereotipados e rígidos;
• Melhor possibilidade de interação com outras pessoas;
• Melhor habilidade de comunicação;
• Minimização das ansiedades paranoides e depressivas;
• Capacidade para fazer diferenciação entre si e dos outros;
• Capacidade de ser “continente”.
Cada membro poderá se beneficiar de formas diferentes. Entretanto, as
experiências vividas no grupo devem favorecer o indivíduo a “adquirir liberdade para
fantasiar, desejar, sentir, pensar, comunicar, sofrer, gozar e estar junto com os outros”
(ZIMERMAN, 1997, p. 142).
PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA
PSICOTERAPIA BREVE
HISTÓRICO
poucos recursos econômicos, e, portanto, que não tinham condições financeiras para
arcar com despesas numa terapia em longo prazo. Tal terapia caracteriza-se por ter
objetivos limitados, é bastante interpretativa ou de insight, e é empregada em pessoas
com capacidade egoica suficiente para serem tratadas por ela.
Contextualizando a Psicoterapia Breve em sua evolução histórica, os primeiros
trabalhos referentes a essa terapia se deram logo no início dos estudos de Freud, por
ele mesmo: “...na etapa pré-analítica e no começo da analítica eram, de certo modo,
terapias breves, pois duravam só alguns meses” (BRAIER, 2000, p. 09). Freud estava
empenhado em encontrar curas rápidas para a solução de alguns conflitos e sintomas.
Mas, gradualmente, o tratamento foi se tornando mais prolongado. Ao mesmo tempo,
outros autores (como S. Ferenczi, O. Rank, e posteriormente T. French e F.
Alexander) desenvolvem estudos referentes à Psicoterapia Breve.
Segundo Braier (2000), a partir da década de 80, surgiu a necessidade de
recorrer a psicoterapias. Devido a dificuldades financeiras e de tempo, as pessoas
sentiam necessidade de uma psicoterapia menos custosa que a análise, tanto em
dinheiro quanto em tempo.
Segundo Braier (2000) Freud, numa conferência em Budapeste, em 1918,
adiantou-se a fatos que posteriormente resultariam nas chamadas psicoterapias
breves. Freud falou da importância de desenvolver tratamentos breves para que um
número maior de pessoas se beneficiasse da assistência psicológica, especialmente
que fossem criados estabelecimentos estatais, para que o serviço psicológico fosse
gratuito. Nessa perspectiva, Freud aponta a necessidade de modificar a técnica a ser
utilizada nas psicoterapias breves.
CONCEITO
FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS
1) fins terapêuticos,
2) temporalidade,
3) técnica.
conflitivas. Tal meta implica em que o paciente deve ter um princípio de insight a
respeito de seus conflitos. Nesse sentido cabe dizer que nem todas as pessoas podem
se beneficiar da Psicoterapia Breve, mas sim aquelas que possuem boa capacidade
de insight.
No que diz respeito à temporalidade, Braier (2000) assinala que a duração do
tratamento na Psicanálise não é predeterminada, e pode se prolongar por anos. Na
Psicoterapia Breve é determinada previamente, e em geral leva alguns meses. Diz-se
que há um início, meio e fim previamente determinados, realidade esta que tanto
analista quanto analisando devem lidar.
E com relação à técnica, Braier (2000) faz menção a alguns fenômenos
psicoterapêuticos: os conflitos psíquicos; regressão, neurose de transferência e
transferência; resistência; insight e elaboração; fortalecimento da função egoica.
Na Psicanálise “as situações conflitivas atuais do indivíduo estão relacionadas
a conflitos infantis, dos quais, em realidade, decorrem”. (BRAIER, 2000, p. 22). E no
tratamento psicanalítico o analisando reviverá seus conflitos infantis, por meio da
transferência, e serão analisados profundamente até ser elaborado. Na Psicoterapia
Breve há primeiramente uma escolha dos conflitos a serem trabalhados, de acordo
com sua urgência. Tais conflitos serão os focos do tratamento, sendo que não é
possível aprofundar em elementos mais primitivos de modo que não mobilize o
analisando em demasia.
Conforme Braier (2000) a regressão é o processo no qual o indivíduo se reporta
a etapas anteriores de seu desenvolvimento para reviver seus conflitos infantis. Esse
processo é muito importante no tratamento psicanalítico, uma vez que consiste numa
etapa para elaboração dos conflitos atuais. A neurose de transferência “é a
reprodução da neurose infantil na relação com o analista” (BRAIER, 2000, p. 26). E a
transferência é o processo no qual os desejos inconscientes se atualizam sobre certos
objetos, na relação analítica.
Braier (2000) assinala que na Psicoterapia Breve deve-se evitar o
desenvolvimento da regressão, da neurose de transferência e da transferência. Tais
mecanismos terapêuticos não constituem como objetivos neste tipo de tratamento, na
medida em que o objetivo é resolver conflitos atuais do indivíduo.
De acordo com Braier (2000), no tratamento psicanalítico, a resistência refere-
se aos diversos obstáculos que o analisando opõe ao tratamento. Na Psicoterapia
95
Breve surgem resistências também, entretanto a interpretação das mesmas não pode
assumir um caráter intenso como na Psicanálise, em função da limitação do tempo.
É importante também discorrer sobre insight e elaboração. No tratamento
analítico Insight é “... a aquisição do conhecimento da própria realidade psíquica”.
(Grinberg, citado em Braier, 2000, p. 30). Trata-se de uma compreensão no sentido
intelectual e afetivo, do contato com os aspectos inconscientes.
A finalidade das interpretações do analista, que são, por excelência, seu
instrumento terapêutico, é promover o insight dos conflitos no paciente (BRAIER,
2000, p. 30).
A elaboração, segundo Braier (2000), é o processo no qual o paciente descobre
as conotações do insight. Isto é um trabalho exaustivo, que demanda tempo, implica
em regressão e superação das resistências do paciente. Desse modo, na Psicoterapia
Breve, tanto o insight quanto a elaboração ocorrem, mas de forma restrita e menos
profunda se comparada ao tratamento analítico. Além do mais o insight se dá muito
mais a nível intelectual que afetivo.
Considero que a aquisição de insight por parte do paciente, por meio de
interpretações do terapeuta, seja a forma mais apreciada de se conseguir o
fortalecimento de seu ego (BRAIER, 2000, p. 34).
Entretanto, conforme Braier (2000), esta não é a única maneira de ativar as
funções egoicas. Há também outra, que se baseia no apoio. Na Psicoterapia Breve,
algumas vezes é necessário utilizar de técnicas de apoio, especialmente quando a
função egoica do paciente está bastante debilitada e este não consegue suportar uma
terapia interpretativa.
Na Psicoterapia Breve o tempo é limitado, o que faz com que os objetivos
também o sejam, caracterizando-se como as necessidades mais ou menos imediatas
do indivíduo, com o que se apresentar com mais urgência e/ou importância, almejando
o fortalecimento e ativação de suas funções egoicas para que ele consiga recuperar
seu autodesenvolvimento e solucionar seus conflitos (BRAIER, 2000).
Faz-se necessária a delimitação de um ou dois focos prioritários de
dificuldades, sendo que a solução fará com que o indivíduo se fortaleça
emocionalmente. Segundo Braier (2000), em Psicoterapia Breve “... se tenta
basicamente delimitar zonas da problemática geral do paciente e/ou dos episódios de
sua vida, dirigindo preferencialmente para aí, a partir desse momento, a exploração
terapêutica” (p. 42).
96
Diante dessas colocações vale dizer que a cura nunca se realiza durante o
tratamento. Segundo Braier (2000) “... um tratamento curto adequadamente
conduzido pode desencadear, a partir da solução de um aspecto do problema do
paciente, um processo evolutivo, uma reação em série, que com o avançar dos anos
promova uma mudança interior...” (p. 54). É nesse sentido que se pode falar em
fortalecimento e ativação de funções egoicas para autodesenvolvimento interior.
É valido dizer que a Psicoterapia Breve recebe muitas críticas, até mesmo
dentro da área psicanalítica. Birman (2000) diz que se não houvesse o tratamento de
curto prazo, as pessoas com perturbações psíquicas se entregariam a tratamentos
psicofarmacológicos, sendo esquecida, dessa maneira, sua subjetividade e
individualidade. “Com efeito, é preferível que as individualidades possam ser
simbolicamente reconhecidas como subjetividade, mediante as psicoterapias breves,
do que serem reduzidas à brutalidade de sua condição animal, pelo tratamento
psicofarmacológico...” (p. 16).
Além de tudo isso, existe a relação entre tempo e subjetividade, a qual sofreu
influências das novas tecnologias de comunicação, da nova forma de existência.
Atualmente as pessoas são induzidas a agir de forma rápida, diferentemente do que
ocorria há algumas décadas, quando as pessoas podiam permanecer em
intermináveis reflexões. Vale dizer também que essas pessoas que se entregavam a
reflexões profundamente intermináveis e relegavam a ação em si, a segundo plano
acabavam se tornando obsessivas em função do investimento narcísico que faziam.
INDICAÇÕES
“desde que se recorra, com critério e segundo cada caso, à técnica interpretativa e à
de fortalecimento do ego” (p. 207).
De qualquer forma, é importante considerar que nem todos os tipos de
pacientes apresentarão bons resultados terapêuticos.
TÉCNICA
O FATOR TEMPO
A essência da Psicoterapia Breve está justamente na brevidade de um
tratamento psicológico, isto é, o fator tempo. Por esse motivo este tema merece um
destaque especial.
Na Psicanálise a questão do tempo e da frequência das sessões são fatores
que estão associados e consistem na essência deste método científico. Na era pós-
Freud aspectos econômicos e de tempo foram se contrapondo com a Psicanálise,
dando origem às psicoterapias breves.
Neste cenário, Birman (2000) levanta a indagação de como é possível tratar de
questões subjetivas em um curto espaço de tempo? Para este autor, a experiência
psicanalítica exige uma posição estratégica do tempo para a subjetividade, portanto,
um longo tempo e maior frequência semanal seriam condições para bons resultados
terapêuticos. Ele compara a Psicoterapia Breve com a ponta de um iceberg, o que
significa que, assim como no iceberg, o que fica dentro da água é a maior parte dele,
no processo terapêutico breve poderá ser tratado apenas uma parte dos conteúdos
psíquicos.
Os processos subjetivos também foram se transformando com o tempo, assim
como os valores, crenças e modos de vida. Pensando assim, é que, segundo Birman
(2000), justificam-se as Psicoterapias Breves, que entraram em cena enquanto
possibilidade terapêutica, por diversas razões. Inicialmente por questões de ordem
econômica e de tempo, especialmente nos campos da Psiquiatria e da Psicologia
Clínica (décadas de 1950 e 1960).
Os hospitais e outras instituições de saúde foram crescendo, principalmente na
área pública, mantidas pelo Estado. A proposta da Psicanálise foi ficando inviável para
muitas pessoas, principalmente em função do alto custo financeiro e de ser um
tratamento longo. Nos setores públicos o Estado não conseguia manter o tratamento.
Dessa forma, a Psicoterapia Breve vem para atender a essa demanda.
101
Braier (2000) orienta que a definição do foco a ser trabalhado deve ser feito
junto ao paciente, de comum acordo, de forma clara e objetiva. Este foco está
relacionado com as expectativas do paciente em relação ao tratamento. Entretanto,
“toda terapia breve de insight pressupõe a existência de fins terapêuticos inerentes à
natureza mesma do processo, por exemplo, que o paciente alcance maior consciência
da enfermidade ou eleve sua autoestima” (p. 74). Esse é, portanto, o objetivo geral da
Psicoterapia Breve.
Quanto à duração do tratamento, segundo Braier (2000), na maioria das vezes,
convém delimitar um prazo para o término da terapia, que poderá variar conforme
algumas situações: 1) Quando se tratar de uma instituição o tempo já estará definido
(3, 6, 12 meses); 2) Por conveniências do próprio paciente: em se tratando de
mudança, viagem ou outros; 3) Quando se tratar de consultório particular pode-se
definir o prazo de comum acordo com o paciente, sempre observando os riscos e os
benefícios terapêuticos.
Algumas características em Psicoterapia Breve, segundo Knobel (2002), são
essenciais. Algumas delas são:
• Sigilo profissional;
• Confiança mútua;
• Avaliação honesta e compreensiva junto ao paciente.
105
ser desperdiçado tempo, uma vez que este é fator decisivo em tratamentos breves.
Cabe ao terapeuta a tarefa de auxiliar o paciente a voltar para o foco.
Diante dessa problemática, orienta Braier (2000) que a associação livre não
seja usada com tanta frequência, mas em algumas situações durante o tratamento,
nas quais estejam voltadas para o foco. Isto exige flexibilidade por parte do terapeuta.
Este autor recomenda que, no início do tratamento, deve-se orientar o paciente a falar
tudo o que sabe sobre seu sofrimento ou que tenha relação com ele, podendo ser
situações atuais, recordações anteriores, pensamentos, etc.
Falando mais especificamente sobre as sessões, Braier (2000) recomenda que,
em Psicoterapia Breve sejam realizadas duas sessões semanais, na maioria dos
casos. Entretanto, em algumas situações basta uma apenas. A duração de cada
sessão pode ser de quarenta minutos.
Paralelamente à Psicoterapia Breve, na tentativa de potencializar os benefícios
terapêuticos, pode-se recorrer ao trabalho de outros profissionais, por intermédio de
encaminhamentos. Braier (2000) cita a participação do psiquiatra (uso de
psicofármacos), terapeuta ocupacional, psicoterapeuta grupal, etc.
Além disso, muitas vezes, a participação e o envolvimento dos familiares do
paciente fazem-se necessário e favorável ao tratamento. Em algumas situações os
familiares podem auxiliar na fase diagnóstica, contribuindo com informações valiosas
para a compreensão do caso. Em outros momentos a família poderá ajudar
assumindo determinadas responsabilidades quanto ao tratamento (BRAIER, 2000).
Já no caso de crianças e adolescentes, a participação dos pais e/ou cuidadores
é de suma importância, em todos os momentos do tratamento, como aponta Braier
(2000). Primeiro porque cabe aos pais, geralmente, a função de levar o paciente e
arcar com os custos financeiros. Segundo porque é comum que a enfermidade do
paciente tenha relação com os conflitos do núcleo familiar.
O TÉRMINO DO TRATAMENTO
RESULTADOS TERAPÊUTICOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Psicoterapia Breve é ainda um campo que carece ser mais bem explorado,
justamente porque não possui uma identidade própria. É confundida muitas vezes
com a Psicanálise e/ou outros métodos de tratamento mais longos. Atualmente, ainda
permeia a crença de que se trata de uma psicoterapia inferior à Psicanálise, por uma
herança histórica. Uma não se contrapõe a outra, mas diferencia-se, sobretudo, pela
técnica empregada.
111
Mensagem final
Cyro Martins
(Psicanalista e escritor)
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