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TERAPIA
DA CONSTELAÇÃO
FAMILIAR SISTÊMICA
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PSICOTERAPIA
3

SUMÁRIO

HISTÓRIA ................................................................................................................... 6
DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA ............... 11
PRINCIPAIS LINHAS DE ABORDAGEM PSICOTERÁPICA .................................... 14
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA .............................................. 15
PSICOTERAPIA ANALÍTICA .................................................................................... 15
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL .......................................................... 20
Indicações ................................................................................................................. 21
Tipos de Terapia........................................................................................................ 22
PERFIL DO PSICOTERAPEUTA .............................................................................. 23
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA .............................................. 25
DIFERENÇAS ENTRE PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA
E PSICANÁLISE 25
A ENTREVISTA PSICANALÍTICA ............................................................................. 27
ENQUADRE TERAPÊUTICO .................................................................................... 29
ALIANÇA TERAPÊUTICA ......................................................................................... 31
PRINCIPAIS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS ........................................................... 32
PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL............................................... 45
FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS ......................................... 45
TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL ................................................................ 53
FOBIAS ESPECÍFICAS ............................................................................................. 54
TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA ................................................. 55
TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO .......................................................... 56
TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO .............................................. 57
TRANSTORNOS AFETIVOS .................................................................................... 57
TRANSTORNOS ALIMENTARES ............................................................................. 58
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE ................. 60
ADICÇÃO AO JOGO ................................................................................................. 61
TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E
IMPULSIVIDADE....................................................................................................... 61
DISFUNÇÕES SEXUAIS .......................................................................................... 62
TRANSTORNOS DO SONO ..................................................................................... 63
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PRINCIPAIS TÉCNICAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS ................................ 64


TÉCNICAS DE RELAXAMENTO .............................................................................. 65
DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA ..................................................................... 65
TREINO DE ASSERTIVIDADE ................................................................................. 66
PARADA DO PENSAMENTO ................................................................................... 66
AUTOINSTRUÇÃO ................................................................................................... 66
INOCULAÇÃO DO ESTRESSE ................................................................................ 66
TREINO EM HABILIDADES SOCIAIS ...................................................................... 67
SOLUÇÃO DE PROBLEMA ...................................................................................... 67
EXPOSIÇÃO ............................................................................................................. 67
EXPOSIÇÃO E PREVENÇÃO DE RESPOSTAS ...................................................... 68
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 69
PSICOTERAPIA DE GRUPO .................................................................................... 69
FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS .................................................................. 71
CONCEITO DE GRUPO E DE CAMPO GRUPAL .................................................... 73
GRUPOS OPERATIVOS ........................................................................................... 76
A FORMAÇÃO DE UM GRUPO ................................................................................ 81
PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA ............................................................................ 90
PSICOTERAPIA BREVE ........................................................................................... 91
HISTÓRICO .............................................................................................................. 91
CONCEITO ............................................................................................................... 92
FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS .................................................................. 93
TÉCNICA ................................................................................................................. 100
O FATOR TEMPO ................................................................................................... 100
A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E O CONTRATO TERAPÊUTICO......................... 102
O TRATAMENTO PROPRIAMENTE DITO ............................................................. 105
O TÉRMINO DO TRATAMENTO ............................................................................ 106
AS CONSIDERAÇÕES DE FIORINI E A TÉCNICA EM HOSPITAIS ..................... 109
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 110
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 112
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INTRODUÇÃO

No decorrer da vida, passamos por fases em que estamos bem. Parece que
encontramos o estado de felicidade. Mas em outras, encontramos dificuldades para
seguir nossa vida adiante. Nestas fases nos damos conta de que, sozinhos não
conseguimos caminhar. Reconhecemos que precisamos da ajuda de outro. Mas não
pode ser outro qualquer, é preciso que este outro esteja disposto a nos assumir do
modo como somos, sem julgar, e que nos dê a atenção devida. Pressupõe-se que
este outro tenha algo mais que o diferencie que é o conhecimento da psique. Para
cuidar dos sentimentos e emoções, temos o profissional especialista em teorias
psicológicas: o psicólogo.
As pessoas procuram psicoterapia por várias razões. Geralmente há um motivo
subjacente: o sentimento de que nem tudo vai bem com a própria vida, faltando
sentido e propósito mais profundo.
Freud já dizia que o desejo de se tratar deve ser primeiro do paciente, na
medida em que existe um sofrimento mental que justifique a necessidade. Quando o
paciente procura um tratamento por si só revela o desejo de amenizar seu sofrimento.
A palavra “terapia” vem de “theraplia” e quer dizer “cuidado, apoio”. Se
juntarmos à palavra “terapia” o prefixo “psico”, temos então “psicoterapia”, que
significa o “cuidado da psique, da alma, da mente”.
Para tanto, o psicólogo pode utilizar-se da abordagem teórica que lhe faça
sentido (psicanalítica, comportamental, humanista, etc.). A escolha da abordagem
depende da forma que este profissional entende o homem e o mundo, da sua filosofia
de vida.
A Psicoterapia é uma técnica psicológica, fundamentada e embasada
cientificamente para auxiliar as pessoas que buscam conforto para seu sofrimento
emocional. Seu objetivo não é o de prometer ao paciente um impossível estado de
felicidade eterna, mas sim ajudá-lo a adquirir firmeza e paciência filosófica diante do
sofrimento, auxiliando-o a lidar com seus conflitos. Nesse sentido, a vida acontece em
um equilíbrio entre a alegria e a dor.
A Psicoterapia pode ser realizada em indivíduos de todas as faixas etárias,
desde a infância, passando pela adolescência, fase adulta e até a velhice. Pode ser
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realizada individualmente, em grupo, em casal ou família, no âmbito público ou


privado.
O terapeuta é um grande fator curativo da psicoterapia. Ele é afetado pelas
emoções do paciente, portanto ele deve aceitá-las e servir de espelho para elas (as
emoções). Dessa forma, o terapeuta deve sentar-se à frente do paciente de modo que
possa também expressar suas emoções. O contágio das emoções acentua-se quando
os conteúdos projetados pelo paciente são idênticos aos conteúdos inconscientes do
terapeuta. Mas para que isso ocorra, ele também precisa fazer terapia (JUNG, 1985).
Segundo Hall.; Nordby (2000), para ser eficaz, a psicoterapia deve provocar o
crescimento do paciente. Uma compreensão do que significa crescer, da natureza dos
processos de crescimento e da maneira de ativar esse crescimento, constitui um
conhecimento essencial para o psicoterapeuta.
Isso inclui conhecer, dentre outros, o desenvolvimento da personalidade, os
estágios da vida (infância, juventude, maturidade, meia-vida e velhice) e as influências
do meio externo. Isso porque estes processos de crescimento são influenciados tanto
positivamente quanto negativamente por vários fatores, como a hereditariedade, as
experiências da criança com os pais, a educação, a cultura, a sociedade e a idade.

HISTÓRIA
Historicamente, a psicoterapia é muito mais antiga do que imaginamos, claro,
de forma não sistematizada. Suas raízes estão desde a Antiguidade, das mais
diversas formas culturais, por meio do curandeiro, danças xamanísticas, poções,
Buda, etc. (STONE, 2005).
A igreja, conforme relata Stone (2005), também exerceu grande influência na
cura do sofrimento mental, muitas vezes, com características sobrenaturais,
primeiramente com a Igreja Católica que tinha como pressuposto a luta entre o bem e
o mal (Deus e o diabo). Mais tarde o protestantismo de Martinho Lutero conquistou
milhares de fiéis, desafiando a autoridade da igreja, influenciando no rumo da história.
Assim, a possibilidade da crítica e do diálogo propiciou a separação entre a Igreja e o
estado, contribuindo com a ciência.
Segundo Stone (2005), já nos séculos XVI e XVII começou a surgir os hospitais
psiquiátricos, que nada mais eram que “depósito” de doentes mentais. Mas foi um
século mais tarde, com o movimento do Iluminismo que a psicoterapia começou a ser
modelada conforme hoje a conhecemos. Filósofos importantes (como Voltaire e
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Rousseau) contribuíram com a antropologia e o progresso do esclarecimento humano,


inclusive no esclarecimento psicoterapêutico.
Na área da Psiquiatria, o médico Pinel, influenciado por Rousseau deu início
ao movimento antimanicomial, passando a compreender e a tratar os doentes mentais
de forma humanizada. Iniciam-se também escritos sobre estudos de caso e relatos da
história de vida de pacientes (STONE, 2005).
É na psiquiatria francesa, no final do século XVII e início do séc. XIX, com Pinel
e Esquirol, que a terapia psicanalítica teve sua origem, como aponta Stone (2005). O
método de cura do sofrimento mental era, dentre outros, o da sugestão, que 50 anos
mais tarde foi chamado de hipnose. Além desses médicos, o neurologista Charcot foi
um grande nome, especialmente porque teve forte influência nas teorias da
psicanálise de Sigmund Freud. Foi ele quem orientou Freud nos estudos sobre
histeria.
De acordo com Stone (2005), o francês d’Hervery Saint-Denis, que registrava
seus sonhos em um livro, acreditava que os sonhos eram mensagens obscuras de
dentro de cada pessoa, passíveis de tradução. Assim, ele trabalhava com o
simbolismo dos seus pacientes, por meio de frequentes e prolongadas sessões. Essa
concepção fez com que Freud, em seus estudos sobre histeria, mudasse da hipnose
para um tratamento no qual o paciente está em alerta, associando livremente.
Assim, Freud foi se destacando e criando uma teoria acerca do inconsciente,
sólida e muito difundida que foi se configurando como a psicanálise clássica que hoje
conhecemos, juntamente com seus colaboradores Karl Abraham, Sander Ferenczi e
Ernest Jones, que, juntos, compunham o Círculo Secreto. Encontravam-se nas noites
de quarta-feira na casa de Freud para discutir sobre aspectos teóricos e técnicos da
psicanálise (STONE, 2005).
No século XX, no período da Primeira Guerra Mundial, a psicanálise estava se
tornando cada vez mais estruturada e enraizada, tanto na Europa quanto na América.
Surgiram grandes centros e institutos psicanalíticos. Foram realizados muitos
encontros, congressos e publicações na área. O primeiro congresso psicanalítico
ocorreu em 1908, em Salzburg, dirigido por Freud (STONE, 2005).
Ocorre que, conforme relata Stone (2005), esses centros e institutos
diferenciavam-se entre si, uma vez que os autores divergiam de opiniões teóricas e
técnicas. Quanto mais a psicanálise ia se expandindo mais as escolas de terapia iam
se diferenciando, com teorias e métodos próprios.
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Segundo Stone (2005) havia os seguidores de Freud e de sua tradição


“ortodoxa”, assim como Carl Gustav Jung que rompeu com Freud e criou sua
“psicologia analítica”, a qual considerava a natureza místico-religiosa dos fenômenos
psíquicos. Além disso, foram delineando também os tipos de pacientes atendidos na
psicanálise e em outras técnicas de psicoterapia.
Assim, cada autor foi se destacando em algum tipo de patologia e paciente.
Melanie Klein, Anna Freud e Margareth Mahler estudaram pacientes psicóticos. Otto
Kernberg se destacou no estudo de borderlines. Já John Bowlby seguiu seu trabalho
sobre o apego, ansiedade de separação e perda, dentre muitos outros (STONE,
2005).
Da mesma forma, acrescenta Stone (2005), vários tipos de psicoterapias foram
surgindo. Como exemplo, temos: Carl Rogers, que desenvolveu a teoria humanista,
Wilhelm Reich e sua teoria do “caráter” e Jacob Moreno introduziu o psicodrama. Já
Aaron Beck se distanciou da psicanálise de Freud, criando a teoria cognitivo-
comportamental.
Então, Freud foi um dos inauguradores da psicoterapia. Mas depois dele vieram
outros tantos; alguns o seguiram, outros acrescentaram e outros ainda se
distanciaram radicalmente. A psicanálise, a psicoterapia de orientação analítica, a
psicoterapia de apoio, a psicoterapia de grupo, a psicoterapia humanista, a existencial,
a cognitivo-comportamental, além de outras, são exemplos descritos por Stone
(2005).
O mais importante é que todas têm o seu valor, suas indicações e
contraindicações. Uma não é melhor que a outra. Como afirma Stone (2005) em
qualquer uma das psicoterapias é importante que o terapeuta tenha empatia, simpatia
e inteligência, minimamente.
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CONCEITO/DEFINIÇÃO

FIGURA– CONCEITO/DEFINIÇÃO

http://marciocandiani.site.med.br/fmfiles/index.asp/::XPRWTT::/ps1.jpg

Segundo Knobel (2002), a psicoterapia é um procedimento técnico de um


vínculo humano, baseado num referencial teórico da estrutura da personalidade e dos
comportamentos das relações interpessoais, mediante o qual uma pessoa tenta
ajudar a outra que necessita de algum tipo de assistência para aliviar ou melhorar
suas condições atuais de vida, e assim, atingir um melhor nível de desenvolvimento
enquanto ser humano.
Laplanche e Pontalis (2008, p. 393) definem psicoterapia como “qualquer
método de tratamento dos distúrbios psíquicos ou corporais que utilize meios
psicológicos e, mais precisamente, a relação entre o terapeuta e o doente”. Para estes
autores a hipnose, a sugestão, a psicanálise são exemplos de psicoterapia.
Nesse sentido, a Psicoterapia é uma prática que está dentro da Psicologia
Clínica.
Envolve conhecimento da Psicopatologia, da Psicologia do Desenvolvimento.
Segundo Dolto, in Mannoni (1983), a relação psicoterápica permitirá que as
“forças emocionais encobertas, em jogo conflitivo”, encontre uma saída, ou seja, a
descoberta de processos inconscientes contribui para que o paciente perceba o que
está limitando sua liberdade. Entendendo que esta liberdade significa o indivíduo
conseguir ser criativo, e não apenas submisso às exigências, livre da dependência do
desejo de outrem, conseguindo comunicar os seus sentimentos, amar e ser amado,
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enfrentar frustrações e as dificuldades cotidianas. Assim, estamos entendendo saúde


mental, não enquanto um processo de adaptação, mas enquanto possibilidade
criadora, na qual o paciente consiga transitar na relação dialética princípio da
realidade versus princípio do prazer, com certa maleabilidade.
Antes do início do processo psicoterápico, faz necessário um bom
psicodiagnóstico, isto é, a avaliação psicológica.
Nessa fase, como aponta Ocampo (1974), o objetivo principal é o de conseguir
uma compreensão o mais profunda possível do psiquismo do paciente. Abrange
aspectos passados e presentes (diagnóstico), assim como também os aspectos
futuros (prognóstico). Investiga aspectos sadios e doentes do paciente e possibilita
dar encaminhamentos terapêuticos (psicoterapia individual, de grupo, casal, se será
realizado trabalho multiprofissional com psiquiatra, neurologista,...).
O psicodiagnóstico já é em si terapêutico, na medida em que o psicólogo vai
fazendo devoluções parciais. Além disso, o paciente tem a possibilidade de falar
sinceramente de si mesmo, sem atitude de julgamento, mas de compreensão.
Contribui também para o levantamento de hipóteses diagnósticas acerca do caso,
para o processo psicoterápico (OCAMPO, 1974).
Nesta etapa o psicólogo pode-se utilizar de diversos instrumentos, tais como:
entrevistas, testes e técnicas projetivas, desenhos e a hora do jogo diagnóstica (nesta
última técnica, quando se tratar de criança).
Encerra-se com a entrevista devolutiva, que “é a oportunidade que se dá ao
paciente para que integre o que apareceu dissociado entre o conteúdo manifesto e o
latente” (OCAMPO, 1974, p. 32). Inclui também a devolução dos aspectos saudáveis,
adaptativos, bem como dos patológicos. É o momento no qual são ditos os
encaminhamentos e, quando necessário, a indicação de psicoterapia.
Didaticamente falando, após encerrar o psicodiagnóstico inicia-se o processo
psicoterápico propriamente dito. Muitas vezes, é difícil delimitar uma fronteira entre
esses dois processos, uma vez que as ansiedades da dupla estão em jogo.
O primeiro passo na psicoterapia é realizar novo contrato terapêutico, ou seja,
o esclarecimento dos papéis (paciente e terapeuta), local e horário da sessão, além
dos honorários quando se tratar de consultório particular. A seguir inicia-se o processo
psicoterápico propriamente dito.
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DIFERENÇAS ENTRE PSICOLOGIA, PSICANÁLISE E PSICOTERAPIA

Inicialmente a Psicologia designava o “estudo da alma”. Com o passar do


tempo, foi mudando para o estudo do comportamento humano.
A Psicologia é uma ciência que investiga o comportamento humano, os
aspectos emocionais e sua inter-relação com a sociedade. Apresenta uma diversidade
de áreas de atuação: Psicologia clínica, organizacional, escolar; Psicologia da saúde,
hospitalar, jurídica, do esporte. O psicólogo atua também em programas da área da
assistência social (Centro de Referência da Assistência Social; Centro de Referência
Especializado da Assistência Social, etc.).
De acordo com Serra (2004) a maior parte dos psicólogos brasileiros (cerca de
80%) encontra-se atuando na área clínica, exercendo a prática da psicoterapia.
A palavra “análise”, de “psicanálise”, vem do grego “ana” (partes) e “lysis”
(decomposição, dissolução). Então, juntando “psi” com “análise” temos a
decomposição das partes psicológicas.
Conforme Laplanche e Pontalis (2008, p. 384), a Psicanálise é “um método de
investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente
das palavras, das ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios)”.
Na “era Freud”, a primeira era denominada por Wallerstein (2005), permeou a
concepção de que apenas a psicanálise era a psicoterapia verdadeira de cura e
científica. As demais eram consideradas como o “cobre da sugestão”, enquanto a
psicanálise era vista como o “ouro puro”, conforme Freud e outros afirmavam.
Freud, no texto de 1905, “Sobre a Psicoterapia” (1976), faz uma analogia,
relacionando o trabalho das Artes e a análise, utilizando-se da expressão de Leonardo
da Vinci, per via di levare, que se refere ao trabalho de esculpir, no qual se retira da
pedra o que encobre a superfície da escultura nela contida. A arte da interpretação
tem como objetivo abrir uma via de acesso para o conhecimento do inconsciente. Ao
considerar as questões inconscientes que permeiam as relações, o psicanalista
apresenta uma especificidade ao escutar o paciente, pois não considera somente o
fenômeno manifestado, mas também os conteúdos latentes que estão presentes. Esta
prática acompanhada de uma contextualização histórica e econômica investiga qual
o sentido que determinados acontecimentos têm para o indivíduo, trabalhando não
com uma verdade absoluta, mas com uma verdade individual, construída e
reconstruída nas relações.
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Acontece que, como narra Wallerstein (2005), nem todos os tipos de pacientes
podiam se beneficiar da psicanálise na época. Logo, a psicoterapia de orientação
psicanalítica começou a entrar em cena. Emprestava os conceitos da psicanálise e os
aplicava nos pacientes que não podiam ser tratados por esta última.
Segundo Wallerstein (20005) no final da década de 1930 até início de 1950
ocorreu o que chamou de segunda era, ou seja, a “era do consenso”, quando houve
um crescimento da psicanálise norte-americana, com psicanalistas europeus
refugiados de Hitler e com o aumento das clínicas psiquiátricas no país. Pacientes
com transtornos mentais não podiam ser tratados pela psicanálise, havendo a
necessidade de se adaptarem a outras psicoterapias, especialmente à psicoterapia
de base analítica, que teve como pioneiro Robert Knight.
Este pioneiro, conforme Wallerstein (2005) ocupou-se primeiramente em
delinear o que ele chamou de “ciência básica da psicologia dinâmica”. Para tanto, fez
a primeira distinção dentro do referencial psicanalítico: ele definiu as psicoterapias em
dois grandes grupos. São as psicoterapias de apoio, que visa à supressão dos
sintomas e as psicoterapias expressivas.
Para Knight a psicanálise tem como objetivo a modificação da estrutura da
personalidade. Já a psicoterapia de apoio propõe ao paciente a reconstrução dos
mecanismos de defesa utilizados antes da descompensação. E por fim, a psicoterapia
expressiva, de caráter exploratório, visa tratar as descompensações recentes
(WALLERSTEIN, 2005).
Após a década de 1950, como aponta Wallerstein (2005), outros pontos de vista
começaram a surgir. Alguns psicanalistas propuseram a unificação da psicanálise com
a psiquiatria. Dessa forma, passou-se a entender que havia uma grande proximidade
entre a psicanálise e a psicoterapia de base analítica.
Outro grupo de psicanalistas compartilhava de outro ponto de vista, segundo
Wallerstein (2005). Sugeriu modificações na técnica psicanalítica, uma revisão da
teoria clássica, modernizando-a.
Esses pontos de vista tiveram uma repercussão pouco significativa. Entretanto,
como salienta Wallerstein (2005), a preocupação maior era a de selecionar, dentre a
variedade de métodos terapêuticos, o mais adequado para a estrutura psicológica de
cada paciente.
Então, continua Wallerstein (2005), para selecionar o método mais adequado,
faz-se necessário delinear as diferenças dentre as psicoterapias de orientação
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analítica. Com este intuito, vários autores deram sua contribuição. Dentre eles
podemos citar Gill, Rangell e Stone, além de Anna Freud.
Entretanto, segundo Wallerstein (2005), foi a partir de 1979, com o simpósio
em Atlanta, patrocinado pelas sociedades psicanalistas regionais que houve
significativos avanços sobre as diferenças e semelhanças entre a psicanálise e a
psicoterapia. Neste simpósio, protagonizado por Gill, Rangel e Stone, ficou definida a
posição de manter marcadas as diferenças entre elas, cada qual com sua aplicação e
indicação específica.
Essa é a terceira era, denominada por Wallerstein (2005) de “era do consenso
fragmentado”, pois cada um dos três protagonistas possuía divergências em suas
concepções sobre psicanálise e psicoterapia.
Atualmente, Wallerstein (2005) chama de era de “um mundo sem consenso”,
pois se torna cada vez mais difícil definir tais diferenças. Difícil, mas não inexistentes.
Schestatsky et al. (2005) salienta a importância de se considerar as diferenças
entre psicanálise e psicoterapia, porém uma não é “menor” que a outra. Conforme as
pesquisas de Wallerstein, em 1986, o mesmo concluiu que a psicoterapia de
orientação psicanalítica e a psicanálise estão muito próximas.
Tanto a psicanálise quanto a psicoterapia de orientação psicanalítica são
métodos de tratamento psicológico do inconsciente. Enquanto a primeira visa à
mudança da estrutura psíquica, trabalhando o conteúdo latente, a psicoterapia tem
por objetivo o alívio dos sintomas, incluindo também o conteúdo manifesto.
Nesse sentido, o que diferencia essencialmente psicanálise e psicoterapia é a
técnica utilizada, uma vez que a escuta analítica está presente em ambas. Na
psicoterapia há uma escuta do latente, e a tradução para o manifesto no momento da
interpretação junto ao paciente.
Na Psicanálise a transferência é um dos conceitos-chave, utilizado com grande
frequência, enquanto que na psicoterapia acontece com menor frequência. A técnica
principal na psicanálise é a interpretação, na psicoterapia além da interpretação
transferencial há também a extratransferencial, confrontação, pontuação, sugestão
(SCHESTATSKY et.al., 2005).
Para Laplanche e Pontalis (2008) a “psicoterapia analítica” empresta princípios
teóricos e técnicos da psicanálise, sem realizar as condições de um tratamento
psicanalítico rigoroso.
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Segundo Schestatsky et al. (2005) a psicoterapia de orientação psicanalítica é


uma “aventura a dois” em que um deles está em sofrimento psíquico (paciente) e o
outro domina uma certa técnica científica (terapeuta).
Eis os objetivos essenciais da psicoterapia de orientação psicanalítica, segundo
Schestatsky et al.(2005, p. 18): [...] Questões sobre o lugar mais ou menos
privilegiado de conceitos como crescimento psíquico, expansão da mente, integração
de aspectos dissociados, tolerância à dor mental, alterações de formações de
compromisso, oportunidade da experiência com um novo objeto, reparação de danos
do ego, ressignificações de danos de narrativas ou reconstrução de mitos pessoais
[...].
Sendo assim, enquanto um especialista que domina a técnica científica de
tratamento, o terapeuta deve realizar um amplo treinamento em termos diagnósticos
e terapêuticos, compondo o clássico “tripé”: estudo, supervisão com um profissional
experiente e análise pessoal. Tudo isso baseado sempre no amor à verdade
(SCHESTATSKY et.al., 2005).

PRINCIPAIS LINHAS DE ABORDAGEM PSICOTERÁPICA

É difícil definir qual a melhor abordagem teórica a ser usada para cada tipo de
paciente ou de patologia. Mesmo porque todas elas têm um objetivo em comum, que
é o de ajudar a minimizar o sofrimento do paciente, favorecendo seu crescimento
pessoal. A diferença está na técnica, isto é, no modo como se alcançarão os objetivos.
Desde que o profissional conheça bem sua abordagem, todas elas serão valiosas.
Às vezes, o fator decisivo é a instituição na qual o psicólogo trabalha. Em se
tratando de postos de saúde ou outras instituições públicas, algumas técnicas são
sugeridas como mais adequadas. Por exemplo, em hospitais a psicoterapia de apoio
e psicoterapia breve são as mais indicadas. Em postos de saúde também, além de
ser uma tendência a psicoterapia de grupo, em razão da grande demanda e do pouco
tempo disponível.
A escolha da abordagem psicoterápica dependerá do estilo pessoal do
terapeuta, assim como sua visão de homem e de mundo, suas crenças e valores.
Cada um irá identificar-se com aquela que lhe fará mais sentido. O importante é que
todas elas têm o seu valor. O estudo teórico, a supervisão e a análise pessoal devem
ser feitas seguindo sempre a mesma linha teórica. Não conseguiremos atender cada
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paciente com uma abordagem diferente. Quando entendemos que não é o caso,
devemos encaminhá-lo para outro profissional.
Atualmente, há uma variedade de abordagens psicoterápicas. Dentre elas, as
mais conhecidas são: psicanálise, psicoterapia de orientação psicanalítica,
psicoterapia analítica; terapia cognitiva, terapia comportamental, psicoterapia
cognitivo-comportamental. Há também o psicodrama, a gestalt-terapia; a psicoterapia
humanista e a humanista-existencial. A abordagem existencialista, fenomenológica,
etc. A seguir, foram descritas algumas delas:

PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA

A Psicoterapia de Orientação Psicanalítica é uma abordagem que tem como


pressupostos teóricos a Psicanálise, mas que se diferencia desta basicamente pela
técnica utilizada. Enquanto na Psicanálise o objetivo principal é a mudança da
estrutura da personalidade, na psicoterapia o objetivo é mais modesto: visa o alívio
do sintoma. Historicamente foi criada para tornar a Psicanálise, método este
desenvolvido por Sigmund Freud, acessível a mais pessoas e em menor tempo.
Enquanto representantes, além do próprio Freud, temos Bion, Klein, Winnicott, dentre
outros.
Alguns conceitos são fundamentais em Psicoterapia de Orientação
Psicanalítica, conceitos estes emprestados da Psicanálise. Primeiramente temos o
conceito de inconsciente, isto é, o material de trabalho são os processos
inconscientes.
Ao falar sobre si, por meio da associação livre, o paciente expressará seus
conteúdos inconscientes. Por meio da transferência e da contratransferência o
terapeuta poderá interpretar tais sentimentos e dar um novo sentido para o sintoma
do paciente. A mudança ocorre quando é possível dar um novo sentido para o seu
sofrimento, quando seu sintoma pôde ser elaborado.

PSICOTERAPIA ANALÍTICA

Carl Gustav Jung foi um autor que concordou, pelo menos na fase inicial de
seu trabalho, em muitos pontos da teoria de Sigmund Freud, mas teve seus próprios
pensamentos e ideias, tornando a sua psicologia conhecida como “Psicologia
16

Analítica” (em 1913, no 4º Congresso Internacional de Psicanálise, em Munique, Jung


chama sua psicologia de Psicologia Analítica).
É inegável a contribuição que Jung deu à arte da psicoterapia. Suas ideias e
pensamentos se tornaram conhecidos e reconhecidos por muitas pessoas, da área
da Psicologia ou não. Entretanto, como ele próprio dizia, seus escritos são de difícil
compreensão, e talvez por este motivo sua obra não é tão lida quanto a de Freud, por
exemplo (STORR, 1993).
Antes de falarmos especificamente de psicoterapia, faz-se necessário uma
breve caracterização da psique, da forma como Jung a entende.
Para Jung, a psique ou personalidade total envolve aspectos conscientes e
aspectos inconscientes. É um sistema dinâmico, em constante movimento, e ao
mesmo tempo, autorregulado. Está dividida em três níveis: 1) consciente, 2)
inconsciente pessoal e 3) inconsciente coletivo. É importante considerar que, ao
contrário do que pensava Freud, para Jung a consciência surge do inconsciente,
reconhecendo que o inconsciente não é um mero depósito de desejos reprimidos, mas
é uma parte tão vital de um indivíduo quanto o é a consciência.
O indivíduo é um todo e não uma reunião de partes. A vida consiste em
desenvolver esse todo até chegar ao mais alto grau possível de diferenciação e
harmonia, de modo que sua personalidade não se dissocie. Nesse sentido, o trabalho
da psicoterapia analítica tem como meta ajudar o paciente a recuperar a unidade
perdida, fortalecendo a psique.
Como pontua Jacobi (in CLARET, s/ano, p.45), a psicologia de Jung ajuda “o
indivíduo a descer conscientemente às profundezas da própria alma, a reconhecer os
conteúdos dela e integrá-los na consciência”.
Jung possuía um penetrante sentido histórico. Ele achava que a natureza do
homem não tinha mudado grande coisa no decurso de muitos séculos. Estudou
mitologia, antropologia, religião e alquimia. Por isso, desenvolveu o conceito de
inconsciente coletivo.
Uma das mais importantes contribuições de Jung é o conceito de inconsciente
coletivo. Este é o “responsável pela produção espontânea de mitos, visões, ideias
religiosas e certas variedades de sonhos que são comuns a diversas culturas e
períodos da história” (STORR, 1993, p. 39). É o nível da psique que inclui experiências
comuns a todas as pessoas em uma maior ou menor intensidade, e que tem suas
origens na evolução da história.
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As pessoas passam pelas mesmas etapas do desenvolvimento: infância,


adolescência, vida adulta e velhice. Isso ocorre devido à herança da humanidade, algo
que lhe é coletivo. Se não existisse a herança da espécie, as pessoas não passariam
pelas mesmas etapas do desenvolvimento, seriam, portanto, diferentes.
Quando se transporta uma doença pessoal a um nível mais alto e geral, há um
efeito curativo. Às vezes, o consolo espiritual ou a influência psíquica podem ajudar
ou até curar uma doença. Assim, o fato do paciente perceber que o sofrimento não é
só seu, mas sim geral, já lhe causa um alívio, um consolo (JUNG, 1985).
Jung foi o primeiro a insistir em que o próprio analista seja também analisado.
Entre 1914-1918 ele fez sua autoanálise, o que influenciou muito em sua teoria. Ele
parte da solução de seus próprios problemas para a solução dos problemas dos
outros. Desse modo, o paciente vai se desenvolver até o nível em que seu terapeuta
tiver se desenvolvido.
Na psicoterapia junguiana, os conceitos principais são: projeção, transferência,
sonhos e imaginação ativa.
O indivíduo procura psicoterapia porque necessita de ajuda para curar o seu
sofrimento. O paciente espera que alguém vá ouvi-lo, vai poder ajudá-lo, vai poder
curá-lo. É o Complexo do Salvador, ou seja, a esperança de que o terapeuta o cure,
o salve de seu sofrimento. O paciente “projeta o complexo de salvador no analista,
bem como as expectativas religiosas e a esperança de que talvez o analista, munido
de conhecimentos secretos, possuísse a chave perdida pela Igreja, podendo revelar-
lhe a verdade redentora” (JUNG, 1985, p. 143). Os elementos projetados no analista
também são de natureza impessoal, arquetípica. Portanto, o complexo do salvador é
uma ideia universal, uma esperança de todo mundo, em qualquer época da história.
O causador de seu sofrimento é sempre o outro: problemas de relacionamento
com o pai, a mãe, com o marido, filhos, escola, trabalho, etc. Nesse sentido, ele projeta
no outro o seu sofrimento. Logo, o primeiro ponto a ser trabalhado em psicoterapia é
a projeção. Paralelamente, temos a transferência, que é um conceito semelhante ao
da projeção.
Segundo Jung (1985) a projeção é um mecanismo psicológico inconsciente
geral, que carrega conteúdos subjetivos sobre o objeto. O termo transferência significa
“carregar alguma coisa de um lugar para o outro” (p. 127).
O conceito de projeção é mais generalizado, é um mecanismo que ocorre entre
o sujeito humano e o objeto físico. A transferência de um mecanismo específico da
18

projeção, uma vez que se refere ao processo que se dá entre duas pessoas (terapeuta
e paciente).
Na transferência o paciente projeta no terapeuta imagens derivadas de sua
experiência de figuras significativas do passado (geralmente figuras parentais).
Quanto mais o terapeuta for uma figura desconhecida, mais provável é que as
imagens do mundo interior do paciente se liguem àquele.
Freud também concorda com esse conceito, mas Jung vai além, e acrescenta
a observação de que não são apenas as imagens pessoais da infância do paciente
que se projetavam, mas também as figuras arquetípicas.
Para Freud a transferência é o que move o tratamento, se ela não existir, não
há cura. Mas para Jung ela não é necessária, chegando até ser indesejável. “Uma
transferência é sempre um estorvo, jamais uma vantagem. Cura-se apesar da
transferência e não por causa dela” (JUNG, 1985, p.141). Para Jung não é preciso
que o paciente ame ou odeie o terapeuta, porque o problema central do paciente é
que ele aprenda a viver a sua própria vida, sem que o terapeuta se intrometa nela.
Em psicoterapia, o fato de o paciente ter emoções, por si só, exerce efeito no
analista. Assim, o terapeuta serve de função especular, isto é, aceita as emoções do
paciente sendo um espelho para elas. Nesse sentido Jung não aceita a ideia do uso
do divã. Para cumprir a função especular, o terapeuta deve estar de frente ao paciente,
de modo que este primeiro tenha liberdade para reagir às emoções do segundo.
Temos também o conceito de contratransferência, que se refere aos
sentimentos do analista em relação ao seu paciente (o processo inverso da
transferência). Os conteúdos projetados pelo paciente são idênticos aos elementos
do inconsciente do próprio terapeuta. Entretanto, se o terapeuta não conhecer seu
inconsciente, pode ser que o paciente caia no inconsciente de seu terapeuta, e então
o processo terapêutico pode travar. Assim, fica mais uma vez confirmada à
importância do terapeuta em fazer análise. (JUNG, 1985).
Como já foi pontuado, a transferência e a projeção são os pontos iniciais a
serem trabalhados na psicoterapia. O analista não pode forçar uma transferência,
devendo ela ser tratada como qualquer projeção. No caso dela aparecer, o que é muito
comum, Jung distingue quatro estágios para que ela seja tratada em psicoterapia.
De acordo com Jung (1985), no início de um tratamento, as projeções são
experiências pessoais do paciente. Neste primeiro estágio devem-se trabalhar todos
os níveis de relacionamento que o paciente já teve, conscientizando-o de que ele
19

ainda olha o mundo como se fosse criança: tudo projeta e espera das figuras
autoritárias de sua experiência pessoal. Para estabelecer uma imagem madura o
paciente deverá enxergar o lado subjetivo das imagens que criem empecilhos para
sua vida.
O segundo estágio da terapia da transferência consiste na discriminação entre
conteúdos pessoais dos impessoais. As projeções pessoais podem ser dissolvidas
por meio de realização consciente, já as impessoais não podem ser destruídas por
pertencerem aos elementos estruturais da psique. O que pode ser dissolvido é o ato
da projeção, e não seu conteúdo (JUNG, 1985).
Temos, conforme Jung (1985), o terceiro estágio, que consiste em diferenciar
o relacionamento pessoal com o analista dos fatores impessoais. É comum que o
paciente goste do terapeuta, e quando o trabalho foi bom, que o terapeuta também
goste de seu paciente. Logo, reações emocionais são aceitáveis. E isso não quer dizer
que se trata, ainda, de transferência.
Finalmente, o quarto estágio da terapia da transferência é denominado de
objetivação das imagens pessoais. É uma parte fundamental do processo de
individuação. Seu objetivo é desprender a consciência do objeto para que o indivíduo
não coloque a garantia de sua felicidade em fatores externos - em outras coisas ou
pessoas (JUNG, 1985).
Jung enfatiza a vida interior e acredita na existência do inconsciente. Assim, a
linguagem do inconsciente são os símbolos e o material de trabalho são:
1) a associação de palavras,
2) a análise dos sonhos e
3) a imaginação ativa.
Quanto ao teste da associação de palavras, Jung (1985) afirma que está um
tanto ultrapassado, por isso não o utiliza mais em seus pacientes. Este teste consiste
em uma lista de mais ou menos cem palavras. Explica-se à pessoa que se submete
ao teste que, após a apresentação da palavra estímulo, o mais rápido possível ela tem
que dizer qual a palavra que surge na cabeça. Marca-se o tempo de cada resposta e
depois se tira a média deste tempo. Após, parte-se para uma segunda etapa: repetem-
se as palavras estímulos e o indivíduo tem que repetir suas respostas. Em alguns
momentos a memória falha, e tais erros é que são significativos.
Os sonhos, segundo Storr (1993), são a “estrada real” para o inconsciente. A
linguagem dos sonhos é uma linguagem natural, simbólica, que talvez seja difícil de
20

compreender, mas não constitui uma tentativa de esconder coisa alguma. Podem-se
ler os sonhos como se aborda uma língua estrangeira. Muitos sonhos originam-se no
inconsciente pessoal, isto é, dizem respeito aos problemas emocionais cotidianos, às
relações interpessoais e aos resíduos da infância.
Jung estava mais interessado nos sonhos que se originavam no inconsciente
coletivo. Nesses casos ele não hesitava em fornecer suas próprias associações,
filtradas do seu próprio e extenso conhecimento de mitologia, religião e alquimia. Essa
técnica é chamada de amplificação, isto é, a prática de fornecer ao paciente analogias
e comparações.
Durante a sua autoanálise, Jung desenhava e pintava suas próprias visões e
sonhos. Ele encorajou seus pacientes a fazerem o mesmo, ou, escrever poemas,
fazer modelagens ou esculturas, ou mesmo dançar suas próprias fantasias. Embora
um paciente possa tratar um sonho dessa forma e fosse estimulado a fazê-lo, Jung
estava mais interessado na espécie de fantasia que acode à mente das pessoas
quando elas não estão despertas nem adormecidas, mas num estado de divagação
em que o raciocínio está suspenso, mas não se perdeu a consciência (STORR, 1993).
A descrição acima se refere à técnica da imaginação ativa, que se destina a
mobilizar a criatividade do paciente. É uma forma de desenvolver as possibilidades
criadoras latentes no próprio paciente.
Jung fundamentou sua teoria na psicanálise freudiana, nos seus
conhecimentos de mitologia, alquimia e religião. Mas, especialmente, em sua
experiência clínica, experiência pessoal e em viagens que fez pelo México, China,
África, dentre outros países. Apesar de dar muita atenção à teoria propriamente dita,
ele estava mais interessado em ajudar o seu paciente. Jung deixava as pessoas livres
a lidarem com os fatos a sua maneira, e encorajava aos analistas que encontrassem
seus próprios caminhos.

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Segundo Bahls; Navolar (2004), essa abordagem utiliza pressupostos do


modelo behaviorista ou comportamental e do modelo cognitivista. Uma teoria não é
contrária à outra, mas complementam-se.
21

No behaviorismo o foco é a análise do comportamento e suas contingências. O


ambiente interfere diretamente no comportamento, e o tema central é a aprendizagem.
Seus principais representantes são Pavlov, Skinner e Thorndike.
Nesse sentido, para Bahls; Navolar (2004) existem dois tipos de
comportamento: o comportamento respondente (que tem um caráter involuntário) e o
comportamento operante (com caráter voluntário). O primeiro é aquele capaz de
modificar o ambiente, e sofre influências sobre o próprio ambiente. Já o
comportamento clássico ou respondente está associado ao conceito de estímulo-
resposta.
No modelo cognitivo dá-se mais relevância para as situações subjetivas, como
a memória, percepção, atenção, etc. Utiliza-se mais das “crenças” do que do
“conhecimento”, uma vez que o cliente atua de acordo com o que ele acredita ou
percebe, mesmo que elas estejam distorcidas.
Aaron Beck, um dos principais representantes do cognitivismo, construiu sua
teoria estudando pacientes deprimidos. Ele observou que essas pessoas tinham em
comum, crenças negativas em relação a si mesmas. Assim, na terapia cognitiva as
crenças que cada pessoa tem irão influenciar seu comportamento, podendo surgir
alguma patologia.
Como salienta Bahls.; Navolar (2004), a terapia cognitivo-comportamental tem
indicação de tratamento para vários problemas emocionais, como a ansiedade,
depressão, distúrbios alimentares, transtorno obsessivo-compulsivo e conflitos
sexuais.
O objetivo da psicoterapia cognitivo-comportamental, de acordo com Bahls;
Navolar (2004, p. 09), é auxiliar o cliente a “aprender novas estratégias para atuar no
ambiente de forma a promover mudanças necessárias; (...) é corrigir as distorções
cognitivas que estão gerando problemas ao indivíduo e fazer com que este
desenvolva meios eficazes para enfrentá-los”.

Indicações

A psicoterapia é um processo orientado para o crescimento, independência e


maturidade do paciente (RIBEIRO, 1988). Nesse sentido é indicada para diversos
tipos de problemas ou situações, que estão classificados da seguinte forma:
1. Tratamento de transtornos mentais (conforme CID-10).
22

• Doença de Alzheimer, demência vascular, doença de Parkinson.


• Dependência química: uso de álcool, cigarro e outras drogas.
• Transtornos psicóticos, esquizofrenias.
• Transtornos do humor: maníaco, bipolar, depressivo.
• Transtornos neuróticos: fobias, ansiedade, síndrome do pânico,
transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático,
somatização, hipocondria e histeria.
• Transtornos alimentares: anorexia, bulimia, obesidade.
• Transtornos do sono: insônia, pesadelos, sonambulismo.
• Transtorno sexual: ejaculação precoce, vaginismo, falta de desejo
sexual.
• Transtornos de hábitos e impulsos: jogo patológico, cleptomania.
• Retardo mental.
• Dificuldade de aprendizagem.
• Distúrbio de conduta.
• Déficit de atenção e hiperatividade.

2. Problemas existenciais. Busca de crescimento pessoal,


autoconhecimento.
Sensação de que falta sentido de vida, vazio existencial.
3. Conflitos de relacionamento interpessoal. Casos de conflito conjugal,
familiar ou profissional, nos quais a convivência torna-se difícil.
4. Elaboração de momentos específicos ou fases do desenvolvimento.
Situações como luto, doença ou hospitalização, adolescência, menopausa, velhice.

Tipos de Terapia

Quanto ao tipo, a psicoterapia pode ser classificada da seguinte forma:


• Individual;
• Grupal;
• Casal;
• Familiar.
23

PERFIL DO PSICOTERAPEUTA

A psicoterapia é um processo que envolve a relação humana, em que estão


presentes sentimentos, crenças e valores de duas pessoas. A neutralidade (um dos
critérios de exigência científica) não pode ser absoluta. Entretanto, cabe ao psicólogo
saber manejar tais sentimentos inconscientes que possam interferir no bom
andamento da psicoterapia, até para evitar uma possível interrupção.
Nossa personalidade só se expressa na relação. Eu me reconheço a partir do
outro. A construção da identidade só é feita na relação com o outro. Portanto, é na
relação que a pessoa se trata.
Atualmente, o foco na psicoterapia está voltado para a dupla terapêutica
(paciente-terapeuta) e não apenas para as características somente do paciente. Estão
em jogo as ansiedades, expectativas e o inconsciente da dupla.
Na psicoterapia, Santiago (1995) aponta que a relação da dupla terapêutica é
assimétrica. Isso significa que cada um da dupla tem funções diferentes. Neste
momento o terapeuta sabe mais que o paciente. É ele quem delimita os honorários,
horários, assim como é ele quem pode compreender o sofrimento do paciente.
Quando o paciente toma a iniciativa de procurar ajuda por si só, esse já é um
bom prognóstico. Supõe que a pessoa percebe que está sofrendo, não concorda com
seus sintomas e tem o desejo de mudança. Este tipo de paciente é chamado de
egodistônico.
Em contrapartida, aquela pessoa que vem ao consultório, encaminhada por
outros profissionais ou pelos pais, supõe-se que se trata de um paciente do tipo
egosintônico. Isto é, ele não sente que está sofrendo, as queixa é o do outro. Nesse
sentido o prognóstico já não é bom, pois não está disposto à mudança.
É importar, enquanto terapeutas, nos atentarmos para os desejos, as
necessidades e as expectativas nossas e as do paciente. Nem sempre elas
coincidem. O desejo interno do tratamento não ocorre só por parte do paciente, mas
também por parte do psicólogo.
O terapeuta deve identificar as expectativas do paciente em relação à
psicoterapia, à disponibilidade interna para se tratar, às fantasias e ansiedades
durante o tratamento. Esses sentimentos são constantes o tempo todo.
24

Quanto ao paciente, este também tem suas expectativas, uma vez que buscou
ajuda porque está sofrendo. Algumas expectativas estão relacionadas a algumas
questões: será que o paciente vem buscar a solução mágica para seus problemas?
Será que está disposto a ter uma postura ativa no tratamento, ou espera mais do
psicólogo?
No terapeuta, segundo Santiago (1995) as suas atitudes podem oscilar entre a
onipotência e a impotência. O psicólogo, especialmente quando é iniciante, sente-se
muitas vezes inseguro para atender determinado caso.
Na prática da Psicoterapia espera-se do profissional o clássico tripé:
embasamento teórico, análise pessoal e supervisão.
O primeiro requisito trata-se da formação profissional. Serra (2004) sugere que
o psicoterapeuta tenha um amplo conhecimento acerca de sua abordagem teórica,
psicopatologia, desenvolvimento humano, além de conhecer áreas afins, como a
psicofarmacologia, psiquiatria, dentre outras. Além disso, faz-se necessário também
compreender como funciona a cultura e os hábitos de vida dos seus pacientes.
O instrumento de trabalho do psicoterapeuta é seu inconsciente, sua própria
personalidade. Portanto, sua mente precisa estar tratada. No processo de análise
pessoal – que é o segundo requisito – ele passará pelas etapas psicossexuais do
desenvolvimento descritas por Freud: fase oral, anal, fálica, genital, complexo de
édipo. Conforme afirma Jung (1985), no processo de análise, o paciente irá se
desenvolver até onde a mente do terapeuta estiver desenvolvida.
Os conteúdos inconscientes do paciente e do terapeuta estão em jogo, claro
que cada qual com sua função. Com isso, torna-se cada vez mais importante a análise
pessoal do terapeuta, de modo que seus “pontos cegos” passem a se tornar claros.
Vale o alerta de Keidann (2000): nem todos os terapeutas estão em condições de
tratar todos os tipos de pacientes. O terapeuta precisa ter claro quais são suas
limitações, pontos-cegos, enfim, suas dificuldades internas. Do contrário, poderá
ocorrer a interrupção do tratamento.
Finalizando o tripé, é de fundamental importância que o profissional realize
supervisão dos seus casos clínicos com um profissional mais experiente, que lhe
possibilitará um novo olhar para seu trabalho.
Segundo Ribeiro (1988) a empatia também é considerada uma ferramenta
importante. Trata-se da capacidade de colocar-se no lugar do outro, sendo sensível
ao sofrimento, sem, entretanto, misturar-se com esse outro. É a flexibilidade de estar
25

junto do outro, mantendo uma distância ótima, suficiente para ajudar e não sofrer
como a pessoa.
Outros requisitos valiosos constam no Código de Ética Profissional do
Psicólogo (2005). São eles: a ética, o sigilo, a responsabilidade e o respeito ao ser
humano.
PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA

DIFERENÇAS ENTRE PSICOTERAPIA DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA


E PSICANÁLISE

A primeira diferença reside na formação profissional. Para tornar-se um


psicoterapeuta a formação inicial é a graduação em Psicologia. Esse é o requisito
mínimo, mas há também o desejável, que é uma pós-graduação específica, de
Psicoterapia de Orientação Psicanalítica, que inclui a análise pessoal e as supervisões
na mesma abordagem teórica.
O psicanalista não precisa ter, necessariamente, a graduação em Psicologia.
Geralmente interessa-se por esta área, além dos próprios psicólogos,
psiquiatras ou áreas afins. Entretanto, a formação obrigatória tem duração de seis
anos. No primeiro ano inicia a análise do profissional por um psicanalista didata,
membro da Sociedade Internacional de Psicanálise. Os anos subsequentes
consistem, além da continuidade da análise, os seminários clínicos (estudo teórico) e
as supervisões. A participação em congressos e outros eventos da área e/ou
publicações de trabalhos científicos fazem parte da formação.
A Psicanálise é, enquanto teoria da personalidade, uma técnica de investigação
científica que procura entender o homem como um todo, considerando
essencialmente o inconsciente.
FIGURA - SIGMUND FREUD
26

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/Sigmund_Freud_LIFE.jp
g/200pxSigmund_Freud_LIFE.jpg

Sigmund Freud, o criador da Psicanálise, deixou um grande legado à sociedade


quando nos mostrou que é possível mudar a estrutura psíquica por meio da análise,
técnica esta que vem se adaptando ao longo dos anos às mudanças da sociedade.
Isso ocorreu de acordo com a necessidade de tratamentos mais rápidos, surgindo
então às psicoterapias.
Enquanto a Psicanálise busca a mudança da estrutura psíquica, trabalhando o
conteúdo latente, a psicoterapia tem por objetivo o alívio do sintoma, incluindo também
o conteúdo manifesto.
Nesse sentido, o que diferencia essencialmente a psicanálise da psicoterapia
de orientação psicanalítica é a técnica utilizada, uma vez que a escuta analítica está
presente em ambas. Na psicoterapia há a escuta do latente, e a tradução para o
manifesto no momento da interpretação junto ao paciente.
Por latente entende-se um conjunto de conteúdos inconscientes que se referem
às defesas psíquicas, sentimentos transferenciais e contratransferenciais,
características das fases psicossexuais (fase oral, fálica, genital, complexo de Édipo,
latência). Já os conteúdos manifestos são aqueles que são expressos claramente pelo
paciente.
A psicoterapia de orientação psicanalítica se baseia nos conceitos da
Psicanálise, diferenciando-se desta última basicamente pela técnica utilizada, ou seja,
é mais breve e com objetivos delimitados.
27

Para Laplanche e Pontalis (2008, p. 393) a psicoterapia analítica é “uma forma


de psicoterapia que se apoia nos princípios teóricos e técnicos da psicanálise, sem,
todavia realizar as condições de um tratamento psicanalítico rigoroso”.
Freud, na sua obra “Sobre a Psicoterapia”, discorre sobre as indicações e
contraindicações de seu método psicanalítico. Segundo ele não é recomendado tratar
de pessoas que não vêm com espontaneidade ao consultório, ou seja, que não
desejam se tratar, pois “a força motivadora primária na terapia é o sofrimento do
paciente e o desejo de ser curado que deste se origina” (FREUD, p. 186).
O analista não pode fazer nada ao paciente, se este último não demonstrar um
mínimo de interesse pela sua cura (isto é, vir até o consultório). Nesse sentido não é
recomendado que o analista vá até a casa do paciente.
Outra contraindicação, segundo Freud, refere-se aos pacientes idosos e
pessoas mais próximas. O tratamento psicanalítico é longo e custoso, portanto, a
idade seria um fator que prolongaria ainda mais o processo terapêutico. Nessa
perspectiva, os casos urgentes, como a anorexia, por exemplo, também não deveriam
recorrer à psicanálise em função do tempo. Não é recomendado também aceitar
pacientes com quadros graves, como os psicóticos, pois a capacidade simbólica está
prejudicada.
Para Freud, estão indicadas para o tratamento psicanalítico as pessoas mais
desenvolvidas, os casos de histeria, estados obsessivos e as abulias (falta de
motivação ou vontade).
Essas indicações e contraindicações mencionadas acima se referem à
Psicanálise. No caso da psicoterapia de base psicanalítica, o fator tempo é
significante, uma vez que neste caso, o tratamento é em menor duração.
Outra diferença reside no atendimento aos quadros psicóticos, que podem ser
tratados pela psicoterapia de orientação psicanalítica, bem como os mais urgentes,
desde que o trabalho seja em conjunto com outros profissionais, como psiquiatra,
neurologista, nutricionista (no caso de transtornos alimentares), etc.

A ENTREVISTA PSICANALÍTICA

A entrevista é um dos instrumentos do psicodiagnóstico, sendo o principal na


psicoterapia de orientação psicanalítica, e tem como objetivo principal conhecer a
personalidade do paciente.
28

De acordo com Cunha (1993), na entrevista psicanalítica é importante avaliar:


• A motivação inconsciente, isto é, o desejo do paciente em se tratar, sua
disponibilidade interna e expectativas.
• O funcionamento psíquico: medos inconscientes, modo de perceber a
realidade externa, os vínculos afetivos, etc.
• A organização da personalidade, identificando os quadros neuróticos,
psicóticos ou borderlines.
Recomenda-se realizar duas ou três entrevistas. Na primeira é interessante
agendar um horário mais flexível, pois pode durar entre uma e uma hora e meia, sem
que comprometa o horário do próximo paciente.
Para Freud, o assunto para iniciar a entrevista geralmente é de escolha do
paciente. Mas a história de vida, história da doença e as recordações da infância são
informações indispensáveis para o terapeuta nortear a hipótese diagnóstica e o plano
terapêutico.
Sobre isso Keidann; Dal Zot (2005, p. 194) apontam que é importante favorecer
a expressão dos conteúdos inconscientes, e, portanto, “devemos deixá-lo tanto quanto
possível à vontade para mostrar seu modo de ser e de interagir conosco”.
Para que isso aconteça, a escuta atenta é condição imprescindível. Entretanto,
Keidann; Dal Zot (2005, p. 194) alerta para o fato que a escuta não implica no silêncio
absoluto do terapeuta. Ao contrário, ele “deve agir com cordialidade, discrição e
sensibilidade”. Pode iniciar a entrevista identificando-se e solicitando ao paciente que
fale sobre sua queixa.
Além disso, outros pontos são fontes ricas para compreender o psiquismo do
paciente. Dentre eles, destacam-se:
• Análise de como o paciente relaciona-se com os objetos significamente
afetivos, como os pais, irmãos, cônjuges, filhos.
• Observação das contradições, fantasias e mecanismos de defesa.
• Análise do ego e superego. Trata-se de um ego estruturado ou
desestruturado. Um superego rígido ou frouxo.
• Exame das funções mentais, como humor, vontade, atenção, percepção,
sono, etc.

É importante ainda avaliar nas entrevistas:


• Tendências suicidas;
29

• Uso de dependências químicas;


• Compulsões (alimento, jogo, sexo, etc.);
• Sintomas somáticos;
• Fobias;
• Uso de medicação, especialmente as de uso psiquiátrico, como os
ansiolíticos, antidepressivos e anticonvulsivantes.

Considerando que o processo terapêutico, de alívio do sintoma, diz respeito à


dupla (terapeuta – paciente), na entrevista está em jogo o inconsciente de ambos. É
preciso levar em conta os pontos favoráveis e desfavoráveis do par. Pode ser que um
terapeuta não consiga atender determinado tipo de patologia, ou determinada faixa
etária, em função de seus pontos cegos, isto é, de seus próprios conteúdos internos
que não estão trabalhados. Para atender criança, por exemplo, é necessário que os
conteúdos infantis do terapeuta estejam trabalhados. Para atender quadros de
dependência química é importante trabalhar os sentimentos relacionados à
impotência.

ENQUADRE TERAPÊUTICO
O contrato é uma das primeiras etapas do processo terapêutico, vindo após o
psicodiagnóstico. É considerado o ponto mais concreto da relação terapêutica. É
realizado verbalmente, devendo ser claro, objetivo para ambos, pois é o que orienta a
dupla. O enquadre ou contrato inclui os seguintes pontos:
• Esclarecimento dos papéis;
• Lugar;
• Horários;
• Honorários.

No que concerne ao esclarecimento dos papéis, é importante delimitar a função


de cada um da dupla (terapeuta – paciente). A tarefa do paciente é a de falar – falar o
que quiser. A do terapeuta é a escuta. Não se trata de uma escuta qualquer, mas uma
escuta do material latente. No caso de atendimento à criança, é importante delimitar
algumas situações de organização, como por exemplo, não rabiscar ou sujar as
paredes, não sair da sala de atendimento, dentre outras.
30

Freud diz no texto em que faz recomendações aos psicanalistas que os


aspectos importantes no início do tratamento são os acordos quanto a tempo e
dinheiro, ou seja, o contrato. Está incluído ainda o diagnóstico e indicação terapêutica
realizados pelo terapeuta.
Quanto ao tempo, Freud] alerta que “a cada paciente é atribuída uma hora
específica de meu dia de trabalho disponível, pertence a ele que é responsável por
ela, mesmo que não faça uso da mesma” (p. 168).
Nesse sentido, a recomendação é a de que, no momento do contrato, a dupla
tenha acordado a respeito das faltas. Cada terapeuta tem seu estilo pessoal, a
maneira com a qual consegue trabalhar mais confortavelmente.
Há controvérsias entre os autores. Mas é comum alertar ao paciente que as
faltas previamente avisadas poderão ser compensadas, remanejando a agenda do
terapeuta, quando possível, atendendo em outro dia ou horário. Em contrapartida, as
faltas não avisadas costumam ser cobradas. Isso quando se tratar de clínica privada.
Quando se tratar de instituição pública, em função da grande demanda, pode-
se negociar um máximo de faltas que o paciente pode ter sem perder sua vaga. Por
exemplo, duas faltas seguidas ou três intercaladas, sem avisar.
Em relação ao número de sessões, Freud atendia os seus pacientes seis vezes
na semana, que seriam todos os dias, à exceção dos domingos e feriados. Atualmente
esta frequência não é apropriada nem para a psicanálise ortodoxa.
Em psicoterapia de base analítica indicam-se duas sessões semanais e, em
algumas situações, uma, no caso de motivos financeiros, residência em outra cidade,
desemprego. Mas não é uma regra, vai depender de cada caso. Situações mais
graves (como por exemplo, depressão severa) requerem um acompanhamento mais
próximo. Pode-se atender três vezes na semana inicialmente, e à medida que a
estrutura egoica do paciente vai se fortalecendo, diminui o número de sessões. As
sessões podem durar quarenta e cinco minutos. De preferência, o tempo precisa ser
rígido. Além disso, não é aconselhado mudar muitas vezes os dias e horários,
tampouco a sala de atendimento. É importante que o setting terapêutico seja
preservado.
Ainda quanto ao tempo, o paciente geralmente tem curiosidade de saber
quanto tempo vai durar o tratamento. Freud faz uma comparação com o tempo de
construção de uma casa: “na verdade, a pergunta relativa à duração provável de um
tratamento é quase irrespondível” (...) e acrescenta: “mesmo pessoas inteligentes
31

esquecem que uma proporção necessária tem de ser observada entre tempo, trabalho
e sucesso” (p. 170).
Freud orienta para a importância de não dar prazos para o fim do tratamento.
Além disso, pode ser conveniente, em algumas situações, informar ao paciente sobre
a interrupção do tratamento. Este autor compara a interrupção de uma análise com a
interrupção de uma cirurgia, sendo, portanto, insatisfatório.
Outro fator a ser discutido no contrato refere-se aos honorários do terapeuta,
quando se tratar de clínica privada. Freud faz uma associação entre dinheiro e fatores
sexuais. Sugere que os honorários sejam tratados de forma espontânea e sincera,
sem vergonha.
Os honorários correspondem à parte prática da terapia. O psicólogo tem gastos
com aluguel, água, luz, telefone, impostos, livros para seu estudo e preparação
profissional. É recomendado que o paciente pague mensalmente, e o valor deve ser
reajustado anualmente.
Há que se identificar o simbolismo que o dinheiro tem para cada paciente.
Assim, o terapeuta deve ser responsável por receber os honorários, de modo que
possa realizar as interpretações quando necessário. Portanto, é ideal que não seja
função da secretária.
Atualmente, nos deparamos com os planos de saúde, que determinam
previamente e de forma padrão o número de sessões e o valor a ser cobrado, além
de ser pago indiretamente ao terapeuta. Nesses casos, convém informar ao paciente
sobre as dificuldades que se tem para trabalhar com prazos predefinidos. Algumas
vezes é possível combinar com o paciente sobre a continuidade do tratamento,
quando necessário, de modo que ele fique responsável pelos honorários.
Quanto ao tratamento, Freud conclui: “nada na vida é tão caro quanto a doença
e a estupidez” (p. 176).

ALIANÇA TERAPÊUTICA

A aliança terapêutica, também chamada de vínculo, diz respeito a uma relação


dual: paciente e terapeuta. Segundo Keidann; Dal Zot (2005) refere-se à capacidade
de estabelecer uma relação de trabalho entre a dupla. Ocorre após o contrato e é à
base do processo psicoterápico.
32

Ocorre após a dissociação do ego do paciente. Ou seja, parte do paciente


deseja falar do problema e a outra não quer, porque lhe causa sofrimento. Ao realizar
a dissociação, o paciente irá se identificar com o terapeuta. Trata-se de um processo
importante na psicoterapia: o paciente irá se identificar com a parte do ego saudável
do terapeuta (já que a mente desse está mais saudável, após ter realizado sua
análise). Então, a melhora se dá quando está incorporado o ego saudável do terapeuta
no paciente (DEWALD, 1981).
É considerada como a base do tratamento porque, a partir da postura de
acolhimento e escuta atenta do terapeuta, favorecendo um clima de confiança e
respeito. Sentir-se compreendido é condição essencial para que o paciente continue
seu tratamento.

PRINCIPAIS TÉCNICAS PSICOTERÁPICAS

De acordo com Freud o aparelho psíquico está dividido em: consciente, pré-
consciente e inconsciente.
Uma das principais características da psicanálise e da psicoterapia de base
analítica é o inconsciente. Este é regido, segundo Freud, pelo princípio do prazer e é
composto de ideias desorganizadas (ideias reprimidas, por exemplo). O inconsciente
é atemporal e, portanto, sempre atual. Apesar de não termos consciência dos
conteúdos inconscientes, poderemos vir a ter por intermédio da psicoterapia. Isso
pode ocorrer por meio da associação livre e dos sonhos.
No processo da psicoterapia a comunicação se dá de inconsciente do terapeuta
para inconsciente do paciente. Portanto, estão envolvidos os sentimentos da dupla.
Nesse sentido, dizemos que, em psicoterapia de orientação psicanalítica, assim
como na psicanálise, o inconsciente é o objeto principal a ser trabalhado.
De acordo com Luz (2005) a psicoterapia passa por três fases, sendo elas:
início, fase intermediária e término.
Quanto ao início do tratamento, Luz (2005) salienta que compreende desde o
primeiro contato com o paciente até o estabelecimento da aliança terapêutica, que
pode variar de sessões a meses, conforme cada caso.
Sendo assim, nesse momento o principal objetivo é o de estabelecer e
fortalecer a aliança terapêutica, por meio de um contrato claro e objetivo, identificando
os motivos inconscientes do sofrimento do paciente. A intervenção, portanto, precisa
33

ser de acolhimento e focada na interpretação das ansiedades paranoides, isto é, na


dicotomia confiança-desconfiança (LUZ, 2005).
“É importante que o terapeuta ‘ensine’ o paciente a se tratar, auxiliando-o a
despertar seu interesse pelos conflitos e pelas formas de funcionamento de sua
personalidade” (LUZ, p. 257). Nesse sentido, a postura do terapeuta não deve ser de
silêncio exagerado e nem tão amistosa.
O maior risco nessa fase, como aponta Luz (2005), é a interrupção precoce do
tratamento. Para tanto, um recurso útil diz respeito aos conteúdos
contratransferênciais, ou seja, os sentimentos que o paciente desperta no terapeuta.
As fantasias iniciais, por parte da dupla, são inúmeras. Quanto às fantasias do
paciente, este pode ter medo de entrar em contato com seus conflitos mais infantis
porque foram desastrosos, pode ter medo de ficar dependente do terapeuta. Pode
ainda ter medo de perder o controle de suas emoções ou de aflorar fantasias eróticas.
De qualquer forma, cabe ao terapeuta interpretar tais fantasias, para que deixem de
ser um obstáculo ao tratamento, ou seja, deixem de ser resistências (LUZ, 2005).
Já a fase intermediária da psicoterapia é definida por Luz (2005, p. 258) como
a fase mais longa, que compreende desde o estabelecimento da aliança terapêutica
até o momento da alta. O objetivo desse momento é o de “examinar, analisar, explorar
e resolver os sintomas e as dificuldades emocionais do paciente”. Quanto à técnica, a
interpretação das resistências iniciais e dos conflitos inconscientes do paciente é a
principal delas.
Ao comparar o processo de psicoterapia com um jogo de xadrez, Freud diz que
existem, basicamente, técnicas para o início e para o fim do tratamento. O decorrer
do mesmo é sempre um desafio. Trata-se da etapa mais árdua, uma vez que é nela
que ocorrem as principais mudanças.
Em relação à temática abordada nesta fase, o foco são os assuntos trazidos
pelo próprio paciente durante as sessões. Geralmente são temas referentes às
situações vividas no dia a dia, como conflitos de relacionamento familiar, no trabalho;
ambições, planos e decepções. Enfim, sofrimentos cotidianos (LUZ, 2005).
Quanto à postura do terapeuta, Luz (2005) recomenda que seja atenta e
respeitosa, de modo que o paciente possa sentir-se à vontade para falar. Dessa forma,
à medida que vai surgindo o momento oportuno, o terapeuta poderá intervir, seja
pontuando, assinalando ou interpretando.
34

Ocorre que, como aponta Luz (2005), na fase intermediária nem sempre o
processo evolui tão bem. Às vezes pode ocorrer uma estagnação temporária, em
função das resistências, impasses, acting out, perturbação da aliança terapêutica, etc.
Em relação à alta, ou ao término da psicoterapia, este não ocorre em uma única
sessão. A fase final perdura por várias sessões, nas quais são trabalhadas as
ansiedades de separação. De acordo com Luz (2005) esta fase inicia com a primeira
comunicação da alta e culmina com a última sessão em que a dupla terapeuta-
paciente se encontra.
O objetivo principal é o de trabalhar os sentimentos de luto vivenciados pelo
término do tratamento, bem como avaliar os ganhos e benefícios conquistados
durante o mesmo (LUZ, 2005).
A alta é uma questão de comum acordo entre a dupla. Para o terapeuta, alguns
indicadores subsidiam seu trabalho, segundo Luz (2005). São eles:
• A melhora ou supressão do sintoma trazido inicialmente pelo paciente.
• Alguma mudança nos vínculos afetivos, com os familiares.
• Alguma alteração nos processos de trabalho, de modo que possa
almejar novos projetos.
• Ampliação dos contatos sociais.
• Maior satisfação na vida sexual.
• Mudança no contato com a realidade, de modo que o paciente a suporte
melhor.

Ocorre que nem sempre o processo psicoterápico tem êxito. Então se depara
com o fenômeno do abandono do tratamento, que é sempre indesejável.
Percorrendo a literatura, encontramos algumas explicações acerca do
abandono do tratamento psicoterápico.
Segundo Etchegoyen (2004), na fase do contrato do processo psicoterápico
está incluída a ideia de que o tratamento deve finalizar por acordo de ambas as partes
e, por isso, se apenas um lado decide, não se fala em término da análise, mas sim em
interrupção. O analisado tem liberdade para rescindir o contrato a qualquer momento,
assim como o analista.
Em alguns casos, salienta Etchegoyen (2004), pode ser que os motivos que
levaram à interrupção de tratamento sejam de ordem externas, porém não é o mais
comum. Os motivos internos são mais frequentes, e quando isso acontece, chamamos
35

de resistências, que pode vir do analisando, ou até mesmo do analista, que não
conseguiu manejá-la.
De acordo com Laplanche e Pontalis (2008, p. 458) “chama-se resistência a
tudo o que nos atos e palavras do analisando, durante o tratamento psicanalítico, se
opõe ao acesso deste ao seu inconsciente”.
Um segundo fenômeno relacionado ao abandono do tratamento é o chamado
acting out. Chamado por Freud de “agieren” e apresenta o sentido de “atuar”.
Termo usado em Psicanálise para designar as ações que apresentam, quase
sempre, um caráter impulsivo, relativamente isolável no decurso das suas atividades,
e que torna muitas vezes uma forma auto ou hetero-agressiva. Para o psicanalista, o
aparecimento do acting out é a marca da emergência do recalcado. Quando aparece
no decorrer de uma análise (durante a sessão ou fora dela, o acting out tem de ser
compreendida na sua conexão com a transferência, e frequentemente como uma
tentativa para ignorá-la radicalmente. (LAPLANCHE e PONTALIS, 2008, p. 6)
Segundo Francisco (1995) o acting out pode estar a serviço ao que Freud
chamou de “lembranças encobridoras”. Ao invés de lembrar, o indivíduo atua, uma
vez que se trata de experiências infantis bastante remotas e que não foram
compreendidas na ocasião. Pode se referir a várias situações que se opõem ao
processo analítico, como o silêncio, esquecimento de sessões, decisão súbita de
deixar a análise, dentre outros.
Laplanche e Pontalis (2008, p. 264) definem lembrança encobridora:
Lembrança infantil que se caracteriza ao mesmo tempo pela sua especial nitidez e
pela aparente insignificância do seu conteúdo. A sua análise conduz a experiências
infantis marcantes e a fantasias inconscientes. Como o sintoma, a lembrança
encobridora é uma formação de compromisso entre elementos recalcados e a defesa.
De acordo com Gus (2005) atuações e encenações (enactments) refere-se a
sensações e sentimentos pré-verbais, portanto anterior a palavra, denotando
expressões primitivas.
Em um estágio primitivo do desenvolvimento psíquico, narra Gus (2005),
quando a linguagem ainda não existia (pré-verbal), não era possível expressar os
sentimentos por meio da palavra. Sendo assim, o ato é a única forma de expressão
de vivências emocionais primitivas e afetos perigosos da dupla terapêutica. Trata-se
de uma obstrução ao processo de crescimento e desenvolvimento psicoterápico, uma
vez que, ao invés de atingir o insight, o indivíduo realiza um ato.
36

Entretanto, como aponta Gus (2005), o fenômeno do acting out pode ser útil ao
tratamento, desde que compreendidos e bem encaminhados àqueles pacientes de
difícil acesso, em que predominam o pré-verbal, a desorganização psíquica, o caos e
o vazio mental.
A realidade psíquica é resultante das percepções que o indivíduo tem do mundo
externo, somado às fantasias do mundo interno. Portanto, é uma experiência
subjetiva, individual e nem sempre traduz a realidade externa (GUS, 2005).
Sendo assim, afirma Gus (2005) que, no acting out e enactment a realidade
psíquica ganha expressão, por meio do ato, de vivências primitivas dolorosas (como
ansiedades persecutórias, etc.), as quais o indivíduo não se lembra e que podem ser
percebidas por meio da transferência e da contratransferência. Portanto, trata-se de
revivências de conflitos primitivos da dupla terapêutica.
Nesse sentido, Gus (2005) entende que as vivências primitivas são da dupla
terapeuta-paciente. As experiências de fantasias inconscientes destrutivas, arcaicas,
de ansiedade persecutória e situações traumáticas são reeditadas por ambos. Então,
o psicoterapeuta também possui papel fundamental: há que se compreender e
manejar adequadamente o fenômeno do acting out e enactment.
Atualmente há um consenso entre os psicanalistas de que o processo
psicoterápico não está focado apenas no paciente, mas sim na dinâmica do campo
analítico. Assim, são levadas em conta as condições emocionais do terapeuta e do
paciente, bem como o inconsciente de ambos (ZIMERMAN, 2004).
Quando o terapeuta, segundo Gus (2005), consegue compreender a realidade
psíquica do setting, conter e interpretar acting e enactment é possível dar novo
significado às fantasias primitivas.
Ao contrário, acrescenta Gus (2005), quando não se compreende a realidade
psíquica do par terapêutico no setting, chega-se ao “ponto cego” ou conluios
inconscientes, de natureza narcísica. Podem ocorrer ainda, piora do quadro clínico,
impasses e interrupção do tratamento.
Longos silêncios, faltas e atrasos podem se configurar como acting out, que,
caso ocorram de forma intensa no início do tratamento, podem levar à interrupção do
tratamento (GUS, 2005).
Há também o fenômeno do impasse que, segundo Pires (2005) pode estar
relacionado à interrupção no tratamento psicoterápico. Trata-se de uma estagnação
do desenvolvimento da terapia, que implica num cessamento da elaboração,
37

perceptíveis no processo transferocontratranferencial, caracterizada por intensas


repetições de conflitos não resolvidos envolvendo a dupla terapêutica.
Quando o impasse não é superado, pode ocorrer a interrupção do tratamento.
Torna-se então inevitável reavaliar o próprio trabalho do terapeuta. De alguma forma,
acrescenta Pires (2005), o paciente confirma a validade das teorias. Nesses casos é
importante a supervisão do caso, já que fica mais difícil o terapeuta, no momento da
sessão, ter uma visão mais crítica. Além disso, como o supervisor não está envolvido
diretamente com o impasse, possivelmente terá melhor condição de ajudar o
terapeuta.
O fenômeno do impasse muitas vezes é confundido com o acting out, como
sinaliza Pires (2005). A diferença reside no momento em que ocorrem: o acting out
pode ocorrer já no início do tratamento, enquanto que o impasse geralmente deve
ocorrer em fases posteriores do processo psicoterápico.
Além disso, Pires (2005) afirma que a probabilidade de ocorrer impasse na
psicoterapia é menor que na psicanálise. Isso acontece porque na psicoterapia o
número de sessões é menor, o objetivo é mais focal e as situações
extratransferenciais são menos intensas.
Conforme Pires (2005, p. 342), alguns autores defendem a ideia de que, nas
situações de impasse seria indicado marcar a data para interrupção do tratamento.
Isso suscita muitos questionamentos. Entretanto:
[...] em defesa de, pelo menos parte dessa ideia, é preciso dizer que uma
interrupção é sempre mais ética do que a manutenção de um tratamento interminável,
pois esta última opção configura uma espoliação emocional e econômica do paciente
por parte do terapeuta.
No decorrer do processo psicoterapêutico duas pessoas estranhas (terapeuta-
paciente), numa relação assimétrica, irão se encontrar frequentemente estabelecendo
uma relação única. Para Keidmann (2000) a experiência com cada novo paciente
mobiliza no terapeuta ansiedades, resistências e outras emoções inconscientes. Pode
então ocorrer abandono por erros, incompetência, hostilidade ou sedução do
terapeuta.
Freud alerta sobre a oportunidade de aprender com as experiências de
pacientes abandonantes na medida em que se pode pensar sobre o fato, o mesmo
que ocorre muitas vezes quando se perde uma partida de xadrez. Aprende-se com os
erros também.
38

Ferenczi, citado em Freud, afirma que o êxito depende muito do analista ter
aprendido com seus próprios erros e de ter levado a melhor sobre os pontos fracos
de sua própria personalidade.
O tripé clássico da técnica psicanalítica consiste na transferência, resistência e
interpretação.
Segundo Laplanche e Pontalis (2008, p. 514) a transferência é um “processo
pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no
quadro de certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro
da relação analítica”.
Dewald (1981, p. 213) define a transferência como “uma forma de
deslocamento na qual o indivíduo dirige para um objeto presente todos aqueles
impulsos, defesas, atitudes, sentimentos e respostas” vivenciados nos primeiros
relacionamentos infantis com as figuras parentais.
O fenômeno da transferência refere-se aos conteúdos inconscientes do
paciente para o analista. Já a contratransferência vai do analista para o paciente.
No fenômeno da transferência, parte dos impulsos eróticos do indivíduo vai
para a consciência, dirigida para a realidade. A outra parte fica retida, ou permanece
inconsciente.
Então, se a necessidade de amar não está totalmente satisfeita pela realidade,
o indivíduo vai aproximar-se de cada nova pessoa que encontrar. Esta pessoa pode
ser até seu terapeuta. Isto é natural, mesmo porque é a transferência que move o
tratamento. Em Psicanálise trabalha-se com a perda de um objeto. Nesse sentido, a
transferência ocorre porque o paciente acredita que o analista é esse objeto perdido.
Ele acredita que o analista detém o saber, sabe algo dele que o próprio paciente não
sabe. E esse fenômeno move o tratamento. É necessário certo “enamoramento”, ou
seja, admiração pelo analista, para que o paciente suporte um longo tempo na terapia.
Vai chegar um dia em que, assim como a criança quando cresce descobre que seu
pai não é não perfeito e poderoso quanto pensava, o paciente também vai chegar a
essa conclusão. E nesse momento não vai mais haver motivo para continuar o
tratamento. É quando pode ser dada a alta.
Mas o que o paciente transfere para o terapeuta? Transfere sentimentos
inconscientes infantis vivenciados com as figuras parentais.
A transferência é sempre inconsciente. É o resultado de um desejo. O ser
humano tem dois caminhos: a saúde e o sintoma. Os que fazem sintoma são pessoas
39

que estão doentes. Pode estar doente porque direciona seu sintoma para uma meta
impossível (está sempre esperando, insatisfeito). Nesse sentido, a pessoa
desqualifica a saúde. O trabalho do psicoterapeuta é conscientizar a pessoa disso.
O sintoma implica num ganho secundário. Funciona como uma “bola de neve”,
isto é, quanto mais o tempo passa, mais fica prejudicial. É uma metáfora de uma
resolução sexual e implica numa homeostase (equilíbrio) do aparelho psíquico. Este
equilíbrio é dinâmico (em alguns momentos é bom, mas em outros é ruim). Acontece
que o sintoma toma bastante libido (energia) do indivíduo, impedindo, assim, que ele
não tenha energia para outras coisas.
Então o paciente procura o terapeuta porque essa situação é desconfortável.
Mas aí vem a resistência, pois o sintoma implica em alguns momentos, equilibrar seu
aparelho psíquico.
Na medida em que seu sintoma é retirado, há uma piora de seu quadro – e isto
é sinal da cura, primeiro piora para depois melhorar.
Segundo Freud a transferência pode ser positiva ou negativa. A primeira refere-
se aos sentimentos amorosos, de amizade e confiança, enquanto que a segunda diz
respeito aos sentimentos hostis, agressivos.
A transferência que move o tratamento é a positiva (o paciente tem confiança
no terapeuta, acredita que ele é o detentor do saber), enquanto a transferência
negativa prejudica o tratamento, pois funciona como resistência. Esta última precisa
ser interpretada ou assinalada.
Algumas vezes a transferência negativa é silenciosa ou muito sutil. Por
exemplo: quando o paciente chega atrasado à sessão ou falta. Quando no dia do
pagamento esquece-se de assinar o cheque, etc.
A contratransferência, como já foi dito, diz respeito ao “conjunto das reações
inconscientes do analista à pessoa do analisando e, mais particularmente, à
transferência deste” (LAPLANCHE E PONTALIS, 2008, p. 102).
É fundamental e faz parte da técnica atentar para os sentimentos que o
paciente desperta no terapeuta. Na relação com o paciente o terapeuta pode
experimentar diversos sentimentos, como raiva, prazer, desconfiança, preocupação,
etc. (DEWALD, 1981).
Quando se trata de pacientes com quadros psicossomáticos, é comum o
psicólogo sentir sensações físicas, como alguma dor, por exemplo. Prestar atenção
40

nesses sentimentos auxiliará no processo de avaliação, bem como no momento


adequado de interpretar.
O fenômeno da resistência é definido por Dewald (1981, p. 240) como “funções
psíquicas do paciente que se opõem ativamente à tarefa terapêutica de trazer o
material inconsciente ao conhecimento”, e, consequentemente, opondo-se às
mudanças.
A resistência expressa à forma de como o ego se mobiliza para enfrentar as
suas angústias diante da vida. Resiste como forma de se proteger contra os ataques
que sofreu no passado (carência, abandono, incompreensão, humilhação, etc.). É o
grande obstáculo ao tratamento.
Algumas situações dentro do setting terapêutico podem ser interpretadas como
resistência, tais como: faltas, atrasos, esquecimentos, silêncio, dificuldades em falar
sobre determinados assuntos que causam angústia, etc.
O terceiro componente que faz parte do tripé da técnica psicanalítica é a
interpretação.
Esta é uma técnica valiosa, em que o psicoterapeuta permite que seu paciente
entre em contato com seus conteúdos inconscientes, ajudando-o a “traduzir” seus
sentimentos (RIBEIRO, 1988). É nesse momento, para Freud, que é favorecida a
mudança. A arte da interpretação identifica as resistências e as torna conscientes.
Esta é uma técnica que deve ser usada com cautela, uma vez que tem seu
momento oportuno. A recomendação é que o terapeuta possa identificar quando seu
paciente estiver próximo de tornar o conteúdo consciente. É difícil saber se uma
interpretação está correta. Mas alguns indícios podem ser observados. Ao interpretar,
é importante avaliar a reação do paciente, o assunto ou material seguinte que ele vai
trazer.
Dewald (1981) discorre sobre a técnica em psicoterapia de base analítica,
elegendo a escuta, o esclarecimento e a confrontação, além da interpretação como
formas de intervenção.
Segundo este autor é importante deixar o paciente falar, mas cabe ao terapeuta
a função da escuta especializada.
“A atividade do terapeuta em escutar representa muito mais que a simples
recepção passiva e compilação do material verbalizado pelo paciente” (DEWALD,
1981, p. 198). Esta escuta significa priorizar o significado dos conteúdos latentes, além
41

de observar o comportamento não verbal é importante observar o conteúdo que foi


dito pelo paciente, mas também o que foi omitido.
A comunicação na psicoterapia pode ser:
• Verbal: por meio da palavra, linguagem falada.
• Não verbal: por meio de comportamentos como a expressão corporal,
por exemplo.
O silêncio também é uma forma de comunicação, que pode simbolizar várias
situações: ansiedade, vazio mental, resistências, etc., podendo ser do tipo paranoide,
depressivo, fóbico, confusional, etc.
Em oposição, tem também aquele paciente que fala muito, como uma espécie
de descarga emocional. Entretanto, deixa de falar o mais importante. Pode ser
inclusive, um tipo de resistência.
Segundo Dewald (1981), o esclarecimento é uma forma de intervenção que tem
por objetivo esclarecer alguma situação específica da experiência e do
comportamento do paciente. Está mais no nível consciente e pré-consciente.
Já a confrontação “implica dirigir a atenção do paciente para elementos da
experiência ou comportamento nele observados pelo terapeuta, mas sem retirar
qualquer inferência dos seus possíveis significados” (DEWALD, 1981, p. 202). É
interessante apontar diferenças, semelhanças ou repetições nas experiências vividas
pelo paciente. Assim, como o esclarecimento a confrontação também ocorre a nível
consciente e pré-consciente.

FIGURA - DIVÃ

http://www.greiceklem.psc.br/images/diva_freud.jpg?546
42

Quanto ao uso do divã, este é uma herança do método da hipnose, utilizado


por Freud, no início de seus trabalhos. O divã servia para afastar os olhos do terapeuta
e do paciente, já que Freud atendia muitos pacientes num mesmo dia, e, por sua vez,
ficava mais à vontade. Ajudava também favorecendo a ocorrência dos pensamentos
involuntários, já que permitem a associação livre, além de propiciar a regressão.
O paciente não inicia o tratamento logo deitando no divã. O momento de deitar
é aquele em que de fato inicia-se a análise, ou seja, quando o paciente não tem nada
mais para contar sobre sua história de vida. O ato de apenas descrever fatos não
significa necessariamente que está sendo terapêutico. Há que se avaliar os casos em
particular, mas às vezes pode demorar mais de um ano para iniciar o processo de
análise propriamente dito e poder deitar no divã.
Na psicoterapia de orientação psicanalítica o divã não é usado, principalmente
porque a regressão não é tão profunda quanto na psicanálise. Faz-se necessário a
interação face a face do terapeuta e do paciente, especialmente nos quadros
psicóticos.
Em relação à técnica, em sua obra “Recomendações aos médicos que exercem
a psicanálise”, Freud sugere que não há necessidade de memorizar a história de vida
do paciente como datas, nomes ou outros pormenores. O importante é o que está
marcado afetivamente, que pode ser observado por meio dos sentimentos, entonação
de voz, etc. O mais importante é a relação terapeuta/paciente.
Outra recomendação de Freud que também se aplica a psicoterapia, diz
respeito às anotações das sessões. É melhor que os registros sejam feitos em outro
momento, que não durante o atendimento. A atenção do terapeuta, ou melhor, sua
escuta deve ser o foco, em detrimento dos registros. Além disso, caso esteja diante
de um paciente com personalidade paranoide, a desconfiança poderá ser reforçada.
Freud, p. 129] dá ênfase na necessidade de o terapeuta realizar sua análise.
“Deve-se insistir, antes, que tenha passado por uma purificação psicanalítica e ficado
ciente daqueles complexos seus que poderiam interferir na compreensão do que o
paciente lhe diz”. E acrescenta: “(...) todos que desejam efetuar análise em outras
pessoas terão primeiramente de ser analisados por alguém com conhecimento
técnico” (p. 130).
Uma das funções do psicoterapeuta, conforme aponta Freud, refere-se à
função especular, isto é, o terapeuta deve mostrar ao paciente somente o que lhe é
43

mostrado. Nesta mesma linha de raciocínio, o psicólogo deve orientar-se pelas


capacidades do paciente e não pelos seus desejos (do terapeuta), valorizando
qualquer evolução do paciente.
A psicoterapia é um processo árduo, em que não há ausência de sofrimento.
Muitas vezes, a fantasia é a de que são ditas apenas palavras de conforto, como se a
pessoa quisesse ficar na zona de conforto o tempo todo, como rege o princípio do
prazer. Ocorre que o princípio da realidade é condição para a superação do sintoma,
rompendo o ciclo doentio, patológico. Como afirma Luz (2005, p. 260), na terapia o
paciente “vai sofrer pelo motivo adequado e de forma adequada”.
Para Freud, a doença significa a incapacidade de amar, o paciente vive
mendigando amor dos outros. E a função do profissional é a de ajudar esse paciente
a amar. Freud conclui que tem saúde mental aquela pessoa capaz de amar e de
trabalhar, em seus vários aspectos.
A relação com o outro é saudável para a Psicanálise, uma vez que há
investimento de libido (ou energia). Uma pessoa que se isola do mundo reveste-se
em seu próprio narcisismo, e consequentemente, surgirão os sintomas. Todo amor
tem sua origem nas fontes primitivas, de contato com a pele (inicialmente, da mãe
com o bebê). Com o passar do tempo, a sociedade exige que esse amor mude de
direção, passando para um amor genital.
Nesse sentido, Freud usou o termo “sexualidade” em alemão “lieben”, que
significa “amar”. Portanto, este autor utiliza esse conceito em praticamente toda sua
obra. Nesse sentido, não se limita ao sexo no sentido genital, como entende o senso
comum.
Ainda com relação à técnica, em sua obra “Recordar, repetir e elaborar”, Freud,
orienta o caminho do processo psicoterápico.
O processo de recordar tem suas origens na hipnose, método esse utilizado na
primeira fase da Psicanálise. Freud diz que recordar não é tão simples, principalmente
se forem experiências muito primitivas, conhecidas como amnésia infantil. Lembrar
pode ser extremamente doloroso, portanto, muitas vezes distorcemos para ficar
suportável.
Quanto mais precoce, mais difícil de ser retirada a marca, porque menos
recursos têm o ego para lidar com a intensidade do trauma. Menos simbolismo tem, e
maior é a desorganização psíquica. Quanto mais primitivas as experiências
44

vivenciadas, mais fica em nível das sensações, e, portanto, não há simbolismo,


apenas registro mnêmico.
As lembranças remotas, segundo Freud, caso não possam ser compreendidas
na ocasião, mas poderão vir à tona quando forem interpretadas.
Recordar significa contar o que sabe da experiência ou evento traumático. Mas
Freud salienta que nem sempre o indivíduo recorda de suas experiências infantis, mas
as reproduz por meio da ação (acting out), repetindo-as. Não é tão importante que o
paciente se lembre das suas experiências, porque ele vai repeti-las na terapia.
Mas o que o paciente repete? “Repete ao invés de recordar e repete sob as
condições da resistência” (FREUD [1914(1976) p. 198]). O paciente repete ou atua
seus conteúdos reprimidos, traços patológicos, seu sintoma e as resistências.
A doença do paciente, como sinaliza Freud, é atual, e dessa forma deve ser
tratada. As origens da doença é que estão associadas às experiências passadas.
Portanto, o paciente irá repetir fragmentos da vida real, atual.
O principal instrumento para trabalhar as repetições em psicoterapia é, para
Freud, o manejo da transferência. Assim, é possível superar as resistências para
então elaborá-las.
Elaborar é trocar a atuação e as repetições por discernimento. É dar um novo
sentido ao sofrimento. Quando o paciente elabora não há mais repetição.
Segundo Freud [1914(1976), p. 202]: Deve-se dar ao paciente tempo para
conhecer melhor esta resistência com a qual acabou de familiarizar, para elaborá-la,
para superá-la, pela continuação, em desafio a ela, do trabalho analítico segundo a
regra fundamental da análise.
Nesse processo de recordar, repetir e elaborar, para Freud, a função do
terapeuta é a de “completar aquilo que foi esquecido a partir dos traços que deixou
atrás de si ou, mais corretamente, construí-lo” (p. 293).
A técnica da construção diferencia-se da interpretação, segundo Freud. A
interpretação é quando o analista interpreta um único fato da vida do paciente. Já a
construção refere-se a vários fatos da vida do indivíduo. É algo final, um processo
mais longo.
O trabalho de construção é o objetivo e a etapa final da psicoterapia de
orientação psicanalítica. Trata-se da tarefa de ajudar o paciente a construir uma nova
história de vida.
45

PSICOTERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

FUNDAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITOS BÁSICOS

Segundo Milhollan e Forisha (1972), no século XIX a Psicologia começa a


evoluir como disciplina independente, apesar dos problemas psicológicos de mente e
conhecimento serem de domínio de filósofos. Fisiologistas e físicos contribuíram para
a Psicologia por meio do estudo do sistema nervoso e da sensação.
Para que a Psicologia pudesse se tornar uma ciência (até então era estudada
como disciplina da Filosofia) era importante torná-la mais objetiva. Era importante que
seu objeto de estudo pudesse ser mensurado, observado. Nesse sentido, alguns
nomes foram muito importantes. Dentre eles, destacam-se: Wundt, Thorndike, Pavlov,
Watson e Skinner.
Em 1879, Wilhelm Wundt (1832-1920) fundou seu laboratório psicológico em
Leipzig, Alemanha, estabelecendo a Psicologia como ciência. Refere-se à psicologia
de Wundt como estruturalismo, tentativa de estudar a estrutura da mente.

WUNDT

http://files.segredosdapsicologia.webnode.com.pt/20000000615ff916f97/Wund
t3.jpg

Edward L. Thorndike (1874-1949) desenvolveu princípios e conceitos de


importante influência, como o estudo do comportamento animal, chamado de Lei de
46

Efeito (estímulo e resposta no comportamento de pacientes experimentais – a


aprendizagem era uma questão de gravar respostas corretas e eliminar incorretas,
como resultado de suas consequências agradáveis ou desagradáveis, isto é,
recompensas ou punições).

FIGURA – CAIXA

http://www.jornallivre.com.br/images_enviadas/a-caixa-de-skinner-
caixa2-jpg.jpg> .

Ivan P. Pavlov (1849-1936) e o condicionamento clássico: o processo de


aprendizagem consistia na formação de uma associação entre um estímulo e uma
resposta aprendida por meio de contiguidade (lembrança de algo que no passado foi
experimentado junto com alguma outra coisa). Estudo de secreções gástricas em
cães.
47

FIGURA - CONDICIONAMENTO

http://3.bp.blogspot.com/_nLGqF2OyrH0/S_nhFmYNx4I/AAAAAAAAACI/QnV
0c3oORM4/s320/experimento+de+pavlov>.

John B. Watson (1878-1958) e o behaviorismo – psicologia como ciência de


comportamento objetiva, com a finalidade de prever e controlar o comportamento dos
indivíduos.
Aceitou o condicionamento clássico como explicação para toda aprendizagem.
48

FIGURA - WATSON

http://files.psicoposts.webnode.com/200000007-a7804a87a0/john-b-
watson-1-sized.jpg

B. F. Skinner e o condicionamento operante – um dos principais behavioristas,


com a publicação de “Behavior of Organisms”, em 1938. Estudou o comportamento
manifesto ou mensurável. O condicionamento operante relaciona o comportamento
às consequências, é controlado pelos estímulos que se seguem à resposta.

FIGURA- SKINNER

http://1.bp.blogspot.com/-
L_p3nVe5Wqc/Taz13t5ktAI/AAAAAAAAACo/ZLRkpo4pTRU/s1600/skinner.jpg
>
49

Guimarães (2001) ressalta que a teoria comportamental ganhou espaço na


década de 30 e graças a trabalhos como os de Pavlov, Skinner e Thorndike
contribuíram para que a Psicologia fosse vista sob enfoque científico e definida como
ciência do comportamento. Suas aplicações foram desenvolvidas a partir dos
princípios da teoria da aprendizagem e da análise experimental do comportamento. A
partir da década de 50 é reconhecida como abordagem sistemática de intervenção
em saúde mental, em oposição à psicanálise. Enfoca diretamente os comportamentos
a ser modificado e o ambiente onde o comportamento ocorre, valorizando a forma
como o organismo interage com o meio. O foco principal é dirigido ao que pode ser
observado, lida com eventos mensuráveis.
O desenvolvimento da teoria comportamental permitiu o conhecimento a
respeito das leis gerais do comportamento tornando-o mais previsível. Dentro da
perspectiva comportamental são apontados o comportamento respondente, que
responde a um determinado estímulo (involuntário) e o comportamento operante
(voluntário), que modifica o ambiente e está sujeito a alterações a partir das
consequências dessa atuação. O “condicionamento” tem papel fundamental nesta
abordagem e significa que os comportamentos podem ser alterados realizando-se
mudanças nas condições do ambiente. No condicionamento operante uma
consequência reforçadora aumenta a probabilidade de o comportamento ocorrer
novamente e uma situação aversiva, como a punição, diminui ou extingue
determinado comportamento. A “modelagem” é utilizada no condicionamento
operante e consiste em modificar comportamentos de forma progressiva, por meio de
reforços sistemáticos de comportamentos que se assemelham ao comportamento
final que se deseja atingir. Segundo Falcone (2001), a psicoterapia cognitiva começou
a ser desenvolvida por Aaron Beck no início da década de 60, a partir de insatisfações
com as formulações psicodinâmicas sobre a depressão. Seus estudos verificaram
uma tendência de pacientes em interpretar os acontecimentos de forma negativista e
demonstraram que alguns apresentaram melhora em resposta a experiências bem-
sucedidas – construiu o modelo cognitivo da depressão, estendendo a outros
transtornos. Foi influenciado por várias abordagens, como a abordagem cognitiva de
Ellis -1962 -, estudos sobre modelação e autoeficácia de Bandura -1977 - e pesquisas
sobre o controle cognitivo de Mahoney - 1974.
50

FIGURA – BECK

http://www.atccl.org.ar/articulos/Beck4.jpg

Para o modelo cognitivo os transtornos psicológicos decorrem de um modo


distorcido ou disfuncional de perceber os acontecimentos, influenciando afeto e
comportamento. Sua prática terapêutica visa à mudança dos processos cognitivos,
como pensamentos e emoções. São identificados três níveis de pensamento:
1. Pensamentos automáticos: são os espontâneos, a partir de
acontecimentos do dia-a-dia;
2. Crenças intermediárias: ocorre sob a forma de suposições ou regras;
refletem ideias ou entendimentos mais profundos e são mais resistentes à mudança;
3. Crenças centrais: nível mais profundo da estrutura, compostas por ideias
absolutistas, rígidas e globais sobre si mesmo, os outros e o mundo. Desenvolvem-se
na infância e, a partir de circunstâncias traumáticas ou de experiências frequentes,
tornam-se convincentes na vida adulta. Também conhecidas como esquemas.
Os três níveis estão interligados no funcionamento cognitivo de uma pessoa
com transtorno psicológico. O objetivo da terapia cognitiva é produzir mudanças no
pensamento e no sistema de crenças, para que ajam mudanças emocionais e
comportamentais duradouras.
É uma técnica breve, estruturada, educativa e orientada para o presente.
Estratégias comportamentais são utilizadas pela terapia cognitiva por produzirem
mudanças cognitivas.
51

A terapia cognitivo-comportamental concilia procedimentos utilizados nas


técnicas comportamentais com os utilizados na modificação de processos cognitivos;
desenvolvimento e reconhecimento na década de 70, com o surgimento de novas
técnicas e a utilização de conceitos e técnicas cognitivos. Apesar das diferenças, a
integração das duas abordagens vem demonstrando resultados satisfatórios.
Segundo Sudak (2008), a terapia cognitivo-comportamental é um tratamento
de curta duração, com objetivos específicos e voltados para problemas baseados no
modelo de que mudar cognições é possível e leva às mudanças comportamentais.
Enfatiza que os seres humanos são capazes de controlar suas crenças e ações e se
comportam de acordo com a compreensão de suas experiências. É
fundamentalmente uma terapia de problemas específicos e que estão interferindo na
vida do paciente.

Indicações

Serão apontados os problemas mais comuns da prática clínica.

Transtorno de pânico e agorafobia (Rangé; Bernik, 2001)

Este é um dos problemas mais frequentes e incapacitantes entre os transtornos


de ansiedade. Há uma enorme ansiedade e tudo é feito para que não aconteça mais,
como comportamentos de fuga ou evitação, que afetam a vida desses pacientes.
Envolve reações súbitas e intensas como taquicardia, falta de ar, tremores, sudorese,
vertigens, ideações de morte, loucura, perda de controle, entre outros.
O termo agorafobia foi proposto em 1871 por Westphal (1822-1890), que
significa medo de lugar amplo e movimentado (ágora, em grego – assembleia de
pessoas, praça do mercado). Transtorno de pânico começou a ser conceituado por
Freud, em seus escritos sobre neuroses de ansiedade. No tratamento são associados
psicoterapia com medicamentos. Estudos mostram que no tratamento psicológico
deve estar incluído um repertório de manejo das crises, como a exposição aos
estímulos temidos e treino em relaxamento. Muito eficaz no tratamento é a estratégia
A.C.A.L.M.E.-S.E, descrita a seguir:
52

A.C.A.L.M.E.-S.E.

A chave para lidar com um estado de ansiedade é aceitá-lo totalmente.


Permanecer no presente e aceitar sua ansiedade a faz desaparecer. Para lidar com
sucesso com sua ansiedade você pode utilizar a estratégia “A.C.A.L.M.E.-S.E.”, de
oito passos. Usando-a você estará apto(a) a aceitar sua ansiedade até que ela
desapareça.
1. Aceite a sua ansiedade. Um dicionário define aceitar como dar
“consentimento em receber”. Concorde em receber as suas sensações de ansiedade.
Mesmo que lhe pareça absurdo no momento, aceite as sensações em seu corpo,
assim como você aceitaria em sua casa um hóspede inesperado e desconhecido ou
uma dor incômoda. Substitua seu medo, sua raiva e sua rejeição por aceitação. Não
lute contra as sensações. Resistindo, você estará prolongando e intensificando o seu
desconforto. Ao invés disso, flua com ela.
2. Contemple as coisas à sua volta. Não fique olhando para dentro de você,
observando tudo e cada coisa que sente. Deixe acontecer com o seu corpo o que ele
quiser, sem julgamento: nem bom nem mau. Olhe à sua volta, observando cada
detalhe da situação em que você está. Descreva-os minuciosamente para você, como
um meio de afastar-se de sua observação interna. Lembre-se: você não é sua
ansiedade. Quanto mais puder separar-se de sua experiência interna e ligar-se nos
acontecimentos externos, melhor se sentirá. Esteja com ansiedade, mas não seja ela:
seja apenas observador.
3. Aja com sua ansiedade. Aja como se você não estivesse ansioso (a),
isto é, funcione com suas sensações de ansiedade. Diminua o ritmo, a velocidade com
que você faz as suas coisas, mas mantenha-se ativo(a)! Não se desespere,
interrompendo tudo para fugir. Se você fugir, a sua ansiedade diminuirá, mas o seu
medo aumentará, onde na próxima vez a sua ansiedade será pior. Se você ficar onde
está – e continuar fazendo as suas coisas – tanto a sua ansiedade quanto o seu medo
diminuirão. Continue agindo, bem devagar!
4. Libere o ar de seus pulmões, bem devagar! Respire bem devagar,
calmamente, inspirando pouco ar pelo nariz e expirando longa e suavemente pela
boca. Conte até três, devagarinho, na inspiração, outra vez até três prendendo um
pouco a respiração e até seis na expiração. Faça o ar ir para o seu abdômen,
estufando-o ao inspirar e deixando-o contrair-se ao expirar. Não encha os pulmões.
53

Ao exalar, não sopre: apenas deixe o ar sair lentamente pela boca. Procure descobrir
o ritmo ideal de sua respiração, nesse estilo e nesse ritmo, e você descobrirá como
isso é agradável.
5. Mantenha os passos anteriores. Repita cada um, passo a passo.
Continue a: (1) 64 aceitar sua ansiedade; (2) contemplar; (3) agir com ela e (4) respirar
calma e suavemente até que ela diminua e atinja um nível confortável. E ela irá, se
você continuar repetindo estes quatro passos: aceitar, contemplar, agir e respirar.
6. Examine seus pensamentos. Talvez você esteja antecipando coisas
catastróficas. Você sabe que elas não acontecem. Você já passou por isso muitas
vezes e sabe que nunca aconteceu nada do que pensou que aconteceria. Examine o
que você está dizendo para si mesmo (a) e reflita racionalmente para ver se o que
você pensa é verdade ou não: você tem provas sobre se o que pensa é verdade? Há
outras maneiras de entender o que está lhe acontecendo? Lembre-se: você está
apenas ansioso (a) - isto pode ser desagradável, mas não é perigoso. Você está
pensando que está em perigo, mas tem provas reais e definitivas disso?
7. Sorria, você conseguiu! Você merece todo o seu crédito e todo o seu
reconhecimento. Você conseguiu, sozinho (a), e com seus próprios recursos,
tranquilizar-se e superar este momento. Não é uma vitória, pois não havia um inimigo,
apenas um visitante de hábitos estranhos que você passou a compreender e aceitar
melhor. Você agora saberá como lidar com visitantes estranhos.
8. Espere o futuro com aceitação. Livre-se do pensamento mágico de que
você terá se livrado definitivamente, para sempre de sua ansiedade. Ela é necessária
para você viver e continuar vivo (a). Em vez de considerar-se livre dela, surpreenda-
se pelo jeito como a maneja, como acabou de fazer agora. Esperando a ocorrência
de sua ansiedade no futuro, você estará em uma boa posição para lidar com ela
novamente.
FONTE: Rangé; Bernik, 2001.

TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL

De acordo com Falcone.; Figueira (2001), ansiedade frente a várias situações


sociais é normal e adaptativa, pois permite comportar-se de maneira adequada. Mas
quando a ansiedade é muito intensa interfere no funcionamento social e na vida da
pessoa. A fobia social, como 65 também é chamada, manifesta-se como medo
54

excessivo de comportamentos humilhantes e embaraçosos e consequente


desaprovação e rejeição pelas outras pessoas. As situações mais temidas são: falar
em público, comer e beber na frente dos outros, falar com estranhos e ao telefone,
participar de reuniões sociais, interagir com o sexo oposto, lidar com figuras de
autoridade, entre outros. Alguns apresentam manifestações físicas, como tremor,
sudorese, palpitações, e outros relatam apenas autoconsciência e medo. A evitação
fóbica pode ser sutil ou extrema. São utilizados no tratamento os psicofármacos e
estratégias terapêuticas, como a exposição ao vivo combinada com reestruturação
cognitiva.

FIGURA – TRANSTORNO DE ANSIEDADE SOCIAL

https://lh6.googleusercontent.com/--t-
Qz2lcaXQ/TX81KILKPJI/AAAAAAAAADw/H_4ypwyU1aM/s200/Fobia+Social+
6.jpg>.

FOBIAS ESPECÍFICAS

Costa; Lanna, (2001), caracteriza as fobias específicas por medo acentuado,


persistente e excessivo ou irracional de determinado objeto ou situação, geralmente
são medos aprendidos. Para a abordagem cognitivo-comportamental as fobias
simples são explicadas por: condicionamento clássico, condicionamento operante,
55

modelação, cognições, generalização, predisposições pessoais e filogenéticas e


ganhos secundários. Tratamento: dessensibilização sistemática, exposição ao vivo,
reestruturação cognitiva, modelação, terapia implosiva ou inundação, hipnose,
relaxamento, tarefas de casa e uso de medicamentos.
FIGURA – FOBIAS ESPECÍFICAS

http://4.bp.blogspot.com/_PgIvOxUzJFY/SXm1CbbH0mI/AAAAAAAAA84/wIN
CNLVAML0/s400/fobias%5B1%5D.JPG>.

TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA

É um transtorno crônico de ansiedade, incapacitante, que tem como


características preocupações irreais ou excessivas, constantes, e apresenta sintomas
somáticos persistentes. O sexo feminino é mais acometido. Prejudica o desempenho
social, familiar e profissional. Medidas terapêuticas eficazes são a farmacoterapia e
psicoterapia (reestruturação cognitiva, relaxamento e exposição, aplicados em
conjunto) (Schinohara; Nardi, 2001).
56

FIGURA – TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA.

http://blog.opovo.com.br/cartasdetododia/files/2010/04/ANSIEDADE.gif>.

TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO

O TOC, como é conhecido, é classificado como transtorno de ansiedade e tem


como característica as obsessões (ideias intrusivas, recorrentes e persistentes) ou
compulsões (comportamentos repetitivos, sem propósito) excessivas ou irracionais,
que acarretam grande estresse, consomem considerável tempo e interferem na rotina
normal. São pessoas que dão muita atenção a detalhes, autodisciplinadas,
emocionalmente controladas, confiáveis, perseverantes, perfeccionistas e rígidas.
Procedimentos comportamentais integrados com intervenções farmacológicas
mostram-se eficazes no tratamento desse transtorno. (Rangé; Asbahr; Moritz; Ito,
2001)

FIGURA - TOC
57

http://3.bp.blogspot.com/_Cb7SBOm3d4M/S9D6SNHIwHI/AAAAAAAABQY/r4
wFfymH84/s1600/lavar-maos-toc-doencas.jpg>.

TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO

O TEPT consiste na exposição a uma experiência traumática (guerra, abuso


sexual e/ou físico, acidentes e desastres, entre outros) e como resultado a pessoa
apresenta revivência da experiência e intenso sofrimento. O objetivo principal do
tratamento é recuperar o senso de controle e estabilidade. Tratamento: farmacológico
e técnicas como: exposição prolongada, dessensibilização, apoio social, relaxamento
e reestruturação cognitiva (RANGÉ; MASCI, 2001).

TRANSTORNOS AFETIVOS

São principalmente as síndromes depressivas e o transtorno bipolar. A


depressão é caracterizada por ideação suicida, delírios e alucinações e incapacitação
social e ocupacional.
No transtorno bipolar a pessoa apresenta períodos de depressão e de euforia
intensa (mania). A terapia cognitivo-comportamental ajuda o paciente a adquirir novo
modo de pensar, a ampliar sua consciência, de modo a interpretar a realidade de
forma realista e colabora para a reconstrução de seu sistema de crenças. As principais
técnicas usadas são: mapeamento da vida, folha de resumo dos sintomas, gráfico do
humor, afetivograma, solução de problemas, treino de habilidades sociais, diário de
atividades, reestruturação do pensamento e modificação de crenças. Muito importante
também é a utilização de medicamentos (NETO et.al. 2001).
58

FIGURA – TRANSTORNOS AFETIVOS

http://exame.abril.com.br/assets/pictures/10593/size_380_depressao-
tristeza-getty-jpg.jpg?1286683257>.

TRANSTORNOS ALIMENTARES

Caracterizado por grave perturbação de o comportamento alimentar, trazendo


prejuízos à pessoa. São eles: anorexia nervosa (medo extremo de engordar,
apresentando distúrbio da imagem corporal), bulimia nervosa (episódios de ingestão
incontrolável de alimentos seguido de vômito auto induzido, uso inadequado de
laxantes, diuréticos ou moderadores de apetite, jejum e exercícios excessivos),
transtorno da compulsão alimentar periódica – TCAP (episódios de comer compulsivo,
sem os comportamentos compensatórios da bulimia). O tratamento exige equipe
multiprofissional (psicólogo, psiquiatra, nutricionista, endocrinologista, entre outros) e
interação medicamentosa. A principal técnica utilizada é a reestruturação cognitiva
(DUCHESNE.; APPOLINÁRIO, 2001).
59

FIGURA - DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL

http://pesfrei.files.wordpress.com/2011/06/anorexia.jpg>.

DEPENDÊNCIA QUÍMICA

A terapia comportamental busca modificar as crenças permissivas e as crenças


intermediárias e centrais, por intermédio de técnicas como: identificação de
pensamentos automáticos, avaliação e questionamento dos pensamentos
automáticos, registro diário dos pensamentos automáticos disfuncionais e
identificação, avaliação e modificação das crenças (KNAPP.; LUZ JR.;
BALDISSEROTTO, 2001).

<http://www.planetaeducacao.com.br/portal/imagens/artigos/vozprofessor/Mao
-abertadesfalecida-tendo-uma-seringa-sobre-ela-e-uma-colher-ao-lado.jpg>.
60

TABAGISMO

Apesar de todo mal que o cigarro faz à saúde, seu consumo continua
aumentando. Fumar é um comportamento reforçado por meio de estímulos externos
e internos. Estratégias úteis no tratamento são a retirada gradual e métodos aversivos
e terapia de reposição de nicotina (GIGLIOTTI et.al. 2001)

http://4.bp.blogspot.com/_oHVtojKEmN4/TK-
VYcdsI/AAAAAAAAAq8/uZcZvVDHeSw/s400/cigarro4.jpg>.

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU BORDERLINE

Formas de abuso, como sexual, físico e emocional, estão relacionados a esse


transtorno, que se caracteriza por instabilidade nos relacionamentos interpessoais,
autoimagem e afeto e muita impulsividade. Costumam infringir ferimentos a si
mesmos, abusam de substâncias, principalmente medicamentos e tem alto risco de
suicídio. São pacientes que costumam abandonar a terapia, principalmente devido a
sua instabilidade e medo de abandono. No tratamento são utilizadas técnicas da
terapia cognitiva padrão e medicamentos (VENTURA, 2001)

FIGURA- TRANSTORNO DE PERSONALIDADE LIMÍTROFE OU


BORDERLINE
61

http://3.bp.blogspot.com/_lrmtSsR0EQ/TTjcpWWL6rI/AAAAAAAAAZA/WIMxz
Hx9L8c/s1600/borderline_hintergrund.jpg>.

ADICÇÃO AO JOGO

Caracteriza-se pela dificuldade em controlar o comportamento de jogar. As


técnicas terapêuticas empregadas envolvem terapia aversiva, técnicas cognitivas e
tratamento farmacológico (PRIETO, 2001).

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM HIPERATIVIDADE E


IMPULSIVIDADE

O TDAHI caracteriza-se por dificuldade na regulação da atenção e/ou


impulsividade e hiperatividade frequente. O uso de medicamentos melhora
significativamente os sintomas e as técnicas cognitivo-comportamentais minimizam
os sintomas (treino em resolução de problemas, treino em habilidades sociais,
reestruturação do sistema de crenças, estratégias para estimulação da atenção e
grupos) (DUCHESNE; MATTOS, 2001).
62

FIGURA - TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM


HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE

http://www.wallstreetfitness.com.br/imgs/Fotos/transtorno_deficit_atencao_hip
eratividade_tdah.jpg

DISFUNÇÕES SEXUAIS

Principais transtornos sexuais: disfunção erétil, ejaculação precoce, baixo


desejo ou inibição do desejo sexual, anejaculação e anorgasmia masculina,
anorgasmia feminina, vaginismo e dispareunia. Terapia associada de medicamentos
e terapia sexual apresenta melhores resultados (CARVALHO, 2001).

FIGURA - DISFUNÇÕES SEXUAIS

http://3.bp.blogspot.com/_RG7EntH8Zdo/S8cS6nhPPPI/AAAAAAAAADc/_7Ec
d9u9wRE/s1600/terapia-sexual-31-252.jpg>.
63

TRANSTORNOS DO SONO

A insônia e a apneia do sono são os transtornos mais frequentes. O tratamento


inclui a administração de fármacos e intervenções cognitivas (reestruturação cognitiva
e comprovação de hipóteses (BUELA-CASAL.; SÁNCHEZ, 2001).

FIGURA – TRANSTORNO DO SONO

http://notapajos.globo.com/gifwrap.asp?id=694

Segundo Beck et.al. (2005), a abordagem cognitivo-comportamental também é


utilizada no tratamento de transtornos de personalidade, como:
• Paranoide – interpretam as intenções e ações dos outros como
humilhantes ou ameaçadoras, mas não apresentam sintomas psicóticos persistentes.
• Esquizoide – indiferença em relação aos relacionamentos interpessoais,
sem alterações no humor; buscam muito pouco o contato com os outros e restringem
manifestações de afeto. Não apresentam sintomas psicóticos.
• Esquizotípica – evitam relacionamentos interpessoais, mas apresentam
sintomas psicóticos.
• Antissocial – comportamentos irresponsáveis e socialmente
ameaçadores. Geralmente são trazidos ao tratamento por força externa, contra sua
vontade e sem vontade de mudar. Tratamento de grande desafio, pois se limita a leves
alterações de comportamento.
• Histriônica – apresentam excessiva emotividade, lábil e superficial e
buscam ser o centro das atenções. Comportamento excessivamente reativo, intenso
e descontrolado e relacionamentos pouco gratificantes. Apresenta complicações
como abuso de substâncias, alcoolismo e risco de suicídio.
• Narcisista - padrão distorcido de auto preocupação em relação a si
mesmo, autocentrado e indiferente aos sentimentos e necessidades dos outros e não
64

aceitam limites ou críticas. A crença central do narcisista é de inferioridade, por isso a


atitude compensatória de superioridade.
• Dependente – dependência excessiva dos outros, necessidade extrema
de ser cuidado, sentimento de desamparo e medo de abandono. Comumente
apresentam ansiedade e depressão.
• Esquiva – evitação global comportamental, emocional e cognitiva.
Apresentam muita ansiedade nos relacionamentos pessoais por medo de rejeição.
Podem desenvolver depressão, abuso de substâncias, ansiedade e transtornos do
sono.
• Negativista ou passivo-agressiva – comportamentos resistentes, não
cumprem obrigações e frustram expectativas, negativistas, oposicionistas,
descontentes e hostis, humor irritável, resultando em prejuízo social.

Terapeutas cognitivos utilizam os princípios básicos da terapia cognitiva no


tratamento dos transtornos de personalidade como base do tratamento, mas
modificam algumas características, pois esses indivíduos utilizam estratégias
disfuncionais para lidar com os outros e o mundo, que são usadas de forma inflexível
e inadequada, e são pacientes incapazes de ter comportamentos apropriados e
funcionais quando essas estratégias não funcionam. Nesse caso, a terapia tem
duração mais longa, principalmente porque o processo de formar um relacionamento
é mais gradual e difícil (SUDAK, 2008).

PRINCIPAIS TÉCNICAS COGNITIVO-COMPORTAMENTAIS

Para Guimarães (2001), o terapeuta e o paciente trabalham juntos para


identificar crenças que a pessoa tem de si e utilizam técnicas que incluem: identificar
pensamentos ou cognições disfuncionais, auto monitoração de pensamentos
negativos, identificação da relação entre pensamentos e crenças e sentimentos
subjacentes, identificar e aprender padrões de pensamentos funcionais e adaptativos,
teste de realidade dos pressupostos básicos mantidos pela pessoa sobre si mesma,
o mundo e o futuro. Segue as principais técnicas utilizadas sob enfoque integrado
comportamental cognitivo.
65

TÉCNICAS DE RELAXAMENTO

A ansiedade é uma resposta de proteção, que prepara o organismo para atacar


ou fugir de perigos reais ou não. Substâncias são liberadas pelo organismo nessa
situação que promovem alterações fisiológicas, que viabilizam respostas de luta ou
fuga.
O relaxamento é um processo psicofisiológico, de aprendizagem das respostas
biológicas de relaxamento e inclui:
• Exercícios de respiração – treino em padrões de baixas taxas de
respiração, inspiração-expiração profundas e amplas e respirações diafragmáticas.
Esse treino distrai o paciente, dando-lhe sensação de controle sobre o organismo.
• Treino em relaxamento – tensionar e relaxar diferentes grupos
musculares para obtenção de um estado de conforto e bem-estar.
• Relaxamento muscular progressivo - essa técnica deve ser feita num
ambiente adequado e o paciente posicionado confortavelmente.

TÉCNICAS DE RELAXAMENTO

http://www.possibilidades.com.br/meditacao/img/relaxamento.gif>

DESSENSIBILIZAÇÃO SISTEMÁTICA

Consiste em remover ou enfraquecer a ansiedade por meio da inibição


recíproca, que se chama supressão condicionada (estabelecer uma resposta
antagonista à ansiedade na presença do estímulo provocador da ansiedade, que é o
relaxamento). Utiliza-se o treino em técnicas de relaxamento e o paciente deve ser
66

capaz de visualizar as situações temidas. Uma das principais técnicas utilizadas no


tratamento da fobia social e específica e síndrome do pânico.

TREINO DE ASSERTIVIDADE

É feito orientando-se o paciente a emitir respostas adequadas em situações


específicas ou pelo ensaio comportamental (procedimento para o treino da
assertividade).
Técnica eficaz no tratamento da fobia e da ansiedade social.

PARADA DO PENSAMENTO

É uma técnica de autocontrole, que consiste em formular um pensamento


indesejado e com um comando de “pare” em voz alta, impedir a evolução do
pensamento. Outras palavras ou imagens também podem ser usadas, como visualizar
uma placa, escrito “Pare”. Essa técnica é muito útil porque a presença de
pensamentos incômodos favorece a ocorrência de comportamentos indesejáveis.
Muito utilizada no tratamento do estresse pós-traumático.

AUTOINSTRUÇÃO

Utilizada para modificar cognições com o objetivo de mudar comportamentos,


ensinando o paciente a desenvolver pensamentos adequados e realísticos à situação
temida.
Aplicada principalmente no tratamento da ansiedade, impulsividade e
hiperatividade infantil.

INOCULAÇÃO DO ESTRESSE
Consiste em treinar o paciente na vivência de uma situação estressante, para
que ele desenvolva recursos de enfrentamento a serem utilizados na situação temida
real. Muito utilizada no tratamento do pânico, fobias específicas, transtorno do
estresse pós-traumático, ansiedade generalizada, alcoolismo, entre outros.
67

TREINO EM HABILIDADES SOCIAIS

O objetivo da técnica é capacitar o paciente a emitir respostas adequadas a


situações específicas. Pode ser usada no tratamento de grupos especiais como
portadores de transtornos de personalidade evitativa e esquizofrenia.

SOLUÇÃO DE PROBLEMA

A técnica consiste em ensinar o paciente, maneiras adequadas de enfrentar


situações da vida real. Deverá aprender a manejar e adaptar procedimentos e
estratégias aprendidos na terapia, por meio de modelagem de habilidades, em sua
vida. Situações são simuladas durante as sessões. A técnica pode ser aplicada no
tratamento da depressão, terapia de casal, transtorno de conduta, hiperatividade e
déficit de atenção.

SOLUÇÃO DE PROBLEMAS.

http://1.bp.blogspot.com/_SUOtG6MIDug/TJPy4IP7BzI/AAAAAAAAAGU/DnQ
ucZGQycQ/s320/analise_solucao_problemas.jpg>

EXPOSIÇÃO

Consiste em expor o paciente, repetidamente, ao vivo ou na imaginação,


diretamente a situação temida, que são evitadas por desencadearem ansiedade.
Muito apropriada para tratamento de fobias.
68

EXPOSIÇÃO E PREVENÇÃO DE RESPOSTAS

Inclui a exposição mais bloqueio da resposta compulsiva para tratamento do


Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).

EXPOSIÇÃO INTEROCEPTIVA

Técnica de exposição mais provocação de respostas fisiológicas, como


tonteira, taquicardia, tensão muscular, por meio de exercícios e técnicas específicas.
Utilizada no tratamento da síndrome do pânico, com o objetivo de diminuir ou romper
a associação entre indicadores fisiológicos e reações de pânico.
Para Beck et al. (2005), no tratamento dos transtornos de personalidade
algumas técnicas cognitivas e comportamentais são úteis, como:
• “Sondagem Cognitiva” – utilizada para aliciar e avaliar pensamentos
automáticos.
• Confrontando os Esquemas – deve-se tratar de todos os esquemas:
cognitivos, comportamentais e afetivos. As distorções cognitivas do paciente apontam
para os esquemas e o terapeuta o ajuda na identificação de regras disfuncionais que
dominam sua vida e trabalha com ele para realizar as alterações necessárias a um
funcionamento mais adaptativo.
• Tomando decisões – ajuda o paciente a aprender a tomar decisões
importantes.
• Revivendo experiências da infância – situações da infância podem levar
ao entendimento das origens dos padrões desadaptativos. Recriando certas situações
o paciente tem a oportunidade de reestruturar atitudes formadas naquele período e
suavizar atitudes em relação a si mesmo.
• Uso da imaginação – permite que o paciente reviva eventos traumáticos
passados, possa reestruturar a experiência e suas atitudes decorrentes.

Sudak (2008) aponta a importância da colaboração no relacionamento entre


terapeuta e paciente. O paciente deve tornar-se coinvestigador e uma aliança
terapêutica forte é essencial para bons resultados.
69

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste módulo foi apresentar de maneira resumida uma introdução


ao estudo da psicoterapia cognitivo-comportamental, suas aplicações e técnicas mais
utilizadas, trazendo também conceitos das terapias, cognitiva e comportamental.
Atualmente é uma das abordagens mais utilizadas no tratamento de problemas
psicológicos e psiquiátricos. Apresenta resultados significativos e comprovados, tanto
para crianças, quanto para adultos ou adolescentes, individualmente ou em grupo. É
também uma terapia de caráter educativo, já que o paciente também aprenderá sobre
o processo da terapia.

PSICOTERAPIA DE GRUPO

http://2.bp.blogspot.com/_hMMo_ibkBt0/TSXqOWtUjI/AAAAAAAAAI0/4Gm-
4x_koA0/s1600/roda.jpg.

Há uma tendência do indivíduo em se agrupar ou juntar-se espontaneamente


com outras pessoas, como os amigos da escola, os colegas de trabalho, do clube;
com os membros da igreja e/ou de outras instituições, ou simplesmente com a família.
As crianças gostam de brincar entre si. Os adolescentes ligam-se em grupos,
“tribos”, na tentativa de construir sua identidade. Pessoas com personalidade
70

antissocial se reúnem em gangues. Homens e mulheres se casam para terem filhos e


construírem famílias. Os idosos participam de grupos da terceira idade.
Enfim, a necessidade de ligar-se a outras pessoas é algo natural do ser
humano. Osório (2003) ressalta que, desde os primórdios, o homem já havia
descoberto as vantagens de agrupar-se. Entretanto, a Psicologia Grupal só se efetivou
enquanto ciência no último século, tendo sido resultado da inter-relação com outras
disciplinas, especialmente da Psicologia Social e da Sociologia.
Considera-se Psicoterapia de Grupo qualquer forma de terapia coletiva. Suas
ações têm como base fatores como a interação e a comunicação. É um modelo
terapêutico que nasceu após a Segunda Guerra Mundial, por meio de Kurt Lewin.
Para Lewin, o fato de ouvir as pessoas falando de seus próprios problemas já
era em si terapêutico. Dessa concepção resultou uma das características atuais, que
é o “fator da universalidade”, isto é, em grupo, os pacientes não sentem que estão
sozinhos e que são os únicos que sofrem. Além desses fatores, Yalom (2006)
menciona outros, como o altruísmo e a socialização.
A modalidade da Psicoterapia de Grupo vem de encontro a essa necessidade
do ser humano. Ocorre que um grupo terapêutico não se restringe a um somatório de
pessoas. Trata-se de um grupo organizado, com objetivos e tarefas comuns, que
possui acordos e funcionamentos próprios e tem uma finalidade terapêutica.
Há diversos tipos de grupos: operativos, terapêuticos, de suporte, de
elaboração. Podem ser abertos ou fechados, homogêneos ou heterogêneos. Quanto
à abordagem teórica podem ser de orientação psicanalítica, cognitivo-
comportamental, psicodrama e sistêmico.
É importante ressaltar que a Psicoterapia de Grupo pode ser tão eficaz quanto
a Psicoterapia Individual. Cada uma possui suas especificidades que podem trazer
benefícios terapêuticos para o paciente. De qualquer forma vale a recomendação
clássica de qualquer tratamento, que considera que a formação, teórico-prático do
profissional é indispensável: conhecimento, supervisão e análise pessoal.
A terapia de grupo é uma planta curiosa no jardim da psicoterapia. Ela é forte:
as melhores pesquisas disponíveis estabeleceram que a terapia de grupo é efetiva e
tão robusta quanto a terapia individual. Mesmo assim, necessita de cuidados
constantes. Seu eterno destino é ser sufocada periodicamente pelas mesmas velhas
ervas daninhas: ‘superficial’, ‘perigosa’, ‘secundária para ser usada apenas quando
71

não houver terapia individual disponível ou se esta não for acessível (YALOM, 2006,
p. 421).

FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS

FREUD E A PSICOLOGIA DE GRUPO

Na sua obra “Psicologia de grupo e análise do ego”, de 1920-22, Freud discute


algumas ideias sobre grupos a partir dos estudos de Le Bon. Ele utiliza o termo “grupo”
como equivalente a “massa” e “multidão”. Nessa obra não vamos encontrar referência
a técnica grupal, mas algumas concepções preliminares sobre grupos.
Freud concorda que há influência dos fenômenos sociais na constituição do
sujeito.
Uma relação que envolva no mínimo duas pessoas já pode ser considerada
como uma relação social, ao contrário do que se costuma pensar, ou seja, que a
Psicologia Social estuda as influências de várias pessoas sobre o indivíduo; além de
estudar um grupo de pessoas ou multidão. O interesse dessa ciência é estudar o
indivíduo como fazendo parte de um grupo, de uma profissão, de uma instituição ou
de um grupo de pessoas reunidas momentaneamente para atingir um determinado
objetivo. Isto porque o instinto social vem à luz nessas situações.
Mas o que a Psicologia Social tem a ver com a Psicologia de Grupo? Já foi dito
anteriormente que a segunda nasceu da primeira, além disso, Freud utiliza essas
expressões como sinônimas. Para este autor “a psicologia de grupo interessa-se
assim pelo indivíduo como membro de uma raça (...) ou como parte componente de
uma multidão que se organizam em grupo, numa ocasião determinada, para um intuito
definido” (p. 92).
Le Bon, citado em Freud menciona algumas características de um grupo. A
primeira delas diz respeito à “mente coletiva”, ou seja, a maneira de pensar e de agir
de uma pessoa é diferente de quando está no grupo. A tendência é se comportarem
de forma diferente.
Zimerman (2000) ampliou esta ideia e desenvolveu o que ele chamou de
“campo grupal”: num grupo os fenômenos encontrados são reflexos da interação entre
os participantes, e não uma somatória de cada um.
72

No grupo, o indivíduo tem um “sentimento de poder invencível”, segundo Le


Bon, citado em Freud. Seus instintos são aflorados às vezes até de forma
irresponsável. Além disso, há o fenômeno do contágio, que faz com que os
sentimentos e atos sejam contagiosos quando o indivíduo está no grupo. Muitas vezes
o interesse coletivo sobrepõe ao interesse individual.
Yalom (2006) faz menção a essa teoria do contágio, quando revela, a partir de
suas pesquisas, que uma parte dos pacientes que desistem da grupoterapia teme que
o sofrimento do outro os contagie de alguma forma.
Nesse sentido, os fenômenos inconscientes exercem mais influência que nossa
vida consciente. A maior parte de nossos comportamentos é regida pelas leis da
instância psíquica que não temos conhecimento – o inconsciente.
Outra característica evidenciada por Le Bon, citado em Freud refere-se aos
elementos heterogêneos do grupo. Pessoas com história de vida diferente reúnem-se
entre si, provisoriamente, porque possuem algum objetivo em comum. Por isso
mesmo devem estar ligadas por um elo.
Zimerman (2000) e Pichon-Rivière (1991) compartilham dessa ideia quando
classificam os grupos como homogêneos e heterogêneos. A primeira expressão
designa as características em comum encontradas nos membros do grupo, enquanto
que a segunda refere-se às características diferentes.
A necessidade de haver um líder no grupo já era um tema discutido por Le Bon,
citado em Freud. Este autor faz uma associação do grupo com um rebanho obediente,
o qual precisa de um pastor. Mas salienta que o líder deve ter algumas qualidades,
como “prestígio”, acreditar fielmente nas suas ideias, além de ser imponente.
McDougall, também citada em Freud dá sua contribuição quando afirma que
um grupo não é uma mera reunião de pessoas. Um grupo psicológico é formado de
pessoas que têm algo em comum, objetivos em comum e, principalmente, precisa
haver organização. Dessa forma, os grupos podem ser muito produtivos. O autor cita
como exemplo a criação de folclores e canções populares, produzidas por um grupo
de pessoas.
De uma forma ou de outra, as características descritas acima serviram de ponto
de partida para o desenvolvimento da técnica grupal a qual se apresenta hoje,
podemos dizer que tais ideias foram esculpidas e aprimoradas, pois não são
contrárias à literatura atual sobre grupos psicológicos.
73

CONCEITO DE GRUPO E DE CAMPO GRUPAL

CAMPO GRUPAL

http://www.mundodastribos.com/beneficios-da-terapia-em-grupo.html

É da natureza do homem interagir entre si. Para tanto, alguns conceitos


estudados nas relações humanas dizem respeito à interação social, comunicação e
grupo. A Psicologia Grupal apropria-se justamente desta necessidade que o indivíduo
tem de agrupar-se, inicialmente espontaneamente – família, grupo na escola, creche,
cursos, trabalho, clube, etc.
Segundo Zimerman (2000), “grupo” pode ser definido como um conjunto de
pessoas. Um conjunto de pessoas refere-se a uma “comunidade”, que por sua vez,
um conjunto de comunidades constitui uma sociedade.
Entretanto, o grupo que interessa (o grupo terapêutico) tem que ter alguns
requisitos, como salienta Zimerman (2006). Um simples aglomerado de pessoas não
forma um grupo propriamente dito. Este autor ilustra claramente essa concepção
quando compara um grupo com uma orquestra: antes de iniciar o concerto os músicos,
isoladamente, são simples músicos. Mas quando o maestro inicia a regência, a
orquestra se torna um grupo de fato, pois cada um tem seu papel, lugar e posição,
além de um objetivo em comum: tocar uma canção. Nesse mesmo sentido, um grupo
terapêutico possui um objetivo, uma tarefa a cumprir e uma organização própria.
Quando as pessoas estão num grupo forma-se o que Zimerman (2000) chama
de “campo grupal”, que constitui numa “estrutura que vai além da soma dos
componentes” (p. 84). É resultante de alguns fenômenos subjetivos que são reflexos
74

da interação de todos os membros. São eles: fantasias, mecanismos de defesas,


ansiedades, resistências, transferência e contratransferência, vínculos, etc.
Os fenômenos grupais acontecem em todos os grupos, espontâneos ou
terapêuticos. A diferença reside no fato de que no segundo há um coordenador
(terapeuta) que irá identificar e trabalhar tais fenômenos.
Vale ressaltar que o campo grupal refere-se à dinâmica de interação entre
todos os participantes e ao terapeuta. Entretanto, as identidades específicas de cada
membro precisam ser respeitadas.

A FAMÍLIA CONSIDERADA COMO GRUPO PRIMORDIAL

Embora não aja evidência científica de que a família nuclear (pai, mãe e
irmãos) seja considerada como o grupo primordial ou primeiro, uma associação com
o grupo terapêutico permite observar algumas semelhanças.
Em qualquer família, percebe-se que cada membro desempenha papel e
função definidos, assim como nos grupos terapêuticos.
A associação vai além e permite analisar que no grupo familiar há regras e
maneiras próprias de organização e funcionamento, muitas vezes implícitas. Estão
envolvidos sentimentos ambivalentes, como os de amor (segurança, aconchego,
carinho) e de ódio, ciúme, inveja, rivalidade e rejeição. As figuras, materna e paterna
constituem nos primeiros modelos de identificação para o indivíduo (RAVAZZOLA,
1997).
A família, para Osório (1997, p. 50) “é uma unidade grupal onde se
desenvolvem três tipos de relações pessoais – aliança (casal), filiação (pais/filhos) e
consanguinidade (irmãos)”. É uma instituição universal, presente em todas as culturas
e épocas históricas. O que varia com a contemporaneidade é a estrutura, formando
novas configurações. A família tradicional – pai, mãe e filhos – é cada vez menos
comum, ao passo que a união entre homossexuais, produções independentes, (re)
casamentos, adoções e filhos de casamentos anteriores são cada vez mais
frequentes.
De qualquer forma, destaca Zimerman (2000), a função da família é a de prover
a segurança, ou como ele mesmo diz: “função continente”. O cenário atual de
transformações não tem favorecido que a família cumpra sua função.
75

Segundo Zimerman (2000) o grupo familiar lembra não só a estrutura do grupo


terapêutico, mas também a relação que o paciente desenvolve com o terapeuta e vice-
versa. Assim, o campo grupal é constituído de sentimentos e de tipos de vínculos
muito semelhantes. Em Psicanálise chamamos de relações objetais: a forma com a
qual o indivíduo se relaciona com as pessoas em geral é influenciada por suas
vivências e experiências com as figuras infantis, inicialmente pai, mãe e irmãos e/ou
outros cuidadores (como avós, babás, etc.).
A função materna pode ser resumida pelo conceito de Winnicott, isto é, da mãe
suficientemente boa. Refere-se àquela mãe que é capaz de gratificar e de frustrar seu
bebê na medida certa. É aquela mãe que consegue prover as necessidades físicas e
emocionais – de alimento, calor, amor, carinho, ... Sua função é a de ser continente,
ou seja, acolher as angústias e ansiedades da criança e depois devolvê-la modificada.
Por outro lado, essa mãe pode frustrála na medida certa, sabendo estar ausente
(ZIMERMAN, 2000).
A função paterna, segundo Zimerman (2000), também é muito importante. Está
relacionada a proporcionar estabilidade, segurança e apoio à mãe, na tarefa de cuidar
e de educar a criança. É, especialmente, do pai a função de colocar limites, auxiliando
no processo de separação-individuação, necessária para o desenvolvimento saudável
do filho.
Quanto aos irmãos, estes também têm sua influência na dinâmica do grupo
familiar.
Para Zimerman (2000) é entre os irmãos que se experimenta a capacidade de
lidar com sentimentos ambivalentes, que são vivenciados em relacionamentos futuros.
Referem-se aos sentimentos fraternais, de cuidado, carinho e zelo com o irmão, assim
como também aos sentimentos marcados por rivalidade, ciúme e inveja.
CLASSIFICAÇÃO DOS GRUPOS
São amplas e ricas as possibilidades de grupo que fica difícil listar e definir
exatamente cada modalidade, mesmo porque muitas delas se entrelaçam ou se
complementam.
A seguir está descrita uma classificação proposta por Zimerman (2000, p. 90)
referente ao critério da finalidade. Eis a divisão:
76

TERAPÊUTICOS

GRUPOS OPERATIVOS

Segundo Pichon-Rivière (1991), o grupo operativo assemelha-se ao


funcionamento do grupo familiar (como também propõe Zimerman, 2000) e pode ser
77

definido como um “conjunto de pessoas reunidas por constantes de tempo e espaço,


articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe, implícita ou
explicitamente, uma tarefa que constitui sua finalidade” (p. 157).
Um dos objetivos da técnica dos grupos operativos, como sinaliza Pichon-
Rivière (1991) é o de auxiliar na minimização dos medos básicos e o de favorecer o
rompimento dos estereótipos que funcionam como barreira à mudança.
“A tarefa na terapia de grupo é se envolver em uma comunicação significativa
com os outros membros do grupo, revelar-se, dar feedback válido e examinar os
aspectos ocultos e inconscientes dos próprios sentimentos, comportamentos e
motivação” (YALOM, 2006, p. 197).
 Grupos operativos voltados ao ensino-aprendizagem. Zimerman (2000)
resume essa modalidade em “aprender a aprender” (p. 91). Parte-se do pressuposto
de que a finalidade é a de treinar o grupo para desenvolver uma tarefa comum.

 Grupos institucionais. Referem-se a grupos realizados em instituições


em geral. Nas empresas, o psicólogo organizacional desenvolve trabalhos com
colaboradores; nas escolas podem ser realizados grupos de pais, de alunos e/ou de
professores (ZIMERMAN, 2000).

 Grupos comunitários. Um exemplo clássico são os grupos na área de


saúde mental, como ilustra Zimerman (2000). Podem ser com adolescentes,
gestantes, líderes comunitários, etc.; de caráter preventivo, de tratamento ou
reabilitação.

É importante ressaltar que os grupos operativos também resultam em


benefícios terapêuticos.

GRUPOS TERAPÊUTICOS

 Grupos de autoajuda. Assim como os demais, essa modalidade grupal


apresenta benefícios terapêuticos. Segundo Zimerman (2000) possui esse nome
porque consiste de pessoas que apresentam o mesmo tipo de necessidades, isto é,
são considerados grupos homogêneos. Como exemplos há: alcoólicos anônimos (A.
A.), narcóticos anônimos (N.A.) e neuróticos anônimos (N.A.).
78

São grupos formados espontaneamente e que preservam o anonimato. A


característica fundamental, como ressalta Zimerman (2000) está na liderança do
grupo: “costumam operar sob a liderança de pessoas pertencentes a mesma categoria
diagnóstica dos demais integrantes e que passaram, ou estão passando, pelas
mesmas dificuldades e experiências afetivas destes” (p. 212).

 Grupos psicoterápicos propriamente ditos. Este item refere-se


basicamente ao enfoque teórico-técnico ao qual cada abordagem teórica está
fundamentada: psicanalítica, cognitivo-comportamental, psicodrama e sistêmica.

Tipos de grupos

 Homogêneo. Segundo Zimerman (2000) destina-se àquele grupo de


pessoas que possuem características comuns. São exemplos: grupos de obesos,
deprimidos, psicossomatizadores, etc.
 Heterogêneo. Refere-se a pessoas que tenham características
diferentes entre si. Por exemplo: um grupo formado por uma pessoa obsessiva-
compulsiva, outra histérica, e assim por diante.
 Aberto. Caracteriza-se por não ter um prazo para o término, além do que
permite que entrem e saiam pessoas do grupo.

 Fechado. Entende-se que as mesmas pessoas iniciam e terminam


juntas, com prazo definido, não podendo entrar novos membros.

Papéis nos grupos

Na nossa vida, costumamos desempenhar vários tipos de papéis: de mãe, de


filha, de profissional, etc. Essa natureza flexível, de mudança de papéis é um indicativo
saudável.
Em cada grupo que se forma, espontâneo ou terapêutico, percebe-se que cada
membro desempenha um papel ou uma posição diferente. Na maioria das vezes é
uma “escolha” inconsciente e que faz parte da configuração do campo grupal. Diz
Zimerman (2000) que “em cada papel se condensam as expectativas, necessidades
79

e crenças irracionais de cada um e que compõem a fantasia básica inconsciente


comum ao grupo todo” (p. 137).
O papel que o indivíduo desempenha no grupo geralmente é o mesmo
evidenciado na sua vida de forma geral: seja na escola, no trabalho, na família, numa
festa, etc. Nesse sentido, Zimerman (2000) e Pichon-Rivière (1991) apontam que,
muitas vezes, esses papéis são rígidos e estereotipados, funcionando, portanto, de
forma patológica. No processo terapêutico esses papéis devem ser identificados e
modificados, de forma que se tornem mais flexíveis, deixando sua natureza
patológica.
Os papéis mais comuns, encontrados na literatura, são os seguintes:
 Bode expiatório. É aquela pessoa que representa tudo o que é “ruim”,
os aspectos negativos de todo o grupo. É comum essa pessoa sair do grupo. Mas
Zimerman (2000) alerta para o fato de que tão logo o próprio grupo se encarregará de
encontrar outro. Por outro lado, pode ser que esse indivíduo permaneça no grupo,
servindo como o “bobo da corte”.
Portanto, é uma situação que deverá ser trabalhada pelo terapeuta.

 Porta-voz. Refere-se àquela pessoa do grupo que denuncia, que


comunica os sentimentos, necessidades, pensamentos e ansiedades inconscientes
do grupo.
Essa comunicação, segundo Zimerman (2000) pode ocorrer de várias formas.
Pode ser feita verbalmente, por meio de manifestos, reivindicações, contestações.
Mas pode ser também de forma não verbal, por meio de atuações, dramatizações,
silêncios, etc.
Para Pichon-Rivière (1991) o doente costuma ser o porta-voz das angústias e
conflitos do grupo. Inconscientemente, o grupo “elege” essa pessoa porque é
insegura, característica essa que tende a deixar o indivíduo paralisado e doente
(quando a natureza do papel for patológica).

 Radar. Esse papel costuma ser assumido por aquela pessoa do grupo
que capta, antes dos demais, os primeiros sinais de angústias e ansiedades do grupo.
Geralmente, esses conflitos são expressos por intermédio de abandono do
tratamento, somatizações e outras atuações; ou seja, de forma não verbal
(ZIMERMAN, 2000).
80

 Instigador. Executa o papel de instigador, conforme Zimerman (2000),


aquele membro do grupo que costuma fazer intrigas e que acaba perturbando o
campo grupal.

 Sabotador. Geralmente é um papel, segundo Zimerman (2000), que é


executado por pessoas invejosas e narcísicas, que procuram criar obstáculos e
prejudicam o bom andamento do grupo.
Para Pichon-Rivière (1991) o sabotador representa a resistência à mudança,
característica esta que faz parte de qualquer processo psicoterápico, seja ele
individual ou grupal.

 Apaziguador. É aquele papel conhecido como “colocar pano quente”.


Como afirma Zimerman (2000) é desempenhado por pessoas que apresentam
dificuldades de lidar com situações tensas, ou de agressividade.

 Líder. Finalmente, o papel de líder, que é, geralmente, o mais fácil de


identificar e é observável em todos os grupos.
Pichon-Rivière (1991) descreve quatro tipos de lideranças: autocrática,
democrática, demagógica e laissez-faire. A liderança autocrática é, costumeiramente,
executada por pessoas narcísicas, rígidas, cujos seguidores são pessoas inseguras e
dependentes. A democrática é aquele tipo de liderança considerada mais saudável,
uma vez que os papéis, funções e limites estão organizados. Já a do tipo laissez-faire
caracteriza-se pela ausência de agente continente para as angústias e ansiedades. E
por fim, a liderança demagógica, que consiste na figura de um líder que prega falsas
ideologias, permanecendo num discurso distante da prática.
Pichon-Rivière (2000) atenta para o fato de que o terapeuta também
desempenha um papel e posição no grupo, que pode ser diferente em cada grupo que
se forma. Por exemplo: um paciente emocionalmente fragilizado pode atribuir ao
terapeuta o papel maternal, isto é, de uma pessoa que provê a segurança de uma
mãe.
Esse papel orienta Pichon-Rivière (2000), pode ser de natureza boa (maternal,
paternal, etc.) ou má, nas situações em que predominam fantasias paranoides,
persecutórias, etc.
81

A tarefa do grupoterapeuta, como aponta Pichon-Rivière (2000) e Zimerman


(2000), é a de identificar e trabalhar esses papéis no grupo.

FIGURA – TÉCNICA GRUPAL

http://www.psicomed.net/Images/t_grupo.gif.

A FORMAÇÃO DE UM GRUPO

Conforme Zimerman (2000), qualquer que seja a finalidade de um grupo


terapêutico, seja em instituições públicas ou privadas, a formação desse grupo segue,
basicamente, quatro etapas: planejamento, encaminhamento, seleção e composição.
A primeira delas é o planejamento, que é indispensável para a obtenção de
bons resultados terapêuticos. Refere-se à base estrutural, que exige conhecimento
teórico-técnico prévio de quem irá conduzir o grupo.
Segundo Zimerman (2000) é importante avaliar e definir algumas questões,
sendo as principais:
• Quem será o coordenador?
• Qual a finalidade desse grupo?
• Qual a técnica mais adequada (psicanalítica, comportamental, sistêmica,
etc.)?
• Qual o tipo de grupo mais apropriado para essa finalidade (psicoterápico,
de autoajuda, de ensino-aprendizagem, etc.)?
• Quem são e quantas são as pessoas que participarão do grupo?
• Será um grupo homogêneo ou heterogêneo?
• Será aberto ou fechado?
• Como será feito o contrato (local, dia, horário, honorário, regras
específicas)?
82

Vale lembrar que um bom planejamento contribuirá significativamente para o


bom andamento do grupo.
A segunda etapa é o encaminhamento. Conforme Zimerman (2000) refere-se
à fase de divulgação do grupo que foi planejado. Na etapa anterior buscou-se ter claro
“para quê; para quem; como; onde; quando?” (p. 105). Pensando nas respostas para
essas perguntas é que o terapeuta saberá onde poderá encontrar os pacientes que
espera. É necessário ter, no mínimo, quatro pessoas para iniciar um grupo.
Assim, em se tratando de consultório particular, pode-se divulgar aos colegas
profissionais para que possam fazer os encaminhamentos. Quando se tratar de
instituições públicas, geralmente, já há uma fila de espera de pessoas aguardando
vaga. Portanto, torna-se uma tarefa mais simples, e então se passa para a etapa
seguinte.
A etapa da seleção deve ser realizada individualmente. Dependendo da
situação, os pacientes serão atendidos por algumas sessões para depois formarem
um grupo.
Na fase da seleção é ideal que se faça duas ou mais entrevistas psicológicas,
de modo que se possa ter uma avaliação da personalidade de cada paciente; e assim
analisar se poderá adaptar-se num determinado tipo de grupo. Esta etapa será
detalhada no item seguinte.
Finalmente a quarta etapa, que é a da composição do grupo propriamente
dito.
Zimerman (2000) denomina de “agrupamento”. Consiste em um “arranjo, um
‘encaixe’ das peças isoladas, sendo que no caso de uma grupoterapia se refere a uma
visualização de como será a participação interativa de cada um dos indivíduos
selecionados na nova organização gestáltica” (p. 107).

A SELEÇÃO DE PACIENTES

A indicação para psicoterapia de grupo deve ser feita com cautela. Nem todos
os pacientes podem se beneficiar dessa modalidade terapêutica. Uma seleção
acertada implicará em bons resultados.
Pesquisas revelam, segundo Yalom (2006), que a psicoterapia de grupo é tão
benéfica quanto à modalidade individual. Além disso, alguns benefícios podem ser
83

adquiridos mais com a terapia de grupo, principalmente aqueles relativos às questões


sociais, como melhorar as redes sociais e a aprendizagem social.
O trabalho em grupo tem seus benefícios peculiares que não são observados
na Psicoterapia Individual. Em algumas situações, como por exemplo, na dependência
química, a grupoterapia com os pacientes e com a família é muito eficaz. Diz
Ravazzola (1997, p. 301) que “a interação entre pares torna-se facilitadora da
mudança. Escutar um par não é o mesmo que um terapeuta. As pessoas se aliviam
ao descobrir que outros compartilham seu problema e que transitam por caminhos
semelhantes”.
Pichon-Rivière (1991) afirma que algumas características são universais, isto
é, fazem parte de todas as pessoas. São elas: medos básicos (perda e ataque);
sentimento de insegurança; fantasias básicas (doença, tratamento e cura) e
processos de aprendizagem e comunicação.
Nas instituições públicas (Sistema Único de Saúde), a exemplo das Unidades
Básicas de Saúde (UBS), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e Centro de
Referência da Assistência Social (CRAS), há uma tendência em se trabalhar com
grupos. A demanda de pacientes é muito grande, o que torna a fila de espera cada
vez maior. Em grupo, num mesmo espaço de tempo e por um mesmo profissional,
podem ser atendidas mais pessoas.
No caso dessas instituições, muitas vezes, o critério de seleção de pacientes
para a formação do grupo surge da necessidade de atender um número grande de
pacientes em um tempo menor, o que nem sempre vem de encontro com as
características individuais do paciente.
A grupoterapia não pode ser um mero aglomerado de pessoas, escolhidas
aleatoriamente. Precisa haver critérios seletivos.
Nessas situações, um trabalho anterior ao início do grupo pode ser o de
sensibilizar o paciente para essa modalidade, podendo atendê-lo individualmente por
algumas sessões até prepará-lo para o grupo.
Nas Unidades Básicas de Saúde, que têm por objetivo a atenção primária da
saúde, de caráter preventivo, alguns grupos temáticos são interessantes. O trabalho
em grupo de acordo com as fases do desenvolvimento, como crianças, orientação aos
pais, gestantes e idosos, por exemplo.
A formação dos grupos pode ocorrer também por patologias, como: grupo de
pacientes deprimidos, ansiosos, psicossomáticos, dentre outros. Outra modalidade de
84

trabalho com grupos pode ser numa perspectiva interdisciplinar, quando o psicólogo
atua junto aos demais profissionais da saúde. Como exemplo, temos: grupo de
hipertensos, diabéticos, obesos e dependentes químicos.
Yalom (2006) salienta que é muito difícil selecionar os pacientes mais indicados
para a grupoterapia, e já adianta que é mais fácil estabelecer critérios de exclusão do
que de inclusão. Mesmo porque existem vários tipos de grupos. Assim, determinado
paciente não está indicado para um tipo, mas pode estar para outro.
Um primeiro sinal de indicação parece ser a motivação e o desejo do próprio
paciente em ser atendido em grupo. Ao serem convidados, alguns costumam resistir
inicialmente, mas quando informados sobre o funcionamento do grupo podem sentir-
se estimulados; ao passo que outros podem se recusar a participar da modalidade
grupal. Alguns argumentam que não gostariam de expor sua vida e seus sentimentos
para outras pessoas. Outros se sentem ameaçados em dividir o terapeuta com outras
pessoas, pela sua personalidade narcísica. Outros ainda, de forma inconsciente,
sentem-se desencorajados por terem dificuldade de relacionamento.
Yalom (2006) recomenda que determinados tipos de pacientes não se
beneficiariam de um grupo do tipo heterogêneo. É o caso dos sociopatas,
dependentes químicos, psicóticos agudos, paranoides e aqueles com lesão cerebral.
Acrescentam-se ainda aqueles que não possuem disponibilidade para participarem
frequentemente das sessões.
Zimerman (2000) lista um grupo de pacientes que são contraindicados para a
terapia de grupo. São eles:
• Pessoas que não têm motivação ou interesse para mudanças internas.
• Pacientes que já interromperam tratamentos anteriores com razoável
frequência.
• Deficientes mentais graves.
• Pacientes que apresentam risco de suicídio.
• Quadros mais sérios de depressão, paranoia e narcisismo.

Segundo Yalom (2006), estudos sobre desistência de pacientes em


psicoterapia grupal revelam que o término prematuro é sempre indesejado, por isso
entender os motivos que os levam a abandonar a terapia auxilia no processo de
seleção mais acertada. Quando um membro sai do grupo já altera a dinâmica do
mesmo, que acaba resultando em prejuízo quanto aos benefícios terapêuticos. “O
85

desenvolvimento adequado de um grupo exige estabilidade de participantes, e uma


onda de abandono pode retardar a maturação de um grupo por meses” (p. 193).
Os estudos demonstram que os principais motivos de abandono do tratamento
são, conforme Yalom (2006):
Fatores considerados externos, tais como: dificuldade de horário, residência
em outra cidade, mudança, etc. Yalom (2006) alerta para o fato de que, quando a
justificativa dada pelo paciente é de ordem externa, é necessária uma análise mais
detalhada. Muitas vezes, o motivo externo pode estar a serviço de conflitos internos,
como por exemplo, mecanismo defensivo de negação, do qual o paciente tende a
evitar porque percebe algo no grupo como sendo perigoso.
 Desvios comportamentais no grupo. Yalom (2006) refere-se ao tipo
de paciente que não apresenta comportamento compatível com o grupo. Acrescenta
que é difícil definir um perfil desses pacientes, mas fala em características: pessoas
que não têm sensibilidade interpessoal, aquelas que não têm motivação interna para
o tratamento e que não participam das tarefas propostas. Outra característica citada
pelo autor diz respeito à classe econômica baixa e o que ele chama de pessoas com
inteligência inferior. Vale ressaltar que essa característica foi evidenciada nas
pesquisas de Yalom (2006), mas não pode ser generalizada para todos os pacientes
de baixa renda com ou pouca escolaridade.
 Problemas de intimidade. Os pacientes que apresentam maior
dificuldade com problemas de intimidade, como inibição, introversão, retraimento
social, características autistas ou personalidade esquizoide tendem a abandonar mais
facilmente um tratamento grupal, revela Yalom (2006). Quando a dificuldade é maior
que o desejo de mudança, essas pessoas costumam ser tomadas por uma ansiedade
de tal forma que bloqueiam no momento de falar.
 Medo de contágio emocional. Essa é uma questão muito difícil de ser
detectada logo nas entrevistas de triagem (seleção). Entretanto, nas pesquisas
realizadas por Yalom (2006), foi concluído que alguns pacientes tendem a abandonar
a grupoterapia porque têm dificuldade para ouvir o problema do outro e diferenciá-lo
de si mesmas. São pacientes que procuram evitar a proximidade de pessoas doentes
e até ouvir sofrimento de outros.
 Motivos por parte do terapeuta. Estão relacionados ao despreparo
teórico-técnico do profissional, como a dificuldade de manejar as situações de
conflitos no grupo; falta planejamento, falhas na seleção, dentre outras questões,
86

podem contribuir para que pacientes desistam. Vale ressaltar que, assim como na
terapia individual, conteúdos internos da dupla (paciente-terapeuta) estão em jogo.
Resumindo, os motivos citados anteriormente auxiliam o terapeuta a selecionar
melhor os membros para o grupo. Trata-se de critérios de exclusão. Nas palavras de
Yalom (2006): “a seleção de pacientes para a terapia de grupo, na prática é um
processo de exclusão: os terapeutas de grupo excluem certos pacientes da sua
consideração e aceitam todos os outros” (p. 208). O interesse e a disponibilidade são
os principais critérios de inclusão.

O CONTRATO TERAPÊUTICO

Assim como na psicoterapia Individual, na Grupoterapia também precisa haver


um contrato ou enquadre. É comum delimitá-lo juntamente com as pessoas do grupo,
pois diz respeito às questões práticas que visam manter uma organização. Deve-se
definir o local, horário, férias, duração do tratamento quando houver necessidade e
honorários do terapeuta (quando for o caso de consultório particular).
Pode-se também combinar com o grupo outras questões que possam contribuir
com o bom andamento da terapia, como o uso do celular, respeito a individualidade e
as diferenças, sigilo, etc.
É também chamado de enquadre (setting) grupal. Segundo Zimerman (1997),
referem-se ao conjunto de limites, regras e combinados que são realizados pelo
grupo. Serve não só para manter a organização, mas também como um fator
terapêutico, funcionando como “continente”.
Zimerman (1997) lista alguns elementos que precisam ser considerados:
• Homogêneo ou fechado.
• Aberto ou fechado.
• Número de pacientes. Para Zimerman (1997) seis pessoas é um bom
número, sendo quatro o mínimo e nove o máximo.
• Sexo e idade. Zimerman (1997) relata que não há regra. Entretanto, um
grupo misto quanto ao gênero parece ser mais vantajoso. E quanto à idade, o ideal é
que a diferença não seja tão grande.
• Número de sessões por semana e tempo de duração da sessão.
Dependerá do referencial teórico-técnico do profissional.
87

• Tempo de duração do grupo. Irá variar conforme o tipo de grupo. Se for


aberto, terá o que Zimerman (1997) denominou de “duração ilimitada”; e se for
fechado, “duração limitada”.
• Participação do coterapeuta ou supervisor. É aquele profissional,
segundo Zimerman (1997) que assume o papel de observador do grupo. Ele intervém
pouco e deve estar em sintonia com o outro terapeuta. O autor destaca que essa
técnica costuma apresentar bons resultados nos casos de grupos com crianças,
adolescentes e famílias.
• Entrada de um novo elemento. Zimerman (1997) orienta que convém
pedir a autorização prévia para os demais do grupo. Afinal, sua entrada precisa ser
receptiva.
• Outras combinações, caso sejam necessárias.

Assim como na terapia individual, os fenômenos da: resistência, transferência,


contratransferência, comunicação e interpretação são aspectos a serem discutidos
em uma grupoterapia de base psicanalítica. São aspectos referentes à técnica.
Entretanto, vale lembrar que um grupo não significa uma mera junção de
pessoas; portanto não é somente fazer uma simples transposição da técnica, da
natureza individual para a coletiva.

MANEJO DAS RESISTÊNCIAS

Consideram-se resistência todos os elementos que atrapalham o bom


andamento da grupoterapia. Zimerman (1997) alerta para que o profissional possa
analisar se a resistência é individual ou possui caráter coletivo.
São algumas situações de resistência, conforme Zimerman (1997):
• Faltas;
• Atrasos;
• Solicitações de mudança de horário;
• Longos silêncios;
• Combinados de não falar em determinado assunto;
• Solicitação por terapia individual;
• Dificuldades com honorários, etc.
88

Quanto aos motivos principais, para Zimerman (1997), que possam evocar as
resistências, podem ser:
• Medo do desconhecido;
• Medo da humilhação;
• Vergonha;
• Presença da inveja;
• Medo da depressão;
• Falhas técnicas do terapeuta.

Muitas vezes, a resistência se expressa mediante aos papéis desempenhados


pelas pessoas no grupo, especialmente representadas pelo sabotador, monopolizador
e silencioso.
Quanto à técnica, Zimerman (1997) recomenda que o primeiro passo seja a
identificação e compreensão das resistências. O segundo é avaliar se a resistência é
individual ou coletiva. No terceiro passo, o terapeuta deverá assinalar ao grupo a
função da resistência. E, por fim, cabe ao profissional analisar as suas próprias
resistências quanto ao grupo.

TRANSFERÊNCIA E CONTRATRANSFERÊNCIA

É uma técnica que já foi abordada no módulo II deste curso. Recapitulando, a


transferência refere-se aos sentimentos do paciente em relação ao terapeuta, e a
contratransferência, do terapeuta em relação ao paciente. Neste caso, o paciente é o
grupo. Tais sentimentos podem ser positivos ou negativos.
Na Psicoterapia de Grupo a técnica adapta-se ao caráter coletivo. Zimerman
(1997) aponta que os fenômenos da transferência devem ser analisados e
identificados sob vários vértices:
• Do indivíduo para o grupoterapeuta;
• Do grupo para o terapeuta;
• Entre os membros do grupo;
• Do indivíduo para o grupo.

Já o fenômeno da contratransferência consistirá na avaliação feita pelo


grupoterapeuta sobre quais sentimentos o grupo lhe desperta. Para tanto, a
89

supervisão clínica e a análise pessoal são ferramentas indispensáveis para identificar


e manejar tais sentimentos.

COMUNICAÇÃO

Zimerman (1997) afirma que as dificuldades encontradas no processo da


comunicação numa terapia de grupo ficam mais evidentes do que na terapia
individual. Uma análise deste fenômeno permite observar que a forma de
comunicação tende a revelar sobre a patologia de cada um. A fala do obsessivo-
compulsivo é mais detalhista, a do histérico é exagerada. A do narcisista é arrogante,
já a do fóbico tende a ser evitativa.

INTERPRETAÇÃO

É especialmente pela técnica que ocorre a cura propriamente dita. Digo


“especialmente” porque ela não é a única ferramenta. Além dela, há também:
assinalamento e pontuação.
Zimerman (1997) reporta-se à técnica de grupo inicial, mas avisa que sua
experiência permite fazer algumas modificações. Anteriormente, orientava-se que não
era adequado interpretar referindo-se individualmente aos membros; era melhor que
evitasse fazer interpretações relacionando aos fatos infantis e que essa técnica
deveria ser feita com base no “aqui-agora”.
A técnica atual, proposta por Zimerman (1997), permite algumas modificações,
como:
• Nomear os indivíduos do grupo, desde que seja assunto comum ao
grupo;
• Não é necessário interpretar apenas no “aqui-agora”;
• Uso de assinalamentos, pontuações e clareamentos para se referir as
formas de comunicação, aos papéis desempenhados pelos indivíduos no grupo e as
percepções de fatos;
• Interpretação dos papéis estereotipados e rígidos no grupo e que são
repetidos na vida em geral;
• Assinalamento de questões contratransferenciais.
90

TÉRMINO E RESULTADOS TERAPÊUTICOS

O término pode significar duas situações, como aponta Zimerman (1997): pode
ser que o grupo todo encerre, seja pelo que ficou estabelecido no contrato, seja por
outros motivos (grupo fechado), mas pode ser também que o término seja individual,
isto é, que uma pessoa conclua sua participação no grupo (são situações comuns de
grupos abertos).
Zimerman (1997) prefere falar em “crescimento mental” do que em “cura”, pois
o segundo é um termo da Medicina, e está mais associado com a supressão de
sintomas. Espera-se que, ao final da grupoterapia, possam ser identificadas algumas
mudanças psíquicas. Dentre elas, destacam-se:
• Maior flexibilidade dos papéis estereotipados e rígidos;
• Melhor possibilidade de interação com outras pessoas;
• Melhor habilidade de comunicação;
• Minimização das ansiedades paranoides e depressivas;
• Capacidade para fazer diferenciação entre si e dos outros;
• Capacidade de ser “continente”.
Cada membro poderá se beneficiar de formas diferentes. Entretanto, as
experiências vividas no grupo devem favorecer o indivíduo a “adquirir liberdade para
fantasiar, desejar, sentir, pensar, comunicar, sofrer, gozar e estar junto com os outros”
(ZIMERMAN, 1997, p. 142).

PERFIL DO GRUPOTERAPEUTA

O profissional que exercita qualquer modalidade psicoterapêutica deve ter em


mente que está lidando com “relações humanas”. Relacionar-se implica na presença
de outro, que possui seus próprios sentimentos, dores, dificuldades, crenças, etc.,
além de lidar com seus próprios sentimentos e conflitos. A Psicanálise valoriza um
pressuposto fundamental: o de que os sentimentos da dupla (paciente-terapeuta ou
grupo) estão em jogo.
Sendo assim, falar de técnica em grupoterapia também remete a abordar o
perfil do profissional. Zimerman (1997) utiliza a expressão “coordenador” para se
referir ao grupoterapeuta, e acrescenta que é uma figura importantíssima no processo
91

terapêutico, já que é a pessoa que conduz. O coordenador representa a figura de


transferência, motivada pelas expectativas de cada membro do grupo.
Sendo tão importante, é esperado que o coordenador possua alguns atributos
desejáveis e/ou indispensáveis. Isso não significa que deva ser uma pessoa “perfeita”,
afinal de contas também é provido de sentimentos, sofrimentos e dificuldades. Espera-
se que tenha minimamente se submetido à experiência de análise pessoal e uma
maior maturidade emocional.
Zimerman (1997) destaca alguns atributos, uma parte indispensável e outra
desejável, os quais se esperam do terapeuta de grupo. Dentre eles:
• Gostar e acreditar em grupos;
• Ser verdadeiro;
• Coerente;
• Ético;
• Respeitoso;
• Paciente;
• Continente;
• Função de pensar;
• Comunicativo;
• Empático;
• Senso de humor.

Finalizando, a regra fundamental e indispensável para o profissional consiste


no clássico “tripé”: conhecimento teórico-técnico, supervisão com um profissional mais
experiente e análise pessoal.

PSICOTERAPIA BREVE

HISTÓRICO

De acordo com Braier (2000) a Psicoterapia Breve surgiu principalmente da


necessidade da crescente demanda das pessoas que precisavam de atendimento e
da quantidade insuficiente de terapeutas, especialmente em hospitais e centros de
saúde. Além disso, muitos dos que procuravam ajuda terapêutica eram pessoas de
92

poucos recursos econômicos, e, portanto, que não tinham condições financeiras para
arcar com despesas numa terapia em longo prazo. Tal terapia caracteriza-se por ter
objetivos limitados, é bastante interpretativa ou de insight, e é empregada em pessoas
com capacidade egoica suficiente para serem tratadas por ela.
Contextualizando a Psicoterapia Breve em sua evolução histórica, os primeiros
trabalhos referentes a essa terapia se deram logo no início dos estudos de Freud, por
ele mesmo: “...na etapa pré-analítica e no começo da analítica eram, de certo modo,
terapias breves, pois duravam só alguns meses” (BRAIER, 2000, p. 09). Freud estava
empenhado em encontrar curas rápidas para a solução de alguns conflitos e sintomas.
Mas, gradualmente, o tratamento foi se tornando mais prolongado. Ao mesmo tempo,
outros autores (como S. Ferenczi, O. Rank, e posteriormente T. French e F.
Alexander) desenvolvem estudos referentes à Psicoterapia Breve.
Segundo Braier (2000), a partir da década de 80, surgiu a necessidade de
recorrer a psicoterapias. Devido a dificuldades financeiras e de tempo, as pessoas
sentiam necessidade de uma psicoterapia menos custosa que a análise, tanto em
dinheiro quanto em tempo.
Segundo Braier (2000) Freud, numa conferência em Budapeste, em 1918,
adiantou-se a fatos que posteriormente resultariam nas chamadas psicoterapias
breves. Freud falou da importância de desenvolver tratamentos breves para que um
número maior de pessoas se beneficiasse da assistência psicológica, especialmente
que fossem criados estabelecimentos estatais, para que o serviço psicológico fosse
gratuito. Nessa perspectiva, Freud aponta a necessidade de modificar a técnica a ser
utilizada nas psicoterapias breves.

CONCEITO

A psicoterapia breve, segundo Knobel (2002), é uma espécie de Psicanálise


condensada, cujo tempo e objetivos são limitados. Trata-se de uma psicoterapia com
objetivos mais modestos.
Braier (2000) prefere usar o termo “Psicoterapia Breve de Orientação
Psicanalítica”. Primeiro porque, a denominação “Psicoterapia Breve” implica em dizer
que a terapia é breve. E este autor aponta que ela é breve apenas do ponto de vista
do terapeuta e quando comparada ao tratamento psicanalítico. Braier fundamenta-se
no referencial psicanalítico.
93

Os termos “Psicoterapia breve” e “Psicoterapia focal” são usados como


sinônimos por Knobel (1986), que conclui: “o máximo no mínimo de tempo”. D. Malan,
considerado o pai da “Psicoterapia Focal”, também concorda que são sinônimos.
Além do fator tempo, o foco é um dos elementos que melhor caracterizam as
terapias breves. O foco, que se refere basicamente à queixa trazida pelo paciente, diz
respeito ao objetivo, que acaba sendo o centro do tratamento e não pode ser perdido
de vista.
Nas palavras de Knobel (1986, p. 13): A Psicoterapia breve se apoia para
ajudar o indivíduo humano a ter uma real visão de suas dificuldades, uma verdadeira
apreciação de seus problemas e um ponto de referência para correções positivas de
uma conduta que resulta de um funcionamento psicológico perturbado.
Alguns autores são referências em Psicoterapia Breve, sendo eles: M. Knobel,
H. Fiorini, D. Malan, M. Balint, E. Braier.

FUNDAMENTOS TEÓRICO-TÉCNICOS

Na Psicoterapia Breve de Orientação Psicanalítica, para Braier (2000), são


trabalhados: o inconsciente, conflitos psíquicos, mecanismos de defesas, sonhos,
transferência, resistência, e outros, assim como na Psicanálise. Entretanto, há
diferenças entre a Psicanálise e a Psicoterapia Breve. As diferenças podem ser
agrupadas em três aspectos:

1) fins terapêuticos,
2) temporalidade,
3) técnica.

No que se refere aos fins terapêuticos, de acordo com Braier (2000), a


Psicanálise tem como meta tornar consciente o inconsciente. Tal meta implica numa
reconstrução da estrutura da personalidade do analisando, que por sua vez envolve a
resolução de conflitos mediante a elaboração, acarretando bem-estar ou alívio dos
sintomas.
Já na Psicoterapia Breve, como afirma Braier (2000), os objetivos precisam ser
limitados. Tem como meta principal a superação dos sintomas e problemas atuais da
realidade do paciente, de modo que este possa enfrentar adequadamente situações
94

conflitivas. Tal meta implica em que o paciente deve ter um princípio de insight a
respeito de seus conflitos. Nesse sentido cabe dizer que nem todas as pessoas podem
se beneficiar da Psicoterapia Breve, mas sim aquelas que possuem boa capacidade
de insight.
No que diz respeito à temporalidade, Braier (2000) assinala que a duração do
tratamento na Psicanálise não é predeterminada, e pode se prolongar por anos. Na
Psicoterapia Breve é determinada previamente, e em geral leva alguns meses. Diz-se
que há um início, meio e fim previamente determinados, realidade esta que tanto
analista quanto analisando devem lidar.
E com relação à técnica, Braier (2000) faz menção a alguns fenômenos
psicoterapêuticos: os conflitos psíquicos; regressão, neurose de transferência e
transferência; resistência; insight e elaboração; fortalecimento da função egoica.
Na Psicanálise “as situações conflitivas atuais do indivíduo estão relacionadas
a conflitos infantis, dos quais, em realidade, decorrem”. (BRAIER, 2000, p. 22). E no
tratamento psicanalítico o analisando reviverá seus conflitos infantis, por meio da
transferência, e serão analisados profundamente até ser elaborado. Na Psicoterapia
Breve há primeiramente uma escolha dos conflitos a serem trabalhados, de acordo
com sua urgência. Tais conflitos serão os focos do tratamento, sendo que não é
possível aprofundar em elementos mais primitivos de modo que não mobilize o
analisando em demasia.
Conforme Braier (2000) a regressão é o processo no qual o indivíduo se reporta
a etapas anteriores de seu desenvolvimento para reviver seus conflitos infantis. Esse
processo é muito importante no tratamento psicanalítico, uma vez que consiste numa
etapa para elaboração dos conflitos atuais. A neurose de transferência “é a
reprodução da neurose infantil na relação com o analista” (BRAIER, 2000, p. 26). E a
transferência é o processo no qual os desejos inconscientes se atualizam sobre certos
objetos, na relação analítica.
Braier (2000) assinala que na Psicoterapia Breve deve-se evitar o
desenvolvimento da regressão, da neurose de transferência e da transferência. Tais
mecanismos terapêuticos não constituem como objetivos neste tipo de tratamento, na
medida em que o objetivo é resolver conflitos atuais do indivíduo.
De acordo com Braier (2000), no tratamento psicanalítico, a resistência refere-
se aos diversos obstáculos que o analisando opõe ao tratamento. Na Psicoterapia
95

Breve surgem resistências também, entretanto a interpretação das mesmas não pode
assumir um caráter intenso como na Psicanálise, em função da limitação do tempo.
É importante também discorrer sobre insight e elaboração. No tratamento
analítico Insight é “... a aquisição do conhecimento da própria realidade psíquica”.
(Grinberg, citado em Braier, 2000, p. 30). Trata-se de uma compreensão no sentido
intelectual e afetivo, do contato com os aspectos inconscientes.
A finalidade das interpretações do analista, que são, por excelência, seu
instrumento terapêutico, é promover o insight dos conflitos no paciente (BRAIER,
2000, p. 30).
A elaboração, segundo Braier (2000), é o processo no qual o paciente descobre
as conotações do insight. Isto é um trabalho exaustivo, que demanda tempo, implica
em regressão e superação das resistências do paciente. Desse modo, na Psicoterapia
Breve, tanto o insight quanto a elaboração ocorrem, mas de forma restrita e menos
profunda se comparada ao tratamento analítico. Além do mais o insight se dá muito
mais a nível intelectual que afetivo.
Considero que a aquisição de insight por parte do paciente, por meio de
interpretações do terapeuta, seja a forma mais apreciada de se conseguir o
fortalecimento de seu ego (BRAIER, 2000, p. 34).
Entretanto, conforme Braier (2000), esta não é a única maneira de ativar as
funções egoicas. Há também outra, que se baseia no apoio. Na Psicoterapia Breve,
algumas vezes é necessário utilizar de técnicas de apoio, especialmente quando a
função egoica do paciente está bastante debilitada e este não consegue suportar uma
terapia interpretativa.
Na Psicoterapia Breve o tempo é limitado, o que faz com que os objetivos
também o sejam, caracterizando-se como as necessidades mais ou menos imediatas
do indivíduo, com o que se apresentar com mais urgência e/ou importância, almejando
o fortalecimento e ativação de suas funções egoicas para que ele consiga recuperar
seu autodesenvolvimento e solucionar seus conflitos (BRAIER, 2000).
Faz-se necessária a delimitação de um ou dois focos prioritários de
dificuldades, sendo que a solução fará com que o indivíduo se fortaleça
emocionalmente. Segundo Braier (2000), em Psicoterapia Breve “... se tenta
basicamente delimitar zonas da problemática geral do paciente e/ou dos episódios de
sua vida, dirigindo preferencialmente para aí, a partir desse momento, a exploração
terapêutica” (p. 42).
96

Diante dessas colocações vale dizer que a cura nunca se realiza durante o
tratamento. Segundo Braier (2000) “... um tratamento curto adequadamente
conduzido pode desencadear, a partir da solução de um aspecto do problema do
paciente, um processo evolutivo, uma reação em série, que com o avançar dos anos
promova uma mudança interior...” (p. 54). É nesse sentido que se pode falar em
fortalecimento e ativação de funções egoicas para autodesenvolvimento interior.
É valido dizer que a Psicoterapia Breve recebe muitas críticas, até mesmo
dentro da área psicanalítica. Birman (2000) diz que se não houvesse o tratamento de
curto prazo, as pessoas com perturbações psíquicas se entregariam a tratamentos
psicofarmacológicos, sendo esquecida, dessa maneira, sua subjetividade e
individualidade. “Com efeito, é preferível que as individualidades possam ser
simbolicamente reconhecidas como subjetividade, mediante as psicoterapias breves,
do que serem reduzidas à brutalidade de sua condição animal, pelo tratamento
psicofarmacológico...” (p. 16).
Além de tudo isso, existe a relação entre tempo e subjetividade, a qual sofreu
influências das novas tecnologias de comunicação, da nova forma de existência.
Atualmente as pessoas são induzidas a agir de forma rápida, diferentemente do que
ocorria há algumas décadas, quando as pessoas podiam permanecer em
intermináveis reflexões. Vale dizer também que essas pessoas que se entregavam a
reflexões profundamente intermináveis e relegavam a ação em si, a segundo plano
acabavam se tornando obsessivas em função do investimento narcísico que faziam.

Braier (2000, p. 33), afirma que Devemos ativar muito especialmente as


funções egoicas do paciente essenciais para o trabalho terapêutico, tais como, a
percepção, a atenção, a memória, etc., ativação que adquire muita importância porque
acelera e facilita o caminho em direção ao insight.
É importante ressaltar, que ao se falar em fortalecimento egoico, entende-se
que um trabalho neste sentido, com um embasamento psicanalítico, tem como
objetivo desenvolver recursos egoicos para que o próprio paciente tenha insights,
considerando que toda a relação está permeada de conteúdos latentes, para que não
se “caia na armadilha de um trabalho superficial”, que ao invés de promover a
autonomia do paciente, acabe formando uma relação simbiótica, na qual o paciente
não entra em contato com os sentimentos que permeiam determinados conflitos.
97

Segundo Dolto, in Mannoni (1983), a relação psicoterápica permitirá que as


“forças emocionais encobertas, em jogo conflitvo”, encontre uma saída, ou seja, a
descoberta de processos inconscientes contribui para que o paciente perceba o que
está limitando sua liberdade. Entendendo, que esta liberdade significa o indivíduo
conseguir ser criativo, e não apenas submisso às exigências, livre da dependência do
desejo de outrem, conseguindo comunicar os seus sentimentos, amar e ser amado,
enfrentar frustrações e as dificuldades cotidianas. Assim, estamos entendendo saúde
mental, não enquanto um processo de adaptação, mas enquanto possibilidade
criadora, na qual o paciente consiga transitar na relação dialética princípio da
realidade versus princípio do prazer, com certa maleabilidade.
Entendendo que a relação terapêutica, na maioria das vezes, acontece a nível
inconsciente, é fundamental que o psicoterapeuta faça supervisão e análise pessoal,
para que esteja conseguindo amadurecer enquanto pessoa, e enquanto profissional,
considerando que estes estão intimamente ligados. Na Psicoterapia Breve, é
importante que o psicoterapeuta perceba algumas limitações que o aspecto tempo
coloca, pois pode ocorrer deste desejar inconscientemente mobilizar alguns conflitos
que não seriam viáveis trabalhar numa Psicoterapia Breve. Percebe-se a importância,
de estar entrando em contato com alguns conteúdos latentes que estão permeando o
trabalho, e que se referem 123 ao desejo do próprio terapeuta, conteúdos estes que
não favorecem nem o crescimento do terapeuta, nem do paciente.
Identificar as diferenças entre Psicanálise e Psicoterapia Breve é indispensável
para aplicar adequadamente a técnica. No quadro abaixo estão descritas as principais
diferenças:
98

Técnica Psicanálise Psicoterapia Breve

Fins terapêuticos A exploração do inconsciente. Limitados. Superação


Resolução de conflitos básicos de sintomas e
e seus derivados. problemas
Reestruturação da atuais.
personalidade.

Duração Prolongada. Indeterminada. Limitada.

Trabalhos com os Refere-se especialmente aLimita-se


conflitos conflitos básicos. ohabitualmente a
sconflitos derivados.
Regressão São favorecidas. Não são favorecidas.
Dependência
Desenvolvimento e Sim. Não.
análise
da neurose de
transferência.
Análise de resistência Intensiva. Limitada.

Insight Sim. Sim. Limitado. Mais


cognitivo que afetivo.
Elaboração Sim. Não. Processos
geradores de
mudanças.
Fortalecimento e Não (ou muito pouco). Sim.
ativação das funções
egoicas.
Focalização Não. Sim.

Multiplicidade dos Não. Sim.


recursos terapêuticos
Planejamento Não. Sim.

FONTE: Braier, 2000.


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INDICAÇÕES

Braier (2000) recomenda que a Psicoterapia Breve poderá ser indicada em


várias situações. Vejamos algumas delas:
• Situações referentes aos ciclos de vida, tais como casamento,
maternidade, menopausa, aposentadoria, etc.
• Fatos traumáticos como o luto, separações, desemprego, acidentes,
dentre outros.
• Enfrentamento de doença, hospitalização e processo cirúrgico.
• Tratamento de neuroses.

Já em relação ao tipo de paciente, o ideal, segundo Braier (2000, p. 209) seriam


aquelas pessoas que possuem:
A) Força e plasticidade do ego, com funções em bom estado.
B) Alto grau de motivação para o tratamento.
C) Capacidade de insight.
D) Determinação e boa delimitação focal desde o início.

Em contrapartida, seriam contraindicados, de acordo com Braier (2000),


aqueles casos mais graves, como: psicopatia, borderline, perversões e casos graves
de psicoses.
É importante considerar que a Psicoterapia Breve, assim como as demais
psicoterapias, não é indicada para todas as pessoas. Nesse sentido é necessário ser
feito um processo psicodiagnóstico de modo a indicar quais pessoas podem se
beneficiar da psicoterapia Breve, ou não. E mais, qual o direcionamento do trabalho a
ser dado no tratamento.
Por outro lado, Braier (2000) considera que em muitas situações a Psicoterapia
Breve visa atender mais a uma questão de ordem assistencial, no sentido de que há
pessoas que não podem custear seu tratamento. É o caso de pacientes atendidos
pelo Sistema Único de Saúde (SUS), através de instituições públicas, Organizações
Não Governamentais (ONGs) e até mesmo as chamadas clínicas-escola, isto é, as
clínicas de Universidades.
Nesse sentido, Braier (2000) aponta que quase todas as pessoas têm indicação
de Psicoterapia Breve, mesmo sendo grave sua doença. Entretanto faz uma ressalva:
100

“desde que se recorra, com critério e segundo cada caso, à técnica interpretativa e à
de fortalecimento do ego” (p. 207).
De qualquer forma, é importante considerar que nem todos os tipos de
pacientes apresentarão bons resultados terapêuticos.

TÉCNICA

O FATOR TEMPO
A essência da Psicoterapia Breve está justamente na brevidade de um
tratamento psicológico, isto é, o fator tempo. Por esse motivo este tema merece um
destaque especial.
Na Psicanálise a questão do tempo e da frequência das sessões são fatores
que estão associados e consistem na essência deste método científico. Na era pós-
Freud aspectos econômicos e de tempo foram se contrapondo com a Psicanálise,
dando origem às psicoterapias breves.
Neste cenário, Birman (2000) levanta a indagação de como é possível tratar de
questões subjetivas em um curto espaço de tempo? Para este autor, a experiência
psicanalítica exige uma posição estratégica do tempo para a subjetividade, portanto,
um longo tempo e maior frequência semanal seriam condições para bons resultados
terapêuticos. Ele compara a Psicoterapia Breve com a ponta de um iceberg, o que
significa que, assim como no iceberg, o que fica dentro da água é a maior parte dele,
no processo terapêutico breve poderá ser tratado apenas uma parte dos conteúdos
psíquicos.
Os processos subjetivos também foram se transformando com o tempo, assim
como os valores, crenças e modos de vida. Pensando assim, é que, segundo Birman
(2000), justificam-se as Psicoterapias Breves, que entraram em cena enquanto
possibilidade terapêutica, por diversas razões. Inicialmente por questões de ordem
econômica e de tempo, especialmente nos campos da Psiquiatria e da Psicologia
Clínica (décadas de 1950 e 1960).
Os hospitais e outras instituições de saúde foram crescendo, principalmente na
área pública, mantidas pelo Estado. A proposta da Psicanálise foi ficando inviável para
muitas pessoas, principalmente em função do alto custo financeiro e de ser um
tratamento longo. Nos setores públicos o Estado não conseguia manter o tratamento.
Dessa forma, a Psicoterapia Breve vem para atender a essa demanda.
101

Inicialmente, a Psicoterapia Breve era conhecida como um tratamento inferior


quando comparada à Psicanálise. Diz Birman (2000) que os psicanalistas eram
considerados como verdadeiros analistas e os demais como pseudoanalistas. É como
se a Psicanálise fosse privilégio para as pessoas de classe alta e as demais
psicoterapias, de segunda linha.
Entretanto, aponta Birman (2000) que nas décadas de 1960 e 1970 havia
críticas em relação à longa duração de um tratamento psicanalítico; questionava-se,
inclusive, se era eficaz permanecer tanto tempo em análise.
É importante mencionar que a grande frequência das sessões semanais na
Psicanálise tem motivo de ser. Para Freud o intervalo longo entre uma sessão e outra
poderia aumentar as resistências no paciente.
Voltando a eficácia terapêutica, segundo Birman (2000), trata-se de um assunto
complexo e polêmico. “O que pode ser eficaz, num certo ponto de vista, não é o
mesmo que é valorizado num outro, na análise dos efeitos terapêuticos de certo
procedimento” (p. 17). Além disso, temos que considerar as expectativas e ambições
do próprio paciente. Muitas vezes, suas ambições em tratar seus conteúdos internos,
em falar de sua subjetividade são mais modestas que a proposta da Psicanálise. O
valor que cada pessoa atribui a sua subjetividade pode ser diferente.
Atualmente, além dos espaços públicos de tratamento de saúde mental, há
também os convênios de saúde que funcionam como um terceiro na relação
terapeuta/paciente. Estas instituições delimitam o número de sessões e a duração do
tratamento, tornando um padrão único para todos os pacientes, independente de suas
necessidades, patologias e benefícios terapêuticos. Nesse sentido, Birman (2000)
afirma que a frequência semanal das sessões acabou se tornando uma espécie de
“instituição”, já que satisfaz mais as necessidades da própria instituição do que as do
paciente.
Finalizando, é importante considerar ainda que diversas mudanças ocorreram
dos tempos de Freud até os dias atuais. O processo da globalização, a inclusão digital
e o mundo do trabalho agitado levaram a uma aceleração do tempo, fazendo com que
as pessoas tenham pressa. Consequentemente, os pacientes e as patologias também
mudaram. São marcadas por patologias narcisistas e pelo vazio mental. Este cenário
requer uma (re)leitura dos processos subjetivos.
102

A AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA E O CONTRATO TERAPÊUTICO

Na Psicoterapia Breve o primeiro passo diz respeito ao psicodiagnóstico, assim


como nas demais psicoterapias. Segundo Braier (2000), o processo avaliativo
consiste em entrevistas, 129 testes psicológicos e entrevista devolutiva. Tem como
objetivos principais: a construção da aliança terapêutica, o diagnóstico e prognóstico
e a formulação do plano terapêutico. Faz parte também desse processo o
estabelecimento do contrato terapêutico, ocasião em que é explicado ao paciente
sobre o método de trabalho e a duração do tratamento. É também o momento onde é
eleito um foco de trabalho.
O estabelecimento da aliança terapêutica, conforme Braier (2000) inicia-se já
nas primeiras entrevistas, isto é, nos primeiros contatos paciente/terapeuta, e é
condição essencial para qualquer tratamento. Nesse primeiro momento, Braier (2000)
recomenda informar diretamente ao paciente sobre os objetivos iniciais – que são de
avaliação e delineamento do contrato -, bem como dos passos a serem dados no
decorrer do tratamento.
A postura do psicólogo, na Psicoterapia Breve e já nas entrevistas, como
aponta Braier (2000), é mais ativa. Em alguns momentos é ele quem dirige a
entrevista, seja formulando questões para fins diagnósticos, ou até mesmo
assinalando e interpretando. Vale ressaltar que a técnica da interpretação precisa ser
usada com muita cautela e segurança, especialmente no início do tratamento.
Nesse sentido, Braier (2000) orienta usá-la basicamente em três situações:
1) Quando surgirem obstáculos que possam culminar com a interrupção do
tratamento;
2) Na entrevista devolutiva, quando o psicólogo fornecer uma visão geral do
caso; e/ou
3) Com a finalidade de avaliar a capacidade de insight do paciente.
Ainda quanto às entrevistas, Braier (2000) afirma que é fundamental realizar
uma boa anamnese, a fim de colher dados necessários para a história clínica do
paciente. Detalhar o motivo da consulta é valiosíssimo, uma vez que na grande
maioria das vezes está relacionado ao foco de trabalho que será eleito para o
tratamento.
Delimitar um foco ou a situação-problema não é tarefa fácil, pois muitos
pacientes como aponta Braier (2000), apresentam patologias mais generalizadas, que
103

muitas vezes estão relacionadas a vários aspectos. Torna-se, portanto, difícil de


eleger um ponto de urgência. Em contrapartida, outros pacientes apresentam quadros
mais focais, mais fáceis de serem delimitados. É o caso de quadros agudos, tais como
eventos traumáticos, depressões, luto, processo de internação ou surgimento de
doença, etc.
Em relação ao que avaliar num psicodiagnóstico em Psicoterapia Breve, alguns
pontos, segundo Braier (2000), merecem destaque. Trata-se de critérios mínimos que
precisam ser considerados para indicação ou contraindicação para essa modalidade
de psicoterapia. O resultado satisfatório do tratamento depende disso.
Um ponto refere-se à avaliação das funções básicas do ego do paciente, isto
é, pensamento, atenção, percepção, fala, memória, etc. Um paciente com ego muito
desestruturado dificilmente se beneficiará de um tratamento breve. A capacidade de
insight e de simbolização precisa estar preservada (BRAIER, 2000).
Outro ponto está ligado às relações objetais, ou seja, aos tipos de vínculos que
o paciente estabelece com as pessoas mais próximas, como os pais, filhos, cônjuge,
colegas de trabalho, etc. Segundo Braier (2000) é importante que estes pacientes
consigam ter razoável tolerância à frustração, habilidade para lidar com as situações
de separação e de perdas em condições razoáveis, minimamente. Isto porque são
pessoas que permanecerão por pouco tempo com o terapeuta, que necessitam ter
uma postura ativa diante do tratamento que logo se encerrará, ocorrendo à separação.
Um terceiro ponto diz respeito às motivações do paciente em se tratar. Braier
(2000) salienta que precisa haver um alto grau de desejo de mudança e, de
preferência, que a terapia ocorra num momento favorável a essas mudanças.
Pacientes que vêm encaminhados por desejos ou necessidades de outras pessoas,
pouco ou nada poderão se beneficiar de um tratamento que requer muito
envolvimento por parte da dupla terapêutica.
Na entrevista devolutiva, Braier (2000) recomenda que seja feita de forma clara
e objetiva, procurando devolver o que foi investigado do paciente, tanto seus aspectos
sadios quanto os patológicos. Criar um clima de compreensão do sofrimento do
paciente fortalecerá a aliança terapêutica.
O contrato terapêutico sinaliza o fim de uma etapa (psicodiagnóstico) e início
de outra (o tratamento propriamente dito).
104

Na Psicoterapia Breve, assim como nas outras, há necessidade de realizar o


contrato terapêutico, isto é, um compromisso entre a dupla. Nele algumas questões,
segundo Knobel (2002) precisam estar claras. São elas:
• Questões práticas como: estabelecimento de local, dias, horários,
feriados, faltas e honorários (este último quando for o caso de clínica particular);
• Delimitação do número, tempo e duração das sessões e do tratamento.
• Delimitação dos objetivos terapêuticos a serem alcançados;
Explicação da função e dos objetivos terapêuticos.

Braier (2000) orienta que a definição do foco a ser trabalhado deve ser feito
junto ao paciente, de comum acordo, de forma clara e objetiva. Este foco está
relacionado com as expectativas do paciente em relação ao tratamento. Entretanto,
“toda terapia breve de insight pressupõe a existência de fins terapêuticos inerentes à
natureza mesma do processo, por exemplo, que o paciente alcance maior consciência
da enfermidade ou eleve sua autoestima” (p. 74). Esse é, portanto, o objetivo geral da
Psicoterapia Breve.
Quanto à duração do tratamento, segundo Braier (2000), na maioria das vezes,
convém delimitar um prazo para o término da terapia, que poderá variar conforme
algumas situações: 1) Quando se tratar de uma instituição o tempo já estará definido
(3, 6, 12 meses); 2) Por conveniências do próprio paciente: em se tratando de
mudança, viagem ou outros; 3) Quando se tratar de consultório particular pode-se
definir o prazo de comum acordo com o paciente, sempre observando os riscos e os
benefícios terapêuticos.
Algumas características em Psicoterapia Breve, segundo Knobel (2002), são
essenciais. Algumas delas são:
• Sigilo profissional;
• Confiança mútua;
• Avaliação honesta e compreensiva junto ao paciente.
105

O TRATAMENTO PROPRIAMENTE DITO

Diz Braier (2000) que a organização do planejamento terapêutico é um dos


aspectos que diferenciam as psicoterapias breves. Elaborar uma estratégia auxilia no
cumprimento dos objetivos delimitados. É evidente que não se trata de um projeto
estático, rígido, mas ao contrário, requer flexibilidade por parte do terapeuta de modo
que o mesmo possa ser readaptado quando necessário.
Após a avaliação diagnóstica e o planejamento terapêutico, dá-se início ao
tratamento propriamente dito. Nesta fase, algumas características são essenciais na
relação terapeuta/paciente, principalmente porque se diferencia do método
psicanalítico.
A postura do terapeuta na Psicanálise é mais neutra e distante, procurando
preservar o anonimato. Já na Psicoterapia Breve o vínculo é mais próximo. É
importante que o terapeuta possa expressar interesse em relação ao sofrimento do
paciente, favorecendo um clima de confiança (BRAIER, 2000).
Nesse sentido, salienta Braier (2000, p. 86), que o papel do terapeuta é mais
ativo do que na Psicanálise. Em algumas situações ele poderá responder as
perguntas do paciente, favorecendo um “equilíbrio entre gratificação e privação do
paciente”. Um tratamento breve não permite tempo suficiente para tratar as
resistências oriundas de sentimentos hostis, agressivos, no processo de transferência
negativa.
Quanto à técnica, Braier (2000) propõe que se evite a transferência, ou melhor,
que não ocorra com tanta intensidade. Realizar assinalamentos, formular questões,
oferecer sugestões e informações são parte da técnica em Psicoterapia Breve. A
interpretação também é utilizada, mas precisa ter relação com o foco de trabalho que
foi eleito como objetivo no tratamento. Algumas vezes o terapeuta faz perguntas que
vêm de encontro a este foco. Sua atenção deve estar voltada para ele (o foco).
Em relação à técnica da associação livre, defendida por Freud, há controvérsias
na Psicoterapia Breve. Alguns autores (dentre eles Bellak e Small) apontam que ela
não deve ser usada exatamente como na Psicanálise (BRAIER, 2000).
Esta é uma técnica empregada para facilitar a expressão do inconsciente, como
aponta Braier (2000), mas que tende a conduzir à regressão, o que não seria
interessante na Psicoterapia Breve. Pode ser que, associando livremente o paciente
falará de outros temas que não estarão relacionados ao foco principal. Assim, poderia
106

ser desperdiçado tempo, uma vez que este é fator decisivo em tratamentos breves.
Cabe ao terapeuta a tarefa de auxiliar o paciente a voltar para o foco.
Diante dessa problemática, orienta Braier (2000) que a associação livre não
seja usada com tanta frequência, mas em algumas situações durante o tratamento,
nas quais estejam voltadas para o foco. Isto exige flexibilidade por parte do terapeuta.
Este autor recomenda que, no início do tratamento, deve-se orientar o paciente a falar
tudo o que sabe sobre seu sofrimento ou que tenha relação com ele, podendo ser
situações atuais, recordações anteriores, pensamentos, etc.
Falando mais especificamente sobre as sessões, Braier (2000) recomenda que,
em Psicoterapia Breve sejam realizadas duas sessões semanais, na maioria dos
casos. Entretanto, em algumas situações basta uma apenas. A duração de cada
sessão pode ser de quarenta minutos.
Paralelamente à Psicoterapia Breve, na tentativa de potencializar os benefícios
terapêuticos, pode-se recorrer ao trabalho de outros profissionais, por intermédio de
encaminhamentos. Braier (2000) cita a participação do psiquiatra (uso de
psicofármacos), terapeuta ocupacional, psicoterapeuta grupal, etc.
Além disso, muitas vezes, a participação e o envolvimento dos familiares do
paciente fazem-se necessário e favorável ao tratamento. Em algumas situações os
familiares podem auxiliar na fase diagnóstica, contribuindo com informações valiosas
para a compreensão do caso. Em outros momentos a família poderá ajudar
assumindo determinadas responsabilidades quanto ao tratamento (BRAIER, 2000).
Já no caso de crianças e adolescentes, a participação dos pais e/ou cuidadores
é de suma importância, em todos os momentos do tratamento, como aponta Braier
(2000). Primeiro porque cabe aos pais, geralmente, a função de levar o paciente e
arcar com os custos financeiros. Segundo porque é comum que a enfermidade do
paciente tenha relação com os conflitos do núcleo familiar.
O TÉRMINO DO TRATAMENTO

O término do tratamento ou a alta geralmente implica num processo marcado


por muitas ansiedades, tanto por parte do terapeuta quanto por parte do paciente.
Lidar com o luto oriundo do término do vínculo terapêutico constitui tarefa essencial,
porém difícil.
Por parte do paciente, as ansiedades com o fim do tratamento costumam estar
relacionadas desde a sensação de abandono e de vazio até o medo da morte ou de
107

enlouquecer (numa intensidade maior). Geralmente neste último caso trata-se de


pacientes com estrutura egoica menos fortalecida e que vivenciam vínculos mais
simbióticos, isto é, de dependência afetiva (BRAIER, 2000).
Segundo este autor, é possível observar tais ansiedades do final do tratamento
de diversas formas:
• Quando o paciente começa a trazer novos focos de problemas, numa
tentativa inconsciente de seduzir o terapeuta, permanecendo vinculado a ele.
• Quando se percebe piora do paciente em algumas situações, como
forma de obter ganho secundário.
• Quando o paciente demonstra atitudes hostis em relação ao terapeuta
ou começa a atuar (acting out).
• Finalmente, quando o paciente desenvolve uma relação terapêutica
negativa e acaba por interromper o tratamento antes de seu desfecho. De tão dolorosa
a separação, o paciente opta, inconscientemente, por terminar antes.
Nessas situações, Braier (2000) recomenda que o terapeuta poderá dispor da
técnica do manejo da transferência a fim de vencer as resistências despertadas com
a alta. É adequado, por exemplo, assinalar ao paciente sua tentativa de visar ganho
secundário com suas recaídas.
Braier (2000, p. 169) menciona que “a manutenção da melhora certamente
dependerá em grande parte de suas possibilidades de introjetar e conservar uma boa
imagem do terapeuta”. Isso ocorre quando a transferência é positiva.
Já foi mencionado anteriormente que, no processo psicodiagnóstico, um dos
pontos a serem avaliados refere-se à capacidade de lidar com situações de luto e
separação. Isto seria critério, junto com outros fatores, de indicação ou
contraindicação de um tratamento breve.
Entretanto, como aponta Braier (2000), mesmo identificando esta
característica, muitas vezes, o terapeuta não tem outra escolha a não ser atender o
paciente da mesma forma. Pensando, sobretudo, em instituições públicas, que
adotam a psicoterapia breve como técnica de trabalho, comumente não há
possibilidade de encaminhá-lo para outra instituição.
Para tentar superar essa dificuldade, Braier (2000) propõe que, no momento de
planejar o tratamento, o terapeuta já disponibilize um tempo maior para destiná-lo ao
processo de elaboração do luto vivenciado pela separação.
108

Por parte do terapeuta, Braier (2000) alerta que as ansiedades costumam


repercutir ainda mais. “A separação significa, para ele, ver-se privado de gratificações
simbióticas; o luto provoca sentimentos de desvalorização e perda” (p. 170).
Sentimentos de impotência e de fracasso também podem ocorrer.
De qualquer forma, finaliza Braier (2000), espera-se que, ao término do
tratamento, o paciente possa caminhar por conta própria a partir dos benefícios que
obteve com a psicoterapia.

RESULTADOS TERAPÊUTICOS

A avaliação dos resultados ao final do tratamento, segundo Braier (2000), deve


ser feita pelo paciente e pelo terapeuta, isto é, em conjunto. Esse autor propõe um
método de avaliação que consiste basicamente de dois recursos: entrevista com o
paciente e um psicodiagnóstico.
Em relação ao primeiro recurso, Braier (2000) salienta que podem ser feitas
duas entrevistas. Uma logo após ter finalizado o processo psicoterápico, que pode
durar em torno de quarenta minutos e tem por objetivo solicitar uma auto avaliação do
paciente. E a segunda entrevista, que deve ser feita após alguns dias depois da
primeira, objetiva fazer uma devolução pelo terapeuta, comunicando ao paciente suas
impressões.
Na primeira entrevista é o momento que o paciente tem de poder falar da
experiência da terapia, de possíveis benefícios e mudanças que identificou. Poderão
falar também de críticas, sugestões, enfim, são as impressões do paciente (BRAIER,
2000).
Já na segunda entrevista é o espaço para o terapeuta fazer sua devolução,
confrontando suas impressões, inclusive, com a auto avaliação do paciente. De
acordo com Braier (2000), alguns pontos devem ser considerados:
• Melhora do sintoma;
• Resolução da problemática focal;
• Consciência da enfermidade;
• Melhora da autoestima;
• Mudanças em outros aspectos da vida do indivíduo, como
relacionamentos interpessoais, vida sexual, etc.;
• Planos para o futuro.
109

Quanto ao psicodiagnóstico, Braier (2000) usa a expressão reteste. Refere-se


a (re)aplicação de testes que foram realizados no início da terapia. Mas orienta que
precisa ter um intervalo mínimo de seis meses. Os testes revelam o momento de vida
atual do paciente e, portanto, o resultado poderá variar. O objetivo é fazer uma
comparação entre esses dois momentos, ou seja, o início e o fim do tratamento.
Falando ainda sobre o término do tratamento, algumas possibilidades podem
ocorrer, conforme aponta Braier (2000, p. 194):
1. A finalização do processo psicoterápico propriamente dito;
2. A realização de entrevistas de acompanhamento (são as entrevistas de
avaliação mencionadas anteriormente);
3. Um novo contrato;
4. Encaminhamento para outro tipo de tratamento.

Em relação à quarta possibilidade, o fato de sugerir outro tipo de tratamento


não significa, como aponta Braier (2000), que a terapia breve não teve êxito ou
benefícios. Algumas vezes, funciona como uma motivação para o paciente iniciar uma
terapia em longo prazo, por exemplo.

AS CONSIDERAÇÕES DE FIORINI E A TÉCNICA EM HOSPITAIS

Salienta Fiorini (1993) que algumas instituições, por si só, demandam


intervenções mais breves e urgentes. É o caso de hospitais: geral e psiquiátrico. O
paciente internado anseia pela alta o quanto antes. Assim, o atendimento psicológico
ocorre durante o período de internação. Deve ser focal, isto é, ter como objetivo o
processo de doença e internação.
O hospital é uma instituição caracterizada pelo binômio saúde/doença. As
pessoas internadas passam apenas um período de suas vidas no hospital, que pode
durar dias ou até meses, dependendo da problemática apresentada e do
procedimento realizado (cirurgia, antibiótico-terapia, etc.). Nesse sentido, muitas
vezes, não é possível prever quando o paciente sairá do hospital. Às vezes a saída
ocorre pela alta (melhora clínica) e outras, pelo óbito.
110

A técnica mais adequada deve ser a Psicoterapia Focal, ou também chamada


de emergencial, pois como o nome já diz, o conflito é urgente, não dá para esperar. O
atendimento deve ocorrer no “aqui-agora”.
Delimita-se a problemática do paciente, uma dificuldade central, um “problema
foco”, que é eleito como primordial e que na maioria das vezes é o processo de
doença, bem como os conteúdos que estejam relacionados a ela (internação, exames,
cirurgias, cuidados paliativos, etc.).
Conforme Fiorini (1993), muitas pessoas reagem ainda com certa desconfiança
em relação aos tratamentos breves, uma vez que eles carecem de maiores estudos
teóricos e técnicos e, principalmente, em relação aos resultados terapêuticos. Para
tanto, torna-se necessário elaborar um esquema referencial próprio.
Nesse sentido, um ponto a ser considerado nesse esquema referencial diz
respeito à enfermidade ou crise do paciente. Segundo Fiorini (1993), um tratamento
breve deve ter como foco os determinantes atuais da queixa do paciente. Isso significa
que não é possível estimular conflitos infantis do indivíduo, mas ajudá-lo a
(re)organizar sua vida atual, nas diversas áreas: família, trabalho, social, etc.
Isso não quer dizer que os aspectos e conflitos históricos infantis não sejam
considerados. Eles simplesmente não devem ser estimulados, pois não haverá tempo
hábil para elaborá-los.
Outro ponto abordado por Fiorini (1993) refere-se ao trabalho de uma equipe
multiprofissional. Aliar a psicoterapia breve com outros tratamentos, em muitos casos,
potencializa o efeito terapêutico. É o caso de profissionais como psiquiatras e
neurologistas (medicação), nutricionistas (transtornos alimentares), assistentes
sociais, terapeutas ocupacionais, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Psicoterapia Breve é ainda um campo que carece ser mais bem explorado,
justamente porque não possui uma identidade própria. É confundida muitas vezes
com a Psicanálise e/ou outros métodos de tratamento mais longos. Atualmente, ainda
permeia a crença de que se trata de uma psicoterapia inferior à Psicanálise, por uma
herança histórica. Uma não se contrapõe a outra, mas diferencia-se, sobretudo, pela
técnica empregada.
111

Nesse sentido, Braier (2000) sugere que a formação do terapeuta deve


contemplar a análise pessoal, a supervisão com profissional mais experiente e
conhecimentos teóricos. Para este autor, a formação em Psicanálise seria um critério
ideal, mas não é a realidade atual. Então, para suprir esta carência, é importantíssimo
que o terapeuta tenha como uma de suas metas em seu treinamento conhecer com
muita destreza as diferenças entre Psicoterapia Breve e Psicanálise. Isso porque um
dos erros mais frequentes está relacionado com a confusão da técnica.
Os tratamentos breves consistem em uma tendência na atualidade. Bons
resultados terapêuticos têm sido alcançados com esta técnica, quando utilizada com
a seriedade e o rigor científico que demanda.

Mensagem final

“Pois fica decretado a partir de hoje, que terapeuta é gente também.


Sofre, chora, ama e sente e, às vezes, precisa falar.
O olhar atento, o ouvido aberto, escutando a tristeza do outro, quando, às
vezes, a tristeza maior está dentro do seu peito.
Quanto a mim,
fico triste, fico alegre e sinto raiva também.
sou de carne e sou de osso e quero que você saiba isto de
mim. E agora,
que já sabes que sou gente, quer falar de você para mim?”

Cyro Martins
(Psicanalista e escritor)
112

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