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INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS: Uma análise acerca

da qualidade de vida dos residentes da Fundação Antônio Jorge

Alex Johnnata dos S. Oliveira¹


Maria Iasmim da Silva¹
Vanessa A. de Aguiar¹
Moisés²

RESUMO

A qualidade de vida é uma construção social que sofre alterações ao decorrer do


tempo, e este artigo revela a singularidade de alguns idosos que moram na
Fundação Antônio Jorge, localizada em Arapiraca-AL, e que tem como principal
objetivo observar a qualidade de vida que os idosos levam, e quais as condições
básicas que são ofertadas para os mesmos, buscando assim entender que esses
indivíduos possuem necessidades que precisam ser respeitadas em prol de sempre
buscar promover uma melhor qualidade de vida.
Os resultados trazem um reflexo dentro do contexto de institucionalização ao qual os
idosos estão, mesmo a qualidade de vida sendo difícil, e alguns aspectos como os
psíquicos não que são levados em consideração, no geral apesar de não
demostrarem insatisfação por morarem nessa instituição, os mesmos queriam que
algumas coisas fossem mudadas como por exemplo, o horário dos banhos e
algumas refeições, ou seja coisas muito básicas, porém necessárias. É necessário
compreender que a velhice não é uma etapa de preparação para a morte, e que
esse modo raso de pensar na qualidade de vida pode ter muitas consequências tais
como adoecimento psíquico.

Palavras-chave: Qualidade de vida. Instituição. Idosos.

ABSTRACT
Quality of life is a social construction that undergoes changes over time, and this
article reveals the uniqueness of some elderly people who live in the Antônio Jorge
Foundation, located in Arapiraca-AL, and whose main objective is to observe the
quality of life that the elderly take, and what basic conditions are offered to them,
thus seeking to understand that these individuals have needs that need to be
respected in favor of always seeking to promote a better quality of life.
The results bring a reflection within the context of institutionalization to which the
elderly are, even the quality of life being difficult, and some aspects such as psychics
are not taken into account, in general despite not showing dissatisfaction because
they live in this institution, they wanted some things to be changed, such as, bath
schedule and some meals, i.e. very basic things, but necessary. It is necessary to
understand that old age is not a stage of preparation for death, and that this shallow
way of thinking about quality of life can have many consequences such as psychic
illness.
Keywords: Quality of life. Institution. Elderly.
INTRODUÇÃO

A qualidade de vida no contexto social como um todo é algo que está sendo
cada vez mais em pauta nas discussões, visto que, ela está totalmente interligada a
promoção de saúde e bem-estar biopsicossocial, trazendo assim, questionamentos
relevantes em diversos campos da sociedade.
Segundo Minayo, Hartz e Marchiori (2000), a

qualidade de vida é uma noção eminentemente humana, que tem sido


aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa,
social e ambiental e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade
de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada
sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo abrange
muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de
indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas,
espaços e histórias diferentes, sendo, portanto, uma construção social com
a marca da relatividade cultural (MINAYO, HARTZ e MARCHIORI, 2000,
pág.: 8).

Ou seja, a qualidade de vida é uma construção social que sofre variações no


decorrer do tempo, contudo, apesar dessa variabilidade de conceitos, é algo de
extrema importância, especialmente no contexto das Instituições de Longa
Permanência para Idosos – ILPIs, visto que, segundo os dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e estatística (IBGE) em 2018, o Brasil tem aumentado
exponencialmente o número de idosos a cada ano, por diversos fatores como o
aumento da expectativa de vida, as melhorias no sistema de saúde e medicina, além
da diminuição da taxa de fecundidade.
Esse cenário, inevitavelmente aumenta a procura por ILPIs. Entretanto, o
Brasil não é um país preparado para o aumento da demanda nessas Instituições,
sendo ofertado muitas vezes, um serviço precário, em que a qualidade de vida é
escassa para os usuários do serviço, ocasionando processos de adoecimento tanto
físico, pela péssima qualidade nas condições básicas de vida como alimentação e
higiene, quanto mental, pela falta de respeito e preocupação com as singularidades
de cada idoso (FREITAS e SCHEICHER, 2010).
Posto isso, esta pesquisa tem como objetivo, analisar a qualidade de vida de
idosos da ILPI “Fundação Antônio Jorge” localizada em Arapiraca-AL, afim, de
observar se existe uma preocupação quanto a qualidade nas condições básicas
para uma vida minimamente digna, como uma boa alimentação, higiene, dentre
outras situações, como também, analisar as condições da qualidade de vida
subjetivas que são proporcionadas nessa instituição, ou seja, o respeito às
singularidade dos idosos, visto que são indivíduos que possuem direitos e visões de
mundo muitas vezes divergentes, visando assim, investigar possíveis caminhos para
que a qualidade de vida nessas dimensões físicas e psíquicas seja pauta e prática
na ILPI.

RESULTADOS
Não houve variações entre o sexo dos os idosos que aceitaram participar da
pesquisa. Foi observado que grande parte dos entrevistados estavam receosas(os)
com a pesquisa, visto que, apesar da explicação de que não se tratava de algo feito
pela ILPI, associaram a uma inspeção da Instituição, o que dificultou e afetou as
respostas de grande parte dos idosos.
Quando questionados sobre gostarem das refeições da ILPI e quantas faziam
por dia, houve uma discordância quanto a satisfação com a alimentação, tendo em
vista que dentre os seis entrevistados, dois relataram não estarem satisfeitos,
contudo, existiu concordância quanto o quantitativo de refeições, sendo este três ao
dia.
Nas indagações sobre o que mais gostavam de comer e qual comida era mais
frequente na ILPI, todos em ambas as perguntas, disseram comidas comuns do dia
a dia, como feijão, arroz e carne, tendo poucas especificidades, entretanto, quando
questionado sobre a quantidade de banhos diários, 50% relatou tomar banho três
vezes ao dia, enquanto 50% relatou tomar banho 2 vezes ao dia, havendo assim,
uma divergência nas respostas.
Foi colocado em questão também, se possuíam problemas de saúde, e se
sim, se estavam tomando alguma medicação para tratar o problema, dois idosos
responderam que tinham diabetes e que estavam tomando medicação, um idoso
relatou tomar medicação, contudo não sabia o motivo desta e três falaram que não
possuíam problema algum de saúde e que não tomavam medicação.
Na pergunta sobre gostarem de morar na ILPI, quatro idosos relataram
gostar, uma idosa falou que não gostava, contudo, não quis se ater a detalhes e um
idoso falou que gostava, mas se mudaria para a própria casa, porém, não quis
conversar sobre os motivos.
Durante a finalização da entrevista, foi colocado em pauta se mudariam algo
na ILPI, quatro idosos responderam que não, demonstrando satisfação com o
serviço prestado e a vida que levam na instituição, uma idosa falou que mudaria as
refeições, mas não quis relatar quais, e um idoso disse que mudaria os banhos, pois
não gostava do horário e não se ateve a mais detalhes.

DISCUSSÕES
Falar sobre qualidade de vida, é algo novo e que gera muitas discussões no
campo teórico e prático. Segundo Minayo, Hartz e Marchiori (2000),

o patamar material mínimo e universal para se falar em qualidade de vida


diz respeito à satisfação das necessidades mais elementares da vida
humana: alimentação, acesso a água potável, habitação, trabalho,
educação, saúde e lazer; elementos materiais que têm como referência
noções relativas de conforto, bem-estar e realização individual e coletiva. No
mundo ocidental atual, por emprego, é possível dizer também que
desemprego, exclusão social e violência são, de forma objetiva,
reconhecidos como a negação da qualidade de vida (MINAYO, HARTZ e
MARCHIORI, 2000, Pág.: 10)

Diferente dos estudos realizados por Freitas e Scheicher (2010, pág.: 399), ao
qual constatou que “as ILPIs, geralmente, são casas inapropriadas e inadequadas
às necessidades do idoso, as quais não lhe oferecem assistência social, cuidados
básicos de higiene e alimentação”, na Fundação Antônio Jorge, ficou perceptível que
as necessidades básicas, como alimentação e higiene, são atendidas, apesar de, no
geral, não haver uma preocupação explicita com as singularidades de cada
indivíduo, sendo importante ressaltar que é um ambiente institucional, que abriga
diversos idosos, o que consequentemente, quase que automaticamente, as
particularidades deles são unificas para que seja possível atender a todos, de forma
que o básico seja ofertado da melhor forma possível.
Contudo, as necessidades fisiológicas, não é o único fator para que se tenha
qualidade de vida, especialmente em um contexto institucional, visto que, esse
ambiente tende a favorecer o isolamento, invalidação, promoção maior de
dependência, além da inatividade física e mental (FREITAS e SCHEICHER, 2010),
ou seja, todos os fatores que já cercam a pessoa idosa, são intensificados dentro da
ILPIs, facilitando uma depreciação da qualidade de vida.
Apesar de grande parte dos entrevistados relatarem gostar de morar na ILPI,
foi possível observar que estavam receosos, visto que associaram a entrevista, a
algo feito pela Fundação, fazendo com que a maioria demonstrasse satisfação, o
que consequentemente, compromete uma melhor avaliação acerca da qualidade de
vida dos residentes da ILPI estudada.
Atrelado a isso, são muitas as ILPIs que estão repletas de profissionais
desqualificados que visam apenas as necessidades básicas dos idosos
(GONÇALVES, 2013), infringindo a Lei nº 10.741 do Estatuto do Idoso no qual diz
que o Estado e a sociedade têm obrigação de garantir que à pessoa idosa tenha
acesso à liberdade, dignidade e respeito, como sujeito que possui direitos civis,
políticos, individuais e sociais (BRASIL, 2003).
Essa infração que a priori parece ser insignificante, afeta muito a qualidade de
vidas dos idosos, especialmente dos institucionalizados, visto que os mesmos ao
decorrer do tempo, vão perdendo suas identidades enquanto pessoas que possuem
gostos, opiniões e modos de ser divergentes. Dessa forma, é essencial que os
profissionais busquem diversas fontes de conhecimento, promovendo assim um
cuidado para além do fisiológico, em que o respeito às crenças e cultura da pessoa
idosa esteja presente.
Promover qualidade de vida para institucionalizados, evidentemente é um
desafio, especialmente no Brasil que é um país despreparado para o alto
crescimento da população idosa, além de inevitavelmente a institucionalização ter
um caráter segregador, pois, a partir do momento em que um individuo se adentra
em uma ILPI, seu convívio social é restrito e limitado, facilitando assim, quadros
depressivos e solidão.
Freitas e Scheicher (2010), falam que

a institucionalização é uma das situações estressantes e desencadeadoras


de depressão, que levam o ancião a passar por transformações de todos os
tipos. Esse isolamento social o leva à perda de identidade, de liberdade, de
autoestima, ao estado de solidão e muitas vezes de recusa da própria vida,
o que justifica a alta prevalência de doenças mentais nos asilos (FREITAS e
SCHEICHER, 2010, Pág.: 396).

Segundo Do Paço (2016),

a sociedade moderna marginalizou “os velhos” dando prioridade a valores


ligados à produtividade, à rentabilidade, ao consumo excessivo etc., face
aos quais, as pessoas com 65 e mais anos não estão em condições de
competir, pois até são consideradas “pouco produtivos”. Nesta sociedade
que revela valores lucrativos e rentáveis, os idosos são votados ao
esquecimento e solidão e, consequentemente, à marginalização. Apesar
das diferenças conjecturais, a atitude social generalizada é a de tratar os
velhos com atitudes paternalistas, negando-lhes a sua qualidade de
interlocutores válidos e desrespeitando a sua individualidade (DO PAÇO,
2016, pág.: 27).

Ou seja, os idosos no contexto social, já são invalidados e colocados como


dependentes. Em uma situação de institucionalização, isso é potencializado,
fazendo com que, esses indivíduos sejam invalidados em suas singularidades,
desejos, projetos de vida, sonhos, tornando a velhice apenas uma espera da morte.
Atrelado a isso vem a solidão, que apesar de ser um sentimento que pode
estar presente nas diferentes fases da vida de todos os seres humanos, é na velhice
que se torna frequente, trazendo um vazio interior, sendo o sentimento de tristeza, o
que mais contribui para o desencadeamento dela (LOPES, FRANCIONI E CAMARA,
2009). Sendo de extrema importância, que as ILPIs tenham projetos de atividades
que trabalhem não só as habilidades motoras e cognitivas dos idosos, como
também, proporcionem uma visibilidade e autonomia destes, enquanto pessoas com
particularidades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados permitem concluir que apesar das necessidades básicas serem


atendidas na ILPI, as respostas monótonas e receosas dos idosos, trazem um
reflexo de suas vidas dentro do contexto de institucionalização ao qual estão. Sendo
assim, a qualidade de vida é precária, visto que, os aspectos singulares e psíquicos,
não são levados em consideração, no geral.
Esse modo raso de se pensar a qualidade de vida, também dificulta o olhar
mais amplo aos diversos outros fatores já citados, que englobam a promoção de
qualidade de vida, em especial, nas ILPIs, fazendo com que muitos idosos se
adentrem em um processo constante de espera pela morte, algo que também está
presente no contexto social como um todo, ou seja, a velhice como uma etapa de
preparação para a morte, fazendo com que o envelhecer seja algo a ser evitado, não
vivenciado e muitas vezes, um processo marcado por adoecimento psíquico.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e
dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 1º de out. 2003. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 4 de maio de
2021.

DO PAÇO, Carlos. Solidão e Isolamento na Velhice. Instituto Superior de Ciências


Sociais e Políticas, Brasil, 2016.

FREITAS, Mariana. SCHEICHER, Marcos. Qualidade de vida de idosos


institucionalizados. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol, Rio de Janeiro, Brasil, vol. 13,
núm. 3, 2010.

GONÇALVES, Nayara. O cuidar de idosos numa instituição de longa permanência:


interfaces entre satisfação e sobrecarga laboral. Centro de Educação e Saúde,
Cuité, Brasil, vol. 74, 2013.

LOPES, Renata. FRANCIONI, Maria. CAMARA, Vilma. Entendendo a solidão do


idoso. RBCEH, Passo Fundo, Brasil, vol. 6, núm. 3, 2009.

MINAYO, Maria. HARTZ, Zulmira. MARCHIORI, Paulo. Qualidade de vida e saúde:


um debate necessário. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, Brasil, vol. 5,
núm. 1, 2000.

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