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CURSO DE PSICOLOGIA
VIÇOSA - MG
2023
GLENDA SARAIVA BRANTES
VIÇOSA-MG
2023
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 4
2 OBJETIVOS 5
2.1 Objetivo Geral 5
2.2 Objetivos específicos 5
3 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO 6
3.1 Morte e Luto 6
3.2 Luto Infantil 8
3.3 Morte parental e a influência da família no processo de luto 10
3.4 A psicoterapia no processo de luto infantil 12
4 METODOLOGIA 14
REFERÊNCIAS 15
ANEXO A – CRONOGRAMA 18
ANEXO B – ORÇAMENTO 19
1 INTRODUÇÃO
A Psicologia, enquanto ciência, estuda o processo do luto como uma fase da vida em
que os indivíduos vivenciarão em algum momento de sua trajetória. Ao longo de nossa
existência construímos relações que consequentemente serão perdidas, sejam elas por morte
ou afastamento. Dessa forma, a Psicologia procura entender como esses vínculos e perdas
influenciarão na elaboração do luto, bem como suas consequências para a saúde mental
daquele que o sofre (AZEVEDO; SIQUEIRA, 2020).
O luto infantil, além de ser um assunto importante, é uma temática complexa que
merece ser aprofundada e entendida dentro de sua particularidade. Em cada fase do
desenvolvimento infantil é possível ter interpretações e questionamentos diferentes sobre a
morte e, na maioria das vezes, seu entendimento se dará a partir do cenário familiar em que a
criança está inserida (COLE; COLE, 2004).
Além disso, ao vivenciar o luto, o impacto sobre a vida e o emocional da criança serão
diferentes a depender da circunstância da morte e da relevância do ente querido falecido para
ela. As mortes de caráter repentino tendem a gerar um maior impacto sobre a vida e o
emocional da criança, entendendo-se que o ciclo vital não foi concluído de forma natural.
Todavia, quando esse luto é vivenciado de forma antecipada e previsível, ou seja, se a criança
for psicologicamente preparada para o evento, há uma tendência em que as emoções sejam
vividas de forma mais equilibrada (KNIJNIK; ZAVASCHI, 1994).
Essas perdas, quando repentinas, podem gerar traumas na criança. Para Freud (1969) o
trauma refere-se a um choque violento que é capaz de romper a barreira protetora existente no
ego e, consequentemente, acarretar perturbações psíquicas no indivíduo. Dessa forma, ao
passar pela situação de morte de um ente querido, surgem sentimentos na criança que
impactam diretamente o seu psíquico e que irão influenciar no desenvolvimento cognitivo
dela.
De acordo com Torres (2002), quando essa morte repentina é de um ou ambos os pais,
a criança será exposta a um misto de emoções que poderão evidenciar o sentimento de
onipotência infantil, que é a crença de que os pais não são superpoderosos e capazes de
protegê-las de todo mal. Somado a isso, Bowlby (1982) argumenta que a perda de uma figura
de vínculo é percebida pela criança como uma experiência de desamparo, que pode ter efeitos
significativos em seu desenvolvimento emocional e psicológico. Assim, ao perder um genitor,
a criança vivencia emoções como o medo de ser abandonada, saudade da figura perdida e
raiva por não a reencontrar.
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Logo, através deste estudo, almeja-se respostas para as seguintes perguntas: diante da
perda parental, como se desenvolve o processo de luto na infância e de que forma a Psicologia
pode contribuir nessa etapa da vida da criança? Desse modo, a partir dos questionamentos
levantados, tem-se como hipóteses que em cada fase do desenvolvimento infantil, o luto será
manifestado de formas distintas, isto é, a criança irá compreender o processo de morte
parental de acordo com sua idade e maturidade.
Para mais, no que tange à segunda indagação, acredita-se que a Psicologia possa
contribuir com intervenções eficientes, propiciando que a criança passe por esse
acontecimento de forma menos dolorosa e traumática. Isso porque essa área da ciência conta
com métodos eficazes, a exemplo da Ludoterapia, que irá auxiliar a criança a expressar seus
sentimentos através do lúdico, possibilitando que ela se sinta acolhida e compreendida. Isto
posto, a presente pesquisa objetiva investigar as respectivas hipóteses por intermédio de uma
revisão de literatura.
O interesse em estudar essa temática justifica-se pelas vivências acadêmicas,
especialmente, a partir das disciplinas de Psicologia da infância e Psicoterapia infantil.
Outrossim, tem-se o desejo em examinar as possíveis contribuições da Psicologia nesse
processo. Por conseguinte, no que concerne a relevância científica e social, este estudo tem
grande importância para desmistificar o tabu que a sociedade impõe sobre a morte, já que
pesquisas nesse âmbito irão corroborar para que as pessoas possam ter outras percepções
acerca do luto. Ademais, acredita-se que o estudo auxiliará na melhoria de técnicas utilizadas
por profissionais da Psicologia no contexto da ludoterapia. Por fim, se almeja que os
cuidadores saibam interpretar melhor as necessidades emocionais das crianças e, que
consequentemente, deem um suporte eficaz a elas.
2 OBJETIVOS
3. DESENVOLVIMENTO TEÓRICO
Sabemos racionalmente que a morte é um fato, mas esse elemento não parece
suficiente para determinar a presença da morte na nossa vida. Aos poucos, sem nos
darmos conta disso, passamos a agir como se a morte não fizesse parte da nossa
natureza e do ciclo vital. Lenta e silenciosamente, fomos nos distanciando de uma
das poucas certezas da vida: a de que somos mortais. E distantes daquilo que somos,
transformamos nossa finitude em uma fatalidade (BACELLAR, 2017, p. 46.).
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morrer um dia. Ainda segundo esses autores, o medo geralmente está ligado ao receio de
perder um ente querido, enquanto a ansiedade, à um estado geral que precede essa
preocupação específica. Dessa forma, quanto mais ansioso, maior o medo da morte.
Um argumento importante retratado por Kovács (1992) é que as causas e o contexto
acerca da morte afetam diretamente no processo de elaboração dela. Nesta perspectiva, de
acordo com a autora, as mortes inesperadas provocadas por suicídio são mais difíceis de lidar,
ao passo que muitas vezes não há tempo de se preparar emocionalmente para este fato. Em
circunstâncias de morte repentina, ou seja, aquela causada por acidentes, por exemplo, pode
ocorrer adversidades em relação ao processo do luto.
Kovács (1992) diz que o processo de luto, é um composto de reações psicológicas,
emocionais e comportamentais que ocorrem em resposta a uma perda significativa. O modelo
de Bowlby (1985) descreve quatro fases do processo de luto:
1. Fase de choque: Nesta fase a pessoa se sente atordoada e pode apresentar dificuldades
em acreditar que a perda ocorreu, assim, há a possibilidade de manifestações de raiva,
desespero e tristeza intensa. Essa fase pode durar de horas a semanas.
2. Fase de desejo e busca: Este período é um pouco mais longo e pode persistir de meses
a anos. Aqui, o indivíduo começa a perceber a realidade da perda e sente um forte
desejo de recuperar o ente finado.
3. Fase de desorganização e desespero: ocorrem sentimentos intensos de tristeza, solidão
e ansiedade. Essa fase, por sua vez, pode manter-se por meses ou anos.
4. Fase de reorganização: a pessoa aceita a realidade da perda e começa a reconstruir sua
vida, podendo se envolver em novas atividades, buscar novos relacionamentos e
encontrar um novo sentido na vida. Essa etapa pode perdurar vários meses ou anos.
De acordo com Kovács (1992), o tempo de luto é variável e pode durar mais tempo em
alguns casos do que em outros. É importante reconhecer que cada pessoa tem seu próprio
ritmo e que não há um prazo definido para que o processo seja concluído. Além disso,
segundo a mesma autora, em alguns casos o luto nunca termina completamente e a dor pode
ser sentida por vários anos após a perda, sendo o traço mais permanente o sentimento de
solidão.
Segundo Raimbault (1979) existem três requisitos para que o processo de luto possa se
realizar. No primeiro, denominado desidentificação e desligamento, a pessoa precisa ser
capaz de se desidentificar do morto e desligar-se emocionalmente dele. Subsequente a isso, no
segundo requisito, designado aceitação da inevitabilidade da morte, é necessário que o
indivíduo aceite que o falecimento é inelutável, e que o ente perdido não voltará. Por último, a
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terceira condição, postulada pelo autor, é a de procurar um substituto para a libido
desinvestida, ou seja, o enlutado precisa encontrar um suplente para os investimentos
emocionais que foram direcionados à pessoa falecida.
Contudo, Kovács (1992) salienta que a personalidade do enlutado antes da perda pode
influenciar a forma como ele lida com a dor e o processo de luto. Dessa forma, pessoas que já
possuem características de resiliência e equilíbrio emocional podem ser capazes de lidar
melhor e ter um processo de luto mais saudável. Por outro lado, indivíduos que têm uma
personalidade mais frágil ou desestruturada podem apresentar dificuldades em lidar com a
perda, sendo mais propensas a desenvolver um quadro patológico.
Em suma, compreende-se que:
A morte, bem sabemos, faz parte de nossas vidas, mas dela não queremos saber, a
não ser sabê-la bem longe de nós. Entretanto, ela salta aos olhos diariamente, nas
notícias dos jornais, divulgando informações e conscientizando-nos de nossa
condição humana. Ao mesmo tempo que invade de maneira escancarada nossas
vidas, sem pedir licença, é interdita, pois não se quer falar dela ou pensar nela...
Nota-se, assim, a conspiração do silêncio (PAIVA, 2011, p. 1,).
Paiva (2011) esclarece que, mesmo sendo comum a todos, ainda é desafiador abordar
a morte, especialmente com as crianças, já que esse assunto estimula a curiosidade e gera
dúvidas das quais os adultos fogem de responder. Para uma maior compreensão, no que
concerne à fuga dos adultos em responder as crianças, torna-se oportuno analisar as
importantes considerações a respeito do processo de luto infantil, logo, essa será a tese
abordada no próximo tópico.
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Cada faixa etária possui suas características e limitações em relação ao entendimento
da morte. Dessa maneira, os estágios definidos por Jean Piaget (1996) como período sensório-
motor, período pré-operacional, período operacional e período de operações formais, nos
ajudam na compreensão de como as crianças vivenciam o falecimento de um ente querido:
1. Período sensório-motor: para as crianças que ainda não adquiriram a linguagem falada,
o conceito de morte não existe e pode ser percebida somente como uma ausência da
pessoa estimada;
2. Período pré-operacional: já para as crianças de 3 a 5 anos, o finamento é visto como
algo reversível e não separam a vida da morte, possuem pensamentos mágicos e para
elas tudo é possível;
3. Período operacional: correspondente às crianças de 6 a 9 anos, em que o falecimento é
compreendido como algo definitivo e permanente. As características da fase anterior
são perdidas, porém ainda não são capazes de explicar as causas do óbito;
4. Período de operações formais: etapa que perdura de 10 anos até a adolescência. Nesse
estágio, a definição de morte já é vista como algo inevitável e irreversível.
Posto isso, compreender como as crianças vivenciam o luto, de acordo com as etapas
do desenvolvimento, é importante para que os adultos se comuniquem com as crianças de
maneira adequada, constituindo laços essenciais para segurança e proteção (ABERASTURY,
1984).
Nesse sentido, para Bowlby (1989) ao manter proximidade com alguém que gere
segurança e proteção, a criança terá predisposição a ter um comportamento de apego.
Destarte, ao estabelecer uma relação de apego seguro, isto é, confiança na disponibilidade dos
pais que ajudarão em alguma situação ameaçadora, a criança desenvolverá a certeza de que
terá alguém em que poderá confiar e manifestar suas dores frente ao luto.
Torres (1999), diz que igualmente ao processo de luto em adultos, o luto infantil pode
apresentar três fases, sendo elas: 1) Protesto: nesta etapa a criança não acredita que seu ente
esteja morto. Nesse sentido, procura maneiras de recuperá-lo e tenta personificar a pessoa
ausente; 2) Etapa correspondente ao desespero e desorganização da personalidade: neste ciclo,
a criança já aceita o fato da morte, porém continua na expectativa de sua volta; 3) - A última
etapa é denominada como esperança, período em que a criança tenta organizar a vida, mesmo
na ausência da pessoa finada.
Logo, a criança entenderá o processo de morte a partir de sua idade e,
consequentemente, de sua maturidade, através da assistência desempenhada de um adulto para
com ela. Assim, é necessário que o responsável tenha habilidade para tratar desse assunto com
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a criança de forma a entender sua capacidade cognitiva e emocional (DOMINGOS; MALUF,
2003).
Nesse viés, quando a criança não é orientada e não participa do processo de morte e
luto, ela acaba sendo impedida de enxergar a realidade e confrontar as suas perdas. Estudos
confirmam que lidar com as frustrações é importante para a maturidade cognitiva e emocional
da criança, além disso, é papel do adulto a atitude de explicar sobre a morte e não tentar
afastá-la da realidade (NUNES et al., 1998).
Contudo, Priszkulnik (1992) afirma que cada uma das fases, comuns ao luto infantil,
serão mais ou menos longas a depender do elo que a criança tinha com seu ente querido.
Nesse sentido, quando a criança experiencia o luto diante da morte parental, ou seja, perda de
um de seus genitores, ela passará por uma experiência traumática e este fato exigirá uma
reorganização emocional da criança e da família (FRANCO; MAZORRA, 2007). Portanto, é
necessário compreender perspectivas diante da morte parental e a influência da família nesse
contexto, fato este a ser abordado a seguir.
Sabe-se que em algum momento da vida, uma separação dos filhos com seus pais, seja
por um tempo curto ou definitivo, será inevitável. No entanto, quando há separação da criança
e seu genitor de forma definitiva ocasionada pela morte, tal fato irá se configurar como um
processo perturbador, visto que poderá colocar em risco tanto a sua segurança, quanto a sua
sobrevivência emocional (FRANCO; MAZORRA, 2007). Além disso, não será apenas a
criança que sentirá a perda do seu ente querido, mas também todo o seu grupo familiar, uma
vez que este se encontrará fragilizado pelo impacto de tal acontecimento (COLE; COLE,
2004).
Do mesmo modo que os adultos, as crianças apresentam respostas particulares à perda,
que podem ser influenciadas pela maneira com que os adultos compreendem a morte e lidam
com o falecimento (WALSH; MCGOLDRICK, 1998). Este fato se torna ainda mais
suscetível quando se refere ao óbito prematuro de um ou ambos os pais, por se tratar de um
acontecimento que pode ser um fator de risco significativo para a saúde física e mental da
criança (PARKES, 1998).
Nesse sentido, quando a morte de um ou ambos os pais são provocados de forma
repentina, tendo como exemplo, o homicídio, o impacto na criança poderá ser ainda mais
traumático e oferecer riscos maiores (DOMINGOS; MALUF, 2003). O caráter repentino e
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violento do falecimento por homicídio, pode ter um efeito significativo em várias áreas da
vida da criança, incluindo mudanças físicas, emocionais, intelectuais e sociais (PARKES,
1998).
Consoante Bromberg (2000), para a criança, a perda de uma figura de vínculo é
considerada difícil, já que seu psiquismo está em fase de construção e ela depende das pessoas
ao seu redor para garantir sua sobrevivência física, desenvolvimento emocional e
entendimento do que acontece ao seu redor.
No que tange ainda a morte parental, Raimbault (1979) diz que a morte do genitor será
definida pela criança em função do seu desaparecimento do campo visual e de sua
localização, já que ela perderá a referência que tinha do ente querido. Em acréscimo, Torres
(2002) salienta que a compreensão da morte possui várias facetas que variam de acordo com a
idade e experiências de vida, como especificado anteriormente neste estudo. Logo, a avaliação
do conceito de morte na infância requer uma abordagem multidimensional que considere
diversos fatores que influenciam a percepção da criança acerca dessa tese.
Bowlby (1998) argumentou que a partir de um ano e quatro meses de idade, a criança
começa a ter recursos cognitivos e emocionais para lidar com a perda e o luto parental de
maneira mais elaborada, que se aproxime ao do adulto. No entanto, é importante ressaltar que
a capacidade elaborativa da criança ainda não pode ser identificada como a do adulto, em
virtude de seu psiquismo ainda estar em formação.
Aberastury (1984) enfatiza a importância de esclarecer a morte parental para a criança
de forma adequada, sem negá-la esse direito. Ao esconder este acontecimento, esta poderá
sofrer consequências no processo de elaboração do luto, ao passo que é importante que a
criança aceite que uma pessoa desapareceu para sempre. Além disso, a autora acentua que
usar expressões como "foi viajar" ou "é uma estrelinha" podem criar uma ideia equivocada,
dificultando a compreensão da ausência definitiva da pessoa falecida.
Bowlby (1998) exemplifica algumas das possíveis reações das crianças quando estas
passam pelo processo de perda parental, tais como: angústia persistente, desejo de morrer com
esperança de se reencontrar com o genitor, acusações, culpa constante, compulsão por cuidar,
entre outros. Todavia, como já mencionado, é possível afirmar que essas reações serão
influenciadas pelas condições do funcionamento familiar, já que contribuem diretamente pela
qualidade da elaboração do luto.
Além disso, durante o luto, a criança pode permanecer na fantasia ligada ao progenitor
morto, investir a libido em atividades, temer a amar outras pessoas e aceitar a perda
encontrando outra figura para amar. Tudo isso será influenciado durante o processo de
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elaboração do luto, dessa forma, é importante enfatizar a relevância do apoio para que as
crianças falem abertamente sobre sua dor com o núcleo familiar (BOWLBY, 1998).
Conforme Santos (2021), o papel desenvolvido pela família no enfrentamento do luto
se torna essencial, dado que a vivência conjunta da morte poderá ser menos sofrida e mais
leve a depender do elo dessa relação. Logo, conversar sobre este assunto no contexto familiar
torna-se importante, na medida que possibilita a diminuição da ansiedade e medo frente a
perda, além de proporcionar que o enlutado tenha um significado mais elaborado em relação
ao luto (ARANTES, 2019).
Diante disso, muitas famílias não se sentem confortáveis e apresentam dificuldades em
abordar a morte com as crianças devido a sua complexidade, por isso, criam histórias como
uma forma de afastá-la desse sofrimento. No que tange a este argumento, é importante que a
família transmita informações verdadeiras acerca da morte do ente querido a elas. Isso inclui
explicar que a morte é irreversível e que a pessoa não pode voltar à vida. De fato, esses
esclarecimentos podem ser difíceis para as crianças entenderem e aceitarem, mas são
necessários para que possam começar a lidar com a perda (RONCATTO, 2019).
Bowlby (1998, p. 283) salienta que “é imprescindível que a criança saiba que o morto
não voltará nunca e que seu corpo está enterrado no chão ou foi incinerado.” Essa informação
é crucial, já que a compreensão da irreversibilidade da morte é um passo primordial no
processo de elaboração do luto. Quando a criança entende que o ente querido não voltará, ela
pode encontrar maneiras de se adaptar à nova realidade. O autor ainda ressalta que esse
processo interfere no desenvolvimento infantil, na socialização, bem como no
estabelecimento de vínculos futuros.
Contudo, é pertinente destacar que existem possibilidades de intervenções que irão
contribuir no enfrentamento de adversidades em relação ao luto na infância e à perda parental,
através de práticas familiares e de psicoterapia. Nesse viés, o próximo tópico auxiliará para a
compreensão das contribuições da Psicologia neste processo.
Desde que Sigmund Freud, criador da psicanálise, começou a procurar uma definição
para a psicoterapia, esse assunto ganhou espaço e tem percorrido um complexo caminho em
busca dessa definição. A designação para tal conceito deve envolver necessariamente a
origem e a essência da palavra, além disso, deve-se levar em consideração a relação terapeuta-
cliente-mundo. A palavra psicoterapia, de origem grega significa ‘’cura, iniciação, método,
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ato de curar, tomar conta’’, desse modo, a mesma pode ser definida de forma geral como
‘’cura da alma’’ (RIBEIRO, 1986).
Ligada à psicoterapia, buscando entender o comportamento e a mente humana, a
psicoterapia infantil é uma abordagem terapêutica específica, que visa atender às necessidades
emocionais das crianças, ajudando-as a expressar seus sentimentos e problemas de uma forma
que seja compreensível e satisfatória para elas. O objetivo da psicoterapia infantil é
semelhante ao da psicoterapia com adultos, uma vez que essa abordagem oferece suporte ao
paciente para lidar com suas dificuldades emocionais e psicológicas. Todavia, a forma como
esses processos ocorrem, tratando-se de crianças, são distintos, na medida em que se
considera as diferenças no desenvolvimento e maturidade dos adultos (SILVA et al., 2017).
Nesse viés, a ludoterapia é aplicada como uma alternativa dentro da psicoterapia
voltada para crianças, que utiliza o brincar como principal meio de comunicação e expressão.
O objetivo da ludoterapia é permitir que a criança se sinta à vontade para expressar seus
pensamentos, sentimentos e comportamentos, sem se sentir pressionada a agir de forma
diferente (ROCHA; BARRETO, 2015).
Outrossim, é crucial apontar que a ludoterapia pode ser uma ferramenta muito útil no
tratamento de crianças que passam pelo processo do luto. Isso em razão de que quando a
criança perde um ente querido, ela pode experimentar uma variedade de emoções complexas e
difíceis de entender (MENDES; COSTA, 2022).
Como já mencionado anteriormente, a criança tem um modo de interpretação da morte
que difere dos adultos, já que essas não compreendem de forma concreta o processo de luto.
Dessa forma, nem sempre a criança irá falar sobre a morte, posto que este conceito poderá não
estar bem definido em seu psiquismo. Todavia, ela pode representar a perda de outras formas
dentro da psicoterapia, através do lúdico em atividades interativas, histórias infantis, dentre
outros (AFFONSO; TEIXEIRA, 2015).
Quando a psicoterapia e o lúdico são conduzidos de forma a encorajar a criança a
expressar suas emoções, ela poderá vivenciar seus sentimentos e compreender o processo do
luto e assim, ganhar autonomia e capacidade de enfrentar a situação de perda pela qual está
passando (LOUZETTE; GATTI, 2007).
Contudo, a partir da utilização de técnicas psicoterápicas, a criança poderá encontrar
amparo e acolhimento e, assim, dar início a um processo que qualifique seus conflitos
internos. Assim sendo, é necessário que haja um tratamento eficaz e respeitoso diante da
realidade subjetiva de cada criança.
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4 METODOLOGIA
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REFERÊNCIAS
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2019.
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Priscila Viana de Siqueira. Ed. Especial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
BARCELLOS, R.; STAVIE, M. E.; KUHN, K.; LOVATO, M.; CASSALES, L.; SMEHA, L.
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BOWLBY, J. Formação e rompimento dos laços afetivos. São Paulo: Martins Fontes,1982.
15
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MENDES, B. A.; COSTA, K. S. Luto infantil e seus processos: uma revisão narrativa da
literatura. 2022. 25 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) -
Universidade de Uberaba, Uberaba, 2022.
PAIVA, E. A arte de falar da morte para crianças. 1ª. Ed. São Paulo: Ideias & Letras,
2011.
16
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PRISZKULNIK, L. A Criança Diante da Morte. Pediatria Moderna, [S. l.], v. 24, n.6, p.
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VENDRUSCOLO, J. Visão da Criança sobre a morte. Medicina (Ribeirão Preto), [S. l.], v.
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Acesso em: 23 maio. 2023.
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ANEXO A – CRONOGRAMA
Levantamento
bibliográfico X
Escrita do Trabalho
X X
de Conclusão de
Curso
Defesa do Trabalho X
de Conclusão de
Curso – TCC
Correções propostas X
pela banca
examinadora
Entrega da versão
final do Trabalho de
Conclusão de Curso X
à biblioteca
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ANEXO B – ORÇAMENTO
Internet para R$
12 meses R$ 100,00 Recurso próprio
pesquisa 1.200,00
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