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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

Curso de Psicologia

FERNANDA GEREZ ALVES


MARCOS ROBERTO MOSCATELLI JUNIOR

A VIVÊNCIA PSICOLÓGICA DE FAMÍLIAS REFUGIADAS E O


IMPACTO DO RECOMEÇO: UMA LEITURA PSICANALÍTICA DO
DOCUMENTÁRIO “A VIDA EM MIM”

São Bernardo do Campo


2020
FERNANDA GEREZ ALVES, 273121
MARCOS ROBERTO MOSCATELLI JUNIOR, 273297

A VIVÊNCIA PSICOLÓGICA DE FAMÍLIAS REFUGIADAS E O


IMPACTO DO RECOMEÇO: UMA LEITURA PSICANALÍTICA DO
DOCUMENTÁRIO “A VIDA EM MIM”

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


curso de Psicologia da Escola de Ciências
Médicas e da Saúde da Universidade Metodista de
São Paulo – UMESP.
Orientador: Prof. Me. Glauber Mendonça Moreira

São Bernardo do Campo


2020
DEDICATÓRIA

Dedicamos este Trabalho de Conclusão de Curso à nossa família, nossos amigos e


professores, e todos aqueles que de alguma forma nos ajudaram a chegar até aqui.
AGRADECIMENTOS

Gostaríamos de agradecer a nossa família e aos nossos amigos por ter nos
incentivado e por todo o suporte recebido; a todos os professores do curso de
Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, em especial ao Professor Me.
Glauber Moreira Mendonça, nosso orientador, por tudo que nos foi ensinado até aqui
e por todo o aprendizado obtido.
RESUMO

A questão das pessoas refugiadas vai além de um problema social, político ou ainda
econômico, se convertendo em uma triste realidade de natureza humanitária, bem
como uma importante questão de saúde pública de relevância mundial. Nesse
contexto, percebe-se uma crescente discussão acerca dos impactos psicológicos
sofridos por essas pessoas que passam por situações de deslocamento e refúgio,
com especial atenção às crianças. Sob essa ótica, o presente trabalho visa
descrever a partir do documentário “A vida em mim”, as vivências psicológicas de
famílias refugiadas afetadas pela Síndrome de Resignação, buscando analisar sob a
luz da psicanálise. Para tanto, propõe selecionar fragmentos do documentário,
analisá-los e por fim, apresentar uma síntese conclusiva utilizando-se dos aportes
teóricos da psicanálise.

Palavras-chave: Psicanálise; Refugiados; Síndrome de Resignação; Vivências


Psicológicas; Impactos do recomeço.
ABSTRACT

The matter of refugee people goes beyond a social, political or economic problem,
becoming a sad reality of a humanitarian nature, as well as an important public
health issue of global relevance. In this context, there is an increasing discussion
about the psychological impacts suffered by these people who go through situations
of displacement and refuge, with special attention to children. From this perspective,
the present work aims to describe, based on the documentary "Life overtakes me",
the psychological experiences of refugee families affected by the Resignation
Syndrome, seeking to analyze seeking to analyze through the theory of
psychoanalysis. Therefore, it proposes to select fragments of the documentary,
analyze them and, finally, present a conclusive synthesis using the theoretical
contributions of psychoanalysis.

Key words: Psychoanalysis; Refugees; Resignation Syndrome; Psychological


Experiences; Impacts of the restart.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACNUR Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados


ISIS Estado Islâmico do Iraque e do Levante
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
SR Síndrome de Resignação
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………….
……….....9
1.1. Contexto dos
refugiados…………………………………………………………......9
1.2 Saúde
mental.......................................................................................................10
1.3 Atenção
biopsicossocial....................................................................................11
1.4 A Síndrome de
Resignação................................................................................13
1.5 População Yazidi: história e
refúgio..................................................................13
2 OBJETIVO………....................................................................................................15
3 MÉTODO………………………………………………………………………………….16
4 RESULTADOS…………………………………………………………………………...17
4.1 Resumo do documentário “A vida em mim”
……………………………………..17
4.2 Procedimento de
coleta……………………………………………………………...19
4.3 Procedimento de análise…………………………………………………....
……….24
5 DISCUSSÃO…………………………………………………………………………..….25
5.1 História anterior ao
refúgio………………………………………………………….26
5.2 História durante o refúgio……………………………………………………………
27
5.3 Vivências psicológicas………………………………………………………………29
5.4 Impactos do
recomeço……………………………………………………………….30
6 CONSIDERAÇÕES
FINAIS……………………………………………………………..32
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………….33
9

1. INTRODUÇÃO

Assistimos ao deslocamento global de pessoas que deixaram seu país ou


residência habitual devido a conflitos políticos, ideológicos, étnicos e religiosos que
ameaçam suas vidas (PRADO; ARAUJO, 2019). Nesse estudo, iniciaremos pela
busca das referências na literatura partir da perspectiva de atenção psicossocial,
identificando temas mais frequentes e destacando alguns tópicos relevantes para a
compreensão acerca desse tema, além de abordar afundo a questão da população
Yazidi e a Síndrome da Resignação.
Diante dos registros históricos da humanidade, foi possível observar diversas
fases onde o fenômeno migratório esteve presente. No período pré-histórico, a
migração promoveu a evolução da espécie humana através da capacidade de se
adaptar a diferentes ambientes. Durante o Império Romano, o propósito da migração
era a colonização por meio das Cruzadas durante o Período da Grande Navegação.
A partir da Revolução Industrial, a migração passa a ser uma opção da classe
camponesa que busca melhores condições de vida (RODRIGUES; STREY;
PEREIRA, 2007).

1.1. Contexto dos Refugiados

Segundo a Lei nº 9.474, de 22 de Julho de 1997, é reconhecido como


refugiado o indivíduo que por motivos de violação de direitos humanos, bem como
perseguição racial, religiosa, de nacionalidade, orientação sexual, grupo social ou
opiniões políticas deixou forçosamente o seu país de origem para buscar refúgio em
outro país e tal qual não possa ou não queira regressar a este (BRASIL, 1997).
Dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
(ACNUR), de 19 de junho de 2018, revelaram que até o final de 2017, 68,5 milhões
de pessoas fizeram deslocamento devido a guerras e conflitos, sendo 25,4 milhões
de refugiados e 3,1 milhões de requerentes de asilo (ACNUR, 2018).
Os países de destino desses indivíduos tem tomado ações de restrição
referente a permanência em seu território, incluindo a detenção de migrantes, sendo
estes mantidos muitas vezes em situações de confinamento (SCHMID, 2019).
10

1.2 Saúde Mental

Apesar da evolução da compreensão de saúde e da evolução tecnológica no


tratamento das doenças, até os anos de 1980, os procedimentos de prevenção,
avaliação e ação organizavam-se em torno dos hospitais. Por conseguinte, o olhar
sobre a saúde era predominantemente biológico, pouco atento aos fatores
psicológicos e psicossociais (SPINK, 2007).
Segundo o conceito adotado a partir de 1947 pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), saúde é definida como "um estado de completo bem-estar físico,
mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade", deixando de
ser vista apenas como objeto médico (OPAS/OMS, 2018 p. 4. Trad. Nossa).
Considerando as experiências traumáticas frequentemente experimentadas
pela população em situação de refúgio, como a tortura, prisão, cenários de guerra,
perda de entes queridos, abusos sexuais, entre outros, juntam-se fatores
relacionados ao próprio percurso de migração involuntária, que frequentemente se
dá em situações precárias e sem recebimento auspicioso no país de destino,
podendo resultar em um substancial aumento de risco à saúde mental (BUHMANN,
2014).
A intervenção em grupos especialmente vulneráveis como as crianças, as
mulheres, as grávidas e os idosos, abordam os problemas mais prevalentes
resultantes da exposição ao trauma que assumem nesses refugiados
particularidades muito específicas. Em vista disso, um indivíduo que é
concomitantemente criança e refugiado, por exemplo, está exposto a uma situação
de dupla vulnerabilidade, pois além de estar desenvolvendo a sua personalidade e
estar lidando com problemas relacionados à idade, tem que conviver com eventuais
traumas devido ao processo de mudança de país, língua e cultura e com os conflitos
vividos em seu país de origem (MATTOS, 2016).
Além disso, os refugiados carregam consigo muito pouco do que antes
caracterizava sua identidade, como costumes, relações, status social, etc., o que
resulta em sofrimento psicológico diretamente relacionado aos traumas nos quais
foram submetidos durante todo esse período. Devido a estas circunstâncias, torna-
se primordial o aprofundamento do estudo da saúde mental dessas pessoas
(MARTINS-BORGES, 2013).
11

O processo de migração envolve três fases: a primeira corresponde a pré-


migração, caracterizado pela situação anterior a saída do país de origem, momento
marcado por ameaças, episódios de violência, falta de segurança, entre outras
perturbações (ANTUNES, 2017). Segundo Kirmayer et al. (2011), as principais
razões que afetam a saúde mental durante essa fase são o status socioeconômico,
o rompimento do suporte social, além do trauma sofrido e ameaças recebidas em
seu país.
A segunda fase corresponde a fase de migração propriamente dita, é o
momento marcado pela partida de sua residência a fim de encontrar um novo lugar a
que possa se instalar. É uma fase representada por incertezas quanto ao futuro e
quanto as necessidades básicas, a exposição a condições adversas, além da
ruptura dos laços familiares e comunitários (KIRMAYER et al., 2011).
Na terceira fase, a fase de pós-migração é aquela no qual a saúde mental
poderá ser afetada pela incerteza quanto ao estatuto de refugiado, bem como a
adaptação a uma nova língua e cultura. Cada estágio do refúgio está associado a
específicos desafios e angústias que devem ser compreendidos para serem tratados
de forma adequada (KIRMAYER et al., 2011).
Sintomas relacionados a saúde mental tem se mostrado principalmente
durante o início da fase de refúgio (MURRAY; DAVIDSON; SCHWEITZER, 2010).
Esses sintomas são aparentes entre refugiados e requerentes de asilo que estão
aguardando a resposta de seu estatuto e são mantidos em campos de refugiados
(STORM; ENDEBERG, 2013).
Compreender as várias experiências traumáticas de pessoas de diferentes
origens e origens culturais, representa um enorme desafio para os serviços de
saúde e seus profissionais (MURRAY; DAVIDSON; SCHWEITZER, 2010). Embora
as intervenções projetadas para atender às necessidades de saúde dos refugiados e
requerentes de asilo seja bem documentada, há pouca análise quanto a sua
efetividade (FELDMAN, 2006).

1.3 Atenção Biopsicossocial

Segundo o relatório desenvolvido pela OMS (2008, p. 1) “apesar das


possibilidades existentes de tratar com sucesso as perturbações mentais, apenas
12

uma pequena minoria daqueles que o necessitam recebem o tratamento mais


básico.” É nessa perspectiva que se desenvolve o presente capítulo configurado do
estudo bibliográfico da atenção psicossocial de população refugiada.
Após o rompimento da crença de que o bem-estar humano estaria ligado
apenas ao corpo físico e as especificações médicas, pôde-se alavancar o conceito
real de saúde. Cabe ressaltar que o mesmo também se deu na psicologia,
acreditando que o conceito de saúde só estaria em plena concretude, se o conceito
de homem estivesse em seu pleno equilíbrio, um sinônimo de saúde mental.
Contudo, com o nascimento de uma nova era e evolução científica, pôde-se
compreender de forma mais clara o verdadeiro conceito de saúde plena, o qual
compreende-se como um conjunto de ações que visam a promoção de três pilares já
citados no capítulo anterior, o bem-estar físico, mental e social (MARTINS-BORGES;
POCREAU, 2012).
Em meio a dimensão biopsicossocial, é compreendido e explicado os
diferentes fatores, biológicos, psicológicos e sociais, que interagem nos
comportamentos em meio à saúde e vida humana. Desta forma, o modelo se apoia
em uma prática interdisciplinar, onde é possível avaliar diferentes fatores que se
correlacionam e impactam o estado de saúde do indivíduo, considerando-o em sua
globalidade, e na preocupação de tornar o tratamento coerente em suas
particularidades, necessidades e subjetividades (MARTINS-BORGES; POCREAU,
2012).
Nas últimas décadas, à medida que a crise migratória se intensificou, foi
possível observar um aumento nas ações tomadas por entidades de ajuda
humanitária e um endurecimento das políticas para lidar com esta crise. Ações têm
sido desenvolvidas visando atenção básica à saúde, educação, alimentação,
moradia, etc. Ao incorporar o eixo saúde mental, a psicologia passou a se inserir
nessa situação de forma mais consistente (WEINTRAUB et al., 2015). Existe uma
atenção à saúde mental dos refugiados, devido a mobilização de processos
psíquicos geradores de sofrimento em razão das vivências do deslocamento
(MARTINS-BORGES, 2013).
Segundo Pussetti (2009), ao relacionar a migração a formas especificas de
sofrimento psicológico, a experiência da migração é gradualmente medicalizada, o
que desvia a atenção do contexto político e econômico dos conflitos sociais.
13

Por meio de um único modo de unificar a experiência subjetiva e emocional, a


possibilidade de compreender a experiência de imigrantes e refugiados é limitada.
Em nome da categoria psiquiátrica, o sujeito não foi ouvido, apenas seus sintomas,
tornando-o um sujeito fragilizado, o que reforça a vulnerabilidade (KNOBLOCH,
2015; PRADO; ARAUJO, 2019).
Segundo Knobloch (2015) é possível desenvolver intervenções que assumem
uma posição considerando os contextos, cultura, e a singularidade do sujeito em seu
momento atual. Além disso, colocar o indivíduo na esfera da doença impede que
haja uma posição de escolha ativa, onde a imigração pode ser vista como
resistência e uma busca por melhores condições de vida (PUSSETTI, 2009;
PINILLOS, 2012; PRADO; ARAUJO, 2019).
Uma intervenção voltada a construção da nova realidade de outra forma deve
ser um dos meios que objetivam o trabalho psicológico e assistencial para com
esses refugiados (PRADO; ARAUJO, 2019).

1.4 A Síndrome de Resignação

Lagercrantz et. al (2016, p.1. Trad. Nossa) define a Síndrome de Resignação


(SR) como “um distúrbio de longa data que afeta predominantemente crianças e
adolescentes psicologicamente traumatizados em meio a um processo de migração
extenuante e demorado”.
Em via de regra, a Síndrome se inicia por uma ansiedade e sentimentos
depressivos passando do estupor a um estado aparentemente inconsciente que leva
à alimentação por sonda. A restauração da esperança para a família é fundamental
para a recuperação, que pode ocorrer dentro de meses a anos (LAGERCRANTZ et
al., 2016).
De janeiro de 2003 a abril de 2005, 424 casos foram detectados apenas na
Suécia, envolvendo 6.547 pedidos de asilo entre 0 e 17 anos. Isso levou ao
reconhecimento da SR como uma entidade diagnóstica independente pelo Conselho
Nacional Sueco de Saúde e Assistência Social (LAGERCRANTZ et al., 2016).

1.5 População Yazidi: história e refúgio


14

Os yazidis são um grupo minoritário de origem curda que segue uma antiga
religião que mescla elementos referentes ao hinduísmo, judaísmo, cristianismo e
islamismo. Eles residem ao noroeste do Iraque e, por conta de sua religião sofrem
perseguições e enfrentam um genocídio há tempos (CMACAN, 2017). São
considerados pelo Estado Islâmico (EI) um povo praticante de culto satânico e que
possui uma crença inadequada, pois estes não acreditam na reencarnação e não
seguem nenhum livro sagrado (AGÊNCIA BRASIL, 2014).
O primeiro ataque a população yazidi aconteceu em 2014, pelo ISIS (Estado
Islâmico), os yazidis se viram durante duas situações extremas: fugir para o Monte
Sinjar, onde muitos morreram desidratados, desnutridos e capturados ou
permanecer em suas casas aguardando ajuda, onde muitas famílias foram
submetidas a um genocídio nas mãos do ISIS (ANDRADE; MACHADO; BERTOLIN,
2017).
Em 2016, foi noticiado pelo mundo todo a violência sofrida pela etnia yazidi,
especialmente as mulheres. Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas
(ONU) na Suíça em 2016, aproximadamente 400 mil pessoas, entre mortos e
sobreviventes deslocou-se de seu local de origem em busca de refúgio. As
atrocidades cometidas pelo grupo extremista foram considerados crime de guerra
contra a humanidade, sendo reafirmado um estado de genocídio ao povo yazidi pelo
relatório apresentado em Genebra, Suíça, pela Comissão Internacional de Inquérito
sobre a Síria (ONU, 2016; BORDALO, 2016).
A invasão territorial resultou em milhares de assassinatos de homens e
mulheres e crianças vendidas, se tornando escravas sexuais (BORDALO, 2016). Até
2016, o número de mulheres e meninas yazidi ainda detidas pelo EI era estimado
em cerca de 1.800 prisioneiras, em comparação com 3.200 mulheres presas em
condições terríveis (ANDRADE; MACHADO; BERTOLIN, 2017).
15

2 OBJETIVO

Descrever a partir da análise do documentário “A vida em mim”, as vivências


psicológicas de famílias refugiadas afetadas pela Síndrome de Resignação sob a
ótica psicanalítica.
16

3 MÉTODO

A ciência não se faz aleatoriamente em suas técnicas, há um roteiro a ser cumprido
e o mesmo se dá em função do método, ou seja, o método é um caminho do
conhecimento científico que traz organização, técnicas e lógica para o trabalho
científico. Com isso, um pesquisador desenvolve fenômenos empregando recursos
técnicos, seguindo um método e se fundamentando em princípios epistemológicos
(SEVERINO, 2007).
O presente estudo de natureza documental, segue proposta metodológica
qualitativa. Os estudos documentais foram apresentados por Gil (2002), como fontes
diversificadas e dispersas, e que não sofreram nenhum tratamento analítico.
Partindo disso, esse estudo fará uso do documentário “A vida em mim”; tal material
relata as vivências de crianças refugiadas que foram afetadas pela Síndrome de
Resignação.
Esse material fora produzido pela plataforma Netflix, dirigido por John Haptas e
Kristine Samuelson com duração de 40 minutos, sendo estreado em 2019.
17

4 RESULTADOS

4.1 Resumo do documentário “A vida em mim”

O documentário “A Vida em Mim” retrata a realidade de famílias refugiadas na


Suécia, cujos filhos desenvolveram a Síndrome da Resignação, uma condição de
coma, permanecendo por meses e até anos em estado semi- vegetativo, porém,
com todas as funções vitais preservadas. Nos últimos 15 anos, centenas de crianças
refugiadas na Suécia foram afetadas com a Síndrome da Resignação. Os primeiros
casos surgiram entre 2003, 2004 e 2005.
A Síndrome surge em um contexto onde as crianças buscam uma forma de
se proteger de tudo de ruim que acontece ao redor delas. No começo as crianças
param de falar, só ficam deitadas e passam a comer cada vez menos, depois param
de comer e beber. A maioria dos pais não sabe o que está acontecendo, então
acreditam que a criança está morrendo.
O primeiro relato é da Daria (Dasha) uma menina de 7 anos, já em coma há 5
meses. Segundo relatos da mãe, era uma menina ativa, gostava de correr e era boa
aluna na escola.
A família de Dasha é refugiada na Suécia, o pai conta que tinha uma empresa
de provedor de internet e começou a sofrer ameaças devido a pedidos feitos para
que a internet fosse cortada, para que as pessoas da região não tivessem acesso à
informação e não ficassem sabendo o que acontecia na capital. Sua família foi
ameaçada, ele foi torturado, sua esposa estuprada e depois de um tempo
escondidos, fugiram para a Suécia, primeiro o pai e depois a mãe e as filhas.
Após um ano e meio aguardando a decisão do pedido de asilo na Suécia ao
estatuto do refugiado, o pedido da família foi negado, foi quando os problemas de
Dasha começaram. A mãe foi chamada na escola pela professora pois esta relatou
que ela estava chorando muito e dizendo que iria morrer, começou a rejeitar comida
e depois parou de reagir.
Os pais fazem todos os dias exercícios de fisioterapia e a alimentam por uma
sonda.
Karen, 12 anos, inconsciente por 6 meses, mais uma vítima da síndrome de
resignação. Sua mãe relata que ele era um bom aluno, e que se destacava na
escola por sua habilidade em matemática e nos esportes. Karen era uma criança
18

ativa, mas atualmente necessita da ajuda dos pais para se alimentar e cumprir com
atividades de vida diária.
A família de Karen tem permissão de residência temporária por 13 meses,
quando o prazo terminar, terão que requerer asilo novamente. Sua família relata a
motivação para o pedido de asilo e a possível motivação para mudança de
comportamento do filho. No relato, seu pai diz que estava voltando do trabalho com
o seu filho e um amigo, quando foram abordados por um carro no caminho para a
casa, e seu amigo foi executado na frente deles, mas por sorte, Karen e seu pai
conseguiram fugir. Após se mudarem para a Suécia, as mudanças de
comportamento começaram a surgir, como por exemplo: preocupação excessiva,
delírios e alucinações, além de medo sem motivo aparente.
Aparentemente os portadores da síndrome de resignação vêm de lugares
específicos ou até mesmo de minorias étnicas. As crianças e sua família sofreram
por algum trauma, seja ele psicológico, físico, e até mesmo ambos, desta forma
lidam com o possível trauma da deportação.
Leyla, 10 anos, inconsciente há 7 meses. Sua família veio de uma pequena
aldeia nas montanhas no Noroeste do Iraque, nessa aldeia havia um poço em
comum e de uso de todos. Em um determinado dia sua mãe foi buscar água,
quando foi surpreendida e estuprada por quatro homens. Além da situação de
vítima, sua mãe foi humilhada ao carregar tal desonra para a família diante de uma
situação de abuso onde foi jurada de morte pelo próprio pai. Após 11 meses de
inconsciência, sua irmã mais velha passa a apresentar os mesmos sintomas. Neste
caso, sua família ainda corre risco de deportação.
De acordo com os dados apresentados, a Suécia é o país com o maior índice
de crianças com a síndrome da resignação. Uma das hipóteses é que existem
fatores culturais exclusivos à Suécia, como as incertezas enfrentadas durante o
processo de asilo, que podem ser desencadeadores da síndrome.
Após mais de um ano de espera, a família de Daria teve o visto aprovado
para residência na Suécia, e meses depois podemos observar a progressiva
melhora de Daria, até o momento em que sai completamente do estado de
resignação e relata que não possui recordações deste período.
As recuperações relatadas geralmente começam quando a família passa a
sentir-se segura e depende da restauração da esperança.
19

Nos últimos 3 anos, o número de novos casos relatados foi de mais de 200,
acompanhados do crescimento do sentimento anti-imigrante e políticas mais rígidas
de asilo no país.

4.2 Procedimento de coleta

Eixo temático Fragmento do documentário Tempo no


documentário
“Tenho uma empresa com meus sócios. Um provedor de
internet. Pessoas da segurança pública foram lá...e me pediram
para desligar a internet. Para as pessoas da região não terem
acesso a informação. Assim, não ficam sabendo o que 04:59
acontece na capital. É. No ano seguinte começaram a fazer
ameaças. Eles nos lembraram que não os obedecemos e não
desligamos a internet. Fomos ameaçados por uns seis meses.”

“Eles o levaram e tomaram os documentos dele. Eu soube que


ele estava no hospital e fui vê-lo. Ele estava sendo vigiado, mas
História não foi difícil entrar no hospital. Eu paguei os guardas para 05:58
anterior ao poder vê-lo. Ele foi espancado brutalmente. E também foi
refúgio torturado. Depois pagamos para ele poder escapar. No começo,
ele ficou escondido. Depois ele fugiu para a Suécia.”

“Nessa época, me vigiavam e me seguiam. Um dia, depois de


levar as crianças para a escola, voltei para a casa e estavam
me esperando perto da porta. A esposa do sócio dele e eu
fomos torturadas e espancadas. Daí, me levaram para a 06:51
floresta...e um deles me estuprou. Disseram que se nossos
maridos não aparecessem em 20 dias...eles matariam a nós
todos: nossos filhos, maridos e nós. Fugimos e viemos para a
Suécia.”
20

“Eu estava trabalhando em um restaurante e, aquele dia, tinha 17:30


muitos fregueses. Alguns conversavam entre si, e ouvi dizerem
que eles mataram algumas pessoas. Depois entendemos que
cometeram assassinatos e que eram aquelas pessoas que
davam a ordem para matar.”

“Tive de ir buscar meu filho, Karen, no caminho para casa. Eu 18:10


estava com um amigo, que nos deu carona. No caminho,
fizeram a gente parar. Eles nos cortaram e paramos. Quando
meu amigo saiu do carro, eles o mataram. Eu sai do carro,
consegui tirar meu filho, e fugimos.”

“A família é Yazidi. Os Yazidis têm sido cidadãos de segunda


classe na maioria dos países onde vivem. Vieram de uma vila
pequena com cerca de 30 residências. A vila tinha um poço, 24:52
que era usado por todos. Então, todo dia a mãe ia buscar água.
Um dia, quando a mãe foi buscar água, quatro homens
apareceram e a estupraram. O pai dessa mulher disse bem alto
que ele teria de matar a filha, pois ela manchou o nome dele.”

“Pedimos asilo na Suécia. Sim, estatuto de refugiado.


Esperamos um ano e meio. Fomos informados que eles
tomaram uma decisão, então fomos todos para lá. Começaram
a anunciar a decisão, explicando os motivos porque tivemos de
História no escapar. Contaram a história toda. As crianças não sabiam 10:57
refúgio daquilo. Nós não contamos. Estávamos escondendo delas para
que não soubessem de nada. As crianças começaram a...A
mais nova começou a chorar na hora. Já conseguiam entender
sueco. Elas entendiam antes de traduzirem para nós.”
21

“Meus filhos se acostumaram a morar aqui. A Suécia é um


ótimo país para eles. Quero que meus filhos sobrevivam aqui.” 28:48

“Semana passada, eles ligaram, se identificaram e disseram


que chegaram a uma conclusão sobre o nosso caso. Eles
aprovaram nossa residência na Suécia. Poucos dias depois, 31:01
recebemos uma carta. Pelo correio. Confirmando a aprovação.
Confirmaram.”

“Agora trabalho tempo integral. Estou muito feliz assim e quero 34:15
continuar trabalhando.”

“A condição da jovem Yazidi continua a mesma. Mas agora a


irmã mais velha apresenta sinais de síndrome da resignação.
Visitei a família no aniversário da mãe delas. Ela falou que, no 35:00
último aniversário dela, há um ano, as duas filhas deram flores
de presente e a beijaram. E agora nenhuma das duas consegue
fazer isso.”

“Daria continua melhorando. Ela voltou à escola. Ela não se 36:16


lembra do que aconteceu.”

“Quando eu faço um exame, digo aos pais: “Vocês sofrem com 0:30
Vivências o estado dela”. Ela não está sofrendo.”
psicológicas
22

“Sua filha está aqui deitada como a Branca de Neve porque


tudo é tão ruim ao redor dela que esta é a forma de ela se 0:44
proteger.”

“A professora me chamou na escola. Ela disse que minha filha 11:44


estava chorando, dizendo que a mandariam de volta e ela ia
morrer.”

“Quando chegamos a Suécia meu filho estava muito 19:07


estressado. Ele estava triste e assustado, olhava para fora
constantemente e via coisas.”

24:18
“As crianças e suas famílias foram sujeitas quase
exclusivamente a algum trauma. Psicológico, físico ou ambos. E
enfrentam o trauma da deportação.”

26:12
“O medo está em tudo. Está nos nossos corpos.”

“A recuperação geralmente começa quando a família se sente 31:53


segura. Não acontece imediatamente. Geralmente a melhora
ocorre depois de meses.”

32:18
“Lemos a decisão para Dasha, falamos que tudo ia ficar bem.
Que tudo vai dar certo, e que agora ninguém vai nos expulsar.”

“A recuperação das crianças depende de restaurar a


23

esperança. E parece que os pais são os que transmitem a 32:37


esperança. Então deve haver algum tipo de comunicação. O
tom, o toque, a atmosfera no quarto, algo que faz a criança
sentir que os pais tem esperança.”

“Daria continua melhorando. Ela voltou à escola. Ela não se 36:25


lembra do que aconteceu.”

“Quando ela pergunta: “Mãe, eu estava dormindo?” Eu


respondo: “Sim, você era uma princesa adormecida. Mas agora 36:38
você está acordada e tudo vai dar certo.”.”

“Ela só está esperando a situação melhorar. Assim ela poderá


acordar e ser uma pessoa normal e cheia de vida de novo” 0:49

“A segurança é a base da recuperação depois de um trauma.” 9:39

“As crianças viram muitas coisas. E, vieram para a Suécia,


foram para a escola, fizeram amizades, falavam sueco 20:15
Impactos do
perfeitamente, e, de repente...Você vai ter que voltar? As
recomeço
crianças não conseguem lidar com isso.”

“Meus filhos não tiveram uma vida fácil, eles vão à escola mas
não sabemos como sobreviver neste país. O medo está em 26:03

tudo, está nos nossos corpos.”

“Meus filhos se acostumaram a morar aqui. A Suécia é um 29:00


24

ótimo país pra eles. Quero que meus filhos sobrevivam aqui.”
4.3 Procedimento de análise

A proposta deste estudo é realizar a análise de fragmentos do documentário


“A Vida em Mim”, assim, faz-se necessário assistir ao documentário de maneira
criteriosa, a fim de selecionar fragmentos que contemplem o objetivo.
Em seguida, os fragmentos selecionados serão analisados a partir da
perspectiva teórica psicanalítica, comungando autores clássicos com autores
contemporâneos e estudos do tema. Tais fragmentos serão divididos, descritos e
analisados sob a perspectiva de três eixos temáticos: história anterior ao refúgio;
história do refúgio; vivências psicológicas. Ao final dessa etapa, será elaborada uma
discussão, que constará de uma análise final dos fragmentos.
25

5. DISCUSSÃO

Quantos aos eixos temáticos, nos pareceu oportuno observar as experiências


completas dos personagens trazidos no documentário “A Vida em Mim”,
organizando-as em termos temporais, quais são: anterior ao refúgio e durante o
refúgio. Sob a perspectiva desses dois eixos temáticos iniciais, nos interessa
entender por meio do relato dos personagens, quais são as marcas que esses
processos produzem em termos psicodinâmicos nas famílias.
Segundo Freud (1914) nos escritos sobre a técnica, especialmente no texto:
Recordar, Repetir e Elaborar, a dimensão experiencial observada durante o ciclo
vital humano vai marcando nosso psiquismo, e nos colocando de frente com nossas
angústias e com a resistência, e nossa falta de recursos de lidar com a presença da
ausência nos aproxima de conceitos de extrema importância para a psicanálise: a
transferência, a resistência e a atuação.
Na primeira fase do seu trabalho, Freud utilizava-se da recordação em seu
tratamento psicoterápico, de forma que o processo de recordar era trazido através
do relato dos processos mentais pertencentes a uma situação anterior
(FREUD,1914/1996, p.163-164). Com a descoberta da resistência, a técnica
psicanalítica baseada nas associações livres se liga intrinsicamente a repetição,
onde o paciente reproduz aquilo que está recalcado através da atuação. A
recordação está ligada a lembrança daquilo que pode ser lembrado e a repetição
está ligada a atuação dos componentes recalcados. A transferência também tem
uma relação com a repetição, pois esta representa uma transferência do passado
esquecido, se apresentando como uma força que atualiza os componentes
psíquicos que não podiam ser recordados.
Freud (1914) afirma que as resistências devem ser superadas através da
angústia para que ocorra a neurose de transferência, que causam uma
familiarização as resistências.
Além da repetição e da recordação, outro conceito primordial é o de
elaboração. A elaboração é um modo de lidar com a resistência, que provém de uma
repetição que não foi simbolizada, que torna capaz o sujeito de tornar consciente ou
racionalizar um evento ocorrido pela atuação, o que possibilita a elaboração de
ideias inconscientes.
26

Portanto, relacionando os aspectos abordados por Freud e com clareza dos


registros iniciais da temática refúgio para essas famílias que serão apresentadas nos
dois primeiros eixos, adicionaremos o terceiro e quarto eixos de análise, qual seja:
vivências psicológicas, com a finalidade de discutir possíveis caminhos para
compreensão de possíveis significações dos relatos das famílias e os impactos do
recomeço.

5.1 História anterior ao refúgio

Apoiando-nos em relatos dos personagens extraídos e destacados nesse


eixo, a discussão será iniciada sob a ótica de um discurso da existência na não
existência social desses sujeitos, algo bastante comum da vivência da população
yazidi. Seguramente tal aspecto tem impacto importante em termos de suas
experiências posteriores de refúgio.
Pode-se destacar nas falas dessas famílias, por exemplo no minuto: 04:59
quando a família traz em seu discurso “Tenho uma empresa com meus sócios. Um
provedor de internet”, nesse ponto nos parece algo da esfera da existência, do fazer
parte, do desejo de completude, do sentir-se parte simbólica de um todo social.
Todavia, na sequência da mesma fala, é apontado um contraponto, no que
segue “No ano seguinte começaram a fazer ameaças.”, ou ainda “Eles o levaram e
tomaram os documentos dele. Eu soube que ele estava no hospital”. Aqui denotando
um discurso de encontrarem-se com a não existência, do lidar com falta, da ameaça,
do fazer parte, sem fazer, podendo até nos aproximarmos do que sugere Lacan
(1992, p. 48) no lugar da busca do que nunca teremos em: “Cada um de nós, por
conseguinte, só é homem pela metade [...]. De um passaram a ser dois, do que
resulta viverem todos a procurar sua metade complementar”.
Parece interessante também reforçar que o aspecto das incertezas é algo que
remonta a existência dessas famílias, desde sua história inicial e anterior ao refúgio,
sendo uma temática que os acompanhará durante boa parte da vida. No
documentário as falas de incerteza são trazidas no discurso de todas as famílias,
com falas que remontam o ameaçador ambiente que viviam, lhes foram retirados
documentos, eram perseguidos e haviam abusos em diversas esferas, tais como:
físicas, emocionais e psicológicas. Como é trazido no minuto 05:58 “nessa época,
me vigiavam e me seguiam. Um dia, depois de levar as crianças para a escola, voltei
27

para a casa e estavam me esperando perto da porta. A esposa do sócio dele e eu


fomos torturadas e espancadas. Daí, me levaram para a floresta...e um deles me
estuprou”.
Desde a perspectiva psicológica, a exposição durante períodos prolongados a
situações de pressão, ou ainda de impacto emocionais severos poderá gerar
impacto no desenvolvimento psicológico, bem como potenciais alterações nos
aspectos psicodinâmicos tanto dessas famílias, quanto dessas crianças, colocando
por vezes o refúgio como um lugar de uma certa idealização mítica e imaginária, que
posteriormente poderá ou não ser validada.
Além disso, segundo os enunciados n.º 15 e 16 das Diretrizes da Proteção
Internacional do ACNUR (2009), as crianças vivenciam os danos sofridos de forma
mais intensa, por terem mais probabilidade de sofrer com ameaças improváveis e
serem emocionalmente sensibilizadas com condições que não são familiares a elas.
Ao falar de existência, se fala também de construção de identidade, que é
entendida como o fenômeno no qual o homem em uma necessária sustentação ao
narcisismo agarra-se em uma ilusão de ser único [...] Mascarada pela construção
imaginária de uma representação social e a necessidade do sujeito de assegurar
sua pertinência no grupo humano (ROSA, 1997). Contudo, ao observar a fala no
minuto 06:51 “Eles matariam a nós todos: nossos filhos, maridos e nós. Fugimos e
viemos para a Suécia.” Pode-se inferir que tal construção de representação social foi
forçosamente interrompida pelas intempéries não programadas da vida, e que o
sujeito agora não encontra-se mais assegurado em um grupo.

5.2 História durante o refúgio

Sob a ótica das experiências no refúgio, não se deve distanciar do aporte de


Kirmayer et al. (2011), reforçando que os fatores que mais influenciam a saúde
mental da população refugiada são a exposição a condições muito adversas por
exemplo nos campos de refugiados, a ruptura dos laços familiares e comunitários e
a incerteza quanto ao resultado final da migração, assim como a incerteza quanto à
obtenção do estatuto de refugiado, o desemprego ou o subemprego, a perda do
estatuto social, a perda da família e da rede de suporte social.
Entendendo a importância de discussão sobre as experiências no processo
de refúgio como possível articulador de possíveis impactos no âmbito psicodinâmico
28

dessas famílias, pode-se começar reforçando as falas dos personagens no minuto


28:48 “Meus filhos se acostumaram a morar aqui. A Suécia é um ótimo país para
eles. Quero que meus filhos sobrevivam aqui.”, ou ainda em 31.01 “A condição da
jovem Yazidi continua a mesma. Mas agora a irmã mais velha apresenta sinais de
síndrome da resignação. Visitei a família no aniversário da mãe delas. Ela falou que,
no último aniversário dela, há um ano, as duas filhas deram flores de presente e a
beijaram. E agora nenhuma das duas consegue fazer isso.”.
Novamente, as famílias se encontram com a dualidade em suas experiências
mesmo que agora no refúgio, percebendo que por um lado a situação lhes parece
melhor em termos da vida cotidiana, ainda que agora enfrentam um impacto
psicológico severo na vida de seus filhos, com a Síndrome de Resignação, que em
seu torpor completo, coloca o sistema familiar para encontrar-se novamente com
suas limitações, e a dificuldade de fazer parte.
É interessante também reforçar que, em termos do trauma, assim como
sugere Fassin (2014) a experiência do refúgio não afasta necessariamente os
deslocados de seus traumas, pois o processo de reintrodução, adaptação e,
principalmente, compreensão de suas vivências ainda afetará sua saúde mental e,
portanto, se não for devidamente monitorado, desencadeará novas produções de
conteúdo simbólico e até sintomas.
Diante do conceito de recordar, repetir e elaborar, é possível observar que, na
história durante o refúgio, os sujeitos recordam e repetem tais aspectos e impactos
de sua história, como por exemplo no minuto: 11:44 onde “A professora me chamou
na escola. Ela disse que minha filha estava chorando, dizendo que a mandariam de
volta e ela ia morrer.” Elaborar tais questões leva tempo e esforços, pois recordar e
vivenciar traumas causa sofrimento, porém, ao possibilitarmos essa elaboração das
resistências possibilitamos o investimento libidinal para outros objetos, assim,
paramos de repetir para experimentar as coisas novas. Elaborar significa
ressignificar certos aspectos de nossa vida, dos quais nem sempre gostamos de nos
perceber como donos.
Em se tratando do desejo de recomeçar, ou possivelmente se encontrar com
esse lugar idealizado de refúgio, nos parece oportuno citar as experiências trazidas
no documentário nos minutos 4:00 e 8:59 por exemplo, onde existem certas
tentativas reparadoras e de manutenção de uma naturalidade de vida, onde os pais
saem com suas famílias e também com o filho acometido pela síndrome de
29

resignação para atividades externas, o que a priori pode nos parecer algo esperado
e sadio de certa forma, contudo podemos também nos apoiar em contraposição a
essa ideia, em conceitos como afastamento, dificuldade de lidar com a realidade, ou
ainda de fantasia.
Ainda falando da adaptação, é interessante observar a ênfase dada pelas
famílias quando trazem de forma quase que queixosa os eventos anteriores ao
impacto da síndrome de resignação, quando dizem que seus filhos estavam falando
a língua local fluentemente, e nesse sentido apoiados nas ideias de Lacan sobre a
comunicação, como a possibilidade de significação da existência. Dando espaço por
meio dessa imersão na linguagem como a possibilidade de se conectar com o fazer
parte de, quase que como um movimento simbólico de inclusão já que é através da
linguagem que o inconsciente é estruturado e onde é encontrado a sua articulação
essencial (DOR, 1989).
Um ponto que também deve ser observado, as passagens de cuidado entre
famílias e filhos impactados pela síndrome, como exemplo as passagens do minuto
5:16, 14:54 e 23:12, onde podemos observar não somente a tentativa da família em
conectar-se simbolicamente com esses filhos, mas também, o impacto que essas
limitações, e a “ausência” presente nessas crianças, impactando os seus familiares,
levando a choro, falas emocionadas e comportamentos afetivos entre os genitores e
demais familiares.

5.3 Vivências Psicológicas

Observando de forma atenta o documentário e as experiências da famílias,


seria interessante debruçar-nos sob a as questões tanto dos impactos
psicopatológicos, bem como da significação simbólica das vivências, para tal,
iniciaremos com a discussão de falas importantes do documentário, tais sejam nos
primeiros 44 segundos onde a médica traz a seguinte colocação “sua filha está aqui
deitada como a Branca de Neve porque tudo é tão ruim ao redor dela que esta é a
forma de ela se proteger” segundo Freud (1914) isso denota uma clivagem, uma
defesa contra o trauma. Os mecanismos de defesa como a negação, o isolamento
permitem que as pessoas se afastem da distância emocional do passado doloroso,
desta forma, o trauma grava na memória uma característica biológica que evita, mas
não desaparece sob o mecanismo de defesa (CYRULNIK, 2004, p. 88).
30

Um outro ponto a ser analisado é o que pode ser observado no minuto 24:18
“as crianças e suas famílias foram sujeitas quase exclusivamente a algum trauma.
Psicológico, físico ou ambos. E enfrentam o trauma da deportação.” e logo em
seguida em 26:12 “O medo está em tudo. Está nos nossos corpos.” as famílias estão
passando por este trauma do refúgio, por isso a Síndrome da Resignação entra
como um sintoma contra a angústia, angústia essa que segundo Freud, 1926/1996,
v. 20, é a resposta ao trauma e desamparo.
Além disso, podemos observar no minuto 32:37 onde é narrado “A
recuperação das crianças depende de restaurar a esperança. E parece que os pais
são os que transmitem a esperança. Então deve haver algum tipo de comunicação.
O tom, o toque, a atmosfera no quarto, algo que faz a criança sentir que os pais tem
esperança.” Podemos observar que a criança tem nos pais uma figura de apego,
fator importante para desenvolvimento da resiliência. Essa figura de apego é
estabelecida precocemente na vida da criança, desde o seu nascimento, em um
mundo objetal pré-edípico, numa relação triangular onde o objeto permite a criança
agir sobre o mundo mental de sua figura de apego (CREMASCO, 2008).
É interessante ainda observar diversos impactos em aspectos do humor e da
afetividade nas famílias apresentadas no documentário, bem como episódios de
choro, de isolamento e outros comportamentos como resposta aos eventos e
experiências vividas por essas famílias.

5.4 Impactos do recomeço

Finalizaremos a temática do refúgio abordando os impactos do recomeço,


trazendo a questão da saúde mental e a vulnerabilidade dessas famílias refugiadas.
Diferentes tipos de migração têm um forte impacto na situação econômica, social e
familiar, bem como na experiência individual de cada um, isso significa que vencer
as barreiras sociais, econômicas, culturais é primordial no processo de migração
além de ultrapassar as fronteiras geográficas, visto que muitas vezes o indivíduo não
imigra emocionalmente (RODRIGUES et al., 2007).
Ao estar inserido em uma cultura, a identidade passa a significar um traço de
identificação constitutivo e presente de um ideal de ego coletivo, deixando de ser
apenas uma ilusão egóica, estando presente nessa cultura o sujeito carrega o
31

pertencimento a conjunto que lhe deve realização (ROSA, 1997). Porém, ao


analisarmos no minuto 20:15 o trecho “As crianças viram muitas coisas. E, vieram
para a Suécia, foram para a escola, fizeram amizades, falavam sueco perfeitamente,
e, de repente...Você vai ter que voltar? As crianças não conseguem lidar com isso.”,
podemos observar que essa família, já inserida em um contexto cultural diferente, é
obrigada a se desvincular deste também, causando um rompimento dessa nova
identidade construída.
Segundo Kirmayer et al. (2011), apesar da chegada ao outro país, é
importante notar que o momento pós-refúgio é marcado por incertezas, tanto por
parte da espera quanto ao estatuto do refugiado, bem como a adaptação a uma
nova cultura, língua e costumes, o que se pode notar no minuto 26:03 onde uma das
famílias traz o seguinte relato “Meus filhos não tiveram uma vida fácil, eles vão à
escola mas não sabemos como sobreviver neste país” e no minuto 29:00 em um
relato de outra família “Meus filhos se acostumaram a morar aqui. A Suécia é um
ótimo país pra eles. Quero que meus filhos sobrevivam aqui” onde há uma dualidade
de experiências entre as duas famílias, uma delas relata a questão de incerteza,
quanto ao país em que estão residindo e a outra traz a questão de adaptação a este
novo contexto, onde já há uma identificação quanto a nova cultura e a esperança de
sobreviver neste país.
Um outro aspecto que é importante notar, segundo trazido por Martins-Borges
e Pocreau (2012), é a questão dos fatores que impactam o estado de saúde do
indivíduo em sua totalidade em meio a dimensão biopsicossocial. Como trazido no
trecho “Ela só está esperando a situação melhorar. Assim ela poderá acordar e ser
uma pessoa normal e cheia de vida de novo”, ou seja, o campo biológico,
psicológico e social deve estar equilibrado para que a criança tenha a capacidade de
se recuperar e atingir a completude da saúde mental.
32

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda há muito a compreender sobre as vivências e os impactos psicológicos


em população refugiada, bem como sobre a Síndrome de Resignação, pois além de
ser uma temática atual e interdisciplinar, há muitas diferentes visões sobre o
assunto, abrindo com isso um grande espaço para a ampliação das pesquisas e
estudos com foco na singularidade das experiências tanto simbólicas como reais
desses sujeitos. As pesquisas direcionadas a este âmbito são escassas,
principalmente as atuais, o que pode favorecer os estigmas de uma sociedade e de
uma cultura que obstrui novos olhares e conceitos.
Além de algumas características descritas nos eixos apontados na discussão
dessa pesquisa, parece oportuno reforçar que a incerteza é um aspecto que
acompanha essa população descrita no documentário em cada um dos eixos
temáticos descritos e, que tem um aspecto decisivo para a conclusão dos aspectos
sintomáticos da síndrome de resignação, fazendo aqui uma relação importante com
uma fala do documentário, que indica que a segurança é uma possível fonte para a
reabilitação do trauma. Cabe aqui somente fazer um ajuste psicanalítico dessa fala,
indicando que a compreensão da insegurança e a vivência da segurança e
restauração da esperança fará com que essas famílias tenham a oportunidade de
ressignificar.
A Síndrome de Resignação deve ser olhada como um fator que gera impactos
psicológicos na dinâmica familiar. O sentimento de impotência e incompletude
causados pelo um trauma enfrentado durante todo o processo de refúgio faz com
que a pulsão vital dessas famílias se volte a pulsão de morte.
Deve-se ainda observar os aspectos vindos desde o início do processo de
migração até o processo final, onde o sujeito recebe o estatuto de refugiado, a
presença constante da ausência, a sensação de limitação, que é escancarada
durante toda a experiência do refúgio e é ainda mais marcada pela população yazidi.
Por conta disso, a atenção biopsicossocial deve ser voltada a uma temática que não
tenha foco somente nos sintomas, mas sim na singularidade de cada sujeito e o
contexto em que vive.
33

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