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Curso de Psicologia
Gostaríamos de agradecer a nossa família e aos nossos amigos por ter nos
incentivado e por todo o suporte recebido; a todos os professores do curso de
Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, em especial ao Professor Me.
Glauber Moreira Mendonça, nosso orientador, por tudo que nos foi ensinado até aqui
e por todo o aprendizado obtido.
RESUMO
A questão das pessoas refugiadas vai além de um problema social, político ou ainda
econômico, se convertendo em uma triste realidade de natureza humanitária, bem
como uma importante questão de saúde pública de relevância mundial. Nesse
contexto, percebe-se uma crescente discussão acerca dos impactos psicológicos
sofridos por essas pessoas que passam por situações de deslocamento e refúgio,
com especial atenção às crianças. Sob essa ótica, o presente trabalho visa
descrever a partir do documentário “A vida em mim”, as vivências psicológicas de
famílias refugiadas afetadas pela Síndrome de Resignação, buscando analisar sob a
luz da psicanálise. Para tanto, propõe selecionar fragmentos do documentário,
analisá-los e por fim, apresentar uma síntese conclusiva utilizando-se dos aportes
teóricos da psicanálise.
The matter of refugee people goes beyond a social, political or economic problem,
becoming a sad reality of a humanitarian nature, as well as an important public
health issue of global relevance. In this context, there is an increasing discussion
about the psychological impacts suffered by these people who go through situations
of displacement and refuge, with special attention to children. From this perspective,
the present work aims to describe, based on the documentary "Life overtakes me",
the psychological experiences of refugee families affected by the Resignation
Syndrome, seeking to analyze seeking to analyze through the theory of
psychoanalysis. Therefore, it proposes to select fragments of the documentary,
analyze them and, finally, present a conclusive synthesis using the theoretical
contributions of psychoanalysis.
1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………….
……….....9
1.1. Contexto dos
refugiados…………………………………………………………......9
1.2 Saúde
mental.......................................................................................................10
1.3 Atenção
biopsicossocial....................................................................................11
1.4 A Síndrome de
Resignação................................................................................13
1.5 População Yazidi: história e
refúgio..................................................................13
2 OBJETIVO………....................................................................................................15
3 MÉTODO………………………………………………………………………………….16
4 RESULTADOS…………………………………………………………………………...17
4.1 Resumo do documentário “A vida em mim”
……………………………………..17
4.2 Procedimento de
coleta……………………………………………………………...19
4.3 Procedimento de análise…………………………………………………....
……….24
5 DISCUSSÃO…………………………………………………………………………..….25
5.1 História anterior ao
refúgio………………………………………………………….26
5.2 História durante o refúgio……………………………………………………………
27
5.3 Vivências psicológicas………………………………………………………………29
5.4 Impactos do
recomeço……………………………………………………………….30
6 CONSIDERAÇÕES
FINAIS……………………………………………………………..32
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………….33
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1. INTRODUÇÃO
Os yazidis são um grupo minoritário de origem curda que segue uma antiga
religião que mescla elementos referentes ao hinduísmo, judaísmo, cristianismo e
islamismo. Eles residem ao noroeste do Iraque e, por conta de sua religião sofrem
perseguições e enfrentam um genocídio há tempos (CMACAN, 2017). São
considerados pelo Estado Islâmico (EI) um povo praticante de culto satânico e que
possui uma crença inadequada, pois estes não acreditam na reencarnação e não
seguem nenhum livro sagrado (AGÊNCIA BRASIL, 2014).
O primeiro ataque a população yazidi aconteceu em 2014, pelo ISIS (Estado
Islâmico), os yazidis se viram durante duas situações extremas: fugir para o Monte
Sinjar, onde muitos morreram desidratados, desnutridos e capturados ou
permanecer em suas casas aguardando ajuda, onde muitas famílias foram
submetidas a um genocídio nas mãos do ISIS (ANDRADE; MACHADO; BERTOLIN,
2017).
Em 2016, foi noticiado pelo mundo todo a violência sofrida pela etnia yazidi,
especialmente as mulheres. Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas
(ONU) na Suíça em 2016, aproximadamente 400 mil pessoas, entre mortos e
sobreviventes deslocou-se de seu local de origem em busca de refúgio. As
atrocidades cometidas pelo grupo extremista foram considerados crime de guerra
contra a humanidade, sendo reafirmado um estado de genocídio ao povo yazidi pelo
relatório apresentado em Genebra, Suíça, pela Comissão Internacional de Inquérito
sobre a Síria (ONU, 2016; BORDALO, 2016).
A invasão territorial resultou em milhares de assassinatos de homens e
mulheres e crianças vendidas, se tornando escravas sexuais (BORDALO, 2016). Até
2016, o número de mulheres e meninas yazidi ainda detidas pelo EI era estimado
em cerca de 1.800 prisioneiras, em comparação com 3.200 mulheres presas em
condições terríveis (ANDRADE; MACHADO; BERTOLIN, 2017).
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2 OBJETIVO
3 MÉTODO
A ciência não se faz aleatoriamente em suas técnicas, há um roteiro a ser cumprido
e o mesmo se dá em função do método, ou seja, o método é um caminho do
conhecimento científico que traz organização, técnicas e lógica para o trabalho
científico. Com isso, um pesquisador desenvolve fenômenos empregando recursos
técnicos, seguindo um método e se fundamentando em princípios epistemológicos
(SEVERINO, 2007).
O presente estudo de natureza documental, segue proposta metodológica
qualitativa. Os estudos documentais foram apresentados por Gil (2002), como fontes
diversificadas e dispersas, e que não sofreram nenhum tratamento analítico.
Partindo disso, esse estudo fará uso do documentário “A vida em mim”; tal material
relata as vivências de crianças refugiadas que foram afetadas pela Síndrome de
Resignação.
Esse material fora produzido pela plataforma Netflix, dirigido por John Haptas e
Kristine Samuelson com duração de 40 minutos, sendo estreado em 2019.
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4 RESULTADOS
ativa, mas atualmente necessita da ajuda dos pais para se alimentar e cumprir com
atividades de vida diária.
A família de Karen tem permissão de residência temporária por 13 meses,
quando o prazo terminar, terão que requerer asilo novamente. Sua família relata a
motivação para o pedido de asilo e a possível motivação para mudança de
comportamento do filho. No relato, seu pai diz que estava voltando do trabalho com
o seu filho e um amigo, quando foram abordados por um carro no caminho para a
casa, e seu amigo foi executado na frente deles, mas por sorte, Karen e seu pai
conseguiram fugir. Após se mudarem para a Suécia, as mudanças de
comportamento começaram a surgir, como por exemplo: preocupação excessiva,
delírios e alucinações, além de medo sem motivo aparente.
Aparentemente os portadores da síndrome de resignação vêm de lugares
específicos ou até mesmo de minorias étnicas. As crianças e sua família sofreram
por algum trauma, seja ele psicológico, físico, e até mesmo ambos, desta forma
lidam com o possível trauma da deportação.
Leyla, 10 anos, inconsciente há 7 meses. Sua família veio de uma pequena
aldeia nas montanhas no Noroeste do Iraque, nessa aldeia havia um poço em
comum e de uso de todos. Em um determinado dia sua mãe foi buscar água,
quando foi surpreendida e estuprada por quatro homens. Além da situação de
vítima, sua mãe foi humilhada ao carregar tal desonra para a família diante de uma
situação de abuso onde foi jurada de morte pelo próprio pai. Após 11 meses de
inconsciência, sua irmã mais velha passa a apresentar os mesmos sintomas. Neste
caso, sua família ainda corre risco de deportação.
De acordo com os dados apresentados, a Suécia é o país com o maior índice
de crianças com a síndrome da resignação. Uma das hipóteses é que existem
fatores culturais exclusivos à Suécia, como as incertezas enfrentadas durante o
processo de asilo, que podem ser desencadeadores da síndrome.
Após mais de um ano de espera, a família de Daria teve o visto aprovado
para residência na Suécia, e meses depois podemos observar a progressiva
melhora de Daria, até o momento em que sai completamente do estado de
resignação e relata que não possui recordações deste período.
As recuperações relatadas geralmente começam quando a família passa a
sentir-se segura e depende da restauração da esperança.
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Nos últimos 3 anos, o número de novos casos relatados foi de mais de 200,
acompanhados do crescimento do sentimento anti-imigrante e políticas mais rígidas
de asilo no país.
“Agora trabalho tempo integral. Estou muito feliz assim e quero 34:15
continuar trabalhando.”
“Quando eu faço um exame, digo aos pais: “Vocês sofrem com 0:30
Vivências o estado dela”. Ela não está sofrendo.”
psicológicas
22
24:18
“As crianças e suas famílias foram sujeitas quase
exclusivamente a algum trauma. Psicológico, físico ou ambos. E
enfrentam o trauma da deportação.”
26:12
“O medo está em tudo. Está nos nossos corpos.”
32:18
“Lemos a decisão para Dasha, falamos que tudo ia ficar bem.
Que tudo vai dar certo, e que agora ninguém vai nos expulsar.”
“Meus filhos não tiveram uma vida fácil, eles vão à escola mas
não sabemos como sobreviver neste país. O medo está em 26:03
ótimo país pra eles. Quero que meus filhos sobrevivam aqui.”
4.3 Procedimento de análise
5. DISCUSSÃO
resignação para atividades externas, o que a priori pode nos parecer algo esperado
e sadio de certa forma, contudo podemos também nos apoiar em contraposição a
essa ideia, em conceitos como afastamento, dificuldade de lidar com a realidade, ou
ainda de fantasia.
Ainda falando da adaptação, é interessante observar a ênfase dada pelas
famílias quando trazem de forma quase que queixosa os eventos anteriores ao
impacto da síndrome de resignação, quando dizem que seus filhos estavam falando
a língua local fluentemente, e nesse sentido apoiados nas ideias de Lacan sobre a
comunicação, como a possibilidade de significação da existência. Dando espaço por
meio dessa imersão na linguagem como a possibilidade de se conectar com o fazer
parte de, quase que como um movimento simbólico de inclusão já que é através da
linguagem que o inconsciente é estruturado e onde é encontrado a sua articulação
essencial (DOR, 1989).
Um ponto que também deve ser observado, as passagens de cuidado entre
famílias e filhos impactados pela síndrome, como exemplo as passagens do minuto
5:16, 14:54 e 23:12, onde podemos observar não somente a tentativa da família em
conectar-se simbolicamente com esses filhos, mas também, o impacto que essas
limitações, e a “ausência” presente nessas crianças, impactando os seus familiares,
levando a choro, falas emocionadas e comportamentos afetivos entre os genitores e
demais familiares.
Um outro ponto a ser analisado é o que pode ser observado no minuto 24:18
“as crianças e suas famílias foram sujeitas quase exclusivamente a algum trauma.
Psicológico, físico ou ambos. E enfrentam o trauma da deportação.” e logo em
seguida em 26:12 “O medo está em tudo. Está nos nossos corpos.” as famílias estão
passando por este trauma do refúgio, por isso a Síndrome da Resignação entra
como um sintoma contra a angústia, angústia essa que segundo Freud, 1926/1996,
v. 20, é a resposta ao trauma e desamparo.
Além disso, podemos observar no minuto 32:37 onde é narrado “A
recuperação das crianças depende de restaurar a esperança. E parece que os pais
são os que transmitem a esperança. Então deve haver algum tipo de comunicação.
O tom, o toque, a atmosfera no quarto, algo que faz a criança sentir que os pais tem
esperança.” Podemos observar que a criança tem nos pais uma figura de apego,
fator importante para desenvolvimento da resiliência. Essa figura de apego é
estabelecida precocemente na vida da criança, desde o seu nascimento, em um
mundo objetal pré-edípico, numa relação triangular onde o objeto permite a criança
agir sobre o mundo mental de sua figura de apego (CREMASCO, 2008).
É interessante ainda observar diversos impactos em aspectos do humor e da
afetividade nas famílias apresentadas no documentário, bem como episódios de
choro, de isolamento e outros comportamentos como resposta aos eventos e
experiências vividas por essas famílias.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
A VIDA EM MIM. Dirigido Por: John Haptas; Kristine Samuelson. Suécia: Netflix,
2019. 1 DVD (40 min.).
FELDMAN, R. Primary health care for refugees and asylum seekers: A review of the
literature and a framework for services. Public Health, n. 120, p. 809–816, 2006.
Disponível em: <doi:10.1016/j.puhe.2006.05.014>. Acesso em: 30 nov. 2020.
GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas S.A.,
2002.
NAÇÕES UNIDAS BRASIL. Síria: 'O genocídio ocorreu e está em curso', diz
comissão da ONU sobre yazidis atacados pelo ISIL. Disponível em:
https://brasil.un.org/pt-br/73407-siria-o-genocidio-ocorreu-e-esta-em-curso-diz-
comissao-da-onu-sobre-yazidis-atacados-pelo. Acesso em: 4 dez. 2020.
STORM, T.; ENGBERG, M. The impact of immigration detention on the mental health
of torture survivors is poorly documented-a systematic review. Danish Medical
Journal, n. 60, p. 1-7, 2013.