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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE SAÚDE

Licenciatura em Psicologia Clínica e Assistência Social

2º Ano

ESQUIZOFRENIA

Beira, Outubro de 2022

1
Discentes:
 Eldina Joaquim Coimbra
 Luciana da Conceição
 Inácio Bonde
 Marlene Luís Magaio
 Nádia Marta Berecuane

ESQUIZOFRENIA

O presente trabalho a apresentar é da cadeira


de ………………, do 2º Ano do curso de
Licenciatura em Psicologia Clínica e
Assistência Social, da Universidade Católica de
Moçambique, orientado pelo docente
………………………

Beira, Outubro de 2022

2
Índice
1. Introdução.................................................................................................................. 5

1.1. Objectivos .......................................................................................................... 6

1.1.1. Objectivo geral ........................................................................................... 6

1.1.2. Objectivos específicos ................................................................................ 6

2. ESQUIZOFRÊNIA ................................................................................................... 7

2.1. Contextualização teórica .................................................................................... 7

2.1.1. Conceito ...................................................................................................... 7

2.1.2. Incidência.................................................................................................... 7

2.1.3. Etiologia ..................................................................................................... 7

2.1.3.1. Factores genéticos ................................................................................... 7

2.1.3.2. Factores neurobiológicos ........................................................................ 8

2.1.3.3. Factores psicossociais ............................................................................. 8

2.1.4. Desencadeamento ....................................................................................... 8

2.1.4.1. Personalidade pré-mórbida ..................................................................... 9

2.1.4.2. Sinais e sintomas ..................................................................................... 9

2.2. Psicopatologia .................................................................................................. 10

2.2.1. Desorganização do Pensamento (Discurso) ............................................. 10

2.2.2. Distúrbio Emocional ................................................................................. 11

2.2.3. Distúrbios de vontade ............................................................................... 11

2.2.4. Distúrbios de sintomas ............................................................................. 12

2.2.5. Distúrbios catatónicos .............................................................................. 12

2.2.6. Distúrbios de Delírios ............................................................................... 12

2.2.7. Alucinações .............................................................................................. 13

2.3. Formas clínicas ................................................................................................ 13

2.3.1. Esquizofrenia simples ............................................................................... 13

2.3.2. Esquizofrenia hebefrênica ........................................................................ 14

3
2.3.3. Esquizofrenia parafrenica ......................................................................... 14

2.3.4. Esquizofrenia paranóide ........................................................................... 14

2.4. Diagnóstico ...................................................................................................... 14

2.4.2. Diagnóstico Diferencial ............................................................................ 15

2.4.2.1. Transtornos relacionados à esquizofrenia ............................................. 15

2.4.2.2. Transtornos nosograficamente distintos da esquizofrenia .................... 15

2.4.3. Quadros orgânicos com manifestação esquizofreniforme ........................ 16

2.4.4. Prognóstico ............................................................................................... 16

2.4.5. Tratamento ................................................................................................ 17

3. Conclusão ................................................................................................................ 19

4. Referências bibliográficas ....................................................................................... 20

4
1. Introdução

Neste presente trabalho ira se abordar sobre a Esquizofrenia, seu conceito, sua
psicopatologia, as formas clínicas, diagnóstico e o seu tratamento. Apesar dos imensos
avanços nas últimas décadas, particularmente em função do avanço das neurociências, a
psiquiatria ainda guarda algumas áreas de grande polémica e de conceitos inconclusos.
Desde sua primeira descrição na literatura por Kraepelin, em 1903, as psicoses
paranóides do envelhecimento têm recebido distintas definições e descrições que
mudaram no de correr do tempo. Esta é área do conhecimento psiquiátrico das mais
complexas, nebulosas e desconhecidas. A insuficiência de estudos nessa área contrasta
com o imenso fascínio que desperta como tema de estudo psiquiátrico. A busca de seu
entendimento confunde-se com a pró ria história da psicogeriatria, com contribuições,
ao seu esclarecimento, de alguns dos mais importantes autores da história da medicina.
Esse grupo de transtornos deve ser distinguido das psicoses tardias que cursam com
doenças cerebrais, como as demências degenerativas e vasculares, os transtornos do
humor, os transtornos de personalidade, os transtornos clínicos, as patologias
decorrentes do uso e abuso de substâncias, bem como de outras causas exógenas.

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1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo geral


 Abordar sobre a Esquizofrenia.

1.1.2. Objectivos específicos

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2. ESQUIZOFRÊNIA

2.1. Contextualização teórica


2.1.1. Conceito

De acordo com o MEDGRUPO (2019, P.35) esquizofrenia é um transtorno grave,


heterogéneo, de causa desconhecida, com sintomas psicóticos que prejudicam
significativamente o funcionamento social. Tem evolução crónica e, na maioria das
vezes, apresenta prognóstico sombrio. Os transtornos esquizofrénicos são descritos, em
geral, por distúrbios característicos do pensamento, da percepção e do afecto. A
consciência clara e a capacidade intelectual estão normalmente mantidas, embora possa
ocorrer deficit cognitivo com a evolução do quadro

2.1.2. Incidência

A esquizofrenia é uma doença de distribuição universal, que atinge principalmente a


população jovem. Acomete igualmente os dois sexos, variando, contudo, quanto ao
início e curso da doença. No sexo masculino, a doença tem o início mais precoce, entre
10 e 25 anos, enquanto a idade de início nas mulheres varia entre 25 e 35 anos.
Aproximadamente 90% dos pacientes em tratamento têm entre 15 e 55 anos e o início
na infância ou após os 60 anos é extremamente raro. Considera-se que a prevalência da
doença seja de 1% na população mundial e não parece haver diferença entre classes
sociais, áreas urbanas ou rurais, países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

2.1.3. Etiologia

Apesar de ser considerada uma doença única, esta categoria diagnóstica inclui um grupo
de transtornos, provavelmente com causas heterogéneas, mas apresentações
sintomáticas semelhantes. A esquizofrenia abrange pacientes com manifestações
clínicas, resposta ao tratamento e curso da doença bastante variados. Sendo assim,
nenhum factor etiológico isolado é considerado como causador. O modelo etiológico
usado com maior frequência é o modelo de stresse diátese, segundo o qual o indivíduo
que desenvolve esquizofrenia teria uma vulnerabilidade biológica específica (diátese),
que, activada pelo stresse, permitiria o aparecimento dos sintomas. Os factores
entressorres podem ser genéticos, biológicos, psicossociais ou ambientais.

2.1.3.1. Factores genéticos

7
Vários estudos sugerem um componente genético na etiopatogenia deste transtorno. Foi
observado que a incidência nas famílias é maior que na população em geral, e a
concordância entre gémeos monozigóticos é maior que em gémeos dizigóticos. Além
disso, o estudo com filhos adoptivos indica que o risco está associado à presença de
esquizofrenia nos parentes biológicos; o fato de conviver com um esquizofrénico não
parece aumentar no adoptivo o risco da doença.

2.1.3.2. Factores neurobiológicos

A formulação da hipótese dopamínica postula que a esquizofrenia resulte de uma


actividade dopaminérgica exacerbada. Esta teoria baseia- -se no fato de que a acção da
maioria dos antipsicóticos está relacionada a sua função antagonista nos receptores
dopaminérgicos do tipo 2 (D2). O aumento da actividade dopaminérgica causada
notadamente por algumas drogas (cocaína e anfetamina) e seu consequente efeito de
piora ou aparecimento de sintomas psicóticos também contribui para esta hipótese.
Assim, podemos dizer que, apesar de não estar completamente esclarecida, a acção
dopaminérgica mostra-se importante nas manifestações sintomáticas da esquizofrenia.
Apesar disso, outros neurotransmissores têm sido estudados, e estudos indicam que haja
uma interacção de sistemas múltiplos de neurotransmissores na regulação dos sinais e
sintomas da esquizofrenia, principalmente o sistema serotoninérgico. Alterações
neuropatológicas e neuroquímicas, principalmente no sistema límbico e nos gânglios da
base, têm sido pesquisadas quanto à sua possível implicação no desenvolvimento da
esquizofrenia.

2.1.3.3. Factores psicossociais

Várias teorias têm discutido o papel de factores psicodinâmicos no desenvolvimento da


esquizofrenia. Neste aspecto, a dimensão central da psicose estaria relacionada à perda
de contacto com a realidade. Questões familiares, individuais e sociais parecem ser
fundamentais no entendimento da dinâmica do paciente e de seus conflitos psicológicos
e, consequentemente, do significado simbólico de seus sintomas.

2.1.4. Desencadeamento

O quadro clínico da esquizofrenia é bastante polimorfo e heterogéneo. Não há sinal ou


sinto ma patognomónico da esquizofrenia, e é preciso considerar o nível educacional, a

8
capacidade intelectual e o ambiente cultural do paciente. Além disso, os sintomas
podem mudar com a evolução do quadro.

2.1.4.1. Personalidade pré-mórbida

Os traços mais característicos são retraimento social e emocional, introversão, tendência


ao isolamento e comportamento desconfiado e excêntrico. São pessoas de poucos
amigos, que apresentavam dificuldades na escola e no relacionamento afectivo com o
sexo oposto. Muitas vezes, também não conseguem se adaptar ao trabalho, sendo
incapazes de manter vínculo empregatício prolongado. Desse modo, em alguns casos,
podemos observar retrospectivamente características clínicas compatíveis com
personalidade esquizoide (frieza emocional, preferência por actividades isoladas,
introspecção) ou esquizotípica (comportamento estranho, crenças excêntricas).

2.1.4.2. Sinais e sintomas

O paciente esquizofrénico dificilmente tem crítica de que seu estado é patológico e a


ausência de insight frequentemente está relacionada à má adesão ao tratamento. Embora
o nível de consciência, a orientação tempo roespacial, a memória e a inteligência não
estejam directamente afectados, muitas vezes o paciente tem alterações destas funções
psíquicas em decorrência do quadro psicótico que está vivenciando.

 Aspecto geral: A aparência é, em geral, desleixada, denotando a ausência de


cuidados próprios. O comportamento pode tornar-se agitado ou violento,
frequentemente em resposta à actividade alucinatória. Nos quadros de catatonia,
o paciente pode apresentar posturas bizarras, mutismo, negativismo e obediência
automática. Outros comportamentos observados incluem estereotipias,
maneirismos, tiques e ecopraxia, na qual o paciente imita a postura ou atitudes
adoptadas pelo examinador.
 Afectividade: Os sintomas afectivos mais comuns na esquizofrenia são
embotamento e impropriarão do afecto. Perplexidade, ambivalência ou
instabilidade afectiva também podem ser observadas.
 Sensopercepção: Quaisquer dos sentidos podem ser afectados por experiências
alucinatórias nos pacientes esquizofrénicos. As alucinações mais comuns são
auditivas, com vozes geral mente ameaçadoras, obscenas ou acusatórias. Duas
ou mais vozes podem dialogar entre si ou uma voz pode comentar a vida e as

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atitudes do paciente. Alucinações cenestésicas são percepções alteradas dos
órgãos e do esquema corporal, como sentir o cérebro encolhendo, o fígado se
despedaçando ou perceber que roubaram seus ossos. Alucinações visuais,
tácteis, olfactivas e gustativas também podem ocorrer, mas geralmente indicam a
presença de uma síndrome psicogenia ou de psicose desencadeada por drogas.
 Pensamento: O delírio é uma das principais alterações do pensamento
encontrada em pacientes esquizofrénicos e podem ter conteúdos persecutórios,
autorreferentes, religiosos ou grandiosos. O paciente pode acreditar que seus
pensamentos ou comportamento são controlados por uma entidade externa,
constituindo delírios de influência. O pensamento pode apresentar-se
desagregado, com vivências de roubo, intrusão, difusão ou bloqueio. Outras
alterações incluem o afrouxamento dos nexos associativos, incoerência e
tangencialidade.
 Linguagem: Neologismos e ecolalia podem ser observados, assim como
quadros de mutismo. A mussitação é a produção repetitiva de uma voz muito
baixa, murmurada, em tom monocórdico, sem significado comunicativo, como
se estivesse falando “para si”; pode ser encontrada com frequência na
esquizofrenia
2.2. Psicopatologia

A psicopatologia pode ser definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao


adoecimento mental do ser humano. Desse modo, o campo da psicopatologia inclui um
grande número de fenómenos humanos associados ao que se denominou,
historicamente, doença mental. São vivências, estados mentais e padrões
comportamentais descritos sob a forma de sintomas, didaticamente divididos entre as
funções psíquicas.

Os aspectos mais característicos da esquizofrenia são alucinações e delírios, transtornos


de pensamento e fala, perturbação das emoções e do afecto, deficits cognitivos.
Alucinações e delírios são frequentemente observados em algum momento durante o
curso da esquizofrenia.

2.2.1. Desorganização do Pensamento (Discurso)

A desorganização do pensamento (transtorno do pensamento formal) costuma ser


inferida a partir do discurso do indivíduo. Este pode mudar de um tópico a outro

10
(descarrilamento ou afrouxamento das associações). As respostas a perguntas podem ter
uma relação oblíqua ou não ter relação alguma (tangencialidade). Raras vezes, o
discurso pode estar tão gravemente desorganizado que é quase incompreensível,
lembrando a afasia receptiva em sua desorganização linguística (incoerência ou "salada
de palavras"). Uma vez que o discurso levemente desorganizado é comum e
inespecífico, o sintoma deve ser suficientemente grave a ponto de prejudicar de forma
substancial a comunicação efectiva. A gravidade do prejuízo pode ser de difícil
avaliação quando a pessoa que faz o diagnóstico vem de um contexto linguístico
diferente daquele de quem está sendo examinado. Pode ocorrer desorganização menos
grave do pensamento ou do discurso durante os períodos prodrômicos ou residuais da
esquizofrenia.

2.2.2. Distúrbio Emocional

O distúrbio emocional é uma condição exibindo uma ou mais das seguintes


características durante um longo período de tempo e num grau acentuado que afecta
negativamente a consciência do indivíduo:

 Uma incapacidade de aprender que não pode ser explicada por factores
intelectuais, sensoriais ou de saúde;
 Uma incapacidade de construir ou manter relações interpessoais satisfatórias
com colegas e professores e professoras;
 Tipos inapropriados de comportamento ou sentimentos sob circunstâncias
normais;
 Um estado generalizado de infelicidade ou depressão;
 Uma tendência a desenvolver sintomas físicos ou medos associados a problemas
pessoais ou emoções.

2.2.3. Distúrbios de vontade

Os pacientes com esse transtorno se envolvem repetidamente em actividades focadas no


corpo (p. ex., roer as unhas, morder os lábios, morder a bochecha).

Alguns pacientes se envolvem nessas actividades quase que automaticamente (sem


plena consciência); outros estão mais conscientes da actividade. Os comportamentos
não são provocados por obsessões ou preocupações com a aparência, mas podem ser

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precedidos por uma sensação de tensão ou ansiedade que é aliviada pelo
comportamento, o que também é muitas vezes acompanhado por uma sensação de
gratificação. Pessoas com transtorno de comportamento repetitivo com foco no corpo
tentam parar ou diminuir seu comportamento.

2.2.4. Distúrbios de sintomas

O transtorno de sintomas somáticos é caracterizado por um ou mais sintomas físicos


crónicos acompanhados por níveis significativos e desproporcionais de angústia,
preocupação e dificuldade em desempenhar funções diárias, relacionadas a esses
sintomas. A pessoa com transtorno de sintomas somáticos fica preocupada com seus
sintomas e gasta muito tempo e energia com esses sintomas e preocupando-se com a
saúde. O médico faz o diagnóstico desse transtorno quando a pessoa continua
preocupada com seus sintomas depois que a possibilidade de haver uma doença física já
foi descartada ou quando a resposta à sua doença física é excepcionalmente intensa.
Psicoterapia, especialmente terapia cognitivo-comportamental, pode ajudar, assim como
ter um relacionamento de confiança e de apoio com um médico

2.2.5. Distúrbios catatónicos

A catatonia é uma síndrome clínica caracterizada por anormalidades comportamentais


impressionantes que podem incluir imobilidade ou excitação motora, negativismo
profundo ou ecolalia (imitação da fala) ou ecopraxia (imitação de movimentos). O
diagnóstico só é dado caso o transtorno catatónico ocorra devido a uma condição
médica geral.

É uma condição incomum, mais vista em pacientes com doenças primárias do humor ou
transtornos psicóticos avançados. Cerca de 25 a 50% dos pacientes internados pelo
problema tem um transtorno de humor, como o episódio depressivo maior, ao passo que
aproximadamente 10% tem esquizofrenia.

2.2.6. Distúrbios de Delírios

Os delírios são crenças fixas, não passíveis de mudança à luz de evidências


conflituantes. Seu conteúdo pode incluir uma variedade de temas (p. ex., persecutório,
de referência, somático, religioso, de grandeza). Delírios persecutórios (i.e., crença de

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que o indivíduo irá ser prejudicado, assediado, e assim por diante, por outra pessoa,
organização ou grupo) são mais comuns. Delírios de referência (i.e., crença de que
alguns gestos, comentários, estímulos ambientais, e assim por diante, são direccionados
à própria pessoa) também são comuns. Delírios de grandeza (i.e., quando uma pessoa
crê que tem habilidades excepcionais, riqueza ou fama). Delírios são considerados
estranhos se claramente implausíveis e incompreensíveis por outros indivíduos da
mesma cultura, não se originando de experiências comuns da vida. Um exemplo de
delírio estranho é a crença de que uma força externa retirou os órgãos internos de uma
pessoa, substituindo-os pelos de outra sem deixar feridas ou cicatrizes. Os delírios que
expressam perda de controle da mente ou do corpo costumam ser considerados
estranhos; eles incluem a crença de que os pensamentos da pessoa foram "removidos"
por alguma força externa (retirada de pensamento), de que pensamentos estranhos foram
colocados na mente (inserção de pensamento) ou de que o corpo ou as acções do
indivíduo estão sendo manipulados por uma força externa (delírios de controle).

2.2.7. Alucinações

Alucinações são experiências semelhantes à percepção que ocorrem sem um estímulo


externo. São vividas e claras, com toda a força e o impacto das percepções normais, não
estando sob controlo voluntário. Podem ocorrer em qualquer modalidade sensorial,
embora as alucinações auditivas sejam as mais comuns na esquizofrenia e em
transtornos relacionados. Alucinações auditivas costumam ser vividas como vozes,
familiares ou não, percebidas como diferentes dos próprios entos do indivíduo. As
alucinações devem ocorrer no contexto de um sensório sem alterações; as que ocorrem
ao adormecer (hipnagógicas) ou ao acordar (hipnopômpicas) são consideradas como
pertencentes ao âmbito das experiências normais. Em alguns contextos culturais,
alucinações podem ser elemento normal de experiências religiosas.

2.3. Formas clínicas

O CID-10 utiliza nove subtipos de esquizofrenia: paranóide, hebefrênica, catatónica,


indiferenciada, depressão pós-esquizofrénica, residual, esquizofrenia simples, outra
esquizofrenia, esquizofrenia não especificada. O DSM-V abandonou a classificação em
subtipos de esquizofrenia. A justificativa é a pouca importância na prática médica.

2.3.1. Esquizofrenia simples

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Esquizofrenia simples: caracterizado pelo início insidioso e progressivo de conduta
estranha e incapacidade para atender às exigências da sociedade, com declínio global do
desempenho. Os aspectos negativos da esquizofrenia residual, como embotamento
afectivo e perda da volição, se desenvolvem sem ser precedidos por quaisquer sintomas
psicóticos manifestos.

2.3.2. Esquizofrenia hebefrênica

Caracteriza-se pela inadequação e incongruência do afecto, com risos imotivados e


maneirismos. O delírio é fragmentado e há grave desorganização do pensamento. O
discurso costuma ser incoerente e podem existir alucinações auditivas. O
comportamento pode ser pueril e inapropriado. O início do quadro nesta forma costuma
ser antes dos 25. Há uma tendência ao isolamento social e geralmente o prognóstico é
desfavorável, devido à intensa desestruturação psíquica e à presença de sintomas
negativos, particularmente, embotamento afectivo e perda da volição

2.3.3. Esquizofrenia parafrenica

Segundo CORREIA (2017), o conceito de parafrenia, descrito por Kraepelin, em 1903,


foi recuperado, em 1953, por Roth, mantendo muitas de suas características originais,
entretanto, também se mostrou insuficiente para a caracterização desse grupo de
transtornos psíquicos. A parafrenia fazia parte do subgrupo dos estados paranóides e foi
descrita como psicose paranóide cuja clínica se caracterizava pela importante presença
de alucinações, sem sintomas afectivos e pensamento desorganizado e boa preservação
da personalidade.

2.3.4. Esquizofrenia paranóide

É a forma mais comum e geralmente de início mais tardio do que nas formas
hebefrência e catatónica, o que pode garantir que o paciente permaneça mais
preservado. O quadro clínico é caracterizado pela presença de ideias delirantes, de
conteúdo principalmente persecutório, de grandeza ou místico, acompanhadas de
alucinações auditivas e perturbações do senso percepção. As vozes alucinatórias
costumam ter carácter ameaçador ou de comando e vivências de influência são comuns.
Alterações do afecto, vontade e psicomotricidade não são proeminentes.

2.4. Diagnóstico

O diagnóstico é fenomenológico, a partir da observação e descrição do paciente. São


utilizados diversos sistemas diagnósticos baseados em descrições clínicas. O
diagnóstico da esquizofrenia envolve o reconhecimento de um conjunto de sinais e
sintomas associados ao prejuízo social ou ocupacional. Não existe, até o momento,
nenhum exame complementar que possa identificar o transtorno da esquizofrenia. Os
exames complementares só devem ser solicitados para realizar o diagnóstico diferencial
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com os quadros psicóticos associados a outras condições médicas. A definição precisa
da esquizofrenia, seus sintomas mais fundamentais e característicos, aquilo que lhe é
mais peculiar e central, é tema de intensas discussões em psicopatologia. Não existem
sinais ou sintomas patognomónicos, em vez disso, um grupamento de achados
característicos forma o diagnóstico. Entre as mais importantes definições de sintomas
essenciais na esquizofrenia estão as apresentadas a seguir

2.4.2. Diagnóstico Diferencial

Para o estabelecimento do diagnóstico de esquizofrenia é necessário antes excluir outros


quadros psiquiátricos cuja sintomatologia é muito semelhante à da esquizofrenia. Três
grupos de transtornos devem ser considerados: transtornos cujos critérios se
assemelham ao da esquizofrenia; transtornos nosograficamente distintos da
esquizofrenia; e quadros orgânicos com manifestação esquizofreniforme.

2.4.2.1. Transtornos relacionados à esquizofrenia

No transtorno esquizotípico, ocorrem comportamentos excêntricos, alterações no


pensamento e no afecto semelhante aos da esquizofrenia, sem que os sintomas
característicos da esquizofrenia estejam presentes. Os transtornos delirantes incluem
quadros em que há delírios persistentes, sistematizados, de longa duração, na ausência
de alucinações proeminentes ou outros sintomas esquizofrénicos. No transtorno
esquizofreniforme, os sintomas podem ser idênticos à esquizofrenia, mas duram menos
que seis meses. Os transtornos psicóticos agudos e transitórios são caracterizados por
início abrupto, estão claramente associados a uma situação de estresse, duram menos
que um mês, e o quadro é polimórfico. No transtorno esquizoafetivo, os sintomas
afectivos desenvolvem-se simultaneamente aos sintomas da esquizofrenia, mas os
delírios e alucinações devem estar presentes por duas semanas na ausência de sintomas
proeminentes do humor durante alguma fase da doença.

2.4.2.2. Transtornos nosograficamente distintos da esquizofrenia

Tanto episódios maníacos quanto episódios depressivos maiores podem manifestar


sintomas psicóticos. Nos transtornos do humor, no entanto, se as alucinações e delírios
estão presentes, seu desenvolvimento ocorre após a perturbação do humor e não
persistem. Além disso, os sintomas afectivos na esquizofrenia devem ser breves em
relação aos critérios essenciais. Outros factores que ajudam no diagnóstico diferencial

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incluem história familiar, história pré-mórbida e resposta ao tratamento. Em certos
transtornos de personalidade podem ocorrer sintomas que se assemelham ao da
esquizofrenia, como transtornos de personalidade paranóide e borderline. Geralmente,
se ocorrem sintomas psicóticos, estes são transitórios e não proeminentes. Os quadros
de retardo mental podem apresentar distúrbios de comportamento e de humor que
sugerem esquizofrenia.

Contudo, o retardo mental não envolve sintomas claramente psicóticos e apresentam


nível constante de funcionamento em vez de deterioração. Quadros ansiosos e
dissociativos devem, também, ser lembrados no diagnóstico diferencial da
esquizofrenia.

2.4.3. Quadros orgânicos com manifestação esquizofreniforme

Diversas condições clínicas apresentam-se com sintomas semelhantes aos da


esquizofrenia. A presença de alteração de nível de consciência e desorientação
temporoespacial, configurando um quadro de delírio, permite suspeitar de um transtorno
mental agudo. Por outro lado, nos quadros orgânicos crónicos, podem ocorrer alterações
de memória, deterioração intelectual, prolixidade e labilidade afectiva. Os delírios e
alucinações costumam ser menos sistematizados e pode haver comprometimento da
cognição e sinais de lesão do SNC. A ocorrência de alucinações visuais também é
sugestiva de um transtorno orgânico. Muitas vezes, no entanto, o quadro clínico é muito
semelhante, sendo necessária a realização de exames complementares para exclusão de
possíveis causas orgânicas. Os exames complementares estão indicados, principalmente,
em pacientes com início do quadro após os 40 anos de idade. É importante suspeitar de
condições orgânicas especialmente quando houver uma apresentação atípica ou variação
do nível de consciência.

2.4.4. Prognóstico

Sintomas prodrômicos de ansiedade, perplexidade ou depressão, geralmente, precedem


o início do quadro e podem estar presentes por meses antes de ser feito um diagnóstico
definitivo. O início costuma ocorrer entre 20 e 25 anos. Eventos desencadeantes, tais
como trauma emocional, uso de drogas e separações podem precipitar episódios
esquizofrénicos em indivíduos predispostos. Classicamente, o curso da doença consiste
de exacerbações e remissões. A cada recaída segue-se uma deterioração adicional do

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funcionamento básico do paciente. A vulnerabilidade ao stresse é mantida. Ao longo do
quadro, os sintomas positivos mais exuberantes (delírios e alucinações) tendem a
diminuir de intensidade, enquanto os sintomas negativos mais residuais (embotamento
afectivo e estranhezas do comportamento) podem se tornar mais graves.

2.4.5. Tratamento

O tratamento de escolha baseia-se no uso de Antipsicóticos (APs), também chamados


de neurolépticos, associado a estratégias psicossociais. Existem duas classes principais:
os antipsicóticos típicos ou de primeira geração e os atípicos ou de segunda geração.
Uma vez que os APs são igualmente eficazes em doses equivalentes, qualquer uma das
drogas pode ser utilizada inicialmente (Tabela 4).

Os APs típicos são medicações que bloqueiam preferencialmente os receptores D2


dopaminérgicos nos sistemas mesolímbico, mesocortical, nigroestriatal e túbero-
infundibular. São eficazes no tratamento de sintomas positivos e podem produzir efeitos
colaterais, como sintomas parkinsonianos e aumento da prolactina. Estas medicações,
hoje, constituem a segunda escolha devido aos efeitos colaterais, embora sejam mais
baratas e estejam mais disponíveis. Entre os APs típicos, encontramos drogas de alta e
baixa potência. Os APs de alta potência são mais utilizados, apesar da possibilidade de
efeitos extrapiramidais. Por sua vez, os APs de baixa potência são caracteristicamente
mais sedativos e costumam ser escolhidos como primeira opção em pacientes que
apresentem agitação ou insónia.

Tabela 1: Antipsicóticos mais comuns e doses usuais

Típicos Alta potência Típicos Baixa potência Atípicos


Haloperidol 5-15 mg/dia Clorpromazina 300-800 Risperidona 2-8 mg/dia
mg/dia
Flufenazina 5-15 mg/dia Levomepromazina 100-300 Olanzapina 5-20 mg/dia
mg/dia
Quetiapina 300-400 mg/di
Clozapina 200-500 mg/dia

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Os APs atípicos atuam em outros sítios da dopamina e podem ter acção em outras vias
neurotransmissoras. São medicações mais bem toleradas e mais eficazes no tratamento
de sintomas negativos, porém de alto custo.

Os antipsicóticos atípicos podem ser indicados nos casos de intolerância aos APs típicos
ou nos pacientes em que existe uma chance maior de ocorrer sintomas extrapiramidais.
A clozapina é reservada para os casos em que há resistência a outros APs, não devendo
ser utilizada como primeira escolha, devido ao risco de complicações hematológicas
(agranulocitose). O tratamento do primeiro episódio deve ser iniciado com doses baixas
de um neuroléptico de segunda geração, com aumento gradual da dose semanalmente.
Os APs podem demorar de 3 a 8 semanas para produzir algum efeito. Se não houver
resposta satisfatória dos sintomas após este período, deve-se trocar por um neuroléptico
de outra classe farmacológica. A medicação deve ser mantida por um mínimo de 6 a 12
meses após a remissão dos sintomas. Nos episódios psicóticos agudos, em que há
extrema agitação e agressividade, podem ser utilizados neurolépticos injetáveis
(intramuscular), até que a medicação oral actue eficazmente. Quando o paciente
apresenta estabilização da sintomatologia, é indicado manter a menor dose possível da
medicação, com o mínimo de efeitos colaterais e prevenir recaídas. Nesta fase, é
possível utilizar medicações injetáveis de liberação lenta (depot ou de depósito),
melhorando a adesão ao tratamento.

Porém o tratamento da esquizofrenia não deve se limitar à farmacoterapia, sendo


fundamental o recurso a estratégias multidisciplinares que tratem do paciente em seu
meio, dando suporte em questões como trabalho, lazer e moradia, e que visem também a
dinâmica familiar. A internação deve ser vista como uma medida extrema, de curta
duração, a que se recorre para protecção (e não exclusão) do paciente, quando outros
meios tiverem falhado

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3. Conclusão

Após a realização do trabalho concluiu-se que, os transtornos esquizofrénicos são


descritos, em geral, por distúrbios característicos do pensamento, da percepção e do
afecto. A consciência clara e a capacidade intelectual estão normalmente mantidas,
embora possa ocorrer deficit cognitivo com a evolução do quadro.

A psiquiatria tem grandes desafios a superar e, talvez, o maior seja o esclarecimento da


natureza das psicoses tardias, a fim de que isso possa trazer alívio mais alentado e
duradouro para portadores dessa patologias e o avanço das pesquisas pode trazer maior
conhecimento sobre sua natureza. Devem ser considerados dois enfoques distintos: o
que encara a psicose sob a visão ampla, la to sensu, a esquizofrenia está, ligadas aos
transtornos do humor, exógenas, que cursam com doenças orgânicas cerebrais (entre
elas as demências), as de origem clínica, os quadros confusionais e as exotóxicas, e os
transtornos de personalidade paranóide e esquizóide; e, no ponto de vista aqui exposto,
e mais importante, em stricto senso, isolado apenas ao grupo de psicoses do espectro
paranóide ou esquizofrénico, isto é, que englobam as esquizofrenias, a paranóia, a
parafrenia, os transtornos delirantes persistentes e agudos.

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4. Referências bibliográficas
 MEDGRUPO. MedCurso Ciclo 1: Psiquiatria. Editora: Medyn. 2019
 CORREA, António C. de Oliveira. Revista Médica de Minas Gerais. Belo
Horizonte, MG - Brasil. 2017.
 Organização Mundial de Saúde. Classificação de Transtornos Mentais e de
Comportamento: Descrições Clínicas e Directrizes Diagnósticas. Tradução:
Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas; 1993. 351 p.
 M294 Manual diagnóstico e estatístico de transtorno5 DSM-5. Porto Alegre:
Artmed, 2014. xliv, 948 p.

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