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Psicopatologia e Avaliação das Funções Psíquicas

Prof. Erinaldo Domingos Alves

Juízo de
realidade
Ana Beatriz
Josué Batista José Romildo
Carvalho
JUÍZO DE REALIDADE
O juízo, um processo de julgamento que é simultaneamente subjetivo e social, reflete a
interação entre a individualidade e os determinantes socioculturais.

Na psicopatologia, os juízos de realidade, que englobam dimensões como falsidade, veracidade,


certeza, evidência e coerência, são de especial interesse. A disciplina se concentra na realidade
compartilhada, aceita de forma geral pelas pessoas, buscando compreender divergências que
podem indicar disfunções cognitivas.

Em resumo, os juízos, especialmente os relacionados à realidade, são cruciais na análise do


pensamento humano, oferecendo insights valiosos na psicopatologia ao revelar distorções
perceptivas e disfunções mentais.

02
Erro simples
Juízos falsos podem surgir de diversas maneiras, podendo ou não indicar problemas patológicos.
Erros simples não estão vinculados a processos mórbidos, enquanto formas específicas de juízos
falsos, notadamente o delírio, são frequentemente associadas a transtornos mentais.

Preconceito Crenças culturais e superstições


Juízo a priori, sem reflexão, um ajuizamento Crenças compartilhadas e referendadas
apressado com base em premissas falsas. constantemente por um grupo cultural.
ex: racismo, machismo, classismo, homofobia... ex: acreditar plenamente em demônios e entidades
mágico-espirituais.

03
Erro simples
Alterações patológicas do juízo - Ideias prevalentes

Ideias prevalentes são pensamentos que, Pessoas com


dificuldades Induz o
devido à importância emocional que possuem 1 Forte convicção 4 emocionais e de 7 indivíduo a agir
para o indivíduo, dominam de maneira personalidade
persistente a mente.
Compreensível
O exemplo comum dessa experiência é a Compatível com
a partir de Pode progredir
queixa de não conseguir pensar em mais 2 ideais e valores 5 experiências 8 para delírio
nada. do sujeito
passadas

Pessoas com ideias prevalentes identificam-


Alto grau de
se intensamente com esses pensamentos, Causa Não busca
3 emoção ou 6 sofrimento 9 ajuda
moldando sua personalidade ao serviço afeto
dessas ideias.

Essas ideias são motivadas principalmente Assemelha-se a


convicções
por emoções pessoais e mantêm-se 10
2 religiosas ou
persistentes. políticas

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Erro simples
Alterações patológicas do juízo - Ideias prevalentes

Exemplos sem significados patológicos: Exemplos com significação patológica:

Uma mãe que se preocupa excessivamente com o filho Na anorexia nervosa em pessoa muito emagrecida
ausente e acredita que ele está sempre em perigo. pensar “Tenho certeza de que estou muito gorda”.

Sujeito inseguro não para de pensar se sua amada Na hipocondria, em pessoa sem dados médicos e
realmente o ama, buscando, em cada detalhe, provas laboratoriais, pensar “Estou convencido de que tenho
contra esse amor. câncer de estômago”.

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Delírio
Erro do ajuizar que tem origem no adoecimento mental, motivado por fatores patológicos.
O que define um delírio não é tanto a falsidade da crença em si (embora geralmente seja falsa),
mas principalmente a justificativa que o indivíduo apresenta para essa crença e o tipo de
evidência que ele acredita confirmar essa perspectiva.

Convicção extraordinária, certeza Vivenciado como algo evidente,


subjetiva praticamente absoluta. claro, óbvio.

O indivíduo possui os recursos cognitivos


É impossível a modificação do delírio básicos para avaliar se a crença é real ou
pela experiência objetiva. É irrefutável. não. Ou seja, não decorre de deficiência
cognitiva.

Um juízo falso, seu conteúdo Comportamento isolado e


é impossível. peculiar.

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DIMENSÕES DO DELÍRO
Indicadores de sua gravidade

GRAU DE CONVICÇÃO EXTENSÃO

Esse grau indica o quanto o paciente realmente Trata-se da extensão com que as ideias delirantes
acredita em suas ideias delirantes. A convicção do envolvem diferentes áreas da vida do paciente.
delírio é geralmente mais forte na esquizofrenia e
menos intensa em condições como psicoses reativas
breves e transtornos do humor com sintomas
psicóticos.

PRESSÃO OU PREOCUPAÇÃO RESPOSTA AFETIVA OU AFETO NEGATIVO

Está relacionado a quão preocupado e envolvido o Diz respeito a como as crenças delirantes afetam
paciente está com suas crenças delirantes, e o quão emocionalmente o paciente, medindo o quão
forte é o impacto emocional ou a pressão que ele assustado, ansioso, triste ou irritado ele fica como
sente devido ao delírio. resultado do delírio.

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DIMENSÕES DO DELÍRO
Indicadores de sua gravidade

BIZARRICE OU DESORGANIZAÇÃO COMPORTAMENTO EM


IMPLAUSIBILIDADE FUNÇÃO DO DELÍRIO

O quão distante o delírio está da Aqui avaliamos a coesão interna Aqui se verifica o quanto o
realidade compartilhada e o quão das ideias delirantes, sua lógica e paciente age em função de seu
improvável e impossível ele é. organização interna. Os delírios delírio e em que medida ele pratica
Delírios que envolvem a perda de mais organizados são comuns em atos estranhos, perigosos ou
controle da mente ou do corpo por transtornos delirantes e em inconvenientes a partir de suas
forças externas são considerados pacientes psicóticos, geralmente ideias delirantes.
"bizarros" de acordo com o Manual associados a uma inteligência mais
Diagnóstico e Estatístico de elevada. Em contraste, pessoas
Transtornos Mentais (DSM-5). com deficiência intelectual e/ou
demência costumam apresentar
delírios menos organizados.

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ESTRUTURA DOS DELÍRIOS
Delírios simples Delírios complexos
São ideias que se desenvolvem em torno de um São aqueles que englobam vários temas ao
só conteúdo, de um tema único, geralmente de mesmo tempo, com múltiplas facetas,
um único tipo (apenas um tema religioso, envolvendo conteúdos de perseguição, místico-
persecutório, etc.). religiosos, de ciúme, de reivindicação, etc.

Delírios não sistematizados Delírios sistematizados


São delírios organizados e consistentes, típicos
Neste caso, os delírios não apresentam uma
de indivíduos intelectualmente desenvolvidos e
conexão lógica consistente. Os temas e os
transtornos delirantes (paranoia). Jaspers
detalhes dos delírios desorganizados mudam
chamou isso de "inteligência a serviço do delírio",
frequentemente e são comuns em pessoas com
indicando que a inteligência não impede o delírio,
baixo nível intelectual, indivíduos com deficiência
mas contribui para justificá-lo e sustentá-lo,
intelectual, ou em pacientes com confusão
como se fosse dominada pela influência do
mental ou demência.
delírio na vida do indivíduo.

09
SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DO DELÍRIO

Trema
Refere-se à fase que precede imediatamente o surgimento das ideias delirantes. Nesse momento,
há uma tensão geral, um clima ameaçador, ainda sem definição clara. O campo de experiência do
indivíduo se estreita, gerando a sensação de que algo está iminente, embora ainda não seja
compreendido.

Apofania
Após a acumulação de tensão durante o trema, o delírio se revela. O indivíduo experimenta uma verdadeira revelação,
envolvendo percepções delirantes, falsos reconhecimentos, desconhecimentos delirantes, difusão e sonorização do
pensamento, e vivências corporais delirantes. Nessa fase, ocorre o que Konrad chama de "anástrofe" - uma inversão
ou deslocamento em que tudo se volta para o indivíduo. Ele se sente passivamente no centro do mundo, sendo
observado por todos. Para Konrad, a apofania (a revelação do delírio) e a anástrofe (a inversão do mundo em direção
ao delirante) são essenciais para a experiência esquizofrênica.

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SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DO DELÍRIO
Fase apocalíptica
Após a revelação inicial do delírio, ocorre uma fase de desorganização do sujeito. Nesse estágio, ele enfrenta experiências
ameaçadoras de fim de mundo, perdendo a sensação de sentido contínuo no mundo. Manifestações como sintomas
catatônicos, agitação motora, e alterações na percepção do Eu psíquico e corporal podem surgir, incluindo a sensação de
não ser mais a mesma pessoa ou a percepção de ter morrido.

Consolidação
No decorrer do processo psicótico, há uma fase de estabilização. O delírio começa a cristalizar-se, envolvendo uma
elaboração intelectual em torno dele, com elementos fixando-se à personalidade do sujeito, incluindo possíveis defesas
neuróticas, como a sensação de estar em paz apesar de sentir-se observado.

Fase de resíduo
Nessa fase final do processo psicótico-delirante, ocorre a perda de impulso e afetividade manifesta. O sujeito se torna incapaz de confiar
e se relacionar de maneira calorosa com os outros, buscando isolamento e focando em aspectos impessoais da vida. Alguns pacientes
com esquizofrenia crônica podem adotar uma retração positiva, mantendo distância das pessoas, mas procurando interagir de maneira
impessoal em ambientes específicos, como bares, praças, grupos marginalizados e online.

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Mecanismos constitutivos do delírio

Interpretação: delírio Intuição: delírio intuitivo Imaginação: delírio Afetividade: delírios


interpretativo imaginativo catatímicos da mania e
O delírio surge de repente
Assim como a interpretação, da depressão
O indivíduo desenvolve um quando o indivíduo percebe
a imaginação desempenha A influência da afetividade
delírio complexo a partir de imediatamente um novo
um papel fundamental na sobre as funções mentais é
várias interpretações da sentido nas coisas,
formação da maioria dos chamada catatimia,
vida. experimentando uma
delírios, trabalhando em resultando em delírios
O delírio interpretativo, realidade convincente.
conjunto com a atividade catatímicos congruentes ao
geralmente, segue uma Nesses casos, não há
interpretativa. humor em transtornos do
lógica específica, criando necessidade de fundamentar
O indivíduo imagina um humor com sintomas
histórias que, apesar de o delírio em possibilidades
episódio ou acontecimento psicóticos.
delirantes, têm uma certa plausíveis; o paciente
específico e, por meio da Esses delírios refletem temas
verossimilhança. simplesmente sabe, intuindo a
interpretação, desenvolve o como culpa na depressão ou
revelação delirante.
delírio. grandeza na mania. Delírios
humor-incongruentes não se
alinham ao estado afetivo
subjacente.

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Mecanismos constitutivos do delírio

Memória: delírio Alteração da consciência: Alterações


mnêmico delírio onírico sensoperceptivas:
delírio alucinatório
Nesse caso, o delírio é São delírios vinculados a
construído a partir de estados de confusão mental, O indivíduo forma seu delírio
recordações, sejam repletos de vivências oníricas, desenvolvendo, de certa
verdadeiras ou falsas, que alucinações visuais, forma, a temática e a
ganham uma dimensão ansiedade intensa e certa experiência gerada pela
delirante. confusão de pensamento. atividade alucinatória.
O indivíduo usa memórias Sua origem está De acordo com De Loore et al.
reais e falsificadas, incluindo principalmente na falta de 2011, delírios com certa
alucinações mnêmicas, para crítica em relação às frequência surgem depois das
formar seu delírio, como a experiências oníricas, alucinações, provavelmente
alegação de ter sido raptado podendo manifestar-se como um processo
na infância, criado por pais durante ou após a confusão desencadeado e vice versa.
milionários e ser herdeiro de mental.
uma grande fortuna.

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MECANISMOS DE MANUTENÇÃO
DO DELÍRIO
A inércia em mudar as próprias ideias e a
necessidade de consistência das produções
A pobreza na comunicação interpessoal, a falta
ideativas que são formadas ao longo do tempo.
de contatos pessoais satisfatórios, o isolamento
Isso refere-se à resistência em alterar as
social, o fato de ser estrangeiro e não falar a
próprias ideias e à busca por consistência nas
língua dominante, etc.
criações mentais que se desenvolvem ao longo
do tempo.

O comportamento agressivo por parte do O delírio pode diminuir o respeito e a


paciente, resultante do delírio persecutório, consideração que as pessoas que convivem com
pode desencadear mais rejeição pelo meio social o paciente têm por ele. A partir dessa situação,
e, dessa forma, reforçar o círculo vicioso de o indivíduo delirante pode construir novas
sentimentos paranoides, rejeição, hostilidade, interpretações delirantes a fim de,
mais sentimentos paranoides, e assim por involuntariamente, tentar manter sua
diante. autoestima.

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TIPOS DE DELÍRIOS

Delírios de perseguição Delírios de perseguição

Delírio de referência (de alusão ou autorreferência) Delírio erótico

Delírios de perseguição e o mecanismo de projeção Delírios de falsa identificação

Delírio de relação Delírios de conteúdo depressivo

Delírio de influência ou controle (também denominado


vivência de influência) Delírio de ruína

Delírio de grandeza ou missão (ou de enormidade) Delírio de culpa e de autoacusação

Delírio religioso ou místico Delírio de negação de órgãos

Delírio de ciúmes e de infidelidade Delírio hipocondríaco

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TIPOS DE DELÍRIOS

Delírio religioso ou místico Delírio de negação de órgãos

Delírio de ciúmes e de infidelidade Delírio hipocondríaco

Delírio cenestopático Delírio de reivindicação (ou de querelância)

Delírio de reforma (ou salvacionista) Delírio de invenção ou de descobertas

Delírio de infestação Delírio fantástico ou mitomaníaco

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ETIOLOGIA A afetividade, expressa por emoções negativas, estresse
(incluindo problemas de sono) e baixa autoestima, está
cada vez mais associada, em estudos empíricos, ao
surgimento, recaída e manutenção de delírios.

A experiência de baixa autoestima tem sido relacionada


ao surgimento de ideias delirantes. Estresses
socioambientais estão intimamente ligados ao aumento
AFETIVIDADE, EMOÇÕES
de sintomas psicóticos paranoides.
NEGATIVAS, ESTRESSE
DIÁRIO E DELÍRIO A má qualidade do sono aumenta os sintomas de
ansiedade e depressão, que, por sua vez, incrementam
os sintomas psicóticos paranoides.

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Etiologia

A capacidade de auto-observação, autoavaliação, monitoramento e teste da realidade é fortemente dependente da integridade


das áreas pré-frontais do cérebro.
Nos indivíduos com delírios, essas capacidades geralmente estão comprometidas, sugerindo uma disfunção nas áreas cerebrais
frontais.
Estudos indicam redução da ativação do giro do cíngulo anterior e diminuição do volume do tálamo e do putame (parte frontal do
cérebro) no hemisfério esquerdo.
O delírio é um fenômeno psicopatológico complexo, influenciado por diversos fatores neuropsicológicos, emocionais e sociais, que se
combinam de maneira única em cada indivíduo e situação existencial específica.

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Semiotécnica do delírio e dos demais transtornos do juízo de realidade

Perguntas para explorar e detalhar

Iniciar a entrevista com perguntas neutras (idade, estado civil, onde mora, etc.). Após ter estabelecido esse contato, com cuidado ir “chegando
perto” dos delírios. Sempre que o paciente relatar o delírio ou algo dele, perguntar “como é que você sabe disso?”, “como chegou a essas
conclusões?”. A seguir, são apresentadas perguntas referentes aos distintos tipos de delírio.

Delírios de perseguição: Você tem motivos para desconfiar de alguém? Alguém tentou prejudicá-lo? Recebeu ameaças? Foi roubado ou
enganado? Alguém o persegue? Tem inimigos? Insultam-no? Por que motivos? Trata-se de um complô, de uma “armação”, de uma máfia? Como se
comporta sua família em relação a você? Também querem prejudicá-lo? E seu cônjuge, confia nele? Também quer prejudicá-lo? Quando começou a
perseguição e por que motivo? Você está certo do que me disse ou acha que podem ser “coisas de sua imaginação”? Você não está enganado?
Como pensa defender-se desses perigos?

Delírios de referência: Observou se as pessoas falam de você quando conversam? Tem notado se, na rua ou em outro lugar, alguém o segue ou
espia? Alguém faz gestos ou sinais quando você passa? Viu nos jornais ou na televisão alguma coisa a seu respeito? Conhece as pessoas que fazem
essas coisas? Que intenção elas têm?

Delírios de influência: Já sentiu algo externo influenciando seu corpo? Já recebeu algum tipo de mensagem? Alguma força externa influencia ou
controla seus pensamentos? Já teve a sensação de que alguém ou algo pode ler sua mente? Já sentiu que seus pensamentos podem ser
percebidos ou ouvidos pelos outros? Tem a sensação de que controlam seus sentimentos, seu corpo ou suas vontades?

Ideias/delírios de ciúmes: Você confia no seu cônjuge? Tem motivos para suspeitar de sua fidelidade? Tem provas de que o enganou ou o traiu? Como foi que
começou? Como tem certeza de que o traiu?

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Semiotécnica do delírio e dos demais transtornos do juízo de realidade

Perguntas para explorar e detalhar

Delírios depressivos e hipocondríacos: Tem pensamentos tristes ou negativos? Há algo de que se arrepende? Fez mal a alguma pessoa?
Culpam-no de algum crime ou falta? As pessoas reprovam ou condenam seu comportamento? Teme arruinar-se? Acha que não poderá mais
trabalhar e que sua família passará fome? Preocupa-se com sua saúde? Que partes de seu corpo estão doentes? Algo está errado com ele?
Falta algo em seu corpo? Alguma parte dele está podre ou estragada?

Delírios de grandeza: Sente-se especialmente forte ou capaz? Tem algum talento ou alguma habilidade especial? Tem projetos, realizações
especiais para o futuro? Aumentou ultimamente sua capacidade para o trabalho? Observou se uma pessoa importante se interessa por você?
Você é uma pessoa rica?

Delírios religiosos: Você é uma pessoa religiosa? Já teve contato ou recebeu influências de espíritos ou forças sobrenaturais? Você sente que
tem uma relação especial com Deus? Teve contato com forças sobrenaturais, como espíritos, anjos ou demônios? Já conversou com Deus? Já
conversou com espíritos?

Ideias obsessivas: Há pensamentos que surgem com frequência em sua mente? Quais são esses pensamentos? Eles se repetem
constantemente? De onde vêm tais pensamentos? São seus mesmo? São desagradáveis? Você faz algo para livrar-se deles? Pratica rituais (de
verificação, de limpeza, etc.) para atenuar ou neutralizar esses pensamentos?

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REFERÊNCIAS

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia


e semiologia dos transtornos mentais. 3.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2019

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OBRIGADO

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