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PSICOPATOLOGIA

João Miguel Brás


Interno de Formação Específica em Psiquiatria
Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar Tondela Viseu

| Covilhã, setembro de 2022 |


1
Psicopatologia
Psiché + Patologia = patologia do espírito

• Estudo sistemático das vivências, cognições e comportamentos que são produto de uma mente
perturbada. Estudo dos produtos de uma mente perturbada (Sims)

Descritiva Explicativa

Exame do Estado Mental


Avaliação do estado presente do doente!
• Incluí a observação do comportamento do doente e sua descrição de forma objetiva
• Pretende revelar sinais de doença
• Parte objetiva da avaliação do doente
• Não é uma secção separada da avaliação do doente
• Muita informação retirada da entrevista
Observação do doente + testes/questões especificas
2
Psicopatologia – Compreensão/ Explicação
• Compreensão: visão dos fenómenos psíquicos de um ponto de vista interior a eles
• Experiência subjetiva do doente.
• Envolve a empatia.

• Explicação: explicar os acontecimentos de um ponto de vista exterior a eles.

3
Psicopatologia – Forma/ Conteúdo e Subjetivo/Objetivo
• Forma: descrição de uma manifestação psicopatológica do ponto de vista fenomenológico.
Estrutura da experiência.
• Mantém-se mais constante ao longo do tempo

• Conteúdo: colorido da manifestação. Sobre o que a experiência é.


• Pode mudar ao longo do tempo

• Dependem do quão longe e profundo se vai.


• Certos conteúdos podem ocorrer com diversas formas.

A forma depende da doença mental e é portanto chave diagnóstica.

• Subjetivo: experiência privada. Qualidade que é privada para o sujeito da experiência.


• Objetivo: pode ser verificado por outros
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ASPETO e
ATITUDE
Homem jovem, de raça caucasiana, biótipo normolíneo, idade
aparente coincidente com a real. Cabelo castanho, cuidado.
Aparência cuidada, trajando roupa própria, adequada à idade,
época do ano e estrato socioeconómico e cultural. Sem
dismorfias aparentes.
Postura: doente sentado, com tronco encostado na cadeira,
calmo, com os braços ao longo do corpo.
Expressão facial alegre, apresentando as comissuras labiais para
cima. Mimica facial rica e reativa. Gesticulação adequada.
Contacto adequado, afável, colaborante, acedendo
prontamente à entrevista e respondendo às perguntas
efetuadas. Mantém contacto visual.

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Aspeto
• Idade aparente dá-nos pistas sobre o estado geral do paciente

• Aparência reflete nível socioeconómico, autoestima, motivação do doente. Indicador indireto do


humor do paciente.
• Sem juízos de valor

Referir qualquer característica distintiva ou a marcada anomalia!

6
Atitude
• Influencia a validade e conteúdo da informação recolhida
• Incluí: postura, grau de colaboração, expressão facial, tom de voz, grau de evasão das respostas.
• Contacto visual indica o grau de conforto na entrevista

Colaborante, não-colaborante, hostil, querelante, retraído, desconfiado, regressivo,


confiante, arrogante, afável, amigável
Agressividade normal não deve ser interpretada como falta
de cooperação!

Regressão
Retorno a um nível anterior do desenvolvimento

Clivagem Resistência

Mecanismo de defesa. Pessoas e objetos Tentativa consciente ou não, para reter


analisados nos extremos, sem considerar o informação ou emoções, impedindo a ajuda
meio termo ou integrar toda a informação por parte do examinador.
como um todo. 7
CONSCIÊNCIA E
ORIENTAÇÃO
Doente vígil, sem alterações quantitativas ou qualitativas
da consciência.
Doente orientado no tempo e no espaço, auto e
alopsiquicamente.

8
Consciência
Estado de conhecimento acerca do EU e do ambiente (Fish).
O indivíduo esta ciente em relação a si próprio e ao meio envolvente.

• Depende de: atenção, orientação, memória, perceção, pensamento.


• Inconsciente: não existe experiência subjetiva. O doente não tem noção de si ou do seu ambiente,
não se relaciona com este.
• Doente com perturbação da consciência mostra uma discrepância entre a sua compreensão do
ambiente e a sua situação social, aparência e ocupação.

• Avaliação da orientação é um instrumento valioso para verificar o nível de consciência.

Alterações Alterações
Alterações
quantitativas qualitativas
qualitativas

9
Consciência
Alterações quantitativas

Diminuição Aumento

• Obnubilação: ligeiro grau de sonolência, com/sem agitação, dificuldade de atenção e


concentração;
• Sonolência: indivíduo acordado mas sem estimulação adormece. Com lentificação psicomotora,
diminuição dos reflexos e do tónus muscular;
• Torpor (Estupor): redução do nível de consciência. Doente apenas desperta com estimulação forte;
• Coma: doente totalmente inconsciente. No início ainda pode ser acordado por estímulos
intensos/dolorosos. Posteriormente, não responde a qualquer estimulação.

PATOLOGIA
ORGÂNICA 10
Consciência
Alterações quantitativas

Diminuição Aumento

• Existência de um sentido subjetivo de aumento da perceção, de maior alerta e de uma maior


capacidade intelectual, de memória e compreensão (Sims)
• Alterações do humor (excitação, podendo chegar a êxtase)
• Pode ocorrer sinestesia

Drogas
(LSD, anfetaminas)

Indivíduos
saudáveis Doença psicótica
inicial (mania (+),
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esquizofrenia)
Consciência
Alterações qualitativas

Estreitamento da
Estado Oniróide
consciência
Patologia orgânica
Episódios dissociativos
(pode ocorrer)
• Semelhante ao sonho
• Aumento do limiar de captação para os estímulos (diminuição do nível de consciência)
• Desorientação temporo-espacial MAS NÃO AUTOPSÍQUICA
• Característica mais saliente: alucinações visuais
• Pequenos animais → medo e até terror
• Ocasionalmente alucinações liliputianas → prazer

• Alucinações auditivas elementares são comuns (vozes contínuas são RARAS)


• Doente incapaz de distinguir entre imagens mentais e as suas perceções
• Geralmente também existem: agitação psicomotora, interpretar o comportamento dos outros como
ameaçador, insónia
• Com frequência outras alucinações táteis, álgicas, sensações elétricas, musculares e vestibulares

• Variação circadiana com agravamento à noite. Curso flutuante.


• Delirium ocupacional 12
Consciência
Alterações qualitativas

Estreitamento da
Estado Oniróide
consciência

Delirium ou estado
Delirium tremens
confusional agudo

• Síndrome caracterizada por: • Tipo particular de delirium


• Défice global das funções cognitivas (memória, • Associado a alucinações visuais (liliputianas ou
pensamento, perceção, etc.)
microzoopsias)
• Nível reduzido de consciência;
• Défice de atenção; • Sintomas físicos (tremor, taquicardia, febre, hipertensão, hipersudorese
e desidratação)
• Aumento/diminuição da atividade psicomotora;
• Ciclo sono-vigília perturbado.
• Flutuações ao longo do dia (habitual/ agravamento
noturno)
Abstinência alcoólica
Patologia orgânica 13
Consciência
Alterações qualitativas

Estreitamento da
Estado Oniróide
consciência

Consciência limitada a poucas ideias e atitudes que Estado crepuscular


dominam a mente do doente. Pode existir alguma
diminuição do nível de consciência (o doente apresenta
uma desorientação ligeira)
• Estreitamento da consciência com rutura na continuidade da mesma e um Patologia orgânica
comportamento relativamente bem ordenado (Fish) (epilepsia, alcoolismo,
• Caracteriza-se por: traumatismo cerebral)
• Inicio e fim abruptos
• Duração variável (horas a semanas)
• Ocorrência de comportamentos violentos ou ataques emocionais inesperados, no contexto de
um comportamento normal e calmo.
• Amnésia subsequente Perturbações dissociativas
• Doente geralmente está confuso e perplexo, pode mesmo estar obnubilado e
apresentar perseveração e automatismos.
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Orientação
Capacidade de se identificar e de se situar adequadamente no tempo,
espaço, na sua situação pessoal e no geral.
• DESORIENTAÇÃO NO TEMPO: requer uma noção contínua sobre o que acontece em seu redor e
esteja apto a reconhecer o significado dos acontecimentos que marcam a passagem do tempo (se
estes estiverem ausentes é mais fácil ficar desorientado temporalmente)
• Ligeira: relativamente a horas
• Moderada: dias, meses ou anos
• Avançada/ Severa: estação do ano

• DESORIENTAÇÃO NO ESPAÇO: mantida com mais facilidade, porque o ambiente fornece as


pistas. Envolve não saber onde se está, onde se vive...
Podem ser evidência de estado orgânico mental. Podem ser o primeiro sinal de demência.

• DESORIENTAÇÃO AUTOPSÍQUICA: refere-se a si próprio. Não sabe o nome, idade estado civil ou
biogradia pessoal. Ocorre num estádio mais tardio deterioração orgânica.
• DESORIENTAÇÃO ALOPSÍQUICA: refere-se ao que está fora de si. Não sabe quem são os outros.
Inclui desorientação no tempo e espaço.

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Orientação

Perturbações dissociativas
Patologia orgânica (pode mimetizar mas com características
bizarras)

• Na evolução do processo mórbido:


Desorientação Desorientação Desorientação em Desorientação em
temporal espacial relação aos outros relação a si próprio

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ATENÇÃO
Atenção fácil de captar e manter. Sem dificuldades de
concentração.

17
Atenção
Orientação da atividade psíquica sobre determinado estímulo, objeto ou
evento.
• Ativa: existe esforço consciente e intencional para dirigir a atenção.
• Passiva: suscitada pelo interesse do próprio objeto. Não existe esforço consciente.
Relacionadas uma com a outra

• Hipoprosexia: diminuição da atenção


• Aumento da atenção
ü Situações de elevada concentração
• Distractibilidade: instabilidade e mobilidade
acentuada da atenção.
ü Meditação
Perturbações da atenção ativa
• Hiperprosexia: atenção exacerbada com
tendência incoercível a deter-se ü Sono, fadiga, tédio, hipnose
indefinidamente sobre certos objetos. ü Estados orgânicos graves
ü Traumatismo craniano
ü Perturbações obsessivas ü Hipertensão intracraniana
ü Esquizofrenia paranoide ü Epilepsia
ü Intoxicação por álcool ou droga
ü Uso de estimulantes
ü Estados psicogénicos
ü Mania/ hipomania
ü Depressão
ü Ansiedade aguda
ü Psicose
ü Episódios dissociativos 18
Atenção
• Estreitamento da atenção: doente só se foca em determinado ponto do que é consciencializado
ü Psicoses
ü Vivências delirantes internas em certas depressões
ü Individuos presentes a emoções intensas (medo, dor)

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MOTRICIDADE
Sem alterações da atividade psicomotora de relevo,
nomeadamente tiques, maneirismos, compulsões ou
movimentos coreiformes. Marcha sem alterações.

20
Motricidade

Alterações dos
Movimentos Alterações da Efeitos
movimentos
anormais induzidos postura extrapiramidais
espontâneos

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Motricidade – Alterações quantitativas dos movimentos espontâneos
Movimentos expressivos

• Movimentos espontâneos automáticos, não controlados pela vontade diretamente


• Envolvem a face, braços, mãos e parte superior do tronco.
• Varia consoante as emoções
• Variação consoante a cultura e entre indivíduos da mesma cultura

Mimica facial
• Deve ser considerada no contexto do quadro e não como sinal exclusivo
• Pode revelar: Tristeza (hipomimia), alegria excessiva (hipermimia), sofrimento, inexpressivo,
aterrorizado, desconfiança, perplexidade.
Postura
• Constitui informação importante sobre o humor do paciente
• Tensa, retraída, flácida, fletida ou expansiva ou bizarra/ estranha

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Motricidade – Alterações quantitativas dos movimentos espontâneos
Movimentos expressivos

AUMENTO DIMINUIÇÃO
ü Ansiedade ü Depressão mimica facial pobre.
ü Sinal de Veraguth (prega nas pálpebras superiores)
ü Personalidades com hiperexpressividade ü Sinal de ómega (prega na testa acima do sulco nasociliar)

ü Mania Na depressão grave pode ocorrer inibição


ü Doente alegre e com movimentos expressivos exagerados (gestos
psicomotora generalizada!
amplos e expansivos)

ü Esquizofrenia catatónica
ü Expressão facial rígida e movimentos corporais escassos.
ü Olhos podem estar animados e vivos, de modo que o doente
parece estar a olhar para o mundo através de uma máscara.

ü Parkinsonismo pós-encefálitico
ü Face seborreica (rosto fixo e inexpressivo com aparência
oleosa)

ü Doença de Parkinson
ü Face semelhante mas menos oleosa
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Motricidade – Alterações quantitativas dos movimentos espontâneos
Movimentos direcionados

• Movimentos voluntários realizados deliberadamente e sem qualquer sentimento de esforço


• Refletem a personalidade do indivíduo e o seu estado de humor no momento.

AUMENTO
INQUIETUDE MOTORA: doente movimenta-se mais que o necessário
ü Hipomania e ansiedade
AGITAÇÃO PSICOMOTORA: aceleração e excitação inespecífica de toda a atividade motora
associada a taquipsiquismo.
• Estado de inquietação com hipercinesia (aumento dos movimentos) com sensação de tensão interna e muitas vezes associado a
hostilidade e heteroagressividade.
• Podem ocorrer crises clásticas: destruição voluntária de objetos.

ü Quadros maníacos
ü Episódios agudos de esquizofrenia
ü Quadros psico-orgânicos agudos (intoxicações, s. abstinência, traumatismos, encefalopatias metabólicas)
ü Depressões agitadas
ü Ansiedade
ü Personalidades histriónicas ou borderline
ü Demência e deficiência mental
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Motricidade – Alterações quantitativas dos movimentos espontâneos
Movimentos direcionados

DIMINUIÇÃO
LENTIFICAÇÃO PSICOMOTORA: lentificação de toda a atividade motora associada a
bradipsiquismo.
• Sensação de que todas as ações são mais difíceis de iniciar e levar a cabo. Existe hipocinésia (diminuição dos
movimentos que ficam mais pobres, lentos e pesados)
ü Depressão

INIBIÇÃO PSICOMOTORA: estado de acentuada e profunda lentificação psicomotora ou


ausência de respostas motoras sem que haja paralisias ou défice psicomotor
ü Depressão

BLOQUEIO OU OBSTRUÇÃO (SPERRUNG): impedimento irregular da atividade motora. O doente


pode ser incapaz de iniciar uma ação em determinado momento mas um pouco mais tarde consegue.
• Tensão muscular associada pode ser normal, aumenta ou diminuída
ü Esquizofrenia catatónica

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Motricidade – Alterações qualitativas dos movimentos espontâneos
Maneirismos
• Movimentos direcionados e voluntários ou expressões verbais invulgarmente repetitivos ou
modificados de forma a tornarem-se extravagantes.
• Podem incluir alterações de postura quando há a manutenção de uma modificação invulgar de uma
postura adaptativa
• Exemplo: movimentos invulgares nas mãos quando se cumprimenta alguém; peculiaridades ao escrever, levar
a mão ao cabelo repetidamente.
• Uso estranho de palavras ou expressões, movimentos e posturas deslocadas do contexto também podem ser
consideradas.

ü Esquizofrenia, perturbações da personalidade


ü Alterações neurológicas
ü Sem patologia

Maneirismos não são diagnóstico de esquizofrenia ou de qualquer doença psiquiátrica.

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Motricidade – Alterações qualitativas dos movimentos espontâneos
Estereotipias
• Movimentos não direcionados (sem finalidade) ou expressões verbais não adaptativas recorrentes,
realizados/ditos sempre da mesma forma.
• Simples ou complexos
• Diferem dos MANEIRISMOS por não exibirem qualquer finalidade
• Diferem dos TIQUES por terem algum carácter mais intencional embora sem nenhum finalidade,
enquanto os tiques são totalmente involuntários.

ü Esquizofrenia
ü Alterações neurológicas (afasia de expressão)

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Motricidade – Alterações qualitativas dos movimentos espontâneos
TIQUES
• Movimento originado de contrações musculares involuntárias de pequenos
grupos de músculos.
• Habitualmente são o restante de movimentos expressivos ou reflexos
defensivos. Não é totalmente involuntário, o indivíduo consegue controlá-lo
temporariamente.
• Agravam-se com a ansiedade.
• Comum afetar a face
• Exemplo: Piscar os olhos, contrações da testa, nariz ou boca, mexer os ombros.

ü Podem ter ou não base orgânica (pós-encefalite , coreia de Huntington ou


Síndrome de Gilles de la Tourette)

TREMOR DE REPOUSO
• Tremor que ocorre quando o doente está em repouso. Ocorre nas mãos,
cabeça e parte superior do tronco.
• Pode existir uma predisposição inata. Pode também ser familiar e agravar
com o envelhecimento.
• Os indivíduos conseguem desempenhar movimentos voluntários com bastante precisão apesar
um tremor marcado quando em repouso.

ü Ansiedade; perturbações de conversão


ü Parkinson, síndrome de dependência do álcool, tireotoxicose (nestes casos são
agravados pelo estado emocional)
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Motricidade – Alterações qualitativas dos movimentos espontâneos
COREIA ATETOSE
• Movimentos irregulares abruptos que se • Movimentos espontâneos lentos, retorcidos e
assemelham a fragmentos de movimentos com contorções.
expressivos ou reativos • Resultam em posturas estranhas do corpo,
• Doente pode tentar disfarçar o movimento especialmente das mãos.
transformando-o em movimentos
voluntários ou habituais
• Exemplo: Espasmo de um braço que se
prolonga num compor do cabelo

29
Motricidade – Alterações qualitativas dos movimentos espontâneos
MIOCLONIAS
• Contrações musculares breves, rápidas e involuntárias.

ü Doenças orgânicas (epilepsia)


ü Perturbações do sono
ü Efeito secundário dos antidepressivos

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Motricidade – Alterações dos movimentos induzidos
OBEDIÊNCIA AUTOMÁTICA
• Doente cumpre qualquer instrução sem olhar às consequências.
• Mais comum na catatonia, também pode ocorrer na demência.

ECOPRAXIA
• Doente imita as ações que observa.

ECOLALIA
• Doente repete em forma de eco parte/totalidade do que lhe foi dito.
• É indiferente se o doente percebe as palavras ecoadas. Podendo o doente até repetir frases em idiomas desconhecidos para ele.

PERSEVERAÇÃO
• Resposta apropriada a um primeiro estímulo, é dada inapropriadamente a um segundo e diferente
estímulo
• Motora: Repetição sem sentido de uma ação dirigida que já cumpriu o seu objetivo.
• Exemplo: pede-se ao doente para colocar a língua de fora, ele obedece. Pede-se para a voltar a colocar para dentro e ele obedece mas continua a
por a língua para dentro e para fora repetidamente.
• Mais óbvia quando o discurso é afetado. O doente é incapaz de passar de uma determinada frase/palavra, repetindo-a
continuamente, podendo também repeti-la como resposta a outra pergunta.

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Motricidade – Alterações dos movimentos induzidos
COOPERAÇÃO
• O corpo do doente pode ser colocado em qualquer posição sem qualquer resistência deste,
embora lhe tenha sido requisitado para o fazer.
• Quando se larga a parte do corpo posicionada, esta regressa à posição original
ü Catatonia e algumas doenças neurológicas

OPOSIÇÃO
• Doente opõe-se a qualquer movimento passivo com o mesmo grau de força que estiver a ser
aplicado.
• Negativismo: acentuação da oposição. Resistência aparentemente sem motivo a quaisquer interferências.
ü Catatonia, deficiência mental grave, demência.

AMBITENDÊNCIA
• Doente inicia o movimento voluntário com um objetivo mas este é interrompido. Espera-se que o
doente execute uma ação voluntária, mas este faz uma série de movimentos e nunca chega a
atingir o objetivo.
• Pode ser considerada uma forma moderada de negativismo ou a expressão física do bloqueio do pensamento.

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Motricidade – Alterações da postura
POSTURA MANEIRISTICA
• Postura artificial e estranha constituindo um exagero de uma postura normal que não é conservada
rigidamente.
ü Esquizofrenia

POSTURA ESPEREOTIPADA
• Postura anormal, não adaptativa, mantida rigidamente.
ü Catatonia, demência

PERSEVERAÇÃO DA POSTURA OU CATALEPSIA


• Doente tende a manter, por longos períodos, uma postura imposta ou voluntária. Ocorre com
acentuado exagero do tónus postural.
• Doente permite ao entrevistador colocar o seu corpo em posições desconfortáveis ou estranhas.

• Flexibilidade cérea: ligeira resistência plástica que o doente oferece à medida que o entrevistador movimenta o seu corpo
ü Catatonia com mutismo

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Motricidade – Efeitos extrapiramidais
Associados ao uso de psicofármacos, principalmente antipsicóticos
PSEUDOPARKINSONISMO
• Rigidez muscular, tremor e acinesia.

ACATISIA
• Agitação psicomotora, sensação subjetiva de inquietude.

DISTONIA AGUDA
• Espasmos musculares intermitentes ou sustidos, levando a posturas ou movimentos anormais.

DISCINESIA TARDIA
• Movimentos sem finalidade, repetitivos dos músculos faciais, da boca e língua, associados a
movimentos coreo-atetónicos dos membros.
• Associados ao uso crónico.

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DISCURSO e
LINGUAGEM
Discurso espontâneo, coerente, fluente, sem alterações
sintaxe ou semântica. Prosódia mantida. Sem alterações da
linguagem ou articulação. Sem parafasias. Nomeação por
confrontação, repetição e compreensão intactas.

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Discurso e Linguagem – Alterações orgânicas
DISARTRIA
• Dificuldade em articular as palavras.
• Resulta de paresia, paralisia ou ataxia dos músculos que intervêm nesta articulação.
ü Efeitos extrapiramidais secundários à toma de antipsicóticos

DISLEXIA
• Dificuldade em compreender palavras.

PARAFASIA
• Utilização de palavras erradas ou distorcidas.
ü Afasias motoras e início de síndromes demenciais

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Discurso e Linguagem – Alterações orgânicas
AFASIA
• Perda parcial ou total da faculdade de exprimir os pensamentos por palavras e/ou compreender as
palavras

AFASIA SENSORIAL OU DE AFASIA MOTORA OU DE EXPRESSÃO


COMPREENSÃO • Compreende o que ouve mas é incapaz de
• Dificuldade na compreensão das palavras. pronunciar as palavras.
• Perturbação da palavra espontânea, leitura e • Leitura e escrita conservadas
escrita ü Afasia de Broca, verbal ou de expressão
ü Afasia de Wernicke
ü Doente fala uma linguagem sem sentido e pronuncia as
palavras de maneira defeituosa
ü Surdez verbal pura
ü Ouve as palavras mas não as compreende.
ü Alexia agnóstica
ü Doente vê mas não consegue ler as palavras.
ü Assimbolia visual
ü Desorganização dos esquemas visuais, de modo que não
conseguem reconhecer as palavras e não são ativados os
esquemas motores de palavras.
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Discurso e Linguagem – Alterações funcionais
Perturbação da articulação

GAGUEZ
• Fluidez do discurso é interrompida por hesitações, repetições de sílabas, bloqueios intermitentes.
• Tiques com movimentos do corpo frequentemente associados
• Inicio por volta dos 4 anos; + comum em rapazes; melhora com o tempo

• Pode ocorrer em estados ansiosos


• Por vezes ocorre no inicio da esquizofrenia aguda

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Discurso e Linguagem – Alterações funcionais
Perturbação da atividade verbal

HIPOATIVIDADE
LINGUAGEM QUANTITATIVAMENTE DIMINUÍDA
• Doente limita a sua fala ao mínimo necessário, com respostas muito sucintas.

MUTISMO
• Completa perda do discurso, ausência de resposta verbal apesar de consciência mantida.
ü Depressão grave, esquizofrenia catatónica, histeria, perturbações cerebrais orgânicas.
• Mutismo seletivo ou eletivo: recusa em falar apenas para determinadas pessoas.
ü Doentes com ideias delirantes, estupor catatónico, melancólico e histérico, estados confusionais e dissociativos, autismo,
mutismo por medo, necessidade de valorização ou teimosia
• Mutismo histérico é raro.
• Mutismo acinético: ocorre no estupor com ausência das funções relacionais. Há mutismo e o doente
aparenta estar consciente do ambiente, apesar da diminuição do nível de consciência e da amnésia
anterógrada.

MUTACISMO
• Mutismo deliberado na mania, simulação ou doente delirante. 39
Discurso e Linguagem – Alterações funcionais
Perturbação da atividade verbal

HIPERATIVIDADE
PROLIXIDADE
• Doente fala muito, porém ainda dentro da normalidade.

LOGORREIA OU VERBORREIA
• Doente fala excessivamente com loquacidade compulsiva, com pressão discurso
ü Excitação maníaca, agitação catatónica e delírio agudo

40
Discurso e Linguagem – Alterações funcionais
Alteração do débito ou do ritmo

FLUXO LENTIFICADO OU BRADIFEMIA


• Fala muito vagarosamente. Com longas pausas e ou grande latência para iniciar resposta.
ü Depressão; estados demenciais; esquizofrenia crónica com sintomas negativos.

FLUXO ACELERADO OU TAQUIFEMIA


• Doente fala continuamente e com velocidade aumentada. Existe dificuldade em interromper o
discurso.
ü Mania; ansiedade; esquizofrenia

APROSODIA
• Discurso sem entoação afetiva
ü Depressão; esquizofrenia.

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Discurso e Linguagem – Alterações funcionais
Alterações iterativas

LOGOCLONIA
• Repetição da última sílaba que o próprio pronunciou
ü Demência

ECOLALIA
• Repetição imediata, automática, em forma de eco de sons, palavras ou frases ditas pelo
interlocutor.
ü Patologias psico-orgânicas, debilidade mental, esquizofrenia.

PALILALIA
• Repetição do que o próprio disse, com frequência crescente (velocidade aumentada).

SALADA DE PALAVRAS
• Forma extrema de afrouxamento das associações. As palavras são colocadas umas a seguir às
outras, sem ligação na lógica ou significado.
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Discurso e Linguagem – Alterações funcionais
Alterações semânticas e sintáticas

NEOLOGISMOS PEDOLALIA
• Novas palavras construídas pelo doente. • Discurso infantilizado.
ü Esquizofrenia ü Esquizofrenia; demência.

PARALOGISMOS COPROLALIA
• Atribuição de um novo significado a uma • Utilização involuntária, repetitiva e
palavra existente. desnecessária de palavras vulgares, obscenas.
ü Esquizofrenia. ü Psicoses; síndrome de Gilles de la Tourette

DISCURSO DESORGANIZADO MUSSITAÇÃO


• Discurso confuso. Ocorre com um • Produção repetitiva de um tom de voz muito
pensamento com alterações formais baixo, murmurada num tom monocórdico e
importantes. sem significado comunicativo.
ü Esquizofrenia; quadros cerebrais orgânicos ü Esquizofrenia catatónica

DISCURSO POBRE
• Diminuição dos recursos linguísticos
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ü Esquizofrenia crónica
Discurso e Linguagem – Alterações funcionais
RESPOSTAS AO LADO
• Resposta totalmente inadequada à pergunta embora, pelo conteúdo das respostas, se perceba
que o doente compreendeu a pergunta.
ü Esquizofrenia; Síndrome de Ganser; pseudodemência histérica; estados catatónicos

TANGENCIALIDADE
• Responde às perguntas de forma oblíqua, não distinguindo o essencial do supérfluo. Respostas
nunca chegam à parte central, ao objetivo. O objetivo do discurso não chega a ser atingido e o
doente afasta-se do tema, introduzindo pensamento aparentemente não relacionados.
ü Esquizofrenia.

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HUMOR e
EMOÇÕES
Humor eutímico com afetos congruentes. Sem
alterações na expressão dos afetos.

45
Humor e emoções
Emoção
Resposta a curto prazo, estado de “ativação”, que leva a mudanças fisiológicas e que
ocorre como resposta a uma perceção (interna ou externa).

Sentimento
Experiência subjetiva da emoção. Reação positiva ou negativa a uma experiência/
acontecimento. Apresenta maior duração e estabilidade. Não tem correlação
somática.

Afeto
Padrão de comportamentos resultante da expressão de emoções. Resposta
emocional do paciente ao momento atual.

Humor
Estado afetivo basal do sujeito. Emoção a longo termo, persistente, que dá
tonalidade à forma subjetiva de perceção do mundo. 46
A sua aparição pode ser espontânea ou precedida por estímulos.
Humor e emoções
Temperamento
Traços característicos estáveis de natureza emocional de um indivíduo. Qualidade e
labilidade preponderantes do seu humor, a prontidão e intensidade das suas reações
emocionais.

HIPERTIMICO
• Pessoa tendencialmente otimista, com alto nível de energia
DISTÍMICO
• Pessoal pessimista, com baixo nível de energia.
CICLOTÍMICO
• Pessoal com tendência a variações bruscas do estado de ânimo.
IRRITÁVEL
• Pessoa impaciente, com baixo nível de tolerância.
ANSIOSO
• Pessoa preocupada, com maior sensibilidade ao ambiente externo.

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Humor e emoções – alterações quantitativas do humor
EUTIMICO: Estado “normal”, sem predomínio de nenhum tipo particular de emoção.

ALEGRIA: sentimento positivo de bem estar, dentro da normalidade.

EUFORIA: alegria patológica desproporcional à circunstância. Estado de completa satisfação e felicidade.


ü Mania/hipomania

EXPANSÃO: marcada bom disposição com dificuldade no controlo das próprias emoções, levando a
elevada desinibição.
ü Mania/hipomania

EXALTAÇÃO: está presente euforia e também aumento da convicção do próprio valor e das aspirações.
Associada a grande agitação psicomotora.
ü Mania

ÊXTASE: estado de alegria intensa, experiência de beatitude, sensação de dissolução do Eu e tendência a


compartilhar estados afetivos interiores.
ü Mania, êxtases místicos, transe histérico, epilepsia e esquizofrenia
48
Humor e emoções – alterações quantitativas do humor
TRISTEZA: sentimento adequado às circunstâncias que a provocam, em termos de intensidade e
duração.

HUMOR DEPRESSIVO: predomina a tristeza patológica sem desencadeante ou caso exista


desencadeante ocorre com intensidade e duração desproporcionais.
• Presente a tríade cognitiva: visão negativa de si, das suas interações e do futuro.
• Sintoma base das perturbações depressivas.
• Pode associar-se a sintomas somáticos (Tristeza vitalizada)
• Em casos graves pode associar-se: ideação suicida e sintomas psicóticos

49
Humor e emoções – alterações qualitativas do humor
HUMOR DISFÓRICO
Tonalidade afetiva mal-humorada, sensação de mal-estar. Presentes ansiedade, irritação e
agressividade.
• Sintoma de difícil definição

HUMOR IRRITÁVEL
Hiperreatividade desagradável, hostilidade e até agressividade a estímulos externos. Facilmente
perturbado e reativo
• Difícil de distinguir de humor disfórico.

50
Humor e emoções – alterações da expressão afetiva e emocional
ANEDONIA
• Incapacidade para experimentar prazer (doente refere não ter prazer em atividades que normalmente lhe
proporcionavam esse efeito)
ü Depressão major

ANESTESIA AFETIVA
• Ausência de sentimentos, incapacidade de sentir prazer e outros sentimentos, “não ser capaz de sentir”.
ü Depressão e estados de choque emocional

EMBOTAMENTO AFETIVO
• Redução da expressão emocional, existindo geralmente uma incapacidade para se estar consciente das
emoções e vivenciar os afetos. O doente fica indiferente ao seu próprio bem-estar ou ao dos outros.
ü Esquizofrenia

DISSOCIAÇÃO AFETIVA
• Falta de manifestação de emoções em situações em que era expectável, “estar incapaz de responder”.
• Reação defensiva inconsciente.
ü Ansiedade extrema
ü Acompanha sintomas de conversão em pacientes com personalidades histriónicas – Belle indifférence

INDIFERENÇA OU FRIEZA AFETIVA


• Perda de reatividade emocional com fisionomia e aspetos exteriores inexpressivos.
ü Esquizofrenia; tipos de personalidade; traumatismos cranianos; demências; síndromes psico-orgânicas.
51
Humor e emoções – alterações da expressão afetiva e emocional
RIGIDEZ AFETIVA
• Perda da capacidade de modulação dos afetos
ü Esquizofrenia; alguns tipos de personalidade (obsessiva)

LABILIDADE AFETIVA
• Mudanças rápidas, abruptas e imotivadas nas emoções, geralmente não relacionadas com os estímulos
externos.
ü Pessoas sem perturbações; perturbação bipolar; PP borderline; síndromes psico orgânicas

INCONTINÊNCIA AFETIVA
• Falta de controlo dos afetos. Estados afetos surgem rapidamente e atingem uma intensidade excessiva.
ü Mania; demências; síndromes psico orgânicas (esclerose múltipla)

PARATIMIA, INCONGRUÊNCIA OU INADEQUAÇÃO AFETIVA


• Emoções não correspondem ao contexto das vivências
ü Esquizofrenia; síndromes psico-orgânicas.

AMBIVALÊNCIA AFETIVA
• Sentimentos positivos e negativos para o mesmo objeto
ü Esquizofrenia; PP bordeline

PUERILIDADE
• Alteração do humor com aspetos infantis.
ü Esquizofrenia hebefrénica; défice intelectual e personalidades histriónicas.
52
Humor e emoções - Ansiedade
Ansiedade é diferente de angústia!

Resposta emocional complexa, potencialmente adaptativa e multidimensional em que


coexistem uma perceção de ameaça com ativação biológica reativa a tal perceção.

Resposta em 3 eixos:
• Eixo fisiológico: sintomas somáticos ou físicos
• Eixo cognitivo: pensamentos, ideias ou crenças que acompanham a ansiedade e se relacionam com possíveis
perigos
• Eixo comportamental: reação as cognições ansiosas.

Pode ser normal ou fisiológica, pode surgir como consequência de perturbações médicas ou consumo de
substâncias e corresponder a um sintoma psiquiátrico.

Ansiedade-estado:
• Aparecimento de sintomas num momento concreto e bem definido
Ansiedade-traço
53
• Tendência do indivíduo a relacionar-se com o meio ambiente com muita ansiedade.
Humor e emoções – fenómenos associados à ansiedade
FOBIAS
Tipo particular de medo, que é:
• Desproporcionado
• Inexplicável e irracional
• Fora do controlo voluntário
• Que conduz à evicção da situação temida

Tipos:
ESTÍMULOS EXTERNOS ESTÍMULOS INTERNOS
• Fobia a animais • Nosofobias
• Agorafobia • Fobias obsessivas
• Fobia social
• ...

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Humor e emoções – fenómenos associados à ansiedade
CRISES DE PÂNICO
Episódios súbitos, atingindo o seu pico rapidamente e caracterizados pela presença de sintomas de
ansiedade somáticos ou fisiológicos importantes associados a sintomas de ansiedade psíquica ou
cognitiva.

• Estes sintomas retroalimentam-se, intensificando a crise


• Podem tomar a forma de vivencias de despersonalização
• Pode conduzir a inatividade ou à hiperatividade caótica e desordenada

• Pode ocorrer:
• Com desencadeante – Fobias
• Sem desencadeante – Perturbação de Pânico

ANTECIPAÇÃO ANSIOSA
Medo de que algo terrível venha a acontecer, sem conseguir identificar o quê.
• Acompanhada de sintomas físicos de ansiedade
ü Ansiedade generalizada; doença depressiva; perturbação de pânico.
55
VONTADE
Sem alterações na vontade. Não existe referência a
atos impulsivos ou a comportamentos agressivos.

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Vontade
• ENERGIA VITAL: força, em parte independente da vontade, que comanda as iniciativas psíquicas
de um individuo (nomeadamente velocidade, intensidade e duração).

• MOTIVAÇÃO: humor ou afeto, experienciado com mais ou menos consciência, comandado por
necessidades e que leva a ações que as satisfaçam. Refere-se ao objetivo do comportamento e aos
estados emocionais que o desencadeiam e aqueles que agem na recompensa do comportamento.

• VONTADE: intenção ou ação dirigida a um objetivo, baseada na cognição de uma motivação. A


vontade tem um objetivo conscientemente desenvolvido e tem consciência dos meios necessários
e da consciência.

57
Vontade – Alterações quantitativas
HIPERBULIA OU AUMENTO DA ENERGIA VOLITIVA
• Existe persistência e eficácia das ações, rendimentos e propósitos, denominada de “força de
vontade”. Anormalmente aumentada na mania ou hipomania.

HIPOBULIA OU DIMINUIÇÃO DA ENERGIA VOLITIVA


• Redução ou debilidade da vontade.
ü Episódios depressivos

ABULIA
• Perda de vontade. Pode existir o desejo de fazer, mas não existe iniciativa.
ü Esquizofrenia

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Vontade – Alterações qualitativas
INDECISÃO VOLITIVA
• Existência de dois impulsos volitivos opostos na consciência do indivíduo, sem que este decida
qual escolher.

SUGESTIONABILIDADE
• Supressão da liberdade volitiva.
ü Hipnose, autossugestão, personalidades imaturas ou ingénuas, estupor catatónico e folie à deux.

OBEDIÊNCIA AUTOMÁTICA

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Vontade – Atos impulsivos
Ações realizadas prontamente, sem deliberação ou reflexão. Não são medidas as consequências dos
atos.

• Impulsos agressivo-destrutivos
• Frangofilia
• Automutilações
• Piromania
• Tricotilomania
• Dipsomania
• Cleptomania
• ...

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Vontade – Comportamentos auto e heteroagressivos
AUTOAGRESSIVIDADE
• Comportamento autolesivo
• Comportamento com resultado não fatal, praticado pelo individuo com o objetivo de causar
lesões a si próprio.
• Comportamento autolesivo sem ideação suicida
ü Especialmente estes são frequentes na adolescência, perturbação personalidade borderline em adultos, défice
mental e raramente na esquizofrenia.
• Comportamento autolesivo sem outra especificação
• Tentativa de suicídio
ü Perturbações afetivas e esquizofrenia.

• Suicídio consumado
• Morte provocado por um comportamento realizado pelo individuo com o objetivo de pôr
termo à vida

HETEROAGRESSIVIDADE
• Atos agressivos dirigidos a outros. Geralmente associados a agitação psicomotora.
ü Mais frequente nos episódios maníacos com humor disfórico ou irritável.

61
62
SENSOPERCEÇÃO
Sem alterações na sensoperceção, nomeadamente distorções sensoriais
ou falsas perceções.

63
Sensoperceção
• SENSAÇÃO: 1º estádio de receção de informações externas.
• Incluí: vias visuais, auditivas, olfativas, táteis, gustativas, cinestésicas e proprioceptivas.

• PERCEÇÃO: tomada de consciência do estímulo sensorial pelo indivíduo.


• É um fenómeno ativo em que há transformação de estímulos sensoriais em perceções conscientes

• As perceções:
• Têm caracter de objetividade
• Ocorrem no espaço objetivo exterior
• Delineadas com clareza
• Os elementos sensoriais estão plenos e claros
• São constantes e permanecem inalteradas
• São independentes da vontade

• Envolvem 3 fases:

Existência de um evento
Perceção sensorial Perceção com significado
sensorial
64
Sensoperceção
• IMAGEM MENTAL: representação mental interna do mundo
• São retiradas da memória de forma ativa

• As imagens mentais:
• Têm caracter de subjetividade
• Ocorrem no espaço subjetivo interior
• Mal delineadas
• Os elementos sensoriais são insuficientes
• Dissipam-se e têm de ser recriadas
• São dependentes da vontade

Perturbações da
sensoperceção

Distorções sensoriais Falsas perceções


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Sensoperceção – distorções sensoriais
Alterações da intensidade

HIPERESTESIA
• Intensidade das perceções está AUMENTADA.
• Pode ser resultado de emoções intensas ou da diminuição do limiar fisiológico.

• Visuais: Hipomania, aura epilética, intoxicação por determinadas drogas.


• Auditivas: depressão, ansiedade, abstinência de álcool, enxaqueca

HIPOSTESIA
• Intensidade das perceções está REDUZIDA.

• Delirium (limiar para as sensações aumentado).


• Depressão, perturbação de défice de atenção.

66
Sensoperceção – distorções sensoriais
Alterações da qualidade

ALTERAÇÕES DA COR
• Afeta principalmente as perceções visuais.
• Consumo de substâncias tóxicas.
• Todo o campo visual fica mais intenso e com cores alteradas e pode ocorrer:
o Xantopsia
o Cloropsia
o Eritropsia

ALTERAÇÕES DA DIMENSÃO OU DISMEGALOPSIA


• Existe aumento (Macropsia) ou redução (Micropsia) dos objetos percecionados.
• Ocorre sobretudo em PATOLOGIAS ORGÂNICAS (patologia da retina, intoxicação por atropina ou
hioscina), aura ou episódio convulsivo, esquizofrenia

ALTERAÇÕES DA FORMA OU DISMORFOPSIA


• Perceção deformada da forma, por exemplo, de partes do corpo
• Esquizofrenia
67
Sensoperceção – distorções sensoriais
Alterações da qualidade

DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL


• Perceção do corpo como estando exageradamente gordo ou exagerando pequenos defeitos
• Anorexia nervosa ou perturbação dismórfica corporal

DISTORÇÃO DA EXPERIÊNCIA DO TEMPO


• Dois tipos de tempo: o físico e o psicológico
• Psicológico: determinado pela impressão subjetiva de passagem do tempo.
• É o psicológico o afetado pelas perturbações psiquiátricas
• Depressão, mania, esquizofrenia e patologia orgânica

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Sensoperceção – falsas perceções
Ilusões

Estímulos de um objeto percecionado combinam-se com uma imagem mental,


produzindo uma falsa perceção.
Não são por si próprias indicativas da existência de psicopatologia!

• Formação depende:
• Do cenário em que ocorre a ilusão
• Da escassa acuidade percetiva
• Emoções intensas

• Quase sempre visuais


• Ocorrem em: estados de fadiga grave, inatenção e casos de privação sensorial e diminuição do nível de
consciência.

69
Sensoperceção – falsas perceções
Ilusões

PAREIDOLIA
• Criação de formas imaginárias a partir de perceções de objetos com formas
mal definidas.
• Resultam da capacidade imaginativa
• Não se podem explicar como sendo resultado do estado afetivo ou forma de pensar
• Não extintas pelo aumento da atenção!

IMAGEM EIDÉTICA
• Surge quando imagens de objetos são sobrepostas num fundo escuro e
depois removidas, sendo que o indivíduo continua a ver estas imagens com
pormenor.
• Associadas a uma carga emocional significativa

70
Sensoperceção – falsas perceções
Ilusões

ILUSÃO DE PREENCHIMENTO
• Quando se completa um padrão familiar, mas não terminado.
• Ocorre quando se está mais desatento.

ILUSÃO DE AFETO
• Surge no contexto de um estado de humor particular, sendo que este estado de humor pode
alterar a perceção
• Ex: individuo de luto pode acreditar que viu o falecido. Individuo maníaco pode ler em anuncio que
“precisa-se de pessoa inteligente” quando na realidade esta escrito “pessoa fluente em..”

71
Sensoperceção – falsas perceções
Alucinações

• Várias definições:
• “Uma perceção sem objeto”
• “Perceção falsa, que não é uma distorção sensorial nem uma falha na interpretação e que ocorre ao
mesmo tempo que as perceções verdadeiras” (Jaspers)
• Provém ”de dentro”, ainda que o indivíduo as viva como se viessem “de fora”
• Localizadas no espaço exterior
• Têm consistência sensorial (objetividade, detalhe e clareza)
• Indicativas de doença mental grave: Esquizofrenia, mania psicótica,
depressão psicótica e também em situações orgânicas.

72
Sensoperceção – falsas perceções
Alucinações

Quanto à complexidade:
• Elementar: barulhos, gritos, murmúrios, relâmpagos, luzes
• Parcialmente organizadas: música, padrões
• Completamente organizadas: vozes, palavras, cenas, objetos, pessoas

Quanto à modalidade sensorial:


• Auditivas
• Visuais
• Olfativas
• Gustativas
• Somáticas

73
Sensoperceção – falsas perceções
Alucinações
Alucinações Auditivas
• Tipo de alucinação mais frequentemente encontrado

A presença de outras formas de alucinação, na ausência das de tipo auditivo-verbal é altamente sugestiva
de ORGANICIDADE.
• Ocorrem: esquizofrenia, perturbações do humor, alcoolismo crónico, perturbações dissociativas,
personalidades bordeline, esquizoide, esquizotipica ou histriónica, patologia orgânica

• Quanto à qualidade: claras ou vagas


• 3ª pessoa: se falam sobre o doente
• 2ª pessoa: se falam diretamente para o indivíduo.

• Dialogadas
• Comentadoras
• Insultuosas
• Persecutórias
74
• Imperativas
Sensoperceção – falsas perceções
Alucinações
Alucinações Visuais

Mais típicas dos estados orgânicos do que das psicoses.


• Liliputianas: objetos de tamanho muito inferior ao normal
• Associadas à sensação de prazer e divertimento
• Ocorrem no delirium tremens
• Gulliverianas: objetos de tamanho muito superior ao normal´
• Cénicas: ocorrem sob a forma de cenas complexas, como se fosse um filme
• Epilepsia do lobo temporal; parafrenias fantásticas

• Zoópsicas: sob a forma de animais


• Associadas a medo ou terror
• Ocorrem no delirum tremens
• Autoscopia
• Positiva: o doente vê-se como se estivesse lá um espelho
• Negativa: o doente não se vê quando à frente de um espelho

75
Sensoperceção – falsas perceções
Alucinações Alucinações Olfativas e
Gustativas
• Raras
• O doente queixa-se de cheiros/ sabores estranhos e repelentes

• As olfativas podem ocorrer: epilepsia e quadros orgânicos (mais raramente nas depressões psicóticas e esquizofrenia)
• As gustativas ocorrem: esquizofrenia e estados orgânicos

• Difícil de distinguir de delírio.

76
Sensoperceção – falsas perceções
Alucinações
Alucinações somáticas

Cinestésicas, anestésicas ou
Superficiais Cenestésicas ou viscerais
motoras

• Afetam a sensação • Afetam os músculos e • Falsas perceções dos


cutânea articulações órgãos internos
• Ocorre em: • Sensação de que os • Ocorre em:
• Estados orgânicos agudos membros se mexem • Esquizofrenia crónica
• Intoxicação por cocaína – quando isto não acontece
cocaine bug
• Esquizofrenia • Ocorrem em: • Delírio zoopático: ideia
• Podem ser: • Esquizofrenia delirante de que há um
• Térmicas • Intoxicação por álcool ou animal a percorrer o corpo.
• Hápticas benzodiazepinas. O doente tem mesmo a
• Sensação de pequenas alucinação.
formigas/bichos a
percorrer o corpo -
formicação
• Hídricas
• Parestesia
77
Sensoperceção – falsas perceções
Alucinações
ALUCINAÇÕES FUNCIONAIS
• Necessária a presença de um estímulo que desencadeia a alucinação, no mesmo campo sensorial.
• O estímulo provoca a alucinação, mas o estimulo é também experienciado. Ou seja, a alucinação requer a
presença de uma sensação real.

ALUCINAÇÃO REFLEXA
• Estímulo num campo sensorial produz uma alucinação, noutro campo sensorial.
• Forma mórbida de sinestesia.

ALUCINAÇÕES HIPNAGÓGICAS E HIPNOPÔMPICAS


• Ocorrem ao adormecer (hipnagógicas) ou ao acordar (hipnopômpicas).
• Habitualmente, AUDITIVAS.
• Consideradas fenómeno normal, também ocorrem na narcolepsia ou com o abuso de tóxicos.

ALUCINAÇÕES EXTRACÂMPINAS
• Objeto alucinado está fora do campo percetivo 78
Sensoperceção – falsas perceções
ALUCINOSE PSEUDOALUCINAÇÃO

• Alucinações auditivas em doentes alcoólicos, • Confundido com alucinação à primeira vista.


com crítica e sem alterações da consciência.
• Semelhante à perceção mas sentida como
vinda do espaço subjetivo interior (Jaspers)
• Também podem ocorrer:
• Lesões do tronco cerebral • Outra definição : alucinação com insight (Hare)
• Crise pós ictal na epilepsia temporal
• Intoxicações
A sua presença não indica psicopatologia, ao
contrario das verdadeiras alucinações!

79
PENSAMENTO
Sem alterações no curso, forma e posse do pensamento. Sem
alterações no conteúdo do pensamento.

80
Pensamento – Alterações do Curso
Alterações do Ritmo
TAQUIPSIQUISMO ou PENSAMENTO ACELERADO
• Aumento da velocidade do fluxo do pensamento
• Associado ou não a fuga de ideias
ü Mania/ hipomania, intoxicação alcoólica inicial e psicoses tóxicas

FUGA DE IDEIAS ou PENSAMENTO IDEOFUGITIVO


• Pensamentos seguem-se uns aos outros rapidamente e o pensamento muda constantemente de
objetivo em função das associações, não existindo uma direção geral do pensamento, acabando
por perder a sua finalidade.
• As associações determinam-se por relações casuais, associações verbais, sonoras ou pela presença de
estímulos externos. Estas associações podem habitualmente ser detetadas.
• Ocorre SEMPRE na presença de pensamento acelerado!
ü Mania/ hipomania, esquizofrenia, estados orgânicos

81
Pensamento – Alterações do Curso
Alterações do Ritmo
PENSAMENTO CIRCUNSTANCIAL
• Pensamento progride lentamente, com muitos detalhes entediantes, desnecessários e triviais.
Porém, não perde a sua finalidade.
ü Epilepsia, défices de aprendizagem, traços de personalidade obsessiva.

BRADIPSIQUISMO ou PENSAMENTO LENTIFICADO


• Diminuição da velocidade do pensamento, com diminuição do poder associações e dificuldade de
passar de um tema para outro. Observa-se aumento da latência de respostas, lentidão de discurso
e capacidade de decisão reduzida.
• Também existe diminuição da atenção ativa
ü Depressão, Parkinson, inicio de processos confusionais...

PENSAMENTO INIBIDO
• Há inibição do raciocínio e o doente sente resistências ao fluxo do pensamento, que é lento e
irregular. Vivida subjetivamente, com dificuldade em pensar e tomar decisões.
82
ü Depressão, esquizofrenia catatónica inibida, demência e fadiga.
Pensamento – Alterações do Curso
Alterações da Continuidade
BLOQUEIO DO PENSAMENTO
• Descontinuidade na progressão do pensamento com suspensão brusca e imotivada do
pensamento.
• Objetivada pela interrupção súbita da fala, no meio de uma frase. Doente quando retoma fá-lo com outro
assunto sem conexão à ideia anterior, com sentimento de embaraço ou como experiência aterradora.
ü Esquizofrenia ou quadros ansiosos.

PERSEVERAÇÃO DE CONTEÚDO
• Ideias persistem para além do ponto em que são relevantes.
• Doente não abandona uma ideia para passar para outra, é incapaz de se adaptar a wquestões sucessivas,
repetindo sempre a mesma resposta
ü Depressão, esquizofrenia crónica, síndromes psico-orgânicas.

PERSEVERAÇÃO VERBAL
• Repetição involuntária de palavras ou frases, quando se tenta iniciar o discurso repetindo,
geralmente, a palavra/frase do seu discurso anterior. Repete-se uma palavra/frase que já não tem
sentido mas que tivera anteriormente.
ü Síndromes psico-orgânicas.
83
Pensamento – Alterações da Forma
Alterados a organização e processo associativo do pensamento, sobretudo no que se refere á
componente abstrata e de conceptualização!
• Manifestam-se através da comunicação e produção do discurso.
• Esquizofrenia, perturbações orgânicas cerebrais, mania e depressão

PENSAMENTO CONCRETO/ DÉFICE DE ABSTRAÇÃO


• Incapacidade de distinguir entre o simbólico e o concreto. Ausência de conceitos abstratos.
ü Esquizofrenia grave, demências, défice mental

DESCARRILAMENTO
• Pensamento flui para um pensamento sem relação com o primeiro

84
Pensamento – Alterações da Forma
FUSÃO
• Justaposição e mistura de conteúdos heterogéneos e incompreensíveis. Varias ideias são
interligadas, ainda que haja uma certa preservação da cadeia normal de associações.

PENSAMENTO DESAGREGADO
• Mistura de fragmentos de pensamentos heterogéneos. Perda das associações e o pensamento não
faz sentido.
• Ocorre com um grau de fusão e de descarrilamento elevado.

85
Pensamento – Alterações da Posse
Ideias Obsessivas
• Ideias/pensamentos persistentes que dominam todo o pensamento do doente.
• Ocorrem contra a vontade do doente - egodistónicas
• Existem autocritica relativamente ao caráter patológico do problema - insight
• Associam-se a uma grande carga ansiogénica e até com sentimentos de culpa.
• Geralmente a temática é repugnante para o doente.

• Podem ocorrer sob a forma de: ideias, imagens, impulsos, medos/fobias, dúvidas.

• Levam a compulsões

ü Perturbações ansiosas (ex. perturbação obsessiva compulsiva), depressão, esquizofrenia e estados orgânicos.

86
Pensamento – Alterações da Posse
Alienação do pensamento
• Doente descreve que os seus pensamentos são controlados por uma entidade exterior ou que
outros participam no seu pensamento.
ü Esquizofrenia

IMPOSIÇÃO ou INFLUENCIAMENTO DO PENSAMENTO


• Convicção de que os seus pensamentos são influenciados ou inseridos na sua mente por entidades
extrínsecas.
ROUBO DO PENSAMENTO
• Convicção de que os seus pensamentos desaparecem porque lhe foram roubados, por processos e
razões variadas.
DIFUSÃO DO PENSAMENTO
• Convicção de que os seus pensamentos se afastam dele e se difundem, sendo conhecidos de
outros. Pode ocorrer leitura do pensamento; eco do pensamento; pensamentos audíveis.

87
Pensamento – Alterações do Conteúdo
Ideias Sobrevalorizadas
Ideia aceitável e compreensível, levada pelo doente além dos limites da razão (Sims).

• Compreensíveis no contexto do doente.


• Antecedentes sobre os quais a ideia é mantida não são necessariamente irracionais ou falsos.
• Devido à sua tonalidade afetiva, toma precedência sobre todos os outros pensamentos.
• Grau de convicção e irredutibilidade menor que o delírio.
• É aceite pelo indivíduo.
• Causa perturbação no funcionamento ou sofrimento.

88
Pensamento – Alterações do Conteúdo
Delírio
Crença falsa, com convicção de certeza, resistente à argumentação lógica, e que não está em
consonância com o fundo social e cultural do doente.

Delírio primário Delírio secundário


Ideias ou vivências cuja génese não tem Delírio derivado de outros processos psicológicos e,
compreensibilidade, não é devida a outros processos portanto, a sua génese tem alguma compreensibilidade.
psicológicos
• Surgem como algo novo, um novo significado, súbito e
revelador, associado a perceções ou acontecimentos
psicológicos e representa uma quebra na biografia do sujeito

Sistematizados Não sistematizados

Delírio organizado, existindo uma lógica interna. Ideias delirantes dispersas, sem qualquer lógica interna.
• Não existe separação entre os diversos delírios, existindo um
principal e todo o restante sistema é contruído à volta deste.

Generalizado Não generalizado


Envolve todos os aspetos da vida do indivíduo Dizem respeito a um ou poucos aspetos da vida do
indivíduo.

89
Pensamento – Alterações do Conteúdo
Delírio Primário
HUMOR DELIRANTE PERCEÇÃO DELIRANTE INTERPRETAÇÃO DELIRANTE
Enquanto não se constitui o • Existe uma perceção que é • Estímulo é percecionado de
delírio, o doente aparenta uma correta mas é-lhe atribuído forma correta e é dado um
alteração do estado de humor. um significado anormal (que significado possível.
nada tem a ver com a
Estado pré-delírio. • Confundida com perceção delirante
perceção ou com o sistema
• Doente tem o cultural do doente).
pressentimento que algo
• Estrutura de dupla vertente
está a acontecer mas não
sabe o que é. Há um estado
tensão psíquica, de
apreensão
• Pode durar dias ou meses
• Pode cessar sem qualquer
desenvolvimento delirante, mas
normalmente ele desenvolve-se.

90
Pensamento – Alterações do Conteúdo
Delírio Primário
INTUIÇÃO DELIRANTE RECORDAÇÃO/MEMÓRIA DELIRANTE
Delírio surge subitamente na mente do • Recordação delirante do tipo
doente, completamente formado, como perceção delirante.
uma ideia ou certeza súbita. • Estrutura de dupla vertente
• Sem suporte percetivo e a partir de • Recordação delirante do tipo
uma revelação quase ”pura”. ocorrência delirante.
• O delírio esta contido na memória

91
Pensamento – Alterações do Conteúdo
Conteúdo dos delírios

• Delírio persecutório ou paranoide • Delírio de ciúme/ Síndrome de Othello


• Forma mais comum
• Delírio erotomaníaco
• Delírio de autorreferência • Delírio de passividade/ de controlo
• Delírio de grandeza
• Delírio místico ou religioso • Síndrome de Capgras
• Delírio hipocondríaco
• Síndrome de Fregoli
• Delírio de infestação • Síndrome das intermetamorfoses
• Delírio de culpa
• Síndrome dos duplos subjetivos
• Delírio niilista
• Delírio de Cotard

• Delírio de ruína

92
Pensamento – Ideias de suicídio
• Pode ir desde as ideias de morte até à ideação suicida estruturada.
• Deve ser avaliada a probabilidade da ideação evoluir para uma tentativa.

• Doentes com esquizofrenia crónica ou perturbação do humor recorrente têm um maior risco de
morrer por suicídio do que a população geral.

• Fatores de risco para suicídio:


• Historia anterior de tentativas
• Depressão/psicose grave
• Abuso de álcool
• Sexo masculino
• Raça branca
• Idade avançada
• Presença de doença física cronica ou terminal

93
VIVÊNCIA DO EU
Sem perturbações da consciência da existência, atividade, unidade,
identidade, continuidade ou limites do eu.

94
Vivência do eu
Alterações da consciência da existência e atividade do Eu
Ter consciência de que todas as atividades psíquicas que ocorrem é o “próprio Eu que as realiza e
precisa”.

DESPERSONALIZAÇÃO
• Sentimento de estranheza e infamiliaridade em relação a si próprio. “Eu não sou eu”, “Sou apenas
uma máquina”, ”sinto-me como um nada, um morto”.
• Vive esta mudança com angústia, com a sensação que vai enloquecer ou perder o controlo.
ü Ansiedade e pânico, psicoses tóxicas, esquizofrenia, formas graves de depressão e doença cerebral orgânica e também em casos de
exaustão extrema.

PERDA DA RESSONÃNCIA EMOCIONAL


• “Não consegue sentir”
ü Depressão

95
Vivência do eu
Alterações da consciência da unidade do Eu
Sensação de que ”sei que sou UMA pessoa”.

AUTOSCOPIA
• O doente vê-se como se estivesse em frente a um espelho e reconhece-se.

DUPLICAÇÃO
• Doente sente-se dentro de si e fora ao mesmo tempo.
ü Esquizofrenia

MÚLTIPLA PERSONALIDADE
• Observação de mais do que uma personalidade no mesmo indivíduo.
ü Perturbação de personalidade dissociativa

96
Vivência do eu
Alterações da consciência da identidade e continuidade do Eu
Sensação de que ”sou a mesma pessoa o tempo todo”.

ALTERAÇÃO COMPLETA DA IDENTIDADE


• O doente sente que é alguém completamente diferente, já não é a mesma pessoa.
ü Perturbações psicóticas

SENSAÇÃO DE PERDA DE CONTINUIDADE


• Transformação da pessoa após certo ponto.
ü Experiências quase morte

97
Vivência do eu
Alterações da consciência dos limites do Eu
Sensação de que ”posso distinguir o que sou do mundo externo e de tudo o que não é o meu Eu”.

ALIENAÇÃO DO PENSAMENTO E/OU ATIVIDADE MOTORA E/OU DOS SENTIMENTOS

APROPRIAÇÃO
• Vivencia como seus os acontecimentos que atingem objetos externos
ü Esquizofrenia

TRANSITIVISMO
• Projeta para o exterior o que se passa nele. Atribui os seus comportamentos a objetos/pessoas ao seu redor.
ü Esquizofrenia

ESTADOS EXTÁTICOS
• Doente sente-se em “união com o universo”
ü Experiências espirituais intensas, alucinogénios e esquizofrenia

98
MEMÓRIA E
INTELIGÊNCIA
Sem alterações na memória sensorial, de curto e longo
prazo. Sem amnésias ou hipermnésia. Sem paramnésias.
Inteligência não avaliada psicometricamente. Pela avaliação
clínica situa-se dentro dos parâmetros da normalidade.

99
Memória e Inteligência
SENSORIAL OU IMEDIATA
• Memória com duração de segundos. Regista dados dos órgãos sensoriais e tem o objetivo de facilitar o
processamento dos estímulos recebidos para comparações com outras informações já armazenadas.

PRIMÁRIA, RECENTE OU A CURTO PRAZO OU DE TRABALHO


• Duração de segundos a minutos. Auxilia a constante atualização do meio que nos rodeia.

SECUNDÁRIA, REMOTA OU A LONGO PRAZO


• Duração de minutos a décadas. Armazenamento nesta memória permite memorizar acontecimentos do
passado e utilizar a informação aprendida no processo educativo. Resiliente a agressões.

100
Memória e Inteligência
Secundária, remota ou a longo prazo

Explícita ou declarativa Implícita ou de procedimento


Factos e acontecimentos. Hábitos e capacidades motoras, sensoriais e
eventualmente linguísticas.
• Sujeito consciente da sua utilização.
• Sujeito inconsciente da sua utilização.

SEMÂNTICA EPISÓDICA
Situações de conhecimento geral, de Experiências específicas do próprio.
factos abstratos. • A autobiográfica é um tipo desta

101
Memória e Inteligência – Alterações quantitativas
HIPERMNÉSIA
• Capacidade mnésica superior ao normal com facilidade exagerada em recordar.
ü Utilização de estimulantes do SNC, estados febris, situações limite, perturbações obsessivas, personalidades histriónicas, aura epilética,
perturbações de stress pós traumático.

AMNÉSIA
• Incapacidade parcial ou total de fixar, manter ou evocar conteúdos mnésicos.
• ANTERÓGRADA: esquece tudo o que ocorreu após um facto ou acidente
• RETRÓGRADA: esquece tudo o que ocorreu antes de um ponto
• LACUNAR: esquece factos ocorridos entre duas datas
• REMOTA: esquece factos ocorridos no passado
ORGÂNICA PSICOGÉNICA
Menos seletiva em relação ao conteúdo Perda de elementos mnésicos focais que têm um
do material esquecido valor psicológico específico.
ü Delirium, traumatismo craniano, • Amnésia dissociativa
blackout alcoólico • Perda de memória e identidade em períodos traumáticos
muito intensos. Pode ocorrer associada a fuga
dissociativa.

• Catatímica
• Amnesia seletiva de acordo com a carga afetiva.
102
• Incapacidade de evocar memórias dolorosas específicas
Memória e Inteligência – Paramnésias
Alterações da evocação
FALSIFICAÇÃO RETROSPETIVA
• Distorção não intencional das memórias de acordo com o estado afetivo ou de funcionamento atuais.

CONFABULAÇÕES
• Descrição detalhada e falsa de um acontecimento que ocorreu no passado. Ocorre em consciência clara e
muitas vezes para preencher lacunas mnésicas. São sugestionáveis, plásticas e podem ser modificadas
adaptando-se às circunstâncias. Dois padrões: embaraçado e fantástico

SÍNDROME DE MEMÓRIAS FALSAS


• Durante uma psicoterapia, devido a sugestão, o paciente tem memorias (falsas) de abuso sexual e maus tratos

CRIPTOMNÉSIA
• Factos contidos na memoria aparecem como novos ao doente, que os vive com uma descoberta.

103
Memória e Inteligência – Paramnésias
Alterações do reconhecimento
DEJÀ-VU E JAMAIS-VU
• Reconhecimento de que já se teve determinada experiência
• Sentir uma experiência já vivenciada como novo
• Fenómeno normal e comum em situações de fagida

IDENTIFICAÇÃO ERRÓNEA POSITIVA


• Desconhecidos são identificados como conhecidos. Pode tomar a forma de S. Fregoli

IDENTIFICAÇÃO ERRÓNEA NEGATIVA


• Conhecidos não são reconhecidos. Pode tomar a forma de S. Capgras.

SÍNDROME DA INTERMETAMORFOSE
• Doente acredita que alguém se transformou noutra pessoa adquirindo as suas capacidades físicas e psíquicas.

104
VIDA INSTINTIVA
Sem alterações na higiene do sono ou no comportamento
alimentar e sexual.

105
Ritmos Cronobiológicos
Alterações do sono
DISSÓNIAS PARASSÓNIAS
Alterações na quantidade, qualidade ou Eventos comportamentais ou
horário do sono. fisiológicos anormais que ocorrem em
associação com o sono.

1. Insónia: inicial, intermitente ou terminal.


(ansiedade) (depressão) 1. Pesadelos: sonhos com carga afetiva
negativa
2. Hipersónia: doente dorme mais que o
habitual e pode ter sonolência diurna. 2. Terrores noturnos: episódios recorrentes
de despertares abruptos acompanhados
3. Narcolepsia: episódios de perda do tónus
de medo e ativação autonómica.
muscular com adormecimento. Há
intrusão de elementos do sono profundo • Sono NREM
na transição sono para vigília (ex. • Crianças
alucinações hipnagógicas e 3. Sonambulismo
hipnopômpicas)
• Sono NREM
4. Redução da necessidade de dormir: • Infancia
presença de excessiva energia vital que • Existência de história familiar
faz com que os doentes deixem de ter
necessidade de dormir. 4. Bruxismo
ü Episódios maníacos 106
Ritmos Cronobiológicos
Alterações do comportamento alimentar

• Anorexia: diminuição do apetite


ü Depressão e doenças orgânicas

• Receio mórbido de engordar


• Anorexia nervosa

• Hiperfagia: aumento da ingestão alimentar normalmente associada a aumento do apetite.


ü Fases maníacas da doença bipolar

• Potomania: ingestão exagerada de líquidos.


ü Anorexia nervosa, esquizofrenia

• Ingestão alimentar compulsiva: ingestão excessiva num determinado período de tempo


ü Perturbações do comportamento alimentar

• Recusa alimentar: recusa voluntaria e intencional em alimentar-se total ou parcialmente.


ü Anorexia nervosa, esquizofrenia, fobias, depressão com ideação suicida

107
INSIGHT
Insight para a doença presente.

108
Insight
• Insight é estar ciente das realidades interna e externa. É ver-nos a nós próprios como somos mas
também aos outros como eles nos veem
1. Auto-reflexão
2. Consciência da conformidade ou não do próprio com as normas sociais

• Não é um conceito absoluto


• Na prática foca-se na capacidade do doente em reconhecer que está doente, compreenderem que
os problemas são um desvio do normal e compreenderem que os seus comportamentos afetam os
outros e que a terapêutica pode ser útil no alivio de sintomas.
• Tem 3 componentes fundamentais:
1. Conhecimento da doença
2. Compreensão dos efeitos da doença
3. Atitude perante a doença
Qualquer doença psiquiátrica tem potencial para alterar o insight .

• Juízo crítico é a avaliação de um tema/situação que pode determinar uma decisão ou ação.,

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| Covilhã, 16 de abril de 2019 |
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