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Juízos de realidade e

suas alterações
PROFESSORA: VITÓRIA SEGATO JADALLAH
Definições psicológicas
 É por meio dos juízos que o ser humano afirma sua relação com o mundo, difere a verdade do
erro, assegura-se da existência ou não de um objeto perceptível, bem como atribui valor a
determinados objetos;
 Ajuizar quer dizer JULGAR;
 Implica julgamento por um lado SUBJETIVO e por outro lado SOCIAL;
 As alterações do juízo são alterações do pensamento;
 Juízos falsos podem ser construídos de inúmeras formas, sendo ou não patológicos;
 Erro de juízo não determinado por transtornos mentais X erro de juízo determinado pela
presença de transtornos mentais;
 Erro simplex X Delírio;
Erro simples
 O erro se origina da ignorância, do julgar apressado, baseando-se em premissas falsas;
 O erro ocorre no julgar quando:
1. tomam-se coisas semelhantes como iguais;
2. atribui-se coincidências ocasionais, relação causa-efeito;
3. aceitar ingenuamente as impressões de nossos sentidos como verdades indiscutíveis, ex.: luto;
 Os erros são possíveis de ser corrigidos no decorrer da existência;
 Boa parte dos erros de julgamento estão relacionados a situações afetivas intensas e dolorosas,
que impedem que o indivíduo avalie a situação de maneira objetiva e lógica;
 JASPERS (1979), traz a concepção de que o ERRO é psicologicamente compreendido, pois surgem
em virtude da ignorância, fanatismo religioso ou político, enquanto o DELÍRIO tem como
característica principal a incompreensibilidade;
Erro simples
 Os tipos de erros mais comuns (não determinados por transtornos mentais), são os
preconceitos, as crenças culturalmente estabelecidas, as superstições e as ideias prevalentes;

PRECONCEITO CRENÇAS CULTURAIS E IDEIAS PREVALENTES


SUPERSTIÇÕES
• Juízo a priori, sem reflexão • Crenças culturais são • Por conta da importância afetiva
pautada na realidade; compartilhadas por um grupo que tem para o sujeito, adquirem
• Produzidos socialmente, como social (igreja, política, étnico); predominância;
forma de atender interesses de • Superstições são despertadas • Diferem das ideias obsessivas,
determinados grupos; geralmente por fatores afetivos; pois são egossintônicas;
• Racismo, sexismo, homofobia, • Fazem sentido para o paciente;
intolerância religiosa; • Identificação total com a ideia;
Principais características
1. A ideia é sustentada com forte convicção (mas menos que em um delírio).
2. A ideia prevalente ou sobrevalorizada é egossintônica (comparável a muitas ideias obsessivas).
3. É associada a um alto grau de emoção ou afeto (ansiedade ou raiva, quando há a ameaça de perda de uma
pessoa ou do objetivo expresso na ideia).
4. Geralmente se desenvolve em personalidade alterada.
5. Em geral, é compreensível a partir das experiências passadas do indivíduo e de sua personalidade.
6. Causa sofrimento ou disfunção no sujeito ou naqueles que com ele convivem.
7. Geralmente induz o indivíduo a agir.
8. Pode, eventualmente, progredir para delírio verdadeiro.
9. O paciente não busca ajuda por conta dessas ideias.
10. Assemelha-se a convicções religiosas ou políticas apaixonadas.
O delírio
Juízos
patológicos
Alteração do falsos
juízo
Erro ao ajuizar
Karl Jaspers
(1979)

Fatores
Base mórbida
patológicos
O delírio
 Para Jaspers, não é a falsidade do conteúdo que caracteriza um delírio, mas sim o tipo de evidência que o
paciente utiliza para sustentar a sua crença, aquilo que faz com que ele acredite que as coisas são assim;
 TRÊS PONTOS PRINCIPAIS PARA IDENTIFICAÇÃO CLÍNICA DO DELÍRIO, segundo Jaspers:
CONVICÇÃO EXTRAORDINÁRIA IMPOSSIBILIDADE DE MODIFICAÇÃO CONTEÚDO IMPOSSÍVEL
• Paciente apresenta uma certeza • É praticamente impossível • Quase sempre um juízo falso;
absoluta de seu juízo; modificar objetivamente a • Os modos como o indivíduo
• Dificuldade em colocar em realidade percebida pelo sujeito; constituiu o juízo é patológico;
questionamento a veracidade do • O delírio é irremovível;
delírio;
• Certeza subjetiva;

 O delírio é uma produção associal: não tem associação com o grupo social do indivíduo; Não é produzido
nem compartilhado no grupo; Ao delirar, o sujeito se desgarra do contexto que se formou, e passa a
construir seus significados e sentidos individuais;
Dimensões do delírio
1. GRAU DE CONVICÇÃO: estre grau determina até que ponto o sujeito está convencido da
realidade de suas ideias delirantes. Essa convicção é mais marcante na esquizofrenia e menos
intensa em transtornos do humor (bipolaridade, psicoses reativas breves)
2. EXTENSÃO: trata-se da extensão que as ideias delirantes envolvem diferentes áreas da vida do
indivíduo. Observada na esquizofrenia, depressão psicótica, transtornos delirantes e psicoses
reativas breves;
3. BIZARRICE OU IMPLAUSIBILIDADE: trata-se do grau em que as crenças delirantes se afastam das
convicções compartilhadas culturalmente. Quando o delírio se distancia daquilo que é unânime
socialmente. De acordo com o CID-10 e DSM-V, os delírios bizarros são mais plausíveis para o
diagnóstico de esquizofrenia que os delírios não-bizarros;
4. DESORDANIZAÇÃO: até que ponto as ideias são consistentes internamente, tem lógica própria e
em que grau são sistematizadas. Os delírios mais organizado são observados em pacientes com
maior nível intelectual;
Dimensões do delírio
5. PRESSÃO OU PREOCUPAÇÃO: tem a ver com o quanto o paciente se preocupa com suas
crenças, o quanto ele se sente aprisionado pelo delírio. Transtorno delirante, esquizofrenia,
depressão psicótica;
6. RESPOSTA AFETIVA OU AFETO NEGATIVO: tem a ver com o quanto as crenças abalam ou
tocam afetivamente o paciente, o quanto ele fica assustado, ansioso, triste ou irritado por conta
do delírio;
7. COMPORTAMENTO DESVIANTE: em que medida o sujeito age em função do seu delírio, em
que medida pratica atos estranhos, perigosos ou inconvenientes a partir de suas ideias;
Delírio primário ou ideias delirantes
verdadeiras
 Para Jaspers, o delírio sempre é um fenômeno primário;
 Isso significa que é psicologicamente incompreensível, não tendo raízes na experiência
psíquica do “homem normal”;
 Por isso ela é impenetrável, no sentido de que é incapaz de ser atingida pela intersubjetiva;
 O verdadeiro delírio apresenta uma quebra radical na biografia do sujeito, a transformação
qualitativa de toda sua existência, sua pessoa se modifica, sua personalidade sofre verdadeira
transmutação;
Delírio secundário ou ideias deliróides
 Origina-se de alterações profundas em outras áreas da atividade mental (afetividade, nível de
consciência, etc.), que indiretamente produzem juízos falsos;
 É fruto de condições psicologicamente rastreáveis e compreensíveis;
 Pode ocorrer nos quadros de:
1. Depressão (delírio de ruína ou culpa);
2. Mania (delírio de grandeza);
3. Delírio compartilhado (há sempre o delirante + outra pessoa);
Estrutura dos delírios
 São classificados em SIMPLES (monotemáticos) ou COMPLEXOS (pluritemáticos);
1. DELÍRIOS SIMPLES (monotemáticos): ideias que se desenvolvem em torno de um só conteúdo
( apenas um tema religioso, persecutório, etc.);
2. DELÍRIOS COMPLEXOS (pluritemáticos): englobam vários temas ao mesmo tempo, com múltiplas
facetas, envolvendo conteúdos de perseguição, místico-religiosos, de ciúmes, de reivindicação, etc.;
3. DELÍRIOS NÃO SISTEMATIZADOS: delírios sem concatenação consistente, variam de momento para
momento e costumam ser encontrados em indivíduos com baixo nível intelectual ou em pacientes
com quadros confusionais ou com demência;
4. DELÍRIOS SISTEMATIZADOS: são bem organizados, com histórias ricas, consistentes e bem
concatenadas, que mantém, ao longo do tempo, os mesmos conteúdos, com riquezas de detalhes.
Ocorrem mais em indivíduos intelectualmente desenvolvidos e nos chamados transtornos
delirantes;
Surgimento e evolução do delírio:
estados pré-delirantes
 Fase que precede imediatamente o surgimento das ideias delirantes. Há tensão geral, clima
ameaçador;
 Aflição e ansiedade intensas;
 O paciente configura o delírio, descobre, como se fosse por uma revelação inexplicável; sensação
como se tudo fizesse sentido, “então era isso!”
 Desorganização do sujeito após a primeira revelação do delírio inicial. É acompanhada de vivências
ameaçadoras de fim de mundo;
 Consolidação: o delírio tende a cristalizar-se, há certa elaboração intelectual em torno dele, com a
fixação de elementos a partir da personalidade do sujeito;
 Fase de resíduo: há perda do impulso e da afetividade manifesta. O sujeito não pode mais confiar e
relacionar-se calorosamente com os outros, se isola; Pois ao expressar suas ideias, as pessoas acham
estranho, impossível, etc.;
Os mecanismos constitutivos do delírio
 Processo de tentativa de reorganização do funcionamento mental: o esforço que o aparelho
psíquico do paciente empreende no sentido de lidar com a desorganização que a doença de
fundo produz;
 Deve-se pensar o delírio como uma construção. Tal construção está inserida em um processo
de tentativa do sujeito reorganizar seu funcionamento mental;
Os tipos de delírios
1. Delírio persecutório;
2. Delírio de referência;
3. Delírios e o mecanismo de projeção;
4. Delírio de relação;
5. Delírio de influência ou controle;
6. Delírio de grandeza;
7. Delírio místico ou religioso;
8. Delírio de ciúmes e delírio de infantilidade;
9. Delírio erótio;
10. Delírios de conteúdo depressivo;
11. Delírio de ruína;
12. Delírio de culpa e de auto-acusação;

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