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Psicopatologia

Profa. Dra. Carla Soares


CONCEITO Exprime as características mais abstratas e
gerais dos objetos e dos fenômenos; pode
ser visto como o elemento estrutural
básico do Pensamento

JUÍZO
Articulação entre dois ou mais conceitos
ou termos.

RACIOCÍNIO
Relaciona conceitos e juízos formando
uma narrativa ou argumentação.
CURSO

FORMA

CONTEÚDO
Alterações dos conceitos, dos juízos e do raciocínio

 Desintegração e transformação dos conceitos - bastante características da


esquizofrenia e podem ocorrer também nas síndromes demenciais.

 Condensação dos conceitos

Alterações dos juízos

 Juízo deficiente ou prejudicado É um tipo de juízo falso que se estabelece porque a


elaboração dos juízos é prejudicada por deficiência intelectual e pobreza cognitiva
do indivíduo.

 Alteração do juízo de realidade ou de existência (delírios)


Pensamento mágico, pensamento dereístico e Pensamento deficitário
pensameno desejoso -TPs esquizotípica, histriônica,
borderline e narcisista; quadros obssessivo- Pensamento demencial Trata-se também de
compulsivos; esquizofrenia pensamento pobre, porém tal empobrecimento é
desigual, diferentemente do que ocorre no
Pensamento inibido - inibição do raciocínio, com pensamento deficitário
diminuição da velocidade e do número de conceitos,
juízos e representações utilizados no processo de
pensar; quadros demenciais e em quadros Pensamento confusional marcante dificuldade
depressivos graves. em estabelecer vínculos entre conceitos e juízos
devido às alterações do nível de consciência, da
Pensamento vago marcante falta de clareza e atenção e da memória imediata e de trabalho,
precisão no raciocínio; pode ocorrer sem transtorno impedindo a formação adequada do raciocínio.
mental; início de esquizofrenia ou quadros
demenciais; TPs (p. ex., esquizotípica) Pensamento desagregado -formas graves de
esquizofrenia
Pensamento prolixo - tangencialidade e
circunstancialidade; TPs, deficiência intelecual, Pensamento obsessivo
início de processo esquizofrênico, quadro
obssessivo-compulsivo. Ruminações ou pensamento ruminativo
perseverativo
Pensamento concreto ou concretismo- DI e
esquizofrenia
Alterações do curso do pensamento

 Aceleração do pensamento -quadros de mania, em alguns pacientes com esquizofrenia,


eventualmente nos estados de ansiedade intensa, nas psicoses tóxicas e na depressão
ansiosa.

 Lentificação do pensamento -pacientes gravemente deprimidos, em alguns casos de


rebaixamento do nível de consciência, em certas intoxicações.

 Bloqueio ou interceptação do pensamento -alteração quase exclusiva da Esquizofrenia.

 Roubo do pensamento- alteração característica da Esquizofrenia.

 Fuga de ideias - característica dos quadros maníacos do TB.


Alterações formais do
pensamento  Na esquizofrenia, de modo geral, o
progredir da desestruturação do
pensamento segue esta sequência (mas
 Afrouxamento das associações não necessariamente).

 Descarrilhamento do  Pacientes com transtornos afetivos


pensamento (mania ou depressão, psicóticas ou não
psicóticas) também apresentam
alterações formais.
 Dissociação e incoerência do
pensamento  Quanto mais bizarra for a estrutura do
pensamento, maior é a probabilidade
 Desagregação do pensamento de se tratar de esquizofrenia
Alterações do conteúdo do pensamento - principais conteúdos que
preenchem os sintomas psicopatológicos:
1. persecutórios
2. depreciativos, de ataque à autoestima
3. de poder, riqueza, grandeza ou missão
4. religiosos, místicos, mágicos
5. eróticos, sexuais, de ciúmes
6. de culpa
7. conteúdos hipocondríacos
Perguntas para verificar o desenvolvimento e a estrutura global do pensamento
(verificar a capacidade de abstração e de generalização e o grau de sofisticação das
respostas):
 Que diferença há entre a mão e o pé? Entre o boi e o cavalo? Entre a água e o gelo?
E entre o cristal e a madeira?

 Entre 1 kg de chumbo e 1 kg de palha, o que pesa mais? Que diferença há entre


falar uma coisa errada e dizer uma mentira? E entre a admiração e a inveja? E entre
ser uma pessoa econômica e ser uma pessoa mesquinha, um “pão-duro”?

 Que semelhanças há entre o carro, o trem e o avião?


 Resposta precária e concreta: “São coisas”.

 Resposta correta, mas ainda concreta: “Servem para a gente andar”.

 Resposta com bom nível de generalização: “São veículos ou meios de transporte”


Ao longo da entrevista, verificar o curso do pensamento:

Como flui o pensamento do paciente, seu curso (velocidade, ritmo), forma e


conteúdos? O pensamento é lento e difícil ou rápido e fácil? O raciocínio alcança seu
objetivo, chega a um ponto final, ou fica “orbitando” em temas secundários?

Verificar as formas e os tipos de pensamentos:

O pensamento é coerente e bem compreensível? Ou é vago, com trechos


incompreensíveis? O pensamento é predominantemente incompreensível, muito
incoerente? Há associações por assonância? Há fuga de ideias? É concreto ou revela
capacidade de abstração e uso de símbolos e categorias de generalização? O
pensamento respeita a realidade ou segue os desígnios dos desejos e temores do
paciente?
Caso se trate de pensamento desorganizado, incoerente, verificar:

 Tal desorganização é do tipo confusional (alteração da consciência), demencial


(alteração da cognição) ou deficitário (pobreza homogênea)?

 Estão presentes alterações características da esquizofrenia (afrouxamento,


descarrilhamento, desagregação)?

 Há ideias ou pensamentos do tipo obsessivo?

 Quais são os conteúdos, os temas, mais recorrentes e marcantes no discurso do


paciente?
 Juízos de realidade >> “Realidade compartilhada”

 Juízos falsos podem ser produzidos de diversas formas e podem ser ou não
ser patológicos

 ERRO SIMPLES X DELÍRIO - Os erros simples são social ou psicologicamente


compreensíveis, enquanto o delírio tem como característica principal a
incompreensibilidade. Os erros são passíveis de correção pela experiência,
pelas provas e pelos dados que a realidade oferece, por se aprender a
pensar com lógica.

 Erros simples: preconceitos, as crenças culturalmente sancionadas, as


superstições e as chamadas ideias prevalentes.

 IDEIAS PREVALENTES X OBSSESSÕES X DELÍRIOS


São juízos patologicamente falsos. Dessa forma, o delírio é um erro do
ajuizar que tem origem no adoecimento mental. Sua base é mórbida, pois
ele é motivado por fatores patológicos (Jaspers, 1979).

Delírio secundário, ou ideias


Delírio primário ou ideias deliroides, e os delírios
delirantes verdadeiras compartilhados

*RELAÇÕES ENTRE DELÍRIO E ALUCINAÇÃO


Características ou indícios externos importantes para a identificação clínica do
delírio:
1. Convicção extraordinária
2. É impossível a modificação do delírio pela experiência objetiva.
3. É, quase sempre, um juízo falso; seu conteúdo é impossível
4. É muitas vezes vivenciado como algo evidente;
5. Indivíduo delirante apresenta os recursos cognitivos básicos para avaliar a
realidade das crenças.
6. É uma produção associal, idiossincrática em relação ao grupo cultural do
paciente.
Dimensões do delírio
1. Grau de convicção - mais marcante na esquizofrenia e menos intensa nas psicoses
reativas breves e nos transtornos do humor com sintomas psicóticos.
2. Extensão com que as ideias delirantes envolvem diferentes áreas da vida.
3. Bizarrice ou implausibilidade- o quanto se distanciam das convicções
culturalmente compartilhadas pelo grupo social de origem do paciente
4. Desorganização. Menor nos transtornos delirantes e em pacientes psicóticos, com
inteligência mais privilegiada. Maior na deficiência intelectual e/ou demência.
5. Pressão ou preocupação.
6. Resposta afetiva ou afeto negativo.
7. Comportamento em função do delírio.
simples complexos
(monotemáticos) (pluritemáticos)

não
sistematizados
sistematizados
1. A inércia em mudar as próprias ideias e a necessidade de consistência das produções
ideativas que são formadas ao longo do tempo.

2. A pobreza na comunicação interpessoal, a falta de contatos pessoais satisfatórios, o


isolamento social, o fato de ser estrangeiro e não falar a língua dominante, etc.

3. O comportamento agressivo por parte do paciente, resultante do delírio persecutório,


pode desencadear mais rejeição pelo meio social e, dessa forma, reforçar o círculo
vicioso de sentimentos paranoides, rejeição, hostilidade, mais sentimentos paranoides,
e assim por diante.

4. O delírio pode diminuir o respeito e a consideração que as pessoas que convivem com o
paciente têm por ele. A partir dessa situação, o indivíduo delirante pode construir novas
interpretações delirantes a fim de, involuntariamente, tentar manter sua autoestima.
Ø Delírio de perseguição Ø Delírio de ciúmes e de infidelidade
Ø Delírio de referência (de alusão Ø Delírio erótico (erotomania, síndrome
ou autorreferência) ou delírio de Clerambault)
Ø Delírio de relação Ø Delírios de falsa identificação
Ø Delírio de influência ou controle Ø Delírios de conteúdo depressivo
(vivência de influência) (ruína; culpa e autoacusação;
Ø Delírio de grandeza ou missão negação de órgãos e hipocondríacos;
(ou de enormidade) cenestopático)
Ø Delírio religioso ou místico*
Iniciar a entrevista com perguntas neutras (idade, estado civil, onde mora, etc.). Após ter
estabelecido esse contato, com cuidado ir “chegando perto” dos delírios. Sempre que o paciente
relatar o delírio ou algo dele, perguntar “como é que você sabe disso?”, “como chegou a essas
conclusões?”. A seguir, são apresentadas perguntas referentes aos distintos tipos de delírio.

Delírios de perseguição: Você tem motivos para desconfiar de alguém? Alguém tentou prejudicá-lo?
Recebeu ameaças? Foi roubado ou enganado? [...] Você está certo do que me disse ou acha que
podem ser “coisas de sua imaginação”? Como pensa defender-se desses perigos?

Delírios de influência: Já sentiu algo externo influenciando seu corpo? Já recebeu algum tipo de
mensagem? Alguma força externa influencia ou controla seus pensamentos? Já teve a sensação de
que alguém ou algo pode ler sua mente? [...]

Delírios de grandeza: Sente-se especialmente forte ou capaz? Tem algum talento ou alguma
habilidade especial? Tem projetos, realizações especiais para o futuro? Aumentou ultimamente sua
capacidade para o trabalho? [...]

Delírios religiosos: Você é uma pessoa religiosa? [...] Teve contato com forças sobrenaturais, como
espíritos, anjos ou demônios? Já conversou com Deus? Já conversou com espíritos?
A consciência é dimensão fundamental da atividade psíquica humana, com dois
aspectos ou dimensões fundamentais: a consciência do mundo e a consciência
do Eu.

Jaspers propõe subdividir e compreender a consciência do Eu (e suas alterações)


em quatro aspectos:

1. consciência de unidade do Eu

2. consciência de identidade do Eu no tempo

3. consciência da oposição do Eu em relação ao mundo

4. consciência de atividade do Eu (consciência de existência e de execução)


DESPERSONALIZAÇÃO E DESREALIZAÇÃO

 Despersonalização - indivíduo sente-se estranho consigo mesmo, vive


marcante transformação, na qual seu Eu familiar e cotidiano, inclusive
seu próprio corpo, são vivenciados como algo estranho, diferente,
bizarro.

 Desrealização- transformação e a perda da relação de familiaridade com


o mundo comum, familiar.

 Podem ocorrer em crises intensas de ansiedade, nas crises de pânico.


Elas ocorrem também nas psicoses tóxicas por alucinógenos e nos
episódios agudos de esquizofrenia, podendo ser vivenciadas, inclusive,
em formas graves de depressão.

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