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PACIENTES TERMINAIS:

UM BREVE ESBOÇO

Profa. Dra. Carla Soares


HISTÓRIA DA MORTE

Início da idade média - morte como evento público, vivido


pelo moribundo em casa, com parentes e amigos;
Séc. XVIII – morte como transgressão; luto exagerado e
família como principal personagem
Séc. XIX e XX - morte como tabu
E o séc XXI???
(ARIÉS, 1977)
APROXIMAÇÃO DA MORTE: CUIDADO A
PACIENTES NO FIM DA VIDA

A morte e o desenvolvimento da UTI


medicina

O crescente desenvolvimento da
TRANSPLANTES
medicina e dos hospitais
provocou a transferência do
lugar da morte para estas
instituições NOVAS
TERAPÊUTICAS

(KÓVACS, 2008; TORRES, 2003))


APROXIMAÇÃO DA MORTE: CUIDADO A
PACIENTES NO FIM DA VIDA

Atenção a suas necessidades, a estrutura de atendimento


nos hospitais e outros recursos como hospices, unidades
de cuidados paliativos e o cuidado domiciliar.

Questões atuais ligadas ao cuidado com pacientes com


doença avançada envolvem a discussão sobre a morte
com dignidade e o direito de escolha da própria morte.

EUTANÁSIA DISTANÁSIA ORTOTANÁSIA

(TORRES, 2003)
Prática para abreviar a vida, a fim
EUTANÁSIA
de aliviar ou evitar sofrimento para
o enfermo

Morte difícil ou penosa, através de


DISTANÁSIA tratamento que prolonga a vida
biológica, sem qualidade e sem
dignidade.

“Morte correta”; evitação do


ORTOTANÁSIA prolongamento artificial da vida, com
procedimentos que acarretem
aumento do sofrimento.
(TORRES, 2003)
A SOCIEDADE E O PACIENTE TERMINAL

A falta de perspectiva existencial torna-se o primeiro indício


de desespero em situações nas quais a perda da capacidade
funcional torna-se iminente

Para o paciente terminal, desespero diante da “invalidez”

Hospital como uma oficina, e o médico, seu principal


mecânico: cumpre a ele fazer com que a máquina homem
retorne o mais depressa possível à circulação como mercadoria
ambulante.

Interessa consertá-la, mas interessa menos evitar que se


quebre

(ANGERAMI-CAMON, 2010)
A SOCIEDADE E O PACIENTE TERMINAL

O paciente portador de doença degenerativa, além da


debilidade orgânica inerente à própria doença, carrega o
fardo de alguém "desacreditado " socialmente: perda da
capacidade produtiva e e “mitificação”

Existe toda uma propulsão social de negação da morte


com o fenómeno: o moribundo é algo que incomoda

O preconceito faz com que toda e qualquer patologia


associada diretamente à ideia de morte seja considerada
infectocontagiosa e seus portadores , pessoas que
necessitam ser alijadas do convívio social

(ANGERAMI-CAMON, 2010)
A SOCIEDADE E O PACIENTE TERMINAL

Embora o progresso da Medicina seja notório na área de


oncologia, ainda assim é difícil não se ver no "câncer "
uma enfermidade imediatamente associada ao espectro
d a morte

Kübler-Ross salienta que a morte é u m tema evitado,


ignorado por nossa sociedade adoradora da juventude e
orientada para o progresso .

É quase como se a considerássemos apenas mais uma


enfermidade nova a ser debelada

(ANGERAMI-CAMON, 2010)
A SOCIEDADE E O PACIENTE TERMINAL

Humanizar as condições de vida do paciente terminal é,


acima de tudo , buscar uma congruência maior em todo o
seio da sociedade , harmonizando a vida e a morte de
maneira indissolúvel.

(ANGERAMI-CAMON, 2010)
O STAFF E O CONTEXTO HOSPITALAR DIANTE
DO PACIENTE TERMINAL

Os hospitais são instituições comprometidas com o processo de


cura , e os pacientes à berira da morte são uma ameaça a essa
função

O morrer é um a ameaça às funções desses profissionais e cria


sentimentos de impropriedade, incompatíveis com suas funções
definidas - de pessoas que efetivamente podem lidar com
doenças.

O paciente é marginalizado, passando a carregar o estigma de


moribundo , alguém desprovido de sentido existencial

Sua existência ganha significação na doença e o todo existencial


passa a ser apenas e tão somente a doença e suas implicações.

(ANGERAMI-CAMON, 2010)
O STAFF E O CONTEXTO HOSPITALAR DIANTE
DO PACIENTE TERMINAL

O staff hospitalar acredita que, não oferecendo a cura ao


paciente, não poderá lhe oferecer nada mais .

Trabalhador da saúde tenta proteger-se contra o risco da falha


profissional - a morte .

Evita lidar com manifestações emocionais do paciente: medo ,


fantasias e ansiedades em relação ao seu tempo de vida

(ANGERAMI-CAMON, 2010)
O STAFF E O CONTEXTO HOSPITALAR DIANTE
DO PACIENTE TERMINAL

Paciente “adequado” X Paciente “rebelde”

“quando o paciente deseja morrer , não suportando mais


fisicamente, esse profissional inconformado intensifica o
tratamento e irrita-se quando ele se recusa a alguma mudança
terapêutica, pois essa recusa significa , de maneira muito clara ,
que o paciente está apenas e tão somente manifestando o desejo
de rendição, o que em última instância significa desejar o ‘alívio
de morrer’”

(ANGERAMI-CAMON, 2010)
O STAFF E O CONTEXTO HOSPITALAR DIANTE
DO PACIENTE TERMINAL

“É necessário que cada profissional envolvido nessa


problemática tome consciência de sua atuação com
esse tipo de paciente, pois de nada adiantará uma
real sensibilidade na comunidade da verdadeira e
desoladora problemática da doença degenerativa, se
no ambiente hospitalar esse paciente continuar a
sofrer toda a intensidade da rejeição social de que
se reveste a problemática”

(ANGERAMI-CAMON, 2010)
DIFICULDADES DO PROFISSIONAL DE SAÚDE

Glaser e Strauss (1961 apud KOVÁCS, 2008) – Relação


paciente-equipe de saúde: consciência fechada e
fingimento mútuo
DIFICULDADES DO PROFISSIONAL DE SAÚDE

Principais dificuldades enfrentadas por


profissionais de saúde ao lidar com pacientes
terminais:

como falar com pacientes sobre o


agravamento da doença e a possibilidade da
morte?

como realizar os procedimentos usuais em


pacientes sem prognóstico de cura?

sensação de impotência que estas


situações provocam.
(KÓVACS, 2008)
ALGUNS DADOS RELACIONADOS COM A
VIVÊNCIA DO PACIENTE TERMINAL

O contato e a dimensão do expressionismo corporal como


alternativa ao definhamento corpóreo progressivo do paciente -
cada vez menos capaz de falar

Mesmo quando o paciente consegue expressar-se verbalmente , o


relato sempre vem acompanhado de um forte expressionismo
corporal

O olhar - “o mais puro dos expressionismos” e transmissor dos


verdadeiros sentimentos daquele momento desesperador

A relação com o paciente terminal tem de ser entendida e


abordada de forma própria - “leito de morte”, medicação, dor e
“implicações emocionais do definhamento corpóreo”
(ANGERAMI-CAMON, 2010)
IMPLICAÇÕES PARA O TERAPEUTA

Atuação exige do terapeuta que este tenha muito claro e de


forma assumida determinados questionamentos e valores em
relação à morte e ao ato de morrer

O contato com o paciente terminal questiona, de maneira


profunda e crucial , muito valores da essência humana.

“Tudo passa a ser questionado por outra ótica, e muitas coisas


tidas com o verdadeiras e absolutas passam a ser consideradas
sem a menor importância e outros fenômenos, tido s com o
muito pouco significativos, tornam-se verdadeiramente
significativos, ocupando de forma globalizante o sentido
existencial, de tal forma que se transformam na essência e no
sentido da própria vida”

(ANGERAMI-CAMON, 2010)
APROXIMAÇÃO DA MORTE: CUIDADO A
PACIENTES NO FIM DA VIDA

Sobre a morte e o morrer (KÜBLER-ROSS,1987) - cuidado a


pacientes gravemente enfermos, destacando a
importância da escuta de suas necessidades e seu
sofrimento.

NEGAÇÃO RAIVA BARGANHA DEPRESSÃO ACEITAÇÃO


REFERÊNCIAS

ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto. Pacientes terminais: um


breve esboço. In: ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto et al.
Psicologia hospitalar: teoria e prática. 2 e. São Paulo: Cengage
Learning, 2010.
ARIÈS, P. História da morte no Ocidente (S. V. Siqueira, Trad.).
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. (Original publicado em 1975)
KOVACS, Maria Julia. Desenvolvimento da Tanatologia: estudos
sobre a morte e o morrer. Paidéia (Ribeirão Preto), Ribeirão Preto
, v. 18, n. 41, p. 457-468, Dec. 2008.
KÜBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer (T. L. Kipnis, Trad.)
São Paulo: Martins Fontes, 1987. (Original publicado em 1969).
TORRES, Wilma da Costa. A Bioética e a psicologia da saúde:
reflexões sobre questões de vida e morte. Psicol. Reflex. Crit.,
Porto Alegre , v. 16, n. 3, p. 475-482, 2003 .

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