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Medicalização: o que é e suas consequências

Ana Carolina Duanetto

Letícia Resende Pires

Liandra Ribeiro Silveira

Ligia Malta Castro Moreira

Luan Neves de Melo Couto

Lucas Gabriel Martins

Marcos Paulo Cássio

Descrição do tema

O tema abordado nesse trabalho será sobre a morte no contexto contemporâneo e sua
relação com as novas tecnologias aplicadas na Medicina. Para discutir isso, deve-se
compreender, primeiramente, como o processo de morrer foi, de acordo com as evoluções
tecnológicas, alterado ao longo da história. Nessa análise, nota-se a formação de distintas
formas de morrer em cada período histórico: o morrer tradicional, o morrer moderno e o morrer
contemporâneo.

Nessa análise, o morrer moderno- que surgiu em um contexto de grande evolução da


tecnologia médica, a qual foi beneficiada com os desenvolvimentos informacionais adquiridos
após as Guerras Mundiais- foi caracterizado por uma prática médica racionalizada e
institucionalizada, na qual a morte é considerada um fracasso médico e deve ser prevenida a
qualquer custo, mesmo que isso comprometa a dignidade e bem-estar do enfermo. Isso difere,
drasticamente da forma anterior de lidar com a morte, o morrer tradicional, que ocorria de
forma natural e apresentava intervenção médica menos invasiva.

Desse modo, na atualidade, há um grande impasse para definir a forma ideal de morrer
e como as novas tecnologias médicas podem interferir, positiva ou negativamente, nesse
processo. Assim, entra em discussão maneira de utilizar a novas tecnologias no processo final
da vida do enfermo sem que sua integridade emocional e psicológica seja comprometida, como
ocorria no modelo moderno.

Tendo esses pontos em vista, a partir do entendimento sobre a alteração histórica da


Medicina e da conduta médica e sobre o contexto sociocultural do enfermo, esse trabalho busca
analisar o dilema acerca da forma ideal de tratar o paciente em seu leito de morte.

Questões discutidas

Durante a discussão em grupo, após análise e reflexão individual sobre a temática,


sugiram os seguintes questionamentos que procuramos esclarecer:

- No contexto atual, qual seria a melhor conduta para o paciente no leito de morte? Seguir os
pontos da “morte natural” ou buscar associá-la as tecnologias atuais de forma equilibrada?

- Qual o papel dos familiares e dos amigos do paciente no processo do morrer? Como os
preparar para esse momento?

- Como a medicalização social afeta o indivíduo?

Resumo do artigo

O artigo “Tecnologia e ‘Morte Natural’: O Morrer na Contemporaneidade” apresenta


uma pesquisa científica para tese de doutorado acerca dos conceitos de “morrer bem”, da
“morte natural” e da utilização de tecnologias médicas desenvolvidas por diversos atores
sociais ao longo do tempo histórico no processo de morrer.
A princípio, a obra retrata a evolução do processo de medicalização como parâmetro
singular nas variadas representações do morrer na cronologia atual. Desse modo, com o
surgimento, na década de 1960, da produção analítica e crítica nas Ciências Sociais, há a
compreensão da medicalização associada à ordem contínua de progresso tecno-científico,
através de novidades em várias áreas de pesquisa, como os métodos diagnósticos e terapêuticos,
a indústria farmacêutica e os equipamentos médicos.
Assim, o texto expõe a medicalização social relacionada à interferência crescente da
medicina na rotina particular dos indivíduos, bem como a concepção de novos sentidos de
ideias de vida e de processos essenciais na contemporaneidade, como a morte e a saúde.
Concomitantemente a isso, na sociedade ocidental moderna, o conceito de medicalização social
está completamente acoplado ao corpo, símbolo da individualização do sujeito, representando
a identidade pessoal.
Em paralelo a essa conjuntura, de acordo com Foucault, o encadeamento da
medicalização social teve origem no século XIX, com um aprofundamento na sua preparação
a partir do século XX, com o aparecimento das diversas tecnologias vinculadas à medicina.
Sob esse contexto, variadas tecnologias foram criadas para suprir as necessidades geradas pelas
duas Guerras Mundiais, com a transição de um pensamento normatizador dos massacres em
massa para uma visão racionalizadora da prática médica. Além disso, durante o século XX,
muitos recursos direcionados à perpetuação da vida foram produzidos, a exemplo dos
desfibriladores e dos respiradores artificiais e, também, as unidades hospitalares se realocaram
com a fundação de setores específicos de atendimento, com aparelhagem moderna e altamente
especializada.
Desse modo, através do uso das tecnologias médicas para a preservação da vida, a
imagem que se tinha da morte foi completamente alterada: a perspectiva tradicional, de um
esqueleto segurando uma foice, no século XX, pela figura de um sujeito internado em uma área
hospitalar cercado por aparelhos, sendo o modelo da chamada “morte moderna”. Tal
representação da morte considera o indivíduo completamente medicado, sendo entregue à
competência do médico responsável pelo doente terminal. Em contraposição a essa
representação, ainda no século XX, há o surgimento do termo “morte contemporânea”,
correlacionado a movimentos de defesa dos direitos dos doentes e da humanização das práticas
de cuidados servidos a essas pessoas, com a preponderância de estudos em torno da
regulamentação de uma morte segura com respeitabilidade.

Em paralelo a esse tema, nos Estados Unidos e na Inglaterra, nas décadas de 1970 e
1980, houve despontantes movimentos que se posicionaram contrários ao desamparo do
sistema de saúde nacional com relação aos doentes do país. Além disso, aparece nesse mesmo
período a preocupação com o desenvolvimento da mentalidade acerca dos cuidados paliativos,
como uma resposta à negligência dos profissionais da saúde com grande parte dos pacientes,
alterando essa percepção para um tratamento voltado à minimização da dor e sofrimento por
parte dos enfermos, em adição ao amparo mental e emocional de seus familiares.
De tal maneira, com o aprimoramento dessas representações sociais no mundo
contemporâneo, em um editorial do noticiário inglês “British Medical Journal” há o
desdobramento de princípios da “boa morte”, vinculada à autonomia dos pacientes em torno
do conhecimento de toda a sua situação real de vida e aos direitos desses em receber todo o
suporte espiritual e mental e apoio médico, caso seja necessário. Ademais, na Inglaterra, em
1991, há o surgimento da instituição educacional “Natural Death Center”, com o evidente
objetivo de divulgar o emergente conceito de “morte natural”. Assim, em 1993, esse centro
educacional veiculou o livro “The Natural Death Handbook”, que disserta acerca da
importância do pensamento voltado à humanização da morte, com o conceito de “morrer bem”,
a exemplo do movimento pelo parto natural, evidenciando a necessidade do aprimoramento de
técnicas associadas à redução da ansiedade diante da morte.

Portanto, a demanda pela coexistência entre a tecnologia médica e o processo de


humanização da morte representa uma alternativa a modificação do ponto de vista acerca do
ideal de morrer na contemporaneidade, com a aplicação da ciência médica para o retardo da
morte e usufruto de recursos terapêuticos.

Interpretação do conteúdo

A partir do artigo “Tecnologia e “morte natural”: o morrer na contemporaneidade” em


conjunto com os estudos e reflexões individuais dos participantes do grupo, observa-se que
pouco se discute acerca da morte e, para o paciente em fase terminal e seus familiares, esse
momento torna-se angustiante. Assim, o grupo concluiu que é necessário repensar a forma
como lidamos com a morte.

Além disso, foi analisado que a atitude médica em relação à morte do paciente precisa
ser desenvolvida. Segundo a psiquiatra Elisabeth Kubler - Ross em sua obra "sobre a morte e
o morrer", a ansiedade vivida pelos médicos impede que os profissionais sejam diretos e
descubram o quanto esses pacientes precisam, na verdade, dividir essa dor com outros seres
humanos ao invés de simplesmente ignorá-la. Ademais, tal negação e afastamento contribui
para o desenvolvimento de transtorno emocionais nos profissionais, que se angustiam ao viver
em uma realidade na qual eles se cobram atos milagrosos de cura.
Nesse sentido, evidencia-se que é necessário naturalizar a finitude da vida e a forma de
lidar com isso. Assim, é notória a importância do enfrentamento da morte como parte do ciclo
natural da vida, tanto para o bem-estar do paciente quanto para o da família. Dessa maneira, a
preparação para a morte e para o luto é crucial para esse momento ocorrer de forma saudável.

Portanto, notou-se, após as reflexões com o grupo, que a forma ideal para o tratamento
do paciente seria incluir, de maneira harmônica, a tecnologia no tratamento humanizado, não
excluindo nenhum dos pontos. Sendo assim, a integridade física, psicológica e emocional do
paciente terminal deve ser prioridade no tratamento final.

Referências

CORRÊA, Marilena Villela. Novas tecnologias reprodutivas. Limites da biologia ou


biologia sem limites? Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2001.
FOUCAULT, Michel. O Nascimento da Clínica. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1994.

MENEZES, Rachel Aisengart. Difíceis decisões: uma abordagem antropológica da


prática médica em CTI. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Instituto de Medicina
Social/UERJ, 2000.

ARIÈS, Philippe. Essais sur l’histoire de la mort en Occident, du Moyen Âge à nos
jours. Paris: Éd. du Seuil, 1975.

CARMEL, Sara. “Life-sustaining treatments: what doctors do, what they want for
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HERZLICH, Claudine. Os Encargos da Morte. Rio de Janeiro: UERJ/IMS, 1993.

ALBERY, Nicholas & WIENRICH, Stephanie (ed.). The New Natural Death
Handbook. London: Rider, 2000.

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