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Plano de atividades para a graduação e para a pós-graduação

Candidato: Silvio de Azevedo Soares

Plano de atividades apresentado como requisito para


inscrição no concurso público de Títulos e Provas
para provimento de 01 (um) cargo de Professor
Assistente, com titulação mínima de Doutor, em
Regime de Dedicação Integral à Docência e à
Pesquisa – RDIDP, sob o regime jurídico efetivo, na
área de conhecimento Sociologia (7.02.00.00-9),
junto ao Departamento de Sociologia e Antropologia
da Faculdade de Filosofia e Ciências do Câmpus de
Marília (EDITAL Nº 291/2023-FFC/CM).
Sumário

Introdução ......................................................................................................................... 02
1. Trajetória Acadêmico-Profissional: um breve esboço reflexivo......................................... 03
2. Inserção Acadêmica ....................................................................................................... 08
2.1 Linhas de pesquisa e ensino do Departamento de Sociologia e Antropologia ......... 08
2.2 Ensino (Graduação e Pós-Graduação) ................................................................ 10
2.3 Pesquisa ........................................................................................................... 22
2.4 Extensão........................................................................................................... .23
Introdução

Neste texto apresento o plano de atividades para graduação e pós-graduação referente a


um ano letivo (conforme item 4.1.4 do Edital n° 291/2023-FFC/CM). Trago também minhas
potenciais contribuições acadêmicas e institucionais ao Departamento de Sociologia e
Antropologia (DSA) da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) do Câmpus de Marília,
descritas em quatro tópicos (que, em conjunto, visam contemplar atividades de ensino, pesquisa
e extensão):
a) inserção e aportes às linhas de pesquisa do DSA (com as perspectivas de temas de
orientação);
b) docência (possíveis ofertas de disciplinas para graduação e pós-graduação);
c) projeto de pesquisa que pretendo desenvolver;
d) ações de extensão universitária;
Esta proposta de atividades foi redigida nos últimos vinte dias que antecederam o prazo
final para inscrição neste concurso – “no tempo roubado ao sono, arrancado ao regime do
cotidiano”1 –, motivada pela possibilidade da realização de um sonho: a docência no ensino
superior público. Cabe destacar que as atividades planejadas neste documento são passíveis de
alterações futuras, contingente às demandas e às necessidades institucionais do DSA (dentre as
quais, o exercício de funções administrativas em órgãos colegiados, conselhos e comissões
internas, atividade que me coloco também à disposição do departamento, em caso de admissão).
Antes de descrever brevemente cada um dos tópicos acima mencionados, trago um
breve esboço reflexivo sobre minha trajetória, na qual se assentam as raízes das possíveis
contribuições acadêmicas e institucionais que, em eventual aprovação neste concurso, posso
oferecer ao DSA.

1
NEGRI, Antonio. A anomalia selvagem: poder e resistência em Spinoza. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993, p. 29.
2
1. Trajetória Acadêmico-Profissional: um breve esboço reflexivo.

Minha formação inicial foi em Ciências Sociais (licenciatura e bacharelado) pela própria
FFC entre 2004 e 2009. Em parte desse período, atuei profissionalmente, primeiro (2006-2008),
como Agente Comunitário de Saúde e, em seguida (2009-2011), na função de Gestor Municipal
do Sistema Único de Saúde (SUS) – ambos os cargos em minha cidade natal. Estimulado por
essas experiências profissionais e sob orientação do professor Dr. José Geraldo Alberto
Bertoncini Poker, em meu trabalho de conclusão de curso abordei o movimento da Reforma
Sanitária no Brasil. Por meio de um modesto exercício de revisão bibliográfica, meu interesse
era reconstituir os processos histórico-sociais do que veio a ser denominado Reforma Sanitária,
identificando os diferentes atores (professores universitários, estudantes, profissionais de saúde,
sindicalistas e movimentos populares de bairro) que, na década de 1970, pautavam a saúde
como direito universal e dever do Estado (o que foi, ao menos em termos legais, alcançado com
a Constituição Federal de 1988).
Durante a atuação na gestão municipal do SUS realizei, em 2009 e 2010, uma
especialização (de 360 horas) em Gestão da Clínica nas Redes de Atenção à Saúde pelo Instituto
Sírio-Libânes de Ensino e Pesquisa em parceria com o Ministério da Saúde. Ao fim desta
formação, elaborei uma síntese reflexiva, baseada na noção marxista de práxis, sobre os desafios
na oferta de serviços de atenção básica à saúde (com destaque para os obstáculos cotidianos
então vivenciados como a fragmentação do trabalho de cuidado em saúde e a tradicional
abordagem médico-centrada focada exclusivamente nos aspectos biológicos do processo social
de saúde-doença).
Em 2012, com a aprovação em um concurso, comecei a atuar como professor de
Sociologia no ensino médio da rede estadual de São Paulo. A partir da satisfação nessa
experiência docente, passei a acalentar o desejo de realizar uma pós-graduação em Ciências
Sociais com o objetivo de, futuramente, lecionar no ensino superior. Em busca de um tema de
pesquisa e em um exercício de imaginação sociológica próximo ao proposto por Wright Mills2,
retomei novamente as minhas experiências profissionais na gestão da saúde pública de uma
pequena cidade do interior paulista: considerava intrigante a quantidade de psicofármacos
distribuídos e a alta demanda por consultas psiquiátricas. Ainda em 2012, comecei a ler algumas
produções da literatura sociológica sobre a psiquiatria contemporânea e suas tecnologias.
Alcancei, dessa forma, o debate sobre a medicalização do social: noção que vem sendo utilizada

2
MILLS, C. Wright. A Imaginação Sociológica. Rio de Janeiro, Zahar, 1975, pp. 11-12.
3
nas Ciências Sociais a partir da década de 1970 para descrever os processos de avanço da
medicina moderna sobre distintos âmbitos da sociedade ocidental, até então não patologizados
como a família, a educação, o trabalho, o meio urbano, o crime.
A partir de 2013 passei a frequentar, neste Câmpus, o Grupo de Estudos em Segurança
Pública (GESP) capitaneado pelo professor Dr. Luís Antônio Francisco de Souza, docente que
já conhecia de duas disciplinas na graduação e que se tornaria meu orientador na pós-graduação.
O objetivo inicial em participar do GESP era embrenhar-me de maneira mais rigorosa nos
trabalhos de Michel Foucault a fim de utilizá-los em minha proposta de investigação (continuo
participando do GESP de forma regular e assídua até hoje e, desde 2019, atuo como coordenador
científico e executivo do grupo, conduzindo as discussões dos encontros e planejando os
programas de leituras).
No final de 2015 fui aprovado para o mestrado em Ciências Sociais no Programa de Pós
Graduação desta Unesp com um projeto que visava descrever, sob a perspectiva foucaultiana
de biopoder, as singularidades político-subjetivas da psiquiatria nos processos contemporâneos
de medicalização do social. A partir de fevereiro de 2016, vinculo-me ao Grupo de Pesquisa
CPNQ “Observatório de Segurança Pública da Unesp”. Também em 2016, nasceram meus
filhos, os gêmeos Felipe e Lívia Maria. Em 2018, na banca de qualificação do mestrado houve
a sugestão para a passagem ao doutorado direto. Como dizem aqui no interior paulista, “cavalo
arreado não passa duas vezes”, aceitei essa indicação.
No relatório submetido à banca de qualificação do mestrado, discorri sobre três aspectos
do tema por mim circunscrito:
a) uma problematização genealógica da medicina e da psiquiatria francesas do século
XIX enquanto estratégias disciplinares e biopolíticas a partir de uma revisão bibliográfica dos
ditos e escritos de Foucault (essa discussão foi publicada como capítulo de livro em uma
coletânea de trabalhos escolhidos dentre os apresentados no IX Seminário Nacional de
Sociologia e Política organizado pela Universidade Federal do Paraná, UFPR, em 20183);
b) uma reflexão sobre a especificidade da noção biológica de raça na psiquiatria
brasileira entre o final do século XIX e início do século XX (período de introdução da
psiquiatria no Brasil): ao submeter sujeitos por seus traços físicos e fenotípicos nas tramas dos
hospícios, o poder-saber psiquiátrico – amparado nos discursos do alienismo, do organicismo e
da degenerescência – configuraria uma nova estratégia de segregação do negro no contexto

3
SOARES, Silvio. Medicalização do social e dispositivo psiquiátrico nos ditos e escritos genealógicos de Foucault:
instrumento disciplinar e estratégia biopolítica. In: BEGA, Maria; PESSOA, Kauê. (Org.). Desenvolvimento e
Justiça Social - Perspectivas da Sociologia no Século XXI. Jundiaí: Paco Editorial, 2019, pp. 31-54.
4
pós-abolição da escravatura, em diapasão próximo ao que Foucault denominou de racismo
interno contra os considerados ameaças ao patrimônio biológico da própria sociedade 4 (essa
análise foi publicada como artigo também em 20185);
c) abordando ainda a psiquiatria brasileira entre fins do século XIX e princípios do XX,
tematizei a produção de mortes no interior das práticas asilares utilizando, além da perspectiva
foucaultiana de biopoder, as contribuições teóricas de Giorgio Agamben (em especial, a noção
de homo sacer)6: visava examinar como, a partir da politização daquilo denominado por
Agamben de vida nua pelos discursos e práticas psiquiátricas, se produziram mortes (não
somente pelo assassinato direto, mas também através da exposição aos riscos de morte);
enquanto referentes negativos do biopoder, sujeitos das classes populares urbanas, mulheres
cujas práticas sexuais destoavam dos parâmetros conjugal e reprodutivo, prostitutas,
homossexuais, radicais políticos como os anarquistas converteram-se – em razão da intervenção
psiquiátrica – em sujeitos matáveis, próximos à condição de homo sacer (apresentei essa análise
no XXXI Congresso da Asociación Latinoamericana de Sociología, ALAS, em Montevidéu no
final de 2018 e retomei essa reflexão com meu então orientador numa publicação em 2019 7).
Com a passagem ao doutorado direto, interessava-me agora deter-me nas
especificidades político-subjetivas presentes nas tecnologias psiquiátricas contemporâneas (em
especial, em torno dos psicofármacos). Numa perspectiva de diagnóstico do presente tal como
delineada por Foucault8, meus esforços se concentraram em descrever as novas interfaces de
controle e normalização das condutas presentes na prescrição e uso de psicofármacos. Dessa
forma, procurei retratar uma nova gestão biopolítica das subjetividades e da população, distinta
dos processos de medicalização do social do final do século XIX e início do XX – que abordei
na qualificação do mestrado – no qual a psiquiatria, como um dispositivo institucional de poder-
saber foi convocada para dar respostas a comportamentos antissociais específicos (como a
criminalidade, as denominadas perversões sexuais, a loucura, a indisciplina).
Na tese, procurei demonstrar como os psicofármacos – enquanto uma tecnologia
micropolítica psiquiátrica que atua em céu aberto (característica dos mecanismos de poder das

4
FOUCAULT, Michel. Em Defesa da Sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins
Fontes, 1999.
5
SOARES, Silvio. Raça e psiquiatria: uma análise genealógica da questão racial na psiquiatria brasileira. Século
XXI - Revista de Ciências Sociais, v. 7, pp. 252-283, 2018.
6
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua I. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2010.
7
SOARES, Silvio; SOUZA, Luís. Dispositivo psiquiátrico e produção de sujeitos matáveis no Brasil entre fins do
século XIX e início do XX. Revista Dilemas IFCS-UFRJ, v. 12, pp. 605-626, 2019.
8
ARTIÈRES, Philippe. Dizer a atualidade: o trabalho de diagnóstico em Michel Foucault. In: GROS, Frédéric
(Org.). Foucault: a coragem da verdade. São Paulo: Parábola Editorial, 2004, pp. 15-37.
5
sociedades de controle9) – podem integrar uma estratégia neoliberal de governo das condutas,
em nome da recuperação, manutenção ou potencialização do capital humano de cada indivíduo,
tomado agora como “empresário de si mesmo”10. Nessa convergência entre os imperativos
neoliberais de otimização do desempenho, a crescente psiquiatrização de comportamentos
através da criação de novos diagnósticos de transtornos mentais e o aumento expressivo do
consumo de psicofármacos, todos nós – sujeitos “normais” (ou quase) – tornamo-nos
potencialmente transtornados, iminentemente psiquiatrizáveis em razão de qualquer ameaça de
prejuízos em termos de capital humano.
Ao longo dessa nova fase da pesquisa, pude aprofundar e ampliar o referencial analítico
para o estudo apresentado na tese. Além das noções de Foucault que já estava utilizando desde
o ingresso no mestrado, mobilizei – em especial – as elaborações teórico-analíticas
desenvolvidas por Pierre Dardot e Christian Laval sobre subjetividade neoliberal11, a análise de
farmacopoder de Paul Preciado12 e as discussões sobre biopolítica molecular em Nikolas
Rose13. A partir de 2019 comecei a elaborar pareceres de artigos para os periódicos Caderno
Brasileiros de Saúde Mental (vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina), Filogênese
(da Graduação em Filosofia deste Câmpus da UNESP) e Ciências Socias Unisinos (da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos).
Resultados parciais da investigação desenvolvida no doutorado foram apresentados em
eventos científicos – no X e no XI Seminário Nacional de Sociologia e Política na UFPR em
2019 e 2020 (nos quais pude debatê-los com o professor Dr. José Miguel Rasia, um dos
principais nomes da Sociologia da Saúde no Brasil) e no 45º Encontro Anual da Associação
Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) em 2021– e publicados
em 202014 e 202115. Em maio de 2021 realizo a defesa da tese, conseguindo uma aprovação

9
DELEUZE, Gilles. Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In: . Conversações. Rio de
Janeiro: Ed. 34, 1992, pp. 209-218.
10
FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica: curso no Collège de France (1978-1979). São Paulo: Martins
Fontes, 2008, p. 311.
11
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A Nova Razão do Mundo: Ensaio sobre a Sociedade Neoliberal. São
Paulo: Editora Boitempo, 2016.
12
PRECIADO, Paul. Texto Junkie: sexo, drogas e biopolítica na era farmacopornográfica. São Paulo: n-1 edições,
2018.
13
ROSE, Nikolas. A política da própria vida: biomedicina, poder e subjetividade no Século XXI. São Paulo:
Paulus, 2013.
14
SOARES, Silvio. Estamira e os frágeis limiares heterotópicos de resistência à psiquiatria enquanto estratégia de
governo biopolítico das diferenças. Plural (São Paulo), v. 27, pp. 256-281, 2020.
15
Id. Além dos muros: uma revisão das pesquisas sociológicas e antropológicas sobre a atual psiquiatria
neurobiológica e extra-asilar. Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais - BIB, v. 2, pp.
1-29, 2021.
6
com distinção e tendo o trabalho indicado para publicação como livro pela banca examinadora
(o que ocorre em 2022 sob o selo “Cultura Acadêmica” da Fundação Editora da UNESP 16).
No decorrer desses anos da Pós-Graduação, continuei lecionando sociologia no Ensino
Médio em 40 horas por semana já que, infelizmente, não contei com bolsa de pesquisa. Em
2016, no primeiro ano da Pós-Graduação, encaminhei solicitação à Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Todavia, não obstante a ótima avaliação do projeto
pelo parecerista, a análise colegiada da Fundação alegou que minha graduação não era recente
e, por isso, meu pedido não foi atendido. Contudo, reconheci posteriormente que os valores de
bolsa de pesquisa – seja pela FAPESP, seja pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES) – não cobririam minhas despesas familiares. Assim, não realizei
novas solicitações. Durante todo esse período, também não descuidei dos cuidados cotidianos
com meus filhos.
No ano letivo de 2022, fui designado como coordenador de agrupamento de escolas,
função na qual acompanhava a coordenação pedagógica de três instituições escolares estaduais
de Ensino Fundamental Anos Finais e de Ensino Médio. Do início de 2023 até o presente, atuo
no cargo designado de vice-diretor na escola em que leciono desde 2012. Guardadas as
especificidades da educação básica, uma das motivações de exercer funções de gestão é adquirir
experiências que poderão ser úteis também nas atribuições de docente no ensino superior
público. A partir do segundo semestre letivo de 2023, passei também a lecionar no ensino
superior privado para o curso de Direito de uma instituição de minha cidade, ministrando as
disciplinas de “Sociologia do Direito” (em que abordo, entre outros itens, os denominados
clássicos da Sociologia – Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber – e suas reflexões sobre o
Direito) e “Antropologia e Direito” (na qual tematizo o pluralismo jurídico por meio das
etnografias clássicas de Bronislaw Malinowski, Radcliffe-Brown, dentre outras).
Enfim, numa síntese de uma linearidade – construída a posteriori – de minha trajetória,
minha produção intelectual nos últimos dez anos tem ocorrido em análises que me permitem
uma interface entre a Sociologia da Saúde, a Sociologia da Violência e uma Sociologia Política
atenta aos efeitos de poder presentes nas tecnologias e relações micropolíticas.

16
SOARES, Silvio. Microquímica do poder: uma análise genealógica dos psicofármacos contemporâneos. São
Paulo: Cultura Acadêmica Digital/Editora UNESP, 2022.
7
2. Inserção Acadêmica

A FFC oferece nove cursos de graduação: Arquivologia, Biblioteconomia, Ciências


Sociais, Filosofia, Pedagogia, Relações Internacionais, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia
Ocupacional. Dentre esses cursos, o DSA é um dos responsáveis pela graduação em Ciências
Sociais (Licenciatura e Bacharelado) e em Relações Internacionais (Bacharelado). O DSA
também oferta disciplinas para as formações em Pedagogia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional
e Fonoaudiologia. Além disso, o departamento é corresponsável pelo curso de Pós-Graduação
em Ciências Sociais, com docentes contribuindo nas quatro linhas de pesquisa do programa
(“Pensamento Social, Educação e Políticas Públicas”, “Cultura, Identidade e Memória”,
“Determinações do Mundo do Trabalho” e “Relações Internacionais e Desenvolvimento”).
Mantém ainda professores colaborando no Mestrado Profissional em Sociologia (associado ao
Programa de Pós-Graduação em Sociologia em Rede Nacional, o ProfSocio).
A partir dessa breve caracterização do DSA, descrevo – na sequência – as contribuições
que posso ofertar em atividades de pesquisa, ensino e extensão (com a possibilidade de minha
inserção no departamento por meio deste concurso).

2.1 Linhas de pesquisa e ensino do Departamento de Sociologia e Antropologia

O DSA possui atualmente 3 grandes linhas de pesquisa e ensino: “Pensamento Social


Brasileiro”, “Teoria e Metodologia das Ciências Sociais” e “Análises do mundo
contemporâneo: perspectivas culturais, sociais e jurídicas”. Essa última linha – que receberá o
docente aprovado neste concurso (conforme item 4.1.4 do referido Edital que rege este certame)
– se caracteriza pela investigação de questões sociais contemporâneas através de distintas
perspectivas teóricas, metodológicas e analíticas. 17
Na linha “Análises do mundo contemporâneo: perspectivas culturais, sociais e
jurídicas”, tenho interesse em aprofundar a pesquisa que desenvolvo desde a passagem ao
doutorado direto, dando continuidade ao estudo dos processos contemporâneos de
medicalização na atual sociedade capitalista. Em termos específicos, minha expectativa seria
pesquisar – no presente contexto pós-pandemia de Covid-19 – as formas de controle,
normalização e produção da vida social neoliberal (no competitivo mundo do trabalho, no

17
Conforme informações disponíveis em: https://www.marilia.unesp.br/#!/departamentos/dsa/linhas-de-pesquisa.
Acesso em 18 de jan. 2024.
8
espaço escolar, na sociabilidade urbana, nos processos de subjetivação) efetivadas por meio das
tecnologias psiquiátricas (em especial, por meio das novas categorias diagnósticas de
transtornos mentais e pelo consumo dos psicofármacos).
Próximo à linha de pesquisa e ensino “Teoria e Metodologia das Ciências Sociais”,
desde 2022 tenho também dirigido minhas leituras – tanto no interior do GESP quanto de forma
autônoma – procurando ressaltar as contribuições teórico-metodológicas da genealogia de
Foucault à Sociologia. Em especial, meu interesse é descrever as aproximações, “afinidades
eletivas” e distanciamentos dos estudos genealógicos de Foucault em relação aos trabalhos
clássicos de Durkheim, Marx e Weber. Até o presente momento, tenho trabalhado nos seguintes
tópicos: a) a similitude entre a perspectiva foucaultiana de problematização dos dispositivos de
poder-saber-sujeição com o premissa sociológica de desnaturalização das relações sociais; b) o
papel distintivo da prisão enquanto mecanismo penal de poder em Durkheim (elemento
repressivo de coesão social) e em Foucault (dimensão positiva de produção de novos saberes e
novas formas de sujeição); c) a presença de um materialismo corpóreo em Foucault em relação
ao materialismo econômico de Marx; d) o caráter agonístico entre as múltiplas relações de poder
em Foucault em contraste com o antagonismo dialético das forças em Marx; e) uma perspectiva
multicausal na explicações dos fenômenos sociais em Foucault e em Weber; f) uma
proveniência religiosa da modernidade verificada em Weber (ética protestante) e em Foucault
(moralização quaker do crime e da prisão como pena). 18
Já em relação à Pós-Graduação em Ciências Sociais, vislumbro me integrar à linha
“Pensamento Social, Educação e Políticas Públicas” (na qual desenvolvi minha tese),
cooperando nos estudos em Sociologia da Violência, ensino de Sociologia e Sociologia da
Infância e da Juventude19. Em virtude de minha experiência de dez anos na docência de
Sociologia no Ensino Médio, intenciono também colaborar com o Mestrado Profissional em
Sociologia (ProfSocio), em especial, em sua linha “Práticas de ensino e conteúdos curriculares”.
Em vista das possíveis inserções nas linhas de pesquisa do DSA e da Pós-Graduação e
de minha trajetória acadêmica, pretendo orientar – a partir dos aportes da Sociologia da Saúde,
da Sociologia da Violência, da Teoria Sociológica e de uma Sociologia crítica das formas de
poder-saber – estudantes de graduação e de pós-graduação interessados em temas e objetos

18
Um primeiro esboço desse projeto de investigação foi aprovado para apresentação no Comitê de Pesquisa em
Teoria Sociológica do 21° Congresso Brasileiro de Sociologia organizado pela Sociedade Brasileira de Sociologia
(SBS) em Belém do Pará em 2023. Contudo, motivos familiares impediram minha participação nesse evento.
19
Conforme descrição da linha de pesquisa disponível em: https://www.marilia.unesp.br/#!/pos-
graduacao/mestrado-e-doutorado/ciencias-sociais/membros-do-conselho/linhas-de-pesquisa/. Acesso em 21 de
jan. 2024.
9
como loucura, sofrimentos psíquicos, reforma psiquiátrica, psiquiatrização do crime e dos
desvios, medicalização da vida escolar, neoliberalismos, biopolíticas, dentre outros. Almejo
também a organização de um grupo de estudos composto por estudantes em diferentes
momentos da vida acadêmica (graduação, mestrado e doutorado) com o objetivo de: a) nos
aprofundarmos em leituras dos estudos de Foucault; b) nos constituirmos como uma oficina de
escrita e discussão de textos, artigos e projetos de pesquisa (visando colaborar com os discentes
na busca por bolsas e auxílios em agências de fomentos); c) organização de seminários e eventos
acadêmicos sobre os temas pesquisados (para criação e manutenção de espaços de interlocução
com docentes e discentes da FFC e de outras instituições).
Por fim, na formação de jovens pesquisadores, pretendo também participar de bancas de
defesa de Trabalho de Conclusão de Curso (atividade na qual me envolvo desde 2018 avaliando
trabalhos sobre políticas de saúde mental, discursos transfóbicos e racistas no meio digital,
psiquiatrização da infância, movimentos culturais urbanos, epistemologia queer, dentre outros
assuntos) e de qualificação e de defesa de Mestrado e Doutorado (em temas afins à produção
intelectual que desenvolvo).

2.2 Ensino (Graduação e Pós-Graduação)

Este plano de atividades compreende a oferta de disciplinas de graduação e pós-


graduação em Sociologia, área de conhecimento objeto deste concurso. Minha expectativa é
oferecer dois componentes curriculares por semestre letivo, dentre os apresentados em seguida.
A primeira disciplina ministrada seria “Introdução à Sociologia”, ofertada ao 1° ano
da graduação em Ciências Sociais, com duração de um ano (120 horas) e carga semanal de 4
horas.20 Conforme o atual Projeto Político Pedagógico do Curso de Ciências Sociais, sua ementa
é assim descrita: “abordagem da formação da Sociologia e de seu aparato conceitual, enfocando
as condições históricas da constituição e consolidação do capitalismo e da sociedade industrial,
com ênfase na análise da contribuição do positivismo e do funcionalismo, de sua disseminação
e de suas variantes, cabendo uma referência ao Brasil”. 21 Dentre as possíveis formas de
desenvolver essa ementa, vislumbro o seguinte programa de ensino, numa proposta de leitura e

20
Projeto Político Pedagógico do Curso De Ciências Sociais Modalidades: Bacharelado e Licenciatura, Faculdade
de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2018, p. 22. Disponível em:
https://www.marilia.unesp.br/Home/Graduacao/CienciasSociais/projeto_politico_pedagogico-2018.pdf. Acesso
em 21 jan. 2024.
21
Op. cit., p. 40.
10
discussão com cuidado e mais vagar (por se tratar de alunos iniciando o curso), além da realização
regular de exercícios sobre a leitura para aferir e apoiar a compreensão dos textos:
Aula 1: Apresentação do programa, da metodologia de ensino e das formas de
avaliação. Introdução à Sociologia.
GIDDENS, Anthony. O que é Sociologia? In: . Sociologia. Porto Alegre: Artmed,
2012, pp. 17-37.
Aula 2: O contexto de surgimento da Sociologia.
CHARTIER, Roger. Descristianização e Secularização. In: . Origens culturais da
Revolução Francesa. São Paulo: Editora UNESP, 2009, pp. 147-237.
Filme: O Nome da Rosa (Direção: Jean-Jacques Annaud, Canadá, 1985).
Aula 3: O contexto de surgimento da Sociologia (cont.).
GAY, Peter. Esforços para uma definição; Arquitetos e mártires das mudanças. In: .
A experiência burguesa: da rainha Vitória a Freud. A educação dos sentidos. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989, pp. 23-57.
HOBSBAWM, Eric. Os trabalhadores pobres; A ideologia secular. In: . A era das
revoluções (1789-1848). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996, pp. 221-237, pp. 255-274.
Filme: Tempos Modernos (Direção: Charles Chaplin, EUA,1928)
Aula 4: Sociologia e Modernidade.
BERMAN, Marshall. Introdução: Modernidade – Ontem, Hoje e Amanhã. In: .
Tudo o que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das
Letras, 1987, pp. 13-35.
IANNI, Octavio. A sociologia e o mundo moderno. Tempo Social, v.1, n. 1, pp. 07- 27, 1989.
Aula 5: A emergência da Sociologia: Comte.
MORAES FILHO, Evaristo. Introdução. In: (Org.). Augusto Comte: Sociologia.
São Paulo: Ática, 1978 (Col. Grandes Cientistas Sociais), pp. 7-51.
ELIAS, Norbert. A sociologia: as questões postas por Comte. In: . Introdução à
sociologia. Lisboa: Edições 70, 1970, pp. 35-52
Aula 6: Filosofia Positivista de Comte.
COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Positivista. In: GIANOTTI, José (Org.). Os pensadores
– Comte. São Paulo, Abril Cultural, 1978, pp. 03-20.
MARCUSE, Herbert. A filosofia positiva da sociedade: Auguste Comte. In: .
Razão e revolução: Hegel e o advento da teoria social. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, pp.
309-325.

11
Aula 7: Sociologia Positivista de Comte.
ARON, Raymond. Auguste Comte. In: . As etapas do pensamento sociológico. São
Paulo: Martins Fontes, 1999, pp. 65-124.
Aula 8: Sociologia Positivista de Comte (cont.).
COMTE, Auguste. Sociologia – Conceitos gerais e surgimento. In: MORAES FILHO, Evaristo
(Org.). Augusto Comte: Sociologia. São Paulo: Ática, 1978 (Col. Grandes Cientistas Sociais),
pp. 53-72.
Aula 9: Sociologia Positivista de Comte (cont.).
COMTE, Auguste. Metodologia das Ciências Sociais. In: MORAES FILHO, Evaristo (Org.).
Augusto Comte: Sociologia. São Paulo: Ática, 1978 (Col. Grandes Cientistas Sociais), pp. 73-
103.
Aula 10: Catecismo Positivista.
COMTE, Auguste. Catecismo Positivista. In: GIANOTTI, José (Org.). Os pensadores – Comte.
São Paulo, Abril Cultural, 1978, pp. 139-154.
Aula 11: A institucionalização da Sociologia: Durkheim.
ORTIZ, Renato. Durkheim: arquiteto e herói fundador. Revista Brasileira de Ciências Sociais,
v. 4, n. 11, 1989, pp. 5-22.
MUCCHIELLI, Laurent, O nascimento da sociologia na universidade francesa (1880-1914).
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 21, n. 41, 2001, pp. 35-54.
Aula 12: A Sociologia de Durkheim.
RODRIGUES, José. A Sociologia de Durkheim (introdução). In: (Org.). Émile
Durkheim: Sociologia. São Paulo: Ática, 1978 (Col. Grandes Cientistas Sociais), pp. 7-38.
ARON, Raymond. Émile Durkheim. In: . As etapas do pensamento sociológico.
São Paulo: Martins Fontes, 1999, pp. 287-324.
Aula 13: As regras do método sociológico.
DURKHEIM, Émile. O que é um fato social; Regras relativas à observação dos fatos sociais.
In: . As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2014, pp. 1-48.
Aula 14: As regras do método sociológico (cont.).
DURKHEIM, Émile. Regras relativas à distinção entre normal e patológico; Regras relativas à
constituição dos tipos sociais. In: . As regras do método sociológico. São Paulo:
Martins Fontes, 2014, pp. 49-90.
Aula 15: As regras do método sociológico (cont.).

12
DURKHEIM, Émile. Regras relativas à explicação dos fatos sociais; Regras relativas à
administração da prova; Conclusão. In: . As regras do método sociológico. São
Paulo: Martins Fontes, 2014, pp. 91-152.
Aula 16: A divisão do trabalho social.
DURKHEIM, Émile. Introdução; Método para determinar essa função. In: . Da
divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999, pp. 1-37.
Aula 17: A divisão do trabalho social: solidariedade mecânica.
DURKHEIM, Émile. Solidariedade mecânica ou por similitudes. In: . Da divisão
do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999, pp.39-83.
Filme: A Balada de Narayama (Direção: Shohei Imamura, Japão, 1983).
Aula 18: A divisão do trabalho social: solidariedade orgânica.
DURKHEIM, Émile. A solidariedade devida à divisão do trabalho ou orgânica. In:
. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999, pp.85-109.
Aula 19: A divisão do trabalho social: solidariedade orgânica (cont.).
DURKHEIM, Émile. Preponderância progressiva da solidariedade orgânica e suas
consequências. In: . Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes,
1999, pp. 127-184.
Aula 20: A divisão do trabalho social: a divisão anômica.
DURKHEIM, Émile. A divisão do trabalho anômica; A divisão do trabalho forçada. In:
. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 1999, pp. 367-408.
Filme: O corte (Direção: Costa-Gravas, Bélgica-França-Espanha, 2005).
Aula 21: O suicídio.
DURKHEIM, Émile. Prefácio; Introdução; Método para determina-los. In: . O
Suicídio. São Paulo: Martins Fontes, 2011, pp. 1-26, pp. 165-176.
Aula 22: O suicídio egoísta.
DURKHEIM, Émile. O suicídio egoísta. In: . O Suicídio. São Paulo: Martins
Fontes, 2011, pp. 177-204.
Aula 23: O suicídio egoísta (cont.).
DURKHEIM, Émile. O suicídio egoísta (continuação). In: . O Suicídio. São Paulo:
Martins Fontes, 2011, pp. 205-268.
Aula 24: O suicídio altruísta.
DURKHEIM, Émile. O suicídio altruísta. In: . O Suicídio. São Paulo: Martins
Fontes, 2011, pp. 270-302.

13
Aula 25: O suicídio anômico.
DURKHEIM, Émile. O suicídio anômico. In: . O Suicídio. São Paulo: Martins
Fontes, 2011, pp. 303-353.
Aula 26: As formas elementares da vida religiosa.
DURKHEIM, Émile. Sociologia da religião e teoria do conhecimento. In: RODRIGUES, José
(Org.). Émile Durkheim: Sociologia. São Paulo: Ática, 1978 (Col. Grandes Cientistas Sociais),
pp. 147-160.
Aula 27: As formas elementares da vida religiosa (cont.).
DURKHEIM, Émile. Sociedade como fonte do pensamento lógico. In: RODRIGUES, José
(Org.). Émile Durkheim: Sociologia. São Paulo: Ática, 1978 (Col. Grandes Cientistas Sociais),
pp. 166-182.
Aula 28: Durkheim e a sociologia brasileira.
OLIVEIRA, Márcio de. Émile Durkheim e a Sociologia Brasileira. In: MASSELLA,
Alexandre (Org.). Durkheim: 150 anos. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2009, pp. 231-257.
FERNANDES, Heloísa. Dispositivo de moralização laica e sintoma social dominante (Um
estudo da educação moral em Émile Durkheim). Tempo Social, v. 2, n. 2, pp. 165–186, 1990.
Aula 29: Durkheim e a contemporaneidade.
FERNANDES, Heloísa. Um século à espera de regras. Tempo Social, v. 8, n. 1, pp. 71-83,
1996.
PAIS, José. Das regras do método, aos métodos desregrados. Tempo Social, v. 8, n. 1, pp. 85-
111, 1996.
ESTABLET, Roger. A Atualidade de O Suicídio. In: MASSELLA, Alexandre (Org.).
Durkheim: 150 anos. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2009, pp. 119-129.
Aula 30: Encerramento da disciplina.
Também no primeiro semestre do ano letivo, pretendo ofertar a disciplina semestral
“Fundamentos da sociologia”, disponível para o 2° ano da graduação em Ciências Sociais,
contando com 60 horas de carga teórica desenvolvidas em 4 horas por semana22. Sua ementa é
caracterizada pela “análise da crítica social do capitalismo e da teoria das classes sociais
emersas do seu processo de conformação, com particular ênfase na contribuição do
materialismo histórico”23. Para desenvolver essa ementa, proporia o seguinte plano de leituras:

22
Op. cit., p. 23.
23
Op. cit., p. 40.
14
Aula 1: Apresentação do programa, da metodologia de ensino e das formas de
avaliação.
Filme: O jovem Karl Marx (Direção: Raoul Peck, França,-Alemanha- Bélgica, 2017).
Aula 2: Introdução à Sociologia de Marx.
ARON, Raymond. Karl Marx. In: . As etapas do pensamento sociológico. São
Paulo: Martins Fontes, 1999, pp. 125-193.
IANNI, Octavio. Introdução. In: (Org.). Karl Marx: Sociologia. São Paulo: Ática,
1980 (Col. Grandes Cientistas Sociais), pp. 7-42.
Aula 3: A dialética idealista de Hegel e o materialismo de Feuerbach.
MARCUSE, Herbert. Os fundamentos da filosofia de Hegel. In: . Razão e
revolução: Hegel e o advento da teoria social. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978, pp. 17-40.
ENGELS, Friedrich. Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã. Germinal:
marxismo e educação em debate, v. 4, n. 2, pp. 131–166, 2013.
Aula 4: Capitalismo e os despossuídos.
ALTHUSSER, Louis. Sobre o jovem Marx. In: . Por Marx. Campinas: Ed.
Unicamp, 2015, pp. 39-70.
BENSAÏD, Daniel. Os despossuídos: Karl Marx, os ladrões de madeira e o direito dos pobres.
In: MARX, Karl. Os despossuídos. São Paulo: Boitempo, 2017, pp. 12-72.
Aula 5: As críticas de Marx a Hegel.
MARX, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel – Introdução. In: . Crítica da
filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2010, pp. 145-157.
MÉSZÁROS, István. A relação entre Marx e Hegel. In: . Filosofia, ideologia e
ciência social. São Paulo; Boitempo, 2008, pp. 108-117.
Aula 6: Capitalismo e trabalho estranhado.
MARX, Karl. Trabalho estranhado e propriedade privada; Propriedade privada e comunismo.
In: . Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, pp. 79-90, pp.
103-114.
Aula 7: Ideologia e modos de produção.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Prefácio; Feuerbach – Oposição entre a concepção
materialista e a idealista. In: . A Ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1998,
pp. 3-4, pp. 5-96.
Aula 8: Ideologia e modos de produção (cont.).

15
MARX, Karl. Infraestrutura e superestrutura. In: IANNI, Octavio (Org.). Karl Marx:
Sociologia. São Paulo: Ática, 1980 (Col. Grandes Cientistas Sociais), pp. 82-96.
Aula 9: Classes sociais e luta de classes.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2005, pp. 39-
69.
COGGIOLA, Osvaldo. Introdução. In: MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto
Comunista. São Paulo: Boitempo, 2005, pp. 9-36.
Aula 10: Estado e luta de classes.
MARX, Karl. Classes sociais e bonapartismo. In: IANNI, Octavio (Org.). Karl Marx:
Sociologia. São Paulo: Ática, 1980 (Col. Grandes Cientistas Sociais), pp. 110-124.
MARCUSE, Herbert. Prólogo. In: MARX, Karl. O 18 Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo:
Boitempo, 2011, pp. 9-16.
Aula 11: Mercadoria e Fetiche.
MARX, Karl. A mercadoria. In: . O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2001, pp. 55-105.
GRESPAN, Jorge. Crítica da economia política, por Karl Marx. In: NETTO, José Paulo (Org.).
Curso livre Marx-Engels. São Paulo: Boitempo, 2015, pp. 139-162.
Aula 12: Exploração do trabalho e mais-valia.
MARX, Karl. Processo de trabalho e processo de produzir mais valia; A jornada de trabalho.
In: . O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, pp. 209-231; 267-358.
Aula 13: Exploração do trabalho e mais-valia (cont.).
MARX, Karl. Conceito de mais-valia relativa. In: . O Capital. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001, pp. 361-372.
HARVEY, David. O mais valor relativo. In: HARVEY, David. Para entender O Capital. São
Paulo: Boitempo, 2013, pp. 118-134.
Filme: A classe operária vai ao paraíso (Direção: Elio Petri, Itália, 1971).
Aula 14: A maquinária capitalista.
MARX, Karl. A maquinaria e a indústria moderna. In: . O Capital. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001, pp. 425-571.
Aula 15: Encerramento da disciplina.
Já no segundo semestre, gostaria de oferecer “Sociologia da Educação” para o curso
de Ciências Sociais. Essa disciplina semestral é apresentada pelo Projeto Político Pedagógico
do curso como obrigatória para formação específica na licenciatura em Ciências Sociais no
segundo semestre do 2° ano25 (com 60 horas de carga teórica em 4 horas de aulas semanais e
16
com 45 horas de carga de prática como componente curricular – desenvolvida por meio de uma
análise sociopolítica da escola26). A ementa desse componente curricular é definida pelo
“enfoque das condições sociais do processo educativo por meio da análise e da contribuição
dos autores clássicos e contemporâneos da Sociologia, assim como das tendências da Escola
diante da conjuntura sociopolítica”27. Na sequência, apresento um possível programa de leituras
para concretização dessa ementa:
Aula 1: Apresentação do programa, da metodologia de ensino e das formas de
avaliação. A “invenção” da escola.
ARIÈS, Philippe. A vida escolástica. In: . História social da criança e da família.
Rio de Janeiro: Guanabara, 1986, pp.165-194.
Aula 2: Durkheim e a educação.
DURKHEIM, Émile. A Educação, sua natureza e seu papel. In: . Educação e
Sociologia. Petrópolis: Vozes, 2011, pp. 43-73.
. O ensino da moral na escola primária. Novos estudos Cebrap, n. 78, pp. 59-75,
2007.
RODRIGUES, Alberto. Sociedade, educação e vida moral. In: . Sociologia da
educação. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011, pp. 17-29.
Aula 3: Marx, Engels e a educação.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Sistema de ensino e divisão do trabalho; Educação,
formação e trabalho. In: . Textos sobre Educação e Ensino. São Paulo: Centauro,
2004, pp. 23-51.
RODRIGUES, Alberto. Sociedade, educação e emancipação. In: . Sociologia da
educação. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011, pp. 31-49.
Aula 4: Weber e a educação.
WEBER, Max. Burocracia. In: . Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: LTC
Editora, 1982, pp. 229- 282.
RODRIGUES, Alberto. Sociedade, educação e desencantamento. In: . Sociologia
da educação. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011, pp. 51-69.

24
Op. cit., p. 26.
25
Op. cit., p. 28.
26
Op. cit., p. 32.
27
Op. cit., p. 41.

17
Aula 5: Mannheim e a educação.
MANNHEIM, Karl. “Planificação democrática” e educação. In: PEREIRA, Luiz; FORACCHI,
Marialice (Org.). Educação e Sociedade: Leituras de sociologia da educação. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1969, pp. 343-356.
RODRIGUES, Alberto. Mannheim e a luz no fim do túnel. In: . Sociologia da
educação. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011, pp. 80-84.
Aula 6: Gramsci e a educação.
GRAMSCI, Antonio. Observações sobre a escola: para a investigação do princípio educativo.
In: . Cadernos do Cárcere (Vol. 2). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001,
pp. 42-53.
RODRIGUES, Alberto. Gramsci e a reforma intelectual e moral. In: . Sociologia
da educação. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011, pp. 75-80.
Aula 7: Adorno e a educação.
ADORNO, Theodor. Educação após Auschwitz; Educação – para quê?; A educação contra a
barbárie; Educação e Emancipação. In: . Educação e Emancipação. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1995, pp. 119-185.
Aula 8: Illich e a educação.
ILLICH, Ivan. Por que devemos desinstalar a escola. In: . Sociedade sem Escolas.
Petrópolis: Editora Vozes, 1985, pp. 21-56.
Aula 9: Althusser e a educação.
ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado (Notas para uma
investigação). In: ZIZEK, Slavoj (Org.). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto,
1996, pp. 105-142.
FOFANO, Débora; RECH, Hildemar. Ideologia e educação na perspectiva de Louis Althusser.
Educação em Revista, v. 37, pp. 01-18, 2021.
Aula 10: Foucault e a educação.
FOUCAULT, Michel. Os corpos dóceis. In: . Vigiar e punir: nascimento da prisão.
Petrópolis: Vozes, 1987, pp. 117-142.
GALLO, Sílvio. Repensar a educação: Foucault. Educação e Realidade, v. 29, n. 1, pp. 1-19,
2004.
Aula 11: Bourdieu, Passeron e a educação.

18
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. Capital cultural e comunicação pedagógica.
In: . A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1992, pp. 79-118.
. A escolha dos eleitos. In: . Os herdeiros: os estudantes e a cultura.
Florianópolis: Editora UFSC, 2014, p. 15-45.
RODRIGUES, Alberto. Bourdieu e os esquemas reprodutores. In: . Sociologia da
educação. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011, pp. 71-75.
Aula 12: Neoliberalismo e a educação.
LAVAL, Christian. Introdução; Novo capitalismo e educação; Do conhecimento como fator de
produção; A nova linguagem da escola. In: . A escola não é uma empresa: o
neoliberalismo em ataque ao ensino público. São Paulo: Boitempo, 2019, pp. 15-25, pp. 29-86.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A grande virada. In: . A nova razão do
mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Editora Boitempo, 2016, pp.189-244.
Aula 13: Feminismo e a educação.
hooks, bell. Políticas feministas: em que ponto estamos; Educação feminista para uma
consciência crítica. In: . O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras.
Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2018, pp. 17-22; pp. 34-39.
Aula 14: Racismo e a educação.
hooks, bell. Conversa sobre raça e racismo. In: . Ensinando Comunidade: uma
pedagogia da esperança. São Paulo: Elefante, 2021. pp. 46-60.
CARVALHO, Marília. Quem são os meninos que fracassam na escola? Cadernos de Pesquisa,
v. 34, n. 121, pp. 11-40, 2004.
Aula 15: Encerramento da disciplina.
Por fim, ainda no segundo semestre, poderia também elaborar e ofertar a disciplina
“Diagnósticos do presente: Biopolíticas e Neoliberalismos” para a pós-graduação em
Ciências Sociais, com a seguinte ementa: “estudo sobre diferentes diagnósticos dos fenômenos
sócio-políticos contemporâneos, com destaque especial para as análises críticas que buscam
articular as conceituações de biopolíticas e neoliberalismos”. Com algumas adaptações, essa
disciplina poderia ainda ser ofertada em “Sociologia Contemporânea”, componente de 60
horas de carga teórica da formação específica do bacharelado na área de Sociologia no 4° ano28
e que objetiva, como ementa, a “análise da produção teórica mais recente da Sociologia na

28
Op. cit., p. 26.
19
sua originalidade e diálogo com autores clássicos, com uma referência ao Brasil”29. Para essa
disciplina na pós-graduação, desenvolveria o plano de leituras abaixo:
Aula 1: Apresentação do programa, da metodologia de ensino e das formas de
avaliação.
Filme: O capital (Direção: Costa-Gravas, França, 2012).
Aula 2: Foucault e biopolítica.
FOUCAULT, Michel. Aula de 17 de março de 1976. In: . Em Defesa da Sociedade:
curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins Fontes, 1999, pp. 285-315.
. Direito de Morte e Poder Sobre a Vida. In: . História da Sexualidade:
a vontade de saber (Vol. 1). Rio de Janeiro: Edições Graal, 1985, pp. 145-174.
. Aula de 18 de janeiro de 1978. In: . Segurança, território, população:
curso no Collège de France (1977-1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008, pp. 39-72.
Aula 3: Foucault e neoliberalismo.
FOUCAULT, Michel. Aula de 14 de março de 1979; Aula de 21 de março de 1979. In:
. Nascimento da Biopolítica: curso no Collège de France (1978-1979). São Paulo:
Martins Fontes, 2008, pp. 297-364.
Aula 4: Deleuze e as sociedades de controle.
DELEUZE, Gilles. Controle e Devir; Post-scriptum sobre as sociedades de controle. In:
. Conversações, Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992, pp. 209-226.
TÓTORA, Silvana. Democracia e sociedade de controle. Verve (PUC-SP), v. 10, pp. 237-260,
2006.
Aula 5: Biopolítica e Tanatopolítica.
AGAMBEN, Giorgio. Introdução; A politização da vida; Os Direitos do Homem e a biopolítica;
O campo como nómos do moderno. In: . Homo sacer. O poder soberano e a vida
nua I. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2004, pp. 09-19, pp. 116-122, pp. 123-131, pp. 162-
175.
Aula 6: Biopolítica e Necropolítica.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. Biopoder, soberania, estado de exceção e política da morte.
São Paulo: n-1 edições, 2018.
. O devir-negro do mundo. In: . Crítica da razão negra. São Paulo: n-
1 edições, 2019, pp. 11-23.
ALMEIDA, Silvio. Necropolítica e Neoliberalismo. Caderno CRH, v. 34, pp. 01-10, 2021.

29
Op. cit., p. 40.
20
Aula 7: Uma genealogia do Neoliberalismo.
CHAMAYOU, Grégoire. Introdução; Indisciplinas operárias; Insegurança social; Crise de
governabilidade das democracias. In: . A sociedade ingovernável: Uma genealogia
do liberalismo autoritário. São Paulo: Ubu Editora, 2020, pp. 21-28, pp. 31-38, pp. 49-58, pp.
307-320.
Aula 8: Neoliberalismo, racionalidade de governo e subjetividades.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A fábrica do sujeito neoliberal. In: . A nova
razão do mundo. Ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016, pp. 321-376.
DARDOT, Pierre et al. As estratégias de guerra civil do neoliberalismo; Governar contra as
populações. In: . A escolha da guerra civil. Uma outra história do neoliberalismo.
São Paulo: Elefante, 2021, pp. 22-41, pp. 244-261.
Aula 9: Neoliberalismo, cidadania sacrificial e a democracia em ruínas.
BROWN, Wendy. Introdução; A sociedade deve ser desmantelada. In: . Nas ruínas
do neoliberalismo. A ascensão da política antidemocrática no ocidente. São Paulo: Politéia,
2019, pp. 09-32, pp. 33-66.
. Cidadania Sacrificial: Neoliberalismo, capital humano e políticas de austeridade.
Rio de Janeiro: Zazie edições, 2018.
Aula 10: Neoliberalismo e governo pela dívida.
LAZZARATO, Maurizzio. Léxico introdutório; A universidade americana – modelo da
sociedade da dívida; Crítica da governamentalidade III: quem governa quem, o que é como? In:
. O governo do homem endividado. São Paulo: n-1 edições, 2017, pp. 09-23,
pp. 57-85, pp. 165-197.
Aula 11: Biopolítica, Neoliberalismo e os fins do sono.
CRARY, Jonathan. 24/7: capitalismo tardio e os fins do sono. São Paulo: Ubu editora, 2016.
Aula 12: Neoliberalismo e guerras
ALLIEZ, Éric; LAZZARATO, Maurizio. Introdução – Aos nossos inimigos; O executivo como
dispositivo “político-militar”; A realização da máquina de guerra do Capital; As guerras no seio
das populações. In: . Guerras e Capital. São Paulo: Ubu Editora. 2021, pp. 11-34,
pp. 320-363.
LAZZARATO, Maurizzio. Introdução – Tempos apocalípticos; De Pinochet a Bolsonaro – ida
e volta; A financeirização dos pobres: da governamentalidade lulista ao confronto neofascista.
In: . Fascismo ou revolução? O neoliberalismo em chave estratégica. São Paulo:
n-1 edições, 2019, pp. 09-17, pp. 20-37.

21
Aula 13: Brasil: um laboratório bio-necropolítico.
FRANCO, Fábio. Introdução - Abram algumas valas; Brasil: um laboratório
necrogovernamental. In: . Governar os mortos: necropolíticas, desaparecimentos e
subjetividade. São Paulo: Ubu, 2021, pp. 17-26, pp. 73-96.
BARBOSA, Jonnefer. Sociedades do desaparecimento. São Paulo: n-1edições, 2020.
Aula 14: Habitando um mundo disfórico.
PRECIADO, Paul. Dysphoria mon amour; Heroína eletrônica. In: . Dysphoria
mundi: O som do mundo desmoronando. Rio de Janeiro: Zahar, 2023, pp. 13-36, pp. 65-76.
Aula 15: Encerramento da disciplina.
Na execução dessas disciplinas, lançaria mão de estratégias didáticas variadas, como:
aula teórica expositiva e dialogada, construção de mapa de conceitos-ideias, discussão de obras
fílmicas, atividades em rotação por estações de aprendizagem, atividades de instrução por pares
e seminários. Dentre as possíveis formas de avaliação – numa perspectiva processual de
acompanhar a aprendizagem dos discentes ao longo do semestre –, empregaria atividades de
compreensão de leitura (como fichamentos e resenhas), apresentações orais, participação nas
dinâmicas da sala, debates dirigidos, diários de bordo, portifólios, propostas de elaboração de
papers, atividades de pesquisa e avaliações dissertativas.
Por último, ressalto que as atividades de docência aqui planejadas estão sujeitas a
alterações, de acordo com as necessidades do DSA e das demandas que possam se colocar.

2.3 Pesquisa

No projeto de pesquisa (Seremos todos anormais? Uma análise genealógica da


psiquiatria no contexto contemporâneo de medicalização do social) apresentado na inscrição
deste concurso pretendo – como ilustrado anteriormente no item 2.1 deste plano – dar
continuidade à investigação que realizei no doutorado. De maneira específica, meu interesse de
pesquisa reside na análise sociológica das repercussões político-subjetivas intrínsecas à
aplicação das atuais categorias diagnósticas de transtornos mentais e à utilização
contemporânea de psicofármacos. Em especial, minha expectativa é abordar o atual contexto
pós-pandemia de Covid-19 – a crise sanitária global que eclode em março de 2020 que,
vinculada à crise econômico-social decorrente e à crise ambiental-climática já manifestada,
torna a beira do abismo em que estamos mais visível: “o que estava debaixo de nosso nariz, mas
não enxergávamos, apareceu à luz do dia – uma catástrofe não só sanitária, social, política e

22
ambiental, mas civilizacional”30. A hipótese preliminar é que com a pandemia de Covid-19, em
que obviamente se agravaram os sofrimentos psíquicos (manifestos em diagnósticos de
ansiedade, depressão, burnout, dentre outros), se intensifica o papel biopolítico da psiquiatria na
produção e manutenção de atributos de capital humano no acirrado contexto neoliberal de
competitividade, flexibilidade e riscos.
Em momento oportuno, após articulação com discentes e colegas pesquisadores,
submeteria a proposta também a agências de fomento (em especial, nas modalidades oferecidas
pelo CNPQ e pela FAPESP). Pretendo ainda, em breve, dar continuidade à investigação
(também mencionada anteriormente) a respeito dos possíveis aportes analíticos da genealogia
de Foucault à Sociologia (que venho intitulado provisoriamente como Por uma sociologia
foucaultiana: contribuições teórico-metodológicas da genealogia de Michel Foucault à
Sociologia).

2.4 Extensão

Considerando os três pilares fundamentais da carreira acadêmica nas universidades


brasileiras (a docência, a pesquisa e a extensão), vivenciamos um contexto em que as atividades
de extensão, cada vez mais, ganham importância institucional no trabalho docente. Nesse
sentido, além das discussões em curso a respeito da curricularização da extensão e dos projetos
já desenvolvidos pelo DSA, vislumbro que a realização de um podcast possa se constituir como
uma contribuição inicial enquanto atividade de extensão.
Dessa forma, no plano de extensão que apresentei para inscrição neste concurso,
pretendo produzir um podcast (que denominei como Vozes das margens), no qual planejo
abordar temas da sociabilidade urbana por meio de entrevistas com sujeitos e grupos sociais
marginalizados que vivem, trabalham e circulam pelos espaços urbanos (como coletores de
recicláveis, vendedores ambulantes, populações em situações de rua, trabalhadores diários
precarizados, ocupantes sem-teto, profissionais do sexo, artistas de rua etc.). Dentre os
objetivos, o interesse principal do projeto de extensão é propiciar a difusão e circulação dos
discursos dos sujeitos urbanos das margens (do Estado31, da razão32, das próprias cidades33,

30
PELBART, Peter Pál. Pandemia crítica: Inverno 2020. São Paulo: Edições Sesc; n-1 edições, 2021, p. 14.
31
DAS, Veena; POOLE, Deborah. El Estado y sus márgenes. Etnografías comparadas. Revista Académica de
Relaciones Internacionales, n. 8, 2008, pp. 1-39.
32
FOUCAULT, Michel. História da loucura: na Idade clássica. São Paulo: Perspectiva, 2012.
33
TELLES, Vera. Transitando na linha de sombra, tecendo as tramas da cidade (anotações inconclusas de uma
pesquisa). In: OLIVEIRA, Francisco; RIZEK, Cibele (Orgs.). A era da indeterminação. São Paulo: Boitempo,
2007, pp. 195-218.
23
e de outros limiares) com o propósito de intervir para a mitigação dos preconceitos e
discriminações contra esses grupos. Numa perspectiva inspirada em Foucault, trata-se de
resgatar os fragmentos dos “saberes sujeitados”: “série de saberes que estavam desqualificados
como saberes não conceituais, como saberes insuficientemente elaborados (...), saberes
hierarquicamente inferiores, saberes abaixo do nível do conhecimento ou da cientificidade
requeridos (...) o ‘saber das pessoas’ (...), um saber particular, um saber local, regional”34. Dessa
forma, não se trata de, por meio do podcast, falar pelos sujeitos urbanos marginalizados, mas
ser um instrumento de enunciação e circulação de seus enunciados. Por este projeto almeja-se
ainda instrumentalizar os alunos em relação aos métodos qualitativos de pesquisa (como
observação participante, história de vida, história oral, entrevistas etc.).

34
FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). São Paulo: Martins
Fontes, 1999, p. 12.
24

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