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Carolina Silva

Enfermagem e processo de vida II – Prof. Luís Sá


Pensamento
Pensamento: constitui-se a partir de elementos sensoriais (imagens preceptivas e
representações). O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal e
orientar-se segundo a realidade e os princípios de racionalidade da cultura na qual o indivíduo se
insere.
Elementos intelectivos do pensamento:
Conceitos: formam-se a partir das representações; não apresentam elementos sensoriais, não é
possível senti-los ou imaginá-los. Exprimem-se apenas os caracteres mais gerais dos objetos e dos
fenómenos.
Juízos: afirmação de uma relação entre dois conceitos. Por exemplo, ao tomar-se os conceitos
“cadeira” e “utilidade” (ou seja, qualidade de ser útil), pode-se formular o seguinte juízo: a cadeira é
útil.
Raciocínio: modo especial de ligação entre conceitos, de sequência de juízos, de encadeamento
de conhecimentos.
Alterações dos conceitos
Desintegração dos conceitos: conceitos sofrem um processo de perda do seu significado original,
uma mesma palavra passa a ter significados cada vez mais diversos (esquizofrenia, síndromes
demenciais).
Condensação dos conceitos: o paciente involuntariamente condensa várias ideias num único
conceito, que se expressa por uma nova palavra (neologismo).
Alterações dos juízos
Juízo deficiente ou prejudicado: juízo falso que se estabelece porque a elaboração dos juízos é
prejudicada por deficiência intelectual e pobreza cognitiva. Às vezes, é difícil diferenciar um juízo
deficiente de um delírio. Juízo de realidade ou delírio
Tipos Alterados de Pensamento
Pensamento mágico: fere frontalmente os princípios da lógica formal, segue os desígnios dos
desejos, das fantasias e dos temores, adequando a realidade ao pensamento, e não o contrário
(crianças, transtornos esquizotípico, histriónico, borderline e narcisista, quadros obsessivo-
compulsivos, esquizofrenia).
Pensamento dereístico: um tipo de pensamento que se opõe marcadamente ao pensamento
realista, só obedece à lógica e à realidade naquilo que interessa ao desejo do indivíduo, distorcendo
a realidade para que esta se adapte aos seus anseios (esquizotípica, histriónica, borderline, narcisista,
esquizofrenia, histeria).
Pensamento concreto ou concretismo: não consegue entender ou utilizar metáforas, faltam
aspetos do desenvolvimento do pensamento, como a ironia, o subentendido, o duplo sentido
(dementes, esquizofrênicos).
Pensamento inibido: inibição do raciocínio, com diminuição da velocidade e do número de
conceitos, juízos e representações (demências e depressão grave).
Pensamento vago: pensamento muito ambíguo, falta de clareza e precisão no raciocínio (sinais
iniciais da esquizofrenia, demências iniciais, transtornos de personalidades).
Pensamento prolixo: não consegue chegar a qualquer conclusão sobre o tema de que está
tratando, senão após muito tempo e esforço (transtornos de personalidades, deficientes mentais
limítrofes, início de esquizofrenia, neuróticos graves).
Pensamento deficitário (ou oligofrênico): tende ao raciocínio concreto; os conceitos são escassos
e utilizados em sentido mais literal que abstrato ou metafórico. Extensa memorização mecânica =
ilhotas de memória (deficientes mentais, autistas).
Pensamento demencial: pensamento com empobrecimento desigual; em certos pontos, o
pensamento demencial pode revelar elaborações mais ou menos sofisticadas. Tem dificuldade de
encontrar palavras, usando termos genéricos.
Pensamento confusional: pensamento incoerente; dificuldade em estabelecer vínculos entre
conceitos e juízos devido às alterações de consciência, de atenção e de memória imediata
(síndromes confusionais agudas).
Pensamento desagregado: pensamento radicalmente incoerente, no qual os conceitos e os juízos
não se articulam minimamente; mistura aleatória de palavras (esquizofrenia grave).
Pensamento obsessivo: ideias ou representações que, apesar de terem conteúdo absurdo ou
repulsivo para o indivíduo, se impõem à consciência de modo persistente e incontrolável.
Alterações do Processo de Pensar
Alterações no curso do pensamento:
Aceleração do pensamento: ideia se sucedendo à outra rapidamente (mania, ansiedade,
esquizofrenia).
Lentificação do pensamento: latência entre as perguntas formuladas e as respostas (depressão
grave, baixo nível de consciência).
Bloqueio ou intercetação do pensamento: brusca e repentinamente interrompe seu pensamento,
sem qualquer motivo (exclusiva da esquizofrenia).
Roubo do pensamento: indivíduo tem a nítida sensação de que seu pensamento foi roubado de
sua mente, por algo ou alguém (esquizofrenia).
Alterações na forma do pensamento:
Fuga de ideias: as palavras deixam de seguir uma lógica, passam a ocorrer por assonância, p. ex.,
amor, flor, cor (Quadros maníacos).
Dissociação do pensamento: pensamentos passam progressivamente a não seguir uma
sequencia lógica e bem-organizada (esquizofrenia).
Descarrilhamento do pensamento: extravia-se de seu curso normal, pensamentos supérfluos,
retornando aqui e acolá ao seu curso original (esquizofrenia, transtornos maníacos).
Desagregação do pensamento: radical perda dos enlaces associativos, total perda da coerência do
pensamento (esquizofrenia, demência).
Alterações no conteúdo do pensamento:
Os principais conteúdos que preenchem os sintomas psicopatológicos são: Persecutórios;
depreciativos; religiosos; sexuais; de poder, riqueza, prestígio ou grandeza; de ruína ou culpa;
conteúdos hipocondríacos.
Angústia - Mais visceral; Mais constritiva; Opressão pré-cordial ou epigástrica
Ansiedade - Mais psíquica; Mais livre; Sensação de falta de ar; Sobressalto
Ansiedade estado - traço
Estado – estado emocional transitório ou condição do organismo humano que é caracterizado
por sentimentos desagradáveis de tensão e apreensão, conscientemente percebidos e por
aumento na atividade do sistema nervoso autónomo. Variam em intensidade de acordo com o
perigo percebido e flutuam no tempo.
Traço – diferenças individuais relativamente estáveis na propensão à ansiedade; diferenças na
tendência de reagir a situações percebidas como ameaçadoras com intensificação do estado de
ansiedade. São menos sensíveis a mudanças decorrentes de situações ambientais e permanecem
relativamente constantes no tempo.
Ansiedade
- Normal – existencial, reativa (medo)
- Patológica:
Primária - reativa (reação neurótica e
angústia) - nuclear (perturbação de angustia,
crise de angustia e ansiedade generalizada)
Secundária: depressão, psicose, neurose
obsessiva, doenças orgânicas, etc
Ansiedade antecipatória
Estado emocional que antecipa a ação,
caracterizado por:
- Pessimismo
- Hiperexcitabilidade crónica
- Sentimento de descontrolo
- Resposta de sobressalto exagerada
Preocupação excessiva com situações de pequena gravidade
Perspetivas
- É um mecanismo evolutivo aperfeiçoado para assegurar a sobrevivência
- A hipervigilância da ansiedade reflete a falha em desativar o sistema neuroquímico de alerta,
criando uma sensibilidade especial a eventos ansiogenos
Acontecimentos de vida
- Fatores predisponentes e fatores desencadeantes
- A incidência de um evento tem repercussões em função: – da personalidade – vulnerabilidade
biológica
- Estímulos ou conflitos
- Personalidade estruturada em função genética e life events - organização estável da
personalidade - organização instável da personalidade: dependência, inibição, introversão,
ansiedade social, baixa auto-estima
- Substrato neurovegetativo frágil
Escalas úteis: medindo a ansiedade
- Medição das manifestações fisiológicas da ativação do sistema nervoso autonómico: TA,FC, FR,
resistência elétrica da pele
- Testes psicológicos: testes projetivos (Rorschach), inventário para ansiedade (Taylor´s Manifest
Anxiety Scale; MAS; MMPI; AACL;SSS; etc)
- HADS (hospital anxiety and depression scale), simples, rápida, preenchida pelo doente
- Útil nas avaliações sequenciais
Defesas contra a ansiedade
Mecanismos de defesa: - evitamento - negação - repressão - projecção - regressão e fixação -
somatização - contra-transferência – compulsividade
Mecanismos de coping: o individuo recorre a vários comportamentos para obter alívio
temporário da tensão
Stress – conceito da física

O Stress como resposta


fisiológica
SGA – Sindroma Geral de Adaptação
As variáveis cognitivas como a percepção
não interferiam nem como variáveis
iniciadoras nem como moderadoras de
stress no SGA;
The stress of live (Selye,1956)
Na edição da sua obra The Stress
Concept: Past, Present, and Future em 1983,
Seleye, incluia no seu modelo de stress a
possibilidade de efeito moderador e/ou
potenciador de aspetos cognitivos como a
aprendizagem.
Apesar disso mantinha a premissa teórica básica de que o stress era um fenómeno fisiológico.
Mason, em 1971, refuta a não especificidade das respostas fisiológicas a estimulos nocivos em ratos
e macacos.
O Stress como um estímulo
Pressupostos:
1. As mudanças de vida são normativas e cada mudança resulta nas mesmas exigências de
reajuste para todas as pessoas;
2. A mudança é stressante, independentemente da oportunidade do evento para a pessoa;
3. Há um limite comum de reajuste ou adaptação à exigência a partir do qual a doença
pode emergir.
Durante a década de 1970, centenas de estudos foram realizados sobre a capacidade das
pontuações dos evento de vida para prever a doença, tendo representado não mais de 4% a 6%
da incidência de doenças, com baixos correlações de 0,20-0,30 (Johnson & Sarason, 1979).
Sarason, Johnson, e Siegel (1979) desenvolveram um instrumento de medida diferente, The Life
Experiences Survey (LES), que não só incorporou a visão da pessoa sobre se o evento de vida
era desejável ou indesejável, mas também incorporou o grau de impacto que o evento teve na
vida do indivíduo.
Apesar do facto de que o LES teve correlações com doenças superiores aos estudos realizados
pelos SRRS, eram ainda muito baixos. É plausível que essas correlações foram baixas por se terem
negligenciando outros fatores, como o apoio social, resistência e controlo percebido.
O Stress como Transação
Lazarus, psicólogo social interessado no estudo das questões de personalidade, interessou-se em
estudar as dinâmicas das experiências problemáticas. Desenvolveu e testou a Teoria Transacional
de Stress.
O stress, enquanto conceito tinha enorme valor heurístico e prático mas não mensurável
enquanto fator único: não existiria, per si, no evento vital mas sim como resultado da interação
entre a pessoa e o meio ambiente – o evento (Lazarus, 1966).
A avaliação do significado do stressor bem como a avaliação dos recursos para lidar com (coping
– enfrentamento) contribuíram para a compreensão da origem do desconforto produzido,
incorporando assim, como determinante no processo de stress, a perceção individual sobre o
evento.
Devido aos seus contributos, especialmente após a publicação em 1966 da obra Psychological
Stress and the Coping Process, este modelo tornou-se, enquanto construção interpretativa, de
extrema utilidade em psicologia, psicossomática e Enfermagem – visão integradora das anteriores
construções teóricas e resultados dos estudos sobre o efeito do stress na saúde (Lyon, 2012).
Impulsionou a psicologia cognitiva, enfatizando o importante papel que a avaliação e a
autoavaliação desempenha na forma como a pessoa reage, sente ou se comporta.
O principal mediador das transações pessoa-ambiente é a avaliação cognitiva que se faz sobre o
evento. Lazarus e Folkman (1984) identificaram três tipos de avaliação: primária, secundária e
reavaliação.
A avaliação cognitiva é um processo que determina porque é que dada situação é percebida
como geradora de stress para um determinado indivíduo, e o nível de stress provocado pela
mesma.
A pessoa avalia os possíveis efeitos da exigência e os recursos disponíveis para lidar com a
situação.
Se as exigências superam os recursos disponíveis, então o indivíduo pode determinar que a
situação representa:
1. Um potencial de dano ou perda (ameaça).
2. Se já ocorreu dano real (dano).
3. Se a situação tem potencial para algum tipo de ganho ou benefício (desafio).
A perceção de ameaça provoca a avaliação secundária, que é o processo de determinar que
opções ou comportamentos de coping-enfrentamento estão disponíveis para lidar com uma
ameaça e quão eficaz elas possam ser. Muitas vezes, as avaliações primárias e secundárias
ocorrem simultaneamente e interagem uma com a outra, o que torna muito difícil medição
(Lazarus & Folkman, 1984).
A reavaliação ou avaliação terciária é o processo de avaliar continuamente, alterando ou
reclassificando avaliações anteriores primárias ou secundárias, bem como a evolução da situação.
O que foi inicialmente percebida como uma ameaça pode agora ser visto como um desafio ou
como um evento benigno ou irrelevante. Muitas vezes, a reavaliação resulta na eliminação cognitiva
da ameaça.
Ao contrário dos modelos anteriores (Selye e Rhaes) o modelo transacional inclui explicitamente
os esforços de enfrentamento ou coping e é definido como: “constantly changing cognitive and
behavioral efforts to manage specific external and/or internal demands that are appraised as taxing
or exceeding the resources of the person” (Lazarus & Folkman, 1984, p. 141).
“Constantes mudanças ou esforços cognitivos e comportamentais para gerir as exigências
externas e/ou internas específicas que são avaliadas como custosas ou que excedem os recursos
da pessoa“
Orientado para o processo e não um traço ou resultado. É diferente do comportamento
adaptativo automático.
Envolve a gestão contínua da situação e não propriamente o domínio. Pode ir desde minimizar,
evitar, tolerar ou aceitar uma situação stressante enquanto tentativa de domínio ou controlo do
meio ambiente.
Em 1984, Lazarus e Folkman propõem a existência de dois tipos de estratégias de coping:
1. Coping focalizado no problema.
2. Coping focalizado na emoção.
1. Englobam esforços para definir o problema, ou a forma como se olha para ele, gerar
soluções alternativas, pesar os custos e benefícios das várias ações, tomar medidas para
mudar o que é mutável, e, se necessário, aprender novas habilidades. O foco pode ser
direcionado para fora, para alterar algum aspeto do ambiente ou para dentro, para alterar
algum aspeto da forma como vê o problema, mudando o significado da situação ou
evento, reduzindo o envolvimento do ego, ou reconhecer a existência de recursos
pessoais ou pontos fortes;
2. Incluem esforços como distanciamento, evitamento, atenção seletiva, culpabilização,
minimização, pensamento desejável, em busca de apoio social, exercício e meditação.
“Poderia ter acontecido pior" ou "eu decidi que há coisas mais importantes na vida."
Não mudam diretamente o significado de uma situação stressante. Por exemplo, fazer exercício
vigoroso ou meditar pode ajudar um indivíduo a reavaliar o significado de uma situação, mas não a
muda diretamente. O coping centrado na emoção é a forma mais comum quando os eventos não
são mutáveis.
O Stress como Transição
O conceito de saúde é amplo para abranger as condições físicas (somáticas, incluindo doença e
funcionamento físico), psicológicos (capacidade funcional, cognitiva e moral, incluindo efeitos
positivos e negativos a respeito de como as pessoas se sentem sobre si mesmas e sobre a sua
vida) e sociais (função social).
Propõem três tipos de resultados
adaptativos:
1. Em funcionamento no
trabalho e convívio social.
2. A moral ou satisfação com a
vida.
3. Saúde somática.
Fatores associados às questões
psicossociais no trabalho.
1. Trabalho;
2. Pessoas;
3. Família;
4. Meio ambiente social;
5. Comunidade.
Situações de penosidade
Laposa (2003) listou 5 ocorrências como as mais
stressantes:
1. 1Prestar cuidados a doentes com alguma ligação
(familiar, amizade ou afinidade);
2. Cuidados a vítimas de assalto, agressão ou
violação;
3. Trauma múltiplo com hemorragia massiva e/ou
desmembramento;
4. Morte de crianças;
5. Cuidar de doentes severamente queimados
Terá implicações?
• Que implicações para os profissionais emergem deste contacto próximo e intenso com
situações stressantes?
• Podemos considerar estes eventos como traumáticos para os profissionais?
• E noutros contextos também, com particularidades? – Oncologia, Paliativos, UCI,
Infecciologia, Psiquiatria, Deficiência mental profunda, Toxicodependência, Prisões
Haverá critério para PTSD?
No DSM IV define-se PTSD como um conjunto de sintomas que podem ser desenvolvidos após
a pessoa ter assistido ou estar envolvida num extremo e traumático stressor (Kaplan e Sadock,
1998).
Contactar directamente com um acontecimento que envolva ameaça , morte, ou ferimentos
graves; Testemunhar um acontecimento que envolva morte , ferimentos graves ou ameaças à
integridade física de outra pessoa;
Lidar com violência, morte ou ameaça não esperada. A resposta da pessoa ao acontecimento
deve envolver intenso medo, desesperança (hopelesseness) ou horror (APA, 1994, p. 22)
Respostas individuais
Na pessoa exposta, as respostas variam entre hiperexcitação e evitamento e os sintomas podem
reflectir alternadamente um ou mais padrões (Van der Kolk,1994)
Hiperexcitação - expressa através de: Pesadelos; Pensamentos recorrentes e intrusivos sobre o
evento; Agir ou sentir como se a experiência se repetisse no presente; Flashbacks; Dificuldades de
concentração; Transtornos no ritmo sono e repouso; Hipervigilância, Agressividade lactente e
hipersensibilidade.
O evitamento - manifestado por: Tentativas (ajustadas ou não) para evitar pensamentos e
sentimentos associados com o trauma; Incapacidade para lembrar um importante aspeto do
evento; Incapacidade para demonstrar afeto positivo (distanciamento afetivo, despersonalização);
Desinteresse em atividades que até aí eram agradáveis.
Os sintomas podem perdurar por cerca de 30 dias , na maioria, desaparecem ao fim de alguns
meses. Para outros , as reações persistem, originam alterações no quotidiano e podem tornar-se
crónicas, podendo, em alguns casos, ser diagnosticado PTSD (Van der Kolk & Fisler, 1995).
Morrow (1998) , num estudo com enfermeiros de U&E, expostos a incidentes críticos, verificou
que estes profissionais experimentam os seguintes sintomas: Dificuldades de concentração,
ansiedade e pânico, Confusão e lentificação do pensamento, irritabilidade, Workaholism (fuga em
frente), Hiperactividade, Problemas gastrointestinais, Evitamento em falar do evento, Raiva, Aumento
do uso de álcool e drogas, Problemas
familiares e relacionais, Dores musculares
e cefaleias.
Prolongamento no tempo
• Sobrecarga de trabalho;
• Objetivos irrealistas;
• Sobrecarga de stress;
• Instabilidade emocional;
• Dificuldade em reconhecer o
problema (estratégia da
avestruz) – “Casa de ferreiro
espeto de pau”
Focos de Enfermagem e Instrumentos de Avaliação e
Monitorização da funcionalidade e do bem-estar
Delírio
Pensamento distorcido. O delírio representa uma crença falsa, inabalável, acerca de um determinado
conteúdo, não modificável à luz da evidência exposta e mantida com extraordinária convicção e certeza
subjetiva.
Alucinação
Perceção comprometida: aparente registo de estímulos sensoriais que realmente não estão presentes;
classificam-se, segundo os sentidos, em alucinações auditivas, visuais, olfativas, gustativas ou tácteis.
A Enfermagem de Saúde Mental foca-se na promoção da saúde, na prevenção, no diagnóstico e na
intervenção perante respostas humanas desadaptadas aos processos de transição.
Os diagnósticos de ‘Delírio’ e de ‘Alucinação’ podem despoletar uma destas respostas, levando o indivíduo
a vivenciar uma transição saúde doença, na qual o enfermeiro desempenhará um papel crucial.
Delírio – Instrumentos de Avaliação
• The Psychotic Symptom Rating Scales (PSYRATS);
• Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS);
• Brown Assessment of Beliefs Scale (BABS);
• Maudsley Assessment of Delusions Schedule;
• Scale for Assessment of Positive Symptoms (SAPS);
Alucinação – Instrumentos de Avaliação
• Psychotic Symptom Rating Scale (PSYRATS);
• Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS);
• Beliefs About Voices Questionnaire Revised;
• North-East Visual Hallucinations Interview (NEVHI);
• Characteristics of Auditory Hallucinations Questionnaire (CAHQ);
• Auditory Hallucinations Interview Guide (AHIG) Unpleasant Voices Scale (UVS/0-10);
• The University of Miami Parkinson’s Disease Hallucinations Questionnaire;
• Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS);
• Neuropsychiatric Inventory-Nursing Home Version;
• Auditory Hallucination Assessment Scale.
Comportamento Agressivo
Questionário de Agressividade de Buss-Perry
Existem dados que:
• Conduzem ao diagnóstico;
• Caracterizam o diagnóstico.
Processo de luto
Emoção: Sentimentos de enorme tristeza associados a significativa perda e morte, real ou antecipada;
choque e descrença (Fase de choque); exaustão, cansaço intenso e letargia, angústia mental, reações de
aflição e expressão do luto, choro ou soluços, alarme, descrença, negação, raiva (Fase de reação);
ajustamento, aceitação, reorientação, expressão de sentimentos de perda, aceitação da realidade da perda,
ausência de estresse somático, expressão de expectativas positivas sobre o futuro (Fase de aceitação).
Perturbação de luto complicado persistente
Critérios Propostos:
1. O indivíduo vivenciou a morte de alguém com quem tinha uma relação próxima;
2. Desde a morte, pelo menos um dos seguintes sintomas é experienciado na maior parte dos dias
e num grau clinicamente significativo e persistem, no caso de adultos em luto, por pelo menos 12
meses após a morte (no caso de crianças em luto, por pelo menos seis meses):
a) Saudade persistente do falecido;
b) Mágoa intensa e dor emocional em resposta à morte;
c) Preocupação com o falecido;
d) Preocupação com as circunstâncias da morte.
3. Desde a morte, pelo menos seis dos seguintes sintomas são experienciados na maior parte dos
dias e num grau clinicamente significativo e persistem, no caso de adultos em luto, por pelo
menos 12 meses após a morte (no caso de crianças em luto, por pelo menos seis meses):
a) Mal-estar reativo à morte (Dificuldade marcada em aceitar a morte, experienciar incredulidade ou
entorpecimento emocional relativamente à perda, dificuldade em relembrar positivamente o
falecido, amargura ou raiva relacionadas com a perda, avaliações desadaptativas sobre o próprio
em relação ao falecido e à morte, evitamento excessivo de lembranças de perda);
b) Disrupção social/de identidade (Desejo de morrer de forma a estar com o falecido, dificuldade em
confiar noutros indivíduos desde a morte, sentir que a vida não tem significado ou que é vazia
sem o falecido ou a crença de que não consegue funcionar sem o falecido, confusão acerca do
seu próprio papel na vida ou sentido diminuído da própria identidade, dificuldade ou relutância em
perseguir interesses desde a perda ou em planear o futuro).
4. A perturbação causa mal-estar clinicamente significativo ou défice social, ocupacional ou noutras
áreas importantes do funcionamento;
5. A reação de luto é desproporcional ou inconsistente com as normas culturais, religiosas ou
apropriadas à idade.
Autoimagem
Autoestima
Autoimagem: Opinião sobre si mesmo e visão do próprio valor e capacidades; verbalização de crenças
sobre si mesmo, confiança em si mesmo; verbalização de autoaceitação e autolimitação, desafiando
imagens negativas de si mesmo; aceitação de elogios, encorajamento, assim como de crítica construtiva.
Imagem corporal
Autoimagem: Imagem mental do próprio corpo, no todo ou em parte, ou da própria aparência.
Existe a escala de autoestima de Rosenberg
Autoconceito – Intervenções
. A intervenção de Enfermagem “Avaliar evolução das características do autoconceito” permite o
reconhecimento da evolução da situação.
Executar reestruturação cognitiva
Tendo em consideração que o comprometimento nas dimensões do autoconceito (autoestima e imagem
corporal) tem, frequentemente, na sua base, uma apreciação negativa que o indivíduo realiza acerca de si
mesmo, das suas capacidades ou do seu corpo, a reestruturação cognitiva pode constituir-se como uma
intervenção de relevo face a este diagnóstico de Enfermagem, na medida em que permitirá ajudar a
pessoa a modificar a forma como pensa acerca destas dimensões, de forma a que esta forma de pensar
seja mais congruente com a realidade.
Terapia Cognitivo-Comportamental
Reestruturação Cognitiva
Terapia Comportamental
A terapia comportamental tem por base as teorias comportamentais, cujo pressuposto é: Muitas das
nossas ações explicam-se em termos de comportamentos aprendidos ou condicionamento.
De acordo com estas teorias, existem dois tipos de condicionamento: o condicionamento clássico, no qual
o indivíduo associa, de forma inconsciente, dois estímulos que habitualmente ocorrem em conjunto; e o
condicionamento operante – um comportamento ocorre mais frequentemente se for gratificado (reforço
positivo) e diminui se não o for (reforço negativo) ou se tiver consequências desagradáveis (punição).
Terapia Cognitiva
A terapia cognitiva foi desenvolvida por Aaron Beck, na década de 1960, tendo em vista a resolução de
problemas através da modificação de pensamentos e de comportamentos disfuncionais.
Beck descreveu uma teoria sobre a depressão centrada em aspetos cognitivos, na qual os sintomas se
encontram associados a um perfil negativo do pensamento que engloba três domínios: si mesmo, o mundo
e o futuro. De acordo com a esta teoria, a etiologia das perturbações psicológicas encontra-se na forma
como se conceptualiza a realidade, sendo as desordens emocionais as consequências de pensamentos
desadaptados
O principal pressuposto da terapia cognitiva é o de que o pensamento precede a ação, ou seja, as
cognições (pensamentos, padrões de pensamento e formas de processar a informação) influenciam o
nosso humor e o nosso comportamento.
O objetivo da terapia cognitiva é a correção de formas anormais ou inúteis de pensar, com o objetivo de
melhorar o humor ou de diminuir a ansiedade do cliente. Os principais componentes da terapia cognitiva são:
• O terapeuta obtém uma descrição pormenorizada do problema, prestando especial atenção aos
pensamentos e às interpretações que geraram ou que estão a exacerbar o problema;
• O cliente é ensinado a combater formas negativas e inadequadas de pensar que estão a
perpetuar o problema; O cliente é ensinado a pensar de forma mais adequada;
• As técnicas terapêuticas incluem a educação sobre o papel do pensamento e sobre as suas
consequências, a utilização de diários em que o cliente regista / auto monitoriza os seus
pensamentos, a simulação de acontecimentos durante as sessões. Os clientes são encorajados a
realizar “experiências” para testar as suas crenças e a utilizar formas alternativas de pensar.
• Os clientes aplicam estas técnicas quando os sintomas do problema ocorrem (auto
monitorização)
As estratégias utilizadas na terapia cognitiva objetivam o reconhecimento e a modificação dos
pensamentos automáticos (erros cognitivos) e das estruturas de crenças. Identificaram as seguintes técnicas
de terapia cognitiva:
1. Questionamento socrático;
2. Imagens e desempenho de papéis;
3. Gerar alternativas;
4. Examinar as evidências;
5. Reatribuição;
6. Desconstruir catástrofes (descatastrofizar);
7. Registo diário de pensamentos disfuncionais;
8. Ensaio cognitivo.
Técnicas
Registo de pensamentos disfuncionais – Registo em quadro com os seguintes itens: Pensamento;
Situação; Significado; Emoção; Repercussão; Pensamento alternativo.
Estratégia de auto monitorização / Diários: Registo minucioso das atividades de um dia habitual; registo das
situações em que o pensamento disfuncional ocorre.
Distanciamento: Pedir à pessoa para analisar o pensamento “fora dela”. Exemplo “Se o seu amigo tiver
este pensamento, o que achará dele?”.
Descatastrofizar: Esta técnica é direcionada a clientes que tendem a catastrofizar, ou seja, têm o
pensamento de que existirá uma consequência catastrófica associada à situação, o que não corresponde à
realidade. Salientar que a consequência está apenas no pensamento do cliente, sendo exagerada. Existe uma
descoordenação entre o pensamento e a realidade. O objetivo desta técnica é ajudar o cliente a analisar as
consequências reais.
Terapia Cognitivo-Comportamental
Com a evolução interpretativa das diferentes teorias e da utilidade das psicoterapias, a terapia cognitiva
veio a sofrer uma abordagem mais integrativa, em conjunto com a terapia comportamental.
Na atualidade, a abordagem terapêutica cognitivo-comportamental é a mais consensual, comportando as
duas vertentes (cognitiva e comportamental).
Nesta abordagem, as cognições têm uma influência controladora sobre as emoções e sobre o
comportamento e a forma como nos comportamos pode influenciar o padrão de pensamento e as
emoções.
A Terapia cognitivo-comportamental é um tratamento psicoterapêutico que tem como objetivo ajudar a
pessoa a identificar e a alterar padrões de pensamento destrutivos e disfuncionais que influenciam
negativamente o seu comportamento e as suas emoções.
Sob condições promotoras de stress, alguns indivíduos tornam-se pessimistas e incapazes de resolver os
problemas. A TCC promove um processo de pensamento mais equilibrado e, consequentemente, a
capacidade para lidar com o stress.
Eficácia da TCC em diversas perturbações, de acordo com Harrison e colaboradores (2006):
• Na perturbação depressiva ligeira a moderada, a TCC é pelo menos tão eficaz como os
antidepressivos;
• Na perturbação de pânico e na ansiedade fóbica, a TCC constitui, provavelmente, o tratamento
mais eficaz;
• Existe boa evidência da sua eficácia noutras neuroses, incluindo as perturbações somatoformes e
a perturbação obsessivo-compulsiva;
• A TCC é o tratamento mais eficaz da bulimia nervosa;
• A TCC exerce alguns efeitos nos sintomas psicóticos da esquizofrenia.
A TCC dirigida ao tratamento da esquizofrenia, por exemplo, envolve o estabelecimento de uma relação
terapêutica de colaboração, o desenvolvimento de uma compreensão partilhada do problema, a definição
de objetivos e a educação do cliente sobre técnicas ou estratégias, no sentido de reduzir os sintomas ou de
lidar com eles. Esta terapia é normalmente conduzida em sessões individuais e é limitada no tempo
(geralmente alguns meses).
O objetivo não é curar a esquizofrenia, mas, antes, promover a capacidade da pessoa para funcionar de
forma autónoma, lidar com e gerir os sintomas e reduzir o stress / a angústia associada aos sintomas no dia-
a-dia.
Restruturação Cognitiva
A reestruturação cognitiva é uma técnica importante na psicoterapia em geral e uma das principais
técnicas das terapias cognitivo-comportamentais, centrando-se na identificação de pensamentos disfuncionais
que acompanham e precedem alterações do humor. Esta pretende levar a pessoa a questionar a validade
das suas crenças, desafiando-as e modificando-as.
A sua finalidade assenta no alívio do sofrimento psicológico da pessoa, por meio da alteração do modo
como ela pensa, bem como do modo como interpreta e reflete acerca das suas experiências
Uma das técnicas de intervenção cognitiva mais conhecida e frequentemente utilizada é a reestruturação
cognitiva, derivada da terapia cognitiva de Beck e da terapia racional emotiva de Ellis.
A reestruturação cognitiva visa identificar interpretações negativas e irrealistas de um evento e substituí-
las por interpretações mais realistas. Tem como objetivo levar a pessoa a considerar hipóteses
relativamente ao modo como construiu a sua realidade, analisando os padrões de pensamento que a
levaram a determinadas ideias e crenças disfuncionais.
A reestruturação cognitiva permite desafiar crenças antigas distorcidas e desenvolver novas crenças
racionais saudáveis, ajudando os doentes a avaliar as suas cognições não como factos indiscutíveis, mas
como hipóteses a serem testadas em relação à evidência lógica e experimental.
Indicações Terapêuticas
Pensamentos disfuncionais Erros cognitivos Crenças
Pensamentos que causam um Exemplos: valorizar apenas o Algo em que o cliente acredita
problema de saúde, que causam lado negativo das situações, tirar de forma inabalável, com
disfunção. Visão negativa de conclusões precipitadas e culpa impacto negativo para a sua
mim, do mundo e do outro. inadequada. saúde.
Insight preservado.

Estratégias Imagéticas Estratégias emocionais Estratégias comportamentais


Visam a alteração das imagens Procuram treinar a identificação, Colocam-se em prática as novas
negativas e distorcidas do cliente. a avaliação, a descentralização e formas de pensamento,
a aceitação das diferentes procurando-se um confronto
emoções. progressivo com as situações.

Reestruturação cognitiva como intervenção psicoterapêutica


Procedimento da Reestruturação cognitiva:
1. Sessão 1 – Iniciação
Clarificar o funcionamento das sessões e os objetivos primordiais; concretizar o contrato terapêutico para
o desenvolvimento das sessões; Efetuar a confirmação do diagnóstico de Enfermagem; Proceder ao
resumo da sessão, reforçando os aspetos mais relevantes; Poderá ser proposta a realização de tarefas para
casa, como o uso de diários para a monitorização dos pensamentos disfuncionais; Obter feedback da
pessoa acerca da sessão; Clarificar as dúvidas acerca da sessão; Agendar o próximo contacto.
2. Sessão 2 – Exploração
Realizar um breve resumo da sessão anterior e indicar os objetivos da presente sessão; caso exista,
analisar o “trabalho de casa” realizado, analisando-o e interpretando-o, em colaboração com a pessoa;
explorar os esquemas cognitivos e os pensamentos automáticos da pessoa; Propor a realização de tarefas
para a sessão seguinte, se indicado.
3. Sessão 3 – Compreensão
Realizar um breve resumo da sessão anterior e indicar os objetivos da presente sessão; Caso exista,
analisar o “trabalho de casa” realizado, analisando-o e interpretando-o, em colaboração com a pessoa;
Explicar o que são esquemas cognitivos e pensamentos automáticos negativos; Delimitar, em conjunto com
a pessoa, de forma descritiva e pormenorizada, os esquemas cognitivos e os pensamentos automáticos
concorrentes para o diagnóstico de Enfermagem; Explicar em que consistem as estratégias cognitivas que
visam conduzir à reestruturação do pensamento; Orientar a pessoa para a elaboração de um número
variado de interpretações cognitivas alternativas para cada situação; Propor a realização de tarefas para a
sessão seguinte, se indicado.
4. Sessão 4 – Instrução e Treino
Realizar um breve resumo da sessão anterior e indicar os objetivos da presente sessão; Caso exista,
analisar o “trabalho de casa” realizado, analisando-o e interpretando-o, em colaboração com a pessoa; Apoiar
na modificação de pensamentos e das emoções a partir da utilização das estratégias explicadas na sessão
anterior; Instruir / Treinar a substituição / a modificação de pensamentos negativos / disfuncionais, erros
cognitivos e algumas crenças por pensamentos mais adequados; Encorajar a pessoa a realizar experiências,
de modo a testar os seus pensamentos, as suas emoções e os seus comportamentos relativamente às
alternativas treinadas; Propor a realização de tarefas para casa de auto monitorização (por exemplo, diários
de autoavaliação) e a aplicação das estratégias treinadas na sessão.
5. Sessão 5 – Conclusão
Realizar um breve resumo da sessão anterior e indicar os objetivos da presente sessão; Caso exista,
analisar o “trabalho de casa” realizado, analisando-o e interpretando-o, em colaboração com a pessoa;
Encorajar a pessoa a rever as experiências para testar os seus pensamentos, as suas emoções e os seus
comportamentos relativamente às alternativas treinadas; Propor a manutenção de tarefas de auto
monitorização e de autocorreção dos pensamentos (por exemplo, os diários de autoavaliação) e a aplicação
das estratégias treinadas nas sessões; Identificar as expectativas e estabelecer objetivos futuros com a
pessoa.

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