Pensamento Pensamento: constitui-se a partir de elementos sensoriais (imagens preceptivas e representações). O que caracteriza o pensamento normal é ser regido pela lógica formal e orientar-se segundo a realidade e os princípios de racionalidade da cultura na qual o indivíduo se insere. Elementos intelectivos do pensamento: Conceitos: formam-se a partir das representações; não apresentam elementos sensoriais, não é possível senti-los ou imaginá-los. Exprimem-se apenas os caracteres mais gerais dos objetos e dos fenómenos. Juízos: afirmação de uma relação entre dois conceitos. Por exemplo, ao tomar-se os conceitos “cadeira” e “utilidade” (ou seja, qualidade de ser útil), pode-se formular o seguinte juízo: a cadeira é útil. Raciocínio: modo especial de ligação entre conceitos, de sequência de juízos, de encadeamento de conhecimentos. Alterações dos conceitos Desintegração dos conceitos: conceitos sofrem um processo de perda do seu significado original, uma mesma palavra passa a ter significados cada vez mais diversos (esquizofrenia, síndromes demenciais). Condensação dos conceitos: o paciente involuntariamente condensa várias ideias num único conceito, que se expressa por uma nova palavra (neologismo). Alterações dos juízos Juízo deficiente ou prejudicado: juízo falso que se estabelece porque a elaboração dos juízos é prejudicada por deficiência intelectual e pobreza cognitiva. Às vezes, é difícil diferenciar um juízo deficiente de um delírio. Juízo de realidade ou delírio Tipos Alterados de Pensamento Pensamento mágico: fere frontalmente os princípios da lógica formal, segue os desígnios dos desejos, das fantasias e dos temores, adequando a realidade ao pensamento, e não o contrário (crianças, transtornos esquizotípico, histriónico, borderline e narcisista, quadros obsessivo- compulsivos, esquizofrenia). Pensamento dereístico: um tipo de pensamento que se opõe marcadamente ao pensamento realista, só obedece à lógica e à realidade naquilo que interessa ao desejo do indivíduo, distorcendo a realidade para que esta se adapte aos seus anseios (esquizotípica, histriónica, borderline, narcisista, esquizofrenia, histeria). Pensamento concreto ou concretismo: não consegue entender ou utilizar metáforas, faltam aspetos do desenvolvimento do pensamento, como a ironia, o subentendido, o duplo sentido (dementes, esquizofrênicos). Pensamento inibido: inibição do raciocínio, com diminuição da velocidade e do número de conceitos, juízos e representações (demências e depressão grave). Pensamento vago: pensamento muito ambíguo, falta de clareza e precisão no raciocínio (sinais iniciais da esquizofrenia, demências iniciais, transtornos de personalidades). Pensamento prolixo: não consegue chegar a qualquer conclusão sobre o tema de que está tratando, senão após muito tempo e esforço (transtornos de personalidades, deficientes mentais limítrofes, início de esquizofrenia, neuróticos graves). Pensamento deficitário (ou oligofrênico): tende ao raciocínio concreto; os conceitos são escassos e utilizados em sentido mais literal que abstrato ou metafórico. Extensa memorização mecânica = ilhotas de memória (deficientes mentais, autistas). Pensamento demencial: pensamento com empobrecimento desigual; em certos pontos, o pensamento demencial pode revelar elaborações mais ou menos sofisticadas. Tem dificuldade de encontrar palavras, usando termos genéricos. Pensamento confusional: pensamento incoerente; dificuldade em estabelecer vínculos entre conceitos e juízos devido às alterações de consciência, de atenção e de memória imediata (síndromes confusionais agudas). Pensamento desagregado: pensamento radicalmente incoerente, no qual os conceitos e os juízos não se articulam minimamente; mistura aleatória de palavras (esquizofrenia grave). Pensamento obsessivo: ideias ou representações que, apesar de terem conteúdo absurdo ou repulsivo para o indivíduo, se impõem à consciência de modo persistente e incontrolável. Alterações do Processo de Pensar Alterações no curso do pensamento: Aceleração do pensamento: ideia se sucedendo à outra rapidamente (mania, ansiedade, esquizofrenia). Lentificação do pensamento: latência entre as perguntas formuladas e as respostas (depressão grave, baixo nível de consciência). Bloqueio ou intercetação do pensamento: brusca e repentinamente interrompe seu pensamento, sem qualquer motivo (exclusiva da esquizofrenia). Roubo do pensamento: indivíduo tem a nítida sensação de que seu pensamento foi roubado de sua mente, por algo ou alguém (esquizofrenia). Alterações na forma do pensamento: Fuga de ideias: as palavras deixam de seguir uma lógica, passam a ocorrer por assonância, p. ex., amor, flor, cor (Quadros maníacos). Dissociação do pensamento: pensamentos passam progressivamente a não seguir uma sequencia lógica e bem-organizada (esquizofrenia). Descarrilhamento do pensamento: extravia-se de seu curso normal, pensamentos supérfluos, retornando aqui e acolá ao seu curso original (esquizofrenia, transtornos maníacos). Desagregação do pensamento: radical perda dos enlaces associativos, total perda da coerência do pensamento (esquizofrenia, demência). Alterações no conteúdo do pensamento: Os principais conteúdos que preenchem os sintomas psicopatológicos são: Persecutórios; depreciativos; religiosos; sexuais; de poder, riqueza, prestígio ou grandeza; de ruína ou culpa; conteúdos hipocondríacos. Angústia - Mais visceral; Mais constritiva; Opressão pré-cordial ou epigástrica Ansiedade - Mais psíquica; Mais livre; Sensação de falta de ar; Sobressalto Ansiedade estado - traço Estado – estado emocional transitório ou condição do organismo humano que é caracterizado por sentimentos desagradáveis de tensão e apreensão, conscientemente percebidos e por aumento na atividade do sistema nervoso autónomo. Variam em intensidade de acordo com o perigo percebido e flutuam no tempo. Traço – diferenças individuais relativamente estáveis na propensão à ansiedade; diferenças na tendência de reagir a situações percebidas como ameaçadoras com intensificação do estado de ansiedade. São menos sensíveis a mudanças decorrentes de situações ambientais e permanecem relativamente constantes no tempo. Ansiedade - Normal – existencial, reativa (medo) - Patológica: Primária - reativa (reação neurótica e angústia) - nuclear (perturbação de angustia, crise de angustia e ansiedade generalizada) Secundária: depressão, psicose, neurose obsessiva, doenças orgânicas, etc Ansiedade antecipatória Estado emocional que antecipa a ação, caracterizado por: - Pessimismo - Hiperexcitabilidade crónica - Sentimento de descontrolo - Resposta de sobressalto exagerada Preocupação excessiva com situações de pequena gravidade Perspetivas - É um mecanismo evolutivo aperfeiçoado para assegurar a sobrevivência - A hipervigilância da ansiedade reflete a falha em desativar o sistema neuroquímico de alerta, criando uma sensibilidade especial a eventos ansiogenos Acontecimentos de vida - Fatores predisponentes e fatores desencadeantes - A incidência de um evento tem repercussões em função: – da personalidade – vulnerabilidade biológica - Estímulos ou conflitos - Personalidade estruturada em função genética e life events - organização estável da personalidade - organização instável da personalidade: dependência, inibição, introversão, ansiedade social, baixa auto-estima - Substrato neurovegetativo frágil Escalas úteis: medindo a ansiedade - Medição das manifestações fisiológicas da ativação do sistema nervoso autonómico: TA,FC, FR, resistência elétrica da pele - Testes psicológicos: testes projetivos (Rorschach), inventário para ansiedade (Taylor´s Manifest Anxiety Scale; MAS; MMPI; AACL;SSS; etc) - HADS (hospital anxiety and depression scale), simples, rápida, preenchida pelo doente - Útil nas avaliações sequenciais Defesas contra a ansiedade Mecanismos de defesa: - evitamento - negação - repressão - projecção - regressão e fixação - somatização - contra-transferência – compulsividade Mecanismos de coping: o individuo recorre a vários comportamentos para obter alívio temporário da tensão Stress – conceito da física
O Stress como resposta
fisiológica SGA – Sindroma Geral de Adaptação As variáveis cognitivas como a percepção não interferiam nem como variáveis iniciadoras nem como moderadoras de stress no SGA; The stress of live (Selye,1956) Na edição da sua obra The Stress Concept: Past, Present, and Future em 1983, Seleye, incluia no seu modelo de stress a possibilidade de efeito moderador e/ou potenciador de aspetos cognitivos como a aprendizagem. Apesar disso mantinha a premissa teórica básica de que o stress era um fenómeno fisiológico. Mason, em 1971, refuta a não especificidade das respostas fisiológicas a estimulos nocivos em ratos e macacos. O Stress como um estímulo Pressupostos: 1. As mudanças de vida são normativas e cada mudança resulta nas mesmas exigências de reajuste para todas as pessoas; 2. A mudança é stressante, independentemente da oportunidade do evento para a pessoa; 3. Há um limite comum de reajuste ou adaptação à exigência a partir do qual a doença pode emergir. Durante a década de 1970, centenas de estudos foram realizados sobre a capacidade das pontuações dos evento de vida para prever a doença, tendo representado não mais de 4% a 6% da incidência de doenças, com baixos correlações de 0,20-0,30 (Johnson & Sarason, 1979). Sarason, Johnson, e Siegel (1979) desenvolveram um instrumento de medida diferente, The Life Experiences Survey (LES), que não só incorporou a visão da pessoa sobre se o evento de vida era desejável ou indesejável, mas também incorporou o grau de impacto que o evento teve na vida do indivíduo. Apesar do facto de que o LES teve correlações com doenças superiores aos estudos realizados pelos SRRS, eram ainda muito baixos. É plausível que essas correlações foram baixas por se terem negligenciando outros fatores, como o apoio social, resistência e controlo percebido. O Stress como Transação Lazarus, psicólogo social interessado no estudo das questões de personalidade, interessou-se em estudar as dinâmicas das experiências problemáticas. Desenvolveu e testou a Teoria Transacional de Stress. O stress, enquanto conceito tinha enorme valor heurístico e prático mas não mensurável enquanto fator único: não existiria, per si, no evento vital mas sim como resultado da interação entre a pessoa e o meio ambiente – o evento (Lazarus, 1966). A avaliação do significado do stressor bem como a avaliação dos recursos para lidar com (coping – enfrentamento) contribuíram para a compreensão da origem do desconforto produzido, incorporando assim, como determinante no processo de stress, a perceção individual sobre o evento. Devido aos seus contributos, especialmente após a publicação em 1966 da obra Psychological Stress and the Coping Process, este modelo tornou-se, enquanto construção interpretativa, de extrema utilidade em psicologia, psicossomática e Enfermagem – visão integradora das anteriores construções teóricas e resultados dos estudos sobre o efeito do stress na saúde (Lyon, 2012). Impulsionou a psicologia cognitiva, enfatizando o importante papel que a avaliação e a autoavaliação desempenha na forma como a pessoa reage, sente ou se comporta. O principal mediador das transações pessoa-ambiente é a avaliação cognitiva que se faz sobre o evento. Lazarus e Folkman (1984) identificaram três tipos de avaliação: primária, secundária e reavaliação. A avaliação cognitiva é um processo que determina porque é que dada situação é percebida como geradora de stress para um determinado indivíduo, e o nível de stress provocado pela mesma. A pessoa avalia os possíveis efeitos da exigência e os recursos disponíveis para lidar com a situação. Se as exigências superam os recursos disponíveis, então o indivíduo pode determinar que a situação representa: 1. Um potencial de dano ou perda (ameaça). 2. Se já ocorreu dano real (dano). 3. Se a situação tem potencial para algum tipo de ganho ou benefício (desafio). A perceção de ameaça provoca a avaliação secundária, que é o processo de determinar que opções ou comportamentos de coping-enfrentamento estão disponíveis para lidar com uma ameaça e quão eficaz elas possam ser. Muitas vezes, as avaliações primárias e secundárias ocorrem simultaneamente e interagem uma com a outra, o que torna muito difícil medição (Lazarus & Folkman, 1984). A reavaliação ou avaliação terciária é o processo de avaliar continuamente, alterando ou reclassificando avaliações anteriores primárias ou secundárias, bem como a evolução da situação. O que foi inicialmente percebida como uma ameaça pode agora ser visto como um desafio ou como um evento benigno ou irrelevante. Muitas vezes, a reavaliação resulta na eliminação cognitiva da ameaça. Ao contrário dos modelos anteriores (Selye e Rhaes) o modelo transacional inclui explicitamente os esforços de enfrentamento ou coping e é definido como: “constantly changing cognitive and behavioral efforts to manage specific external and/or internal demands that are appraised as taxing or exceeding the resources of the person” (Lazarus & Folkman, 1984, p. 141). “Constantes mudanças ou esforços cognitivos e comportamentais para gerir as exigências externas e/ou internas específicas que são avaliadas como custosas ou que excedem os recursos da pessoa“ Orientado para o processo e não um traço ou resultado. É diferente do comportamento adaptativo automático. Envolve a gestão contínua da situação e não propriamente o domínio. Pode ir desde minimizar, evitar, tolerar ou aceitar uma situação stressante enquanto tentativa de domínio ou controlo do meio ambiente. Em 1984, Lazarus e Folkman propõem a existência de dois tipos de estratégias de coping: 1. Coping focalizado no problema. 2. Coping focalizado na emoção. 1. Englobam esforços para definir o problema, ou a forma como se olha para ele, gerar soluções alternativas, pesar os custos e benefícios das várias ações, tomar medidas para mudar o que é mutável, e, se necessário, aprender novas habilidades. O foco pode ser direcionado para fora, para alterar algum aspeto do ambiente ou para dentro, para alterar algum aspeto da forma como vê o problema, mudando o significado da situação ou evento, reduzindo o envolvimento do ego, ou reconhecer a existência de recursos pessoais ou pontos fortes; 2. Incluem esforços como distanciamento, evitamento, atenção seletiva, culpabilização, minimização, pensamento desejável, em busca de apoio social, exercício e meditação. “Poderia ter acontecido pior" ou "eu decidi que há coisas mais importantes na vida." Não mudam diretamente o significado de uma situação stressante. Por exemplo, fazer exercício vigoroso ou meditar pode ajudar um indivíduo a reavaliar o significado de uma situação, mas não a muda diretamente. O coping centrado na emoção é a forma mais comum quando os eventos não são mutáveis. O Stress como Transição O conceito de saúde é amplo para abranger as condições físicas (somáticas, incluindo doença e funcionamento físico), psicológicos (capacidade funcional, cognitiva e moral, incluindo efeitos positivos e negativos a respeito de como as pessoas se sentem sobre si mesmas e sobre a sua vida) e sociais (função social). Propõem três tipos de resultados adaptativos: 1. Em funcionamento no trabalho e convívio social. 2. A moral ou satisfação com a vida. 3. Saúde somática. Fatores associados às questões psicossociais no trabalho. 1. Trabalho; 2. Pessoas; 3. Família; 4. Meio ambiente social; 5. Comunidade. Situações de penosidade Laposa (2003) listou 5 ocorrências como as mais stressantes: 1. 1Prestar cuidados a doentes com alguma ligação (familiar, amizade ou afinidade); 2. Cuidados a vítimas de assalto, agressão ou violação; 3. Trauma múltiplo com hemorragia massiva e/ou desmembramento; 4. Morte de crianças; 5. Cuidar de doentes severamente queimados Terá implicações? • Que implicações para os profissionais emergem deste contacto próximo e intenso com situações stressantes? • Podemos considerar estes eventos como traumáticos para os profissionais? • E noutros contextos também, com particularidades? – Oncologia, Paliativos, UCI, Infecciologia, Psiquiatria, Deficiência mental profunda, Toxicodependência, Prisões Haverá critério para PTSD? No DSM IV define-se PTSD como um conjunto de sintomas que podem ser desenvolvidos após a pessoa ter assistido ou estar envolvida num extremo e traumático stressor (Kaplan e Sadock, 1998). Contactar directamente com um acontecimento que envolva ameaça , morte, ou ferimentos graves; Testemunhar um acontecimento que envolva morte , ferimentos graves ou ameaças à integridade física de outra pessoa; Lidar com violência, morte ou ameaça não esperada. A resposta da pessoa ao acontecimento deve envolver intenso medo, desesperança (hopelesseness) ou horror (APA, 1994, p. 22) Respostas individuais Na pessoa exposta, as respostas variam entre hiperexcitação e evitamento e os sintomas podem reflectir alternadamente um ou mais padrões (Van der Kolk,1994) Hiperexcitação - expressa através de: Pesadelos; Pensamentos recorrentes e intrusivos sobre o evento; Agir ou sentir como se a experiência se repetisse no presente; Flashbacks; Dificuldades de concentração; Transtornos no ritmo sono e repouso; Hipervigilância, Agressividade lactente e hipersensibilidade. O evitamento - manifestado por: Tentativas (ajustadas ou não) para evitar pensamentos e sentimentos associados com o trauma; Incapacidade para lembrar um importante aspeto do evento; Incapacidade para demonstrar afeto positivo (distanciamento afetivo, despersonalização); Desinteresse em atividades que até aí eram agradáveis. Os sintomas podem perdurar por cerca de 30 dias , na maioria, desaparecem ao fim de alguns meses. Para outros , as reações persistem, originam alterações no quotidiano e podem tornar-se crónicas, podendo, em alguns casos, ser diagnosticado PTSD (Van der Kolk & Fisler, 1995). Morrow (1998) , num estudo com enfermeiros de U&E, expostos a incidentes críticos, verificou que estes profissionais experimentam os seguintes sintomas: Dificuldades de concentração, ansiedade e pânico, Confusão e lentificação do pensamento, irritabilidade, Workaholism (fuga em frente), Hiperactividade, Problemas gastrointestinais, Evitamento em falar do evento, Raiva, Aumento do uso de álcool e drogas, Problemas familiares e relacionais, Dores musculares e cefaleias. Prolongamento no tempo • Sobrecarga de trabalho; • Objetivos irrealistas; • Sobrecarga de stress; • Instabilidade emocional; • Dificuldade em reconhecer o problema (estratégia da avestruz) – “Casa de ferreiro espeto de pau” Focos de Enfermagem e Instrumentos de Avaliação e Monitorização da funcionalidade e do bem-estar Delírio Pensamento distorcido. O delírio representa uma crença falsa, inabalável, acerca de um determinado conteúdo, não modificável à luz da evidência exposta e mantida com extraordinária convicção e certeza subjetiva. Alucinação Perceção comprometida: aparente registo de estímulos sensoriais que realmente não estão presentes; classificam-se, segundo os sentidos, em alucinações auditivas, visuais, olfativas, gustativas ou tácteis. A Enfermagem de Saúde Mental foca-se na promoção da saúde, na prevenção, no diagnóstico e na intervenção perante respostas humanas desadaptadas aos processos de transição. Os diagnósticos de ‘Delírio’ e de ‘Alucinação’ podem despoletar uma destas respostas, levando o indivíduo a vivenciar uma transição saúde doença, na qual o enfermeiro desempenhará um papel crucial. Delírio – Instrumentos de Avaliação • The Psychotic Symptom Rating Scales (PSYRATS); • Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS); • Brown Assessment of Beliefs Scale (BABS); • Maudsley Assessment of Delusions Schedule; • Scale for Assessment of Positive Symptoms (SAPS); Alucinação – Instrumentos de Avaliação • Psychotic Symptom Rating Scale (PSYRATS); • Positive and Negative Syndrome Scale (PANSS); • Beliefs About Voices Questionnaire Revised; • North-East Visual Hallucinations Interview (NEVHI); • Characteristics of Auditory Hallucinations Questionnaire (CAHQ); • Auditory Hallucinations Interview Guide (AHIG) Unpleasant Voices Scale (UVS/0-10); • The University of Miami Parkinson’s Disease Hallucinations Questionnaire; • Brief Psychiatric Rating Scale (BPRS); • Neuropsychiatric Inventory-Nursing Home Version; • Auditory Hallucination Assessment Scale. Comportamento Agressivo Questionário de Agressividade de Buss-Perry Existem dados que: • Conduzem ao diagnóstico; • Caracterizam o diagnóstico. Processo de luto Emoção: Sentimentos de enorme tristeza associados a significativa perda e morte, real ou antecipada; choque e descrença (Fase de choque); exaustão, cansaço intenso e letargia, angústia mental, reações de aflição e expressão do luto, choro ou soluços, alarme, descrença, negação, raiva (Fase de reação); ajustamento, aceitação, reorientação, expressão de sentimentos de perda, aceitação da realidade da perda, ausência de estresse somático, expressão de expectativas positivas sobre o futuro (Fase de aceitação). Perturbação de luto complicado persistente Critérios Propostos: 1. O indivíduo vivenciou a morte de alguém com quem tinha uma relação próxima; 2. Desde a morte, pelo menos um dos seguintes sintomas é experienciado na maior parte dos dias e num grau clinicamente significativo e persistem, no caso de adultos em luto, por pelo menos 12 meses após a morte (no caso de crianças em luto, por pelo menos seis meses): a) Saudade persistente do falecido; b) Mágoa intensa e dor emocional em resposta à morte; c) Preocupação com o falecido; d) Preocupação com as circunstâncias da morte. 3. Desde a morte, pelo menos seis dos seguintes sintomas são experienciados na maior parte dos dias e num grau clinicamente significativo e persistem, no caso de adultos em luto, por pelo menos 12 meses após a morte (no caso de crianças em luto, por pelo menos seis meses): a) Mal-estar reativo à morte (Dificuldade marcada em aceitar a morte, experienciar incredulidade ou entorpecimento emocional relativamente à perda, dificuldade em relembrar positivamente o falecido, amargura ou raiva relacionadas com a perda, avaliações desadaptativas sobre o próprio em relação ao falecido e à morte, evitamento excessivo de lembranças de perda); b) Disrupção social/de identidade (Desejo de morrer de forma a estar com o falecido, dificuldade em confiar noutros indivíduos desde a morte, sentir que a vida não tem significado ou que é vazia sem o falecido ou a crença de que não consegue funcionar sem o falecido, confusão acerca do seu próprio papel na vida ou sentido diminuído da própria identidade, dificuldade ou relutância em perseguir interesses desde a perda ou em planear o futuro). 4. A perturbação causa mal-estar clinicamente significativo ou défice social, ocupacional ou noutras áreas importantes do funcionamento; 5. A reação de luto é desproporcional ou inconsistente com as normas culturais, religiosas ou apropriadas à idade. Autoimagem Autoestima Autoimagem: Opinião sobre si mesmo e visão do próprio valor e capacidades; verbalização de crenças sobre si mesmo, confiança em si mesmo; verbalização de autoaceitação e autolimitação, desafiando imagens negativas de si mesmo; aceitação de elogios, encorajamento, assim como de crítica construtiva. Imagem corporal Autoimagem: Imagem mental do próprio corpo, no todo ou em parte, ou da própria aparência. Existe a escala de autoestima de Rosenberg Autoconceito – Intervenções . A intervenção de Enfermagem “Avaliar evolução das características do autoconceito” permite o reconhecimento da evolução da situação. Executar reestruturação cognitiva Tendo em consideração que o comprometimento nas dimensões do autoconceito (autoestima e imagem corporal) tem, frequentemente, na sua base, uma apreciação negativa que o indivíduo realiza acerca de si mesmo, das suas capacidades ou do seu corpo, a reestruturação cognitiva pode constituir-se como uma intervenção de relevo face a este diagnóstico de Enfermagem, na medida em que permitirá ajudar a pessoa a modificar a forma como pensa acerca destas dimensões, de forma a que esta forma de pensar seja mais congruente com a realidade. Terapia Cognitivo-Comportamental Reestruturação Cognitiva Terapia Comportamental A terapia comportamental tem por base as teorias comportamentais, cujo pressuposto é: Muitas das nossas ações explicam-se em termos de comportamentos aprendidos ou condicionamento. De acordo com estas teorias, existem dois tipos de condicionamento: o condicionamento clássico, no qual o indivíduo associa, de forma inconsciente, dois estímulos que habitualmente ocorrem em conjunto; e o condicionamento operante – um comportamento ocorre mais frequentemente se for gratificado (reforço positivo) e diminui se não o for (reforço negativo) ou se tiver consequências desagradáveis (punição). Terapia Cognitiva A terapia cognitiva foi desenvolvida por Aaron Beck, na década de 1960, tendo em vista a resolução de problemas através da modificação de pensamentos e de comportamentos disfuncionais. Beck descreveu uma teoria sobre a depressão centrada em aspetos cognitivos, na qual os sintomas se encontram associados a um perfil negativo do pensamento que engloba três domínios: si mesmo, o mundo e o futuro. De acordo com a esta teoria, a etiologia das perturbações psicológicas encontra-se na forma como se conceptualiza a realidade, sendo as desordens emocionais as consequências de pensamentos desadaptados O principal pressuposto da terapia cognitiva é o de que o pensamento precede a ação, ou seja, as cognições (pensamentos, padrões de pensamento e formas de processar a informação) influenciam o nosso humor e o nosso comportamento. O objetivo da terapia cognitiva é a correção de formas anormais ou inúteis de pensar, com o objetivo de melhorar o humor ou de diminuir a ansiedade do cliente. Os principais componentes da terapia cognitiva são: • O terapeuta obtém uma descrição pormenorizada do problema, prestando especial atenção aos pensamentos e às interpretações que geraram ou que estão a exacerbar o problema; • O cliente é ensinado a combater formas negativas e inadequadas de pensar que estão a perpetuar o problema; O cliente é ensinado a pensar de forma mais adequada; • As técnicas terapêuticas incluem a educação sobre o papel do pensamento e sobre as suas consequências, a utilização de diários em que o cliente regista / auto monitoriza os seus pensamentos, a simulação de acontecimentos durante as sessões. Os clientes são encorajados a realizar “experiências” para testar as suas crenças e a utilizar formas alternativas de pensar. • Os clientes aplicam estas técnicas quando os sintomas do problema ocorrem (auto monitorização) As estratégias utilizadas na terapia cognitiva objetivam o reconhecimento e a modificação dos pensamentos automáticos (erros cognitivos) e das estruturas de crenças. Identificaram as seguintes técnicas de terapia cognitiva: 1. Questionamento socrático; 2. Imagens e desempenho de papéis; 3. Gerar alternativas; 4. Examinar as evidências; 5. Reatribuição; 6. Desconstruir catástrofes (descatastrofizar); 7. Registo diário de pensamentos disfuncionais; 8. Ensaio cognitivo. Técnicas Registo de pensamentos disfuncionais – Registo em quadro com os seguintes itens: Pensamento; Situação; Significado; Emoção; Repercussão; Pensamento alternativo. Estratégia de auto monitorização / Diários: Registo minucioso das atividades de um dia habitual; registo das situações em que o pensamento disfuncional ocorre. Distanciamento: Pedir à pessoa para analisar o pensamento “fora dela”. Exemplo “Se o seu amigo tiver este pensamento, o que achará dele?”. Descatastrofizar: Esta técnica é direcionada a clientes que tendem a catastrofizar, ou seja, têm o pensamento de que existirá uma consequência catastrófica associada à situação, o que não corresponde à realidade. Salientar que a consequência está apenas no pensamento do cliente, sendo exagerada. Existe uma descoordenação entre o pensamento e a realidade. O objetivo desta técnica é ajudar o cliente a analisar as consequências reais. Terapia Cognitivo-Comportamental Com a evolução interpretativa das diferentes teorias e da utilidade das psicoterapias, a terapia cognitiva veio a sofrer uma abordagem mais integrativa, em conjunto com a terapia comportamental. Na atualidade, a abordagem terapêutica cognitivo-comportamental é a mais consensual, comportando as duas vertentes (cognitiva e comportamental). Nesta abordagem, as cognições têm uma influência controladora sobre as emoções e sobre o comportamento e a forma como nos comportamos pode influenciar o padrão de pensamento e as emoções. A Terapia cognitivo-comportamental é um tratamento psicoterapêutico que tem como objetivo ajudar a pessoa a identificar e a alterar padrões de pensamento destrutivos e disfuncionais que influenciam negativamente o seu comportamento e as suas emoções. Sob condições promotoras de stress, alguns indivíduos tornam-se pessimistas e incapazes de resolver os problemas. A TCC promove um processo de pensamento mais equilibrado e, consequentemente, a capacidade para lidar com o stress. Eficácia da TCC em diversas perturbações, de acordo com Harrison e colaboradores (2006): • Na perturbação depressiva ligeira a moderada, a TCC é pelo menos tão eficaz como os antidepressivos; • Na perturbação de pânico e na ansiedade fóbica, a TCC constitui, provavelmente, o tratamento mais eficaz; • Existe boa evidência da sua eficácia noutras neuroses, incluindo as perturbações somatoformes e a perturbação obsessivo-compulsiva; • A TCC é o tratamento mais eficaz da bulimia nervosa; • A TCC exerce alguns efeitos nos sintomas psicóticos da esquizofrenia. A TCC dirigida ao tratamento da esquizofrenia, por exemplo, envolve o estabelecimento de uma relação terapêutica de colaboração, o desenvolvimento de uma compreensão partilhada do problema, a definição de objetivos e a educação do cliente sobre técnicas ou estratégias, no sentido de reduzir os sintomas ou de lidar com eles. Esta terapia é normalmente conduzida em sessões individuais e é limitada no tempo (geralmente alguns meses). O objetivo não é curar a esquizofrenia, mas, antes, promover a capacidade da pessoa para funcionar de forma autónoma, lidar com e gerir os sintomas e reduzir o stress / a angústia associada aos sintomas no dia- a-dia. Restruturação Cognitiva A reestruturação cognitiva é uma técnica importante na psicoterapia em geral e uma das principais técnicas das terapias cognitivo-comportamentais, centrando-se na identificação de pensamentos disfuncionais que acompanham e precedem alterações do humor. Esta pretende levar a pessoa a questionar a validade das suas crenças, desafiando-as e modificando-as. A sua finalidade assenta no alívio do sofrimento psicológico da pessoa, por meio da alteração do modo como ela pensa, bem como do modo como interpreta e reflete acerca das suas experiências Uma das técnicas de intervenção cognitiva mais conhecida e frequentemente utilizada é a reestruturação cognitiva, derivada da terapia cognitiva de Beck e da terapia racional emotiva de Ellis. A reestruturação cognitiva visa identificar interpretações negativas e irrealistas de um evento e substituí- las por interpretações mais realistas. Tem como objetivo levar a pessoa a considerar hipóteses relativamente ao modo como construiu a sua realidade, analisando os padrões de pensamento que a levaram a determinadas ideias e crenças disfuncionais. A reestruturação cognitiva permite desafiar crenças antigas distorcidas e desenvolver novas crenças racionais saudáveis, ajudando os doentes a avaliar as suas cognições não como factos indiscutíveis, mas como hipóteses a serem testadas em relação à evidência lógica e experimental. Indicações Terapêuticas Pensamentos disfuncionais Erros cognitivos Crenças Pensamentos que causam um Exemplos: valorizar apenas o Algo em que o cliente acredita problema de saúde, que causam lado negativo das situações, tirar de forma inabalável, com disfunção. Visão negativa de conclusões precipitadas e culpa impacto negativo para a sua mim, do mundo e do outro. inadequada. saúde. Insight preservado.
Visam a alteração das imagens Procuram treinar a identificação, Colocam-se em prática as novas negativas e distorcidas do cliente. a avaliação, a descentralização e formas de pensamento, a aceitação das diferentes procurando-se um confronto emoções. progressivo com as situações.
Reestruturação cognitiva como intervenção psicoterapêutica
Procedimento da Reestruturação cognitiva: 1. Sessão 1 – Iniciação Clarificar o funcionamento das sessões e os objetivos primordiais; concretizar o contrato terapêutico para o desenvolvimento das sessões; Efetuar a confirmação do diagnóstico de Enfermagem; Proceder ao resumo da sessão, reforçando os aspetos mais relevantes; Poderá ser proposta a realização de tarefas para casa, como o uso de diários para a monitorização dos pensamentos disfuncionais; Obter feedback da pessoa acerca da sessão; Clarificar as dúvidas acerca da sessão; Agendar o próximo contacto. 2. Sessão 2 – Exploração Realizar um breve resumo da sessão anterior e indicar os objetivos da presente sessão; caso exista, analisar o “trabalho de casa” realizado, analisando-o e interpretando-o, em colaboração com a pessoa; explorar os esquemas cognitivos e os pensamentos automáticos da pessoa; Propor a realização de tarefas para a sessão seguinte, se indicado. 3. Sessão 3 – Compreensão Realizar um breve resumo da sessão anterior e indicar os objetivos da presente sessão; Caso exista, analisar o “trabalho de casa” realizado, analisando-o e interpretando-o, em colaboração com a pessoa; Explicar o que são esquemas cognitivos e pensamentos automáticos negativos; Delimitar, em conjunto com a pessoa, de forma descritiva e pormenorizada, os esquemas cognitivos e os pensamentos automáticos concorrentes para o diagnóstico de Enfermagem; Explicar em que consistem as estratégias cognitivas que visam conduzir à reestruturação do pensamento; Orientar a pessoa para a elaboração de um número variado de interpretações cognitivas alternativas para cada situação; Propor a realização de tarefas para a sessão seguinte, se indicado. 4. Sessão 4 – Instrução e Treino Realizar um breve resumo da sessão anterior e indicar os objetivos da presente sessão; Caso exista, analisar o “trabalho de casa” realizado, analisando-o e interpretando-o, em colaboração com a pessoa; Apoiar na modificação de pensamentos e das emoções a partir da utilização das estratégias explicadas na sessão anterior; Instruir / Treinar a substituição / a modificação de pensamentos negativos / disfuncionais, erros cognitivos e algumas crenças por pensamentos mais adequados; Encorajar a pessoa a realizar experiências, de modo a testar os seus pensamentos, as suas emoções e os seus comportamentos relativamente às alternativas treinadas; Propor a realização de tarefas para casa de auto monitorização (por exemplo, diários de autoavaliação) e a aplicação das estratégias treinadas na sessão. 5. Sessão 5 – Conclusão Realizar um breve resumo da sessão anterior e indicar os objetivos da presente sessão; Caso exista, analisar o “trabalho de casa” realizado, analisando-o e interpretando-o, em colaboração com a pessoa; Encorajar a pessoa a rever as experiências para testar os seus pensamentos, as suas emoções e os seus comportamentos relativamente às alternativas treinadas; Propor a manutenção de tarefas de auto monitorização e de autocorreção dos pensamentos (por exemplo, os diários de autoavaliação) e a aplicação das estratégias treinadas nas sessões; Identificar as expectativas e estabelecer objetivos futuros com a pessoa.
Campos, R.H.F., de Gouvea, M. C. S., & Guimarães, P. C. D. (2014) - A Recepção Da Obra de Binet e Dos Testes Psicométricos No Brasil. Rev. Br. de Hist. Da Educação, 14 (2), 215-242