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Consultas de Enfermagem

Consultas de
Saúde sexual,
saúde reprodutiva e do planeamento familiar
A Conferência Internacional sobre a População e Desenvolvimento, que decorreu na cidade
do Cairo, no Egito em 1994 e teve um contributo importante no desenvolvimento da sociedade no
que toca à abordagem da Saúde Sexual, Reprodutiva e Planeamento Familiar.
Terceira Conferência Internacional sobre a Paternidade Planeada, que decorreu em
Bombaim, na Índia, em 1952, da qual nasceu a International Planned Parenthood Federation
(IPPF). É a única organização não governamental de contexto global que luta pelos direitos no
contexto da Saúde Sexual e Reprodutiva e teve um grande impacto no desenvolvimento de
discussões em torno de assuntos como a adolescência e a sexualidade, o aborto, a acessibilidade
aos cuidados de saúde.
A Associação ara o Planeamento da Família (APF), fundada em 1967, foi pioneira do acesso
à contraceção gratuita em Portugal. Tem como missão ajudar as pessoas a fazer escolhas livres e
conscientes no âmbito da vida sexual e reprodutiva e promover a parentalidade positiva.
O Programa Nacional de Saúde Reprodutiva e Planeamento Familiar, inclui o conjunto de
cuidados de saúde que ajuda os homens e as mulheres a planear o nascimento dos filhos, a viver a
sexualidade de forma gratificante, a intervir no contexto de problemas relacionados com a
fertilidade, a prevenir as IST, a obter diagnósticos precoces sobre o cancro da mama e do colo do
útero, e do testículo.
Direitos sexuais: uma declaração da IPPF
Princípio 1 - Sexualidade é uma parte integrante da personalidade de todo o Ser Humano,
e, por esta razão, um ambiente favorável, onde todos possam usufruir de todos os direitos sexuais
como parte do processo de desenvolvimento, deve ser criado. A sexualidade é parte integrante da
personalidade de cada ser humano em todas as sociedades.
Princípio 2 - Os direitos e proteções garantidos a pessoas menores de dezoito anos diferem
daqueles dos adultos e devem levar em consideração a capacidade e o discernimento de cada
criança para exercer os direitos em seu próprio nome.
Princípio 3 - A não-discriminação sustenta a proteção e promoção de todos os Direitos
Humanos.
Princípio 4 - A sexualidade, e o prazer derivado dela, são aspetos centrais do ser humano, quer
a pessoa opte por reproduzir-se ou não.
Princípio 5 – A garantia dos direitos sexuais para todos inclui um compromisso com a
liberdade e a proteção contra danos.
Princípio 6 – Os direitos sexuais devem estar sujeitos apenas àquelas limitações determinadas
pela lei, com a finalidade de garantir o devido reconhecimento e respeito aos direitos e
liberdades de terceiros e ao bem-estar geral numa sociedade democrática.
Princípio 7 - As obrigações de respeitar, proteger e cumprir são aplicáveis a todos os direitos
sexuais e liberdades.
A partir destes princípios emergem 10 artigos:
 Artigo 1 - Direito à igualdade, proteção igual perante a lei e liberdade de todas as
formas de discriminação baseadas no sexo, sexualidade ou gênero.
 Artigo 2 - O direito de participação para todas as pessoas, independente do sexo,
sexualidade ou gênero.
 Artigo 3 - Os direitos à vida, à liberdade, à segurança pessoal e à integridade física.
 Artigo 4 - Direito à privacidade
 Artigo 5 - Direito à autonomia pessoal e reconhecimento perante a lei.
 Artigo 6 - Direito à liberdade de pensamento, opinião e expressão; direito à associação.

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 Artigo 7 - Direito à saúde e aos benefícios do progresso científico
 Artigo 8 - Direito à educação e à informação.

 Artigo 9 - Direito de optar por casar ou não casar; constituir família; decidir ter ou não
ter filhos, e como e quando tê-los.
 Artigo 10 - Direito de responsabilização e de reparação.

Áreas de atenção e Perfil do Cliente


Casal Heterossexual Casal Homossexual Indivíduo
(Idade e Projeto de Vida) (Idade e Projeto de Vida) (Idade, sexo/género,
relacionamento e
projeto de vida).
Satisfação Conjugal Uso de contracetivo
Planeamento Familiar Planeamento Familiar (Na
perspetiva da adoção)
Processo sexual
Processo de Tomada de Decisão
Suscetibilidade à infeção
Autocuidado (Autoexame)
Comportamentos de Procura de Saúde
Uso de Substâncias (tabaco, álcool e drogas).

Processo Sexual
Processo do sistema reprodutor: capacidade para participar numa relação sexual e, no homem,
de ejacular.
Critérios de Diagnóstico:
Processo sexual comprometido se:
a) Desejo sexual comprometido [especificar];
b) Excitação sexual comprometida [especificar];
c) Orgasmo comprometido [especificar];
d) Ereção comprometida [especificar];
e) Ejaculação comprometida [especificar].
Atividade de diagnóstico: Avaliar processo sexual.
Disfunção sexual (DSM IV)
Perturbação nos processos que caracterizam o ciclo da resposta sexual, ou por dor associada à
atividade sexual. Causa mal-estar clinicamente significativo para os intervenientes na relação
sexual. É uma resposta sexual humana neurofisiológica e vascular.
Existem duas correntes relativas à resposta sexual:
 Master e Johnson (1966) – Modelo Bifásico (1. Excitação e planalto; 2. Orgasmo e
resolução);
 Helen Kaplan (1977) – Modelo Trifásico (1. Desejo; 2. Excitação; 3. Orgasmo).
O desejo sexual pode ser classificado como:
 Hipoativo;
 Hiperativo;
 Aversão sexual.
A excitação pode ser relacionada com a disfunção da excitação sexual (frigidez);
O orgasmo pode ser de:

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 Sensibilidade diminuída;
 Anorgasmia.
A ereção pode ser classificada em:
 Primária/Secundária;
 Ligeira/Moderada/Total;
 Orgânica/Psíquica/Mista.
A ejaculação pode ser classificada como:
 Precoce;
 Babante;
 Retardada;
 Retrógada;
 Anejeculação.
Existem duas disfunções dolorosas relativas ao sexo feminino a dispareunia e o vaginismo.
Processo de Tomada de Decisão
Cognição - processos mentais para determinar o curso de ação, baseados na informação
relevante, consequências potenciais de cada alternativa e recursos.
Critérios de diagnóstico - Processo de Tomada de Decisão comprometido se conhecimento
e/ou crenças comprometidos.
Conhecimento Crenças
Sobre sexualidade Sobre sexualidade
Sobre emoções e sentimentos Sobre emoções e sentimentos
Sobre legislação Sobre legislação
Sobre direitos sexuais Sobre direitos sexuais
Sobre serviços de saúde e comunitários Sobre serviços de saúde e comunitários
Sobre o uso de substâncias Sobre o uso de substâncias
Sobre a atividade física e saúde Sobre a atividade física e saúde
Sobre alimentação e saúde Sobre alimentação e saúde
Intervenções – Ensinar/Informar/Otimizar crenças
Suscetibilidade à infeção
Critérios de diagnóstico: Suscetibilidade à infeção aumentada se conhecimento ou
Aprendizagem de habilidades não demonstrado ou crenças comprometidas.
Conhecimento Aprendizagem de Crenças
habilidades
Sobre IST Sobre a suscetibilidade para a
Sobre proteção contra as IST Para o uso do preservativo infeção.
Uso do preservativo

Autocuidado – Exame
Autocuidado [autoexame da mama/testículo] comprometido se conhecimento ou Aprendizagem
de capacidades não demonstrados ou adesão não demonstrada.
Conhecimento Aprendizagem e capacidades Adesão
Sobre CA Mama/Testículo Para o autoexame da Ao autoexame mama/testículo
Sobre autoexame da mama/testículo
mama/testículo
Um estudo de coorte realizado na Finlândia sugere que o autoexame da mama tem benefícios
em todas as idades, assim como um estudo idêntico realizado no Canadá.
1x/mês – 8 dias após o período menstrual. Menopausa – 1 dia escolhido pela mulher.
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Cancro do testículo – 3 em cada 100 00 homens são afetados. Com pico de incidência (20-40
anos e > 60 anos). A partir dos 15 anos.
Fatores de Risco:
 História Clínica de Criptorquídia;
 Parotidite Endémica;
 Hérnia Inguinal durante a infância;
 História de Ca Testicular no lado oposto;
 Mães medicadas com dietilstilbestrol durante a gravidez;
 Traumatismos testiculares violentos e repetidos.
Sintomas:
 Dor e desconforto;
 Massa testicular;
 Hidrocelo;
 Perdas hemáticas no sémen;
 Dor retro-peritoneal
Comportamentos de Procura de Saúde
Critérios de Diagnóstico: Comprometidos se conhecimento não demonstrado ou adesão não
demonstrada.
Conhecimento Adesão
Sobre plano oncológico nacional; À mamografia;
Sobre mamografia; Á citologia.
Sobre citologia.
Intervenções: Ensinar/ Orientar/ Requerer/Promover adesão.
Rastreio Orientações
Cancro da mama (mamografia) Mamografia cada 2 anos nas mulheres dos 50
anos 69 anos.
Cancro do colo do útero (colpocitologia) Citologia cervical nas mulheres com idade
igual ou superior a 25 anos e até aos 60 anos.
5 em 5 anos.
Planeamento Familiar
Quer ter mais filhos:
Critério de diagnóstico: Planeamento Familiar comprometido se Fertilidade Comprometida
Intervenções – Ensinar sobre reprodução; orientar/Requerer serviços médicos
Não quer ter filhos:
Critério de diagnóstico: Planeamento Familiar comprometido se uso de contracetivos
comprometido.
Assim avaliamos neste contexto se o casal quer ter filhos:
Critério de diagnóstico: Planeamento Familiar comprometido se conhecimento sobre serviços
e processos de adoção não demonstrado.
Intervenções – Ensinar sobre processo de adoção/ Informar sobre serviços de adoção;
orientar/Requerer serviços de adoção.
Uso de Contracetivos
Critérios de diagnóstico:
Uso de contracetivo comprometido se conhecimento ou aprendizagem de capacidades para o
uso de contracetivo comprometido ou adesão não demonstrada e/ou Risco de complicações
associados ao uso de contracetivos.
Para os Contracetivos hormonais:

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Risco de complicações presente em grau reduzido se:
 Alimentação hipercalórica;
 Atividade física reduzida ou ausente;
 Uso de tabaco em grau reduzido (Teste de Fagerström);
 Uso de álcool no limite máximo recomendado (21 unidades/semana para homens e 14
unidades para mulheres);
 Risco de complicações presente em grau elevado se: HTA;
 Excesso de Peso/Obesidade;
 Uso de substâncias;
 Uso de tabaco presente em grau moderado a elevado- Teste de Fagerström (se a mulher
tiver mais de 35 anos a contra-indicação é absoluta);
 Uso de álcool em grau elevado (acima das 21 unidades/semana nos homens e das 14
unidades nas mulheres.
Uso de substâncias (tabaco)
Critérios de diagnóstico: Uso de Tabaco presente em grau elevado se dependência grave; em
grau Moderado se dependência moderada e em grau reduzido se dependência leve. Ou ausente.
Intervenções: Terapia cognitiva/Comportamental: Ensinar/ Advogar/ Informar Terapia
medicamentosa: Orientar/Requerer/Vigiar.
Uso de substâncias (álcool)
O consumo regular de álcool (etanol) causa aumento dos níveis de estradiol, podendo
potencializar os efeitos colaterais a longo prazo dos anticoncecionais, como tromboses e
neoplasia de mama. A taxa de metabolização do álcool também fica reduzida em quem toma
essas hormonas, fazendo com que o mesmo circule no sangue por mais tempo.
Critério de diagnóstico:
Abuso de álcool se:
 Um consumo superior a 14 unidades/semana para uma mulher;
 Um consumo superior a 21 unidades/semana para um homem.
Teste: tentar não beber durante 1 semana e avaliar reação. Se mal-estar ou incapacidade a
dependência será certa.
Intervenções: Ensinar/ Informar/ Advogar/Orientar/Requerer.
Uso de substância (Drogas)

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A variedade implica uma análise clara dos critérios de diagnóstico face ao uso da droga em
questão. Contudo as intervenções passarão na maioria dos casos por advogar/orientar e requerer.
No caso de terapia de substituição pode ser Realizar Toma Assistida.

Uso de contracetivo
Fatores a ter em conta na escolha do contracetivo:
 Escolha do casal;
 Idade;
 Perfil de saúde;
 Objetivos do casal;
 Modo de ação do método;
 Eficácia contracetiva;
 Efeitos colaterais;
 Benefícios não contracetivos.
Anel Vaginal
 Deve ser introduzido no interior do canal vaginal;
 Deve manter-se no local durante 21 dias.
 Deve fazer-se um intervalo de 7 dias, retirando o anel;
 Deve colocar-se novo anel findo o intervalo de 7 dias.
Espermicidas
 São produtos químicos que destroem os espermatozoides;
 Para aumentar a eficácia do preservativo e do diafragma.
Adesivo transdérmico
 Contém 6,0 mg de norelgestromina e 0,60 mg de etinilestradiol;
 Liberta 0,15 mg de norelgestromina e 0,02 mg de etinilestradiol na circulação sanguínea
a cada 24 horas;
 Deve ser colocado nos locais acima demonstrados no primeiro dia do Período menstrual
e deve manter-se durante 3 semanas;

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 Na quarta semana deve retirar-se o adesivo e fazer uma pausa. Recoloca-se o adesivo
após essa semana durante mais 21 dias.
Dispositivo intra-uterino
Com cobre:
 Multiload Cu 375, com fio de 375mm2 de cobre.
 Duração: 5 anos.
Com hormonas:
 Liberta 20 mg de Levonorgestrel a cada 24 h, durante 5 anos
No Pós-Aborto
 1º Trimestre: pode ser imediatamente colocado;
 2º Trimestre: colocar até 48h após;
Eficácia: 1 a 4 gravidezes em 100 mulheres/ano.
Pílula:
Componentes: Estrogénio e progesterona.
Eficácia:
Combinado:
 0,1-1 gravidezes em 100 mulheres / ano;
 Progestativa:
 0,5-1,5 gravidezes em 100 mulheres/ ano.
Mecanismo de ação – inibição da ovulação, atrofia endometrial e espessamento do muco
cervical.
 1º dia da menstruação;
 Diária;
 21 comprimidos;
 7 dias de pausa;
 Remoço de nova embalagem;
 Hemorragia de privação na pausa;
 Eficácia contínua.
Esterilização
 Laqueação de trompas (eficácia varia com técnica cirúrgica e não pode ser feita antes
dos 25 anos).
 Esterilização masculina – vasectomia.
Método do Calendário – Tabela de Ogino-Knauss
Anotar durante 1 ano a duração dos ciclos menstruais;
Subtrair ao ciclo mais curto 18 dias;
Subtrair ao ciclo mais longo 11 dias;
O intervalo entre ambos, do menor para o maior (período fértil da mulher).
Método de Billings – Avaliação do muco cervical
O Muco Cervical na altura da ovulação adquire uma aparência de clara de ovo com grande
elasticidade (filância)... A mulher/rapariga só deverá ter relações sexuais 3 dias depois da
ocorrência do ponto máximo de filância do muco.
Contraceção de Emergência
Como atua?
 Bloqueia a ovulação;
 Altera o muco cervical;
 Altera o endométrio.

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Não é abortiva
Se já existe gravidez...
 Não a interrompe (não funcione);
 Nem provoca malformações.
Contraceção de Emergência – Duas opções
4 pilulas combinadas posologia 2 pilulas só com progestativa posologia
2 comprimidos o mais cedo possível 1 comprimido o mais cedo possivel
2 comprimido 12h depois dos primeiros 1 comprimido 12h depois do primeiro
Sujeito a receita a médica Venda livre
Satisfação conjugal
Centra-se nos processos de conjugalidade associados à continuidade de uma relação satisfatória,
percecionada como apoiante nas suas múltiplas vertentes, que se interligam.
Critérios de diagnostico:
Satisfação Conjugal Não Mantida se:
 Relação dinâmica disfuncional e/ou Comunicação Não Eficaz e/ou;
 Interação Sexual Não Adequada e/ou Relação Sexual Comprometida.
Relação Dinâmica - partilha de responsabilidades, possibilidade de expressar sentimentos e
emoções e flexibilidade de papéis.
 Satisfação do casal sobre a divisão/partilha das tarefas domésticas;
 Satisfação do casal com o tempo que estão juntos;
 Satisfação do casal com a forma como cada um expressa os sentimentos.
Comunicação - Ações internacionais subjacentes aos comportamentos relacionais, que
caracterizam a relação e que promovem a satisfação processual, percecionada pela possibilidade
da partilha e da redução de ambiguidades entre os membros do casal.
 O casal conversa sobre as expectativas e receios de cada um;
 O casal consegue chegar a acordo quando há discordância de opinião;
 Satisfação com o padrão de comunicação do casal.
Interação Sexual - atributos relacionais específicos que integram valores e atitudes
conducentes à expressão da sexualidade.
 Satisfação do casal com o padrão de sexualidade;
 Conhecimento do casal sobre sexualidade.
Função Sexual - aptidão cognitiva, sócio-afectiva e comportamental para participar na relação
sexual
Disfunções sexuais
Tipo de disfunção
 Perturbação do desejo sexual;
 Disfunção eréctil
 Disfunção da ejaculação;
 Perturbações do orgasmo;
 Dispareunia;
 Vaginismo.
Conhecimento do casal sobre estratégias não farmacológicas de resolução das disfunções
sexuais.
Satisfação Conjugal Não Mantida
Intervenções sugeridas:
 Motivar para a redefinição da divisão/ partilha das tarefas domésticas;

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 Aconselhar a redefinição da divisão/ partilha das tarefas domésticas;
 Promover a comunicação expressiva das emoções;
 Promover a comunicação do casal;
 Planear rituais familiares;
 Motivar para atividades em conjunto;
 Ensinar sobre sexualidade;
 Ensinar sobre estratégias não farmacológicas de resolução das disfunções sexuais;
 Orientar para serviços médicos;
 Orientar para terapia familiar;
 Orientar para serviços (psicologia).

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