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Andrea Filatro
WebCurrículo 2009
Resumo: Este artigo faz um relato da proposta de design instrucional para uma disciplina
on- line de um curso de pós-graduação lato sensu a distância para formação de designers
instrucionais. Descreve-se a implementação e a avaliação da disciplina, considerando para
isso os princípios andragógicos, especialmente o modelo de aprendizagem experiencial de
Kolb. As atividades propostas e os resultados alcançados são registrados em termos das
contribuições da educação on- line para a aprendizagem de adultos.
Introdução
A disciplina em questão, assim como o curso de especialização, tem por objetivo formar
profissionais capazes de selecionar e gerenciar o desenvolvimento de produções midiáticas
para projetos educacionais realizados a distância, e que sejam versáteis, capazes de propor
soluções inovadoras e trabalhar em equipes multidisciplinares. Para isso, fundamenta-se na
abordagem socioconstrutivista, refletida nas práticas de interação, colaboração e avaliação
realizadas virtualmente.
A aprendizagem de adultos
A andragogia, termo cunhado por Alexander Kapp em 1833 e que nos anos seguintes
circulou pelos países europeus até se incorporar definitivamente à teoria instrucional
americana através de Malcolm Knowles nos anos 1970, se configura como uma teoria que
considera a natureza e as condições específicas do aprendiz adulto (KNOWLES, 1998).
Devemos destacar, contudo, que, embora a andragogia tenha inicialmente buscado sua
identidade desvinculando-se da pedagogia (a arte e a ciência de conduzir as crianças), ao
adotar uma visão mais ampla das abordagens pedagógicas, encontramos pontos comuns
entre a andragogia centrada no aprendiz e correntes pedagógicas mais contextualizadas, a
ponto de alguns a identificarem como a “melhor pedagogia”. No entanto, seria um
equívoco desconsiderar que, da mesma forma que a pedagogia, a andragogia também se
desdobra em um continuum de abordagens que vai de tarefas mais estruturadas a contextos
mais autênticos.
Nos passos de Dewey, toda uma escola se apóia na idéia da aprendizagem experiencial. De
fato, KOLB (1984) define a aprendizagem como “o processo pelo qual o conhecimento é
criado através da transformação da experiência”, o qual se realiza basicamente em quatro
estágios de um ciclo de aprendizagem experiencial:
DeAQUINO (2007) discute o papel do professor (a quem ele chama de facilitador) nesse
ciclo e relaciona atividades adequadas a cada estágio, entre as quais citamos
resumidamente: a) experiência direta: resolução de problemas em grupo, estudos de caso,
roleplays, visitas de campo, jogos e dinâmicas; b) reflexão sobre a experiência: discussões
em pequenos ou grandes gr upos; preparação de relatórios; c) generalização sobre a
experiência: sumários do que foi visto e realizado, perguntas e respostas; d) aplicação;
planejamento de ações e atitudes; prática das novas habilidades desenvolvidas; fóruns de
discussão.
Descrição da experiência
A estrutura do curso prevê que a carga horária de cada disciplina seja cumprida
linearmente, ou seja, os alunos se dedicam a uma disciplina de cada vez, o que em geral
equivale a quatro a cinco unidades de estudo exploradas intensivamente durante um mês.
Disciplina CH
1. Conceitos, abrangência da atuação e aplicações do DI no ensino on-line 30
2. Abordagens pedagógicas e DI 30
3. Uso de ferramentas em EAD on-line 30
4. Metodologia e análise do processo de comunicação 30
5. Planejamento e DI 30
6. Processo de Criação I (roteiros e storyboards) 30
7. Construção de textos e hipertextos 30
8. Processo de Criação II (objetos de aprendizagem, uso de padrão 30
SCORM)
9. Avaliação 30
10. DI e o acompanhamento e implementação de cursos on- line 30
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11. Seminário de DI 40
12. Orientação de monografia de DI 40
EXPERIÊNCIA CONCRETA
(navegação em
cursos on-line)
OBSERVAÇÃO REFLEXIVA
EXPERIMENTAÇÃO ATIVA
(análise dos cursos
navegados)
(criação de cursos on-line)
CONCEITUALIZAÇÃO
ABSTRATA
(teorização )
partir de um roteiro, as duplas examinam, identificam e justificam sua análise quanto aos
aspectos pedagógicos, tecnológicos e comunicacionais do curso selecionado para
experimentação, em termos de:
O ciclo de aprend izagem experiencial se reinicia com a última atividade proposta para a
disciplina, na qual cada aluno realizara a avaliação cruzada de curso on- line especificado
por outro colega, aplicando para isso o mesmo roteiro de análise da atividade inicial.
Resultados
Criar um curso on- line implica decisões e ações para as quais os alunos se preparam ao
longo de todo o Curso de Especialização, mas que na disciplina específica de criação de
cursos on- line precisam ser objetivas e concretizadas. Elaborar o storyboard, por exemplo,
é para muito alunos um turning point (um momento decisivo), no qual eles colocarão à
prova as suas competências como designers instrucionais, articulando seus conhecimentos,
habilidades e atitudes nos campos pedagógico, tecnológico, comunicacional e
organizacional. Nesse sentido, iniciar a disciplina pela experiência concreta com cursos
prontos, criados por outros, ajuda a reduzir a ansiedade que acompanha tal desafio.
Tais descobertas fortalecem ainda mais os vínculos de aprendizagem entre os alumos, visto
que fica patente para o grupo a multiplicidade de experiências representada na
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coletividade. Isso é retratado por uma intensificação das discussões no fórum, que se
tornam mais ramificadas e cujo centro se desloca da comunicação docente(s)-aluno(s) para
a comunicação alunos-alunos.
Devemos considerar também que as discussões no fórum propiciam não apenas a reflexão
e a abstração, mas também o relato de outras experiências e mesmo o compartilhamento de
links de acesso a ações educacionais desenvolvidas pelos próprios alunos em seu contexto
profissional, ampliando o estágio de experiência concreta.
O exame dos textos básicos passa a fazer mais sentido porque está estreitamente
relacionado à reflexão sobre as experiências e subsidia diretamente as generalizações para
a aplicação prática. Isso também se evidencia nas discussões no fórum, com a
referenciação a tópicos pertencentes às leituras feitas, solicitações de bibliografia
complementar e recomendação pelos próprios alunos de títulos afins.
A cada nova edição da disciplina, o DI incorpora as sugestões dos alunos obtidas a partir
de avaliações do curso como um todo ou da disciplina especificamente. Nesses ajustes, o
modelo de aprendizagem experiencial tem sido conservado como proposta subjacente do
curso ou explicitamente em unidades de estudo específicas.
Referências bibliográficas
LITTO, F.M. O atual cenário internacional de EAD. In: Educação a distância: o estado
da arte. São Paulo, Pearson Education, 2008.
NOTAS
1
Mais informações sobre em http://pergamo.cpd.ufjf.br/~latosensu/Design_Instrucional.html.
2
A proposta original da disciplina Processos de Criação I foi desenvolvido em parceria com a profa. dra. Paula Carolei,
que também atuou como docente na 1ª edição. Atualmente ela é responsável pela disciplina imediatamente posterior,
“Construção de textos e hipertextos”, que dá continuidade aos cursos especificados por meio de roteiros e storyboards.