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by Guy Le Boterf
Compétence et Navigation Professionnelle
Esta evolução deveu-se a um movimento cuja importância não foi percebida lo-
go de início: a entrada do treinamento na lógica da economia de serviço. Como
qualquer outro setor de atividade, o treinamento não escapa dessa lógica. A
questão foi, então, formulada: transpor para o serviço de treinamento as abor-
dagens referentes à qualidade implementadas em outros serviços. Fazer preva-
lecer o ponto de vista do cliente sobre o do prestador do serviço, não considerar
o cliente como um consumidor passivo, mas solicitar sua contribuição para a re-
alização do serviço, considerar o valor da utilização das competências e não
somente o valor de seu custo de produção... tantas orientações que constituem
uma mudança de perspectiva. Da mesma forma que a economia da saúde, a
economia do treinamento é uma economia de serviço com prescrição. O res-
ponsável operacional torna-se central em seu papel de quem prescreve e con-
vém prepará-lo para este exercício. O serviço de treinamento (ou o setor res-
ponsável pelo treinamento) da empresa é então chamado a desempenhar um
papel de consultor interno.
Uma segunda razão do aumento das abordagens Qualidade provém dos limites
encontrados na avaliação dos resultados do treinamento. Depois de algumas
tentativas infrutíferas, constatou-se a dificuldade em se avaliar o retorno do in-
vestimento econômico com treinamento. Controlando a qualidade do processo
de treinamento, o objetivo era maximizar as chances de obter o resultado dese-
jado e que era muito difícil de medir.
Não é por acaso que o termo "didática profissional" tende a aparecer nas disci-
plinas da ergonomia. Ele designa a pesquisa das condições a serem reunidas
para que uma situação de trabalho se torne profissionalizante.
NAVEGADORES VOLUNTÁRIOS
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PERSEGUIR UM CAP
Para que a narração das práticas seja útil, é preciso sempre que ele atenda a
algumas condições. Ele deve para isso explicitar, recuperar sob que condições
foi realizada a atividade profissional: quais foram as regras, as dificuldades, os
recursos.
BENEFICIAR-SE DOS VENTOS FAVORÁVEIS E CONHECER AS REGRAS
DE NAVEGAÇÃO
Uma tal administração solicita a pilotagem e não somente o controle. Ele de-
pende mais da ciência da navegação que da engenharia das produções indus-
triais. Não há dúvidas de que novos continentes permanecem inexplorados.
Os componentes do modelo
Uma situação profissional real não é somente um posto de trabalho. Ela recobre
uma área mais vasta. É constituída de um conjunto de missões, funções, ativi-
dades técnicas, relacionais, organizacionais, que o indivíduo assegura não so-
mente em seu posto de trabalho, mas também em relação com as outras pes-
soas, os outros postos e a estrutura institucional em seu conjunto.
Uma situação profissional modelo agrupa várias situações profissionais. Ela não
corresponde a uma realidade observável: ela constitui um "modelo", no sentido
científico do termo e contém propriedades comuns (competências, atividades,
missões...) a várias situações profissionais. Além do fato de ser a resultante de
um agrupamento por famílias, estas situações profissionais modelos exprimem
o impacto previsível de "fatores de evolução" (organizacionais, tecnológicos...)
sobre essas situações. É a partir dessas situações profissionais modelo que se
efetua o início da antecipação. É neste nível de agregação que a confiabilidade
das hipóteses de evolução é mais forte. Essas situações profissionais modelos
são a base dos referenciais das competências requeridas.
Sem entrar no detalhe das técnicas existentes, vamos propor que esses balan-
ços devam ter as seguintes características:
Esses balanços não podem ser praticados sem a colaboração ativa da pessoa
que vai se engajar em projeto de profissionalização. Em tais projetos, o piloto
principal é o profissional. É uma função compartilhada: os responsáveis hierár-
quicos, os especialistas, os clientes, poderão ser solicitados a intervir na prática
do balanço. A pluralidade dos pontos de vista e o cruzamento das apreciações
permitirão tornar mais objetivas as constatações e a confiabilidade dos projetos.
Podemos navegar sem mapas ? Certamente que sim, nos pequenos percursos
e em espaços bem conhecidos. Certamente que não, se nos engajamos na na-
vegação de cruzeiro, etc. O mapa torna-se então necessário para preparar a ro-
ta a seguir. A cartografia constituiu-se em poderoso instrumento para fazer pro-
gredir a navegação. Henrique, O Navegador, compreendeu bem isso, instalando
seu quartel-general em Sagres, em Algarves , Portugal, e se cercando de cartó-
grafos vindos de Maiorca, de pilotos genoveses e astrônomos do "Maghreb".
Centralizando as informações recolhidas das expedições, a cartografia acumu-
lou progressos consideráveis e, conseqüentemente, a navegação. Os portugue-
ses foram assim os primeiros a adquirir a certeza de que a terra era redonda.
A engenharia clássica do plano de treinamento possibilita traçar os percursos
conhecidos, entre cursos, estágios ou outras ações de capacitação de um uni-
verso pedagógico bastante conhecido. Esta navegação não deve ser denegrida.
Ela possibilitou ir além da vagabundagem desordenada das ações de formação
sem finalidades e de mostrar a ilusão de investir em treinamento, aos que se
contentavam em gastar em função das ofertas e das modas dos catálogos de
cursos.
Então, quais são essas oportunidades ? Elas podem ser de vários tipos.
Tipo 2: situações criadas para serem formadoras, mas que não correspon-
dem às situações habituais de treinamento:
Realização de formação-ação;
Consulta a expert com direitos de tiragem;
Clube de intercâmbio de práticas profissionais;
Realização de um projeto de estudo com defesa dos resultados diante de
uma banca;
Formação por tutor ou acompanhada por um sênior;
Trabalho em colaboração com consultores externos;
Participação em colóquios ou reuniões profissionais externas;
Produção de manuais pedagógicos destinados a operadores;
Jantar - debate...
Tipo 3: situações de trabalho que não têm objetivos de formação mas que
podem se tornar em oportunidades de produção ou desenvolvimento de
competências:
Participação da concepção de novos equipamentos;
Participação de um projeto transversal;
Redação de uma obra ou de um artigo profissional;
Imersão em plataforma de clientes;
Realização de uma nova missão específica;
Condução de um projeto;
Exercício da função de tutor;
Participação de uma missão de auditoria ou de avaliação;
Substituição temporária de um responsável hierárquico;
Condução de um grupo de melhoria da Qualidade;
Realização de um percurso profissional alternando a experiência com
responsabilidades operacionais e a experiência com responsabilidades
funcionais
Trabalho temporário em outro posto de trabalho.
OBJETIVOS DE ETAPA
Nível informação -> é o nível mais elementar. Ele possibilita ao aprendiz conhe-
cer a existência dos elementos de um conteúdo. A capacidade requerida se limi-
ta a de poder nomear ou mostrar os diversos aspectos de um fenômeno, de um
objeto, de uma situação ou de uma disciplina. A exigência não vai além de uma
"vulgarização", na qual o domínio dos conceitos complexos é limitado ao máxi-
mo.
Nível "domínio de uma linguagem" -> sem chegar ainda ao estágio de uma prá-
tica operatória, o aprendiz pode adquirir o domínio de uma ferramenta de leitura
e de expressão dos fenômenos estudados. Ele pode, assim, estar em condição
de colaborar com especialistas da área envolvida ou de contribuir com uma e-
quipe pluridisciplinar.
Nível "domínio metodológico" -> Em certos casos, o aprendiz deverá ser capaz
não somente de utilizar um instrumento ou de implementar um método em cir-
cunstâncias particulares, mas também de elaborar novas abordagens, criar no-
vas ferramentas, abrir novos domínios de aplicação. Esta faculdade a transpor
supõe o atingimento prévio dos níveis precedentes. Nesse estágio, o aprendiz
deverá estar em condições, por exemplo:
de definir novos indicadores de avaliação dos resultados do treinamento;
de criar um método de avaliação dos custos da não-qualidade de um
produto ou de um serviço;
de construir uma ferramenta de avaliação do potencial do pessoal.
Querer tudo enquadrar em "ser capaz de" conduz a formulações que podem
tangenciar o ridículo.
O realismo e o pragmatismo conduzem a admitir que existe uma pluralidade de
tipos de objetivos e, conseqüentemente, e de formulações dos mesmos. Além
dos objetivos de habilidades, outros objetivos podem existir em termos de evo-
lução de representações, de tomada de consciência, de convicção, de atitudes.
É o caso de algumas ações de preparação de executivos dirigentes. Podere-
mos, por exemplo, ter por objetivo que os participantes, ao final de uma dessas
ações:
Nesse caso, ainda mais que para os objetivos de habilidades, a avaliação dos
objetivos não pode depender de uma concepção herdada da metrologia. Esta
supõe que se possa medir com precisão e objetividade os resultados em relação
aos objetivos. Este modelo tem certamente a vantagem de ser simples, mas ele
encontra seus limites em face da complexidade de certas ações de profissiona-
lização.
Não seria mais conveniente, principalmente nas ações com objetivos de evolu-
ções de representações, privilegiar as atividades situacionais (produções, proje-
tos, obras, narrações...), nos quais os participantes teriam não somente de reali-
zar, mas também de explicitar porque e como eles se comportam para fazê-lo ?
Cada aprendiz parte com um duplo objetivo: realizar da melhor forma possível o
percurso e registrar o que descobriu ou aprendeu. Ele acumula assim os papéis
de piloto e dos sábios que partilham a mesma aventura nas caravelas das gran-
des descobertas.
Este último descreve o que foi adquirido, os objetivos que foram atingidos. O
portfólio - ou a carta pessoal de competências - para utilizar a expressão pro-
posta pelo Livre Blanc de la Commission Européenne sur la société cognitive
(1996) - poderia, a nosso ver, distinguir dois tipos de aquisições:
Tomar distância é igualmente necessário para o sujeito para constituir sua iden-
tidade profissional, para organizar com sentido o seu percursos, para constituir
uma memória de sua história.
Todo navegador sério não pode deixar de escutar e de levar em conta a meteo-
rologia. Não embarcamos ou voamos se as condições meteorológicas são muito
desfavoráveis. Acontece o mesmo com a navegação profissional: as pessoas
não se engajarão em projetos de profissionalização se as condições não forem
reunidas para motivá-los e para tornar possíveis os projetos.