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PROJETOS DE SERVIÇOS
RIO DE JANEIRO – RJ
2018
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
PROGRAMA FGV MANAGEMENT
MBA EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS
André Barcaui
Coordenador Acadêmico Executivo
Este trabalho tem por objetivo trazer uma ampliação dos conhecimentos sobre a
abordagem ágil Design Thinking, através de uma revisão bibliográfica e da análise
de um estudo de caso, a fim de propor boas práticas para sua aplicação em projetos
de serviços. Para tanto, é conceituado o pensamento do design e são definidos os
princípios, valores e processos do referido modelo mental. Além disso, apresenta-se
pesquisa sobre a empresa Airbnb e a adoção do método em seus trabalhos. Ao
final, são recomendadas ações para soluções inovadoras, como criar empatia com o
cliente, promover um ambiente organizacional criativo, incentivar a equipe a obter o
máximo de insights acerca de um problema e testar a solução com os usuários.
This work aims to increase the knowledge about the Design Thinking method through
a bibliographical review and the analysis of a case study, to propose good practices
for its application in service projects. For this, the design thinking is conceptualized
and its principles, values and processes are defined. In addition, it’s presented a
research on the company Airbnb and the adoption of the method in their works. In
the end, it’s recommended actions for innovative solutions such as developing
customer empathy, promoting a creative organizational environment, encouraging
team to get more insights into a problem and testing the solution with users.
1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………….10
2. FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA: O MODELO DESIGN THINKING...……13
2.1. Conceituação………………………………………………………......…..13
2.2. Princípios e valores.........………………………………………………...15
2.3. Modelos de processo..............……..……………………………………20
2.3.1. O modelo Human-Centered Design (HCD), da IDEO…...........……..20
2.3.2. O modelo da d.school (Stanford University).................…………….28
2.3.3. O modelo Double Diamond, da Design Council UK..............………29
3. METODOLOGIA DE PESQUISA……………………………………………..32
4. DIÁLOGO COM A PRÁTICA: ESTUDO DE CASO DA AIRBNB……..…33
4.1. Descrição da empresa........……………………………………………...33
4.2. O projeto...………………………………………………………….....……37
5. ANÁLISE DE RESULTADOS E PROPOSTA DE BOAS PRÁTICAS..….43
6. CONCLUSÃO………………………………………………………………..…45
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1. INTRODUÇÃO
organizações globais aderiram ao novo modelo mental e outra publicação foi feita
pelo movimento em 2005, intitulada a “Declaração de Interdependência”.
Diante desse contexto, é possível formular o problema central do presente
trabalho: de que forma as metodologias ágeis podem contribuir para entregar
projetos bem-sucedidos no mundo complexo de hoje?
Para responder a essa questão, a pesquisa tratará da aplicação de uma
abordagem ágil no gerenciamento de projetos, focada em inovação para pessoas.
O estudo se mostra relevante atualmente já que, segundo Conforto (2015,
p.11), “modelos de agilidade, métodos híbridos e agilidade organizacional são
assuntos que estão em pauta nas organizações, pois há um consenso de que a
inovação é a melhor estratégia para se manterem competitivas”. Além disso, em
artigo para a Forbes, Stigliani (2018, tradução nossa), afirma que para sobreviver e
ter sucesso no mundo complexo de hoje, as empresas precisam gerar produtos e
serviços que melhorem a vida de seus clientes, além de serem capazes de ver o
mundo através dos seus olhos e corações.
Assim, para que se possa aprofundar no tema, a pesquisa se limitará a
analisar relatos de empresas globais que adotaram a abordagem ágil Design
Thinking no desenvolvimento de projetos de serviços.
A escolha do modelo se deve ao fato de, em sua essência, prezar pela
empatia com as pessoas para as quais se projeta um produto ou serviço. Empresas
como Apple, Uber, Netflix e Nintendo o adotaram e acabaram mudando as regras de
mercados inteiros. (STIGLIANI, 2018, tradução nossa).
Já a restrição do estudo ao segmento econômico se deve à importância do
setor de serviços para a economia brasileira e para o crescimento das atividades
empresariais em todo o país. Segundo dados das Contas Nacionais Trimestrais do
IBGE (2017), a representatividade desse setor saltou de 53,3% do valor adicionado
ao Produto Interno Bruto (PIB) em 2003 para 60,8% em 2016. No que se refere ao
comércio internacional, de acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC),
o volume movimentado, em 2015, foi de US$ 9,36 trilhões, com expectativa de
crescimento para os próximos anos. (MDIC, 2017).
O objetivo geral desse trabalho, portanto, é ampliar os conhecimentos sobre o
Design Thinking e propor boas práticas para sua aplicação em projetos de serviços.
Para alcançar o objetivo geral, serão tomadas as seguintes ações: a) Estudar a
abordagem Design Thinking, seus principais conceitos e processos; b) Identificar e
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2.1. Conceituação
(2017b, p. 24), “quanto mais rápido fizer isso, mais insights surgirão do processo e
mais cedo você aprenderá com os seus erros”. Diante dessa perspectiva, é possível
ganhar velocidade no desenvolvimento de novos negócios. (ECHOS, 2017b)
O GAP também defende a adoção do método iterativo de entregas baseadas
em funcionalidades. Segundo Highsmith (2012, p. 34), “conquistar valor cedo e
constantemente pode melhorar (...) o retorno sobre o investimento do projeto e
utilizar entregas iterativas, baseadas em características, é a prática fundamental
para tornar isso possível”.
O desenvolvimento iterativo, na visão do ágil, é definido como a construção
de uma versão parcial da entrega final, que será expandida através de revisões e
adaptações realizadas em curtos períodos de tempo (ou seja, os timeboxes). Os
prazos devem ser curtos para forçar a equipe a fazer algo concreto antes de estar,
de fato, pronto. Com a prática, Highsmith (2012, p. 37) percebeu que, mais do que
relacionados com o tempo, “(...) os timeboxes têm a ver com forçar as decisões
difíceis”, como por exemplo, deixar de entregar recursos em uma iteração.
Acrescenta-se ainda que as entregas parciais baseadas em características
mais próximas do resultado final são fundamentais para que os clientes confirmem o
valor de uma determinada funcionalidade ou visualizem se o projeto vai funcionar.
Esse é o caso de muitos projetos cujas exigências evoluem com o tempo. Assim, o
feedback no término de uma iteração funciona como um processo de autocorreção –
se aplicado corretamente nas próximas entregas, contribuem para aumentar a
confiança do cliente no produto final. (HIGHSMITH, 2012)
O terceiro e último princípio do Design Thinking descrito por Bernhard Doll,
que se assemelha aos princípios que guiam o GAP, é a seleção de uma equipe
interdisciplinar, com formações e vivências variadas, para conduzir os projetos.
(ECHOS, 2017b)
Cabe, nesse caso, diferenciar grupos interdisciplinares de multidisciplinares.
Em grupos multidisciplinares, é comum o profissional defender sua própria
especialidade e o projeto se tornar uma negociação entre as áreas técnicas
envolvidas. Já em grupos interdisciplinares, existe “uma propriedade de ideias
coletivas e todos são responsáveis por elas”. (BROWN, 2009, apud DEMARCHI,
2011, p. 131)
Echos (2017c) reitera que o trabalho a ser desenvolvido é mérito da equipe.
Todos podem contribuir com uma visão única sobre o desafio apresentado e de
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investimento. Novos mini-pilotos são possíveis até que as propostas e seus sistemas
de suporte estejam aperfeiçoados. (IDEO, 2009)
Por fim, mesmo depois de implementadas, é importante que a equipe
continue a aprender sobre o desempenho das soluções. Trata-se de um processo
contínuo de coletar opiniões dos usuários e monitorar indicadores de desempenho e
resultados do projeto. Isso permitirá que as propostas se tornem mais efetivas,
apropriadas ou menos custosas. (IDEO, 2009)
3. METODOLOGIA DE PESQUISA
1 De acordo com Agrião (2015, p. 1), “marketplace nada mais é que um shopping virtual
abastecido por diversos produtos e/ ou serviços (...) de um mesmo segmento ou não”. O autor ainda
afirma que diversas empresas contribuem com esse abastecimento, formando um grande e variado
comércio online.
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2 A expressão remete a uma situação pela qual os fundadores passaram no primeiro ano da
Airbnb. Como deviam USD $40.000,00 e lutavam para conseguir clientes, eles decidiram vender
cereais matinais em caixas temáticas da campanha presidencial norte-americana de 2008. Os amigos
quase quitaram a dívida e ainda receberam divulgação da imprensa para a plataforma online. O
espírito do “cereal”, em outras palavras, é não descartar ideias aparentemente tolas, pois elas podem
funcionar. (LATTICE, 2017, p. 1, tradução nossa)
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equipe reflita isso também”. Com base nessa visão, o departamento de Design que
Dill coordenava é composto por designers de formações distintas: algumas eram
bailarinas, outros trabalhavam com marcenaria e até ex-piloto foi contratado. Essas
pessoas trazem diferentes perspectivas para o negócio e ter uma visão mais ampla
contribui para a Airbnb criar um design melhor para o usuário. (TOA16, 2016,
tradução nossa).
A cultura da empresa também pode ser observada na arquitetura dos
escritórios (figuras 7 e 8). De planta aberta, os espaços foram projetados para
permitir que os funcionários escolham onde e como querem trabalhar em qualquer
dia, embora eles tenham estações de trabalho. Cada sala tem uma aparência única,
sendo muitas delas reproduções autênticas das ofertas de hospedagem de todo o
mundo. (GENSLER, 2017, p. 1, tradução nossa)
4.2 O projeto
3 Bed and breakfast é o tipo de hospedagem que, geralmente, disponibiliza apenas cama e
café da manhã para o hóspede. A acomodação, frequentemente, está situada em casas particulares
e a estadia costuma ser de curta duração.
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que seria criado um website, no qual os anfitriões publicariam fotos dos seus
quartos, banheiros e outros ambientes íntimos e convidariam pessoas
desconhecidas para dormir em seus lares. (TED TALKS, 2016).
Como premissa, os fundadores da Airbnb assumiram que haveria confiança
na relação entre os indivíduos desse tipo de hospedagem. Mas, naquela época, era
inconcebível permitir que estranhos dormissem nas suas casas, já que o
desconhecido era associado a perigo. Outros websites que ofereciam aluguel de
apartamentos, como o norte-americano Craigslist, enfrentavam o mesmo desafio. E
diante dessa concepção é que a maioria dos investidores recusou financiar o
projeto. (STARTUP XPRESS, 2017, tradução nossa)
O primeiro ano do negócio foi marcado por ajustes e novos lançamentos da
plataforma online. Influenciados pela mentalidade dominante no Vale do Silício,
cujos problemas eram solucionados apenas com códigos de programação, Gebbia,
Chesky e Blecharczyk tiveram dificuldades para planejar o crescimento do
empreendimento, além de receberem críticas dos primeiros anfitriões quanto ao
prazo de pagamento das estadias. Após cinco lançamentos do website, a Airbnb
conquistou o primeiro investidor, a aceleradora de empresas norte-americana Y
Combinator. Em uma reunião com Paul Graham, um dos seus criadores, os amigos
ouviram o que funcionaria como gatilho para a condução criativa do negócio: “Saiam
do apartamento, fujam dos computadores, vão para o mundo real e conheçam as
pessoas que compõem e consomem o seu serviço. Vão falar com eles”.
(DESIGN+STARTUP, 2013, tradução nossa)
Dentre sessões de brainstorming e idas à campo para coletas de insights, o
momento mais marcante para a Airbnb foi em 2009, quando os fundadores notaram
um padrão entre as quarenta ofertas de hospedagem disponíveis na plataforma.
Segundo Gebbia, a semelhança foi a baixa qualidade das fotos. Os anfitriões
fotografavam com a câmera de seus celulares, algumas vezes à noite, ou utilizavam
imagens de divulgação, exibidas em outros websites. Diante disso, concluíram que
não era à toa que as pessoas não reservavam quartos. (DESIGN+STARTUP, 2013,
tradução nossa)
Assim, no contexto de ir ao encontro do seu público, eles experimentaram ir
para Nova York (onde residia boa parte de seus clientes) por um final de semana,
alugar uma câmera profissional e fotografar as casas. O resultado dessa iniciativa
pôde ser visto na receita da companhia. Naquela época, o faturamento era cerca de
40
serviço. Nelas, foram envolvidos aspectos como gênero, faixa etária, localização,
motivos para a hospedagem, sensações, entre outros. (KESSLER, 2012, p. 1,
tradução nossa)
Os storyboards finais documentam experiências sob diversas perspectivas,
como ilustram as figuras 10 e 11. Na história do anfitrião, por exemplo, há uma
situação em que os personagens pensam sobre o que poderiam fazer com a renda
extra. Quanto ao hóspede, há um quadro denominado "o momento da verdade", em
que o viajante chega ao espaço que alugou e, imediatamente, pensa se isso seria
uma boa ideia. Com base nesse trabalho, foi realizada uma reunião de brainstorming
para, finalmente, definir o próximo grande passo da Airbnb. E uma das primeiras
constatações foi que o serviço prestado não era apenas administrar uma plataforma
online, mas, sim, assegurar uma experiência offline, dentro e ao redor das ofertas de
hospedagem exibidas no website. (KESSLER, 2012, p. 1, tradução nossa)
6. CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AFP – Agence France-Presse. Nova York promulga legislação contra Airbnb e sites
semelhantes. O Globo, 2018. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/economia/nova-york-promulga-legislacao-contra-airbnb-
sites-semelhantes-22955622. Acesso em: 13 ago. 2018.
BENNETT, N.; LEMOINE, G. J. What VUCA really means for you. Harvard
Business Review, Jan./Feb. 2014 Issue, USA, 2014. Disponível em:
https://hbr.org/2014/01/what-vuca-really-means-for-you. Acesso em: 08 jun. 2018.
BLOOMBERG NEWS. Airbnb recebe ultimato para se adequar aos padrões dos
consumidores da União Europeia. O Globo, 2018. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/economia/airbnb-recebe-ultimato-para-se-adequar-aos-
padroes-dos-consumidores-da-uniao-europeia-22893636. Acesso em: 13 ago. 2018.
COHEN, Reuven. Design Thinking: A unified framework for innovation. Forbes. USA,
2014. Disponível em:
https://www.forbes.com/sites/reuvencohen/2014/03/31/design-thinking-a-unified-
framework-for-innovation. Acesso em: 08 jun. 2018.
HIGHSMITH, Jim. Gerenciamento ágil de projeto. 1.ed. Rio de Janeiro: Alta Books,
2012.
KESSLER, Sarah. How Snow White Helped Airbnb’s Mobile Mission. Fast
Company. USA, 2012. Disponível em:
https://www.fastcompany.com/3002813/how-snow-white-helped-airbnbs-mobile-
mission. Acesso em: 12 ago. 2018.
LATTICE. How defining values and culture helped Airbnb achieve worldwide
success. USA, 2017. Disponível em: https://lattice.com/blog/how-defining-values-
and-culture-helped-airbnb-achie/. Acesso em: 12 ago. 2018.
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NIGHLINE – THE DEEP DIVE. Criação: Roone Arledge. Apresentação: Ted Koppel.
Washington, DC: ABC News Productions, 07/13/1999. 21 min. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=nbwS43DBYIU Acesso em: 15 jun. 2018.
TED TALKS: JOE GEBBIA. Produção: TED Conferences. Tradução: Thais Leo.
Revisão: Gustavo Rocha. Vancouver, Canada: TED Conferences, 02/16/2016. 16
min. Disponível em:
https://www.ted.com/talks/joe_gebbia_how_airbnb_designs_for_trust?language=pt-
br. Acesso em: 12 ago. 2018.
ZALESKI, Olivia. Inside Airbnb’s battle to stay private. Bloomberg. USA, 2018.
Disponível em: https://www.bloomberg.com/news/articles/2018-02-06/inside-airbnb-
s-battle-to-stay-private. Acesso em: 12 ago. 2018.