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Giulliano Polito
Diretor de obras da Lorenge, Project Management Professional e doutor em engenharia
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
polito@polito.eng.br
Lean Construction
O pensamento Lean é fundamentalmente uma filosofia que busca a geração de valor para
o cliente e a melhoria contínua dos resultados. Não é somente a aplicação de ferramentas
e técnicas organizadas. Trata-se de uma mudança cultural que deve ser estruturada
dentro de uma estratégia de transformação da companhia. O pensamento Lean se baseia
em cinco princípios: Criar valor (definido pelo cliente); Fluxo de valor (identificar e eliminar
o que não agrega valor); Fluxo (produção em fluxo, estável e sem interrupções); Puxar
(produzir somente quando demandado pelo cliente ou processo anterior) e Perfeição
(busca incansável pela melhoria, por meio da rápida identificação e solução de
problemas). Colocados nessa sequência, representam um guia para implantação da
filosofia Lean. Em 2008 foi proposto pela Comunidade Lean Thinking (CLT) a adoção de
mais dois princípios: conhecer as partes interessadas e inovar sempre, com o objetivo de
direcionar as empresas rumo a altos níveis de desempenho (figura 1).
Figura 1 - Os sete princípios Lean Thinking revistos (fonte: CLT, 2008)
Na década de 1990 um novo referencial teórico foi desenvolvido para gestão de processos
na construção civil, com o objetivo de adaptar os conceitos do Lean Production às
especificidades do setor. Esse movimento teve seu início marcado pela publicação do
trabalho "Application of the New Production Philosophy in the Construction Industry", no
Proceedings of PMI Research Conference 2002, por Lauri Koskela.
As empresas existem para criar valor. A ideia de geração de valor está diretamente
relacionada à satisfação do cliente e, simultaneamente, de todas as partes interessadas,
não sendo inerente à execução de um processo. Um processo só gera valor se
transformar matérias-primas em produtos requeridos pelos clientes, internos ou externos.
Dessa forma, é fundamental iniciar a implantação da filosofia Lean pela identificação
precisa do que representa, ou não, valor para o cliente. Estima-se que cerca de 70% do
tempo gasto pelos trabalhadores da construção civil não agrega valor: transporte, estoque
e retrabalho (Formoso e Lantelme, 2002). Sem a compreensão dessas atividades de fluxo,
torna-se difícil a eliminação das causas de improdutividade. O conceito Lean Construction
é definido por 11 princípios, com grande interação e reforço mútuo entre eles:
Aumento da transparência
Busca-se com a transparência facilitar a identificação de erros, para identificar
oportunidades de melhoria, disponibilizar informações para realização das atividades e
envolver a equipe no processo de melhoria. Eliminação de tapumes, demarcação de
áreas, comunicação visual e o uso de indicadores de desempenho são formas de
aumentar a transparência.
Foco no controle de todo o processo
É muito importante não perder a visão do todo quando atuamos em atividades específicas
dentro de um processo. Esse é um risco real dentro da indústria da construção civil, uma
vez que existem muitos envolvidos no processo: projetistas diversos, fornecedores de
materiais, subempreiteiros etc. As melhorias nos fluxos devem preceder as melhorias no
processamento. É preciso criar uma visão sistêmica em toda a equipe.
Benchmarking
É necessário que o tempo todo tenhamos um olho voltado para dentro da empresa (busca
da melhoria contínua) e um olho voltado para o mercado (inovações). Não é possível falar
em excelência e aumento de produtividade sem tratar de informações comparativas e
identificação de oportunidades de melhoria. Deve ser um processo estruturado dentro da
companhia.
O GPD pode ser definido como um meio para se conduzirem mudanças rigorosas de
forma estruturada e controlada, objetivando transformar estratégias em realidade, ou seja,
tirar a estratégia do papel. O GPD permite o rompimento com a situação atual para o
atingimento dos resultados almejados.
Com base nas diretrizes, são definidas as metas da organização. As metas devem ser
atingíveis, porém audaciosas. Devem estar acima de sua capacidade atual em atingi-las
de forma a exigir um crescimento da organização para tal. Quando o desdobramento das
metas é numérico, existe uma maior probabilidade de se atingir esse resultado. No
desdobramento das metas é necessário extrair todo o conhecimento da equipe e promover
o entusiasmo e a determinação de atingi-las. É também um momento de criar um
compromisso de todos com os objetivos.
Para o acompanhamento das metas são definidos itens de controle. Eles devem ser
verificados sistematicamente, de forma que, ao se perceber desvios em relação à meta, as
causas desses desvios sejam identificadas. Gerenciar é atuar sobre essas causas. Esse
processo faz girar o PDCA e não deve ser utilizado apenas para se pressionar a equipe
por resultados. Quando ações tomadas para solucionar problemas não obtiverem sucesso,
não basta encontrar uma explicação. É preciso esclarecer os motivos da ineficácia das
ações e quais novas ações reverterão o resultado. O conhecimento das causas de
variações - positivas ou negativas - nos resultados promove a melhoria do processo de
planejamento dos ciclos futuros e um maior conhecimento do processo. Reuniões
periódicas de acompanhamento dos resultados devem ocorrer também em todos os
níveis, sendo que devem iniciar pelas equipes próximas à operação, seguido pelas
gerências e diretoria (de baixo para cima).
É preciso existir um equilíbrio na definição das metas. Avaliar os gerentes somente pelos
resultados de prazo e custo leva-os a negligenciar os processos que produzem esse
resultado. É preciso que o gerente esteja sempre atento ao processo que produz o
resultado, de forma a identificar os erros, analisar e promover a melhoria contínua. Para
um gerente, não basta cobrar resultados; ele deve assumir a responsabilidade de levar a
equipe ao atingimento das metas. São condições fundamentais para implantação do GPD
a liderança e a motivação de todos os colaboradores.
O aumento da maturidade da equipe nos métodos de análise leva tempo e não existem
atalhos. O que realmente melhora o resultado da empresa é desenvolver em todos os
seus colaboradores a capacidade de atingir metas. Não adianta sofisticar o gerenciamento
pelas diretrizes sem disciplina e estabilidade na operação. O GPD só mostrará
completamente seus frutos se a gestão da rotina do dia a dia dos empreendimentos estiver
sendo amplamente praticada.
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