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MANUAL PRÁTICO

Terapia Cognitivo-
Comportamental
ESQUIZOFRENIA:
SINTOMAS POSITIVOS
A esquizofrenia altera o modo como o indivíduo pensa, sente e age. Cada indivíduo
é afetado de modo diferente por tal transtorno. Os sintomas também podem estar
presentes em um momento ou período e estar ausentes em outros, nenhum indi-
víduo apresenta todos os sintomas da esquizofrenia e nem estes estão presente o
tempo todo. Os sintomas costumam se manifestar mais cedo nos homens que nas
mulheres, geralmente costumam se expressar no final da adolescência ou início
da vida adulta. Frequentemente, ocorre uma mudança gradual na pessoa antes do
início dos sintomas óbvios. Este período é conhecido como fase prodrômica.
Quando a doença está em pleno desenvolvimento, apresentando sintomas graves,
o indivíduo com esquizofrenia não consegue distinguir se certas ideias e percep-
ções são reais ou imaginadas, mas à medida que este indivíduo envelhece, há uma
tendência à redução da frequência e intensidade dos sintomas.
É importante ressaltar que muitas pessoas com a doença geralmente não sabem
que há tratamentos eficazes com médicos e psicólogos. Elas sequer vão perceber
que algo está muito inadequado consigo, não percebem os sintomas ou não conse-
guem pensar adequadamente acerca destes, mas apenas no conteúdo produzido
por tais sintomas, muitas vezes atribuídos ao estresse, cansaço ou outras doenças.
Muitos dos sintomas da esquizofrenia são definidos como positivos. Os sintomas
positivos são ideias, percepções ou ações altamente exageradas que mostram que
a pessoa não consegue discernir entre a realidade e a imaginação. Aqui, a palavra
“positivo” significa a presença (em vez da ausência) de sintomas. Esses sintomas se
distinguem em alucinações, delírios, pensamentos ou discursos desorganizados e
comportamento desorganizado ou catatônico.
As alucinações são crenças que podem se manifestar no indivíduo através dos qua-
tro sentidos, os indivíduos com esquizofrenia podem ouvir, ver, sentir cheiros ou sa-
bores que ninguém mais sente. Os tipos de alucinações na esquizofrenia incluem:

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z Auditiva: a pessoa ouve vozes com mais frequência. Essas vozes podem estar com
raiva ou com urgência, exigindo que indivíduo realize determinados atos. Podem
soar como uma ou várias vozes. Elas podem, por exemplo, sussurrar, murmurar,
gritar ou ficar zangados e exigentes;
z Visual: os pacientes podem ver luzes, clarões, objetos, pessoas, entre outros.
Frequentemente, são entes queridos ou amigos já falecidos, seres monstruosos,
extraterrestres, entre muitos outros. Podem apresentar problemas com a percepção
de profundidade e distância;
z Olfativa e gustativa: este tipo de alucinação é menos comum no relato dos
pacientes, ou geralmente não é dada a devida atenção. Isso pode incluir gostos,
sabores e cheiros bons e ruins. O indivíduo pode acreditar que está sendo
envenenado e se recusar a se alimentar ou ingerir medicações ou ainda beber
algum líquido. Pode relatar que sente um cheiro muito forte em sua casa, no seu
quarto, que o afeta profundamente, o deixa ansioso, irritado ou deprimido, mas
ninguém sente o cheiro referido.
z Tátil: Este tipo de alucinação cria uma sensação de coisas se movendo no corpo
do paciente, como mãos, cordas, vermes ou insetos. Por exemplo, um indivíduo
pode acreditar que tem um inseto se movimentando por suas veias sanguíneas
e ficar demasiadamente perturbado.

Os delírios são crenças que parecem estranhas para a maioria das pessoas e podem
ser facilmente comprovadas como erradas ou sem sentido. A pessoa afetada pode
acreditar que alguém está tentando controlá-lo por meio de um “chip” implanta-
do em seu cérebro; que a televisão é um tipo de monitor de agentes secretos que
querem pegá-lo; pode acreditar que é outra pessoa, como um ator famoso ou o
presidente da república, ou ainda uma divindade e ou que têm superpoderes. Os
tipos de delírios incluem:
z Delírios persecutórios: a sensação de que alguém está atrás do indivíduo ou que
o indivíduo está sendo perseguido, caçado, incriminado ou enganado;
z Delírios grandiosos: o indivíduo se considera uma figura importante no cenário
local ou mundial, como um artista ou um político proeminente;

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z Delírios referenciais: quando uma pessoa acredita que as formas públicas de
comunicação, como letras de músicas ou um gesto de um apresentador de TV,
são uma mensagem especial apenas para ela;
z Delírios erotomaníacos: uma pessoa pode estar convencida de que uma celebridade
está apaixonada por ela ou que seu parceiro a está traindo. Ou eles podem pensar
que as pessoas por quem eles não se sentem atraídos os estão perseguindo;
z Delírios niilistas: ideias niilistas de negação e distorção da realidade;
z Delírios somáticos: estes se concentram no corpo, a pessoa pensa que tem uma
doença terrível ou um problema bizarro de saúde, como vermes sob a pele ou
danos causados ​​pelos raios cósmicos, podem se tornar hipocondríacos;
z Delírios religiosos ou místicos: o indivíduo pode pensar que tem um relacionamento
especial com uma divindade ou que está possuído por espíritos ou demônios.

Os pensamentos confusos e discurso desorganizado se apresentam como dificul-


dades ou não capacidade em organizar os pensamentos e expressá-los através de
um discurso lógico. Os indivíduos com esquizofrenia podem não ser capazes de
acompanhar a lógica do discurso de outra pessoa; por isso, pode parecer que eles
estão distraídos ou não estão dando atenção adequada ou a devida importância ao
que lhe é dito. Quando falam, seu discurso pode parecer confuso, desconectado e
não fazer sentido. Esses pensamentos podem se relacionar a problemas de concen-
tração, por exemplo; o indivíduo pode perder o foco do assunto em uma conversa
ou o desenvolvimento de uma reportagem, programa ou filme na TV, mesmo apa-
rentemente dando a devida atenção.
O comportamento desorganizado ou catatônico é relativo aos distúrbios do movi-
mento; por exemplo, algumas pessoas com esquizofrenia podem parecer nervo-
sas, com movimentos repetidos, sem descanso. Apresentam-se vestido de modo
inadequado ou bem estranho, agitados e se comportam em desacordo com as
normas sociais. Mas, às vezes, elas podem ficar perfeitamente paradas por horas
seguidas, o que os especialistas chamam de catatônicos. Ao contrário da crença po-
pular, as pessoas com a doença geralmente não são violentas.

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Exemplo prático
Caso clínico1
C., sexo masculino, 20 anos, está no segundo ano de faculdade. Ele está procuran-
do tratamento devido a temores persistentes de que os seguranças do campus da
universidade onde estuda e a polícia local o estejam rastreando e vigiando. Ele cita
atrasos ocasionais na velocidade da internet como evidência de que dispositivos
de vigilância estão interferindo em seus aparelhos eletrônicos. Sua intensa ansie-
dade sobre isso começou a atrapalhar sua capacidade de concluir os trabalhos aca-
dêmicos e seus amigos estão preocupados. C. diz que lhe disseram: “Isso não faz
sentido”.
C. ocasionalmente ri de forma abrupta e inadequada e, às vezes, para de falar no
meio da frase, olhando para o infinito como se visse ou ouvisse algo. Ele expressa
preocupação com os aparelhos eletrônicos no quarto (telefone, computador) po-
tencialmente monitorados e pergunta repetidamente sobre o sigilo ao terapeuta,
afirmando que deseja ter a certeza de que a polícia não será informada sobre seu
tratamento. Suas crenças são fixas e, se questionadas, ele se irrita e seu tom se tor-
na hostil. C. apresenta, principalmente, sintomas de ansiedade, delírio persecutó-
rio, alucinações visuais e auditivas.
Dentre as muitas estratégias utilizadas no tratamento deste caso, cabe destacar a
psicoeducação da família quanto a esquizofrenia. A Psicoeducação Familiar para
esquizofrenia se refere amplamente a vários modelos diferentes de tratamento
em que os membros da família de uma pessoa com esquizofrenia participam e são
o foco da intervenção. Isso não se baseia na suposição de que a família pode ter a
causadora da esquizofrenia, mas sim no reconhecimento de que as famílias podem
ter um impacto significativo na recuperação e funcionamento de seus parentes.
Os objetivos do psicoeducação da família, centrados no paciente, incluem redu-
zir a recaída, as hospitalizações e melhorar os resultados para a pessoa com es-
quizofrenia. Os objetivos centrados na família são reduzir o sofrimento de lidar
com a doença mental de um membro da família, melhorar as relações pacien-
te-família e diminuir o fardo da doença mental nos familiares. A psicoeducação

1 Para acessar o caso completo: Society of Clinical Psychology (APA Division 12). Family psychoeducation
for schizophrenia. https://div12.org/case_study/chris-psychotic-disorder/.

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da família incorpora educação sobre esquizofrenia, assistência para intervenção
em crises, treinamento para resolução de problemas, suporte emocional e trei-
namento em habilidades de comunicação. As intervenções da psicoeducação
geralmente duram pelo menos nove a dez meses, podem ser conduzidas com
famílias individuais ou em grupos multifamiliares e incluem um foco nos pontos
fortes e resiliência da família.

SISTEMATIZANDO - ESQUIZOFRENIA: SINTOMAS POSITIVOS

Alucinações Auditiva, visual, tátil, olfativa e gustativa.


Esquizofrenia: sintomas positivos

Persecutórios, grandiosos,
Delírios referenciais, erotomaníacos,
niilistas, somáticos e religiosos.

Dificuldades ou não capacidade em


Pensamentos ou discursos
organizar os pensamentos e expressá-
desorganizados
los através de um discurso lógico.

Comportamento
Distúrbios do movimento:
desorganizado ou
agitação ou catatonia.
catatônico

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REFERÊNCIAS

1. American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais (DSM-5). 5. ed. Porto Alegre (RS): Artmed, 2013.
2. Beck, A. Successful outpatient psychotherapy of a chronic schizophrenic
with a delusion based on borrowed guilt. Psychiatry, 15, 305-312, 1998.
3. Savoia, M. G. A interface entre psicologia e psiquiatria. 2.ed. São Paulo: Roca,
2011.
4. Tandon, R., et al., Definition and description of schizophrenia in the DSM-5,
Schizophr. Res. (2013), http://dx.doi.org/10.1016/j.schres.2013.05.028
5. Rezende, M. Superação em esquizofrenia: relato de casos. 2017. Disponível:
<https://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v68n1/1982-0208-jbpsiq-68-01-0061.pdf

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