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FLORIANÓPOLIS 2022
EDUARDO RECHIA KRÜGEL
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Orientador da Monografia
_____________________________________
Coordenador do Curso
FLORIANÓPOLIS 2022
Ao mestre e amigo Dr. Luiz Henrique
Wizniewsky por todos os ensinamentos
sobre a medicina e sobre a vida;
(Dalai Lama)
RESUMO
O uso de álcool faz parte da história da humanidade há milênios, estando inserido na
realidade social. Seu consumo está presente na maioria das culturas, variando, no
entanto, seus padrões de uso, suas funções, seu alcance e sua frequência. Do uso social
ao incontrolável, o álcool é a droga mais consumida no mundo. O consumo excessivo
de bebidas alcoólicas é considerado um grave problema de saúde pública que aumenta o
risco de consequências prejudiciais para o usuário. A dependência a esta substância traz
consequências físicas e psíquicas ao indivíduo, que podem causar incapacidade de
cumprir as obrigações, desorganização familiar, comportamentos agressivos, problemas
de relacionamento interpessoal/social, entre outros. A Síndrome de Abstinência
Alcoólica (SAA) ocorre quando há dependência à substância, sinalizando um consumo
crônico e abusivo. É fomentada quando o indivíduo diminui ou abstém completamente a
ingestão de álcool abruptamente, podendo apresentar um conjunto de sintomas e sinais
característicos. Entretanto, muitos destes sintomas e sinais físicos e psicológicos
considerados como parte da SAA não são patognomônicos, podendo ser insidiosos e
pouco específicos, o que torna a sua identificação e avaliação complexas. Considerando
a heterogeneidade de condutas no tratamento da SAA no Brasil, contrastando com o
sólido conhecimento internacional sobre instruções acerca de sua identificação e
tratamento, o presente estudo busca orientar o profissional de saúde na avaliação,
diagnóstico e tratamento da SAA, bem como nas complicações clínicas e psiquiátricas
associadas, tendo como base protocolos clínicos internacionais consolidados.
The use of alcohol has been part of human history for millennia, linked to social reality.
Its consumption is present in most cultures, but its usage patterns, functions and
frequency vary. From social to uncontrollable use, alcohol is the most consumed drug in
the world. The excessive consumption of alcoholic beverages is considered a serious
public health problem that increases the risk of harmful consequences for the user.
Dependence on this substance brings physical and psychological consequences to the
individual, which can cause incapacity to fulfill obligations, family disorganization,
aggressive behavior, interpersonal / social relationship problems, among others. Alcohol
Withdrawal Syndrome (AWS) occurs when there is dependence on the substance,
signaling chronic and abusive consumption. It is promoted when the individual
completely abstains from alcohol ingestion abruptly and may present a set of
characteristic symptoms and signs. However, many of these physical and psychological
symptoms and signs considered to be part of AWS are not pathognomonic, they can be
insidious and not very specific, which makes their identification and assessment
complex processes. Consult the heterogeneity of conducts in the treatment of SAA in
Brazil, contrasting with the solid international knowledge about instructions on its
identification and treatment, the present study seeks to guide the health professional in
the assessment, diagnosis and treatment of SAA, as well as in clinical complications and
associated psychiatric procedures, based on international clinical procedures.
BZD Benzodiazepínico
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVOS..........................................................................................................16
1.1.1 Objetivo Geral...................................................................................................16
1.1.2 Objetivos Específicos........................................................................................16
1.2 JUSTIFICATIVA..................................................................................................16
1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO..........................................................................17
2. REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................45
5. DISCUSSÃO..............................................................................................................47
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................56
REFERÊNCIAS.............................................................................................................58
14
1 INTRODUÇÃO
1
Os psicoativos são substâncias químicas que agem no sistema nervoso central de quem as consome e
causam alterações na função cerebral.
15
1.1 OBJETIVOS
1.2 JUSTIFICATIVA
Visto que o consumo nocivo do álcool impõe às sociedades de todos os países uma
carga global de agravos indesejáveis e extremamente dispendiosos, que acometem os
indivíduos em todos os domínios de sua vida, o alcoolismo é, hoje, considerado um
problema de saúde pública (MINISTÉRIO DE SAÚDE DO BRASIL, 2003). Desta
forma, torna-se relevante desenvolver estudos que promovam reflexões e propostas de
ações acerca da identificação precoce e prevenção de agravos à saúde dos problemas
relacionados ao consumo de álcool.
Em se tratando dos mecanismos de tratamento farmacológico da SAA, é importante
destacar que, à medida que a medicina evolui e que os estudos baseados em evidências
clínicas se desenvolvem, novas medidas vão sendo ajustadas neste processo, levando
em consideração os riscos e benefícios de cada fármaco com a individualidade de cada
paciente na maneira do tratar.
Diante do alarmante número de problemas sofridos pela população em decorrência
do abuso de álcool e, consequentemente, de seus sintomas após a interrupção total ou
parcial da ingestão desta substância, este estudo justifica-se pela importância de
estruturar medidas baseadas em diretrizes conceituadas e evidências científicas a fim de
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orientar e pontuar a prática médica mais adequada ao tratamento da SAA, visto sua
relevância clínica e recorrência nos hospitais. Foram considerados neste estudo o uso de
medicamentos apontados pelas normas de orientação clínica (guidelines) como mais
relevantes no tratamento da SAA, tais como benzodiazepínicos, tiamina,
anticonvulsivantes, agonistas adrenérgicos alfa-2, betabloqueantes e antipsicótico.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para que possamos entender todo o processo que o paciente necessita percorrer para
ultrapassar os possíveis sintomas de abstinência de bebidas alcoólicas, é necessário
compreender a dependência alcoólica do paciente. (EDWARDS, 1999). Definido como
um conjunto de sinais e sintomas oriundos de diversas causas, o alcoolismo também
pode ser considerado uma síndrome: a Síndrome de Dependência Alcoólica (SDA), pela
qual há o consumo de derivados etílicos de forma contínua ou periódica para obter
prazer, aliviar tensões, ansiedades, medos, sensações físicas desagradáveis, dentre
outras motivações onde o dependente alcoólico acaba por não conseguir controlar o
consumo, agindo de forma impulsiva e repetitiva (EDWARDS, 1999).
Segundo Schenker e Minayo (2005), fatores de risco são condições ou variáveis que
aumentam a possibilidade de resultados negativos para a saúde, o bem-estar, ao
desempenho social e ao sucesso do tratamento do usuário de álcool, enquanto os fatores
de proteção são todos aqueles capazes de dar ênfase aos elementos positivos que levam
um indivíduo a superar as adversidades e, assim, evitar riscos de dependências e de
acirramento de problemas sociais. Conforme as autoras, tanto os fatores de risco quanto
2
Recurso de grande importância que facilita a obtenção de informações, reforça o vínculo e o
engajamento do paciente e já́ é por si só́ uma abordagem terapêutica.
22
Estado no qual a síndrome de abstinência tal como definida no quarto caractere se complica
com a ocorrência de delirium, segundo os critérios em F05. Este estado pode igualmente
comportar convulsões. Quando fatores orgânicos também estão considerados na sua etiologia,
a afecção deve ser classificada em F05.8.
Fonte: CID-10 (1993)
Os sinais e sintomas aparecem em algumas horas ou dias depois que a substância foi
consumida pela última vez (geralmente de 6 a 12 horas após a última dose), e sua
intensidade pode variar de leve a grave. Na forma mais leve de abstinência, os sinais e
sintomas mais comuns são tremores, ansiedade, insônia, náuseas e inquietação, os quais
caracterizam reforço negativo e favorecem muitos pacientes a não procurarem
tratamento e a voltarem a consumir álcool para aliviar os sintomas. Em contrapartida,
sintomas mais graves ocorrem em aproximadamente 10% dos pacientes e incluem febre
baixa, taquipneia, tremores e sudorese profusa (LARANJEIRA et al., 2000).
De acordo com o estudo Guidelines for the Treatment of Alcohol Problems (2009),
não se tem conhecimento específico acerca do nível mínimo de consumo de álcool
necessário para produzir dependência física. Sendo assim, a gravidade da abstinência é
prevista pela quantidade de álcool consumida. Em geral, o consumo crônico de álcool
(por exemplo, 150 gramas de álcool por dia) está associado a maior gravidade da
abstinência do que níveis mais baixos de consumo, embora pessoas com níveis mais
baixos de uso de álcool (por exemplo, 80-100 gramas por dia) possam manifestar graves
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complicações de abstinência.
Além disso, é importante salientar que, segundo o estudo Guidelines for the
Treatment of Alcohol Problems (2009), indivíduos com grande consumo, mas irregular
(por exemplo, 2 a 3 dias por semana) de álcool geralmente não experimentam
abstinência grave, embora outras condições como epilepsia e ansiedade possam ser
"desmascaradas" no período após beber. Portanto, é importante gerenciar esses
indivíduos como se estivessem em risco de abstinência de álcool. A obra também relata
que pacientes com história de SAA grave (como ansiedade grave, convulsões, delirium,
alucinações) têm maior probabilidade de apresentar tais complicações em episódios de
abstinência futuros.
- Escore > 8 – Quadro leve: O paciente pode não necessitar de internação para
desintoxicação a não ser que tenha história de ingestão de álcool nas últimas 6-8 horas,
ou de vários episódios anteriores de abstinência. Nestes casos, deve permanecer em
observação;
- Escores > 15 – Quadro grave: É muito provável que este paciente necessite de
internação clínica, particularmente se estiverem presentes sinais de delirium, como
temperatura elevada, alterações sensoriais e cognitivas.
3 Moderado 7 Contínua
7. Você se sente nervoso (a)? (observação)
0 Não
1 Muito leve
4 Leve
7 Ansiedade grave, um estado de pânico,
semelhante a um episódio psicótico agudo?
8. Você sente algo na cabeça? Tontura, dor, apagamento?
0 Não 4 Moderado / grave
1 Muito leve 5 Grave
2 Leve 6 Muito grave
3 Moderado 7 Extremamente grave
9. Agitação: (observação)
0 Normal
1 Um pouco mais que a atividade normal
4 Moderadamente
7 Constante
10. Que dia é hoje? Onde você está? Quem sou eu? (observação)
0 Orientado
1 Incerto sobre a data, não responde seguramente
2 Desorientado com a data, mas não mais do que 2 dias
3 Desorientado com a data, com mais de 2 dias
4 Desorientado com o lugar e pessoa
Escore total
• Sociais: mora com familiares ou amigos e essa convivência está regular ou boa; sua
atividade produtiva vem sendo desenvolvida, mesmo que atualmente esteja
desempregado/ afastado, a rede social está mantida.
Como descrito acima, o consumo excessivo de álcool pode levar a uma série de
problemas físicos, emocionais e psicológicos. No entanto, é ao tentar parar a sua
ingestão que os maiores desafios aparecem: os sintomas de abstinência do álcool. Viu-
se também que tais sintomas de abstinência surgem nos primeiros dias de tentativa de
afastamento da bebida e se agravam de acordo com a dependência física e psíquica que
se tem do álcool. Eles podem ser bastante simples e leves para algumas pessoas;
entretanto, para outras, pode ocorrer um quadro clínico grave, com risco de vida.
3
Ato do indivíduo ser agressivo consigo próprio, machucando-se ou punindo-se de algum modo; conduta
agressiva direcionada ao mundo externo, outras pessoas ou elementos, manifestando-se em diferentes
graus, desde expressões verbais a gestos agressivos ou violência física.
35
Normalmente:
- Fornecem uma gama de serviços médicos especializados, de enfermagem e de suporte
para o gerenciamento da abstinência, e podem facilitar as opções de tratamento pós-
abstinência;
- Permitem admissões de 7 a 10 dias;
- São para pessoas: (a) com abstinência de álcool moderada a grave ou uma história de
complicações de abstinência (convulsões, delirium, alucinações); (b) abstinência de
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Não existe uma forma única ou absoluta de tratamento, assim como não há a melhor
para todos os pacientes. Do contrário, cada vez mais a ideia de parear o paciente e suas
características pessoais com o tipo de abordagem mais adequada vem orientando os
diversos serviços na busca de uma efetividade satisfatória e de uma melhor relação
custo-benefício (LARANJEIRA et al, 2000). Assim, torna-se interessante relatar que,
segundo Laranjeira et al (2002), o nível de gravidade da SAA aferido pela CIWA-Ar
pode auxiliar na escolha do local mais adequado: com escore igual ou maior que 20 o
paciente deve ser encaminhado para uma unidade hospitalar (emergência) para
internação (Quadro 7), e, escores menores permitem a desintoxicação domiciliar ou
ambulatorial, dependendo dos recursos clínicos, psíquicos, sociais e do local (Quadro
37
6).
Cuidados gerais:
- O paciente deve ser informado com clareza sobre o diagnóstico;
- Esclarecimento adequado e orientações sobre SAA para o paciente e seus
familiares;
SEMANA
Cuidados gerais:
2ª e 3 ª
INTERNAÇÃO HOSPITALAR
38
Cuidados gerais:
SEMANA - Repouso absoluto.
- Redução do estímulo audiovisual.
- Monitorização da glicemia, eletrólitos e hidratação.
1ª
Cuidados gerais:
S
Desse modo, o tratamento da SAA inclui cuidados gerais e orientações, tais como o
monitoramento frequente do paciente; tentativas de propiciar um ambiente tranquilo,
não estimulante, com luminosidade reduzida; fornecimento de orientação ao paciente
(com relação a tempo, local, pessoal e procedimentos); limitação de contatos pessoais;
atenção à nutrição e à reposição de fluidos; reasseguramento dos cuidados e
encorajamento positivo (LARANJEIRA et al., 2000). Além disso, o tratamento da SAA
não deve ser considerado apenas com base na vertente sintética, isto é, não ocorre
apenas de maneira isolada empregando somente o tratamento farmacológico. O sucesso
da terapia farmacológica depende da aplicação de manejos psicoterapêuticos e, portanto,
de uma avaliação do contexto psicossocial do indivíduo. Não há como medicar um
paciente com alcoolismo sem antes analisar seu contexto social como um todo e de
forma individualizada, uma vez que, na maioria dos casos, o paciente apresenta outras
condições de saúde como transtornos depressivos, ansiedade e de personalidade
(PETTINATI, 2005).
saúde devam ser baseadas em evidências robustas, com foco em melhorar a prática
clínica, diminuir a variabilidade de condutas e reduzir custos desnecessários do sistema
de saúde (STEIN; MIGOWSKI, 2017). Assim, as diretrizes clínicas são uma forma
importante de buscar recomendações evidenciadas e identificar quais são os indicadores
de qualidade no atendimento de uma determinada condição de saúde (STEIN;
MIGOWSKI, 2017).
2.2.4.1 Protocolo National Institute for Health and Care Excellence (NICE) – Inglaterra
deste trabalho pois o NICE é reconhecido internacionalmente por sua robustez científica
e pela qualidade e precisão de suas recomendações.
A ASAM, fundada em 1954 nos Estados Unidos, é uma sociedade profissional que
representa mais de 3.600 médicos, clínicos e profissionais associados no campo da
medicina de dependência. A ASAM visa aumentar o acesso e melhorar a qualidade do
tratamento da dependência, educar os médicos e o público, apoiar a pesquisa e a
prevenção e promover o papel apropriado dos médicos no atendimento de pacientes
com dependência (KAMPMAN; JARVIS, 2015). Assim, visto que seus critérios para o
tratamento de pacientes com transtornos por uso de álcool e outras drogas são
amplamente reconhecidos, incluiu-se as orientações do estudo publicado em 2020
denominado Alcohol Withdrawal Management nas considerações deste presente
trabalho.
parenteral.
Além disso, o estudo aborda que não é recomendado o uso de agonistas alfa-2
adrenérgicos ou antagonistas beta-adrenérgicos para prevenir ou tratar convulsões de
abstinência do álcool, porque eles são ineficazes para esse propósito. Antagonistas beta-
adrenérgicos também podem diminuir o limiar convulsivo. Ainda, a fenitoína não deve
ser administrada, a menos que seja para tratar um distúrbio convulsivo subjacente
concomitante.
necessária para tratar delirium pode ser extremamente alta, até 1000 mg de diazepam
equivalentes/dia.
A respeito da reposição vitamínica, o guideline da WFSBP (2017) recomenda a
administração profilática de tiamina por via parenteral em pacientes com sinais ou
sintomas sugestivos da síndrome de Wernicke-Korsakoff. A tiamina parenteral
profilática deve ser administrada antes de iniciar qualquer fluido intravenoso contendo
carboidratos para evitar a precipitação da síndrome de Wernicke-Korsakoff aguda.
Além disso, deve-se realizar um diagnóstico presuntivo desta síndrome para qualquer
paciente com história de dependência de álcool que mostra um ou mais dos seguintes
sinais: oftalmoplegia, ataxia, confusão aguda, perda ou distúrbios de memória,
hipotensão inexplicada, hipotermia, coma ou inconsciência. O tratamento intravenoso
com tiamina é vital neste cenário e deve ser iniciado imediatamente após o diagnóstico.
No entanto, não há menção a respeito da duração ideal do tratamento, dose ou modo de
administração da tiamina.
A administração de agonistas alfa-2 adrenérgicos (A2AAs) na SAA deve ser
realizada apenas em casos específicos, como em pacientes com sintomas de
hiperatividade adrenérgica grave. Nessas circunstâncias, o uso de um simpatolítico
como a clonidina ou um bloqueador alfa-adrenérgico como o atenolol pode ser eficaz,
especialmente em pacientes com pressão arterial sistólica acima de 160mmHg e pressão
arterial diastólica acima de 100 mmHg. Esses medicamentos devem ser evitados em
pacientes desidratados, ou com bloqueios de condução de alto grau. Entretanto, o estudo
não aborda a respeito de doses e vias de administração.
ação curta.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Desse modo, realizou-se uma revisão de literatura que perpassou cinco fases, a saber:
identificação da temática e a elaboração da questão norteadora; a busca na literatura;
avaliação dos dados presentes nos estudos; análise dos dados e síntese destes; e por fim,
apresentação da revisão.
Para a seleção dos artigos, utilizou-se as recomendações dos Principais Itens para
Relatar Revisões Sistemáticas e Meta-Análises (Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta-Analyses - PRISMA), adaptando para revisão integrativa,
com os seguintes critérios de inclusão: artigos completos disponíveis gratuitamente nos
idiomas português, inglês ou espanhol, sem recorte temporal. Foram excluídos os
artigos duplicados e que não responderam diretamente à pergunta norteadora.
Neste mecanismo de pesquisa, buscou-se um conjunto de evidências empíricas em
protocolos, nas quais suas singularidades e divergências foram avaliadas em termos de
objetivos, escolha de instrumentos para avaliações e manejo. Foram analisados cinco
protocolos de países da América do Sul, América do Norte, Europa e internacional,
cujos critérios de escolha foram o grau de competência (expertise) das instituições, o
grau de qualidade dos participantes, o tema e as evidências científicas.
Das diretrizes e outros estudos analisados, foram retiradas informações sobre
alcoolismo e suas dimensões, especialmente a síndrome de abstinência alcoólica (SAA).
Entre eles buscou-se responder perguntas sobre a intoxicação alcoólica e o manejo,
avaliação de dependentes de álcool e a estratificação de risco para SAA nesses
pacientes. É relevante destacar que o foco principal da pesquisa foi a SAA, em que
procurou-se destacar informações como sua avaliação, ferramentas para estratificar
níveis de gravidade, avaliação de preditores de gravidade de SAA, complicações e quais
48
4. DISCUSSÃO
uma breve abordagem com determinados questionamentos acerca do uso do álcool, bem
como a(s) principal(ais) motivação(ões) que levou(aram) o paciente a interromper o
consumo da substância. Existem diversos motivos que levam os pacientes a diminuir,
ou cessar, o consumo de álcool, seja uma internação involuntária por um problema
clínico, uma afecção aguda que não permita com que o paciente busque pela substância,
impossibilidade financeira, ou, até mesmo, uma iniciativa própria do paciente na busca
pela interrupção do consumo de álcool.
Dessa forma, é essencial compreender a história do paciente acerca do uso do álcool,
e, durante a entrevista médica, coletar informações do início, durabilidade, como se deu
a evolução, características da dor (se houver), dados sobre as patologias atuais (se
houver), dentre outras abordagens. É neste momento em que deve ocorrer a seleção e
interpretação de "pistas", a partir de um "olhar" do profissional de saúde que abrange
vários níveis de informações. Na prática, o profissional de saúde se depara com a
individualidade e a particularidade de cada caso, porque, embora a doença seja definida
e classificada em compêndios de Medicina, a resposta humana a esse evento não é a
mesma em todos os indivíduos (AQUINO et al, 2012). A história do uso do álcool pode
ser compreendida com alguns questionamentos, tais como:
cada 15 minutos para uma melhor tomada de decisão, e, à medida que ocorre melhora
nos índices de gravidade, é possível espaçar as reaplicações a cada 8 horas.
Visto a não padronização dos resultados da escala CIWA-Ar na avaliação do nível de
gravidade da SAA, considera-se, neste estudo, que escores menores que 8 caracterizam
uma SAA leve, escores de 8 a 15 representam um quadro moderado e escores maior que
15, uma SAA grave.
Em pacientes com SAA classificada no nível leve a moderado, o tratamento
ambulatorial é indicado, e o paciente deverá comparecer à clínica ou hospital para ser
acompanhado pelo(s) médico(s) responsável(veis). Deve-se orientar a família e o
paciente quanto à natureza do problema, sobre o tratamento e a respeito da evolução do
quadro; propiciar ambiente calmo, confortável e com pouca estimulação audiovisual, na
medida em que os parâmetros de eficácia do tratamento são a melhora progressiva dos
sintomas da SAA e a ausência de sedação excessiva ao longo da desintoxicação.
Pacientes que vivem em ambiente doméstico instável, mesmo com quadro leve, devem
ser preferencialmente manejados em ambiente hospitalar.
Pacientes com SAA classificada pela escala CIWA-Ar no nível grave devem receber
o tratamento em ambiente hospitalar devido à necessidade de altos níveis de cuidados,
possibilidade de estado confusional, presença frequente de complicações clínicas
associadas, necessidade de exames laboratoriais de controle e manejo das doses dos
medicamentos e, por fim, à demanda de doses elevadas de BZDs. A internação
hospitalar deve ser oferecida aos pacientes com abstinência alcoólica aguda na presença
de convulsões e/ou delirium tremens, bem como a pacientes vulneráveis, seja devido a
uma fragilidade social, déficits cognitivos, ou então com comorbidades clínica ou
psiquiátrica associadas.
Em relação ao tratamento, evidencia-se, como demonstrado na Figura 2, que os
fármacos de primeira linha para a prevenção e tratamento dos sinais e sintomas
relacionados à SAA são os BZDs, devendo ser administrados tão logo o diagnóstico
seja estabelecido. Os BZDs são efetivos para reduzir sintomas chaves da SAA, como
ansiedade, agitação, hiperatividade autonómica, além de reduzir chances de
complicações, como convulsões e delirium tremens. Nenhum BZD isolado é melhor que
outro, sendo que os principais medicamentos descritos na literatura são o diazepam,
oxazepam, lorazepam, alprazolam e clorodiazepóxido.
Entretanto, em longo prazo, os BZDs não devem ser administrados devido ao seu
grande risco de potencial de abuso (BLONDELL, 2005). Visto que os efeitos exercidos
52
300mg/ dia por via oral por 4 semanas. Em caso de suspeita de encefalopatia de
Wernicke, doses superiores de tiamina são necessárias (600mg/dia) (NICE, 2011).
Por fim, a prescrição de agonistas adrenérgicos alfa-2 e de betabloqueadores pode ser
realizada em combinação com a prescrição de BZDs para controlar hipertensão
persistente ou taquicardia, bem como hiperatividade autonômica e ansiedade, quando
esses sinais não são controlados apenas pelos BZDs. (LARANJEIRA et al, 2000)
Como demonstrado no quadro a seguir (Quadro 8), se optado pelo esquema de
dosagem fixa, é recomendando manter dose fixa de BZD nos primeiros 5 dias de
abstinência, com redução gradual da dose diária ao longo dos dias. É recomendado,
ainda, avaliar os sinais e sintomas nas avaliações diárias e, se necessário, orientar doses
adicionais. A partir do dia 6, deve-se prescrever doses conforme a avaliação dos
sintomas. (ASAM, 2020).
Caso seja optado pelo esquema sintomático, é necessário examinar o paciente a cada
15 minutos e, após melhora clínica, orienta-se aumentar o intervalo entre as verificações
de sintomas. Avaliar os sinais vitais, pressão arterial, frequência cardíaca, e os sintomas,
através da escala CIWA-Ar. Iniciar BZD se CIWA-Ar > 8 ou conforme avaliação
clínica.
Nos pacientes sem hepatopatia recomenda-se o uso de diazepam 10 mg, até 4x ao dia,
quando houver sintomas. Caso haja presença ou suspeita de hepatopatia, recomenda-se
lorazepam 2 mg, até 4x ao dia, quando houver sintomas. Em caso de sintomas mais
intensos ou ausência de resposta, se faz necessário a administração de mais doses
diárias.
57
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
58
Como visto, a SAA é resultado de uma dependência causada pelo uso repetido do
álcool, e que, quando é interrompido, observa-se efeitos indesejáveis. O quadro clínico
da SAA é amplamente variável, e depende especificamente da quantidade de consumo
alcoólico de cada indivíduo, bem como de sua história prévia de abstinência e outras
comorbidades associadas, caso existentes. Em geral, os sintomas iniciam após 6 a 24
horas da interrupção ou redução do consumo, apresentando pico máximo entre 48-72
horas, cessando em um período aproximado entre 5 e 14 dias. As primeiras
manifestações desses pacientes costumam ser os tremores, evoluindo com ansiedade,
insônia, cefaleia, náuseas e agitação psicomotora. Podem, ainda, ocorrer sintomas
gastrointestinais, como náuseas e vômitos, bem como convulsões associadas à
abstinência, alucinações, e o delirium tremens, considerado a manifestação mais grave
da SAA.
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