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ABORDAGEM FAMILIAR EM
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2. CARACTERÍSTICAS PRESENTES EM FAMÍLIAS DE DEPENDENTES
QUÍMICOS .................................................................................................................. 3
3. INFLUÊNCIA DO MEIO .......................................................................................... 5
4. INTERFERÊNCIA DAS DROGAS NO SISTEMA FAMILIAR ................................. 6
5. O CICLO DE VIDA FAMILIAR ................................................................................ 7
6. HISTÓRIA DA TERAPIA FAMILIAR .................................................................... 10
7. A IMPORTÂNCIA DAS ABORDAGENS FAMLIARES ........................................ 12
7.1. Grupos de auto- ajuda. ................................................................................. 12
7.2. Enfoque sistêmico. ....................................................................................... 13
7.3. Abordagem cognitiva-comportamental. ..................................................... 15
7.4. Terapia familiar funcional. ............................................................................ 16
7.5. Terapia familiar estratégica breve. .............................................................. 18
7.6. Solução de problemas. ................................................................................. 19
8. QUANDO E COMO ENCAMINHAR? ................................................................... 20
9. PAPEL TERAPÊUTICO ........................................................................................ 23
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 23
1. INTRODUÇÃO
O impacto de determinada substancia, a história do uso da droga entre as gerações,
os papéis dos membros familiares, o uso da droga por parte de um dos membros
indicando que algo não segue bem dentro do sistema familiar, passaram a receber
atenção dos terapeutas familiares, favorecendo o desenvolvimento de novas
alternativas para melhor explorar o tema clinicamente. A exemplo disso, formulações
mais psicológicas relacionam o cônjuge tanto como uma causa importante no
surgimento do problema, quanto como uma vítima (juntamente com os filhos) do stress
originário do uso de drogas. Formulações pautadas em contextos sociais examinam
basicamente o funcionamento da família como um sistema constantemente em
movimento e interação.
Apesar da instituição familiar ter uma história antiga, somente a partir da década de
1950, que passou a constituir uma área de interesse da psicologia, contribuindo para
o desenvolvimento da psicoterapia familiar como abordagem de tratamento de
problemas.
Abordagens familiares são compreendidas como intervenções com a participação da
família no processo de tratamento, destacando-se modalidades como a psicoterapia
e a orientação familiar. No que se refere a Dependência
Química, o pressuposto básico preconiza que as pessoas que usam drogas estão
dentro de um contexto no qual seus valores, crenças, emoções e comportamentos
influenciam e são influenciados pelos comportamentos dos membros da família. E por
isso, o meio familiar pode ser compreendido como cenário direto do enfoque
terapêutico.
quatro estágios pelos quais a família progressivamente passa sob a influência das
drogas e álcool:
• Na primeira etapa, é preponderantemente o mecanismo de negação. Ocorre
tensão e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente
pensam e sentem.
• . Em um segundo momento, a família como um todo está preocupada com essa
questão, tentando controlar o uso da droga, bem como as suas consequências físicas,
emocionais, no campo do trabalho e no convívio social. Mentiras e cumplicidades
relativas ao uso abusivo de álcool e drogas instauram um clima de segredo familiar.
A regra é não falar do assunto, mantendo a ilusão de que as drogas e álcool não estão
causando problemas na família.
• . Na terceira fase, a desorganização da família é enorme. Seus membros
assumem papéis rígidos e previsíveis, servindo de facilitadores. As famílias assumem
responsabilidades de atos que não são seus, e assim o dependente químico perde a
oportunidade de perceber as consequências do abuso de álcool e drogas. É comum
ocorrer uma inversão de papéis e funções, como por exemplo, a esposa que passa a
assumir todas as responsabilidades de casa devido o alcoolismo do marido, ou a filha
mais velha que passa a cuidar dos irmãos em consequência do uso de drogas da
mãe.
• O quarto estágio é caracterizado pela exaustão emocional, podendo surgir
graves distúrbios de comportamento em todos os membros. A situação fica
insustentável, levando ao afastamento entre os membros gerando grave
desestruturação familiar.
Embora tais estágios definam um padrão da evolução do impacto das substâncias,
não podemos afirmar que em todas as famílias o processo será o mesmo, mas
indubitavelmente a família que passa por essa problemática reage de acordo os
valores, compreensão e recursos para lidar com a presença do problema do álcool ou
da droga. Também podemos dizer que há uma tendência dos familiares sentirem-se
culpados e envergonhados por estar nesta situação. Muitas vezes, deve-se a estes
sentimentos, o fato da família demorar muito tempo para admitir o problema e procurar
ajuda externa e profissional, o que corrobora para agravar o desfecho do caso.
Todavia, os principais sentimentos da família que convivem com dependentes são:
raiva, ressentimento, descrédito das promessas de parar, dor, impotência, medo do
3. INFLUÊNCIA DO MEIO
Muitos estudos demonstram a necessidade de compreendermos como e por quê o
fenômeno da dependência química pode se repetir em outras gerações.
Dentro da perspectiva familiar podemos inferir que o comportamento do dependente
é apreendido do mesmo modo que interfere fortemente nas pessoas envolvidas pela
convivência. A exemplo disso, no caso do alcoolismo, foi observado que sua
perpetuação pode estar associada a manutenção da identidade familiar, pois as
famílias que possuem dependentes químicos, são bastante particulares pelas suas
características incomuns, e estas serão percebidas e vividas por todos os seus
membros. Atitudes como “rituais familiares normais”, muitas vezes ocorrem em torno
do beber, o que interfere no desempenho normal da família. Geralmente, é desta
forma que os filhos crescem num contexto cultural onde a bebida torna-se parte de
suas vidas. A mitologia familiar é muito provavelmente infestada de cenas
relacionadas ao álcool.
Os filhos podem permanecer imersos neste ambiente, inconsciente do que ocorre,
podem repetir a identidade familiar, sem muito refletir podem se casar com alcoolistas
ou virem a ser um. O desafio destes filhos seria a construção de novos rituais e mitos
familiares, abandonando aqueles de sua família de origem, para que assim, possam
desenvolver uma identidade familiar não alcoólica, como maneira de não perpetuarem
o alcoolismo.
Cabe também lembrar que serviços de prevenção aos filhos de dependentes químicos
podem atuar diretamente para que a identidade familiar seja reconstruída, ou a própria
psicoterapia familiar, quando esta permite a inclusão dos filhos, mesmos sendo
pequenos.
renegociações de papéis nas famílias. Pois ocorrem mudanças não apenas no físico
dos filhos, como também assinalam o início da transição psicológica da infância para
a idade adulta.
Na maioria das famílias com adolescentes, os pais estão se aproximando da meia
idade, seu foco está naquelas questões maiores do meio de vida, tais como: reavaliar
o casamento e a carreira.
De acordo com Carter e McGoldrick, este estágio do ciclo de vida familiar, indicaria
que a família estaria num processo emocional de transição, tendo no desenvolvimento
da flexibilidade o ponto de sucesso deste estágio. Aumentar a flexibilidade das
fronteiras familiares e, modular a autoridade paterna permitem aos terapeutas
promover maior independência e desenvolvimento para os adolescentes.
Quando isto não ocorre, as demandas da adolescência e as demandas da fase
adolescente do ciclo vital familiar se intercruzam, podendo fragilizar o sistema familiar
deixando-o mais vulnerável à droga dicção.
Consequentemente, a interferência da dependência nesta fase do ciclo pode dificultar
a passagem para fase seguinte. Geralmente as famílias com dependência química
não conseguem chegar na fase de maturidade, ficam presas na fase anterior do ciclo,
adolescente, por não conseguirem elaborar perdas, ganhos e/ou situações do “ninho
vazio”.
A maneira de encarar essas mudanças estão ligados aos padrões não só da família
nuclear, mas a padrões multigeracionais, caracterizados pela falta de flexibilidade
frente a essas demandas. Geralmente encontramos intensificado o triângulo relacional
mão e filho com pai distante. Também é comum receber famílias onde a esposa, por
estar enfrentando o desejo de liberdade dos filhos, confronta mais diretamente o
abuso de substancia do marido. Sendo não muito raro, agir de modo agressivo com
os familiares, principalmente como o cônjuge. De qualquer forma, o terapeuta deve
estar ciente de que a passagem desta fase vai depender do estado que cada membro
se encontra emocionalmente para então, encarar as mudanças relacionais.
Outro tópico correlacionado ao entendimento das fases do ciclo de vida na família que
convive com um membro dependente trata-se da probabilidade dos avós ocuparem
bom tempo e responsabilidades da educação dos netos, quando se tem no sistema
parental um dos respectivos dependentes, e ainda quando outra variável na fase
adolescente pode estar presente, da gravidez antecipada.
Além dos avós terem que se dedicar aos netos, ao menos enquanto os próprios pais
não tenham condições de assumir a paternagem e maternagem, passam a conviver
com os receios da fase do ciclo que permeiam fatores biológicos, psíquicos e sociais,
que implicam na fragilidade física, problemas psíquicos relacionados com o balanço
de vida e sociais advindos, muitas vezes, das perdas financeiras pela redução do
poder aquisitivo.
Os idosos ao invés de serem cuidados em função da idade continuam a cuidar de
familiares mais jovens, e de modo direto ou indireto mantém um padrão de
relacionamento no sistema que de alguma forma impede dos pais adolescentes
amadurecerem.
A fase madura é representada por filhos adultos, a relação pais-filhos se torna
horizontal, de adulto para adulto. Os filhos jovens adultos, deveriam apresentar
independência econômica, pessoal e emocional, em condições de deixar o lar e
desenvolver sua própria família. A família está recebendo novos elementos (genros,
noras e netos) e ao mesmo tempo, tendo a sensação de ninho vazio.
Os grupos de autoajuda, com base nas doze etapas dos Alcóolicos Anônimos,
representam uma fonte importante de apoio para a recuperação para muitas pessoas
que procuram ajuda para problemas com drogas lícitas. Embora os fatores
responsáveis para o aumento da participação em grupos de autoajuda não sejam bem
conhecidos, a ênfase do estilo de vida americano recai sobre o individualismo e o
senso de solidariedade sobre aqueles indivíduos que se encontram estigmatizados
social, econômica e culturalmente. Uma perspectiva, tem sido a de considerar os
grupos de autoajuda como um método de atender as necessidades não
adequadamente satisfeitas por outras instituições sociais.
Um outro grupo que merece destaque é o Amor Exigente que atualmente conta com
cerca de 1000 grupos em nosso país. É um programa dirigido a pais cujos filhos estão
envolvidos com abuso de álcool e drogas, e aos filhos, para que assumam a
responsabilidade de seus próprios comportamentos. É basicamente uma proposta de
educação destinada a pais e orientadores como forma de prevenir e solucionar
problemas com seus filhos.
funcionara como forte indicador do tipo de intervenção mais adequado tanto a família
quanto ao dependente.
Tratar as famílias de dependentes químicos é uma necessidade uma vez que a família
também adoece; o apoio familiar é vital para a reestruturação do dependente químico;
tanto o processo de adoecimento quanto a recuperação interfere na dinâmica familiar
e por tal se faz necessário algum tipo de orientação de suporte e apoio; e por fim, os
profissionais necessitam de auxílio de familiares na recuperação do dependente
Segundo dados de pesquisa, em pacientes alcoolistas, geralmente o problema
relacional encontra-se no casal, sendo indicado terapia de casal. Em relação as
drogas, estes estudos revelaram que, devido a intensa relação dos usuários com suas
famílias de origem, seria positivamente indicado que todo sistema participasse do
atendimento familiar.
Conforme o local de tratamento, é importante que sejam realizadas algumas
adaptações que poderão ser melhor compreendidas a seguir:
Em termos de objetivos, independente da abordagem terapêutica, é esperado do
profissional:
• Identificação do padrão familiar;
• Considerar que o sistema familiar necessita ser ajudado, e não apenas o
membro usuário;
• Desafiar este padrão, com profundo respeito a história familiar presente;
• Colocado obstáculo frente ao padrão habitual → recuperar outras capacidades
de relacionamento, bem como promover o reconhecimento de outras competências
da família;
• Ter uma formação teórica, técnica e profissional adequada para lidar com
famílias;
• Propiciar um ambiente que ofereça condições ao dependente e a sua família
de adquirir conhecimentos e ferramentas que propiciem a recuperação e não a criação
de um cenário de ataque e críticas.
Com relação ao tratamento, famílias sadias podem se beneficiar de técnicas
psicopedagógicas de modo a receber orientação básica sobre como lidar com a
Dependência Química. Por outro lado, famílias patologicamente estruturadas
necessitam de tratamento mais aprofundado, sendo indicado psicoterapia familiar.
Em termos de abordagem, podemos trabalhar com:
9. PAPEL TERAPÊUTICO
Os terapeutas familiares esperam que a família produza um contexto de ideias,
interação e formas organizativas diferente das que produzem até o momento da
procura da terapia, isto é, que com sua intervenção seja criado um contexto diferente,
que tenha o efeito de promover condutas diferentes daquelas que os preocupam. Os
terapeutas familiares tem a intenção que os fenômenos que afligem a família, podem
deixar de ser repetidos, se forem detidas as interações que os retroalimentam.
Certos atributos e comportamentos do terapeuta são importantes para uma Terapia
Familiar bem sucedida. Desde o início, o terapeuta deve estruturar o tratamento de
modo que o controle do abuso de álcool e drogas seja prioridade principal, antes de
tentar ajudar a família com outros problemas.
Os terapeutas devem estar aptos a tolerar e a lidar com eficiência com a forte ira nas
sessões iniciais e em momentos de crise tardios. O terapeuta pode utilizar a escuta
simpática para ajudar cada membro da família a sentir que foi ouvido e insistir que
apenas uma pessoa fale por vez. Ajudar a família a acalmar sua intensa raiva é muito
importante, visto que deixar de fazê-lo quase sempre leva a maus resultados.
Ao mesmo tempo que é indicado não perder o foco da dependência de vista, torna-se
fundamental ao terapeuta potencializar as competências dos membros do sistema. A
exemplo disso, na prática é muito favorável resinificar à família que o dependente tem
e pode ocupar outras habilidades além daquelas observados como problemas.