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ABORDAGEM FAMILIAR EM
DEPENDÊNCIA QUÍMICA

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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3
2. CARACTERÍSTICAS PRESENTES EM FAMÍLIAS DE DEPENDENTES
QUÍMICOS .................................................................................................................. 3
3. INFLUÊNCIA DO MEIO .......................................................................................... 5
4. INTERFERÊNCIA DAS DROGAS NO SISTEMA FAMILIAR ................................. 6
5. O CICLO DE VIDA FAMILIAR ................................................................................ 7
6. HISTÓRIA DA TERAPIA FAMILIAR .................................................................... 10
7. A IMPORTÂNCIA DAS ABORDAGENS FAMLIARES ........................................ 12
7.1. Grupos de auto- ajuda. ................................................................................. 12
7.2. Enfoque sistêmico. ....................................................................................... 13
7.3. Abordagem cognitiva-comportamental. ..................................................... 15
7.4. Terapia familiar funcional. ............................................................................ 16
7.5. Terapia familiar estratégica breve. .............................................................. 18
7.6. Solução de problemas. ................................................................................. 19
8. QUANDO E COMO ENCAMINHAR? ................................................................... 20
9. PAPEL TERAPÊUTICO ........................................................................................ 23
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 23

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1. INTRODUÇÃO
O impacto de determinada substancia, a história do uso da droga entre as gerações,
os papéis dos membros familiares, o uso da droga por parte de um dos membros
indicando que algo não segue bem dentro do sistema familiar, passaram a receber
atenção dos terapeutas familiares, favorecendo o desenvolvimento de novas
alternativas para melhor explorar o tema clinicamente. A exemplo disso, formulações
mais psicológicas relacionam o cônjuge tanto como uma causa importante no
surgimento do problema, quanto como uma vítima (juntamente com os filhos) do stress
originário do uso de drogas. Formulações pautadas em contextos sociais examinam
basicamente o funcionamento da família como um sistema constantemente em
movimento e interação.
Apesar da instituição familiar ter uma história antiga, somente a partir da década de
1950, que passou a constituir uma área de interesse da psicologia, contribuindo para
o desenvolvimento da psicoterapia familiar como abordagem de tratamento de
problemas.
Abordagens familiares são compreendidas como intervenções com a participação da
família no processo de tratamento, destacando-se modalidades como a psicoterapia
e a orientação familiar. No que se refere a Dependência
Química, o pressuposto básico preconiza que as pessoas que usam drogas estão
dentro de um contexto no qual seus valores, crenças, emoções e comportamentos
influenciam e são influenciados pelos comportamentos dos membros da família. E por
isso, o meio familiar pode ser compreendido como cenário direto do enfoque
terapêutico.

2. CARACTERÍSTICAS PRESENTES EM FAMÍLIAS DE DEPENDENTES


QUÍMICOS
O conceito de família pode ser definido levando-se em consideração as múltiplas
funções reguladoras dos papéis familiares, contradições de comportamento, afetos,
tensões, conflitos presentes no meio e que ao mesmo tempo, contribuem para que o
sistema permaneça vivo, superando uma visão estática sobre a própria construção
familiar. A família é um sistema dinâmico e em constante transformação, que cumpre
sua função social transmitindo os valores e tradições culturais inseridos.
O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um de seus membros é
correspondente as reações que vão ocorrendo com o sujeito que a utiliza, descreve

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quatro estágios pelos quais a família progressivamente passa sob a influência das
drogas e álcool:
• Na primeira etapa, é preponderantemente o mecanismo de negação. Ocorre
tensão e desentendimento e as pessoas deixam de falar sobre o que realmente
pensam e sentem.
• . Em um segundo momento, a família como um todo está preocupada com essa
questão, tentando controlar o uso da droga, bem como as suas consequências físicas,
emocionais, no campo do trabalho e no convívio social. Mentiras e cumplicidades
relativas ao uso abusivo de álcool e drogas instauram um clima de segredo familiar.
A regra é não falar do assunto, mantendo a ilusão de que as drogas e álcool não estão
causando problemas na família.
• . Na terceira fase, a desorganização da família é enorme. Seus membros
assumem papéis rígidos e previsíveis, servindo de facilitadores. As famílias assumem
responsabilidades de atos que não são seus, e assim o dependente químico perde a
oportunidade de perceber as consequências do abuso de álcool e drogas. É comum
ocorrer uma inversão de papéis e funções, como por exemplo, a esposa que passa a
assumir todas as responsabilidades de casa devido o alcoolismo do marido, ou a filha
mais velha que passa a cuidar dos irmãos em consequência do uso de drogas da
mãe.
• O quarto estágio é caracterizado pela exaustão emocional, podendo surgir
graves distúrbios de comportamento em todos os membros. A situação fica
insustentável, levando ao afastamento entre os membros gerando grave
desestruturação familiar.
Embora tais estágios definam um padrão da evolução do impacto das substâncias,
não podemos afirmar que em todas as famílias o processo será o mesmo, mas
indubitavelmente a família que passa por essa problemática reage de acordo os
valores, compreensão e recursos para lidar com a presença do problema do álcool ou
da droga. Também podemos dizer que há uma tendência dos familiares sentirem-se
culpados e envergonhados por estar nesta situação. Muitas vezes, deve-se a estes
sentimentos, o fato da família demorar muito tempo para admitir o problema e procurar
ajuda externa e profissional, o que corrobora para agravar o desfecho do caso.
Todavia, os principais sentimentos da família que convivem com dependentes são:
raiva, ressentimento, descrédito das promessas de parar, dor, impotência, medo do

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futuro, falência, desintegração, solidão diante do resto da sociedade, culpa e vergonha


pelo estado em que se encontram.
Do lado oposto, raramente o usuário assume que está bebendo em demasia ou que
faz uso de drogas. Seus sentimentos podem ser negados por ele mesmo. A
“confirmação” de há presença da droga no meio familiar pode acontecer por iniciativa
de terceiros, por um ato falho por parte do próprio usuário, que esquece a droga em
lugar visível, ou numa situação extrema, de prisão, overdose, morte e acidentes. A
partir dessa revelação, a crise familiar atinge seu ápice, uma vez que geralmente a
família vem sofrendo de desequilíbrios anteriormente não perceptíveis ao seu olhar.
De modo contraditório, o dependente químico pode parecer ter perdido todos os
vínculos com a família, mas mesmo assim, pode ter fortes emoções a respeito
daqueles relacionamentos e ainda manter dependências afetivas e financeiras através
de estudos com dependentes de heroína, pode identificar que 82% dos pesquisados
moravam com a mãe, 58% viam seus pais semanalmente e 66% viam o pai
diariamente. Disto, concluiu que apesar dos adictos dizerem-se independentes, a
maioria demonstra manter laços estreitos com a família, e os que não moram na casa
dos pais, moram nas proximidades.

3. INFLUÊNCIA DO MEIO
Muitos estudos demonstram a necessidade de compreendermos como e por quê o
fenômeno da dependência química pode se repetir em outras gerações.
Dentro da perspectiva familiar podemos inferir que o comportamento do dependente
é apreendido do mesmo modo que interfere fortemente nas pessoas envolvidas pela
convivência. A exemplo disso, no caso do alcoolismo, foi observado que sua
perpetuação pode estar associada a manutenção da identidade familiar, pois as
famílias que possuem dependentes químicos, são bastante particulares pelas suas
características incomuns, e estas serão percebidas e vividas por todos os seus
membros. Atitudes como “rituais familiares normais”, muitas vezes ocorrem em torno
do beber, o que interfere no desempenho normal da família. Geralmente, é desta
forma que os filhos crescem num contexto cultural onde a bebida torna-se parte de
suas vidas. A mitologia familiar é muito provavelmente infestada de cenas
relacionadas ao álcool.
Os filhos podem permanecer imersos neste ambiente, inconsciente do que ocorre,
podem repetir a identidade familiar, sem muito refletir podem se casar com alcoolistas

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ou virem a ser um. O desafio destes filhos seria a construção de novos rituais e mitos
familiares, abandonando aqueles de sua família de origem, para que assim, possam
desenvolver uma identidade familiar não alcoólica, como maneira de não perpetuarem
o alcoolismo.
Cabe também lembrar que serviços de prevenção aos filhos de dependentes químicos
podem atuar diretamente para que a identidade familiar seja reconstruída, ou a própria
psicoterapia familiar, quando esta permite a inclusão dos filhos, mesmos sendo
pequenos.

4. INTERFERÊNCIA DAS DROGAS NO SISTEMA FAMILIAR


A dependência química afeta o sistema familiar mediante certos fatores, como a
substância de escolha; a idade e o sexo do dependente; o estágio em que a família
se encontra; os fatores sociais, econômicos e culturais tanto do dependente como da
família e as psicopatologias. Segundo Kaufman, todos esses fatores interagem com o
efeito do abuso de substância para produzir um sistema familiar disfuncional.
Stanton, encontrou dados associados ao gênero dos membros ou tipo de vínculo
dentro da família. A exemplo disso dependentes químicos masculinos tem suas mães
envolvidas em uma relação de superproteção, sendo, em sua grande maioria,
extremamente permissivas. No caso das mulheres dependentes, apresentam-se
geralmente em competição com suas mães, e seus pais são considerados inaptos.
Em alguns casos, como por exemplo, quando a questão de gêneros ou papéis está
sendo apontada, o uso de drogas pode aparecer como fator essencial para a interação
familiar. Uma vez que revela a desorganização do sistema, anterior ao uso da droga.
Stanton e Todd resumiram características dos sistemas familiares de usuários de
drogas:
• Alta frequência de drogas e dependência multigeracional;
• Expressão rudimentar e direta do conflito com alianças, parcerias entre os
membros, de modo explícito;
• Mães com práticas simbióticas quando os filhos são crianças, estendendo-se
por toda a vida;
• Coincidência de mortes prematuras não esperadas dentro da família;

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• Tentativas dos membros se diferenciarem entre si, como uma pseudo


individuação, mas de modo frágil devido as regras e os limites que deveriam ordenar
o funcionamento, e no entanto estão distorcidos.
Frente a conduta de dependência química, a família passa a pensar porque um de
seus membros se droga, por quem ele é mais protegido, quem deveria assumir a culpa
e como poderiam evitar isso. Olievenstein, assinala seis características denominadas
como patológicas, encontradas nas famílias de dependentes químicos:
• Falta das barreiras entre as gerações, ou seja, a autoridade dos membros mais
velhos nem sempre é suficiente para impor limites e regras;
• Nível de individuação dos adultos é precário; frequentemente há uma inversão
dos papéis na família nuclear, com o filho assumindo o papel do adulto;
• Os mitos familiares são acentuados. Por isso é muito comum os familiares
manterem certa desesperança, ou até mesmo comodismo, por acreditarem que o
problema da droga é algo do “destino” da família como um todo;
• Desentendimento no casal parental, principalmente quando um dos cônjuges é
alcoolista, ou quando não agem de modo coerente em relação as condutas que devem
assumir para apoiarem a recuperação de um dos filhos;
• Alianças secretas com filhos frente a desordem das condutas que deveriam ser
seguidas, ou as falhas de comunicação entre os membros, que automaticamente
fortalecem parcerias dentro do meio familiar.

5. O CICLO DE VIDA FAMILIAR


Muitas vezes, membros envolvidos e preocupados com o problema da droga se
perguntam como e quando tudo isso começou. A partir disso, considero relevante
compreendermos que o momento pelo qual a droga ou álcool passam a existir dentro
de um sistema familiar, está fortemente ligado ao próprio ciclo de vida família.
Steinglass e colaboradores refere em seu trabalho com famílias farmacodependentes
que o ciclo familiar vital serve como um parâmetro para a identificação de variáveis
relacionadas aos problemas de abuso de álcool e drogas para assinalar a direção do
tratamento.
Dentro do amplo conceito do Ciclo de Vida Familiar, fases do processo histórico
familiar podem ser compreendidos. Apontarei brevemente as fases do ciclo de vida
relacionadas a identificação da presença da droga ou do álcool.

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A primeira fase do processo do ciclo de vida familiar corresponde a formação do casal.


A adaptação para uma nova vida familiar demanda tempo, maturidade individual para
trocas, respeito mútuo pelas diferenças pessoais e familiares. Em famílias de
dependentes químicos esta fase, também chamada de aquisição, encontram-se
casais muito jovens, sem maturidade necessária para a construção de um novo
sistema familiar; onde são frequentes casamentos que nascem de uma gravidez
precoce. Neste caso podem ser encontrados problemas desencadeadores de uma
dependência química e que vão se agravando, uma vez que, afirmam que a tarefa de
constituir um casal é a mais difícil do ciclo familiar. Esses casais jovens enfrentam
muitas dificuldades, que não raramente os impossibilitam de se tornarem um casal e
uma família. A presença da dependência química pode estar revelando o padrão
dependente de cada parte do casal, ou entre si, ou com suas famílias de origem. Por
isso é aconselhável que a terapia familiar seja centrada no casal, nas demandas
comuns dessa fase de aquisição e no seu contexto sócio familiar, incluindo a família
de origem.
A fase adolescente é caracterizada pelo sistema familiar composto de um casal de
meia idade com filhos adolescentes. O casal, nesta fase, convive com os filhos que
se encontram em fase de transição e mudança, evidenciada por aspectos esperados
na vida dos adolescentes, como a iniciação sexual, os riscos da violência e a influência
dos hábitos alcoólicos e uso de drogas, A família está em momento de transição,
adaptação e tais aspectos passam a ser grandes preocupações dos pais. Muitas
vezes, os responsáveis são obrigados a reviverem suas histórias para conseguirem
compreender o que está se repetindo com um dos filhos.
Em tempos atuais, a preocupação com as drogas se intensifica, mas não podemos
desconsiderar de modo algum, o fato da disponibilidade destas ter aumentado
consideravelmente, tornando-se também uma questão de âmbito social. O que de
qualquer forma reforça a vulnerabilidade do jovem que necessita do grupo de amigos
para se diferenciar dos pais e ao mesmo tempo, para buscar sua aceitação social.
Nesta fase muitas revelações podem surgir, como a descoberta por parte dos pais
sobre o uso de algum filho. Ou ainda, o abuso de álcool do pai que vai de encontro
com o experimento da maconha do filho. O que se deve estabelecer como foco é
questão das mudanças, transições, e o quanto que a família deve receber apoio para
criar condições para se adaptar. A crença de que tal crise pode ser apenas uma fase,
deve ser mantida. A fase da adolescência exige mudanças estruturais e

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renegociações de papéis nas famílias. Pois ocorrem mudanças não apenas no físico
dos filhos, como também assinalam o início da transição psicológica da infância para
a idade adulta.
Na maioria das famílias com adolescentes, os pais estão se aproximando da meia
idade, seu foco está naquelas questões maiores do meio de vida, tais como: reavaliar
o casamento e a carreira.
De acordo com Carter e McGoldrick, este estágio do ciclo de vida familiar, indicaria
que a família estaria num processo emocional de transição, tendo no desenvolvimento
da flexibilidade o ponto de sucesso deste estágio. Aumentar a flexibilidade das
fronteiras familiares e, modular a autoridade paterna permitem aos terapeutas
promover maior independência e desenvolvimento para os adolescentes.
Quando isto não ocorre, as demandas da adolescência e as demandas da fase
adolescente do ciclo vital familiar se intercruzam, podendo fragilizar o sistema familiar
deixando-o mais vulnerável à droga dicção.
Consequentemente, a interferência da dependência nesta fase do ciclo pode dificultar
a passagem para fase seguinte. Geralmente as famílias com dependência química
não conseguem chegar na fase de maturidade, ficam presas na fase anterior do ciclo,
adolescente, por não conseguirem elaborar perdas, ganhos e/ou situações do “ninho
vazio”.
A maneira de encarar essas mudanças estão ligados aos padrões não só da família
nuclear, mas a padrões multigeracionais, caracterizados pela falta de flexibilidade
frente a essas demandas. Geralmente encontramos intensificado o triângulo relacional
mão e filho com pai distante. Também é comum receber famílias onde a esposa, por
estar enfrentando o desejo de liberdade dos filhos, confronta mais diretamente o
abuso de substancia do marido. Sendo não muito raro, agir de modo agressivo com
os familiares, principalmente como o cônjuge. De qualquer forma, o terapeuta deve
estar ciente de que a passagem desta fase vai depender do estado que cada membro
se encontra emocionalmente para então, encarar as mudanças relacionais.
Outro tópico correlacionado ao entendimento das fases do ciclo de vida na família que
convive com um membro dependente trata-se da probabilidade dos avós ocuparem
bom tempo e responsabilidades da educação dos netos, quando se tem no sistema
parental um dos respectivos dependentes, e ainda quando outra variável na fase
adolescente pode estar presente, da gravidez antecipada.

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Além dos avós terem que se dedicar aos netos, ao menos enquanto os próprios pais
não tenham condições de assumir a paternagem e maternagem, passam a conviver
com os receios da fase do ciclo que permeiam fatores biológicos, psíquicos e sociais,
que implicam na fragilidade física, problemas psíquicos relacionados com o balanço
de vida e sociais advindos, muitas vezes, das perdas financeiras pela redução do
poder aquisitivo.
Os idosos ao invés de serem cuidados em função da idade continuam a cuidar de
familiares mais jovens, e de modo direto ou indireto mantém um padrão de
relacionamento no sistema que de alguma forma impede dos pais adolescentes
amadurecerem.
A fase madura é representada por filhos adultos, a relação pais-filhos se torna
horizontal, de adulto para adulto. Os filhos jovens adultos, deveriam apresentar
independência econômica, pessoal e emocional, em condições de deixar o lar e
desenvolver sua própria família. A família está recebendo novos elementos (genros,
noras e netos) e ao mesmo tempo, tendo a sensação de ninho vazio.

6. HISTÓRIA DA TERAPIA FAMILIAR


Segundo Alexander, a família, indiscutivelmente, é um fator crítico no tratamento e
sua abordagem é um procedimento fundamental nos programas terapêuticos.
A terapia familiar evoluiu a partir de uma multiplicidade de influências. A formulação
da psicanálise de Freud, desde o início, enfatizou que o interesse do psicanalista
deveria ter como direção as relações familiares dos pacientes.
Da mesma forma ressaltou, que em alguns casos, a neurose teria relação com
conflitos entre membros da família, uma vez que os familiares considerados como
“sadios” preferem não prejudicar seus interesses do que colaborar na recuperação
daquele que está doente.
A Psicanálise muito contribui para o desenvolvimento da terapia familiar, e segue com
seu enfoque dando ênfase ao passado, à história da família, como causa de um
sintoma e como meio de transformá-lo. Seu método, geralmente, é interpretativo, para
ajudar os membros da família a tomar consciência do comportamento passado e
presente e das relações entre eles. Porém, importantes abordagens surgiram,
tomando notoriamente um espaço importante no campo da Psicologia assim como no
tratamento de álcool e drogas.

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O desenvolvimento teórico da Biologia, da Sociologia, da Antropologia, da Informática,


e da Teoria Geral dos Sistemas influenciaram as primeiras formulações do trabalho
terapêutico com famílias. Na Psicologia, um importante precursor foi Adler, seguido
por Sullivan e Frieda Fromm Reichman. No final da Segunda Guerra, surge o
movimento proposto por Maxwell Jones, para reformulação da assistência
psiquiátrica. Pichon Riviere incluiu a família na sua compreensão da doença mental,
desenvolvendo a noção de “bode expiatório” como depositário da patologia que é de
toda a família. Todos os movimentos e formulações teóricas levaram aos primeiros
estudos no campo da terapia familiar.
Considerada uma prática de tratamento ainda muito recente em relação aos
problemas de álcool e drogas, onde os terapeutas veem criando novas abordagens
através dos pontos de interfaces, a dependência química teve seu início como
abordagem familiar em 1940, com a criação dos grupos Al-Anon dos Alcoólicos
Anônimos. Em 1981, foi introduzido o conceito de codependência por Wegsheider,
caracterizando uma obsessão familiar sobre o comportamento do dependente,
visando no controle da droga, o eixo da organização familiar. O usuário era analisado
como doente, e seus familiares como co doentes.
Posteriormente, Andolfi, trouxe o conceito do paciente identificado, no qual o sistema
familiar necessitara do outro, como forma de pedir ajuda, uma vez que a pessoa
sintomática estaria em um papel em que outro membro da família, provavelmente,
resistiria de estar.
Na década de 90 houve o crescimento das terapias focadas na solução, não
examinando causas da doença ou disfunções, mas somente enfatizando as soluções.
Segundo Figlie e cols. este método parece facilmente aprendido e aparentemente traz
resultados rápidos porque se concentra no problema, sendo de aceitação das famílias
e dos dependentes, pois não atribui responsabilidades implícitas. O terapeuta utiliza
o “reenquadramento”, onde os problemas da família ou do paciente são colocados
numa estrutura de significados, oferecendo novas perspectivas e possibilitando novos
comportamentos.
Na realidade, a abordagem familiar em dependência química como modalidade de
tratamento é recente. E como mencionado, vários modelos de atuação estão em
operação, sendo que a maioria dos terapeutas familiares vem descobrindo a sua
própria mistura, utilizando uma gama de ideias e práticas diferentes.
Indiscutivelmente, a família é um fator crítico no tratamento e sua abordagem é um

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procedimento fundamental nos programas terapêuticos. Contudo, até o momento não


foi estabelecida uma abordagem de maior eficácia nesta área. A tabela 1 mostra as
várias
Modalidades Terapêuticas na abordagem familiar em Dependência Química
Modalidades terapêuticas
Grupos de Autoajuda
Enfoque Sistêmico
Abordagem Cognitiva-Comportamental
Terapia familiar Funcional
Terapia Familiar Estratégica Breve
Solução de problemas

7. A IMPORTÂNCIA DAS ABORDAGENS FAMLIARES

7.1. Grupos de auto- ajuda.


As origens do termo codependência são obscuras, havendo indicações de que evoluiu
do termo co-alcoólatra, no final da década de 1970, quando o alcoolismo e a
dependência a drogas começaram a ser chamadas de dependência química.
Rapidamente, o termo foi se tornando usual no campo da dependência química,
havendo diversas definições.
Fundado no início da década de 40, por um grupo de esposas de alcoólicos, foi
fundado o Al Anon – grupo de mútua ajuda para familiares e amigos de alcoólicos –
com o objetivo de adaptar o programa de recuperação dos Alcoólicos Anônimos (AA)
para os que sofreram os efeitos do alcoolismo em suas vidas, definidas nesta época
como pessoas que não sabiam administrar suas vidas.
A definição mais abrangente de codependência foi feita por Schaef, que descreve a
dependência como doença, que cresce no meio relacional em que a pessoa está
inserida. A definição mais operacional de codependência é a de Wegscheider-Cruse,
que combina elementos comportamentais e intrapsíquicos na sua definição,
descrevendo a codependência como condição específica, caracterizada por uma
preocupação e dependência extrema a uma pessoa ou coisa. A codependência existe
indiferente da existência ou não de dependente químico na família, podendo ser vista
como uma doença de relacionamentos, onde um dos membros pode ser um membro
quimicamente dependente.

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Os grupos de autoajuda, com base nas doze etapas dos Alcóolicos Anônimos,
representam uma fonte importante de apoio para a recuperação para muitas pessoas
que procuram ajuda para problemas com drogas lícitas. Embora os fatores
responsáveis para o aumento da participação em grupos de autoajuda não sejam bem
conhecidos, a ênfase do estilo de vida americano recai sobre o individualismo e o
senso de solidariedade sobre aqueles indivíduos que se encontram estigmatizados
social, econômica e culturalmente. Uma perspectiva, tem sido a de considerar os
grupos de autoajuda como um método de atender as necessidades não
adequadamente satisfeitas por outras instituições sociais.
Um outro grupo que merece destaque é o Amor Exigente que atualmente conta com
cerca de 1000 grupos em nosso país. É um programa dirigido a pais cujos filhos estão
envolvidos com abuso de álcool e drogas, e aos filhos, para que assumam a
responsabilidade de seus próprios comportamentos. É basicamente uma proposta de
educação destinada a pais e orientadores como forma de prevenir e solucionar
problemas com seus filhos.

7.2. Enfoque sistêmico.


A partir da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação surgiram várias
escolas de terapia familiar. A família é vista como um sistema que se mantém em
equilíbrio através das regras do funcionamento familiar. A terapia a partir desse
enfoque, busca a mudança no sistema entre os membros da família, pela
reorganização da comunicação. Os terapeutas se abstém de fazer interpretações,
pois novas experiências comportamentais devem provocar modificações no sistema
familiar, gerando mudanças. A partir do enfoque sistêmico, escolas importantes de
terapia familiar se desenvolveram: Escola Estrutural, Estratégica, de Milão e
Construtivista.
O principal teórico da Escola Estrutural é Minuchin, que entende a família como um
sistema que se define em função dos limites de uma organização hierárquica,
executando suas funções através de subsistemas (grupo dos pais, filhos, casal, etc).
A terapia estrutural é uma terapia de ação, e o sintoma é visto como um recurso do
sistema para manter uma determinada estrutura. São com as regras familiares que as
fronteiras entre os subsistemas se formam, definindo os papéis dos membros. Neste
contexto, as famílias saudáveis emocionalmente têm fronteiras claras.

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Parte também, desta abordagem conceitos importantes como da “hierarquia” e


“definição dos papéis familiares” que permitem ao terapeuta intervir diretamente na
estrutura e funcionamento da família. Tais conceitos são aplicados em famílias com
dependentes químicos, ainda mais, quando com frequência encontramos nestas
famílias inversões de papeis.
A Escola Estratégica tem como um dos seus principais teóricos Jay Haley, juntamente
com Jackson, Bateson, Weakland e Watzlawick. O que caracteriza o sistema familiar
é a luta pelo poder. A visão estratégica define o sintoma como expressão metafórica
de um problema representado e também uma forma de solução insatisfatória para os
membros do sistema. A abordagem terapêutica é pragmática: trabalham-se as
interações e evitam-se os porquês. Desta forma, o fenômeno da dependência química
é entendido como algo revelador de problemas dentro do sistema.
A Escola de Milão é representada por Mara Selvini Palazzoli, Boscolo, Ceccin e Prata,
que partiram dos pressupostos teóricos da Escola Estratégica.
Partindo do conceito de homeostase, os problemas surgem quando as regras que
governam o sistema são tão rígidas que possibilitam padrões de interação repetitivos,
vistos como pontos nodais do sistema. A intervenção terapêutica é o ritual familiar,
uma ação ou série de ações, das quais todos os membros da família são levados a
participar.
A Escola Construtivista surge a partir da concepção de retroalimentação evolutiva de
Prigogine em 1979. A crise ganha novo sentido no sistema familiar, passando a ser
parte do processo de mudança, assim como o sintoma. A ênfase não é colocada na
pergunta, mas na construção da interação e a ação do terapeuta pretende explorar as
construções de onde surgem problemas.
A visão sistêmica da família pressupõe que a pessoa, apesar de sua complexidade,
não está isolada do contexto sócio familiar. Ao contrário, está conectada e interagindo
com as outras pessoas que lhe são familiares. A família apesar da diversidade cultural,
social e afetiva, é o lugar onde as expectativas são construídas, transformadas ou
repetidas, dependendo da qualidade das interações.
Sob o aspecto familiar, para avaliar e tratar a dependência química “sistemicamente”
é necessário levar em conta as expectativas familiares, não reforçando preconceitos,
para desta forma trabalhar as crenças moralistas e culpas sobre a questão da
dependência, visando o resgate da autonomia de cada um dos membros e procurando
principalmente a mudança de padrões familiares estabelecidos.

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7.3. Abordagem cognitiva-comportamental.


A abordagem cognitiva-comportamental mescla técnicas da escola comportamental e
da linha cognitiva. O princípio básico da abordagem comportamental reza que os
comportamentos, incluindo o uso de drogas/álcool, são aprendidos e mantidos por
meio de reforços positivos e negativos, os quais podem ser provenientes das
interações familiares. O foco está na mudança das interações conjugais/familiares,
pois servem de estímulo ou provocam recidiva, melhorando a comunicação, as
habilidades de solucionar problemas e fortalecendo a capacidade de lidar com
recursos e a sobriedade.
A dependência química tem um efeito perturbador e oneroso sobre a vida dos
familiares. Por conseguinte os objetivos da terapia comportamental consistem em
reduzir o stress de todos os membros da família e melhorar a capacidade da mesma
em lidar com a doença, através de uma combinação de educação, treinamento em
comunicação e habilidades em soluções de problemas.
A educação refere-se a informações sobre dependência química, formas de
tratamento e medicações, motivação para a modificação do comportamento aditivo,
bem como trabalhar o conceito de recaída. Ao final das sessões educativas, é
recomendado aos membros da família desenvolverem um plano de ação visando a
melhoria na relação com o dependente químico
O treinamento de habilidades em comunicação insiste em tornar a comunicação breve
e direta através da expressão de sentimentos positivos e negativos, fazer solicitações
positivas, escuta ativa, sensibilizar para a necessidade de assumir compromissos e
poder de negociação. O objetivo deste tipo de treinamento consiste em diminuir
interações tensas e negativas sobre os membros da família, substituindo por
habilidades sociais mais construtivas.
O treinamento da solução de problemas implica em ensinar os membros da família
passos para a resolução de problemas que incluem: definição do problema; lista de
possíveis soluções; avaliação das vantagens e desvantagens de cada solução;
escolher uma solução e formular um plano de ação.
Do ponto de vista cognitivo, a dependência de drogas é concebida como um
comportamento apreendido, possível de ser modificado com a participação ativa da
pessoa e da família no processo. A terapia cognitiva-comportamental visa o resgate
de recursos pessoais para lidar com o processo de mudança de padrões de

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comportamentos familiares antigos, auxiliando na modificação de distorções


cognitivas e crenças disfuncionais, possibilitando lidar de maneira mais eficiente com
o dependente químico.
A abordagem cognitiva tenta efetuar mudanças na família enfatizando o momento
presente, investigando o núcleo do problema ao invés de se fixar em questões mais
superficiais. O objetivo do terapeuta é investigar as crenças e pensamentos familiares
e ensinar métodos para que os clientes resolvam os atuais problemas que são fonte
de sofrimento.

7.4. Terapia familiar funcional.


A Terapia da Família Funcional é um modelo de terapia familiar que aplica conceitos
advindos de abordagens sistemáticas, comportamentais e cognitivas no tratamento
do adolescente delinquente ou atuante. Esta terapia tem sido aplicada a jovens em
risco de delinquência, que foram internados, mas continuam demonstrando
problemas, jovens em liberdade condicional e criminosos contumazes, apresentando
100% de reincidência.
O modelo tem sido pesquisado com estudos de seguimento de 1 a 3 anos. Os estudos
bem controlados, demonstram reduções de 30 a 50% nas reincidências, comparados
com os tratamentos alternativos (02;12). Sua aplicabilidade não tem demonstrado
limitações étnicas, raciais ou sexuais.
A TFF reconhece que o comportamento problemático se desenvolve e é mantido por
forças internas (genéticas, aprendizagem, atribuições e emoções) e por forças
externas (efeitos interpessoais e sociais). Na TFF a função do comportamento não é
vista como boa ou má, saudável ou não, desejável ou indesejável, pois todos os
relacionamentos requerem distância e proximidade em vários graus. Certos processos
comportamentais podem ser problemáticos, mas representam meios eficazes para
ocasionar a distância ou intimidade.
As pessoas precisam explicar os eventos pessoais que ocorrem ao seu redor. As
qualificações das características são vistas como explicação para o comportamento.
Assim os membros da família podem explicar comportamentos com qualificações de
características como: “Ele e um jovem criminoso irresponsável, não presta para nada”.
As pessoas atendidas não dão todas as informações relevantes, atendo-se ao que lhe
é proeminente. Além disso, podem responder a estímulos proeminentes com pouco
raciocínio. Neste processamento automático as informações provenientes dos

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sentidos são processadas com rapidez, levando respostas cognitivas


comportamentais e emocionais inter-relacionadas sem pensamento consciente. Nas
famílias em conflito os membros podem estar envolvidos num padrão de
comportamento muitas vezes repetido. O início deste comportamento pode
desencadear o processamento automático. Assim, por exemplo quando o pai ou a
mãe se dirigem ao filho com uma frase repetida (Exemplo: Já lhe disse mil vezes) o
que vem a seguir acabando sendo o mesmo discurso de sempre.
Os padrões funcionais de comportamento são complexos. Os resultados desejados
pelos indivíduos diferem de um relacionamento para outro e variam conforme as
funções do comportamento que estão inter-relacionadas. Uma criança pode estar
muito entrosada com os pais, porém quando chega a adolescência os
comportamentos de distanciamento aumentam. Caberá ao terapeuta mostrar que o
distanciamento e a proximidade são necessários e apropriados e com o tempo
precisam ocorrer misturas.
Existem maneiras produtivas de se distanciar dos pais. O afastamento, o furto ou
problemas com a lei, são meios destrutivos de legitimação ou resultado. Os
adolescentes delinquentes reconhecem o pessimismo sobre sua capacidade de
negociar diretamente aquilo que desejam de suas famílias, e por isso que a TFF supõe
que os comportamentos-problema tem sido a única forma de conseguir legitimar
algumas funções interpessoais.
O terapeuta da TFF ajuda a família a fazer alterações cognitivas e alterações
comportamentais. Ajuda os membros da família a parar com as censuras mútuas,
promovendo uma abertura para uma visão diferente, descobrindo comportamentos
novos, não-problemáticos que obtenham os resultados funcionais desejados de seus
antigos comportamentos.
Para conduzir o tratamento, a Terapia da Família Funcional é precedida pela fase de
avaliação, seguidas de duas fases principais: a fase de “terapia” (mudança cognitiva)
e a fase de “educação (mudança de comportamento), seguidas da conclusão. É típico
que os membros da família ingressem no tratamento com explicações punitivas e
acusativas para seus problemas. O terapeuta deve ajudar os membros a ver a si
próprios e uns aos outros como partes de um sistema disfuncional, e reconhecer que
a mudança pode beneficiar a todos”.
Requalificar é um método primário de estabelecer novas perspectivas dentro da
família, descrevendo um retrato verbal de um comportamento familiar ou individual

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“negativo”, sob uma luz benevolente descrevendo a propriedades “positivas” do


comportamento e retratando os membros da família como vítimas e não
perpetradores.

7.5. Terapia familiar estratégica breve.


Esta abordagem foi desenvolvida na Universidade de Miami em 1975, para ser
aplicada no centro decadente da cidade, famílias de americanos de origem africana e
hispânica.
Terapia Familiar Estratégica Breve (TFEB) é uma intervenção com base familiar,
visando à prevenção e tratamento de problemas comportamentais da criança e do
adolescente (de 8 a 17 anos) abrangendo o abuso leve de substâncias. Este tipo de
abordagem é fundamentado na hipótese de que as interações familiares adaptativas
podem desempenhar um papel na proteção de crianças contra influências negativas,
e que as interações de má adaptação da família podem contribuir para a evolução de
problemas comportamentais.
O objetivo da terapia é melhorar os problemas comportamentais do jovem que se
presume estarem relacionados aos sintomas da criança, reduzindo fatores de risco e
fortalecendo fatores protetores no caso de abuso de drogas do adolescente e outros
problemas de conduta. Os terapeutas procuram diagnosticar as interações de má
adaptação e os pontos fortes da família, mudar padrões de interações familiares de
má adaptação por meio de treinamento destas interações e reestruturar as interações
de má adaptação.
A terapia é uma intervenção de curto prazo focalizada no problema. Uma seção dura
de 60 a 90 minutos e a extensão média do tratamento é de 12 a 15 sessões durante
3 meses. Nos casos mais graves de abuso de substâncias por adolescentes, o número
de sessões e a extensão do tratamento podem ser dobrados. A TFEB tem sido
avaliada em estudos com projetos experimentais, nos quais se verificou que as
abordagens são eficientes na melhora do comportamento juvenil reduzindo a recaída
de jovens agressores.
Quanto as expectativas de uma terapia breve, em geral é esperado:
• Fazer com que as pessoas sintam-se mais felizes e menos ansiosas e
consigam visualizar atividades, sentimentos ou situações positivas, restabelecedoras
de sua saúde mental;

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• Não estar sempre zangado ou frustrado, podendo falar de seus sentimentos,


tornando-se mais conscientes de suas reações de violência, podendo evitá-las;
• Não falar apenas de drogas, mantendo um diálogo saudável sobre outros
aspectos da vida;
• Não falar apenas de drogas, mantendo um diálogo saudável sobre outros
aspectos da vida;
• Tentar fazer o melhor para a família e para si mesmo, considerando as
necessidades de todos os envolvidos;
• . Estar apto a ouvir pois este simples fato pode ser terapêutico. Ser capaz de
contar aos outros o que pode ser feito e não ficar chateado quando não ocorrer o
esperado;
• Estimular a capacidade de sair e se divertir, sem culpa, tornando as pessoas
aptas a realizarem atividades fora do lar;

7.6. Solução de problemas.


A Terapia Familiar com dependentes de álcool pode ser usada a abordagem da
solução de problemas que enfoca diretamente a bebida e as tentativas de modificar a
situação através da participação ativa dos membros da família
A solução de problemas é uma abordagem clínica genérica, mas em seu contexto
comportamental está vinculada ao estímulo e ao controle de reforço. Tanto os
comportamentos iniciais como o reforço que se segue precisam ser identificados para
que a frequência dos comportamentos desejados possa ser aumentada e a dos
comportamentos indesejáveis diminuída. Os passos são gerais e ressaltam melhor os
procedimentos de solução de problemas
• Definição clara dos problemas em termos comportamentais que especifiquem
o enfoque da mudança.
• . Operacionalização dos aspectos relevantes da situação problemática: a
maioria dos problemas são queixas com direção de culpa ao invés de ideias de
mudança. É preferível formular o problema de forma consistente, para facilitar as
negociações de mudança de comportamento.
• Tempestade de ideias e geração de soluções alternativas: a geração de
soluções envolve a ajuda mútua em seus respectivos esforços para mudar.

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• Avaliação de custo e resultado de cada solução alternativa: cada possível


solução precisa ser avaliada com ênfase na qualidade do resultado de cada alternativa
em geral.
• Implementação da solução escolhida: uma combinação de propostas pode ser
formulada com um consenso específico de mudança para que os comportamentos
necessários de adesão sejam claros, onde cada membro deve saber qual é o seu
papel na implementação da mudança.
• Avaliação do resultado da escolha: este é o passo final da sequência de solução
de problemas, a família deverá ter alguma experiência de êxito ou fracasso na
realização da solução do problema que concordou em fazer e ter a oportunidade de
alterar o acordo, caso a situação requeira.
A solução de problemas é uma abordagem que não pode ser descrita como sistêmica
por si mesma, pois a ênfase não está no sistema familiar, mas em como a família
unida pode ajudar o dependente de álcool ou drogas a aliviar seu problema. A
estratégia de tratamento depende da motivação da família para a mudança, incluindo
a participação de todos afetados pelo problema.

8. QUANDO E COMO ENCAMINHAR?


A partir das abordagens descritas, torna-se possível compreender a versatilidade das
diferentes modalidades terapêuticas dentro de uma intervenção familiar. As
Indicações para que o encaminhamento possa ocorrer são: disponibilidade;
comprometimento emocional; foco nos problemas familiares ou do casal advindos da
dependência química, pois caso contrário o profissional deverá sensibilizar
inicialmente a família para os aspectos em detrimento.
Inicialmente a disponibilidade dos membros será um fator relevante para um bom
encaminhamento, no entanto nem sempre isso é possível. Por isso algumas
intervenções que antecedem este processo são favoráveis, como atendimentos
individuais às esposas ou pais. É através do atendimento familiar que os membros
passam a receber atenção não só para suas angústias, como também começam a
receber informações fundamentais para a melhor compreensão do quadro de
dependência química, e conseqüentemente melhora no relacionamento familiar. Uma
avaliação familiar pode ser um grande auxiliar no planejamento do tratamento; fornece
dados que corroboram com o diagnóstico do dependente químico, bem como

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funcionara como forte indicador do tipo de intervenção mais adequado tanto a família
quanto ao dependente.
Tratar as famílias de dependentes químicos é uma necessidade uma vez que a família
também adoece; o apoio familiar é vital para a reestruturação do dependente químico;
tanto o processo de adoecimento quanto a recuperação interfere na dinâmica familiar
e por tal se faz necessário algum tipo de orientação de suporte e apoio; e por fim, os
profissionais necessitam de auxílio de familiares na recuperação do dependente
Segundo dados de pesquisa, em pacientes alcoolistas, geralmente o problema
relacional encontra-se no casal, sendo indicado terapia de casal. Em relação as
drogas, estes estudos revelaram que, devido a intensa relação dos usuários com suas
famílias de origem, seria positivamente indicado que todo sistema participasse do
atendimento familiar.
Conforme o local de tratamento, é importante que sejam realizadas algumas
adaptações que poderão ser melhor compreendidas a seguir:
Em termos de objetivos, independente da abordagem terapêutica, é esperado do
profissional:
• Identificação do padrão familiar;
• Considerar que o sistema familiar necessita ser ajudado, e não apenas o
membro usuário;
• Desafiar este padrão, com profundo respeito a história familiar presente;
• Colocado obstáculo frente ao padrão habitual → recuperar outras capacidades
de relacionamento, bem como promover o reconhecimento de outras competências
da família;
• Ter uma formação teórica, técnica e profissional adequada para lidar com
famílias;
• Propiciar um ambiente que ofereça condições ao dependente e a sua família
de adquirir conhecimentos e ferramentas que propiciem a recuperação e não a criação
de um cenário de ataque e críticas.
Com relação ao tratamento, famílias sadias podem se beneficiar de técnicas
psicopedagógicas de modo a receber orientação básica sobre como lidar com a
Dependência Química. Por outro lado, famílias patologicamente estruturadas
necessitam de tratamento mais aprofundado, sendo indicado psicoterapia familiar.
Em termos de abordagem, podemos trabalhar com:

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• Psicoterapia Familiar: abordagem segundo um referencial teórico de escolha


do profissional para a compreensão do padrão familiar e intervenção. Nesta
modalidade se reúne a família e o dependente químico.
• Grupos de Pares: Nesta modalidade os membros da família são distribuídos
em diferentes grupos de pares: dependentes químicos, pais, mães, irmãos, cônjuges,
etc. A interação entre pares é facilitadora de mudanças uma vez que escutar de um
par não é o mesmo que escutar de um terapeuta.
• Grupos de Multifamiliares: através de um encontro de famílias que
compartilham da mesma problemática, cria-se um novo espaço terapêutico que
permite um rico intercâmbio a partir da solidariedade e ajuda mútua, onde as famílias
se convocam para ajudar a solucionar o problema de uma e de todas, gerando um
efeito em rede. Todas as famílias são participantes e destinatárias de ajuda.
• Psicoterapia de Casal: Casais podem ser atendidos individualmente ou também
em grupos, uma vez que o terapeuta tenha habilidades para conduzir as sessões sem
expor particularidades de cada casal que não sejam adequadas ao tema focado.
Vale ressaltar que a diversidade do atendimento familiar também se refere ao
processo. Havendo diferenças entre as famílias que recebem psicoterapia familiar,
daquelas que esporadicamente são atendidas dentro do tratamento do dependente
químico. Conforme a abordagem adotada, é possível conciliar sessões abertas com
sessões dirigidas, tanto em grupos como em atendimentos familiares individualizados,
com ou sem a presença do dependente, desde que acordado previamente entre as
partes.
Torna-se fundamental, seguir bom senso entre a abordagem utilizada e o que se é
aplicado. No entanto, cada sistema familiar merece receber um programa de
tratamento adequado as suas necessidades e condições.
Havendo flexibilidade por parte dos terapeutas, é possível seguir algumas indicações:
As sessões normalmente duram 1 hora e ocorrem em contatos cada vez mais
espaçados ao longo de seis a nove meses. Por exemplo: semanalmente durante os
três primeiros meses; a cada duas semanas durante os dois meses seguintes e por
fim, mensalmente durante os três meses posteriores. Em modalidades de intervenção
breve, o número de sessões deve ser previamente estipulado para organização da
participação dos familiares. No entanto, quando falamos de grupos de autoajuda, as
sessões são abertas e a participação é espontânea.

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9. PAPEL TERAPÊUTICO
Os terapeutas familiares esperam que a família produza um contexto de ideias,
interação e formas organizativas diferente das que produzem até o momento da
procura da terapia, isto é, que com sua intervenção seja criado um contexto diferente,
que tenha o efeito de promover condutas diferentes daquelas que os preocupam. Os
terapeutas familiares tem a intenção que os fenômenos que afligem a família, podem
deixar de ser repetidos, se forem detidas as interações que os retroalimentam.
Certos atributos e comportamentos do terapeuta são importantes para uma Terapia
Familiar bem sucedida. Desde o início, o terapeuta deve estruturar o tratamento de
modo que o controle do abuso de álcool e drogas seja prioridade principal, antes de
tentar ajudar a família com outros problemas.
Os terapeutas devem estar aptos a tolerar e a lidar com eficiência com a forte ira nas
sessões iniciais e em momentos de crise tardios. O terapeuta pode utilizar a escuta
simpática para ajudar cada membro da família a sentir que foi ouvido e insistir que
apenas uma pessoa fale por vez. Ajudar a família a acalmar sua intensa raiva é muito
importante, visto que deixar de fazê-lo quase sempre leva a maus resultados.
Ao mesmo tempo que é indicado não perder o foco da dependência de vista, torna-se
fundamental ao terapeuta potencializar as competências dos membros do sistema. A
exemplo disso, na prática é muito favorável resinificar à família que o dependente tem
e pode ocupar outras habilidades além daquelas observados como problemas.

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS


O sintoma da utilização de drogas num dos membros da família, denuncia que aquela
estrutura familiar está comprometida em diversos setores das relações humanas seja
individual, grupal ou social. Neste aspecto, é importante compreender qual lugar
ocupa o dependente químico no seio da família e como foi estabelecido o rearranjo
dos membros diante disto. O usuário é transformado em um problema único familiar,
em que são depositadas todas as atenções, cobranças e expectativas. É solicitado a
ele que mude de comportamento, porém ele não tem interesse de fazê-lo. A família
reage se culpando e em muitas vezes responsabiliza suas companhias pelo uso das
drogas. O usuário é culpado pelos problemas familiares, já que, se ele não usasse
drogas, não haveria problemas.

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Estas são formas de minimizar, negar os conflitos familiares e de projetar em um só


membro a dinâmica do sistema como um todo. O dependente químico denuncia com
seu comportamento, a falsa harmonia do mito familiar e insere sua conduta num
sistema social: permanece dependente da família e, ao mesmo tempo, apresenta uma
aparente independência e rebelião.
A problemática das terapias familiares com dependentes químicos tem um caráter
muito complexo, e temos que compreender que estas famílias estão sofrendo de uma
condição não apenas perigosa ao próprio bem-estar físico e emocional, bem como de
outras perdas. Deste modo o terapeuta deve assumir a responsabilidade de expor as
mentiras que podem estar encobrindo o cerne da questão, buscando lidar com a
atitude de resistência de trazer segredos familiares a luz, descartando discussões
infrutíferas sobre conceitos certos ou errados, culpa ou inocência. Estimular a
comunicação entre os membros, e promover o reconhecimento do papel de cada
também beneficiam o desfecho terapêutico.
Do mesmo modo, o trabalho complementar é fundamental. Conforme o quadro familiar
presente, é indicado que o paciente dependente receba acompanhamento individual
e ou psiquiátrico individualizado, garantindo desta forma a assistência a dependência
química, mas tomando o extremo cuidado de não mantê-lo num lugar mais
problemático ainda.
O tempo de um processo familiar acaba sendo lento, e claro que terá suas variações
conforme o enfoque terapêutico seguido. Mas é a família, muitas vezes que sinalizará
o momento de parar, conforme sua necessidade.
Por mais que muitas famílias que convivam com a presença do álcool e drogas tenham
características semelhantes, devemos considerar a história de vida de cada uma, suas
particularidades. Além disso, situações de alianças e cumplicidades, por parte de um
dos membros com o terapeuta poderão ser frequentes, e daí a relevância do terapeuta
familiar, sempre ter em mente, que o pedido deve ser dirigido a família, pois é esta,
que de modo direto ou não, busca ajuda frente o sofrimento da dependência química.

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